Edição 99 - Jornal Rascunho
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2 rascunho <strong>99</strong> • JULHO de 2008<br />
CARTAS<br />
rascunho@onda.com.br<br />
BEM LONGE<br />
Obrigada pelo envio<br />
do interessante jornal<br />
<strong>Rascunho</strong>, que leio<br />
sempre e que, muitas<br />
vezes, uso nas minhas<br />
aulas de cultura<br />
e de literatura brasileira,<br />
na Universidade<br />
em Lecce. Parabéns<br />
pelo trabalho de divulgação<br />
e de atualização<br />
da literatura<br />
brasileira. E digo atualização<br />
porque uma<br />
das partes que mais<br />
aprecio do jornal é<br />
justamente a dedicada<br />
aos encontros<br />
com escritores contemporâneos (Paiol Literário), alguns<br />
jovens e ainda não muito conhecidos, pelo menos por<br />
parte do grande público de leitores.<br />
Vera Lúcia de Oliveira • Lecce – Itália<br />
ARTIGO DE CARRERO<br />
Raimundo Carrero, autor do artigo O que é o romance?, publicado<br />
na edição de junho no <strong>Rascunho</strong>, defende a simplicidade<br />
no romance, onde o leitor não teria nenhum quebra-cabeça<br />
para resolver... ou seja, o “romance papinha” para leitor comum.<br />
Afirmou também que alguém tem de vender para sustentar<br />
as editoras. É o mesmo que dizer que alguém tem que<br />
comer para sustentar os restaurantes; o Macdonald’s não vende<br />
comida, vende entretenimento alimentar. Carrero quer separar<br />
mercado de mercado, como se fosse possível. Dinheiro é dinheiro!<br />
O que falta é estratégia para se vender arte literária. Mas<br />
para ele a solução está na simplicidade. E não é de minimalismo<br />
que Carrero fala, mas de simplicidade mesmo; uma literatura<br />
sem delírio, é isso que ele quer... Haja saco para suportar! Será<br />
que ele quer que os grandes romances brasileiros deste século se<br />
igualem aos dramalhões encontrados nas bancas? Estes realmente<br />
são simples, e dão tudo de bandeja para o leitor. Ou<br />
Carrero é um gênio ou eu é que sou muito idiota! Mas, com ele,<br />
afirmo “tenho o maior respeito pelos que divergem de mim.<br />
Só quero pensar. Talvez discutir. Mas todos têm razão”.<br />
Homero Gomes • Curitiba – PR<br />
MARCO JACOBSEN<br />
TRANSLATO<br />
Eduardo Ferreira<br />
Qualquer tradutor, consciente ou inconscientemente,<br />
é levado a adotar uma de duas estratégias<br />
em seu ofício. Nem sempre há coerência, persistência<br />
em uma mesma estratégia ao longo de<br />
todo um texto. Mas os dois caminhos sempre se<br />
cruzam, a cada fim de linha, a cada novo parágrafo.<br />
Abrem-se em encruzilhada diante do tradutor:<br />
à direita, toma-se o rumo da naturalização;<br />
à esquerda, a rota da estrangeirização.<br />
Outro dia, amigo meu, ao ler uma de minhas<br />
traduções, provocou-me sobre esse ponto. Leitor<br />
perspicaz, entrevia outro texto sob a tradução. É<br />
sempre perigoso pressionar um tradutor — perigoso<br />
para o tradutor, claro —, obrigando-o a revelar<br />
sua estratégia, sua maneira de traduzir, forçando-o<br />
a explicitá-la e a explicar-se. Sempre há o<br />
risco da falta de coerência, que se percebe no texto,<br />
especialmente aquele produzido a soldo, por<br />
ofício, como ganha-pão (como foi o caso).<br />
A provocação provocou um autoquestionamento<br />
difícil de resolver passados tantos anos.<br />
Verifiquei nos originais (da tradução) que ainda<br />
tenho no computador: última alteração do documento<br />
em 12 de setembro de 1<strong>99</strong>7. Quase onze<br />
anos. Já não me lembrava de quase nada. Algo<br />
RASCUNHO SUCUMBIU<br />
O <strong>Rascunho</strong> já foi um espaço protegido dos cacoetes<br />
da literatura brasileira. Infelizmente, isso foi mudando.<br />
Sou favorável a uma diversidade de vozes, mas o que<br />
aconteceu foi além disso, o jornal sucumbiu ao ramerame<br />
literário/político de botequim que domina as nossas<br />
letras. Uma prova é o texto didático de Raimundo<br />
Carrero, publicado em junho: “Então nós temos aí<br />
duas realidades incontestáveis: a arte e o mercado. Como,<br />
então, devem se comportar os escritores?” Quem vê as<br />
coisas de forma tão simplista é incapaz de escrever um<br />
bom artigo, quanto mais um bom romance. Não entendo<br />
se o editor Rogério Pereira mudou ou simplesmente<br />
cansou. Uma pena.<br />
André Ramos • via e-mail<br />
NÃO SUCUMBIU TANTO<br />
Tenho acompanhado o jornal desde o final do ano<br />
passado, admiro muito o trabalho de vocês. Parabéns,<br />
é muito importante ter gente fazendo essa difusão de<br />
cultura por aí.<br />
João Madrid • via e-mail<br />
Recentemente estive em Curitiba e tomei conhecimento<br />
do jornal literário <strong>Rascunho</strong>. Ao acessar o<br />
site (www.rascunho.com.br), observei que os assuntos<br />
abordados são de grande relevância. Parabéns a<br />
todos os envolvidos com o trabalho! Certamente<br />
passarei a acessá-lo com freqüência.<br />
Proença • Brasília – DF<br />
Já li todo o <strong>Rascunho</strong> de junho. Com vocês, dá.<br />
Antonio Abujamra • São Paulo – SP<br />
FALE CONOSCO<br />
Envie carta ou e-mail para esta seção com nome<br />
completo, endereço e telefone. Sem alterar o conteúdo,<br />
o <strong>Rascunho</strong> se reserva o direito de adaptar<br />
os textos. As correspondências devem ser enviadas<br />
para Al. Carlos de Carvalho, 655 - conj. 1205<br />
• CEP: 80430-180 • Curitiba - PR. Os e-mails<br />
para rascunho@onda.com.br.<br />
Encruzilhada: naturalizar ou estrangeirizar?<br />
do conteúdo do livro, quase nada sobre a “estratégia”<br />
empregada então.<br />
Mas há uma estratégia “default”: a (tentativa de)<br />
naturalização. Essa é a estratégia natural do tradutor.<br />
Tentar aproximar, por meio da naturalização<br />
(ou “domesticação”), o texto original do leitor, e<br />
não — estratégia oposta — levar o leitor até o<br />
autor do original. Isso porque o encontro entre<br />
leitor e autor do original sempre provocará algum<br />
estranhamento. O natural estranhamento — quem<br />
sabe voem algumas faíscas — que nasce do encontro<br />
entre culturas, épocas, regiões diferentes.<br />
Mais fácil, para todos (especialmente para o<br />
leitor médio e, portanto, para “vender”), é naturalizar<br />
o texto — torná-lo nosso, nacional, vernáculo,<br />
fluente. Texto que se lê todo dia, na nossa<br />
língua. Fácil para todos, menos para o tradutor.<br />
Para este, qualquer estratégia — se perseguida<br />
com seriedade — será árdua e repleta de<br />
percalços. Naturalizar exige grande versatilidade<br />
e sensibilidade para o “jeito” da língua de chegada.<br />
Não é qualquer um que escreve algo que,<br />
soando natural, seja ao mesmo tempo correto e<br />
elegante — para não dizer “literário”.<br />
Estrangeirizar é sempre uma estratégia arrisca-<br />
VIDRAÇA<br />
<strong>Rascunho</strong><br />
na Flip<br />
Esta edição do <strong>Rascunho</strong> está na sexta<br />
edição da Flip, a Festa Literária Internacional<br />
de Paraty, que ocorre entre os dias 2<br />
e 6 de julho na histórica cidade do litoral<br />
do Rio de Janeiro. Cerca de 2 mil exemplares<br />
do jornal serão distribuídos entre<br />
os participantes do evento. O veículo poderá<br />
ser encontrado em vários pontos estratégicos<br />
do local. E, entre os dias 14 e<br />
24 agosto, uma edição especial, em comemoração<br />
ao centésimo número do<br />
<strong>Rascunho</strong>, estará na 20.ª Bienal Internacional<br />
do Livro, em São Paulo.<br />
Antônio Torres<br />
no Paiol Literário<br />
Devido a problemas pessoais, o escritor<br />
Sérgio Sant’Anna teve de cancelar a sua<br />
participação na próxima edição do projeto<br />
Paiol Literário, marcada para 9 de<br />
julho, no Teatro Paiol, em Curitiba. Para<br />
substituí-lo, foi escalado Antônio Torres,<br />
autor de livros como Um cão uivando<br />
nas trevas, Os homens dos pés redondos,<br />
Essa terra, entre outros. Antônio<br />
Torres nasceu na Bahia, no município de<br />
Sátiro Dias, em 1940. Foi chefe de reportagem<br />
de esportes do jornal Última Hora,<br />
em São Paulo, e redator de algumas das<br />
maiores agências de publicidade do Brasil.<br />
Em 2000, ganhou o Prêmio Machado<br />
de Assis da Academia Brasileira de Letras,<br />
pelo conjunto de sua obra.<br />
Livia Garcia-Roza<br />
Também por questões pessoais, Livia Garcia-Roza<br />
cancelou sua participação no encontro<br />
em 13 de agosto. Em breve, uma<br />
nova convidada será anunciada para o Paiol<br />
Literário — um projeto promovido pelo<br />
<strong>Rascunho</strong>, em parceria com a Fundação<br />
Cultural de Curitiba e o Sesi Paraná.<br />
Guia útil<br />
O guia mensal Curitiba Apresenta, editado<br />
pela Fundação Cultural de Curitiba,<br />
acaba de completar um ano de vida. Os<br />
resultados são expressivos: já foram divulgados<br />
no guia mais de mil cursos, palestras<br />
e oficinas, além de 2.400 espetáculos<br />
e exposições, das áreas de artes<br />
visuais, cinema, teatro, circo, dança, literatura<br />
e música.<br />
Prêmios da ABL<br />
O romancista mineiro Autran Dourado<br />
é o vencedor do Prêmio Machado de<br />
Assis (conjunto da obra) de 2008 da<br />
Academia Brasileira de Letras. Além de<br />
Dourado, também foram premiados os<br />
livros Discurso urbano (poesia), de<br />
Izacyl Guimarães Ferreira; Tempo dos<br />
mortos (ficção), de José Alcides Pinto;<br />
e O olho bom do menino (infanto-juvenil),<br />
de Daniel Munduruku.<br />
da, quando consciente. Há nobreza em topar o<br />
risco. Algumas das piores traduções são “estrangeirizantes”,<br />
mas por motivos menos nobres. Não<br />
se trata do tradutor que foi a fundo na pesquisa<br />
das estruturas comparadas das duas línguas, a fim<br />
de produzir um texto que, soando estrangeirizado,<br />
se revelasse também original — mais ainda que o<br />
próprio. Trata-se do profissional ruim e mal pago,<br />
que, na pressa, dedicou-se a tirar decalques bizarros<br />
do original — produzindo um mutante disforme<br />
dificilmente assimilável. Seja como for, são<br />
casos mais raros — o excelente (ou pelo menos<br />
“original”) e o muito ruim. Entre as margens extremas,<br />
medeia um largo rio de traduções naturalizantes,<br />
de qualidades variadas e cores cambiantes.<br />
Mesmo diante do “default”, a encruzilhada<br />
espreita a cada letra. Haja coerência para persistir<br />
conscientemente na mesma estratégia da primeira<br />
à última página. A influência do original, inclusive<br />
de sua estrutura, de seu léxico e de sua capacidade<br />
de sugestão de imagens, é sempre tremenda.<br />
Decalques se revelam aqui e ali; insinua-se, num<br />
fim de frase, a ponta de uma estrutura sintática.<br />
O tradutor, em sua proverbial falibilidade, sempre<br />
deixa arestas. O leitor que as apare.<br />
• r<br />
o jornal de literatura do Brasil<br />
fundado em 8 de abril de 2000<br />
ROGÉRIO PEREIRA<br />
editor<br />
ARTICULISTAS<br />
Affonso Romano de Sant’Anna<br />
Eduardo Ferreira<br />
Fernando Monteiro<br />
Flávio Carneiro<br />
José Castello<br />
Luiz Bras<br />
Luiz Ruffato<br />
Rinaldo de Fernandes<br />
ILUSTRAÇÃO<br />
Marco Jacobsen<br />
Osvalter Urbinati<br />
Ramon Muniz<br />
Ricardo Humberto<br />
Tereza Yamashita<br />
FOTOGRAFIA<br />
Cris Guancino<br />
Matheus Dias<br />
SITE<br />
Gustavo Ferreira<br />
ÍTALO GUSSO<br />
diretor executivo<br />
EDITORAÇÃO<br />
Alexandre De Mari<br />
PROJETO GRÁFICO<br />
Rogério Pereira / Alexandre De Mari<br />
ASSINATURAS<br />
Anna Paula Sant’Anna Pereira<br />
IMPRENSA<br />
Nume Comunicação<br />
41 3023.6600 www.nume.com.br<br />
Colaboradores desta edição<br />
Carlos Machado é escritor e professor.<br />
Autor de Balada de uma<br />
retina sul-americana, Nós da província:<br />
diálogo com o carbono, entre<br />
outros<br />
Daniel Estill é tradutor, jornalista<br />
e mestre em teoria literária<br />
pela USP.<br />
Fabio Silvestre Cardoso é jornalista.<br />
Gregório Dantas é mestre em teoria<br />
literária, com estudo sobre a<br />
obra de José J. Veiga. Atualmente,<br />
é doutorando na área de literatura<br />
portuguesa contemporânea.<br />
Igor Fagundes é poeta, jornalista<br />
e professor de Teoria Literária<br />
na UFRJ. Autor dos livros de poemas<br />
Transversais, Sete mil tijolos<br />
e uma parede inacabada, Por<br />
uma gênese do horizonte, além<br />
do livro de ensaios Os poetas<br />
estão vivos: pensamento poético<br />
e poesia brasileira no século XXI.<br />
Jonas Lopes é jornalista.<br />
Lúcia Bettencourt é escritora.<br />
Ganhou o I concurso Osman Lins<br />
de Contos, com A cicatriz de<br />
Olímpia. Venceu o prêmio Sesc<br />
de Literatura 2005, com o livro<br />
de contos A secretária de Borges.<br />
Luís Henrique Pellanda é jornalista<br />
e músico.<br />
Luiz Horácio é escritor, jornalista<br />
e professor de língua portuguesa<br />
e literatura. Autor dos romances<br />
Perciliana e o pássaro com alma de<br />
cão e Nenhum pássaro no céu.<br />
Luiz Paulo Faccioli é escritor, autor<br />
do romance Estudo das teclas<br />
pretas.<br />
Marcio Renato dos Santos é jornalista<br />
e mestre em literatura<br />
brasileira pela UFPR.<br />
Maurício Melo Júnior apresenta o<br />
programa Leituras, na TV Senado.<br />
Michel Laub É autor de Longe<br />
da água, Música anterior e O segundo<br />
tempo.<br />
Miguel Sanches Neto é escritor.<br />
Autor de A primeira mulher, Chove<br />
sobre minha infância, entre outros.<br />
Nana Martins é jornalista.<br />
Paulo Bentancur é escritor. Autor<br />
de A solidão do diabo, entre outros.<br />
Rodrigo Gurgel é escritor, crítico<br />
literário e editor de Palavra,<br />
suplemento de literatura do<br />
Caderno Brasil do Le Monde<br />
Diplomatique (edição virtual).<br />
Ronald Robson é escritor e jornalista.<br />
Tem textos publicados<br />
no Suplemento Literário de Minas<br />
Gerais e na revista Zunái. Integra<br />
os selecionados do Rumos<br />
<strong>Jornal</strong>ismo Cultural 2007-2008<br />
e mantém o blog: http://<br />
ronaldsrobson.blogspot.com.<br />
Vilma Costa é doutora em estudos<br />
literários pela PUCRJ e autora<br />
de Eros na poética da cidade:<br />
aprendendo o amor e outras artes.<br />
rascunho<br />
é uma publicação mensal<br />
da Editora Letras & Livros Ltda.<br />
Rua Filastro Nunes Pires, 175 - casa 2<br />
CEP: 82010-300 • Curitiba - PR<br />
(41) 3019.0498 rascunho@onda.com.br<br />
www.rascunho.com.br<br />
tiragem: 5 mil exemplares<br />
Paiol Literário<br />
palco de grandes idéias<br />
9 de julho, às 20h<br />
ANTÔNIO TORRES