UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO ... - UFSCar
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<strong>UNIVERSIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>FE<strong>DE</strong>RAL</strong> <strong>DE</strong> <strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong><br />
<strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS<br />
CURSO <strong>DE</strong> GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA<br />
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENCAMINHAMENTO EM<br />
SAÚ<strong>DE</strong> MENTAL OFERECIDO PELO CAPS - <strong>SÃO</strong><br />
<strong>CARLOS</strong>/SP E PELO <strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> SAÚ<strong>DE</strong> II – CACON<strong>DE</strong>/SP.<br />
<strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong> – SP<br />
<strong>DE</strong>ZEMBRO/2003<br />
Marina Ceres Silva Pena
<strong>UNIVERSIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>FE<strong>DE</strong>RAL</strong> <strong>DE</strong> <strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong><br />
<strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS<br />
CURSO <strong>DE</strong> GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA<br />
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENCAMINHAMENTO EM<br />
SAÚ<strong>DE</strong> MENTAL OFERECIDO PELO CAPS - <strong>SÃO</strong><br />
<strong>CARLOS</strong>/SP E PELO <strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> SAÚ<strong>DE</strong> II – CACON<strong>DE</strong>/SP.<br />
Marina Ceres Silva Pena<br />
RA: 203742<br />
Trabalho desenvolvido para obtenção do título<br />
de Bacharel em Psicologia, sob a orientação da<br />
Profª Georgina Faneco Maniakas.<br />
<strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong> – SP<br />
<strong>DE</strong>ZEMBRO/2003<br />
2
“A ausência de qualquer projeto, a perda de um futuro, o estar<br />
constantemente em poder dos outros sem o mínimo impulso<br />
pessoal, o ter dividida e organizada a própria jornada sob<br />
tempos ditados só por exigências organizativas... este é o<br />
esquema institucionalizante sobre o qual se articula a vida do<br />
asilo. O doente mental, fechado no espaço apertado da sua<br />
individualidade perdida, oprimido pelos limites que lhe foram<br />
impostos pela doença, é forçado, pelo poder institucionalizante<br />
da internação a objetivar-se nas próprias regras que o<br />
determinam, em um processo de aparvalhamento e de restrição<br />
de si que – originariamente sobreposto à doença – não é sempre<br />
reversível “ (Basaglia, 1964).<br />
3
Agradecimentos<br />
Agradecimentos<br />
Agradecimentos<br />
Agradecimentos<br />
Á minha orientadora, Georgina, pelo apoio, confiança e auxílio<br />
no trabalho realizado durante esses dois anos.<br />
Aos meus amigos, principalmente Alessandra, Aninha e Teresa<br />
pelo apoio nos momentos difíceis; por compartilharem as<br />
alegrias; pela amizade sincera, confiante e por contribuírem (e<br />
muito) no meu crescimento como pessoa, assim como na<br />
escolha dos melhores caminhos.<br />
À minha família, sendo os meus irmãos, Ricardo e Fernando, por<br />
serem como eles são, me ensinando a lidar com as desavenças, e<br />
principalmente aos meus pais, Alfredo e Ceres, pela educação,<br />
moral e ética que me ensinaram, por confiarem na minha<br />
capacidade, sempre apoiando e incentivando minhas decisões e<br />
escolhas.<br />
E acima de tudo à Deus, pela vida saudável e pelas<br />
oportunidades que me proporcionou e proporciona até hoje.<br />
4
Dedicatória<br />
Dedicatória<br />
Dedicatória<br />
Dedicatória<br />
Dedico esse trabalho a todas as pessoas que de uma forma ou<br />
de outra se encontram ou já se encontraram alguma vez<br />
envolvidas com a Saúde Mental, sejam usuários de serviços de<br />
Saúde Mental, familiares, amigos, médicos, enfermeiros,<br />
farmacêuticos, psicólogos ou quaisquer outros. Que este<br />
trabalho possibilite às pessoas repensarem a forma como se lida<br />
com a Saúde Mental hoje em dia, tanto no que diz respeito à sua<br />
história, às ações realizadas, quanto às suas conseqüências.<br />
5
SUMÁRIO<br />
Resumo ......................................................................................<br />
I. Introdução ..................................................................................<br />
II. Justificativa ................................................................................<br />
III. Objetivos ....................................................................................<br />
IV. Metodologia ...............................................................................<br />
Local ............................…........................................................<br />
Participantes …………………………………………………...….<br />
Material ………………………………………………………...…..<br />
Instrumento ……………………………………………………..…<br />
Procedimento …………………………………………………...…<br />
V. Resultados .................................................................................<br />
VI. Discussão ...................................................................................<br />
VII. Conclusão ..................................................................................<br />
VIII. Referências Bibliográficas........................................................<br />
Anexo 1........................................................................................<br />
Anexo 2 .......................................................................................<br />
Anexo 3 .......................................................................................<br />
Anexo 4 ....................................................................................... 82<br />
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RESUMO<br />
Na antiguidade o homem não se conhecia; as distorções e aberrações da<br />
natureza humana eram entendidas vagamente e, na ausência de qualquer<br />
psicologia, atribuídas às forças e entidades desconhecidas. Mais tarde surgem os<br />
manicômios como lugares de tratamento da loucura, onde impera o princípio do<br />
isolamento social: os internados perdem todas as suas referências de vida, são<br />
excluídos do convívio familiar, do trabalho e do local onde moram, perdendo,<br />
portanto, a subjetividade e a autonomia e a maior garantia que a sociedade moderna<br />
pretende dar a todos, a cidadania.<br />
Com o passar do tempo, o foco do atendimento realizado pelos manicômios<br />
veio se mostrando não somente ineficaz como também segregador e iatrogênico.<br />
Com o objetivo de mudança dessa situação começou a ser realizada uma reforma<br />
psiquiátrica, que consiste em uma série de transformações na assistência em saúde<br />
mental propostas pela chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se<br />
iniciou na Itália com Franco Basaglia e que propõe a substituição do modelo<br />
manicomial pela criação de uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial<br />
e de base comunitária.<br />
Buscando refletir a respeito das práticas substitutivas em Saúde Mental,<br />
torna-se interessante estudar comparativamente uma instituição inserida no contexto<br />
dessa reformulação - o CAPS-São Carlos - e uma outra instituição de atendimento<br />
aos usuários, de caráter exclusivamente ambulatorial – o Centro de Saúde II,<br />
Caconde/SP.<br />
A investigação proposta foi orientada predominantemente, pelos princípios da<br />
pesquisa qualitativa; e sua análise, por meio da abordagem psicossocial.<br />
7
I. INTRODUÇÃO<br />
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde seria um estado<br />
completo de bem-estar físico, mental, social e não somente a ausência de doenças<br />
ou enfermidades (Capra, 1982). Mas saúde é uma experiência subjetiva, algo que<br />
pode ser conhecido intuitivamente, mas nunca descrito ou quantificado; saúde é uma<br />
experiência de bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico que envolve os<br />
aspectos físicos e psicológicos do organismo, assim como sua interação com o meio<br />
ambiente natural e social.<br />
Para Wickert (1998),<br />
“a saúde só se dá quando o sujeito tem possibilidades de traçar o<br />
seu próprio destino, conforme seu desejo, em direção ao seu bem-<br />
estar físico, psíquico e social e que o caminho construído nem<br />
sempre é condizente com a modelagem social (...)” 1<br />
Saraceno (2001-a), entende que saúde mental seja o conjunto de ações de<br />
promoção, manutenção e tratamento referentes à melhora, manutenção ou<br />
restauração da saúde mental de uma população.<br />
A subjetividade é um objeto de pesquisa psicológica, sendo esta um<br />
“sistema complexo de significações e sentidos subjetivos produzidos<br />
na vida cultural humana, se definindo ontologicamente como<br />
diferente dos elementos sociais, biológicos, e de qualquer outro tipo,<br />
relacionados entre si no complexo processo de seu desenvolvimento<br />
individual e social (...) a subjetividade e a cultura são processos<br />
construtivos complexos que ocorrem de forma simultânea; a<br />
subjetividade não é determinada pela cultura; a cultura depende da<br />
subjetividade”. 2<br />
Segundo Pessotti (1994), na antiguidade grega o homem não se conhecia; as<br />
distorções e aberrações da natureza humana eram entendidas vagamente e, na<br />
ausência de qualquer psicologia, atribuídas à forças e entidades desconhecidas.<br />
1 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade., pp. 38.<br />
2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, p.36-37 e 43.<br />
8
Textos do séc.V a.C. como a Ilíada, de Homero ou As Obras e os Dias, de Hesíodo<br />
confirmam essa idéia, uma vez que mostram a intervenção direta e permanente dos<br />
deuses (principalmente Zeus) e dos seus instrumentos (Atê, Moira e Erínias) na vida<br />
dos homens, que roubam ou confundem sua razão e os enlouquecem. Existe uma<br />
clara ambigüidade no conceito de responsabilidade; o homem não se exime<br />
totalmente da responsabilidade de seus atos, pois o que o levou a cometê-los foi sua<br />
iniciativa, mas fica claro que a decisão foi da divindade, uma vez que elas se<br />
apoderam do entendimento a fim de subtrair sua razão; a loucura seria um recurso<br />
utilizado pelas divindades para que suas vontades sempre prevalecessem sobre a<br />
vontade dos homens. A Atê é um estado transitório de insanidade produzida pelos<br />
deuses, uma perda da razão ou da consciência; Moira é a justificativa para os atos<br />
insensatos, os infortúnios da vida individual, os desastres pessoais, os azares;<br />
enquanto as Erínias são os verdadeiros agentes de vingança; já o thymos é uma<br />
espécie de alma funcional; responsável pelas motivações, aprendizagens,<br />
sensações, memória e emoções (mais tarde chamados de comportamento,<br />
personalidade ou vida mental), mas ainda assim não garante autonomia aos homens<br />
De acordo com Pessotti (1994), em Homero, a loucura é um estado de<br />
desrazão, de perda do controle consciente sobre si mesmo, de insensatez, de perda<br />
do contato ordenado com a realidade física ou social, tendo como origem a obra de<br />
Zeus, outros deuses ou de entidades subalternas. Quanto à forma, corresponde à<br />
mania (tida como os furores), à melancolia, aos episódios de insensatez, aos atos<br />
falhos e aos sonhos mais significativos. No que diz respeito à terapia, Homero faz<br />
menção a um pharmakon, uma bebida produto de um ritual humano que acalmaria<br />
as aflições, os tormentos da ansiedade e proporcionaria a aceitação tranqüila das<br />
vontades dos deuses; mas que seu efeito dependeria de agentes externos. O<br />
importante, nessa época, é ressaltar que não há identificação entre loucura e<br />
doença, não havendo, portanto, necessidade de cura, mas sim de uma<br />
reorganização entre o indivíduo e as suas relações com seu grupo social. Nos textos<br />
trágicos, o termo Atê passa a significar não só o estado de espírito que transgride a<br />
ordem, mas também as desgraças reais decorrentes da transgressão, castigo, ruína<br />
devido ao crime, o destino desastroso do criminoso que o conduz a decisões erradas<br />
e fatais. Os principais representantes dessa época são os escritores Ésquilo,<br />
Sófocles, Eurípedes e Orestes. Nas peças trágicas a interferência da divindade vai<br />
cedendo gradualmente o papel de causa aos conflitos de paixões e ao choque entre<br />
o desejo e as normas éticas, e mesmo que os deuses ainda tenham participação no<br />
9
ódio, desejo sexual, inveja ou culpa dos personagens, a loucura é resultante de<br />
conflitos entre paixões, lealdades ou deveres; esses conflitos são pessoais e<br />
cotidianos. Há uma substituição do modelo mítico-teológico por uma visão um pouco<br />
mais racional, a respeito da vontade, das forças das paixões. Na obra de Eurípedes<br />
percebe-se o começo de uma psicologia enquanto concepção de individualidade<br />
intelectual e afetiva, uma vez que ele descobre e revela a natureza do homem como<br />
contraditória, conflitiva e às vezes patológica.<br />
Na obra de Hipócrates, o distanciamento do mito da interferência da divindade<br />
no processo de loucura de extrema: ele passa a entender a loucura como um<br />
desarranjo da natureza orgânica do homem; defende uma posição naturalista oposta<br />
a explicações mitológicas, marcando assim o fim da Medicina sacerdotal na Grécia<br />
Antiga. Demonstra uma grande convicção organicista, o que significa um progresso<br />
na psicopatologia e um retardo do desenvolvimento de uma explicação psicológica e<br />
de uma conseqüente psicoterapia. A loucura enquanto delírio e descontrole seria<br />
somente um sintoma de um desarranjo, desequilíbrio do estado humoral do cérebro<br />
devido a alterações de estado físico dos humores ou de sua localização e<br />
movimentação no interior do corpo. A terapia sugerida por Hipócrates combinava<br />
intervenções do tipo catártico, que visava alterar com mudanças de alimentação e de<br />
hábitos, a economia humoral desequilibrada, sendo que com esses recursos a<br />
doença seria curada com o tempo. Platão (427-348 a.C.) também endossa a teoria<br />
humoral da vida mental e da loucura, de tradição hipocrática, mas com algumas<br />
mudanças; Platão considera a loucura como um desarranjo entre as partes da<br />
psyche, como um desvio da racionalidade do sistema, sendo que há diferentes<br />
loucuras dependendo da parte afetada.<br />
Já Aristóteles (384-322 a.C.) situa a alma racional e a irracional no coração e<br />
não no cérebro, uma vez que acredita que o cérebro não possui participação nas<br />
sensações. O coração viveria do calor vital, e quanto mais se aquecesse melhor<br />
funcionaria, sendo que variações abruptas na temperatura explicariam todas as<br />
formas de loucuras. No período alexandrino, é lançada a idéia de que o centro da<br />
vida psíquica e sensorial não seja o coração, e sim as meninges do encéfalo. Para<br />
Cláudio Galeno (131-200 d.C.), a loucura ainda era um sintoma de um mero<br />
desarranjo no equilíbrio humoral, pnemática; as doenças mentais poderiam ser<br />
imaginativa, racional ou mnemônica, sendo sua sede o cérebro; o conceito de<br />
pneuma, ampliado por Galeno, estabeleceu a base para uma visão psicossomática<br />
da loucura (Pessotti, 1994).<br />
10
É a doutrina demonista que associa a loucura à possessão diabólica e marca<br />
a concepção medieval da psicopatologia, não é apenas um artifício religioso da<br />
época para repreender as heresias e impor a ortodoxia teológica e moral, mas<br />
também uma forma de pensar, que tem suas raízes na própria formação doutrinária<br />
do cristianismo, uma vez que nos três primeiros séculos do cristianismo havia<br />
crenças gnósticas e dualísticas, sendo que no cristianismo propriamente dito, suas<br />
mitologias evoluem de um lado para as divindades pagãs (culto ao demônio) e de<br />
outro para os hereges, instrumentos do demônio, dividindo o mundo em dois reinos:<br />
o do bem e o do mal. Entre os séculos II e III, enquanto alguns entendem o demônio<br />
como o espírito de perversão que existe em nós mesmos, outros pensam os<br />
demônios como anjos decaídos que resistem entre o céu e a terra e os deuses<br />
pagãos como corporificações dos demônios que tentam os homens com magias e<br />
heresias. Com o fanatismo religioso da Idade Média, quase tosos os<br />
comportamentos acabam sendo tidos como suspeitos e gradualmente atribuídos ao<br />
demônio como, inicialmente, a perda de colheitas, os abortos naturais e as<br />
tempestades, sempre produtos de bruxarias (Pessotti, 1994).<br />
Muitas obras foram publicadas com o objetivo de facilitar a identificação dos<br />
que agem por obra do demônio, seja por meios de encantamentos, por terem<br />
condutas estranhas ou poderes anormais para sua condição social. Em 1484 é<br />
publicado o terrível Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas) escrito por Sprenger e<br />
Institor (Heinrich Kramer), destinado a instrumentalizar inquisidores e eclesiásticos<br />
em geral com sólida doutrina demonológica, para capacitá-los a identificar casos de<br />
possessão diabólica ou comércio com o diabo e intervir nesses casos, ou seja,<br />
legitimizar a caça às bruxas, sendo que a característica da loucura é a de considerar<br />
demoníaca praticamente todas os comportamentos aberrantes ou indecentes. Esse<br />
modelo de pensamento copia distorcidamente o modelo mitológico da Grécia antiga,<br />
uma vez que a loucura não é vista apenas como a interferência de entidades<br />
extranaturais, mas também porque é negativa, patológica, estigma de imperfeição e<br />
de culpa; campo de batalha entre o bem e o mal, sendo o homem passivo frente ao<br />
demônio e frente também ao poder do salvador, o exorcista. Essa concepção<br />
demonista cristã exclui as paixões, os instintos e os desejos humanos da etiologia da<br />
loucura, uma vez que tudo isso é obra do demônio; ao homem cabe fugir delas e<br />
culpar-se quando erradas ou entregar-se a elas quando santas. Para o Malleus e<br />
seus congêneres, toda loucura, enquanto delírio ou mero descontrole, é obra do<br />
demônio, por iniciativa própria (possessão e obsessão) ou por pedido de alguma<br />
11
uxa. O texto ainda está repleto de recomendações terápicas como jejuns, orações,<br />
freqüência a igrejas e finalmente o exorcismo para a cura de qualquer fenômeno de<br />
aberração ou bizarrice do comportamento, como a violência física, a excitação<br />
erótica, as alucinações, os meros enganos, as ilusões de óptica, a obstinação, a<br />
mania, a melancolia, a ansiedade, a esterilidade a impotência e a frigidez sexual ou<br />
qualquer outra doença (Pessotti, 1994).<br />
Em 1576 é editado o Compendio dell’Arte Essorcistica, et Possibilita delle<br />
Mirabili et Stupende Operazioni delli Demoni, et Melefici, de Menghius. O Compendio<br />
se destina a leigos e tem como propósito defender as aplicações ortodoxas do<br />
exorcismo contra a difusão de práticas charlatanescas e supersticiosas feitas por<br />
pessoas sem preparação doutrinária sem credenciais canônicas para isso. No<br />
Compendio, assim como no Malleus, não há formulação de uma teoria<br />
demonológica da loucura, mas a desrazão não é vista necessariamente como sua<br />
essência: loucura também é avareza, luxúria, ambição desmedida e desrespeito ao<br />
que é sagrado. Quanto às causas, a loucura é quase sempre devida à ação do<br />
demônio; quanto à natureza, pode ser o comprometimento de funções mentais ou o<br />
descontrole dos instintos ou das paixões, e com relação à classificação, são vários<br />
os casos clínicos descritos, como de paralisia histérica e melancolia, onde o<br />
tratamento é sempre o exorcismo (Pessotti, 1994).<br />
Segundo Pessotti (1994), nos séculos XV e XVI, a loucura passa a ser<br />
elaborada sob influência do organicismo pneumático e da doutrina da alma ou da<br />
mente. Para Zacchias, qualquer demência pode ser devida à diminuição<br />
(imbecilidade, estultice, fraqueza de espírito e amnésia), depravação (delírio) ou<br />
perda da função mental (loucura: mania, melancolia, furor, licantropia amor<br />
insensato e melancolia hipocondríaca). Já Plater, refletindo a visão médica galênica,<br />
descreve a doença mental como lesão da inteligência (razão, imaginação e<br />
memória), podendo resultar num défict (fraqueza mental ou abolição da mente) ou<br />
numa depravação (esgotamento, estafa mental, alienação mental ou extravio da<br />
inteligência). Para Plater, a loucura pode derivar de causas físicas, passionais ou<br />
internas, onde se inclui a possessão demoníaca, iniciando assim uma tendência a<br />
dar maior ênfase ao delírio e menor interesse na bizarrice dos comportamentos e<br />
nas distorções perceptivas.<br />
É nessa época também que se dá abertura ao enfoque iatroquímico e<br />
iatromecânico, a primeira negação da origem sobrenatural das doenças, uma vez<br />
que as explicações são fornecidas em termos da química e mecânica dos humores,<br />
12
de acordo com a tradição hipocrática. Na concepção de Descartes não há um<br />
componente psicológico na etiologia da loucura; sua natureza é o desgarramento do<br />
espírito, o erro de julgamento das coisas durante a vigília;e seus tipos são a mania e<br />
a melancolia. A loucura passa a ser tida como uma doença natural como as outras<br />
doenças; isso facilita o caminha para uma abordagem científica do desvario e do<br />
descontrole emocional (Pessotti, 1994).<br />
São criados os manicômios, termo genérico usado para classificar hospícios,<br />
asilos, hospitais psiquiátricos e demais lugares de tratamento da doença mental que<br />
se valem do princípio do isolamento do louco da sociedade. O ambiente do<br />
manicômio é um lugar aonde os internados perdem todas as suas referências de<br />
vida: são excluídos do convívio familiar, do trabalho, do local onde moram, da<br />
cidade; perdem, portanto, a maior garantia que a sociedade moderna pretende dar a<br />
todos: a cidadania; tem origem na cultura árabe, datando o primeiro hospício<br />
conhecido do século VII, sendo os primeiros hospícios europeus criados no século<br />
XV. Nos tratamentos buscava-se dar um "choque" no paciente, fazer com que<br />
passasse por uma sensação intensa, que o tirasse de seu estado de alienação;<br />
eram correntes as práticas de sangria, de isolamento em quartos escuros, de<br />
banhos de água fria, além dos aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse<br />
em macas ou cadeiras durante horas para que perdesse a consciência.<br />
Com a Revolução Industrial, a necessidade de aproveitamento de mão de<br />
obra para a produção, intensificou a necessidade de excluir do corpo social todo<br />
aquele que não pudesse produzir; internam-se nos manicômios, então, não somente<br />
os loucos, mas também os inválidos de todos os gêneros, os velhos, os nobres<br />
decadentes e esbanjadores, estes últimos, sobretudo para que não dessem o mal<br />
exemplo a uma sociedade trabalhadora. No Brasil, o primeiro hospício foi inaugurado<br />
pelo imperador D. Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1852.<br />
A psicopatologia do século XIX caracteriza-se pela pesquisa médica dispersa<br />
em uma pluralidade de linhas teóricas, muitas mutuamente exclusivas. Ao longo<br />
desse período, a etiologia diabólica da loucura vai sendo progressivamente<br />
eliminada; explicações humoristas vão perdendo a importância e as especulações<br />
fisiológicas procuram harmonizar dados da observação clínica; os distúrbios de<br />
comportamento começam a ser analisados e discriminados entre tipos diferentes de<br />
loucuras e as perturbações intelectuais e cognitivas passam a ter importância<br />
fundamental no diagnóstico.<br />
13
De acordo com Pessotti (1994), em 1801 é publicado o Traité Médico-<br />
Philosophique sur l’aliénation mentale, de Pinel, obra esta que inaugura a psiquiatria<br />
como especialidade médica. Para ele, a loucura é entendida como comprometimento<br />
ou lesão do intelecto e da vontade, se manifestando no comportamento do paciente<br />
sob as mais variadas formas. As grandes formas da alienação mental seriam<br />
loucura, mania, melancolia, demência e idiotia, podendo ser herdada, resultado das<br />
influências de uma educação corrompida sobre a perda de razão, produto da<br />
menopausa ou das paixões ardentes, como conflitos, frustrações, hábitos, gostos,<br />
vícios e repressão do desejo. O diagnóstico implica na sapiência da história de vida<br />
anterior do paciente; da observação prolongada, rigorosa e sistemática das<br />
mudanças biológicas, das atividades mentais e de comportamento social deste. A<br />
psicoterapia de Pinel se resume num diretor espiritual e num regime físico e moral<br />
para eliminar a alienação mental. A contribuição do Traité está na mudança de<br />
atitude metodológica da medicina diante o paciente alienado; a doutrina de Pinel,<br />
moralista e pedagógica, deriva numa prática terapêutica de encorajamento e<br />
repressão, eventualmente eficaz para os propósitos de reinserção do paciente na<br />
vida social.<br />
A partir dos anos 50, com surgimento dos psicofármacos e o conseqüente<br />
esvaziamento dos hospícios, tem início uma nova perspectiva para o tratamento dos<br />
doentes mentais. No entanto algumas dificuldades já são observadas: as causas das<br />
doenças mentais ainda não são claras, o que compromete uma abordagem<br />
terapêutica realmente eficaz; as várias formas de compreender a loucura, fruto de<br />
variados pressupostos teóricos, leva a uma pluralidade no atendimento que torna<br />
difícil a comparação de eficácia; a própria clientela desses serviços tem<br />
peculiaridades: a doença mental, diferentemente de outras doenças, não cursa<br />
necessariamente com dor e sofrimento; o doente não sabe que está doente, alguém<br />
lhe confere esse status; as internações compulsórias transformam esses indivíduos,<br />
assim, em não-cidadãos, pessoas desqualificadas no seu poder de verbalizar<br />
reivindicações, por serem social e moralmente ilegítimas.<br />
Assim, o hospital psiquiátrico, ou hospício, acabou se tornando: (1) um meio<br />
para obtenção de licença na Previdência Social; (2) um lugar de repouso, de<br />
restauração da energias, das populações de baixa renda; (3) abrigo e asilo para os<br />
sem lar e sem família; (4) casa correcional para toxicômanos perturbadores; (5)<br />
espaço onde se exerce o “comércio da loucura” , com os pacientes (sobretudo<br />
alcoólatras) que internam-se periodicamente, gerando lucro para os donos dos<br />
14
hospitais. Mas o hospício se revela mais perverso na medida em que ao invés de<br />
recuperar, confirma e reforça a doença mental; o hospício traz embutido em seu<br />
papel o lento processo de “mortificação do Ego” dos que nele estão internados.<br />
Segundo Pessotti (1994), a confusão doutrinária das últimas décadas do<br />
século XIX gera vários absurdos terapêuticos; há uma desorientação geral da teórica<br />
médica quanto à etiologia e conseqüentemente da terapêutica da loucura; há o<br />
desaparecimento do modelo mitológico religioso e destaca-se o organicismo que<br />
incentiva a busca por maiores explicações das funções orgânicas, culminando num<br />
conflito entre o modelo organicista clássico e um modelo médico biopsicossocial,<br />
que por sua vez, testemunha a fragmentação e o paralelismo da teoria psiquiátrica,<br />
já que aquilo que não se explica com o “bio”, se explica com o “psico” e/com o social,<br />
gerando uma espécie de ilusão e impotência terapêutica (Saraceno, 2001-a).<br />
Para Wickert (1998),<br />
“no pensar coletivo atual, louco é aquele que não tem razão, que dá<br />
medo, que não controla seus próprios impulsos, escapando aos<br />
padrões sociais a serem seguidos e mantidos, necessitando, então,<br />
de tratamento especializado (...) Como o insano não é<br />
controlável/suportável nos termos morais, a razão coexiste com a<br />
loucura em contraposição, assim quem tem a razão não é louco e<br />
quem é louco não tem a razão.” 3<br />
Segundo Dittrich (1998),<br />
“será sempre em relação a uma ordem de ‘normalidade’,<br />
‘racionalidade’ ou ‘saúde’ que a loucura é concebida nos quadros de<br />
‘anormalidade’, irracionalidade’ ou ‘doença’ ”. 4<br />
A prática de submeter o paciente psiquiátrico às instituições manicomiais são<br />
práticas que visam moldar a conduta do sujeito sem levar em consideração o seu<br />
desejo, a sua subjetividade, num único objetivo de exclusão, a massificação e a<br />
dominação social. Os loucos passam a ser enclausurados em um lugar delimitado e<br />
afastado, para que os ditos como sãos saibam a história do sofrimento psíquico<br />
3 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade, pp. 39.<br />
4 Dittrich, 1998. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação, pp. 52.<br />
15
desses doentes, saibam quais males os ameaçam e busquem maneiras de evitar tal<br />
sofrimento, nascendo dessa estrutura os manicômios, lugares onde se despejavam<br />
aquelas pessoas que a sociedade, apesar de produzir, rejeitava (Wickert, 1998).<br />
Para Goffman (1996) apud Wickert (1998), os manicômios assim como as<br />
prisões, os conventos, os quartéis e as casas de recolhimento de indigentes são<br />
instituições totais, uma vez que as instituições totais são caracterizadas por locais<br />
onde as atividades são realizadas num mesmo local e sob uma única autoridade;<br />
todas as pessoas são tratadas da mesma forma e obrigadas a realizar tarefas em<br />
conjunto, sendo estas rigorosamente organizadas por um sistema de regras formais<br />
explícitas e por um grupo de funcionários. Além disso, há uma divisão básica e de<br />
pouca mobilidade social entre o grupo de internados e a equipe de supervisão. Na<br />
estrutura manicômio-instituição total, uma estufa para mudar pessoas, o paciente é<br />
obrigado a despir-se não só das suas roupas, mas também da sua história, sua<br />
subjetivação, sua individualidade, tornando-se apenas um simples número ou uma<br />
categoria da CID-10.<br />
Com o processo de internação, as barreiras que separam o manicômio do<br />
mundo externo acarretam perdas de papéis sociais e a aquisição de um padrão de<br />
comportamento homogeneizado a ser seguido, sendo uma agressão à subjetividade<br />
e à individualidade do paciente, além da perda do rótulo de saudável, de quem “tem<br />
a razão”, pois dizer socialmente “doente mental” é sê-lo para o resto da vida,<br />
condicionando o passado e o futuro do sujeito e marcando-o para toda a vida<br />
(Wickert, 1998).<br />
Segundo Saraceno (2001-a), os anos 70 se caracterizaram pela idéia de que<br />
a psiquiatria seria um conjunto de técnicas terapêuticas a serem aprendidas a fim de<br />
escolher aquela mais convincente, além da manutenção da idéia equivocada de<br />
cientificidade, na qual<br />
“científico é tudo aquilo que se exprime com categorias do<br />
quantitativo, que se refere a modelos claros e distintos, que exclui a<br />
subjetividade”. 5<br />
No entanto, como expressar em categorias puramente quantitativas um<br />
fenômeno cujo objeto às vezes é e as vezes não é alguma coisa ? 6<br />
3 Saraceno, 2001-a. Libertando Identidades, pp.13.<br />
6 Simanke, 1997, Loucura e Psicose: a abordagem psicanalítica. Apostila.<br />
16
Partindo da análise do discurso comum, Simanke (1997) observa que o termo<br />
loucura, longe de seu significado psicopatológico atual, formou uma rede ou campo<br />
de significações, do qual se alimentaram, posteriormente, os discursos mais<br />
organizados. A denominação “loucura” não representa nada de específico. Ela<br />
somente vai sofrer uma determinação estreita ao ver-se apropriada de formas de<br />
conhecimento mais organizadas, a partir dos parâmetros que definem as diversas<br />
teorias, adquirindo, somente desse modo, um sentido próprio, mas que permanece<br />
circunscrito a essa dada disciplina 7 .<br />
Somente quando a psiquiatria se impõe como o campo de domínio das<br />
doenças mentais, é que a loucura passa a se restringir ao significado “científico” que,<br />
hoje, lhe é atribuído.<br />
No entanto, ainda segundo Simanke (1997), o significado “científico” da<br />
loucura nasceu de práticas sociais mais ou menos simétricas à maneira como o<br />
fenômeno era percebido. O autor nota que tais práticas,<br />
“desencadeadas pelos aspectos mais superficiais das<br />
manifestações, podiam ser exercidas sem necessidade de entrar no<br />
mérito da natureza última dos fenômenos em foco; em outras<br />
palavras, ao menos nesse caso, a ação precedeu a reflexão” 8 .<br />
Inspirado por algumas noções gerais foucaultianas, o autor arrisca um esboço<br />
de definição dizendo que<br />
“histórica e culturalmente, a loucura identifica-se com um certo<br />
campo de discursos, que emergem de práticas sociais e/ou<br />
institucionais mais ou menos concretas.” 9<br />
Tais práticas foram rapidamente institucionalizadas, e foi através de um<br />
modelo hospitalocêntrico para o tratamento das doenças mentais que chegaram até<br />
nós.<br />
A Reforma Psiquiátrica consiste em uma reação a essa modelo, por meio de<br />
uma série de transformações na assistência em saúde mental propostas pela<br />
chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se iniciou na Itália com<br />
7 Simanke (1997), p. 5<br />
8 Idem, ibid, p. 6<br />
17
Franco Basaglia e teve seus primeiros momentos no Brasil a partir do final da<br />
década de 70, se intensificando ao longo dos anos 80, 90 e 2000. Este movimento<br />
reúne diversos atores sociais como usuários de serviços de saúde mental, seus<br />
familiares e técnicos da área de saúde; não pretende acabar com o tratamento<br />
clínico da doença mental, mas sim eliminar a prática do internamento como forma de<br />
exclusão social dos indivíduos portadores de transtornos mentais. Propondo, para<br />
isso, a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços<br />
territoriais de atenção psicossocial, de base comunitária. A extinção dos manicômios<br />
deve ser gradual, sendo que para que isso ocorra, foi aprovada uma Lei Federal de<br />
Saúde Mental em abril de 2001 (após 12 anos de tramitação no Congresso), que<br />
regulamenta o processo de Reforma a Assistência Psiquiátrica no Brasil.<br />
9 Idem, ibid, p. 7<br />
18
II. JUSTIFICATIVA<br />
A partir da década de 70, percebe-se no país alguns movimentos de crítica ao<br />
modelo hospitalocêntrico no que se refere à assistência psiquiátrica, sendo a<br />
exclusão e a violência nos manicômios pautas de discussões que reivindicavam os<br />
direitos dos doentes mentais. Os principais questionamentos eram relacionados à<br />
natureza do modelo privatista e à sua incapacidade de produzir um atendimento que<br />
contemplasse as necessidades de seus usuários, mas ainda não havia um modelo<br />
muito claro nem uma proposta de intervenção clínica. Já na década de 80, período<br />
marcado pela ditadura, o movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil ganha<br />
importância política e social, possibilitando mudanças na saúde, permitindo a<br />
participação de outros setores que não médicos, enfatizando críticas às noções de<br />
clínica e cidadania, ambas ancoradas a uma concepção universal do sujeito onde a<br />
normalidade deve ser reconstituída. A construção de um novo espaço social para a<br />
loucura exigia não só que a noção de cidadania e a base do saber psiquiátrico<br />
fossem colocados em debate, mas também a invenção de novos locais,<br />
instrumentos técnicos, terapêuticos e novos modos de estabelecer relações com<br />
esses sujeitos (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).<br />
Nesse período foi muito importante a influência da psiquiatria democrática<br />
italiana, propondo o questionamento da suposta universalidade do racionalismo<br />
científico das psiquiatrias; usuários e familiares passaram a reivindicar mais<br />
intensamente por outras possibilidades de atenção assim como espaços, avanços<br />
técnicos e formas de reabilitação psicossocial. Começaram a ser implantados os<br />
hospitais-dia, mas só nos anos 90 foram criados e consolidadas propostas como os<br />
Centros de Assistência Psicossocial (CAPS), os Núcleos de Atenção Psicossocial<br />
(NAPS) e os Lares Abrigados (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).<br />
Originada do grego, a palavra autonomia surgiu para designar a capacidade<br />
de um indivíduo de se autodeterminar, de se auto-realizar (Santos, Almeida &<br />
Venâncio, 2000). Para Kinoshita (2001), autonomia seria<br />
“a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a sua vida,<br />
conforme as diversas situações que enfrente (...) não se trata de<br />
19
confundir autonomia com auto-suficiência nem com independência.”<br />
10<br />
No campo da saúde mental, entretanto, seu conceito parece ser mais<br />
impreciso, uma vez que os sujeitos se tornam destituídos de todo e qualquer valor<br />
ao receber o atributo de doente mental, além da dúvida de se as instituições que<br />
utilizam novos dispositivos contrários àqueles do tradicional manicômio, propiciarem<br />
ou não a produção de autonomia para os usuários que se beneficiam do tratamento<br />
(Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Aqui, se torna muito importante a questão da<br />
reabilitação psicossocial.<br />
Para a OMS, segundo Pitta (2001-a), a reabilitação psicossocial seria<br />
“o conjunto de atividades capazes de maximizar oportunidades de<br />
recuperação de indivíduos e minimizar os efeitos desabilitantes da<br />
cronificação das doenças através do desenvolvimento de insumos<br />
individuais, familiares e comunitários”. 11<br />
Segundo Pitta (2001-b), reabilitação psicossocial<br />
“implica numa ética de solidariedade que facilite aos sujeitos com<br />
limitações para os afazeres cotidianos, decorrente de transtornos<br />
mentais severos e persistentes, o aumento da contratualidade<br />
afetiva, social e econômica que viabilize o melhor nível possível de<br />
autonomia para a vida na comunidade.” 12<br />
Já Kinoshita (2001) pensa que reabilitação seria a reconstrução dos valores, o<br />
aumento do poder contratual do usuário; a criação de condições para que o paciente<br />
possa participar do processo de trocas sociais; a produção de dispositivos que<br />
mudem o pressuposto de desvalor natural; em suma, um processo de restituição do<br />
poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia.<br />
Complementando a idéia, Saraceno (2001-b) afirma que<br />
10 Kinoshita, 2001. Contratualidade e reabilitação psicossocial, pp. 57.<br />
11 Pitta, 2001-a. O que é reabilitação social no Brasil, hoje?, pp. 21.<br />
20
“o processo de reabilitação seria, então, um processo de<br />
reconstrução, um exercício pleno da cidadania, e, também, de plena<br />
contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e<br />
trabalho com valor social.” 13<br />
Marques (2001), ainda define como metas da reabilitação<br />
“prevenir e/ou reduzir incapacitações ou perda de habilidades;<br />
restaurar habilidades potenciais em desempenhar papéis sociais;<br />
fortalecer habilidades latentes e dignidades potenciais; facilitar<br />
adaptação social e psicológica aos efeitos de prejuízos sociais na<br />
vida do indivíduo; minimizar a deterioração; capacitar níveis ótimos<br />
de autodeterminação, execução de responsabilidades pessoais e<br />
independentes, melhorar o sentido de bem-estar da pessoa.” 14<br />
A reabilitação deve ser a principal característica da psiquiatria; um<br />
“entretenimento” do doente. Tendo em vista que entreter significa “ter dentro” e<br />
também “passar prazerosamente o tempo”; na espera de que o doente morra ou que<br />
a doença se cure sozinha, o significado empregado pode ser o de que o doente<br />
“fique dentro” do hospital psiquiátrico, nas alas, nas enfermarias, nas salas de<br />
contenção, na violência e na miséria; ou então o de que o doente também pode ser<br />
entretido com conversas, com oficinas terapêuticas, em um hospital dia e/ou no meio<br />
da sua própria família, adotando assim o sentido de inserção em um sistema onde a<br />
espera é de melhora. É importante também conhecer as ações que contribuíram<br />
para a melhora do paciente, pois assim talvez fosse verificado que as ações formais<br />
não são especialmente influentes sobre a evolução das doenças; que a psiquiatria<br />
clínica com suas terapêuticas constitui um conjunto de entretenimentos danosos ou<br />
indiferentes, raramente úteis. A ruptura deste entretenimento não é apenas uma<br />
ruptura à prática da psiquiatria, mas também uma busca de caminhos que confluam<br />
para a reconstrução da cidadania plena do paciente psiquiátrico, sendo esta não só<br />
a restituição de seus direitos formais, como também a construção afetiva, relacional,<br />
material, habitacional e produtiva dos seus direitos substanciais (Saraceno, 2001-a).<br />
12 Pitta, 2001-b. Prefácio à 1ª edição, pp. 9.<br />
13 Saraceno, 2001-b. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio, pp. 16.<br />
21
É buscando refletir sobre as práticas substitutivas em Saúde Mental que o<br />
presente trabalho realizou um estudo comparativo entre o encaminhamento dado<br />
aos usuários que procuram os serviços de saúde mental em duas unidades de<br />
saúde mental. Uma delas, o CAPS-São Carlos, inserido no contexto de reformulação<br />
da atenção em Saúde Mental e pretendendo ser um serviço que de alguma forma<br />
venha a inaugurar o “novo” em termos de atendimento ao doente mental, e o Centro<br />
de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP, que funciona em<br />
esquema ambulatorial tradicional.<br />
Para tal, este estudo caracterizou, por meio da consulta aos Prontuários, o<br />
tratamento oferecido à população atendida, o tipo de demanda, assim como a<br />
questão da construção da autonomia dos sujeitos psicóticos atendidos pelos<br />
serviços, sempre considerando as características próprias de cada serviço.<br />
A indagação é pertinente, pois a discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos<br />
psicóticos põe em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria,<br />
além de, depois aproximadamente uma década de implantação dos “novos<br />
serviços”, parece ser este um bom momento para refletir e avaliar as possíveis<br />
transformações no campo da Atenção em Saúde Mental.<br />
14 Marques, 2001. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica, pp. 107.<br />
22
III. OBJETIVOS<br />
OBJETIVO GERAL: realizar uma comparação descritiva entre o<br />
encaminhamento oferecido aos usuários dos serviços de Saúde Mental no<br />
CAPS de São Carlos-SP e o Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do<br />
Valle”, em Caconde-SP, de acordo com os recursos disponíveis em cada<br />
serviço.<br />
OBJETIVO ESPECÍFICO: caracterizar a população atendida e o tipo de<br />
demanda.<br />
23
IV. METODOLOGIA<br />
Segundo Capra (1982), a influência do paradigma cartesiano (concepção<br />
mecanicista da vida) sobre o pensamento médico resultou no modelo da moderna<br />
medicina científica, onde o corpo humano é considerado uma máquina que pode ser<br />
analisada em termos de suas peças; a doença é tida como um mau funcionamento<br />
dos mecanismos biológicos, que são estudados do ponto de vista da biologia<br />
molecular; o papel dos médicos é intervir, física ou quimicamente, para consertar o<br />
defeito no funcionamento de um mecanismo específico enguiçado. O paradigma<br />
biomédico reduz as doenças às causas biológicas. Em se tratando das doenças<br />
mentais, postula uma relação linear de causalidade entre danos do sistema nervoso<br />
e o surgimento das doenças mentais, considerando que os tratamentos das doenças<br />
não são outro que modificações (essencialmente farmacológicas) da função cerebral<br />
alterada.<br />
A abordagem biopsicossocial procura contemplar o processo de saúde-<br />
doença como uma relação contínua entre fatores biológicos, psicológicos e sociais<br />
(agora também espirituais). Fatores macrossociais, diferenças culturais, eventos<br />
externos (guerras, desastres), condições sócio-econômicas (desemprego, recessão<br />
econômica, condições de insuficiente suporte social, ambientes psicológicos<br />
adversos) e contextos microssociais (família) são todos importantes no surgimento e<br />
na evolução de muitas das doenças psiquiátricas (Saraceno, 2001-a).<br />
Segundo Rey (2002) e apoiando a abordagem biopsicossocial, o<br />
conhecimento estaria ligado à cultura, à organização social e à “práxis histórica”,<br />
sendo não só condicionado, determinado e produzido, mas também condicionante,<br />
determinante e produtor.<br />
O que ainda vem acontecendo ultimamente é que o papel biológico vem<br />
dominando o modelo de assistência à saúde mental. O ideal seria uma relação não<br />
simplesmente somatória, mas interativa entre as dimensões biológica, psicológica e<br />
social, sem deixar quer um dos aspectos fosse dominante sobre os outros, pois a<br />
abordagem biopsicossocial não exclui, evidentemente, a biológica, mas coloca em<br />
crise o paradigma biomédico, mostrando sua ineficácia e deterioração.<br />
O presente estudo tomou predominantemente como referência a luta<br />
antimanicomial, os princípios que norteiam a reforma à assistência psiquiátrica no<br />
Brasil e as orientações da pesquisa qualitativa, sendo que esta última, segundo Rey<br />
(2002)<br />
24
Local<br />
“enfatiza tanto a compreensão da pesquisa qualitativa como processo<br />
dialógico que impede tanto o pesquisador, como as pessoas que são<br />
objetos da pesquisa, em sua condição de sujeito do processo; (...) a<br />
busca de grandes narrativas vai sendo substituída por teorias mais<br />
locais e de pequena escala. Centradas em problemas e situações<br />
específicas (...). A definição do qualitativo na pesquisa psicológica não<br />
é uma questão instrumental, nem tampouco uma questão definida<br />
pelo tipo de dados que devem ser incluídos, mas que se define<br />
essencialmente pelos processos implicados na construção do<br />
conhecimento, pela forma de se produzir o conhecimento”. 15<br />
O estudo foi realizado no CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) de São<br />
Carlos-SP e no Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-<br />
SP.<br />
CAPS<br />
Inicialmente somente o Centro Municipal de Especialidades oferecia uma<br />
tímida atenção à Saúde Mental pública à cidade de São Carlos, oferecendo um<br />
serviço basicamente ambulatorial ao doente mental. Devido à grande demanda,<br />
ocorriam problemas que comprometiam a qualidade do tratamento, como<br />
agendamento de consultas e retornos com longos intervalos de espera, marcação<br />
das consultas num único horário, falta de prévia informação ao paciente tanto sobre<br />
a ordem das consultas, quanto à questões de prevenção, sintomatologias das<br />
doenças,procedimentos de emergência, características e adequação dos serviços e<br />
tratamentos disponíveis. Tais circunstâncias tornava-os apreensivos e inseguros,<br />
inviabilizando atuações na manutenção da saúde, autonomia e qualidade de vida.<br />
Sendo observada a falta de recursos adequados encontrados no Centro<br />
Municipal de Especialidades e o alto índice de internações, demonstrando o atraso<br />
de São Carlos em relação às cidades vizinhas, iniciou-se um processo de mudanças<br />
que visava adequar a prestação de serviços em Saúde Mental às tendências de<br />
vanguarda, intervindo com a comunidade, os usuários, os profissionais e a<br />
instituição.<br />
25
Essas mudanças iniciaram com a proposta de um serviço de Sala de Espera<br />
do Corredor de Saúde Mental do Centro Municipal de Especialidades, onde<br />
estagiários da <strong>UFSCar</strong> objetivavam o espaço necessário à orientação de usuários,<br />
acompanhantes e familiares, visando, basicamente o resgate da cidadania e a<br />
reabilitação psicossocial. Isso se deu através de diálogos informativos e orientações<br />
aos usuários, familiares e acompanhantes; exposição dos usuários a situações do<br />
contato social que favorecessem a expressão, além de uma maior interação entre<br />
usuários e membros da equipe de Saúde mental.<br />
Durante o desenvolvimento do Projeto de Atendimento em Sala de Espera, o<br />
contato diário com a realidade do serviço no Corredor de Saúde Mental do Centro<br />
Municipal de Especialidades, com profissionais e usuários, possibilitou aos membros<br />
envolvidos a efetuação de um diagnóstico institucional que apontava a insuficiência<br />
desse serviço (os usuários faziam uso prolongado e contínuo de medicamentos sem<br />
acompanhamento adequado, havia ausência de recursos para serviços alternativos<br />
à hospitalização, carência dos usuários de informações e necessidade de outras<br />
abordagens terapêuticas), assim como a necessidade de reorganizar os serviços de<br />
Saúde Mental do município promovendo mudanças que realmente levem à<br />
reabilitação do usuário, como a implantação de um CAPS, serviço que vem sendo<br />
utilizado com grande eficiência em diversas localidades.<br />
De uma parceria entre a <strong>UFSCar</strong> e a Secretaria Municipal de Saúde foi<br />
iniciada a construção do projeto de implementação do CAPS, que tinha como<br />
principais objetivos:<br />
• Identificar a forma de organização comunitária, os padrões culturais e sociais,<br />
suas formas potenciais e manifestas de expressão, dentro da área de atuação<br />
e abrangência do usuário;<br />
• Estimular a participação de voluntários da comunidade no serviço proposto;<br />
• Instituir o Plano Terapêutico Individual (PTI) visando a<br />
construção/resignificação dos projetos de vida de cada indivíduo, o<br />
reconhecimento do usuário como cidadão, reconhecimento da capacidade<br />
crítica e a participação do usuário na definição de seu plano terapêutico;<br />
• Criar e manter grupos de acolhimento, em substituição ao serviço de<br />
Atendimento em Sala de Espera;<br />
• Criar oficinas Terapêuticas;<br />
• Criar cooperativas de trabalho;<br />
2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, pp. ix, 6 e 24.<br />
26
• Criar a Associação de Usuários e Familiares;<br />
• Utilizar os meios de comunicação para divulgar o trabalho do CAPS,<br />
ampliando, assim, as possibilidades de inserção dos usuários na comunidade;<br />
• Promover eventos culturais com a participação dos usuários;<br />
• Manter contato permanente com serviços de excelência em Saúde Mental, a<br />
fim de promover troca de conhecimentos, intervenções, pesquisas e<br />
estabelecer critérios comparativos;<br />
• Criar um Núcleo de atenção à Crise<br />
• Criar um Núcleo de Ensino e Pesquisa do CAPS.<br />
O CAPS, apesar de recentemente implantado (março/2002) na cidade de São<br />
Carlos, já presta serviços a uma demanda considerável, uma vez que a cidade<br />
possui quase 200.000 habitantes e ainda é referência regional, atendendo então,<br />
não somente sua população, mas também a população das cidades vizinhas (como<br />
Ibaté, Água Vermelha, Dourado, Ribeirão Bonito, entre outras). O CAPS - São Carlos<br />
oferece tanto o serviço gratuito de fornecimento de medicamentos, de atendimento<br />
médico (diagnóstico psiquiátrico ou neurológico e “troca de receitas”) como<br />
atendimento psicológico, de enfermagem, de terapia ocupacional, de serviço social,<br />
de oficinas terapêuticas e até a permanência de determinados períodos do dia para<br />
os casos mais graves, dependendo do tratamento (intensivo e semi-intensivo).<br />
Centro de Saúde<br />
Já o Centro de Saúde II - Caconde, apesar de ter sofrido recentemente uma<br />
pequena reestruturação no Serviço de Saúde Mental, possui um tipo de serviço<br />
totalmente diferente do realizado nos CAPS em geral, pois oferece um serviço mais<br />
emergencial como fornecimento de medicamentos gratuitamente, consultas com<br />
médico psiquiatra (para diagnóstico e “troca de receitas”) e em alguns casos<br />
encaminhamento para o psicólogo. Além da diferença do tipo de serviço oferecido, é<br />
preciso destacar que a população atendida é bem menor, uma vez que a população<br />
de Caconde é de aproximadamente 20.000 habitantes e a cidade não é referência<br />
regional para nenhum assunto referente à saúde.<br />
Tendo em vista que as duas instituições apresentam diversas diferenças entre<br />
si, somente torna-se viável a realização de um estudo comparativo em relação ao<br />
tipo de encaminhamento oferecido aos usuários se todas essas diferenças puderem<br />
ser consideradas e explicitadas no estudo em questão, realizando, para isso, análise<br />
27
do projeto para implantação e estruturação de ambos os tipos de serviços de<br />
atendimento aos doentes mentais; levantamento dos recursos terapêuticos<br />
oferecidos (como consultas médicas, psicoterapias, oficinas terapêuticas, entre<br />
outros); assim como análise dos prontuários dos usuários dos serviços.<br />
Participantes<br />
Participaram do estudo os usuários do Serviço de Saúde Mental do Centro de<br />
saúde II “Dr. Sebastião ribeiro do Valle”, além dos usuários intensivo e semi-<br />
intensivo do CAPS através dos dados contidos nos prontuários, uma vez que não<br />
houve interação direta nem com os usuários nem com os prestadores de serviço, de<br />
qualquer forma que seja.<br />
Material<br />
Durante a fase de coleta de dados foram utilizadas várias cópias do<br />
instrumento-base para a análise dos prontuários, além dos prontuários em questão e<br />
caneta para as anotações. Para o tratamento dos dados foi utilizado<br />
microcomputador.<br />
Instrumento<br />
Foi estruturado um formulário específico (Anexo 1) para o estudo em questão.<br />
Este instrumento consta de vários dados levantados através dos prontuários<br />
dos usuários do CAPS – São Carlos e do Centro de Saúde II – Caconde, como o<br />
Serviço que está utilizando; número do prontuário; iniciais do usuário; sua idade;<br />
data de nascimento; local de nascimento (cidade, estado e país); endereço atual<br />
(bairro e cidade); escolaridade; profissão; data de admissão no serviço em questão;<br />
queixa de entrada; descrição dos principais sintomas; casos de antecedentes<br />
familiares; hipótese diagnóstica; medicação em uso; número de internações<br />
psiquiátricas, assim como locais e datas; outras doenças e/ou medicações<br />
associadas; se recebe benefício do INSS; quais os atendimentos terapêuticos<br />
recebidos como psicoterapia ou terapia ocupacional; qual a modalidade desses<br />
atendimentos terapêuticos recebidos, como em grupo, individual ou ambas; qual a<br />
freqüência (uma, duas ou três vezes/semana); se recebe acompanhamento<br />
psiquiátrico; se participa de alguma atividade terapêutica em oficinas, sendo que em<br />
caso positivo quais seriam essas oficinas; qual o último encaminhamento recebido,<br />
assim como sua data; a evolução clínica do usuário; outros achados não<br />
28
contemplados pelas questões acima; data de consulta ao prontuário; nome da<br />
pesquisadora e assinatura da mesma.<br />
Procedimento<br />
Após a concordância de ambas as instituições por meio da assinatura do<br />
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2) por seus responsáveis, o<br />
projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da <strong>UFSCar</strong> (Anexo 3). Aprovado<br />
(Anexo 4), iniciou-se a fase de coleta de dados.<br />
A pesquisadora passou a ir diariamente nos serviços, durante um período de<br />
aproximadamente três meses, para coletar os dados dos prontuários.<br />
Para selecionar os prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do<br />
Centro de Saúde II - Caconde, foi necessário recorrer a um caderno onde eram<br />
agendadas as consultas com o psiquiatra, uma vez que não havia nenhuma outra<br />
fonte de registro dos usuários desse tipo de serviço. Sendo assim, foram anotados<br />
os nomes e os respectivos números de registro dos pacientes que receberam<br />
atendimento psiquiátrico de janeiro à julho de 2003, para que estes pudessem<br />
posteriormente ser analisados.<br />
No Centro de Saúde, a pesquisadora responsabilizou-se pela retirada e<br />
devolução dos prontuários, estando estes organizados de forma numericamente<br />
crescente. Já no CAPS – São Carlos, os prontuários dos usuários intensivos e semi-<br />
intensivos estavam localizados em pastas específicas (denominadas Intensivo<br />
Feminino, Intensivo Masculino, Semi-intensivo Feminino e Semi-Intensivo<br />
Masculino), sendo que também havia uma atendente que localizava os prontuários<br />
que não se encontravam nessas pastas (caso de usuários que faleceram ou já<br />
haviam recebido alta).<br />
Com os prontuários em mãos, para cada usuário foi utilizado um instrumento<br />
de base de coleta de dados. No Centro de Saúde II – Caconde, esse preenchimento<br />
realizado invariavelmente em uma mesma sala de uso médico que se encontrava<br />
desocupada; bem iluminada, ventilada e com a porta fechada para evitar ruídos e<br />
interrupções. Já no CAPS – São Carlos, o preenchimento foi realizado em diversos<br />
locais, devido à não disponibilização de um local específico ou adequado para tal<br />
tarefa.<br />
Após serem coletados os dados de todos os prontuários disponíveis, estes<br />
foram sistematizados e analisados.<br />
29
Com relação às hipóteses diagnósticas encontradas nos prontuários dos<br />
usuários dos serviços de Saúde mental do centro de Saúde II – Caconde, estas<br />
foram previamente classificadas segundo o Código Internacional de Doenças – 10,<br />
mais conhecido como CID-10 (Cooper, 1997) e posteriormente agrupadas em<br />
categorias maiores, sendo estas:<br />
• F00-F09: Transtornos mentais orgânicos, incluindo sintomáticos;<br />
• F10-F19: Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de<br />
substâncias psicoativas;<br />
• F20-F29: Esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante;<br />
• F30-F39: Transtornos do humor (afetivos);<br />
• F40-F48: Transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes;<br />
• F50-F59: Síndromes comportamentais associadas a perturbações fisiológicas<br />
e fatores físicos;<br />
• F60-F69: Transtornos de personalidade e de comportamento em adultos;<br />
• F70-F79: Retardo mental;<br />
• F80-F89: Transtornos do desenvolvimento psicológico;<br />
• F90-F98: Transtornos emocionais e de comportamento com início usualmente<br />
ocorrendo na infância e adolescência;<br />
• F99: Transtorno mental, sem outra especificação;<br />
• OUTROS: outras condições da CID-10 freqüentemente associadas a<br />
transtornos mentais e de comportamento.<br />
Já os medicamentos foram classificados mediante categorias, segundo a tabela<br />
abaixo.<br />
30
PRINCÍPIO ATIVO NOME COMERCIAL CLASSIFICAÇÃO<br />
alprazolan frontal, aprax ansiolítico benzodiazepínico<br />
amitriptilina amitril, tryptanol antidepressivo<br />
biperideno akineton outros (antiparkinsonisano)<br />
bromazepan lexotan, somalium ansiolítico<br />
calman fitoterápico ansiolítico<br />
carbamazepina tegretol estabilizador do humor<br />
clobazam frisium, urbanil ansiolítico, sedativo<br />
clomipramina anafranil antidepressivo<br />
clonazepan rivotril ansiolítico benzodiazepínico<br />
clordiazapóxido psicosedin ansiolítico benzodiazepínico<br />
clorpromazina amplictil antipsicótico<br />
clozapina leponex antipsicótico<br />
Complexo B Complexo B outros (vitamínico)<br />
diazepan valium ansiolitico benzodiazepínico<br />
digoxina digoxina outros (digitálicos ou cardiotônicos)<br />
fenitoína hidental outros (anticonvulsivante,<br />
antiepilético)<br />
fenobarbital gardenal outros (sedativo, hipnótico, anti<br />
convulsivatnte)<br />
fluoxetina prozac antidepressivo<br />
haloperidol haldol antipsicótico<br />
imipramina tofranil antidepressivo<br />
lítio carbolitium estabilizador do humor<br />
levomepromazina neozine antipsicótico<br />
levotiroxina tetroid outros (tireoideano)<br />
lorazepan lorax ansiolítico hipnótico<br />
nortriptilina pamelor antidepressivo<br />
olanzaprina zyprexa antipsicótico<br />
prometazina Fenergan, pamergan outros (anti-histamínico sistêmico)<br />
propanolol inderal outros (anti-hipertensivo, antihistamínico,<br />
betabloqueador)<br />
ranitidina antak outros (anti-ulceroso)<br />
risperidona risperidal antipsicótico<br />
sertralina zoloft antidepressivo<br />
tioridazina melleril antipsicótico<br />
trifluoperazina stelazine antipsicótico<br />
valproato de sódio depakene Estabilizador do humor,<br />
anti-convulsivante<br />
Diozenato, fenicure, fenilav ? ?<br />
Tabela 1: Classificação dos medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários do Centro de<br />
Saúde II - Caconde e do CAPS – São Carlos.<br />
31
V. RESULTADOS<br />
Os dados obtidos com o preenchimento do instrumento foram sistematizados<br />
e tabulados segundo as questões contidas na Base para análise de dados, e<br />
segundo o serviço em questão para depois serem construídos os gráficos.<br />
Os dados dos 287 prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do<br />
Centro de Saúde II - Caconde foram analisados segundo sexo, idade, endereço<br />
atual, escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, queixa de entrada,<br />
antecedentes familiares, medicação em uso, hipótese diagnóstica, média de<br />
medicação por paciente, outras doenças associadas, número de internações<br />
psiquiátricas, se é aposentado ou não, se recebe ou recebeu atendimento<br />
psicoterapêutico, se recebe ou não acompanhamento psiquiátrico, se participa de<br />
oficinas e qual o último encaminhamento recebido. Os dados coletados encontram-<br />
se apresentados nas tabelas 2 e 3, abaixo.<br />
32
Sexo (287) Qtde. Porcent Antecedentes famil. Qtde. Porcent Outras doenças Qtde. Porcent<br />
Feminino 162 56,44% Pai 01 0,34% Artrite/Artrose 06 2,09%<br />
Masculino 125 43,55% Mãe 01 0,34% Anemia 03 1,04%<br />
Idade Irmão(ã) 02 0,69% Bronq./Rinite/Sinusite 12 4,18%<br />
0-10 08 2,78% Avô/avó -- -- Burcite 05 1,74%<br />
11-20 17 5,92% Tio/tia -- -- Cardiopatia 08 2,78%<br />
21-30 48 16,72% Primo/prima -- -- Déficite Auditivo 03 1,04%<br />
31-40 56 19,51% Sem dados 283 98,60% Diabete 14 4,87%<br />
41-50 58 20,21% Dor de cabeça cte. 03 1,04%<br />
51-60 60 20,90% Medicação em uso Gastrite/Úlcera 39 13,58%<br />
61-70 21 7,31% Akineton 36 7,42% Hanseníase 01 0,34%<br />
71 ou mais 14 4,87% Amitril 08 1,65% Infecção urinária 02 0,69%<br />
Sem dados 05 1,74% Amitriptilina 28 5,77% Labirintite 01 0,34%<br />
Endereço atual Amplictil 33 6,80% Obesidade 04 1,39%<br />
Água Branca 14 4,87% Anafranil 03 0,61% Osteoporose 04 1,34%<br />
Bela Vista 31 10,80% Bromazepan 01 0,20% Hipertenção Arterial 36 12,54%<br />
Centro 13 4,53% Calman 01 0,20% Pressão Baixa 02 0,69%<br />
Cristais 16 5,57% Carbolitium 03 0,61% Tuberculose 03 1,04%<br />
Jd dos Estados 43 14,98% Clomipramina 22 4,53% Nenhuma/Sem dados 167 58,18%<br />
Nova Estância 01 0,34% Clorpromazina 01 0,20% Prontuários c/ dados 120 41,81%<br />
Sta Cruz 23 8,01% Complexo B 07 1,44% Média doença/pac. 1,21 --<br />
Sta Lucia 04 1,39% Depakene 01 0,20%<br />
São José 13 4,53% Diazepan 34 7,01% Internações psiq.<br />
Várzea 17 5,92% Digoxina 01 0,20% 01 19 6,62%<br />
Rural 73 25,43% Diozenato ? 01 0,20% 02 15 5,22%<br />
Sem dados 49 13,58% Fenergan 32 6,60% 03 08 2,78%<br />
Escolaridade Fenicure ? 01 0,20% 04 06 2,09%<br />
Analfabeto 01 0,34% Fenilav ? 01 0,20% 05 02 0,69%<br />
Fund. incompleto 13 4,53% Fenobarbital 02 0,41% 06 01 0,34%<br />
Fund. completo 06 2,09% Fenitoína 02 0,41% 07 -- --<br />
Médio incompleto 01 0,34% Fluoxetina 24 4,94% 08 02 0,69%<br />
Médio completo 01 0,34% Frisium 01 0,20% 09 ou mais 03 1,04%<br />
Superior incompleto -- -- Gardenal 05 1,03% TOTAL <strong>DE</strong> PAC. IN. 56 19,51%<br />
Superior completo -- -- Haldol 88 18,14% Sem dados 231 80,48%<br />
Sem dados 265 92,33% Imipramina 17 3,50% EM 2003 10 3,48%<br />
Profissão Lorax 01 0,20%<br />
Lavrador 08 2,78% Melleril 01 0,20% Aposentado<br />
Costureira 01 0,34% Neozine 35 7,21% Sim 17 5,92%<br />
Doméstica 06 2,09% Pamelor 01 0,20% Sem dados 270 94,07%<br />
Manicure 01 0,34% Propanolol 04 0,82% Atendimento Psicot.<br />
Sem dados 271 94,42% Psicosedin 04 0,82% Recebe psicoterapia 42 14,63%<br />
Data de Admissão Ramitidina 01 0,20% Já recebeu psicoterap. 24 8,36%<br />
71-80 40 13,93% Risperidona 02 0,41% Acomp. Psiquiátrico<br />
81-90 143 49,82% Rivotril 06 1,23% Sim 283 98,60%<br />
91-2000 71 24,73% Tegretol 17 3,50% Não 04 1,40%<br />
2001 10 3,48% Tofranil 08 1,65% Oficinas<br />
2002 08 2,78% Tryptanol 17 3,50% Não 287 100%<br />
2003 07 2,43% Último encam.<br />
Sem dados 08 2,78% Sem dados 35 7,21% Psiquiatra 90 31,35%<br />
Queixa de Entrada (TOTAL) (485) (100%) Só Medicação 91 31,70%<br />
Dentista 07 2,43% Média med/pac. 1,68 Psicólogo 23 8,01%<br />
Exames 23 8,01% Clínico geral 52 18,11%<br />
Psiquiatra 35 12,19% Média med/pacien Qtde. Porcent Cardiologista 04 1,39%<br />
Receita méd. 26 9,06% 01 118 41,11% Ginecologista 09 3,11%<br />
outros 145 50,52% 02 74 25,78% Neurologista 01 0,34%<br />
Sem dados/ilegível 51 17,77% 03 47 16,37% Ortopedista 03 1,04%<br />
04 07 2,43% Otorrino 04 1,39%<br />
05 06 2,09% Enfermagem 10 3,48%<br />
Sem dados 35 12,19% Oficinas Terapêuticas 22 7,66%<br />
Tabela 2: Tabulação dos dados obtidos com a análise dos prontuários do Centro de Saúde II -<br />
Caconde.<br />
33
HD CID Qtde Porcent. HD CID Qtde Porcent.<br />
Demência não especificada na Doença<br />
de Alzheimer.<br />
Demência não especificada<br />
Síndrome amnésica orgânica não<br />
induzida pelo álcool ou por outras<br />
substâncias psicoativas<br />
F 00.9<br />
F 03.5 e<br />
01 0,20% Transtorno somatoforme, não<br />
especificado<br />
F 03.9<br />
em F 03<br />
03 0,60% Transtorno de somatização<br />
F 04.9<br />
Transtorno doloroso somatoforme<br />
Em F 04 01 0,20%<br />
persistente<br />
F 44.9 20 4,02%<br />
Delirium não especificado F 05.9 01 0,20% Transtorno somatoforme, não<br />
especificado<br />
F 45.9 22 4,42%<br />
Transtorno delirante<br />
(esquizofreniforme) orgânico<br />
F 06.2 01 0,20% Neurastenia F 48.0 18 3,62%<br />
Transtorno cognitivo leve<br />
Transtorno mental decorrente de lesão<br />
F 06.7 01 0,20% Síndrome de despersonalização F 48.1 04 0,80%<br />
e disfunção cerebrais e de doença<br />
física, não especificado<br />
F 06.9 04 0,80%<br />
Transtorno neurótico F 48.9 43 8,65%<br />
Síndromes comportamentais F 59. 0 01<br />
Transtorno orgânico de personalidade F 07.0 01 0,20% associadas a perturbações fisiológicas e F 59.9 01 0,40%<br />
e fatores físicos não especificados em F 59<br />
Transtorno mental decorrente de<br />
Transtorno de Personalidade<br />
doença, lesão e disfunção cerebrais,<br />
não especificada<br />
F 07.9 06 0,30%<br />
paranóide<br />
F 60.0 06 1,21%<br />
Transtorno mental orgânico ou F 09.9 14 2,82% Personalidade dissocial F 60.2 01 0,20%<br />
sintomático não especificado em F 09<br />
Transtornos mentais e de<br />
Transtorno de personalidade, não<br />
comportamentos decorrentes do uso<br />
de álcool<br />
F 10.0 06 1,21%<br />
especificado<br />
F 60.9 04 0,80%<br />
Transtornos mentais e de<br />
Elaboração de sintomas físicos por<br />
comportamentos decorrentes do uso<br />
de álcool com trantorno psicótico<br />
(esquizofreniforme)<br />
F 10.5 01 0,20%<br />
razões patológicas<br />
F 68.0 09 1,81%<br />
Transtornos mentais e de<br />
Produção intencional ou invenção de<br />
comportamentos decorrentes do uso F 10.9 14 2,82% sintomas ou incapacidades físicas ou F 68.1 07 1,41%<br />
de álcool com transtornos mentais não<br />
especificados<br />
psicológicas (transtorno fictício)<br />
Uso continuo de álcool<br />
Transtornos mentais e de<br />
F 10.25 01 0,20% Retardo mental leve F 70.9<br />
em F 70<br />
03 0,60%<br />
comportamentos decorrentes do uso F 19.5 01 0,20% Retardo mental moderado F 71.9 03 0,60%<br />
de múltiplas drogas e do uso de outras<br />
substâncias psicoativas com transtorno<br />
psicótico (esquizofreniforme)<br />
Transtornos mentais e de<br />
em F 71<br />
comportamentos decorrentes do uso F 19.9 01 0,20%<br />
Retardo mental grave F 72.9 07 1,41%<br />
de múltiplas drogas e do uso de outras<br />
substâncias psicoativas com transtorno<br />
mental e de comportamento, não<br />
especificado.<br />
em F 72<br />
Esquizofrenia paranóide F 20.0 19 3,82% Transtorno não especificado do<br />
desenvolvimento psicológico<br />
F 89.0 01 0,20%<br />
Esquizofrenia hebefrênica F 20.1 13 2,61% Transtorno hipercinético, não<br />
especificado<br />
F 90.9 04 0,80%<br />
Esquizofrenia residual F 20.5 31 6,24% Transtorno depressivo de conduta e<br />
emoções, não especificado<br />
F 92.0 01 0,20%<br />
Esquizofrenia, não especificada F 20.9 11 2,21% Transtorno misto de conduta e<br />
emoções, não especificado<br />
Transtornos emocionais e de<br />
F 92.9 01 0,20%<br />
Transtorno persistente delirante, não F 22.9 08 1,61% comportamento com início usualmente F 98.9 06 1,21%<br />
especificado<br />
ocorrendo na infância e adolescência,<br />
não especificados<br />
F 24.0,<br />
Transtorno mental, sem outra<br />
Transtorno delirante induzido F 24.9<br />
em F 24<br />
02 0,40%<br />
especificação<br />
F 99.0 15 3,02%<br />
Outros transtornos psicóticos não F 28.5 01 0,20%<br />
orgânicos<br />
em F 28<br />
F 29.0, 12<br />
Psicose não-orgânica, não F 29.1 e 02 5,23%<br />
Epilepsia<br />
G 40 03 0,60%<br />
especificada<br />
F 29.9<br />
em F 29<br />
12<br />
Mania sem sintomas psicóticos F 30.1 01 0,20% Ataques isquêmicos cerebrais<br />
transitórios e síndromes relacionadas<br />
G 45 01 0,20%<br />
Transtorno afetivo bipolar, episódio F 31.1 01 0,20% Isquemia cerebral transitória não<br />
atual maníaco com sintomas<br />
psicóticos<br />
especificada<br />
G 45.9 01 0,20%<br />
Transtorno afetivo bipolar, não F 31.9 02 % Endometriose do peritônio pélvico N 80.3 01 0,20%<br />
F 45.0<br />
F 45.4<br />
07<br />
01<br />
1,41%<br />
0,20%<br />
34
especificado<br />
Episódio depressivo leve F 32.0 07 1,41%<br />
Episódio depressivo moderado<br />
Episódio depressivo grave, sem<br />
F 32.1<br />
F 32.2<br />
01<br />
02<br />
0,20%<br />
0,40% CLASSIFICAÇÃO INEXISTENTE -- 23 4,63%<br />
sintomas psicóticos<br />
NA CID-10<br />
Episódio depressivo, não especificado F 32.9 07 1,41%<br />
Transtorno depressivo recorrente,<br />
episódio atual leve<br />
F 33.0 01 0,20% F 07.6 01<br />
Distimia F 34.1 03 0,60% F 25.5 01<br />
F 39.0, 01<br />
F 26.5 01<br />
Transtorno do humor (afetivo) não F 39.2 e 01 0,80%<br />
especificado<br />
F 39.9<br />
em F 39<br />
02<br />
Agorafobia F 40.0 07 1,41% F 32.5 02<br />
Fobias sociais F 40.1 04 0,80% F 35.5 02<br />
Transtorno fóbico-ansioso, não<br />
especificado<br />
F 40.9 21 4,22% F 40.5 03<br />
Transtorno de pânico (ansiedade<br />
paroxística episódica)<br />
F 41.0 02 0,40% F 43.5 01<br />
Transtorno de ansiedade, não<br />
especificado<br />
F 41.9 08 1,61% F 45.5 01<br />
TOC predominantemente<br />
pensamentos obsessivos ou<br />
ruminantes<br />
F 42.0 01 0,20% F 47.9 01<br />
TOC pensamentos e atos obsessivos<br />
mistos<br />
F 42.2 01 0,20% F 48.2 01<br />
TOC, não especificado F 42.9 04 0,80% F 48.5 06<br />
Reação aguda a estresse F 43.0 02 0,40% F 58.2 01<br />
Reação a estresse grave, não<br />
especifcada<br />
F 43.9 04 0,80% F 58.5 01<br />
Amnésia dissociativa F 44.0 01 0,20% F 90.2 01<br />
Fuga dissociativa F 44.1 01 0,20%<br />
Convulsões dissocativas F 44.5 03 0,60%<br />
Transtorno dissociativo (ou<br />
conversivo) não especificado<br />
F 44.7 01 0,20% sem HD -- 25 5,03%<br />
Tabela 3: Tabulação das hipóteses diagnósticas obtidas com a análise dos prontuários do Centro de<br />
Saúde II - Caconde.<br />
Já os dados dos 66 prontuários dos usuários CAPS – São Carlos foram<br />
analisados segundo o tipo de acompanhamento recebido, sexo, idade, endereço<br />
atual, escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, antecedentes familiares,<br />
medicação em uso, hipótese diagnóstica, média de medicação por paciente, outras<br />
doenças associadas, número de internações psiquiátricas, se é aposentado ou não,<br />
se recebe ou recebeu atendimento psicoterapêutico, se recebe ou não<br />
acompanhamento psiquiátrico, se participa de oficinas e qual o tipo, além do último<br />
encaminhamento recebido, como pode ser visto nas tabelas 4 e 5, abaixo.<br />
35
Acompanhamento 66 Qtde. Porcent Qtde. Porcent Média med/pacien Qtde. Porcent<br />
Intensivo 31 47% Operador de máquina 1 1,5% 01 01 1,5%<br />
Semi-Intensivo 20 30% Pedreiro 2 3,0% 02 20 30,3%<br />
Saiu do CAPS 15 23% Secretária 1 1,5% 03 16 24,2%<br />
Sexo Técnico 2 3,0% 04 16 24,2%<br />
Feminino 27 41% Sem dados 52 78,0% 05 04 6,0%<br />
Masculino 39 59% Data de Admissão Sem dados 09 13,6%<br />
Idade 1º sem. 2002 47 71,2% Outras doenças<br />
0-10 -- -- 2º sem 2002 08 12,1% Prontuários c/ dados 12 18,20%<br />
11-20 02 3% 1º sem. 2003 09 13,6% Alergia 02 12,50%<br />
21-30 19 29% 2º sem. 2003 01 1,5% Anemia 01 6,25%<br />
31-40 18 27% Sem dados 01 1,5% Bronq./Rinite/Sinusite 03 18,75%<br />
41-50 19 29% Anteced. famil. Gastrite 03 18,75%<br />
51-60 04 6% Pai 2 3,0% Hipertenção Arterial 06 37,50%<br />
61-70 02 3% Mãe -- -- Tendinite 01 6,25%<br />
71 ou mais -- -- Irmão(ã) 3 4,5% Nenhuma/ sem dados 54 81,80%<br />
Sem dados 02 3% Avô/avó 1 1,5% Média doença/pac. 1,33 --<br />
Endereço atual Tio/tia -- -- Intern. psiq.<br />
Antenor Garcia 1 1,5% Primo/prima -- -- Várias (s/ especific.) 05 7,6%<br />
Arnon de Melo 1 1,5% Sem dados 60 90,9% 01 08 12,1%<br />
Bela Vista 4 6,0% 02 02 3,0%<br />
Centro 5 7,5% 03 01 1,5%<br />
Cidade Aracy 5 7,5% Medicação em uso 04 02 3,0%<br />
Jd Bandeirantes 2 3,0% Akineton 03 1,67% 05 02 3,0%<br />
Jd Botafogo 1 1,5% Alprazolan 01 ,55% 06 01 1,5%<br />
Jd Cruzeiro do Sul 1 1,5% Amitriptilina 04 2,23% 08 01 1,5%<br />
Jd Itamaraty 1 1,5% Amplictil 03 1,67% 13 01 1,5%<br />
Jd Jacobucci 1 1,5% Biperideno 04 2,23% 15 01 1,5%<br />
Jd Monte Carlo 2 3,0% Carbamazepina 06 3,35% 24 01 1,5%<br />
Jd São João Batista 2 3,0% Carbolitium 04 2,23% Sem dados 41 62,1%<br />
Jd Tangará 3 4,5% Clomipramina 01 0,55% Aposentadoria<br />
Jockey Clube 2 3,0% Clonazepan 01 0,55% Sim 12 18,2%<br />
Mª Estela Fagá 2 3,0% Clorpromazina 08 4,46% Sem dados 54 81,8%<br />
Pacaembu 2 3,0% Clozapina 02 1,11% Atend. Terapêuticos<br />
Pq dos Tamborins 1 1,5% Depakene 02 1,11% Psicoterapia indiv. 02 3,0%<br />
Romeu Tortorelli 1 1,5% Diazepan 25 13,96% T.O. individual 01 1,5%<br />
Sta Felícia 2 3,0% Fenergan 04 2,23% T.O. em grupo 14 21,2%<br />
Sta Paula 1 1,5% Fenobarbital 03 1,67% Já recebeu psicot. 03 4,5%<br />
Tijuco Preto 1 1,5% Fenitoína 02 1,11% Já T.O. 03 4,5%<br />
Vila Alpes 1 1,5% Fluoxetina 14 7,82% Já participou oficina 04 6,0%<br />
Vila Carmem 1 1,5% Gardenal 01 0,55% Oficina<br />
Vila Conceição 1 1,5% Haldol 19 10,61% Sim 47 71,2%<br />
Vila Elizabeth 2 3,0% Haloperidol 08 4,46% Não 19 28,8%<br />
Vila Marcelino 1 1,5% Hidental 01 0,55% Tipos (126 no Total)<br />
Vila Nery 6 9,1% Imipramina 04 2,23% Bijuteria 01 0,8%<br />
Vila Prado 7 10,0% Melleril 03 1,67% Biscuit 01 0,8%<br />
Vila São José 2 3,0% Neozine 07 3,91% Bordado 04 3,2%<br />
Sem dados 4 6,0% Pamergan 01 0,55% Cestaria 05 4,0%<br />
Prometazina 11 6,14% Coral 08 6,3%<br />
Escolaridade Risperidona 11 6,14% Dança 06 4,8%<br />
Fund. incompleto 03 4,5% Rivotril 06 3,35% Expressão corporal 25 19,8%<br />
Fund. completo 07 10,6% Sertralina 01 0,55% Improvisação cênica 15 11,9%<br />
Médio incompleto 08 12,1% Stelazina 01 0,55% Jornal 11 8,7%<br />
Médio completo 10 15,1% Tegretol 03 1,67% Literatura 24 19,0%<br />
Superior incompleto -- -- Tetnoid 01 0,55% Mosaico 01 0,8%<br />
Superior completo 01 1,5% Tofranil 01 0,55% Pintura 24 19,0%<br />
Sem dados 37 56% Tryptanol 01 0,55% Tai-chi 01 0,8%<br />
Umbanil 01 0,55% Acomp. Psiq. Não -- --<br />
Profissão Valproato 01 0,55% Sim 66 100%<br />
Ajudante geral 1 1,5% Zyprexa 01 0,55% Último encaminham.<br />
Auxiliar de prod. 1 1,5% Psiquiatra 34 51,5%<br />
Balconista 2 3,0% Sem dados 09 5,02% Só Medicação 02 3,0%<br />
Funcionário Público 1 1,5% Oficina 12 18,2%<br />
Guarda 1 1,5% (TOTAL) (179) (100%) T.O. 05 7,5%<br />
Jardineiro 1 1,5% Enfermagem 12 18,2%<br />
Manicure 1 1,5% Média medicação/pac. 2,71 -- Neurologista 01 1,5%<br />
Tabela 4: Tabulação dos dados obtidos com a análise dos prontuários do CAPS – São Carlos.<br />
36
HD CID Qtde Porcent.<br />
Alucinose orgánica F 06.0 01 1,12%<br />
Transtorno orgânico de personalidade F 07.0 01 1,12%<br />
Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de álcool F 10.0 02 2,25%<br />
Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de álcool, atualmente<br />
abstinente<br />
F 10.2 03 3,37%<br />
Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de solventes voláteis F 18.0 01 1,12%<br />
Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de múltiplas drogas e F 19.0 02 2,25%<br />
de uso de outras substâncias psicoativas<br />
Esquizofrenia paranóide F 20.0 23 25,84%<br />
Esquizofrenia catatônica F 20.2 01 1,12%<br />
Esquizofrenia indiferenciada F 20.3 01 1,12%<br />
Esquizofrenia residual F 20.5 01 1,12%<br />
Esquizofrenia simples F 20.6 01 1,12%<br />
Transtorno esquizotípico F 21.0 01 1,12%<br />
Transtorno delirante F 22.0 01 1,12%<br />
Transtorno psicótico polimórfico agudo sem sintomas de esquizofrenia F 23.0 01 1,12%<br />
Transtorno psicótico esquizofreniforme agudo F 23.2 01 1,12%<br />
Transtorno esquizoafetivo, tipo maníaco F 25.0 01 1,12%<br />
Psicose não orgânica, não especificada F 29.0 02 2,25%<br />
Transtorno bipolar, episódio atual hipomaníaco F 31.0 02 2,25%<br />
Transtorno bipolar, episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos F 31.1 01 1,12%<br />
Transtorno bipolar, episódio atual depressivo F 31.2 03 3,37%<br />
Transt. bipolar, episódio atual depressivo grave com sintomas psicóticos F 31.5 01 1,12%<br />
Transtorno bipolar, episódio atual misto F 31.7 03 3,37%<br />
Episódio depressivo leve F 32.0 03 3,37%<br />
Episódio depressivo moderado F 32.1 02 2,25%<br />
Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos F 32.2 02 2,25%<br />
Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos F 32.3 03 3,37%<br />
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve F 33.0 03 3,37%<br />
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos F 33.2 02 2,25%<br />
Transtorno depressivo recorrente, não especificado F 33.9 01 1,12%<br />
Ciclotimia F 34.0 01 1,12%<br />
Agorafobia F 40.0 01 1,12%<br />
TOC predominantemente atos compulsivos (rituais obsessivos) F 42.1 01 1,12%<br />
Neurastenia F 48.0 01 1,12%<br />
Transtorno de personalidade paranóica F 60.0 01 1,12%<br />
Transtorno de personalidade emocionalmente instável F 60.3 02 2,25%<br />
Retardo mental leve F 70.0 01 1,12%<br />
Retardo mental moderado com comprometimento significativo de<br />
comportamento requerendo atenção ou tratamento<br />
F 71.1 01 1,12%<br />
Retardo mental grave F 72.0 01 1,12%<br />
Epilepsia G 40.0 02 2,25%<br />
sem HD -- 07 7,86%<br />
Tabela 5: Tabulação hipóteses diagnósticas obtidas com a análise dos prontuários do CAPS – São<br />
Carlos.<br />
37
Após agrupar os dados em tabelas, como demonstrado acima, os mesmos<br />
foram analisados através de uma comparação entre os gráficos, item a item, para<br />
ambos os serviços: Centro de Saúde II - Caconde e CAPS – São Carlos.<br />
Com relação à data de admissão no serviço, pode-se notar que no Centro de<br />
Saúde II – Caconde houve um pico entre os anos de 1981 e 1990 (49,82%) e no<br />
CAPS – São Carlos a taxa de admissão foi alta logo no início (71,2%), decaindo<br />
continuamente até os dias de hoje. Isso pode ser observado nas figuras 1 e 2,<br />
abaixo.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
71-80 81-90 91-<br />
2000<br />
2001 2002 2003 Sem<br />
dados<br />
Data de admissão no serviço<br />
Figura 1: Data de admissão dos usuários no Centro de Saúde II - Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
1º sem.<br />
2002<br />
2º sem<br />
2002<br />
1º sem.<br />
2003<br />
2º sem.<br />
2003<br />
Data de admissão no serviço<br />
Figura 1: Data de admissão dos usuários no CAPS – São Carlos.<br />
Sem<br />
dados<br />
38
Como era de se esperar, foi constatado que o Centro de Saúde II – Caconde<br />
oferece exclusivamente um acompanhamento ambulatorial (100%), enquanto o<br />
CAPS – São Carlos oferece acompanhamento intensivo (47%), semi-intensivo (30%)<br />
e já proporcionou até algumas altas aos usuários (23%), como mostra as figuras 3 e<br />
4, abaixo.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
ambulatorial outros<br />
Acompanhamento<br />
Figura 3: Tipos de encaminhamentos recebidos pelos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Intensivo Semi-Intensivo Recebeu alta<br />
Acompanhamento<br />
Figura 4: Tipos de encaminhamentos recebidos pelos usuários do CAPS – São Carlos.<br />
39
A distribuição dos sexos entre a população usuária de ambos os serviços de<br />
Saúde mental não apresentou-se muito discrepante. No Centro de Saúde II –<br />
Caconde, a quantidade de usuários do sexo feminino (56,44%) foi um pouco maior<br />
que os do sexo masculino (43,55%). Já no CAPS – São Carlos foi verificado o<br />
contrário; o número de usuários do sexo feminino (41%) foi um pouco menor que o<br />
de usuários do sexo masculino (59%), como demonstrado nas figuras 5 e 6, abaixo.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Feminino Masculino<br />
Sexos<br />
Figura 5: Distribuição dos sexos dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Feminino Masculino<br />
Sexos<br />
Figura 6: Distribuição dos sexos dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />
40
No Centro de Saúde II – Caconde, os usuários dos serviços de Saúde Mental<br />
encontram-se predominantemente na faixa etária que vai dos 21 aos 60 anos<br />
(77,35%), enquanto que no CAPS – São Carlos a faixa etária predominante dos<br />
usuários é de 21 à 50 anos (85%). Isso pode ser observado nas figuras 7 e 8,<br />
abaixo.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0-10 11 -- 20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71 ou<br />
mais<br />
Faixa Etária<br />
Figura 7: Distribuição da faixa etária dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0-10 11 -- 20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71 ou<br />
mais<br />
Faixa etária<br />
Figura 8: Distribuição da faixa etária dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />
Sem<br />
dados<br />
Sem<br />
dados<br />
41
Observa-se que enquanto os usuários dos serviços de Saúde Mental do<br />
Centro de Saúde II – Caconde residem tanto na zona urbana (61,99%) quanto na<br />
zona rural (25,43%), os usuários do CAPS residem exclusivamente na zona urbana<br />
(94,00%), sem contar, é claro, com os prontuários nos quais esse dado não<br />
constava, fato que teve maior incidência no Centro de Saúde II – Caconde (13,58%)<br />
que no CAPS – São Carlos (6,00%), como mostram as figuras 9 e 10, abaixo.<br />
Pocentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
zona urbana zona rural sem dados<br />
Endereço atual<br />
Figura 9: Endereço atual dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
zona urbana zona rural sem dados<br />
Endereço atual<br />
Figura 10: Endereço atual dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />
42
Devido à falta de informações nos prontuários dos usuários de ambos os<br />
serviços, os dados obtidos no que diz respeito ao nível de escolaridade não foram<br />
muito significativos, uma vez que tanto no Centro de saúde II – Caconde quanto no<br />
CAPS – São Carlos a maior parte dos prontuários não tinham esse tipo de<br />
informação (92,33% e 56,00%, respectivamente), como pode ser observado nas<br />
figuras 11 e 12, abaixo.<br />
Pocentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Não Alfab.<br />
Fund.<br />
Incompleto<br />
Fund.<br />
Completo<br />
Médio<br />
incompleto<br />
Médio<br />
completo<br />
Superior<br />
incompleto<br />
Nível de Escolaridade<br />
Superior<br />
completo<br />
Figura 11: Nível de escolaridade dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Não Alfab.<br />
Fund.<br />
incompleto<br />
Fund.<br />
completo<br />
Médio<br />
incompleto<br />
Médio<br />
completo<br />
Superior<br />
incompleto<br />
Nível de Escolaridade<br />
Figura 12: Nível de escolaridade dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />
Superior<br />
completo<br />
Sem dados<br />
Sem dados<br />
43
Como pode ser observado nas figuras 13 e 14, abaixo, os usuários do CAPS<br />
– São Carlos possuem profissões mais diversificadas que as dos usuários dos<br />
serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde, mas ambos os serviços<br />
possuem muito pouca informação desse tipo nos prontuários, uma vez que a maioria<br />
tanto do Centro de Saúde II – Caconde quanto do CAPS – São Carlos não possuem<br />
esse tipo de dado (94,42% e 78,00%, respectivamente).<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Lavrador<br />
Costureira<br />
Profissões<br />
Manicure<br />
Sem dados<br />
Figura 13: Profissões dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Ajudante geral<br />
Auxiliar de prod.<br />
Balconista<br />
Figura 14: Profissões dos usuários CAPS – São Carlos.<br />
Guarda<br />
Jardineiro<br />
Manicure<br />
Profissões<br />
Pedreiro<br />
Sem dados<br />
44
Os antecedentes familiares também não indicam dados muito significativos<br />
pelo mesmo motivo do nível de escolaridade; a falta de informação nos prontuários<br />
tanto dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde quanto dos usuários do CAPS<br />
– São Carlos foi muito grande (98,6-% e 90,90%, respectivamente), como<br />
demonstrado nas figuras 15 e 16, abaixo.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Pai Mãe Irmão(ã) Avô/avó Tio/tia Primo/prima Sem dados<br />
Antecedentes familiares<br />
Figura 15: Antecedentes familiares dos usuários Centro de Saúde II – Caconde, com problemas<br />
psiquiátricos.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Pai<br />
Tio/tia<br />
Primo/prima<br />
Antecedentes Familiares<br />
Sem dados<br />
Figura 16: Antecedentes familiares dos usuários do CAPS – São Carlos, com problemas psiquiátricos.<br />
45
Como pode ser observado nas figuras 17 e 18, abaixo, o Centro de Saúde II –<br />
Caconde possui maior número de usuários diagnosticados nas categorias F20-F29<br />
(22,33%) e F40-F48 (35,21%), enquanto o CAPS - São Carlos possui maior número<br />
de usuários diagnosticados nas categorias F20-F29 (38,20%) e F30-F39 (30,33%).<br />
O Centro de Saúde não possui nenhum usuário diagnosticado nas categorias F80-<br />
F89, enquanto o CAPS – São Carlos não possui nenhum usuários diagnosticado nas<br />
categorias F50-F59, F80-F89, F90-F98, F99, nem hipótese diagnóstica sem<br />
classificação segundo a CID-10, diferente dos dados obtidos no Centro de Saúde II<br />
– Caconde que apresentam hipóteses diagnósticas sem classificação segundo a<br />
CID-10 (4,63%).<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
F00-<br />
F09<br />
F10-<br />
F19<br />
F20-<br />
F29<br />
F30-<br />
F39<br />
F40-<br />
F48<br />
F50-<br />
F59<br />
F60-<br />
F69<br />
F70-<br />
F79<br />
F80-<br />
F89<br />
Hipóteses Diagnósticas<br />
F90-<br />
F98<br />
F99 Outros Sem<br />
class.<br />
Figura 17: Hipóteses Diagnósticas dos usuários dos serviços de Saúde Mental do centro de Saúde II<br />
– Caconde.<br />
Pocentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
F00-<br />
F09<br />
F10-<br />
F19<br />
F20-<br />
F29<br />
F30-<br />
F39<br />
F40-<br />
F48<br />
F50-<br />
F59<br />
F60-<br />
F69<br />
F70-<br />
F79<br />
F80-<br />
F89<br />
Hipóteses Diagnósticas<br />
Figura 18: Hipóteses Diagnósticas dos usuários CAPS – São Carlos.<br />
F90-<br />
F98<br />
F99 Outros Sem<br />
class.<br />
Sem<br />
HD<br />
Sem<br />
HD<br />
46
Os tipos de medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários dos<br />
serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde e do CAPS – São<br />
Carlos foram organizados previamente segundo a Tabela 1 (pp. 31) e logo depois<br />
agrupados segundo sua classificação, como está demonstrado na tabela 6, abaixo.<br />
MEDICAÇÃO – Centro de Saúde II MEDICAÇÃO – CAPS<br />
MEDICAÇÃO (485) qtde porc. MEDICAÇÃO (179) qtde porc.<br />
ANTIPSICÓTICOS ANTIPSICÓTICOS<br />
clorpromazina 34 7,01% clorpromazina 11 6,14%<br />
haloperidol 88 18,14% haloperidol 27 15,08%<br />
tioridazina 01 0,20% tioridazina 03 1,67%<br />
levomeprazina 35 7,21% levomeprazina 07 3,91%<br />
risperidona 02 0,41% risperidona 11 6,14%<br />
TOTAL 160 32,99% clozapina 02 1,11%<br />
trifluoperazina 01 0,55%<br />
olanzaprina 01 0,55%<br />
TOTAL 63 35,19%<br />
ANTI<strong>DE</strong>PRESSIVOS ANTI<strong>DE</strong>PRESSIVOS<br />
amitriptilina 53 10,92% amitriptilina 05 2,79%<br />
clomipramina 25 5,15% clomipramina 01 0,55%<br />
fluoxetina 24 4,94% fluoxetina 14 7,82%<br />
imipramina 25 5,15% imipramina 05 2,79%<br />
nortriptilina 01 0,20% sertralina 01 0,55%<br />
TOTAL 128 26,39% TOTAL 26 14,52%<br />
ANSIOLÍTICOS ANSIOLÍTICOS<br />
bromazepan 01 0,20% alprazolan 01 0,55%<br />
calman 01 0,20% diazepan 25 13,96%<br />
diazepan 34 7,01% clonazepan 07 3,91%<br />
clobazam 01 0,20% clobazam 01 0,55%<br />
lorazepan 01 0,20% TOTAL 34 18,99%<br />
clordiazepóxido 04 0,82%<br />
clonazepan 06 1,23%<br />
TOTAL 48 9,96%<br />
ESTAB. DO HUMOR ESTAB. DO HUMOR<br />
litio 03 0,61% carbamazepina 09 5,02%<br />
valproato 01 0,20% litio 04 2,23%<br />
carbamazepina 17 3,50% valproato 03 1,67%<br />
TOTAL 21 4,32% TOTAL 16 8,93%<br />
OUTROS OUTROS<br />
biperideno 36 7,42% biperideno 07 3,91%<br />
Complexo B 07 1,44% prometazina 16 8,93%<br />
digoxina 01 0,20% fenobarbital 04 2,23%<br />
prometazina 32 6,60% fenitoína 03 1,67%<br />
fenobarbital 07 1,44% levotiroxina 01 0,55%<br />
fenitoína 02 0,41% TOTAL 31 17,31%<br />
propanolol 04 0,82%<br />
ranitidina 01 0,20%<br />
TOTAL 90 18,55%<br />
-<br />
Diozenato, Fenicure, Fenilav 03 0,61%<br />
SEM DADOS 35 7,21% SEM DADOS 09 5,02%<br />
Tabela 6: Classificação dos princípios ativos dos medicamentos encontrados nos prontuários dos<br />
usuários do Centro de Saúde II – Caconde e do CAPS - São Carlos.<br />
47
A partir dessa classificação é possível notar que os usuários dos serviços de<br />
Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde utilizam mais antipsicóticos<br />
(32,99%), seguido de antidepressivos (26,39%), outros medicamentos (18,55%),<br />
ansiolíticos (9,96%) e estabilizadores do humor (4,32%). Já no CAPS – São Carlos<br />
faz-se mais uso de antipsicóticos (35,19%), seguido de ansiolíticos (18,99%), outros<br />
medicamentos (17,31%), antidepressivos (14,52%) e estabilizadores do humor<br />
(8,93%), como pode ser observado nas figuras 19 e 20, abaixo.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Antidepressivos<br />
Estabilizadores do Humor<br />
Outros<br />
Tipo de Medicação<br />
Sem class.<br />
Sem dados<br />
Figura 19: Medicações prescritas aos usuários dos serviços de Saúde mental do Centro de Saúde II –<br />
Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Antidepressivos<br />
Estabilizadores do Humor<br />
Outros<br />
Tipo de Medicação<br />
Figura 20: Medicações prescritas aos usuários do CAPS – São Carlos.<br />
Sem class.<br />
Sem dados<br />
48
Além das hipóteses diagnósticas que dizem respeito à Saúde Mental dos<br />
usuários, também foram coletados dados sobre doenças associadas. Como pode<br />
ser observado nas figuras 21 e 22, abaixo, os usuários do Centro de Saúde II –<br />
Caconde também sofrem muito de hipertensão arterial (12,54%) e gastrite/úlcera<br />
(13,58%), enquanto os usuários do CAPS – São Carlos também sofrem muito de<br />
hipertensão arterial (37,50%) e gastrite (18,75%), mas também sofrem de doenças<br />
do aparelho respiratório como bronquite, rinite e sinusite (18,75%).<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Artrite/Artrose<br />
Anemia<br />
Bronq./Rinite/Sinusite<br />
Burcite<br />
Cardiopatia<br />
Diabete<br />
Labirintite<br />
Obesidade<br />
Osteoporose<br />
Outras doenças associadas<br />
Tuberculose<br />
Nenhuma/Sem dados<br />
Figura 21: Outras doenças associadas às doenças mentais dos usuários do Centro de Saúde II -<br />
Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Alergia<br />
Anemia<br />
Bronq./Rinite/Sinusite<br />
Gastrite<br />
Outras doenças associadas<br />
Tendinite<br />
Nenhuma/ sem dados<br />
Figura 22: Outras doenças associadas às doenças mentais dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />
49
Com relação ao número de internações psiquiátricas, há muito mais registro<br />
de internação de usuários do CAPS – São Carlos, tanto em número de vezes por<br />
paciente, pois há caso de paciente que chegou a ser internado 24 vezes, quanto<br />
com relação ao total de usuários uma vez que 37,70% dos usuários já foram<br />
internados pelo menos 1 vez. Enquanto que no Centro de Saúde II – Caconde os<br />
dados encontrados nos prontuários apontam que o número de internações não é tão<br />
grande nem em número de vezes por paciente, pois chegou a 12 vezes, nem para o<br />
número total de usuários, uma vez que 19,51% dos usuários já foram internados<br />
pelo menos 1 vez, sendo que dessas, 3,48% foram realizadas em 2003 (no período<br />
de janeiro à julho).<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 09 ou<br />
mais<br />
Internações Psiquiátricas<br />
Total Sem<br />
dados<br />
Figura 23: Internações Psiquiátricas dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde<br />
II - Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Em<br />
2003<br />
Várias 1 2 3 4 5 6 8 13 15 24 Total Sem<br />
dados<br />
Internações Psiquiátricas<br />
Figura 24: Internações Psiquiátricas dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />
50
Também pôde ser verificado que a maioria dos usuários de ambos os<br />
serviços não recebem aposentadoria, ou pelo menos não há registro nos<br />
prontuários, sendo que os registros encontrados foram em quantidades muito<br />
pequenas tanto para o Centro de Saúde II – Caconde (5,92%) quanto para o CAPS<br />
– São Carlos (18,2%), sendo maior neste que naquele. As figuras 25 e 26, abaixo,<br />
ilustram essa situação.<br />
Pocentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Sim Sem dados<br />
Recebe Aposentadoria<br />
Figura 25: Usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II - Caconde que recebem<br />
aposentadoria ou não.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Sim Sem dados<br />
Recebe Aposentadoria<br />
Figura 26: Usuários do CAPS – São Carlos que recebem aposentadoria ou não.<br />
51
No que diz respeito aos atendimentos terapêuticos recebidos pode-se<br />
observar que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II –<br />
Caconde só dispõem do serviço de psicoterapia individual, 1 vez por semana,<br />
podendo ser divididos em quem está recebendo psicoterapia, independente de já ter<br />
recebido antes ou não (14,63%) e quem já recebeu por algum período (8,36%). Os<br />
prontuários que não apresentavam qualquer dado dessa espécie (77,01%) foram<br />
considerados como se os usuários não recebessem nenhum tipo de atendimento<br />
terapêutico.<br />
Já o CAPS – São Carlos oferece para seus usuários não só o serviço de<br />
psicoterapia individual, como também terapia ocupacional individual, terapia<br />
ocupacional em grupo e oficinas. Pode ser observado que o atendimento de maior<br />
coro é o de terapia ocupacional em grupo (21,20%), seguido de psicoterapia<br />
individual (3,00%) e depois por terapia ocupacional em grupo (1,50%). Ainda pode-<br />
se agrupar os usuários em grupos de quem no momento não está recebendo<br />
nenhum tipo de atendimento, mas algum dia já recebeu por algum período na<br />
instituição psicoterapia (4,50%), terapia ocupacional (4,50%) ou já participou de<br />
alguma oficina terapêutica (6,00%).<br />
Essa situação pode ser melhor observada nas figuras 27 e 28, abaixo.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Recebe psicoterapia Já recebeu<br />
psicoterapia<br />
Atendimentos Terapêuticos<br />
Sem dados<br />
Figura 27: Usuários dos serviços de Saúde Mental que recebem atendimento terapêutico no Centro de Saúde II - Caconde.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Psicoterapia<br />
indiv.<br />
T.O.<br />
individual<br />
T.O. em<br />
grupo<br />
Já recebeu<br />
psicot.<br />
Atendimentos Terapêuticos<br />
Figura 28: Usuários que recebem atendimento terapêutico no CAPS – São Carlos.<br />
Já T.O. Já participou<br />
oficina<br />
52
No que diz respeito à participação em oficinas foi constatado no Centro de<br />
Saúde II – Caconde que nenhum usuário recebe esse tipo de terapia, enquanto que<br />
no CAPS – São Carlos a maioria dos usuários participam de algum tipo de oficina<br />
terapêutica (71,20%), como pode ser notado nas figuras 29 e 30, abaixo.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
sim não<br />
Participação em Oficinas<br />
Figura 29: Usuários do Centro de Saúde II - Caconde que participam de Oficinas Terapêuticas.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Sim Não<br />
Participação em Oficinas<br />
Figura 30: Usuários do CAPS – São Carlos que participam de Oficinas Terapêuticas.<br />
53
Com relação aos tipos de oficinas oferecidas aos usuários dos CAPS – São<br />
Carlos, segundo a figura 31 abaixo, estas são muito variadas, mas a mais<br />
freqüentada é a oficina de Expressão Corporal (19,80%), seguida pela de Pintura e<br />
Literatura (19,00% cada), Improvisação Cênica (11,90%), Jornal (8,70%), Coral<br />
(6,30%), Dança (4,80%), Cestaria (4,00%), Bordado (3,20%), Bijuteria, Biscuit,<br />
Mosaico e Tai-chi (0,80% cada).<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Bijuteria<br />
Biscuit<br />
Bordado<br />
Cestaria<br />
Coral<br />
Jornal<br />
Tipos de Oficinas<br />
Literatura<br />
Mosaico<br />
Figura 31: Tipos de Oficinas das quais participam os usuários do CAPS – São Carlos.<br />
Por último, foram coletados dados que dissessem respeito ao último<br />
encaminhamento recebido nas instituições. Os dados obtidos demonstram que em<br />
ambos os serviços a maior parte dos usuários consultaram o psiquiatra, sendo que<br />
no Centro e Saúde II – Caconde à consulta com médico psiquiatra (31,35%) segue-<br />
se de fornecimento de medicação (31,70%), consulta com o clínico geral (18,11%),<br />
terapia com o psicólogo (8,01%), atendimento pelo pessoal da enfermagem (3,48%),<br />
consulta com médico ginecologista (3,11%), consulta com médico cardiologista<br />
(1,39%), consulta com médico otorrinolaringologista (1,39%), consulta com médico<br />
ortopedista (1,04%) e por último, consulta com médico neurologista.<br />
Já no CAPS – São Carlos, pôde ser observada que a variação dos<br />
encaminhamentos foi menor, sendo eles consulta com médico psiquiatra (51,50%),<br />
atendimento pelo pessoal da enfermagem e participação de oficinas terapêuticas<br />
Pintura<br />
Tai-chi<br />
54
(18,20% cada), atendimento de terapeuta ocupacional (7,50%), fornecimento de<br />
medicação (3,00%) e por último, consulta com médico neurologista.<br />
Esses dados estão ilustrados nas figuras 32 e 33, abaixo.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Psiquiatra<br />
Cardiologista<br />
Ginecologista<br />
Neurologista<br />
Ortopedista<br />
Otorrino<br />
Último encaminhamento recebido<br />
Enfermagem<br />
Figura 32: Último encaminhamento recebido pelos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro<br />
de Saúde II – São Carlos.<br />
Porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Psiquiatra<br />
Oficina<br />
T.O.<br />
Enfermagem<br />
Último encaminhamento recebido<br />
Figura 33: Último encaminhamento recebido pelos usuários do CAPS –São Carlos.<br />
Neurologista<br />
55
Os itens da Base para análise dos prontuários que diziam respeito à local de<br />
nascimento (cidade, estado e país) e queixa de entrada não puderam ser analisados<br />
uma vez que os prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos não dispunham<br />
desses dados e os prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do<br />
Centro de Saúde II - Caconde dispunham o local de nascimento em pouca<br />
quantidade (20,55%, sendo 13,94% nascidos em Caconde; 1,39% em outras<br />
cidades do estado de São Paulo; 4,18% em cidades do estado de Minas Gerais e<br />
1,04 em cidades do estado do Paraná) e os dados referentes à queixa de entrada<br />
eram os mais diversos possíveis, uma vez que a instituição oferece uma gama muito<br />
variada de atendimento à população, sendo inviável a classificação dos mesmos.<br />
56
VI. DISCUS<strong>SÃO</strong><br />
A maior disponibilidade de recursos, não só no que diz respeito ao interesse<br />
pela pesquisa, disponibilização dos prontuários, mas também de uma sala para<br />
consulta dos mesmos, oferecida pelo Centro de Saúde II – Caconde, facilitou o<br />
desenvolvimento do estudo, em detrimento do CAPS – São Carlos, no qual o<br />
aparente desinteresse pela pesquisa em si, considerando o estudo somente como<br />
uma fonte de dados levantados por uma pessoa que substituiria o trabalho que<br />
poderia ser realizado por qualquer funcionário interno, a indiferença de alguns<br />
funcionários da instituição, a dificuldade na retirada dos prontuários e a não<br />
disponibilização de uma sala ou de algum lugar onde a pesquisadora tivesse<br />
melhores condições para a coleta dos dados dificultou e atrasou o desenvolvimento<br />
do presente estudo.<br />
No que diz respeito aos resultados obtidos, o que pôde ser observado<br />
inicialmente foi a enorme diferença entre a quantidade de prontuários analisados no<br />
Centro de Saúde II – Caconde (287) e os do CAPS – São Carlos (66), ou seja, a<br />
quantidade de usuários de cada instituição, fato esse já esperado devido ao tipo de<br />
atendimento oferecido por cada uma delas.<br />
Com relação à data de admissão, foi constatado que no Centro de Saúde II –<br />
Caconde houve um pico entre os anos de 1981 e 1990, podendo ser explicado pelo<br />
fato do atendimento público à saúde ter deixado de ser oferecido apenas às<br />
crianças, passando à população em geral, mesmo que exclusivamente ambulatorial.<br />
No CAPS – São Carlos, a maior taxa de admissão encontra-se no 1º semestre do<br />
ano de 2002, época esta em que a instituição foi inaugurada (março/2003). Isso<br />
demonstra que a rotatividade de usuários não tem sido muito alta (23% dos usuários<br />
deste serviço receberam alta), ou seja, eles têm permanecido durante um período<br />
longo de tempo na instituição, ainda mais se considerarmos que a maioria dos<br />
usuários são acompanhados de maneira intensiva (47%) e não semi intensiva (30%).<br />
A distribuição dos sexos dos usuários foi homogênea, não havendo muita<br />
discrepância, a não ser no fato de que enquanto no Centro de Saúde II – Caconde a<br />
maioria é feminino (56,44%), no CAPS a maioria é masculino (59%). O mesmo<br />
aconteceu com relação à faixa etária dos usuários, uma vez que no Centro de Saúde<br />
II – Caconde a maioria se encontrava entre 21 e 60 anos (77,35%) e no CAPS entre<br />
21 e 50 anos (85%).<br />
57
No que diz respeito ao local onde os usuários residem, observou-se que nos<br />
serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde os usuários residiam<br />
tanto na zona urbana quanto na zona rural, enquanto que os do CAPS residiam<br />
somente na zona urbana. Provavelmente, entre esses últimos, existam indivíduos<br />
oriundos da zona rural, que se mudaram para cidade devido às condições adversas<br />
do trabalho no campo. Mas, infelizmente, tal hipótese não poderá ser comprovada,<br />
pois, em ambos os serviços, os dados referentes ao local de nascimento, ou em<br />
caso de mudança, da proveniência do usuário, bem como em relação à<br />
escolaridade, antecedentes familiares e queixa de entrada são precários, o que<br />
impossibilita a realização de um levantamento confiável.<br />
Com relação às hipóteses diagnósticas, estas foram as mais diversas<br />
possíveis e até um pouco surpreendentes, na medida em que muitos dos prontuários<br />
continham mais de uma indicação de hipótese diagnóstica, sendo que estas podiam<br />
mudar a cada consulta. Pôde ser observado que entre os usuários do Centro de<br />
Saúde II - Caconde constavam em seus prontuários, em média 1,69 hipóteses<br />
diagnósticas por usuário, sendo observados diagnósticos que não constam da CID-<br />
10. A maioria dos casos se enquadra entre F40 e F48 (35,21%) e entre F20 e F29<br />
(22,33%). Já no CAPS – São Carlos foram encontrados prontuários com uma média<br />
de 2,71 hipóteses diagnósticas por usuário, sendo que a maioria dos casos se<br />
encontra entre F20 e F29 (38,20%) e entre F30 e F39 (30,33%). Isso indica que o<br />
Centro de Saúde II – Caconde atende mais casos de transtornos neuróticos<br />
relacionados ao estresse e somatoformes, além de casos de esquizofrenia,<br />
transtorno esquizotípico e delirante, enquanto o CAPS – São Carlos atende mais<br />
casos de esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante e também casos de<br />
transtornos do humor (afetivos), fato este que influencia diretamente a prescrição da<br />
medicação.<br />
O Centro de Saúde não possui nenhum usuário diagnosticado entre as<br />
categorias F80-F89, enquanto o CAPS – São Carlos não possui nenhum usuário<br />
diagnosticado entre as categorias F50-F59, F80-F89, F90-F98, F99, nem hipótese<br />
diagnóstica que não obedeça aos critérios da classificatórios da CID-10.<br />
A diferença entre o número médio de hipóteses diagnósticas por usuário pode<br />
indicar tanto uma falta de precisão no levantamento dessas hipóteses diagnósticas<br />
quanto a real existência de mais de um tipo de doença.<br />
Observou-se que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de<br />
Saúde II – Caconde utilizam, em maior porcentagem, antipsicóticos (32,99%),<br />
58
seguido de antidepressivos (26,39%), outros medicamentos (18,55%), ansiolíticos<br />
(9,96%) e estabilizadores do humor (4,32%). No CAPS – São Carlos a maior<br />
porcentagem de medicamentos utilizados também recai sobre os antipsicóticos<br />
(35,19%), seguidos pelos ansiolíticos (18,99%), outros medicamentos (17,31%),<br />
antidepressivos (14,52%) e, por último, estabilizadores do humor (8,93%).<br />
Sabe-se que os antipsicóticos são a primeira escolha no tratamento da<br />
esquizofrenia e outras psicoses, que os antidepressivos são medicamentos cuja<br />
função primordial é o tratamento da depressão (também utilizados para tratar<br />
transtorno bipolar, traumas do sistema nervoso central, demências, transtorno de<br />
ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares,<br />
síndromes de dor crônica, enurese e encoprese), que os ansiolíticos são indicados<br />
no tratamento da ansiedade, e que os estabilizadores do humor são utilizados na<br />
prevenção e tratamento dos transtornos do humor e esquizoafetivos.<br />
O fato dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde receberem mais<br />
prescrições de medicamentos classificados como antipsicóticos e antidepressivos<br />
encontra-se intimamente relacionado ao índice de hipóteses diagnósticas<br />
levantadas, uma vez que os antipsicóticos tratam a esquizofrenia e outras psicoses,<br />
enquanto os antidepressivos são medicamentos cuja função primordial é o<br />
tratamento da depressão, sendo também indicados para o tratamento de TOC<br />
(Transtorno Obsessivo Compulsivo), um tipo de transtorno neurótico, enquanto que<br />
para os transtornos fóbico-ansiosos o mais indicado são os ansiolíticos. No CAPS –<br />
São Carlos também se faz mais prescrição de antipsicóticos, mesmo porque o maior<br />
índice de hipóteses diagnósticas é de esquizofrenia, seguido de transtornos do<br />
humor.<br />
Foi encontrada uma média de 1,68 medicamentos utilizados por usuário no<br />
Centro de Saúde II – Caconde, enquanto que no CAPS – São Carlos essa média foi<br />
de 2,71 medicamentos por usuário, o que pode ser um indício de que mesmo<br />
oferecendo somente um serviço ambulatorial, o Centro de Saúde II – Caconde se<br />
preocupa com uma possível superdosagem medicamentosa proporcionada aos seus<br />
usuários além de provavelmente conseguir uma maior controle dos sintomas destes<br />
com uma menor quantidade de drogas, algo controverso se pensarmos que essa<br />
deveria ser uma das maiores preocupações do CAPS – São Carlos, e nem tanto da<br />
outra instituição.<br />
Além das hipóteses diagnósticas que dizem respeito à Saúde Mental dos<br />
usuários, também foram coletados dados sobre doenças associadas, podendo ser<br />
59
observado que tanto os usuários do Centro de Saúde II – Caconde, quanto os do<br />
CAPS – São Carlos sofrem de hipertensão arterial (12,54%; 37,50%<br />
respectivamente) e gastrite/úlcera (13,58%; 18,75% respectivamente), mas os<br />
usuários do CAPS – São Carlos também sofrem de doenças do aparelho respiratório<br />
como bronquite, rinite e sinusite (18,75%). Não há registro de outras doenças<br />
concomitantes à doença mental em 58,18% dos prontuários dos usuários dos<br />
Serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde, e em 81,80% dos<br />
prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos, fato este que deve ser ressaltado.<br />
E, relação ao número de internações psiquiátricas, há muito mais registro de<br />
internação de usuários do CAPS – São Carlos, tanto em número de vezes por<br />
paciente, pois há caso de paciente que chegou a ser internado 24 vezes, quanto<br />
com relação ao total de usuários, uma vez que 37,70% dos usuários já foram<br />
internados pelo menos 1 vez; enquanto que no Centro de Saúde II – Caconde os<br />
dados encontrados nos prontuários apontam que o número de internações não é tão<br />
grande, nem em número de vezes por paciente (o máximo de internações por<br />
paciente chegou a 12), nem para o número total de usuários, uma vez que 19,51%<br />
dos usuários já foram internados pelo menos 1 vez, sendo que dessas internações<br />
psiquiátricas, 3,48% foram realizadas em 2003 (no período de janeiro à julho).<br />
Para o CAPS – São Carlos não foi possível fazer um levantamento das<br />
internações ocorridas em 2003 devido à falta de dados, já que nessa instituição não<br />
foram encontradas, nos prontuários, as guias de contra-referência, documento este<br />
enviado pelo Hospital Psiquiátrico indicando data de internação, data de saída,<br />
sintomas apresentados, hipóteses diagnóstica, medicamentos utilizados para o<br />
tratamento e indicações de como esse tratamento deve ser continuado.<br />
No Centro de Saúde II – Caconde todas as guias de contra-referência se<br />
encontravam junto aos prontuários, facilitando o trabalho de coleta de dados.<br />
Uma justificativa para o alto índice de internações pode estar relacionada às<br />
hipóteses diagnósticas dos usuários de ambos os serviços, uma vez que indivíduos<br />
esquizofrênicos e com transtornos de humor podem apresentar mais crises de<br />
instabilidade psíquica e emocional do que os neuróticos. Mas, mesmo assim, os<br />
dados referentes às internações ocorridas entre os usuários do CAPS – São Carlos,<br />
que possuem mais diagnósticos de esquizofrenia e de transtornos de humor, foram<br />
considerados muito altos se comparados com os dados referentes às internações<br />
ocorridas entre os usuários do Centro de Saúde II – Caconde, que apresentam mais<br />
casos de transtornos neuróticos e esquizofrenia.<br />
60
Não só o alto índice de internações, assim como uma maior média de<br />
medicação por usuário, dados estes encontrados nos prontuários dos usuários do<br />
CAPS – São Carlos, constituem fatos bem estranhos se considerarmos que os<br />
principais objetivos de uma instituição como o CAPS – São Carlos são a orientação<br />
de usuários, acompanhantes e familiares, visando, basicamente o resgate da<br />
cidadania e a reabilitação psicossocial; diminuição do uso prolongado e contínuo de<br />
medicamentos com [sem?] acompanhamento adequado; criação de recursos para<br />
serviços alternativos à hospitalização, além de uma reorganização dos serviços de<br />
Saúde Mental promovendo mudanças que realmente levem à reabilitação do<br />
usuário, é estranho ter dados que mostrem que o que vêm acontecendo nos remete<br />
a uma realidade bem diferente da inicialmente proposta para a criação do CAPS -<br />
São Carlos.<br />
Também pôde ser verificado que a maioria dos usuários de ambos os serviços<br />
não recebem aposentadoria, ou pelo menos não há registro nos prontuários, sendo<br />
que os registros encontrados representam uma parcela mínima de usuários, tanto do<br />
Centro de Saúde II – Caconde (5,92%) quanto do CAPS – São Carlos (18,2%). Esse<br />
é um dado importante, uma vez que a maioria dos usuários apresenta condições<br />
precárias de vida, não só econômica, como também social, demonstrando a pouca<br />
ou não interferência das instituições na tomada de providências que mudem esse<br />
quadro e apontando ainda mais a necessidade urgente de inserção/reinserção<br />
desses usuários na comunidade, principalmente no que diz respeito ao CAPS – São<br />
Carlos, por ser um dos seus objetivos.<br />
No que diz respeito aos atendimentos terapêuticos recebidos pode-se<br />
observar que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II –<br />
Caconde só dispõem do serviço de psicoterapia individual, 1 vez por semana; sendo<br />
que o CAPS – São Carlos oferece para seus usuários não só o serviço de<br />
psicoterapia individual, como também o de terapia ocupacional individual, terapia<br />
ocupacional em grupo e oficinas, ou seja, uma gama bem maior de possibilidades de<br />
terapias alternativas à internação psiquiátrica. A freqüência de atendimentos<br />
terapêuticos oferece um dado interessante se for observado que a porcentagem de<br />
indivíduos que recebem atendimento psicológico no Centro de Saúde II – Caconde<br />
(14,63%) é bem maior que no CAPS – São Carlos (3,00%), mesmo tendo este<br />
condições mais favorecedores para propiciar tal serviço, pois possui um quadro de<br />
estagiários de psicologia da <strong>UFSCar</strong> e um número menor de usuários.<br />
61
Uma vez que o Centro de Saúde II – Caconde não oferece oficinas como<br />
recurso terapêutico, só puderam ser anotados os dados referentes ao CAPS – São<br />
Carlos, sendo observado que a maioria dos usuários participa de algum tipo de<br />
oficina terapêutica (71,20%), e que as oficinas em que se registra maior freqüência<br />
são as de Expressão Corporal (19,80%), seguida pela de Pintura, Literatura (19,00%<br />
cada) e Improvisação Cênica (11,90%), oficinas estas ministradas por estagiários do<br />
Curso de Psicologia da <strong>UFSCar</strong>. Esses dados demonstram como tem sido de<br />
fundamental importância a participação ativa da Universidade no CAPS – São<br />
Carlos, assim como a manutenção da parceria entre a <strong>UFSCar</strong> e a Secretaria<br />
Municipal de Saúde, que poderá continuar trazendo benefícios não só para os<br />
estudantes da Universidade, mas principalmente para o usuários da instituição, seus<br />
familiares, funcionários, enfim, para a comunidade de uma maneira geral.<br />
62
VII. CONCLU<strong>SÃO</strong><br />
O presente estudo revelou alguns dados cuja constatação era esperada,<br />
tendo em vista a proposta dos serviços em questão, e outros dados que<br />
surpreenderam.<br />
Tendo em vista a estrutura e a proposta básica do Centro de Saúde II –<br />
Caconde, este superou as expectativas em relação ao atendimento fornecido e aos<br />
resultados obtidos, como, por exemplo, sua taxa média de medicamentos prescritos<br />
por usuário, o número médio de internações e o número de atendimentos<br />
psicológicos realizados.<br />
Em relação ao CAPS – São Carlos, ao tomarmos como referência seus<br />
objetivos, concluímos que sua prática está distante de refletir uma<br />
desinstitucionalização plena, pois ainda mantêm-se alta a taxa média de<br />
medicamentos prescritos, o alto índice de internações e o baixo índice de<br />
atendimentos psicológicos realizados.<br />
Ambos os serviços foram deficitários no que diz respeito às informações<br />
referentes à escolaridade, à profissão, à antecedência familiar e queixa de entrada<br />
dos usuários dos serviços em questão, apontando para uma insuficiente<br />
organização das informações, o que no caso do CAPS – São Carlos é mais crítico,<br />
uma vez que o serviço é novo e tais dados são importantes para o levantamento e<br />
estruturação das possíveis causas e tratamento mais eficaz da doença.<br />
No decorrer do estudo, através também de observações e conversas<br />
informais com os usuários, foi observada uma aparente desospitalização, mas não<br />
uma desinstitucionalização dos mesmos. Isso levando em consideração o termo<br />
instituição como o conjunto das normas, regras e atividades agrupadas em torno dos<br />
valores e das funções sociais, e não no sentido de uma disposição hierárquica das<br />
funções que se efetuam geralmente no interior de um edifício ou de um espaço<br />
limitado, sendo isso considerado como organização; além de considerar que um<br />
grupo que deixa de ser um processo para se estabelecer como uma organização,<br />
também deixa de ser um grupo terapêutico para se transformar em um grupo anti-<br />
terapêutico, no sentido de uma reação terapêutica negativa (Käes et al.,1991).<br />
Essa desospitalização, mas não desinstitucionalização dos usuários pode ser<br />
explicado por Käes et al. (1991), onde segundo ele a instituição apresenta,<br />
psicanaliticamente, uma identificação como sendo aquela formação intermediária<br />
que mantém juntos os membros das instituições e uma identificação de própria<br />
63
instituição, onde o sujeito ganha e perde com esse processo e com o que se dá com<br />
ele no conjunto que assim se forma.<br />
De acordo com Käes et al. (1991), a existência de identidade de uma pessoa<br />
ou de um grupo é determinada, na ordem cotidiana e manifesta, pela estrutura e<br />
pela integração atingidas, em cada caso, pelo “eu individual” e pelo “eu grupal” (grau<br />
de organização, amplitude e de integração do conjunto das manifestações de<br />
verbalização, motricidade, ação, julgamento, raciocínio e pensamento). A identidade<br />
grupal pode ser dada por um trabalho efetuado em comum, instaurando regras de<br />
interação e de comportamento, como também através de uma identidade particular<br />
ou identidade grupal sincrética, que se apóia sobre uma socialização na qual esses<br />
limites não existem, uma vez que os indivíduos não têm identidade enquanto tal,<br />
mas sim na sua filiação ao grupo.<br />
Sendo assim, por um lado a instituição pode ser vista como uma celebração<br />
pelo grupo que institui e desinstitui continuamente a função criadora do imaginário<br />
social e da realização dos desejos individuais; mas por outro lado há a denúncia da<br />
instituição instituída, alienante, que pereniza a rigidificação do movimento social, a<br />
permanência dos poderes coercitivos e a hierarquia dos valores oponíveis à<br />
satisfação do desejo, favorecendo o sofrimento humano através da força<br />
esmagadora da própria natureza, da decrepitude do corpo e da insuficiência das<br />
medidas destinadas a regular as relações entre os homens e entre os homens e a<br />
sociedade no geral.<br />
As organizações constituem parte da nossa personalidade, mas o que<br />
também deve ser levado em consideração é a crença incorreta de que há uma<br />
oposição do indivíduo ao grupo e da organização ao grupo, na medida em que é<br />
pensado que indivíduos existem isoladamente e que se reúnem para formar grupos<br />
e organizações. Isso é incorreto, uma vez que o ser humano, antes de ser uma<br />
pessoa, é sempre um grupo, não no sentido de pertencer a um grupo, mas no<br />
sentido em que sua personalidade é grupal.<br />
Sendo assim, faz-se mister uma maior discussão e uma rápida solução para o<br />
que diz Käes et al. (1991), onde<br />
“(...) qualquer organização tem tendência a manter a mesma<br />
estrutura do problema que ela tenta enfrentar e pelo qual foi<br />
criada (...). A função iatrogênica e de confirmação das doenças<br />
desempenhada pelos hospitais psiquiátricos (...) constitui um<br />
64
aspecto sobre o qual se insiste muito hoje em dia; mas<br />
esquecemos outros aspectos também importantes, que têm o<br />
mesmo efeito burocrático iatrogênico e a mesma função latente:<br />
a de manter a clivagem que controla a sociabilidade sincrética”<br />
(Käes et al.,1991, pp. 68).<br />
65
VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
BASAGLIA, F., La distruzione dell’ospedale psichiatrico. In: Basaglia, F. Scritti,<br />
Einaudi, Totino, 1982.<br />
CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Ed. Cultrix, 1982.<br />
COOPER, J. E. (org.) Classificação de Transtornos mentais e de<br />
Comportamento da CID-10: uma referência rápida. Trad.: Gabriela<br />
baldisseroto. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.<br />
DITTRICH, A. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação,<br />
renovação e libertação. Psicologia, Ciência e Profissão, v. 18 nº 1, pp. 46-55,<br />
1998.<br />
KÄES, R. et al. A instituição e as instituições: estudos psicanalíticos. Trad:<br />
Joaquim Pereira neto. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1991<br />
KINOSHITA, R.T. Contratualidade e reabilitação psicossocial. Em: Pitta, A. (org.)<br />
Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001.<br />
MARQUES, A.J. de S. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica. Em:<br />
Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001.<br />
PESSOTTI, I. A loucura e as épocas. Rio de Janeiro: Ed. 34,1994<br />
PITTA, A. O que é reabilitação social no Brasil, hoje? Em: Pitta, A. (org.)<br />
Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001-a.<br />
________. Prefácio à 1ª edição. Em: Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no<br />
Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001-b.<br />
REY, F. L. G. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. São<br />
Paulo: Ed. Pioneira, 2002.<br />
66
SANTOS, S.N.; ALMEIDA, P.F.; VENANCIO, A.T. & <strong>DE</strong>LGADO, P.G. A autonomia<br />
do sujeito psicótico no contexto da reforma psiquiátrica brasileira.<br />
Psicologia, Ciência e Profissão, v. 20 nº 4, pp. 46-53, 2000.<br />
SARACENO, B. Libertando Identidades. Rio de Janeiro: Ed Te Cora, 2001-a.<br />
____________. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do<br />
milênio. Em: Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo:<br />
Hucitec, 2001-b.<br />
SIMANKE, Richard Theisen. Loucura e psicose: a abordagem psicanalítica.<br />
Apostila de aula. São Carlos: <strong>UFSCar</strong>, 1997.<br />
WICKERT, L.F. Loucura e direito a alteridade. Psicologia, Ciência e Profissão, v.<br />
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http://www.psicopatologia.hpg.ig.com.br/reforma.htm (site visitado em janeiro/2003)<br />
http://www.comciencia.br (site visitado em janeiro/2003)<br />
http://www.ifb.org.br/ (site visitado em janeiro/2003)<br />
67
ANEXO 1<br />
BASE PARA ANÁLISE <strong>DE</strong> PRONTUÁRIOS<br />
1. Serviço________________________________________________________<br />
2. Prontuário no. __________________________________________________<br />
3. Iniciais_________________________________________________________<br />
4. Idade__________________________________________________________<br />
5. Data de nascimento______________________________________________<br />
6. Local de nascimento: cidade: ______________________________________<br />
Estado: _________________________País___________________________<br />
7. Endereço atual: Cidade_________________, Bairro_____________________<br />
8. Escolaridade____________________________________________________<br />
9. Profissão ______________________________________________________<br />
10. Data de admissão no serviço: ______________________________________<br />
11. Queixa de entrada:_______________________________________________<br />
12. Descrição dos principais sintomas:___________________________________<br />
_________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________<br />
13. Antecedentes familiares___________________________________________<br />
_________________________________________________________________<br />
14. Hipótese diagnóstica_____________________________________________<br />
15. Medicação em uso_______________________________________________<br />
16. Nº de internações psiquiátricas_____________________________________<br />
Datas/Locais____________________________________________________<br />
_________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________<br />
17. Outras doenças/medicação_______________________________________<br />
18. Recebe benefício do INSS? ( ) sim ( ) não<br />
19. Atendimentos terapêuticos recebidos<br />
( ) psicoterapia ( ) terapia ocupacional<br />
19.1Modalidade<br />
( ) grupo ( ) individual ( ) ambas<br />
19.2 Freqüência<br />
68
( ) uma vez/ semana ( ) duas vezes/ semana ( ) três vezes/semana<br />
20. Acompanhamento psiquiátrico<br />
( ) sim ( ) não<br />
21. Participa de alguma atividade terapêutica expressiva em Oficinas ?<br />
( ) sim ( ) não<br />
21.1Qual (is)? _____________________________________________________<br />
22. Último encaminhamento recebido ___________________________________<br />
22.1 Data: ________________________________________________________<br />
23. Evolução clínica do usuário__________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
24. Outros achados não contemplados pelas questões acima<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
______________________________________________________________<br />
Data da consulta ao Prontuário : _____________________________________<br />
Nome da pesquisadora_____________________________________________<br />
Assinatura_______________________________________________________<br />
69
Prezado Senhor (a)<br />
ANEXO 2<br />
<strong>UNIVERSIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>FE<strong>DE</strong>RAL</strong> <strong>DE</strong> <strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong><br />
<strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> CIÊNCIAS HUMANAS<br />
<strong>DE</strong>PÁRTAMENTO <strong>DE</strong> PSICOLOGIA<br />
CURSO <strong>DE</strong> GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA<br />
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido<br />
São Carlos, ____ de _______________ de 2003.<br />
Venho, pela presente, solicitar a autorização de V. Sa. para a realização das atividades da<br />
Pesquisa “Estudo comparativo entre o encaminhamento em saúde mental oferecido pelo CAPS – São<br />
Carlos/SP e pelo Centro de Saúde II – Caconde/SP.<br />
O objetivo dessa pesquisa é caracterizar, por meio da consulta aos prontuários dos usuários,<br />
o encaminhamento oferecido à população atendida, sempre considerando as possibilidades de<br />
atendimento e as características próprias de cada serviço.<br />
Este trabalho implicará em uma análise dos prontuários dos usuários de ambos os serviços<br />
de acordo com um roteiro pré-estabelecido (em Anexo no Projeto).<br />
A aluna que realizará a pesquisa, Marina Ceres Silva Pena, é graduanda do Curso de<br />
Psicologia da Universidade Federal de São Carlos, o qual exige, para sua formação em Bacharel, o<br />
desenvolvimento e conclusão desta pesquisa.<br />
O presente trabalho só poderá ser realizado com o devido consentimento de V.Sa.,<br />
responsável pela instituição. Salientamos que a atividade a ser desenvolvida não trará qualquer<br />
prejuízo para a instituição nem para os usuários desta, e que seus nomes permanecerão em absoluto<br />
anonimato.<br />
O resultado da pesquisa será depositado, em forma de Monografia de Pesquisa, na<br />
Coordenação do Curso de Psicologia, ficando, ainda, à disposição da <strong>UFSCar</strong> (por meio do Programa<br />
de Extensão "Saúde Mental e Cidadania"), da Coordenação e Equipe do CAPS-São Carlos/SP e da<br />
Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Saúde II, Caconde/SP, resguardando, em todas essas<br />
instâncias, o anonimato dos usuários. Eventualmente, poderá ser divulgado por meio de Congressos,<br />
reuniões científicas ou publicações da área, sempre garantindo o anonimato do usuário.<br />
Contando com sua compreensão para o caso, solicito sua autorização por meio da assinatura<br />
do presente termo, para que seja efetivado o planejamento das atividades acima referidas e que a<br />
execução do projeto seja realizada na instituição, sem nenhum ônus à mesma, durante o primeiro e<br />
segundo semestres de 2003.<br />
Atenciosamente,<br />
(Nome do responsável pela Instituição)<br />
(cargo ocupado)<br />
Profª. Georgina Faneco Maniakas Marina Ceres Silva Pena<br />
Orientadora / Pesquisadora responsável Pesquisadora<br />
End.: Rod. Washington Luís, km. 235 End: R. Episcopal, 2474, ap.12-A/ São Carlos-SP<br />
São Carlos-SP Fone: (16) 272 5536<br />
Fone: (16) 260 8361 e-mail: mcsp15@yahoo.com.br<br />
70
1. Projeto de Pesquisa:<br />
2. Área do Conhecimento (Ver relação no verso)<br />
ANEXO 3<br />
COMITÊ <strong>DE</strong> ÉTICA EM PESQUISA<br />
MINISTÉRIO DA SAÚ<strong>DE</strong> - Conselho Nacional de Saúde - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP<br />
FOLHA <strong>DE</strong> ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS<br />
3. Código: 4. Nível: ( Só áreas do conhecimento 4 )<br />
5. Área(s) Temática(s) Especial (s) (Ver fluxograma no verso) 6. Código(s): 7. Fase: (Só área temática 3) I ( ) II ( )<br />
III ( ) IV ( )<br />
8. Unitermos: ( 3 opções )<br />
9. Número de sujeitos<br />
No Centro :<br />
Total:<br />
11. Nome:<br />
SUJEITOS DA PESQUISA<br />
10. Grupos Especiais :
COMITÊ <strong>DE</strong> ÉTICA EM PESQUISA<br />
1-) <strong>DE</strong>SCRIÇÃO DA PESQUISA, CONTENDO:<br />
a-) Descrição dos propósitos.<br />
Buscando refletir sobre as práticas substitutivas em Saúde Mental, o presente<br />
trabalho pretende realizar um estudo comparativo entre o encaminhamento oferecido<br />
aos usuários que procuram os serviços de saúde mental em duas unidades de<br />
saúde mental: o CAPS-São Carlos, inserido no contexto de reformulação da atenção<br />
em Saúde Mental e pretendendo ser um serviço que de alguma forma venha a<br />
inaugurar o “novo” em termos de atendimento ao doente mental, e o Centro de<br />
Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP, que funciona em<br />
esquema ambulatorial tradicional. Este estudo também pretende caracterizar, por<br />
meio da consulta aos Prontuários, o tratamento oferecido à população atendida, o<br />
tipo de demanda, assim como a questão da construção da autonomia dos sujeitos<br />
psicóticos atendidos pelos serviços, sempre considerando as características próprias<br />
de cada serviço. A indagação é pertinente, pois a discussão sobre a “autonomia” dos<br />
sujeitos psicóticos põe em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em<br />
psiquiatria, além de, depois aproximadamente uma década de implantação dos<br />
“novos serviços”, parece ser este um bom momento para refletir e avaliar as<br />
possíveis transformações no campo da Atenção em Saúde Mental.<br />
b-) Antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesquisa.<br />
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde seria um estado<br />
completo de bem-estar físico, mental, social e não somente a ausência de doenças<br />
ou enfermidades (Capra, 1982). Mas saúde é uma experiência subjetiva, algo que<br />
pode ser conhecido intuitivamente, mas nunca descrito ou quantificado; saúde é uma<br />
experiência de bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico que envolve os<br />
aspectos físicos e psicológicos do organismo, assim como sua interação com o meio<br />
ambiente natural e social.<br />
Para Wickert (1998),<br />
“a saúde só se dá quando o sujeito tem possibilidades de traçar o<br />
seu próprio destino, conforme seu desejo, em direção ao seu bemestar<br />
físico, psíquico e social e que o caminho construído nem<br />
sempre é condizente com a modelagem social (...)” 16<br />
Saraceno (2001-a), entende que saúde mental seja o conjunto de ações de<br />
promoção, manutenção e tratamento referentes à melhora, manutenção ou<br />
restauração da saúde mental de uma população.<br />
A subjetividade é um objeto de pesquisa psicológica, sendo esta um<br />
“sistema complexo de significações e sentidos subjetivos produzidos<br />
na vida cultural humana, se definindo ontologicamente como<br />
diferente dos elementos sociais, biológicos, e de qualquer outro tipo,<br />
relacionados entre si no complexo processo de seu desenvolvimento<br />
individual e social (...) a subjetividade e a cultura são processos<br />
16 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade., pp. 38.<br />
72
construtivos complexos que ocorrem de forma simultânea; a<br />
subjetividade não é determinada pela cultura; a cultura depende da<br />
subjetividade”. 17<br />
Segundo Pessotti (1994), na antiguidade grega o homem não se conhecia; as<br />
distorções e aberrações da natureza humana eram entendidas vagamente e, na<br />
ausência de qualquer psicologia, atribuídas à forças e entidades desconhecidas.<br />
Acreditavam na intervenção direta e permanente dos e dos seus instrumentos na<br />
vida dos homens, e pensavam na loucura como um estado de desrazão, de perda<br />
do controle consciente sobre si mesmo, de insensatez, de perda do contato<br />
ordenado com a realidade física ou social. Já a doutrina demonista que associa a<br />
loucura à possessão diabólica e marca a concepção medieval da psicopatologia,<br />
não é apenas um artifício religioso da época para repreender as heresias e impor a<br />
ortodoxia teológica e moral, mas também uma forma de pensar, que tem suas raízes<br />
na própria formação doutrinária do cristianismo; quase tosos os comportamentos<br />
acabam sendo tidos como suspeitos e gradualmente atribuídos ao demônio. Obras<br />
importantes foram publicadas como Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas)<br />
escrito por Sprenger e Institor, e o Traité Médico-Philosophique sur l’aliénation<br />
mentale, de Pinel.<br />
De acordo com Pessotti (1994), a confusão doutrinária das últimas décadas<br />
do século XIX gera vários absurdos terapêuticos; há uma desorientação geral da<br />
teórica médica quanto à etiologia e conseqüentemente da terapêutica da loucura; há<br />
o desaparecimento do modelo mitológico religioso e destaca-se o organicismo que<br />
incentiva a busca por maiores explicações das funções orgânicas, culminando num<br />
conflito entre o modelo organicista clássico e um modelo médico biopsicossocial,<br />
que por sua vez, testemunha a fragmentação e o paralelismo da teoria psiquiátrica,<br />
já que aquilo que não se explica com o “bio”, se explica com o “psico” e/com o social,<br />
gerando uma espécie de ilusão e impotência terapêutica (Saraceno, 2001-a).<br />
Para Wickert (1998),<br />
“no pensar coletivo atual, louco é aquele que não tem razão, que dá<br />
medo, que não controla seus próprios impulsos, escapando aos<br />
padrões sociais a serem seguidos e mantidos, necessitando, então,<br />
de tratamento especializado (...) Como o insano não é<br />
controlável/suportável nos termos morais, a razão coexiste com a<br />
loucura em contraposição, assim quem tem a razão não é louco e<br />
quem é louco não tem a razão.” 18<br />
Segundo Dittrich (1998),<br />
“será sempre em relação a uma ordem de ‘normalidade’,<br />
‘racionalidade’ ou ‘saúde’ que a loucura é concebida nos quadros de<br />
‘anormalidade’, irracionalidade’ ou ‘doença’ ”. 19<br />
A prática de submeter o paciente psiquiátrico às instituições manicomiais são<br />
práticas que visam moldar a conduta do sujeito sem levar em consideração o seu<br />
desejo, a sua subjetividade, num único objetivo de exclusão, a massificação e a<br />
dominação social. Os loucos passam a ser enclausurados em um lugar delimitado e<br />
2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, p.36-37 e 43.<br />
18 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade, pp. 39.<br />
19 Dittrich, 1998. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação, pp. 52.<br />
73
afastado, para que os ditos como sãos saibam a história do sofrimento psíquico<br />
desses doentes, saibam quais males os ameaçam e busquem maneiras de evitar tal<br />
sofrimento, nascendo dessa estrutura os manicômios, lugares onde se despejavam<br />
aquelas pessoas que a sociedade, apesar de produzir, rejeitava (Wickert, 1998).<br />
Para Goffman (1996) apud Wickert (1998), os manicômios assim como as<br />
prisões, os conventos, os quartéis e as casas de recolhimento de indigentes são<br />
instituições totais, uma vez que as instituições totais são caracterizadas por locais<br />
onde as atividades são realizadas num mesmo local e sob uma única autoridade;<br />
todas as pessoas são tratadas da mesma forma e obrigadas a realizar tarefas em<br />
conjunto, sendo estas rigorosamente organizadas por um sistema de regras formais<br />
explícitas e por um grupo de funcionários. Além disso, há uma divisão básica e de<br />
pouca mobilidade social entre o grupo de internados e a equipe de supervisão. Na<br />
estrutura manicômio-instituição total, uma estufa para mudar pessoas, o paciente é<br />
obrigado a despir-se não só das suas roupas, mas também da sua história, sua<br />
subjetivação, sua individualidade, tornando-se apenas um simples número ou uma<br />
categoria da CID-10.<br />
Com o processo de internação, as barreiras que separam o manicômio do<br />
mundo externo acarretam perdas de papéis sociais e a aquisição de um padrão de<br />
comportamento homogeneizado a ser seguido, sendo uma agressão à subjetividade<br />
e à individualidade do paciente, além da perda do rótulo de saudável, de quem “tem<br />
a razão”, pois dizer socialmente “doente mental” é sê-lo para o resto da vida,<br />
condicionando o passado e o futuro do sujeito e marcando-o para toda a vida<br />
(Wickert, 1998).<br />
Segundo Saraceno (2001-a), os anos 70 se caracterizaram pela idéia de que<br />
a psiquiatria seria um conjunto de técnicas terapêuticas a serem aprendidas a fim de<br />
escolher aquela mais convincente, além da manutenção da idéia equivocada de<br />
cientificidade, na qual<br />
“científico é tudo aquilo que se exprime com categorias do<br />
quantitativo, que se refere a modelos claros e distintos, que exclui a<br />
subjetividade”. 20<br />
No entanto, como expressar em categorias puramente quantitativas um<br />
fenômeno cujo objeto às vezes é e as vezes não é alguma coisa ? 21<br />
Partindo da análise do discurso comum, Simanke (1997) observa que o termo<br />
loucura, longe de seu significado psicopatológico atual, formou uma rede ou campo<br />
de significações, do qual se alimentaram, posteriormente, os discursos mais<br />
organizados. A denominação “loucura” não representa nada de específico. Ela<br />
somente vai sofrer uma determinação estreita ao ver-se apropriada de formas de<br />
conhecimento mais organizadas, a partir dos parâmetros que definem as diversas<br />
teorias, adquirindo, somente desse modo, um sentido próprio, mas que permanece<br />
circunscrito a essa dada disciplina 22 .<br />
Somente quando a psiquiatria se impõe como o campo de domínio das<br />
doenças mentais, é que a loucura passa a se restringir ao significado “científico” que,<br />
hoje, lhe é atribuído.<br />
No entanto, ainda segundo Simanke (1997), o significado “científico” da<br />
loucura nasceu de práticas sociais mais ou menos simétricas à maneira como o<br />
fenômeno era percebido. O autor nota que tais práticas,<br />
3 Saraceno, 2001-a. Libertando Identidades, pp.13.<br />
21 Simanke, 1997, Loucura e Psicose: a abordagem psicanalítica. Apostila.<br />
22 Simanke (1997), p. 5<br />
74
“desencadeadas pelos aspectos mais superficiais das<br />
manifestações, podiam ser exercidas sem necessidade de entrar no<br />
mérito da natureza última dos fenômenos em foco; em outras<br />
palavras, ao menos nesse caso, a ação precedeu a reflexão” 23 .<br />
Inspirado por algumas noções gerais foucaultianas, o autor arrisca um esboço<br />
de definição dizendo que<br />
“histórica e culturalmente, a loucura identifica-se com um certo<br />
campo de discursos, que emergem de práticas sociais e/ou<br />
institucionais mais ou menos concretas.” 24<br />
Tais práticas foram rapidamente institucionalizadas, e foi através de um<br />
modelo hospitalocêntrico para o tratamento das doenças mentais que chegaram até<br />
nós.<br />
A Reforma Psiquiátrica consiste em uma reação a essa modelo, por meio de<br />
uma série de transformações na assistência em saúde mental propostas pela<br />
chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se iniciou na Itália com<br />
Franco Basaglia e teve seus primeiros momentos no Brasil a partir do final da<br />
década de 70, se intensificando ao longo dos anos 80, 90 e 2000. Este movimento<br />
reúne diversos atores sociais como usuários de serviços de saúde mental, seus<br />
familiares e técnicos da área de saúde; não pretende acabar com o tratamento<br />
clínico da doença mental, mas sim eliminar a prática do internamento como forma de<br />
exclusão social dos indivíduos portadores de transtornos mentais. Propondo, para<br />
isso, a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços<br />
territoriais de atenção psicossocial, de base comunitária. A extinção dos manicômios<br />
deve ser gradual, sendo que para que isso ocorra, foi aprovada uma Lei Federal de<br />
Saúde Mental em abril de 2001 (após 12 anos de tramitação no Congresso), que<br />
regulamenta o processo de Reforma a Assistência Psiquiátrica no Brasil.<br />
A partir da década de 70, percebe-se no país alguns movimentos de crítica ao<br />
modelo hospitalocêntrico no que se refere à assistência psiquiátrica, sendo a<br />
exclusão e a violência nos manicômios pautas de discussões que reivindicavam os<br />
direitos dos doentes mentais. Os principais questionamentos eram relacionados à<br />
natureza do modelo privatista e à sua incapacidade de produzir um atendimento que<br />
contemplasse as necessidades de seus usuários, mas ainda não havia um modelo<br />
muito claro nem uma proposta de intervenção clínica. Já na década de 80, período<br />
marcado pela ditadura, o movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil ganha<br />
importância política e social, possibilitando mudanças na saúde, permitindo a<br />
participação de outros setores que não médicos, enfatizando críticas às noções de<br />
clínica e cidadania, ambas ancoradas a uma concepção universal do sujeito onde a<br />
normalidade deve ser reconstituída. A construção de um novo espaço social para a<br />
loucura exigia não só que a noção de cidadania e a base do saber psiquiátrico<br />
fossem colocados em debate, mas também a invenção de novos locais, instrumentos<br />
técnicos, terapêuticos e novos modos de estabelecer relações com esses sujeitos<br />
(Santos, Almeida & Venâncio, 2000).<br />
Nesse período foi muito importante a influência da psiquiatria democrática<br />
italiana, propondo o questionamento da suposta universalidade do racionalismo<br />
científico das psiquiatrias; usuários e familiares passaram a reivindicar mais<br />
intensamente por outras possibilidades de atenção assim como espaços, avanços<br />
técnicos e formas de reabilitação psicossocial. Começaram a ser implantados os<br />
23 Idem, ibid, p. 6<br />
24 Idem, ibid, p. 7<br />
75
hospitais-dia, mas só nos anos 90 foram criados e consolidadas propostas como os<br />
Centros de Assistência Psicossocial (CAPS), os Núcleos de Atenção Psicossocial<br />
(NAPS) e os Lares Abrigados (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).<br />
Originada do grego, a palavra autonomia surgiu para designar a capacidade<br />
de um indivíduo de se autodeterminar, de se auto-realizar (Santos, Almeida &<br />
Venâncio, 2000). Para Kinoshita (2001), autonomia seria<br />
“a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a sua vida,<br />
conforme as diversas situações que enfrente (...) não se trata de<br />
confundir autonomia com auto-suficiência nem com independência.”<br />
25<br />
No campo da saúde mental, entretanto, seu conceito parece ser mais<br />
impreciso, uma vez que os sujeitos se tornam destituídos de todo e qualquer valor<br />
ao receber o atributo de doente mental, além da dúvida de se as instituições que<br />
utilizam novos dispositivos contrários àqueles do tradicional manicômio, propiciarem<br />
ou não a produção de autonomia para os usuários que se beneficiam do tratamento<br />
(Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Aqui, se torna muito importante a questão da<br />
reabilitação psicossocial.<br />
Para a OMS, segundo Pitta (2001-a), a reabilitação psicossocial seria<br />
“o conjunto de atividades capazes de maximizar oportunidades de<br />
recuperação de indivíduos e minimizar os efeitos desabilitantes da<br />
cronificação das doenças através do desenvolvimento de insumos<br />
individuais, familiares e comunitários”. 26<br />
Segundo Pitta (2001-b), reabilitação psicossocial<br />
“implica numa ética de solidariedade que facilite aos sujeitos com<br />
limitações para os afazeres cotidianos, decorrente de transtornos<br />
mentais severos e persistentes, o aumento da contratualidade<br />
afetiva, social e econômica que viabilize o melhor nível possível de<br />
autonomia para a vida na comunidade.” 27<br />
Já Kinoshita (2001) pensa que reabilitação seria a reconstrução dos valores, o<br />
aumento do poder contratual do usuário; a criação de condições para que o paciente<br />
possa participar do processo de trocas sociais; a produção de dispositivos que<br />
mudem o pressuposto de desvalor natural; em suma, um processo de restituição do<br />
poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia.<br />
Complementando a idéia, Saraceno (2001-b) afirma que<br />
“o processo de reabilitação seria, então, um processo de<br />
reconstrução, um exercício pleno da cidadania, e, também, de plena<br />
contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e<br />
trabalho com valor social.” 28<br />
Marques (2001), ainda define como metas da reabilitação<br />
25 Kinoshita, 2001. Contratualidade e reabilitação psicossocial, pp. 57.<br />
26 Pitta, 2001-a. O que é reabilitação social no Brasil, hoje?, pp. 21.<br />
27 Pitta, 2001-b. Prefácio à 1ª edição, pp. 9.<br />
28 Saraceno, 2001-b. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio, pp. 16.<br />
76
“prevenir e/ou reduzir incapacitações ou perda de habilidades;<br />
restaurar habilidades potenciais em desempenhar papéis sociais;<br />
fortalecer habilidades latentes e dignidades potenciais; facilitar<br />
adaptação social e psicológica aos efeitos de prejuízos sociais na<br />
vida do indivíduo; minimizar a deterioração; capacitar níveis ótimos<br />
de autodeterminação, execução de responsabilidades pessoais e<br />
independentes, melhorar o sentido de bem-estar da pessoa.” 29<br />
A reabilitação deve ser a principal característica da psiquiatria; um<br />
“entretenimento” do doente. Tendo em vista que entreter significa “ter dentro” e<br />
também “passar prazerosamente o tempo”; na espera de que o doente morra ou que<br />
a doença se cure sozinha, o significado empregado pode ser o de que o doente<br />
“fique dentro” do hospital psiquiátrico, nas alas, nas enfermarias, nas salas de<br />
contenção, na violência e na miséria; ou então o de que o doente também pode ser<br />
entretido com conversas, com oficinas terapêuticas, em um hospital dia e/ou no meio<br />
da sua própria família, adotando assim o sentido de inserção em um sistema onde a<br />
espera é de melhora. É importante também conhecer as ações que contribuíram<br />
para a melhora do paciente, pois assim talvez fosse verificado que as ações formais<br />
não são especialmente influentes sobre a evolução das doenças; que a psiquiatria<br />
clínica com suas terapêuticas constitui um conjunto de entretenimentos danosos ou<br />
indiferentes, raramente úteis. A ruptura deste entretenimento não é apenas uma<br />
ruptura à prática da psiquiatria, mas também uma busca de caminhos que confluam<br />
para a reconstrução da cidadania plena do paciente psiquiátrico, sendo esta não só<br />
a restituição de seus direitos formais, como também a construção afetiva, relacional,<br />
material, habitacional e produtiva dos seus direitos substanciais (Saraceno, 2001-a).<br />
c-) Descrição detalhada e ordenada do projeto.<br />
Segundo Capra (1982), a influência do paradigma cartesiano (concepção<br />
mecanicista da vida) sobre o pensamento médico resultou no modelo da moderna<br />
medicina científica, onde o corpo humano é considerado uma máquina que pode ser<br />
analisada em termos de suas peças; a doença é tida como um mau funcionamento<br />
dos mecanismos biológicos, que são estudados do ponto de vista da biologia<br />
molecular. Em se tratando das doenças mentais, postula uma relação linear de<br />
causalidade entre danos do sistema nervoso e o surgimento das doenças mentais,<br />
considerando que os tratamentos das doenças não são outro que modificações<br />
(essencialmente farmacológicas) da função cerebral alterada.<br />
A abordagem biopsicossocial procura contemplar o processo de saúdedoença<br />
como uma relação interativa entre fatores biológicos, psicológicos e sociais<br />
(agora também espirituais). Fatores macrossociais, diferenças culturais, eventos<br />
externos (guerras, desastres), condições sócio-econômicas (desemprego, recessão<br />
econômica, condições de insuficiente suporte social, ambientes psicológicos<br />
adversos) e contextos microssociais (família) são todos importantes no surgimento e<br />
na evolução de muitas das doenças psiquiátricas (Saraceno, 2001-a).<br />
Segundo Rey (2002) e apoiando a abordagem biopsicossocial, o<br />
conhecimento estaria ligado à cultura, à organização social e à “práxis histórica”,<br />
sendo não só condicionado, determinado e produzido, mas também condicionante,<br />
determinante e produtor.<br />
O que ainda vem acontecendo ultimamente é que o papel biológico vem<br />
dominando o modelo de assistência à saúde mental. O ideal seria uma relação não<br />
29 Marques, 2001. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica, pp. 107.<br />
77
simplesmente somatória, mas interativa entre as dimensões biológica, psicológica e<br />
social, sem deixar quer um dos aspectos fosse dominante sobre os outros, pois a<br />
abordagem biopsicossocial não exclui, evidentemente, a biológica, mas coloca em<br />
crise o paradigma biomédico, mostrando sua ineficácia e deterioração.<br />
O presente estudo pretende seguir, predominantemente as orientações da<br />
pesquisa qualitativa, sendo que esta última, segundo Rey (2002)<br />
“enfatiza tanto a compreensão da pesquisa qualitativa como processo<br />
dialógico que impede tanto o pesquisador, como as pessoas que são<br />
objetos da pesquisa, em sua condição de sujeito do processo; (...) a<br />
busca de grandes narrativas vai sendo substituída por teorias mais<br />
locais e de pequena escala. Centradas em problemas e situações<br />
específicas (...). A definição do qualitativo na pesquisa psicológica não<br />
é uma questão instrumental, nem tampouco uma questão definida<br />
pelo tipo de dados que devem ser incluídos, mas que se define<br />
essencialmente pelos processos implicados na construção do<br />
conhecimento, pela forma de se produzir o conhecimento”. 30<br />
O estudo será realizado no CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) de<br />
São Carlos-SP e no Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em<br />
Caconde-SP.<br />
O CAPS foi recentemente implantado (março/2002) na cidade de São Carlos,<br />
mas já presta serviços a uma demanda considerável, uma vez que a cidade possui<br />
quase 200.000 habitantes e ainda é referência regional, atendendo então, não<br />
somente sua população, mas também a população das cidades vizinhas (como<br />
Ibaté, Água Vermelha, Dourado, Ribeirão Bonito, entre outras). O CAPS oferece<br />
tanto o serviço de fornecimento de medicamentos gratuitamente, de atendimento<br />
médico (diagnóstico psiquiátrico ou neurológico e “troca de receitas”) como<br />
atendimento psicológico, de enfermagem, de terapia ocupacional, de serviço social,<br />
de oficinas terapêuticas e até a permanência de determinados períodos do dia para<br />
os casos mais graves, dependendo do tratamento (intensivo e semi-intensivo).<br />
Já o Centro de Saúde, apesar de ter sofrido recentemente uma pequena<br />
reestruturação no Serviço de Saúde Mental, possui um tipo de serviço totalmente<br />
diferente do realizado nos CAPS em geral, pois oferece serviço um serviço mais<br />
emergencial: fornecimento de medicamentos gratuitamente, consultas com médico<br />
psiquiatra (para diagnóstico e “troca de receitas”) e em alguns casos<br />
encaminhamento para o psicólogo. Além da diferença do tipo de serviço oferecido, é<br />
preciso destacar que a população atendida é bem menor, uma vez que a população<br />
de Caconde é de aproximadamente 20.000 habitantes e a cidade não é referência<br />
regional para nenhum assunto referente à saúde.<br />
Dessa maneira, tendo em vista que as duas instituições apresentam diversas<br />
diferenças entre si, somente torna-se viável a realização de um estudo comparativo<br />
em relação ao tipo de encaminhamento oferecido aos usuários se todas essas<br />
diferenças puderem ser consideradas e explicitadas no estudo em questão,<br />
realizando, para isso, análise do projeto para implantação e estruturação de ambos<br />
os tipos de serviços de atendimento aos doentes mentais; levantamento dos<br />
recursos terapêuticos oferecidos (como consultas médicas, psicoterapias, oficinas<br />
terapêuticas, entre outros); assim como análise dos prontuários dos usuários dos<br />
serviços.<br />
2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, pp. ix, 6 e 24.<br />
78
Serão analisados os prontuários dos usuários dos serviços em questão de<br />
acordo com roteiro já pré-estabelecido (ver Anexo 1 no projeto) com a finalidade de<br />
caracterizar o encaminhamento oferecido aos usuários por ambas instituições.<br />
d-) Análise crítica dos riscos e benefícios que a pesquisa pode trazer.<br />
O estudo não pretende arriscar a integridade física, moral ou psíquica dos<br />
usuários do CAPS - São Carlos-SP nem do Centro de Saúde II “Dr. Sebastião<br />
Ribeiro do Valle” - Caconde-SP, uma vez que os nomes dos usuários envolvidos não<br />
serão divulgados e uma solicitação de consentimento para a realização da pesquisa<br />
será requerida aos responsáveis de ambas instituições.<br />
Com relação às contribuições que o presente estudo pode trazer, isso de<br />
deve ao fato deste englobar uma discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos<br />
psicóticos, pondo em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria.<br />
Além do que, depois de aproximadamente uma década de implantação dos “novos<br />
serviços”, este parece ser um bom momento para refletir e avaliar as possíveis<br />
transformações no campo da Atenção em Saúde Mental, se estas são efetivas e/ou<br />
eficazes ou não.<br />
e-) Duração total da pesquisa.<br />
Sendo o desenvolvimento e a conclusão desta pesquisa necessária para a<br />
formação da aluna em Bacharel em psicologia, o estudo terá duração total de dois<br />
(2) semestres letivos.<br />
f-) Explicitação das responsabilidades do pesquisador e da instituição.<br />
A pesquisadora responsável pelo projeto em questão compromete-se<br />
conduzir a pesquisa cumprindo os termos éticos norteados pela resolução 196/96 do<br />
Ministério da Saúde após a sua aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa,<br />
garantindo também que seu início se dará somente após a autorização de ambas<br />
instituições por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,<br />
resguardando a identidade e o sigilo sobre os dados obtidos dos usuários dos quais<br />
os protocolos serão analisados, além da posterior informação dos resultados<br />
obtidos.<br />
g-) Critérios para suspender e encerrar a pesquisa.<br />
Se nenhum dos princípios da resolução 196/96 do Ministério da Saúde forem<br />
infringidos, resultando em prejuízo ao sujeito ou à pesquisa ou se nenhuma das<br />
instituições entrarem em desacordo com a pesquisadora, a pesquisa só será<br />
encerrada quando todos os procedimentos metodológicos (coleta, análise e<br />
interpretação dos dados; resultados e conclusão) forem cumpridos. Caso contrário, a<br />
pesquisa será suspensa imediatamente.<br />
h-) Local da pesquisa e infra-estrutura do projeto.<br />
O presente estudo pretende ser realizado no CAPS-São Carlos (Centro de<br />
Atenção Psicossocial), inaugurado em 18/03/2002, sito à Rua Riachuelo nº 171 na<br />
cidade de São Carlos-SP, local que abriga usuários adultos da Saúde Mental local e<br />
da região, diagnosticados como psicóticos, drogaditos ou neuróticos graves, em<br />
recuperação por meio de um serviço intensivo, e semi-intensivo diário, que conta<br />
79
com oficinas, psicoterapia, atendimento médico, enfermagem, entre outros, e o<br />
Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, sito à Rua Floriano Peixoto nº<br />
205, na cidade de Caconde-SP, uma instituição multiprofissional de atendimento aos<br />
usuários da Saúde mental do município, de caráter exclusivamente ambulatorial,<br />
entre os quais serão selecionados para o presente estudo, os usuários adultos<br />
diagnosticados como psicóticos, drogaditos ou neuróticos graves.<br />
i-) Demonstrativo da infra-estrutura necessária ao desenvolvimento da<br />
pesquisa e para atender eventuais problemas dela resultantes, com a<br />
concordância documentada da instituição.<br />
Ambas as instituições possuem infra-estrutura suficiente para dar suporte a<br />
esta pesquisa.<br />
j-) Orçamento financeiro.<br />
Não há recurso financeiro para a realização do projeto.<br />
k-) Se vão ser publicados os resultados da pesquisa, sejam eles favoráveis ou<br />
não.<br />
Por ser uma monografia de final de curso, os resultados ficarão à disposição<br />
na Coordenação do Curso de Psicologia, sendo favoráveis ou não, com cópia<br />
entregue à Coordenadoria do CAPS, à Secretaria Municipal de Saúde de São<br />
Carlos-SP, ao Centro de Saúde II e à Secretaria Municipal de Saúde de Caconde-<br />
SP, sendo que sua divulgação e publicação dependerá de apresentações em<br />
Congressos e interesse de revistas especializadas.<br />
l-) Sobre a propriedade e destinação dos conhecimentos.<br />
Os conhecimentos obtidos com o presente estudo serão destinados à<br />
Universidade Federal de São Carlos (<strong>UFSCar</strong>), à Secertaria Municipal de Saúde das<br />
cidades de São Carlos-SP e Caconde-SP, aos usuários e funcionários de ambos os<br />
serviços, à comunidade acadêmica e à comunidade em geral.<br />
2-) INFORMAÇÕES RELATIVAS AOS SUJEITOS DA PESQUISA:<br />
a-) Características da população.<br />
Usuários adultos dos serviços de Saúde Mental de São Carlos-SP (CAPS-<br />
São Carlos) e de Caconde-SP (Centro de Saúde II).<br />
b-) Descrever claramente os métodos que possam afetar os sujeitos.<br />
Não haverá interação direta com os usuários e os dados colhidos nos<br />
prontuários, bem como o nome dos usuários, serão mantidos em completo<br />
anonimato.<br />
c-) Identificar os dados e registros a serem obtidos.<br />
80
Serão registrados os dados que disserem respeito ao serviço (CAPS ou<br />
Centro de Saúde II), nº do prontuário, iniciais do nome do usuário, idade, data de<br />
nascimento, local de nascimento (cidade, estado e país), endereço atual (bairro e<br />
cidade), escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, queixa de entrada,<br />
descrição dos principais sintomas, antecedentes familiares, hipótese diagnóstica,<br />
medicação em uso, nº de internações psiquiátricas (também datas e locais), outras<br />
doenças e medicação, se recebe ou não benefício do INSS, se recebe atendimentos<br />
terapêuticos (psicoterapia e/ou terapia ocupacional), qual a modalidade (em grupo,<br />
individual ou ambas), qual a frequência desse atendimento (uma vez por semana,<br />
duas vezes por semana ou três vezes por semana), se recebe acompanhamento<br />
psiquiátrico, se participa de alguma atividade terapêutica em oficinas e quais, qual o<br />
último encaminhamento recebido (data) e a evolução clínica do usuário.<br />
d-) Informar-se se a pesquisa será usada para outros fins.<br />
A pesquisa poderá ser utilizada para possíveis melhoras na forma de<br />
atendimento aos usuários da Saúde Mental tanto no CAPS – São Carlos-SP quanto<br />
no Centro de Saúde II, em Caconde-SP.<br />
e-) Planos de recrutamento, procedimentos e critérios para inclusão ou<br />
exclusão.<br />
A permissão para consulta aos prontuários será dada pelos responsáveis do<br />
CAPS – São Carlos-SP e do Centro de Saúde II, Caconde-SP, sendo que serão<br />
considerados para esta pesquisa somente os usuários adultos de ambos os<br />
serviços.<br />
f-) Descrever a possibilidade de risco e avaliar a sua gravidade.<br />
Os prontuários serão consultados em local privado e os dados coletados<br />
ficarão sob total responsabilidade da pesquisadora. Não será divulgada qualquer<br />
informação que possa levar a identificação do usuário. Assim sendo, consideramos<br />
que o risco deste procedimento é mínimo ou inexistente.<br />
g-) Apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos.<br />
Não haverá nenhum gasto para as instituições envolvidas.<br />
81
ANEXO 4<br />
82