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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO ... - UFSCar

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<strong>UNIVERSIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>FE<strong>DE</strong>RAL</strong> <strong>DE</strong> <strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong><br />

<strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS<br />

CURSO <strong>DE</strong> GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA<br />

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENCAMINHAMENTO EM<br />

SAÚ<strong>DE</strong> MENTAL OFERECIDO PELO CAPS - <strong>SÃO</strong><br />

<strong>CARLOS</strong>/SP E PELO <strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> SAÚ<strong>DE</strong> II – CACON<strong>DE</strong>/SP.<br />

<strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong> – SP<br />

<strong>DE</strong>ZEMBRO/2003<br />

Marina Ceres Silva Pena


<strong>UNIVERSIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>FE<strong>DE</strong>RAL</strong> <strong>DE</strong> <strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong><br />

<strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS<br />

CURSO <strong>DE</strong> GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA<br />

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENCAMINHAMENTO EM<br />

SAÚ<strong>DE</strong> MENTAL OFERECIDO PELO CAPS - <strong>SÃO</strong><br />

<strong>CARLOS</strong>/SP E PELO <strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> SAÚ<strong>DE</strong> II – CACON<strong>DE</strong>/SP.<br />

Marina Ceres Silva Pena<br />

RA: 203742<br />

Trabalho desenvolvido para obtenção do título<br />

de Bacharel em Psicologia, sob a orientação da<br />

Profª Georgina Faneco Maniakas.<br />

<strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong> – SP<br />

<strong>DE</strong>ZEMBRO/2003<br />

2


“A ausência de qualquer projeto, a perda de um futuro, o estar<br />

constantemente em poder dos outros sem o mínimo impulso<br />

pessoal, o ter dividida e organizada a própria jornada sob<br />

tempos ditados só por exigências organizativas... este é o<br />

esquema institucionalizante sobre o qual se articula a vida do<br />

asilo. O doente mental, fechado no espaço apertado da sua<br />

individualidade perdida, oprimido pelos limites que lhe foram<br />

impostos pela doença, é forçado, pelo poder institucionalizante<br />

da internação a objetivar-se nas próprias regras que o<br />

determinam, em um processo de aparvalhamento e de restrição<br />

de si que – originariamente sobreposto à doença – não é sempre<br />

reversível “ (Basaglia, 1964).<br />

3


Agradecimentos<br />

Agradecimentos<br />

Agradecimentos<br />

Agradecimentos<br />

Á minha orientadora, Georgina, pelo apoio, confiança e auxílio<br />

no trabalho realizado durante esses dois anos.<br />

Aos meus amigos, principalmente Alessandra, Aninha e Teresa<br />

pelo apoio nos momentos difíceis; por compartilharem as<br />

alegrias; pela amizade sincera, confiante e por contribuírem (e<br />

muito) no meu crescimento como pessoa, assim como na<br />

escolha dos melhores caminhos.<br />

À minha família, sendo os meus irmãos, Ricardo e Fernando, por<br />

serem como eles são, me ensinando a lidar com as desavenças, e<br />

principalmente aos meus pais, Alfredo e Ceres, pela educação,<br />

moral e ética que me ensinaram, por confiarem na minha<br />

capacidade, sempre apoiando e incentivando minhas decisões e<br />

escolhas.<br />

E acima de tudo à Deus, pela vida saudável e pelas<br />

oportunidades que me proporcionou e proporciona até hoje.<br />

4


Dedicatória<br />

Dedicatória<br />

Dedicatória<br />

Dedicatória<br />

Dedico esse trabalho a todas as pessoas que de uma forma ou<br />

de outra se encontram ou já se encontraram alguma vez<br />

envolvidas com a Saúde Mental, sejam usuários de serviços de<br />

Saúde Mental, familiares, amigos, médicos, enfermeiros,<br />

farmacêuticos, psicólogos ou quaisquer outros. Que este<br />

trabalho possibilite às pessoas repensarem a forma como se lida<br />

com a Saúde Mental hoje em dia, tanto no que diz respeito à sua<br />

história, às ações realizadas, quanto às suas conseqüências.<br />

5


SUMÁRIO<br />

Resumo ......................................................................................<br />

I. Introdução ..................................................................................<br />

II. Justificativa ................................................................................<br />

III. Objetivos ....................................................................................<br />

IV. Metodologia ...............................................................................<br />

Local ............................…........................................................<br />

Participantes …………………………………………………...….<br />

Material ………………………………………………………...…..<br />

Instrumento ……………………………………………………..…<br />

Procedimento …………………………………………………...…<br />

V. Resultados .................................................................................<br />

VI. Discussão ...................................................................................<br />

VII. Conclusão ..................................................................................<br />

VIII. Referências Bibliográficas........................................................<br />

Anexo 1........................................................................................<br />

Anexo 2 .......................................................................................<br />

Anexo 3 .......................................................................................<br />

Anexo 4 ....................................................................................... 82<br />

07<br />

08<br />

19<br />

23<br />

24<br />

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70<br />

71<br />

6


RESUMO<br />

Na antiguidade o homem não se conhecia; as distorções e aberrações da<br />

natureza humana eram entendidas vagamente e, na ausência de qualquer<br />

psicologia, atribuídas às forças e entidades desconhecidas. Mais tarde surgem os<br />

manicômios como lugares de tratamento da loucura, onde impera o princípio do<br />

isolamento social: os internados perdem todas as suas referências de vida, são<br />

excluídos do convívio familiar, do trabalho e do local onde moram, perdendo,<br />

portanto, a subjetividade e a autonomia e a maior garantia que a sociedade moderna<br />

pretende dar a todos, a cidadania.<br />

Com o passar do tempo, o foco do atendimento realizado pelos manicômios<br />

veio se mostrando não somente ineficaz como também segregador e iatrogênico.<br />

Com o objetivo de mudança dessa situação começou a ser realizada uma reforma<br />

psiquiátrica, que consiste em uma série de transformações na assistência em saúde<br />

mental propostas pela chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se<br />

iniciou na Itália com Franco Basaglia e que propõe a substituição do modelo<br />

manicomial pela criação de uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial<br />

e de base comunitária.<br />

Buscando refletir a respeito das práticas substitutivas em Saúde Mental,<br />

torna-se interessante estudar comparativamente uma instituição inserida no contexto<br />

dessa reformulação - o CAPS-São Carlos - e uma outra instituição de atendimento<br />

aos usuários, de caráter exclusivamente ambulatorial – o Centro de Saúde II,<br />

Caconde/SP.<br />

A investigação proposta foi orientada predominantemente, pelos princípios da<br />

pesquisa qualitativa; e sua análise, por meio da abordagem psicossocial.<br />

7


I. INTRODUÇÃO<br />

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde seria um estado<br />

completo de bem-estar físico, mental, social e não somente a ausência de doenças<br />

ou enfermidades (Capra, 1982). Mas saúde é uma experiência subjetiva, algo que<br />

pode ser conhecido intuitivamente, mas nunca descrito ou quantificado; saúde é uma<br />

experiência de bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico que envolve os<br />

aspectos físicos e psicológicos do organismo, assim como sua interação com o meio<br />

ambiente natural e social.<br />

Para Wickert (1998),<br />

“a saúde só se dá quando o sujeito tem possibilidades de traçar o<br />

seu próprio destino, conforme seu desejo, em direção ao seu bem-<br />

estar físico, psíquico e social e que o caminho construído nem<br />

sempre é condizente com a modelagem social (...)” 1<br />

Saraceno (2001-a), entende que saúde mental seja o conjunto de ações de<br />

promoção, manutenção e tratamento referentes à melhora, manutenção ou<br />

restauração da saúde mental de uma população.<br />

A subjetividade é um objeto de pesquisa psicológica, sendo esta um<br />

“sistema complexo de significações e sentidos subjetivos produzidos<br />

na vida cultural humana, se definindo ontologicamente como<br />

diferente dos elementos sociais, biológicos, e de qualquer outro tipo,<br />

relacionados entre si no complexo processo de seu desenvolvimento<br />

individual e social (...) a subjetividade e a cultura são processos<br />

construtivos complexos que ocorrem de forma simultânea; a<br />

subjetividade não é determinada pela cultura; a cultura depende da<br />

subjetividade”. 2<br />

Segundo Pessotti (1994), na antiguidade grega o homem não se conhecia; as<br />

distorções e aberrações da natureza humana eram entendidas vagamente e, na<br />

ausência de qualquer psicologia, atribuídas à forças e entidades desconhecidas.<br />

1 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade., pp. 38.<br />

2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, p.36-37 e 43.<br />

8


Textos do séc.V a.C. como a Ilíada, de Homero ou As Obras e os Dias, de Hesíodo<br />

confirmam essa idéia, uma vez que mostram a intervenção direta e permanente dos<br />

deuses (principalmente Zeus) e dos seus instrumentos (Atê, Moira e Erínias) na vida<br />

dos homens, que roubam ou confundem sua razão e os enlouquecem. Existe uma<br />

clara ambigüidade no conceito de responsabilidade; o homem não se exime<br />

totalmente da responsabilidade de seus atos, pois o que o levou a cometê-los foi sua<br />

iniciativa, mas fica claro que a decisão foi da divindade, uma vez que elas se<br />

apoderam do entendimento a fim de subtrair sua razão; a loucura seria um recurso<br />

utilizado pelas divindades para que suas vontades sempre prevalecessem sobre a<br />

vontade dos homens. A Atê é um estado transitório de insanidade produzida pelos<br />

deuses, uma perda da razão ou da consciência; Moira é a justificativa para os atos<br />

insensatos, os infortúnios da vida individual, os desastres pessoais, os azares;<br />

enquanto as Erínias são os verdadeiros agentes de vingança; já o thymos é uma<br />

espécie de alma funcional; responsável pelas motivações, aprendizagens,<br />

sensações, memória e emoções (mais tarde chamados de comportamento,<br />

personalidade ou vida mental), mas ainda assim não garante autonomia aos homens<br />

De acordo com Pessotti (1994), em Homero, a loucura é um estado de<br />

desrazão, de perda do controle consciente sobre si mesmo, de insensatez, de perda<br />

do contato ordenado com a realidade física ou social, tendo como origem a obra de<br />

Zeus, outros deuses ou de entidades subalternas. Quanto à forma, corresponde à<br />

mania (tida como os furores), à melancolia, aos episódios de insensatez, aos atos<br />

falhos e aos sonhos mais significativos. No que diz respeito à terapia, Homero faz<br />

menção a um pharmakon, uma bebida produto de um ritual humano que acalmaria<br />

as aflições, os tormentos da ansiedade e proporcionaria a aceitação tranqüila das<br />

vontades dos deuses; mas que seu efeito dependeria de agentes externos. O<br />

importante, nessa época, é ressaltar que não há identificação entre loucura e<br />

doença, não havendo, portanto, necessidade de cura, mas sim de uma<br />

reorganização entre o indivíduo e as suas relações com seu grupo social. Nos textos<br />

trágicos, o termo Atê passa a significar não só o estado de espírito que transgride a<br />

ordem, mas também as desgraças reais decorrentes da transgressão, castigo, ruína<br />

devido ao crime, o destino desastroso do criminoso que o conduz a decisões erradas<br />

e fatais. Os principais representantes dessa época são os escritores Ésquilo,<br />

Sófocles, Eurípedes e Orestes. Nas peças trágicas a interferência da divindade vai<br />

cedendo gradualmente o papel de causa aos conflitos de paixões e ao choque entre<br />

o desejo e as normas éticas, e mesmo que os deuses ainda tenham participação no<br />

9


ódio, desejo sexual, inveja ou culpa dos personagens, a loucura é resultante de<br />

conflitos entre paixões, lealdades ou deveres; esses conflitos são pessoais e<br />

cotidianos. Há uma substituição do modelo mítico-teológico por uma visão um pouco<br />

mais racional, a respeito da vontade, das forças das paixões. Na obra de Eurípedes<br />

percebe-se o começo de uma psicologia enquanto concepção de individualidade<br />

intelectual e afetiva, uma vez que ele descobre e revela a natureza do homem como<br />

contraditória, conflitiva e às vezes patológica.<br />

Na obra de Hipócrates, o distanciamento do mito da interferência da divindade<br />

no processo de loucura de extrema: ele passa a entender a loucura como um<br />

desarranjo da natureza orgânica do homem; defende uma posição naturalista oposta<br />

a explicações mitológicas, marcando assim o fim da Medicina sacerdotal na Grécia<br />

Antiga. Demonstra uma grande convicção organicista, o que significa um progresso<br />

na psicopatologia e um retardo do desenvolvimento de uma explicação psicológica e<br />

de uma conseqüente psicoterapia. A loucura enquanto delírio e descontrole seria<br />

somente um sintoma de um desarranjo, desequilíbrio do estado humoral do cérebro<br />

devido a alterações de estado físico dos humores ou de sua localização e<br />

movimentação no interior do corpo. A terapia sugerida por Hipócrates combinava<br />

intervenções do tipo catártico, que visava alterar com mudanças de alimentação e de<br />

hábitos, a economia humoral desequilibrada, sendo que com esses recursos a<br />

doença seria curada com o tempo. Platão (427-348 a.C.) também endossa a teoria<br />

humoral da vida mental e da loucura, de tradição hipocrática, mas com algumas<br />

mudanças; Platão considera a loucura como um desarranjo entre as partes da<br />

psyche, como um desvio da racionalidade do sistema, sendo que há diferentes<br />

loucuras dependendo da parte afetada.<br />

Já Aristóteles (384-322 a.C.) situa a alma racional e a irracional no coração e<br />

não no cérebro, uma vez que acredita que o cérebro não possui participação nas<br />

sensações. O coração viveria do calor vital, e quanto mais se aquecesse melhor<br />

funcionaria, sendo que variações abruptas na temperatura explicariam todas as<br />

formas de loucuras. No período alexandrino, é lançada a idéia de que o centro da<br />

vida psíquica e sensorial não seja o coração, e sim as meninges do encéfalo. Para<br />

Cláudio Galeno (131-200 d.C.), a loucura ainda era um sintoma de um mero<br />

desarranjo no equilíbrio humoral, pnemática; as doenças mentais poderiam ser<br />

imaginativa, racional ou mnemônica, sendo sua sede o cérebro; o conceito de<br />

pneuma, ampliado por Galeno, estabeleceu a base para uma visão psicossomática<br />

da loucura (Pessotti, 1994).<br />

10


É a doutrina demonista que associa a loucura à possessão diabólica e marca<br />

a concepção medieval da psicopatologia, não é apenas um artifício religioso da<br />

época para repreender as heresias e impor a ortodoxia teológica e moral, mas<br />

também uma forma de pensar, que tem suas raízes na própria formação doutrinária<br />

do cristianismo, uma vez que nos três primeiros séculos do cristianismo havia<br />

crenças gnósticas e dualísticas, sendo que no cristianismo propriamente dito, suas<br />

mitologias evoluem de um lado para as divindades pagãs (culto ao demônio) e de<br />

outro para os hereges, instrumentos do demônio, dividindo o mundo em dois reinos:<br />

o do bem e o do mal. Entre os séculos II e III, enquanto alguns entendem o demônio<br />

como o espírito de perversão que existe em nós mesmos, outros pensam os<br />

demônios como anjos decaídos que resistem entre o céu e a terra e os deuses<br />

pagãos como corporificações dos demônios que tentam os homens com magias e<br />

heresias. Com o fanatismo religioso da Idade Média, quase tosos os<br />

comportamentos acabam sendo tidos como suspeitos e gradualmente atribuídos ao<br />

demônio como, inicialmente, a perda de colheitas, os abortos naturais e as<br />

tempestades, sempre produtos de bruxarias (Pessotti, 1994).<br />

Muitas obras foram publicadas com o objetivo de facilitar a identificação dos<br />

que agem por obra do demônio, seja por meios de encantamentos, por terem<br />

condutas estranhas ou poderes anormais para sua condição social. Em 1484 é<br />

publicado o terrível Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas) escrito por Sprenger e<br />

Institor (Heinrich Kramer), destinado a instrumentalizar inquisidores e eclesiásticos<br />

em geral com sólida doutrina demonológica, para capacitá-los a identificar casos de<br />

possessão diabólica ou comércio com o diabo e intervir nesses casos, ou seja,<br />

legitimizar a caça às bruxas, sendo que a característica da loucura é a de considerar<br />

demoníaca praticamente todas os comportamentos aberrantes ou indecentes. Esse<br />

modelo de pensamento copia distorcidamente o modelo mitológico da Grécia antiga,<br />

uma vez que a loucura não é vista apenas como a interferência de entidades<br />

extranaturais, mas também porque é negativa, patológica, estigma de imperfeição e<br />

de culpa; campo de batalha entre o bem e o mal, sendo o homem passivo frente ao<br />

demônio e frente também ao poder do salvador, o exorcista. Essa concepção<br />

demonista cristã exclui as paixões, os instintos e os desejos humanos da etiologia da<br />

loucura, uma vez que tudo isso é obra do demônio; ao homem cabe fugir delas e<br />

culpar-se quando erradas ou entregar-se a elas quando santas. Para o Malleus e<br />

seus congêneres, toda loucura, enquanto delírio ou mero descontrole, é obra do<br />

demônio, por iniciativa própria (possessão e obsessão) ou por pedido de alguma<br />

11


uxa. O texto ainda está repleto de recomendações terápicas como jejuns, orações,<br />

freqüência a igrejas e finalmente o exorcismo para a cura de qualquer fenômeno de<br />

aberração ou bizarrice do comportamento, como a violência física, a excitação<br />

erótica, as alucinações, os meros enganos, as ilusões de óptica, a obstinação, a<br />

mania, a melancolia, a ansiedade, a esterilidade a impotência e a frigidez sexual ou<br />

qualquer outra doença (Pessotti, 1994).<br />

Em 1576 é editado o Compendio dell’Arte Essorcistica, et Possibilita delle<br />

Mirabili et Stupende Operazioni delli Demoni, et Melefici, de Menghius. O Compendio<br />

se destina a leigos e tem como propósito defender as aplicações ortodoxas do<br />

exorcismo contra a difusão de práticas charlatanescas e supersticiosas feitas por<br />

pessoas sem preparação doutrinária sem credenciais canônicas para isso. No<br />

Compendio, assim como no Malleus, não há formulação de uma teoria<br />

demonológica da loucura, mas a desrazão não é vista necessariamente como sua<br />

essência: loucura também é avareza, luxúria, ambição desmedida e desrespeito ao<br />

que é sagrado. Quanto às causas, a loucura é quase sempre devida à ação do<br />

demônio; quanto à natureza, pode ser o comprometimento de funções mentais ou o<br />

descontrole dos instintos ou das paixões, e com relação à classificação, são vários<br />

os casos clínicos descritos, como de paralisia histérica e melancolia, onde o<br />

tratamento é sempre o exorcismo (Pessotti, 1994).<br />

Segundo Pessotti (1994), nos séculos XV e XVI, a loucura passa a ser<br />

elaborada sob influência do organicismo pneumático e da doutrina da alma ou da<br />

mente. Para Zacchias, qualquer demência pode ser devida à diminuição<br />

(imbecilidade, estultice, fraqueza de espírito e amnésia), depravação (delírio) ou<br />

perda da função mental (loucura: mania, melancolia, furor, licantropia amor<br />

insensato e melancolia hipocondríaca). Já Plater, refletindo a visão médica galênica,<br />

descreve a doença mental como lesão da inteligência (razão, imaginação e<br />

memória), podendo resultar num défict (fraqueza mental ou abolição da mente) ou<br />

numa depravação (esgotamento, estafa mental, alienação mental ou extravio da<br />

inteligência). Para Plater, a loucura pode derivar de causas físicas, passionais ou<br />

internas, onde se inclui a possessão demoníaca, iniciando assim uma tendência a<br />

dar maior ênfase ao delírio e menor interesse na bizarrice dos comportamentos e<br />

nas distorções perceptivas.<br />

É nessa época também que se dá abertura ao enfoque iatroquímico e<br />

iatromecânico, a primeira negação da origem sobrenatural das doenças, uma vez<br />

que as explicações são fornecidas em termos da química e mecânica dos humores,<br />

12


de acordo com a tradição hipocrática. Na concepção de Descartes não há um<br />

componente psicológico na etiologia da loucura; sua natureza é o desgarramento do<br />

espírito, o erro de julgamento das coisas durante a vigília;e seus tipos são a mania e<br />

a melancolia. A loucura passa a ser tida como uma doença natural como as outras<br />

doenças; isso facilita o caminha para uma abordagem científica do desvario e do<br />

descontrole emocional (Pessotti, 1994).<br />

São criados os manicômios, termo genérico usado para classificar hospícios,<br />

asilos, hospitais psiquiátricos e demais lugares de tratamento da doença mental que<br />

se valem do princípio do isolamento do louco da sociedade. O ambiente do<br />

manicômio é um lugar aonde os internados perdem todas as suas referências de<br />

vida: são excluídos do convívio familiar, do trabalho, do local onde moram, da<br />

cidade; perdem, portanto, a maior garantia que a sociedade moderna pretende dar a<br />

todos: a cidadania; tem origem na cultura árabe, datando o primeiro hospício<br />

conhecido do século VII, sendo os primeiros hospícios europeus criados no século<br />

XV. Nos tratamentos buscava-se dar um "choque" no paciente, fazer com que<br />

passasse por uma sensação intensa, que o tirasse de seu estado de alienação;<br />

eram correntes as práticas de sangria, de isolamento em quartos escuros, de<br />

banhos de água fria, além dos aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse<br />

em macas ou cadeiras durante horas para que perdesse a consciência.<br />

Com a Revolução Industrial, a necessidade de aproveitamento de mão de<br />

obra para a produção, intensificou a necessidade de excluir do corpo social todo<br />

aquele que não pudesse produzir; internam-se nos manicômios, então, não somente<br />

os loucos, mas também os inválidos de todos os gêneros, os velhos, os nobres<br />

decadentes e esbanjadores, estes últimos, sobretudo para que não dessem o mal<br />

exemplo a uma sociedade trabalhadora. No Brasil, o primeiro hospício foi inaugurado<br />

pelo imperador D. Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1852.<br />

A psicopatologia do século XIX caracteriza-se pela pesquisa médica dispersa<br />

em uma pluralidade de linhas teóricas, muitas mutuamente exclusivas. Ao longo<br />

desse período, a etiologia diabólica da loucura vai sendo progressivamente<br />

eliminada; explicações humoristas vão perdendo a importância e as especulações<br />

fisiológicas procuram harmonizar dados da observação clínica; os distúrbios de<br />

comportamento começam a ser analisados e discriminados entre tipos diferentes de<br />

loucuras e as perturbações intelectuais e cognitivas passam a ter importância<br />

fundamental no diagnóstico.<br />

13


De acordo com Pessotti (1994), em 1801 é publicado o Traité Médico-<br />

Philosophique sur l’aliénation mentale, de Pinel, obra esta que inaugura a psiquiatria<br />

como especialidade médica. Para ele, a loucura é entendida como comprometimento<br />

ou lesão do intelecto e da vontade, se manifestando no comportamento do paciente<br />

sob as mais variadas formas. As grandes formas da alienação mental seriam<br />

loucura, mania, melancolia, demência e idiotia, podendo ser herdada, resultado das<br />

influências de uma educação corrompida sobre a perda de razão, produto da<br />

menopausa ou das paixões ardentes, como conflitos, frustrações, hábitos, gostos,<br />

vícios e repressão do desejo. O diagnóstico implica na sapiência da história de vida<br />

anterior do paciente; da observação prolongada, rigorosa e sistemática das<br />

mudanças biológicas, das atividades mentais e de comportamento social deste. A<br />

psicoterapia de Pinel se resume num diretor espiritual e num regime físico e moral<br />

para eliminar a alienação mental. A contribuição do Traité está na mudança de<br />

atitude metodológica da medicina diante o paciente alienado; a doutrina de Pinel,<br />

moralista e pedagógica, deriva numa prática terapêutica de encorajamento e<br />

repressão, eventualmente eficaz para os propósitos de reinserção do paciente na<br />

vida social.<br />

A partir dos anos 50, com surgimento dos psicofármacos e o conseqüente<br />

esvaziamento dos hospícios, tem início uma nova perspectiva para o tratamento dos<br />

doentes mentais. No entanto algumas dificuldades já são observadas: as causas das<br />

doenças mentais ainda não são claras, o que compromete uma abordagem<br />

terapêutica realmente eficaz; as várias formas de compreender a loucura, fruto de<br />

variados pressupostos teóricos, leva a uma pluralidade no atendimento que torna<br />

difícil a comparação de eficácia; a própria clientela desses serviços tem<br />

peculiaridades: a doença mental, diferentemente de outras doenças, não cursa<br />

necessariamente com dor e sofrimento; o doente não sabe que está doente, alguém<br />

lhe confere esse status; as internações compulsórias transformam esses indivíduos,<br />

assim, em não-cidadãos, pessoas desqualificadas no seu poder de verbalizar<br />

reivindicações, por serem social e moralmente ilegítimas.<br />

Assim, o hospital psiquiátrico, ou hospício, acabou se tornando: (1) um meio<br />

para obtenção de licença na Previdência Social; (2) um lugar de repouso, de<br />

restauração da energias, das populações de baixa renda; (3) abrigo e asilo para os<br />

sem lar e sem família; (4) casa correcional para toxicômanos perturbadores; (5)<br />

espaço onde se exerce o “comércio da loucura” , com os pacientes (sobretudo<br />

alcoólatras) que internam-se periodicamente, gerando lucro para os donos dos<br />

14


hospitais. Mas o hospício se revela mais perverso na medida em que ao invés de<br />

recuperar, confirma e reforça a doença mental; o hospício traz embutido em seu<br />

papel o lento processo de “mortificação do Ego” dos que nele estão internados.<br />

Segundo Pessotti (1994), a confusão doutrinária das últimas décadas do<br />

século XIX gera vários absurdos terapêuticos; há uma desorientação geral da teórica<br />

médica quanto à etiologia e conseqüentemente da terapêutica da loucura; há o<br />

desaparecimento do modelo mitológico religioso e destaca-se o organicismo que<br />

incentiva a busca por maiores explicações das funções orgânicas, culminando num<br />

conflito entre o modelo organicista clássico e um modelo médico biopsicossocial,<br />

que por sua vez, testemunha a fragmentação e o paralelismo da teoria psiquiátrica,<br />

já que aquilo que não se explica com o “bio”, se explica com o “psico” e/com o social,<br />

gerando uma espécie de ilusão e impotência terapêutica (Saraceno, 2001-a).<br />

Para Wickert (1998),<br />

“no pensar coletivo atual, louco é aquele que não tem razão, que dá<br />

medo, que não controla seus próprios impulsos, escapando aos<br />

padrões sociais a serem seguidos e mantidos, necessitando, então,<br />

de tratamento especializado (...) Como o insano não é<br />

controlável/suportável nos termos morais, a razão coexiste com a<br />

loucura em contraposição, assim quem tem a razão não é louco e<br />

quem é louco não tem a razão.” 3<br />

Segundo Dittrich (1998),<br />

“será sempre em relação a uma ordem de ‘normalidade’,<br />

‘racionalidade’ ou ‘saúde’ que a loucura é concebida nos quadros de<br />

‘anormalidade’, irracionalidade’ ou ‘doença’ ”. 4<br />

A prática de submeter o paciente psiquiátrico às instituições manicomiais são<br />

práticas que visam moldar a conduta do sujeito sem levar em consideração o seu<br />

desejo, a sua subjetividade, num único objetivo de exclusão, a massificação e a<br />

dominação social. Os loucos passam a ser enclausurados em um lugar delimitado e<br />

afastado, para que os ditos como sãos saibam a história do sofrimento psíquico<br />

3 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade, pp. 39.<br />

4 Dittrich, 1998. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação, pp. 52.<br />

15


desses doentes, saibam quais males os ameaçam e busquem maneiras de evitar tal<br />

sofrimento, nascendo dessa estrutura os manicômios, lugares onde se despejavam<br />

aquelas pessoas que a sociedade, apesar de produzir, rejeitava (Wickert, 1998).<br />

Para Goffman (1996) apud Wickert (1998), os manicômios assim como as<br />

prisões, os conventos, os quartéis e as casas de recolhimento de indigentes são<br />

instituições totais, uma vez que as instituições totais são caracterizadas por locais<br />

onde as atividades são realizadas num mesmo local e sob uma única autoridade;<br />

todas as pessoas são tratadas da mesma forma e obrigadas a realizar tarefas em<br />

conjunto, sendo estas rigorosamente organizadas por um sistema de regras formais<br />

explícitas e por um grupo de funcionários. Além disso, há uma divisão básica e de<br />

pouca mobilidade social entre o grupo de internados e a equipe de supervisão. Na<br />

estrutura manicômio-instituição total, uma estufa para mudar pessoas, o paciente é<br />

obrigado a despir-se não só das suas roupas, mas também da sua história, sua<br />

subjetivação, sua individualidade, tornando-se apenas um simples número ou uma<br />

categoria da CID-10.<br />

Com o processo de internação, as barreiras que separam o manicômio do<br />

mundo externo acarretam perdas de papéis sociais e a aquisição de um padrão de<br />

comportamento homogeneizado a ser seguido, sendo uma agressão à subjetividade<br />

e à individualidade do paciente, além da perda do rótulo de saudável, de quem “tem<br />

a razão”, pois dizer socialmente “doente mental” é sê-lo para o resto da vida,<br />

condicionando o passado e o futuro do sujeito e marcando-o para toda a vida<br />

(Wickert, 1998).<br />

Segundo Saraceno (2001-a), os anos 70 se caracterizaram pela idéia de que<br />

a psiquiatria seria um conjunto de técnicas terapêuticas a serem aprendidas a fim de<br />

escolher aquela mais convincente, além da manutenção da idéia equivocada de<br />

cientificidade, na qual<br />

“científico é tudo aquilo que se exprime com categorias do<br />

quantitativo, que se refere a modelos claros e distintos, que exclui a<br />

subjetividade”. 5<br />

No entanto, como expressar em categorias puramente quantitativas um<br />

fenômeno cujo objeto às vezes é e as vezes não é alguma coisa ? 6<br />

3 Saraceno, 2001-a. Libertando Identidades, pp.13.<br />

6 Simanke, 1997, Loucura e Psicose: a abordagem psicanalítica. Apostila.<br />

16


Partindo da análise do discurso comum, Simanke (1997) observa que o termo<br />

loucura, longe de seu significado psicopatológico atual, formou uma rede ou campo<br />

de significações, do qual se alimentaram, posteriormente, os discursos mais<br />

organizados. A denominação “loucura” não representa nada de específico. Ela<br />

somente vai sofrer uma determinação estreita ao ver-se apropriada de formas de<br />

conhecimento mais organizadas, a partir dos parâmetros que definem as diversas<br />

teorias, adquirindo, somente desse modo, um sentido próprio, mas que permanece<br />

circunscrito a essa dada disciplina 7 .<br />

Somente quando a psiquiatria se impõe como o campo de domínio das<br />

doenças mentais, é que a loucura passa a se restringir ao significado “científico” que,<br />

hoje, lhe é atribuído.<br />

No entanto, ainda segundo Simanke (1997), o significado “científico” da<br />

loucura nasceu de práticas sociais mais ou menos simétricas à maneira como o<br />

fenômeno era percebido. O autor nota que tais práticas,<br />

“desencadeadas pelos aspectos mais superficiais das<br />

manifestações, podiam ser exercidas sem necessidade de entrar no<br />

mérito da natureza última dos fenômenos em foco; em outras<br />

palavras, ao menos nesse caso, a ação precedeu a reflexão” 8 .<br />

Inspirado por algumas noções gerais foucaultianas, o autor arrisca um esboço<br />

de definição dizendo que<br />

“histórica e culturalmente, a loucura identifica-se com um certo<br />

campo de discursos, que emergem de práticas sociais e/ou<br />

institucionais mais ou menos concretas.” 9<br />

Tais práticas foram rapidamente institucionalizadas, e foi através de um<br />

modelo hospitalocêntrico para o tratamento das doenças mentais que chegaram até<br />

nós.<br />

A Reforma Psiquiátrica consiste em uma reação a essa modelo, por meio de<br />

uma série de transformações na assistência em saúde mental propostas pela<br />

chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se iniciou na Itália com<br />

7 Simanke (1997), p. 5<br />

8 Idem, ibid, p. 6<br />

17


Franco Basaglia e teve seus primeiros momentos no Brasil a partir do final da<br />

década de 70, se intensificando ao longo dos anos 80, 90 e 2000. Este movimento<br />

reúne diversos atores sociais como usuários de serviços de saúde mental, seus<br />

familiares e técnicos da área de saúde; não pretende acabar com o tratamento<br />

clínico da doença mental, mas sim eliminar a prática do internamento como forma de<br />

exclusão social dos indivíduos portadores de transtornos mentais. Propondo, para<br />

isso, a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços<br />

territoriais de atenção psicossocial, de base comunitária. A extinção dos manicômios<br />

deve ser gradual, sendo que para que isso ocorra, foi aprovada uma Lei Federal de<br />

Saúde Mental em abril de 2001 (após 12 anos de tramitação no Congresso), que<br />

regulamenta o processo de Reforma a Assistência Psiquiátrica no Brasil.<br />

9 Idem, ibid, p. 7<br />

18


II. JUSTIFICATIVA<br />

A partir da década de 70, percebe-se no país alguns movimentos de crítica ao<br />

modelo hospitalocêntrico no que se refere à assistência psiquiátrica, sendo a<br />

exclusão e a violência nos manicômios pautas de discussões que reivindicavam os<br />

direitos dos doentes mentais. Os principais questionamentos eram relacionados à<br />

natureza do modelo privatista e à sua incapacidade de produzir um atendimento que<br />

contemplasse as necessidades de seus usuários, mas ainda não havia um modelo<br />

muito claro nem uma proposta de intervenção clínica. Já na década de 80, período<br />

marcado pela ditadura, o movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil ganha<br />

importância política e social, possibilitando mudanças na saúde, permitindo a<br />

participação de outros setores que não médicos, enfatizando críticas às noções de<br />

clínica e cidadania, ambas ancoradas a uma concepção universal do sujeito onde a<br />

normalidade deve ser reconstituída. A construção de um novo espaço social para a<br />

loucura exigia não só que a noção de cidadania e a base do saber psiquiátrico<br />

fossem colocados em debate, mas também a invenção de novos locais,<br />

instrumentos técnicos, terapêuticos e novos modos de estabelecer relações com<br />

esses sujeitos (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).<br />

Nesse período foi muito importante a influência da psiquiatria democrática<br />

italiana, propondo o questionamento da suposta universalidade do racionalismo<br />

científico das psiquiatrias; usuários e familiares passaram a reivindicar mais<br />

intensamente por outras possibilidades de atenção assim como espaços, avanços<br />

técnicos e formas de reabilitação psicossocial. Começaram a ser implantados os<br />

hospitais-dia, mas só nos anos 90 foram criados e consolidadas propostas como os<br />

Centros de Assistência Psicossocial (CAPS), os Núcleos de Atenção Psicossocial<br />

(NAPS) e os Lares Abrigados (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).<br />

Originada do grego, a palavra autonomia surgiu para designar a capacidade<br />

de um indivíduo de se autodeterminar, de se auto-realizar (Santos, Almeida &<br />

Venâncio, 2000). Para Kinoshita (2001), autonomia seria<br />

“a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a sua vida,<br />

conforme as diversas situações que enfrente (...) não se trata de<br />

19


confundir autonomia com auto-suficiência nem com independência.”<br />

10<br />

No campo da saúde mental, entretanto, seu conceito parece ser mais<br />

impreciso, uma vez que os sujeitos se tornam destituídos de todo e qualquer valor<br />

ao receber o atributo de doente mental, além da dúvida de se as instituições que<br />

utilizam novos dispositivos contrários àqueles do tradicional manicômio, propiciarem<br />

ou não a produção de autonomia para os usuários que se beneficiam do tratamento<br />

(Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Aqui, se torna muito importante a questão da<br />

reabilitação psicossocial.<br />

Para a OMS, segundo Pitta (2001-a), a reabilitação psicossocial seria<br />

“o conjunto de atividades capazes de maximizar oportunidades de<br />

recuperação de indivíduos e minimizar os efeitos desabilitantes da<br />

cronificação das doenças através do desenvolvimento de insumos<br />

individuais, familiares e comunitários”. 11<br />

Segundo Pitta (2001-b), reabilitação psicossocial<br />

“implica numa ética de solidariedade que facilite aos sujeitos com<br />

limitações para os afazeres cotidianos, decorrente de transtornos<br />

mentais severos e persistentes, o aumento da contratualidade<br />

afetiva, social e econômica que viabilize o melhor nível possível de<br />

autonomia para a vida na comunidade.” 12<br />

Já Kinoshita (2001) pensa que reabilitação seria a reconstrução dos valores, o<br />

aumento do poder contratual do usuário; a criação de condições para que o paciente<br />

possa participar do processo de trocas sociais; a produção de dispositivos que<br />

mudem o pressuposto de desvalor natural; em suma, um processo de restituição do<br />

poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia.<br />

Complementando a idéia, Saraceno (2001-b) afirma que<br />

10 Kinoshita, 2001. Contratualidade e reabilitação psicossocial, pp. 57.<br />

11 Pitta, 2001-a. O que é reabilitação social no Brasil, hoje?, pp. 21.<br />

20


“o processo de reabilitação seria, então, um processo de<br />

reconstrução, um exercício pleno da cidadania, e, também, de plena<br />

contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e<br />

trabalho com valor social.” 13<br />

Marques (2001), ainda define como metas da reabilitação<br />

“prevenir e/ou reduzir incapacitações ou perda de habilidades;<br />

restaurar habilidades potenciais em desempenhar papéis sociais;<br />

fortalecer habilidades latentes e dignidades potenciais; facilitar<br />

adaptação social e psicológica aos efeitos de prejuízos sociais na<br />

vida do indivíduo; minimizar a deterioração; capacitar níveis ótimos<br />

de autodeterminação, execução de responsabilidades pessoais e<br />

independentes, melhorar o sentido de bem-estar da pessoa.” 14<br />

A reabilitação deve ser a principal característica da psiquiatria; um<br />

“entretenimento” do doente. Tendo em vista que entreter significa “ter dentro” e<br />

também “passar prazerosamente o tempo”; na espera de que o doente morra ou que<br />

a doença se cure sozinha, o significado empregado pode ser o de que o doente<br />

“fique dentro” do hospital psiquiátrico, nas alas, nas enfermarias, nas salas de<br />

contenção, na violência e na miséria; ou então o de que o doente também pode ser<br />

entretido com conversas, com oficinas terapêuticas, em um hospital dia e/ou no meio<br />

da sua própria família, adotando assim o sentido de inserção em um sistema onde a<br />

espera é de melhora. É importante também conhecer as ações que contribuíram<br />

para a melhora do paciente, pois assim talvez fosse verificado que as ações formais<br />

não são especialmente influentes sobre a evolução das doenças; que a psiquiatria<br />

clínica com suas terapêuticas constitui um conjunto de entretenimentos danosos ou<br />

indiferentes, raramente úteis. A ruptura deste entretenimento não é apenas uma<br />

ruptura à prática da psiquiatria, mas também uma busca de caminhos que confluam<br />

para a reconstrução da cidadania plena do paciente psiquiátrico, sendo esta não só<br />

a restituição de seus direitos formais, como também a construção afetiva, relacional,<br />

material, habitacional e produtiva dos seus direitos substanciais (Saraceno, 2001-a).<br />

12 Pitta, 2001-b. Prefácio à 1ª edição, pp. 9.<br />

13 Saraceno, 2001-b. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio, pp. 16.<br />

21


É buscando refletir sobre as práticas substitutivas em Saúde Mental que o<br />

presente trabalho realizou um estudo comparativo entre o encaminhamento dado<br />

aos usuários que procuram os serviços de saúde mental em duas unidades de<br />

saúde mental. Uma delas, o CAPS-São Carlos, inserido no contexto de reformulação<br />

da atenção em Saúde Mental e pretendendo ser um serviço que de alguma forma<br />

venha a inaugurar o “novo” em termos de atendimento ao doente mental, e o Centro<br />

de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP, que funciona em<br />

esquema ambulatorial tradicional.<br />

Para tal, este estudo caracterizou, por meio da consulta aos Prontuários, o<br />

tratamento oferecido à população atendida, o tipo de demanda, assim como a<br />

questão da construção da autonomia dos sujeitos psicóticos atendidos pelos<br />

serviços, sempre considerando as características próprias de cada serviço.<br />

A indagação é pertinente, pois a discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos<br />

psicóticos põe em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria,<br />

além de, depois aproximadamente uma década de implantação dos “novos<br />

serviços”, parece ser este um bom momento para refletir e avaliar as possíveis<br />

transformações no campo da Atenção em Saúde Mental.<br />

14 Marques, 2001. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica, pp. 107.<br />

22


III. OBJETIVOS<br />

OBJETIVO GERAL: realizar uma comparação descritiva entre o<br />

encaminhamento oferecido aos usuários dos serviços de Saúde Mental no<br />

CAPS de São Carlos-SP e o Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do<br />

Valle”, em Caconde-SP, de acordo com os recursos disponíveis em cada<br />

serviço.<br />

OBJETIVO ESPECÍFICO: caracterizar a população atendida e o tipo de<br />

demanda.<br />

23


IV. METODOLOGIA<br />

Segundo Capra (1982), a influência do paradigma cartesiano (concepção<br />

mecanicista da vida) sobre o pensamento médico resultou no modelo da moderna<br />

medicina científica, onde o corpo humano é considerado uma máquina que pode ser<br />

analisada em termos de suas peças; a doença é tida como um mau funcionamento<br />

dos mecanismos biológicos, que são estudados do ponto de vista da biologia<br />

molecular; o papel dos médicos é intervir, física ou quimicamente, para consertar o<br />

defeito no funcionamento de um mecanismo específico enguiçado. O paradigma<br />

biomédico reduz as doenças às causas biológicas. Em se tratando das doenças<br />

mentais, postula uma relação linear de causalidade entre danos do sistema nervoso<br />

e o surgimento das doenças mentais, considerando que os tratamentos das doenças<br />

não são outro que modificações (essencialmente farmacológicas) da função cerebral<br />

alterada.<br />

A abordagem biopsicossocial procura contemplar o processo de saúde-<br />

doença como uma relação contínua entre fatores biológicos, psicológicos e sociais<br />

(agora também espirituais). Fatores macrossociais, diferenças culturais, eventos<br />

externos (guerras, desastres), condições sócio-econômicas (desemprego, recessão<br />

econômica, condições de insuficiente suporte social, ambientes psicológicos<br />

adversos) e contextos microssociais (família) são todos importantes no surgimento e<br />

na evolução de muitas das doenças psiquiátricas (Saraceno, 2001-a).<br />

Segundo Rey (2002) e apoiando a abordagem biopsicossocial, o<br />

conhecimento estaria ligado à cultura, à organização social e à “práxis histórica”,<br />

sendo não só condicionado, determinado e produzido, mas também condicionante,<br />

determinante e produtor.<br />

O que ainda vem acontecendo ultimamente é que o papel biológico vem<br />

dominando o modelo de assistência à saúde mental. O ideal seria uma relação não<br />

simplesmente somatória, mas interativa entre as dimensões biológica, psicológica e<br />

social, sem deixar quer um dos aspectos fosse dominante sobre os outros, pois a<br />

abordagem biopsicossocial não exclui, evidentemente, a biológica, mas coloca em<br />

crise o paradigma biomédico, mostrando sua ineficácia e deterioração.<br />

O presente estudo tomou predominantemente como referência a luta<br />

antimanicomial, os princípios que norteiam a reforma à assistência psiquiátrica no<br />

Brasil e as orientações da pesquisa qualitativa, sendo que esta última, segundo Rey<br />

(2002)<br />

24


Local<br />

“enfatiza tanto a compreensão da pesquisa qualitativa como processo<br />

dialógico que impede tanto o pesquisador, como as pessoas que são<br />

objetos da pesquisa, em sua condição de sujeito do processo; (...) a<br />

busca de grandes narrativas vai sendo substituída por teorias mais<br />

locais e de pequena escala. Centradas em problemas e situações<br />

específicas (...). A definição do qualitativo na pesquisa psicológica não<br />

é uma questão instrumental, nem tampouco uma questão definida<br />

pelo tipo de dados que devem ser incluídos, mas que se define<br />

essencialmente pelos processos implicados na construção do<br />

conhecimento, pela forma de se produzir o conhecimento”. 15<br />

O estudo foi realizado no CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) de São<br />

Carlos-SP e no Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-<br />

SP.<br />

CAPS<br />

Inicialmente somente o Centro Municipal de Especialidades oferecia uma<br />

tímida atenção à Saúde Mental pública à cidade de São Carlos, oferecendo um<br />

serviço basicamente ambulatorial ao doente mental. Devido à grande demanda,<br />

ocorriam problemas que comprometiam a qualidade do tratamento, como<br />

agendamento de consultas e retornos com longos intervalos de espera, marcação<br />

das consultas num único horário, falta de prévia informação ao paciente tanto sobre<br />

a ordem das consultas, quanto à questões de prevenção, sintomatologias das<br />

doenças,procedimentos de emergência, características e adequação dos serviços e<br />

tratamentos disponíveis. Tais circunstâncias tornava-os apreensivos e inseguros,<br />

inviabilizando atuações na manutenção da saúde, autonomia e qualidade de vida.<br />

Sendo observada a falta de recursos adequados encontrados no Centro<br />

Municipal de Especialidades e o alto índice de internações, demonstrando o atraso<br />

de São Carlos em relação às cidades vizinhas, iniciou-se um processo de mudanças<br />

que visava adequar a prestação de serviços em Saúde Mental às tendências de<br />

vanguarda, intervindo com a comunidade, os usuários, os profissionais e a<br />

instituição.<br />

25


Essas mudanças iniciaram com a proposta de um serviço de Sala de Espera<br />

do Corredor de Saúde Mental do Centro Municipal de Especialidades, onde<br />

estagiários da <strong>UFSCar</strong> objetivavam o espaço necessário à orientação de usuários,<br />

acompanhantes e familiares, visando, basicamente o resgate da cidadania e a<br />

reabilitação psicossocial. Isso se deu através de diálogos informativos e orientações<br />

aos usuários, familiares e acompanhantes; exposição dos usuários a situações do<br />

contato social que favorecessem a expressão, além de uma maior interação entre<br />

usuários e membros da equipe de Saúde mental.<br />

Durante o desenvolvimento do Projeto de Atendimento em Sala de Espera, o<br />

contato diário com a realidade do serviço no Corredor de Saúde Mental do Centro<br />

Municipal de Especialidades, com profissionais e usuários, possibilitou aos membros<br />

envolvidos a efetuação de um diagnóstico institucional que apontava a insuficiência<br />

desse serviço (os usuários faziam uso prolongado e contínuo de medicamentos sem<br />

acompanhamento adequado, havia ausência de recursos para serviços alternativos<br />

à hospitalização, carência dos usuários de informações e necessidade de outras<br />

abordagens terapêuticas), assim como a necessidade de reorganizar os serviços de<br />

Saúde Mental do município promovendo mudanças que realmente levem à<br />

reabilitação do usuário, como a implantação de um CAPS, serviço que vem sendo<br />

utilizado com grande eficiência em diversas localidades.<br />

De uma parceria entre a <strong>UFSCar</strong> e a Secretaria Municipal de Saúde foi<br />

iniciada a construção do projeto de implementação do CAPS, que tinha como<br />

principais objetivos:<br />

• Identificar a forma de organização comunitária, os padrões culturais e sociais,<br />

suas formas potenciais e manifestas de expressão, dentro da área de atuação<br />

e abrangência do usuário;<br />

• Estimular a participação de voluntários da comunidade no serviço proposto;<br />

• Instituir o Plano Terapêutico Individual (PTI) visando a<br />

construção/resignificação dos projetos de vida de cada indivíduo, o<br />

reconhecimento do usuário como cidadão, reconhecimento da capacidade<br />

crítica e a participação do usuário na definição de seu plano terapêutico;<br />

• Criar e manter grupos de acolhimento, em substituição ao serviço de<br />

Atendimento em Sala de Espera;<br />

• Criar oficinas Terapêuticas;<br />

• Criar cooperativas de trabalho;<br />

2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, pp. ix, 6 e 24.<br />

26


• Criar a Associação de Usuários e Familiares;<br />

• Utilizar os meios de comunicação para divulgar o trabalho do CAPS,<br />

ampliando, assim, as possibilidades de inserção dos usuários na comunidade;<br />

• Promover eventos culturais com a participação dos usuários;<br />

• Manter contato permanente com serviços de excelência em Saúde Mental, a<br />

fim de promover troca de conhecimentos, intervenções, pesquisas e<br />

estabelecer critérios comparativos;<br />

• Criar um Núcleo de atenção à Crise<br />

• Criar um Núcleo de Ensino e Pesquisa do CAPS.<br />

O CAPS, apesar de recentemente implantado (março/2002) na cidade de São<br />

Carlos, já presta serviços a uma demanda considerável, uma vez que a cidade<br />

possui quase 200.000 habitantes e ainda é referência regional, atendendo então,<br />

não somente sua população, mas também a população das cidades vizinhas (como<br />

Ibaté, Água Vermelha, Dourado, Ribeirão Bonito, entre outras). O CAPS - São Carlos<br />

oferece tanto o serviço gratuito de fornecimento de medicamentos, de atendimento<br />

médico (diagnóstico psiquiátrico ou neurológico e “troca de receitas”) como<br />

atendimento psicológico, de enfermagem, de terapia ocupacional, de serviço social,<br />

de oficinas terapêuticas e até a permanência de determinados períodos do dia para<br />

os casos mais graves, dependendo do tratamento (intensivo e semi-intensivo).<br />

Centro de Saúde<br />

Já o Centro de Saúde II - Caconde, apesar de ter sofrido recentemente uma<br />

pequena reestruturação no Serviço de Saúde Mental, possui um tipo de serviço<br />

totalmente diferente do realizado nos CAPS em geral, pois oferece um serviço mais<br />

emergencial como fornecimento de medicamentos gratuitamente, consultas com<br />

médico psiquiatra (para diagnóstico e “troca de receitas”) e em alguns casos<br />

encaminhamento para o psicólogo. Além da diferença do tipo de serviço oferecido, é<br />

preciso destacar que a população atendida é bem menor, uma vez que a população<br />

de Caconde é de aproximadamente 20.000 habitantes e a cidade não é referência<br />

regional para nenhum assunto referente à saúde.<br />

Tendo em vista que as duas instituições apresentam diversas diferenças entre<br />

si, somente torna-se viável a realização de um estudo comparativo em relação ao<br />

tipo de encaminhamento oferecido aos usuários se todas essas diferenças puderem<br />

ser consideradas e explicitadas no estudo em questão, realizando, para isso, análise<br />

27


do projeto para implantação e estruturação de ambos os tipos de serviços de<br />

atendimento aos doentes mentais; levantamento dos recursos terapêuticos<br />

oferecidos (como consultas médicas, psicoterapias, oficinas terapêuticas, entre<br />

outros); assim como análise dos prontuários dos usuários dos serviços.<br />

Participantes<br />

Participaram do estudo os usuários do Serviço de Saúde Mental do Centro de<br />

saúde II “Dr. Sebastião ribeiro do Valle”, além dos usuários intensivo e semi-<br />

intensivo do CAPS através dos dados contidos nos prontuários, uma vez que não<br />

houve interação direta nem com os usuários nem com os prestadores de serviço, de<br />

qualquer forma que seja.<br />

Material<br />

Durante a fase de coleta de dados foram utilizadas várias cópias do<br />

instrumento-base para a análise dos prontuários, além dos prontuários em questão e<br />

caneta para as anotações. Para o tratamento dos dados foi utilizado<br />

microcomputador.<br />

Instrumento<br />

Foi estruturado um formulário específico (Anexo 1) para o estudo em questão.<br />

Este instrumento consta de vários dados levantados através dos prontuários<br />

dos usuários do CAPS – São Carlos e do Centro de Saúde II – Caconde, como o<br />

Serviço que está utilizando; número do prontuário; iniciais do usuário; sua idade;<br />

data de nascimento; local de nascimento (cidade, estado e país); endereço atual<br />

(bairro e cidade); escolaridade; profissão; data de admissão no serviço em questão;<br />

queixa de entrada; descrição dos principais sintomas; casos de antecedentes<br />

familiares; hipótese diagnóstica; medicação em uso; número de internações<br />

psiquiátricas, assim como locais e datas; outras doenças e/ou medicações<br />

associadas; se recebe benefício do INSS; quais os atendimentos terapêuticos<br />

recebidos como psicoterapia ou terapia ocupacional; qual a modalidade desses<br />

atendimentos terapêuticos recebidos, como em grupo, individual ou ambas; qual a<br />

freqüência (uma, duas ou três vezes/semana); se recebe acompanhamento<br />

psiquiátrico; se participa de alguma atividade terapêutica em oficinas, sendo que em<br />

caso positivo quais seriam essas oficinas; qual o último encaminhamento recebido,<br />

assim como sua data; a evolução clínica do usuário; outros achados não<br />

28


contemplados pelas questões acima; data de consulta ao prontuário; nome da<br />

pesquisadora e assinatura da mesma.<br />

Procedimento<br />

Após a concordância de ambas as instituições por meio da assinatura do<br />

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2) por seus responsáveis, o<br />

projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da <strong>UFSCar</strong> (Anexo 3). Aprovado<br />

(Anexo 4), iniciou-se a fase de coleta de dados.<br />

A pesquisadora passou a ir diariamente nos serviços, durante um período de<br />

aproximadamente três meses, para coletar os dados dos prontuários.<br />

Para selecionar os prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do<br />

Centro de Saúde II - Caconde, foi necessário recorrer a um caderno onde eram<br />

agendadas as consultas com o psiquiatra, uma vez que não havia nenhuma outra<br />

fonte de registro dos usuários desse tipo de serviço. Sendo assim, foram anotados<br />

os nomes e os respectivos números de registro dos pacientes que receberam<br />

atendimento psiquiátrico de janeiro à julho de 2003, para que estes pudessem<br />

posteriormente ser analisados.<br />

No Centro de Saúde, a pesquisadora responsabilizou-se pela retirada e<br />

devolução dos prontuários, estando estes organizados de forma numericamente<br />

crescente. Já no CAPS – São Carlos, os prontuários dos usuários intensivos e semi-<br />

intensivos estavam localizados em pastas específicas (denominadas Intensivo<br />

Feminino, Intensivo Masculino, Semi-intensivo Feminino e Semi-Intensivo<br />

Masculino), sendo que também havia uma atendente que localizava os prontuários<br />

que não se encontravam nessas pastas (caso de usuários que faleceram ou já<br />

haviam recebido alta).<br />

Com os prontuários em mãos, para cada usuário foi utilizado um instrumento<br />

de base de coleta de dados. No Centro de Saúde II – Caconde, esse preenchimento<br />

realizado invariavelmente em uma mesma sala de uso médico que se encontrava<br />

desocupada; bem iluminada, ventilada e com a porta fechada para evitar ruídos e<br />

interrupções. Já no CAPS – São Carlos, o preenchimento foi realizado em diversos<br />

locais, devido à não disponibilização de um local específico ou adequado para tal<br />

tarefa.<br />

Após serem coletados os dados de todos os prontuários disponíveis, estes<br />

foram sistematizados e analisados.<br />

29


Com relação às hipóteses diagnósticas encontradas nos prontuários dos<br />

usuários dos serviços de Saúde mental do centro de Saúde II – Caconde, estas<br />

foram previamente classificadas segundo o Código Internacional de Doenças – 10,<br />

mais conhecido como CID-10 (Cooper, 1997) e posteriormente agrupadas em<br />

categorias maiores, sendo estas:<br />

• F00-F09: Transtornos mentais orgânicos, incluindo sintomáticos;<br />

• F10-F19: Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de<br />

substâncias psicoativas;<br />

• F20-F29: Esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante;<br />

• F30-F39: Transtornos do humor (afetivos);<br />

• F40-F48: Transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes;<br />

• F50-F59: Síndromes comportamentais associadas a perturbações fisiológicas<br />

e fatores físicos;<br />

• F60-F69: Transtornos de personalidade e de comportamento em adultos;<br />

• F70-F79: Retardo mental;<br />

• F80-F89: Transtornos do desenvolvimento psicológico;<br />

• F90-F98: Transtornos emocionais e de comportamento com início usualmente<br />

ocorrendo na infância e adolescência;<br />

• F99: Transtorno mental, sem outra especificação;<br />

• OUTROS: outras condições da CID-10 freqüentemente associadas a<br />

transtornos mentais e de comportamento.<br />

Já os medicamentos foram classificados mediante categorias, segundo a tabela<br />

abaixo.<br />

30


PRINCÍPIO ATIVO NOME COMERCIAL CLASSIFICAÇÃO<br />

alprazolan frontal, aprax ansiolítico benzodiazepínico<br />

amitriptilina amitril, tryptanol antidepressivo<br />

biperideno akineton outros (antiparkinsonisano)<br />

bromazepan lexotan, somalium ansiolítico<br />

calman fitoterápico ansiolítico<br />

carbamazepina tegretol estabilizador do humor<br />

clobazam frisium, urbanil ansiolítico, sedativo<br />

clomipramina anafranil antidepressivo<br />

clonazepan rivotril ansiolítico benzodiazepínico<br />

clordiazapóxido psicosedin ansiolítico benzodiazepínico<br />

clorpromazina amplictil antipsicótico<br />

clozapina leponex antipsicótico<br />

Complexo B Complexo B outros (vitamínico)<br />

diazepan valium ansiolitico benzodiazepínico<br />

digoxina digoxina outros (digitálicos ou cardiotônicos)<br />

fenitoína hidental outros (anticonvulsivante,<br />

antiepilético)<br />

fenobarbital gardenal outros (sedativo, hipnótico, anti<br />

convulsivatnte)<br />

fluoxetina prozac antidepressivo<br />

haloperidol haldol antipsicótico<br />

imipramina tofranil antidepressivo<br />

lítio carbolitium estabilizador do humor<br />

levomepromazina neozine antipsicótico<br />

levotiroxina tetroid outros (tireoideano)<br />

lorazepan lorax ansiolítico hipnótico<br />

nortriptilina pamelor antidepressivo<br />

olanzaprina zyprexa antipsicótico<br />

prometazina Fenergan, pamergan outros (anti-histamínico sistêmico)<br />

propanolol inderal outros (anti-hipertensivo, antihistamínico,<br />

betabloqueador)<br />

ranitidina antak outros (anti-ulceroso)<br />

risperidona risperidal antipsicótico<br />

sertralina zoloft antidepressivo<br />

tioridazina melleril antipsicótico<br />

trifluoperazina stelazine antipsicótico<br />

valproato de sódio depakene Estabilizador do humor,<br />

anti-convulsivante<br />

Diozenato, fenicure, fenilav ? ?<br />

Tabela 1: Classificação dos medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários do Centro de<br />

Saúde II - Caconde e do CAPS – São Carlos.<br />

31


V. RESULTADOS<br />

Os dados obtidos com o preenchimento do instrumento foram sistematizados<br />

e tabulados segundo as questões contidas na Base para análise de dados, e<br />

segundo o serviço em questão para depois serem construídos os gráficos.<br />

Os dados dos 287 prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do<br />

Centro de Saúde II - Caconde foram analisados segundo sexo, idade, endereço<br />

atual, escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, queixa de entrada,<br />

antecedentes familiares, medicação em uso, hipótese diagnóstica, média de<br />

medicação por paciente, outras doenças associadas, número de internações<br />

psiquiátricas, se é aposentado ou não, se recebe ou recebeu atendimento<br />

psicoterapêutico, se recebe ou não acompanhamento psiquiátrico, se participa de<br />

oficinas e qual o último encaminhamento recebido. Os dados coletados encontram-<br />

se apresentados nas tabelas 2 e 3, abaixo.<br />

32


Sexo (287) Qtde. Porcent Antecedentes famil. Qtde. Porcent Outras doenças Qtde. Porcent<br />

Feminino 162 56,44% Pai 01 0,34% Artrite/Artrose 06 2,09%<br />

Masculino 125 43,55% Mãe 01 0,34% Anemia 03 1,04%<br />

Idade Irmão(ã) 02 0,69% Bronq./Rinite/Sinusite 12 4,18%<br />

0-10 08 2,78% Avô/avó -- -- Burcite 05 1,74%<br />

11-20 17 5,92% Tio/tia -- -- Cardiopatia 08 2,78%<br />

21-30 48 16,72% Primo/prima -- -- Déficite Auditivo 03 1,04%<br />

31-40 56 19,51% Sem dados 283 98,60% Diabete 14 4,87%<br />

41-50 58 20,21% Dor de cabeça cte. 03 1,04%<br />

51-60 60 20,90% Medicação em uso Gastrite/Úlcera 39 13,58%<br />

61-70 21 7,31% Akineton 36 7,42% Hanseníase 01 0,34%<br />

71 ou mais 14 4,87% Amitril 08 1,65% Infecção urinária 02 0,69%<br />

Sem dados 05 1,74% Amitriptilina 28 5,77% Labirintite 01 0,34%<br />

Endereço atual Amplictil 33 6,80% Obesidade 04 1,39%<br />

Água Branca 14 4,87% Anafranil 03 0,61% Osteoporose 04 1,34%<br />

Bela Vista 31 10,80% Bromazepan 01 0,20% Hipertenção Arterial 36 12,54%<br />

Centro 13 4,53% Calman 01 0,20% Pressão Baixa 02 0,69%<br />

Cristais 16 5,57% Carbolitium 03 0,61% Tuberculose 03 1,04%<br />

Jd dos Estados 43 14,98% Clomipramina 22 4,53% Nenhuma/Sem dados 167 58,18%<br />

Nova Estância 01 0,34% Clorpromazina 01 0,20% Prontuários c/ dados 120 41,81%<br />

Sta Cruz 23 8,01% Complexo B 07 1,44% Média doença/pac. 1,21 --<br />

Sta Lucia 04 1,39% Depakene 01 0,20%<br />

São José 13 4,53% Diazepan 34 7,01% Internações psiq.<br />

Várzea 17 5,92% Digoxina 01 0,20% 01 19 6,62%<br />

Rural 73 25,43% Diozenato ? 01 0,20% 02 15 5,22%<br />

Sem dados 49 13,58% Fenergan 32 6,60% 03 08 2,78%<br />

Escolaridade Fenicure ? 01 0,20% 04 06 2,09%<br />

Analfabeto 01 0,34% Fenilav ? 01 0,20% 05 02 0,69%<br />

Fund. incompleto 13 4,53% Fenobarbital 02 0,41% 06 01 0,34%<br />

Fund. completo 06 2,09% Fenitoína 02 0,41% 07 -- --<br />

Médio incompleto 01 0,34% Fluoxetina 24 4,94% 08 02 0,69%<br />

Médio completo 01 0,34% Frisium 01 0,20% 09 ou mais 03 1,04%<br />

Superior incompleto -- -- Gardenal 05 1,03% TOTAL <strong>DE</strong> PAC. IN. 56 19,51%<br />

Superior completo -- -- Haldol 88 18,14% Sem dados 231 80,48%<br />

Sem dados 265 92,33% Imipramina 17 3,50% EM 2003 10 3,48%<br />

Profissão Lorax 01 0,20%<br />

Lavrador 08 2,78% Melleril 01 0,20% Aposentado<br />

Costureira 01 0,34% Neozine 35 7,21% Sim 17 5,92%<br />

Doméstica 06 2,09% Pamelor 01 0,20% Sem dados 270 94,07%<br />

Manicure 01 0,34% Propanolol 04 0,82% Atendimento Psicot.<br />

Sem dados 271 94,42% Psicosedin 04 0,82% Recebe psicoterapia 42 14,63%<br />

Data de Admissão Ramitidina 01 0,20% Já recebeu psicoterap. 24 8,36%<br />

71-80 40 13,93% Risperidona 02 0,41% Acomp. Psiquiátrico<br />

81-90 143 49,82% Rivotril 06 1,23% Sim 283 98,60%<br />

91-2000 71 24,73% Tegretol 17 3,50% Não 04 1,40%<br />

2001 10 3,48% Tofranil 08 1,65% Oficinas<br />

2002 08 2,78% Tryptanol 17 3,50% Não 287 100%<br />

2003 07 2,43% Último encam.<br />

Sem dados 08 2,78% Sem dados 35 7,21% Psiquiatra 90 31,35%<br />

Queixa de Entrada (TOTAL) (485) (100%) Só Medicação 91 31,70%<br />

Dentista 07 2,43% Média med/pac. 1,68 Psicólogo 23 8,01%<br />

Exames 23 8,01% Clínico geral 52 18,11%<br />

Psiquiatra 35 12,19% Média med/pacien Qtde. Porcent Cardiologista 04 1,39%<br />

Receita méd. 26 9,06% 01 118 41,11% Ginecologista 09 3,11%<br />

outros 145 50,52% 02 74 25,78% Neurologista 01 0,34%<br />

Sem dados/ilegível 51 17,77% 03 47 16,37% Ortopedista 03 1,04%<br />

04 07 2,43% Otorrino 04 1,39%<br />

05 06 2,09% Enfermagem 10 3,48%<br />

Sem dados 35 12,19% Oficinas Terapêuticas 22 7,66%<br />

Tabela 2: Tabulação dos dados obtidos com a análise dos prontuários do Centro de Saúde II -<br />

Caconde.<br />

33


HD CID Qtde Porcent. HD CID Qtde Porcent.<br />

Demência não especificada na Doença<br />

de Alzheimer.<br />

Demência não especificada<br />

Síndrome amnésica orgânica não<br />

induzida pelo álcool ou por outras<br />

substâncias psicoativas<br />

F 00.9<br />

F 03.5 e<br />

01 0,20% Transtorno somatoforme, não<br />

especificado<br />

F 03.9<br />

em F 03<br />

03 0,60% Transtorno de somatização<br />

F 04.9<br />

Transtorno doloroso somatoforme<br />

Em F 04 01 0,20%<br />

persistente<br />

F 44.9 20 4,02%<br />

Delirium não especificado F 05.9 01 0,20% Transtorno somatoforme, não<br />

especificado<br />

F 45.9 22 4,42%<br />

Transtorno delirante<br />

(esquizofreniforme) orgânico<br />

F 06.2 01 0,20% Neurastenia F 48.0 18 3,62%<br />

Transtorno cognitivo leve<br />

Transtorno mental decorrente de lesão<br />

F 06.7 01 0,20% Síndrome de despersonalização F 48.1 04 0,80%<br />

e disfunção cerebrais e de doença<br />

física, não especificado<br />

F 06.9 04 0,80%<br />

Transtorno neurótico F 48.9 43 8,65%<br />

Síndromes comportamentais F 59. 0 01<br />

Transtorno orgânico de personalidade F 07.0 01 0,20% associadas a perturbações fisiológicas e F 59.9 01 0,40%<br />

e fatores físicos não especificados em F 59<br />

Transtorno mental decorrente de<br />

Transtorno de Personalidade<br />

doença, lesão e disfunção cerebrais,<br />

não especificada<br />

F 07.9 06 0,30%<br />

paranóide<br />

F 60.0 06 1,21%<br />

Transtorno mental orgânico ou F 09.9 14 2,82% Personalidade dissocial F 60.2 01 0,20%<br />

sintomático não especificado em F 09<br />

Transtornos mentais e de<br />

Transtorno de personalidade, não<br />

comportamentos decorrentes do uso<br />

de álcool<br />

F 10.0 06 1,21%<br />

especificado<br />

F 60.9 04 0,80%<br />

Transtornos mentais e de<br />

Elaboração de sintomas físicos por<br />

comportamentos decorrentes do uso<br />

de álcool com trantorno psicótico<br />

(esquizofreniforme)<br />

F 10.5 01 0,20%<br />

razões patológicas<br />

F 68.0 09 1,81%<br />

Transtornos mentais e de<br />

Produção intencional ou invenção de<br />

comportamentos decorrentes do uso F 10.9 14 2,82% sintomas ou incapacidades físicas ou F 68.1 07 1,41%<br />

de álcool com transtornos mentais não<br />

especificados<br />

psicológicas (transtorno fictício)<br />

Uso continuo de álcool<br />

Transtornos mentais e de<br />

F 10.25 01 0,20% Retardo mental leve F 70.9<br />

em F 70<br />

03 0,60%<br />

comportamentos decorrentes do uso F 19.5 01 0,20% Retardo mental moderado F 71.9 03 0,60%<br />

de múltiplas drogas e do uso de outras<br />

substâncias psicoativas com transtorno<br />

psicótico (esquizofreniforme)<br />

Transtornos mentais e de<br />

em F 71<br />

comportamentos decorrentes do uso F 19.9 01 0,20%<br />

Retardo mental grave F 72.9 07 1,41%<br />

de múltiplas drogas e do uso de outras<br />

substâncias psicoativas com transtorno<br />

mental e de comportamento, não<br />

especificado.<br />

em F 72<br />

Esquizofrenia paranóide F 20.0 19 3,82% Transtorno não especificado do<br />

desenvolvimento psicológico<br />

F 89.0 01 0,20%<br />

Esquizofrenia hebefrênica F 20.1 13 2,61% Transtorno hipercinético, não<br />

especificado<br />

F 90.9 04 0,80%<br />

Esquizofrenia residual F 20.5 31 6,24% Transtorno depressivo de conduta e<br />

emoções, não especificado<br />

F 92.0 01 0,20%<br />

Esquizofrenia, não especificada F 20.9 11 2,21% Transtorno misto de conduta e<br />

emoções, não especificado<br />

Transtornos emocionais e de<br />

F 92.9 01 0,20%<br />

Transtorno persistente delirante, não F 22.9 08 1,61% comportamento com início usualmente F 98.9 06 1,21%<br />

especificado<br />

ocorrendo na infância e adolescência,<br />

não especificados<br />

F 24.0,<br />

Transtorno mental, sem outra<br />

Transtorno delirante induzido F 24.9<br />

em F 24<br />

02 0,40%<br />

especificação<br />

F 99.0 15 3,02%<br />

Outros transtornos psicóticos não F 28.5 01 0,20%<br />

orgânicos<br />

em F 28<br />

F 29.0, 12<br />

Psicose não-orgânica, não F 29.1 e 02 5,23%<br />

Epilepsia<br />

G 40 03 0,60%<br />

especificada<br />

F 29.9<br />

em F 29<br />

12<br />

Mania sem sintomas psicóticos F 30.1 01 0,20% Ataques isquêmicos cerebrais<br />

transitórios e síndromes relacionadas<br />

G 45 01 0,20%<br />

Transtorno afetivo bipolar, episódio F 31.1 01 0,20% Isquemia cerebral transitória não<br />

atual maníaco com sintomas<br />

psicóticos<br />

especificada<br />

G 45.9 01 0,20%<br />

Transtorno afetivo bipolar, não F 31.9 02 % Endometriose do peritônio pélvico N 80.3 01 0,20%<br />

F 45.0<br />

F 45.4<br />

07<br />

01<br />

1,41%<br />

0,20%<br />

34


especificado<br />

Episódio depressivo leve F 32.0 07 1,41%<br />

Episódio depressivo moderado<br />

Episódio depressivo grave, sem<br />

F 32.1<br />

F 32.2<br />

01<br />

02<br />

0,20%<br />

0,40% CLASSIFICAÇÃO INEXISTENTE -- 23 4,63%<br />

sintomas psicóticos<br />

NA CID-10<br />

Episódio depressivo, não especificado F 32.9 07 1,41%<br />

Transtorno depressivo recorrente,<br />

episódio atual leve<br />

F 33.0 01 0,20% F 07.6 01<br />

Distimia F 34.1 03 0,60% F 25.5 01<br />

F 39.0, 01<br />

F 26.5 01<br />

Transtorno do humor (afetivo) não F 39.2 e 01 0,80%<br />

especificado<br />

F 39.9<br />

em F 39<br />

02<br />

Agorafobia F 40.0 07 1,41% F 32.5 02<br />

Fobias sociais F 40.1 04 0,80% F 35.5 02<br />

Transtorno fóbico-ansioso, não<br />

especificado<br />

F 40.9 21 4,22% F 40.5 03<br />

Transtorno de pânico (ansiedade<br />

paroxística episódica)<br />

F 41.0 02 0,40% F 43.5 01<br />

Transtorno de ansiedade, não<br />

especificado<br />

F 41.9 08 1,61% F 45.5 01<br />

TOC predominantemente<br />

pensamentos obsessivos ou<br />

ruminantes<br />

F 42.0 01 0,20% F 47.9 01<br />

TOC pensamentos e atos obsessivos<br />

mistos<br />

F 42.2 01 0,20% F 48.2 01<br />

TOC, não especificado F 42.9 04 0,80% F 48.5 06<br />

Reação aguda a estresse F 43.0 02 0,40% F 58.2 01<br />

Reação a estresse grave, não<br />

especifcada<br />

F 43.9 04 0,80% F 58.5 01<br />

Amnésia dissociativa F 44.0 01 0,20% F 90.2 01<br />

Fuga dissociativa F 44.1 01 0,20%<br />

Convulsões dissocativas F 44.5 03 0,60%<br />

Transtorno dissociativo (ou<br />

conversivo) não especificado<br />

F 44.7 01 0,20% sem HD -- 25 5,03%<br />

Tabela 3: Tabulação das hipóteses diagnósticas obtidas com a análise dos prontuários do Centro de<br />

Saúde II - Caconde.<br />

Já os dados dos 66 prontuários dos usuários CAPS – São Carlos foram<br />

analisados segundo o tipo de acompanhamento recebido, sexo, idade, endereço<br />

atual, escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, antecedentes familiares,<br />

medicação em uso, hipótese diagnóstica, média de medicação por paciente, outras<br />

doenças associadas, número de internações psiquiátricas, se é aposentado ou não,<br />

se recebe ou recebeu atendimento psicoterapêutico, se recebe ou não<br />

acompanhamento psiquiátrico, se participa de oficinas e qual o tipo, além do último<br />

encaminhamento recebido, como pode ser visto nas tabelas 4 e 5, abaixo.<br />

35


Acompanhamento 66 Qtde. Porcent Qtde. Porcent Média med/pacien Qtde. Porcent<br />

Intensivo 31 47% Operador de máquina 1 1,5% 01 01 1,5%<br />

Semi-Intensivo 20 30% Pedreiro 2 3,0% 02 20 30,3%<br />

Saiu do CAPS 15 23% Secretária 1 1,5% 03 16 24,2%<br />

Sexo Técnico 2 3,0% 04 16 24,2%<br />

Feminino 27 41% Sem dados 52 78,0% 05 04 6,0%<br />

Masculino 39 59% Data de Admissão Sem dados 09 13,6%<br />

Idade 1º sem. 2002 47 71,2% Outras doenças<br />

0-10 -- -- 2º sem 2002 08 12,1% Prontuários c/ dados 12 18,20%<br />

11-20 02 3% 1º sem. 2003 09 13,6% Alergia 02 12,50%<br />

21-30 19 29% 2º sem. 2003 01 1,5% Anemia 01 6,25%<br />

31-40 18 27% Sem dados 01 1,5% Bronq./Rinite/Sinusite 03 18,75%<br />

41-50 19 29% Anteced. famil. Gastrite 03 18,75%<br />

51-60 04 6% Pai 2 3,0% Hipertenção Arterial 06 37,50%<br />

61-70 02 3% Mãe -- -- Tendinite 01 6,25%<br />

71 ou mais -- -- Irmão(ã) 3 4,5% Nenhuma/ sem dados 54 81,80%<br />

Sem dados 02 3% Avô/avó 1 1,5% Média doença/pac. 1,33 --<br />

Endereço atual Tio/tia -- -- Intern. psiq.<br />

Antenor Garcia 1 1,5% Primo/prima -- -- Várias (s/ especific.) 05 7,6%<br />

Arnon de Melo 1 1,5% Sem dados 60 90,9% 01 08 12,1%<br />

Bela Vista 4 6,0% 02 02 3,0%<br />

Centro 5 7,5% 03 01 1,5%<br />

Cidade Aracy 5 7,5% Medicação em uso 04 02 3,0%<br />

Jd Bandeirantes 2 3,0% Akineton 03 1,67% 05 02 3,0%<br />

Jd Botafogo 1 1,5% Alprazolan 01 ,55% 06 01 1,5%<br />

Jd Cruzeiro do Sul 1 1,5% Amitriptilina 04 2,23% 08 01 1,5%<br />

Jd Itamaraty 1 1,5% Amplictil 03 1,67% 13 01 1,5%<br />

Jd Jacobucci 1 1,5% Biperideno 04 2,23% 15 01 1,5%<br />

Jd Monte Carlo 2 3,0% Carbamazepina 06 3,35% 24 01 1,5%<br />

Jd São João Batista 2 3,0% Carbolitium 04 2,23% Sem dados 41 62,1%<br />

Jd Tangará 3 4,5% Clomipramina 01 0,55% Aposentadoria<br />

Jockey Clube 2 3,0% Clonazepan 01 0,55% Sim 12 18,2%<br />

Mª Estela Fagá 2 3,0% Clorpromazina 08 4,46% Sem dados 54 81,8%<br />

Pacaembu 2 3,0% Clozapina 02 1,11% Atend. Terapêuticos<br />

Pq dos Tamborins 1 1,5% Depakene 02 1,11% Psicoterapia indiv. 02 3,0%<br />

Romeu Tortorelli 1 1,5% Diazepan 25 13,96% T.O. individual 01 1,5%<br />

Sta Felícia 2 3,0% Fenergan 04 2,23% T.O. em grupo 14 21,2%<br />

Sta Paula 1 1,5% Fenobarbital 03 1,67% Já recebeu psicot. 03 4,5%<br />

Tijuco Preto 1 1,5% Fenitoína 02 1,11% Já T.O. 03 4,5%<br />

Vila Alpes 1 1,5% Fluoxetina 14 7,82% Já participou oficina 04 6,0%<br />

Vila Carmem 1 1,5% Gardenal 01 0,55% Oficina<br />

Vila Conceição 1 1,5% Haldol 19 10,61% Sim 47 71,2%<br />

Vila Elizabeth 2 3,0% Haloperidol 08 4,46% Não 19 28,8%<br />

Vila Marcelino 1 1,5% Hidental 01 0,55% Tipos (126 no Total)<br />

Vila Nery 6 9,1% Imipramina 04 2,23% Bijuteria 01 0,8%<br />

Vila Prado 7 10,0% Melleril 03 1,67% Biscuit 01 0,8%<br />

Vila São José 2 3,0% Neozine 07 3,91% Bordado 04 3,2%<br />

Sem dados 4 6,0% Pamergan 01 0,55% Cestaria 05 4,0%<br />

Prometazina 11 6,14% Coral 08 6,3%<br />

Escolaridade Risperidona 11 6,14% Dança 06 4,8%<br />

Fund. incompleto 03 4,5% Rivotril 06 3,35% Expressão corporal 25 19,8%<br />

Fund. completo 07 10,6% Sertralina 01 0,55% Improvisação cênica 15 11,9%<br />

Médio incompleto 08 12,1% Stelazina 01 0,55% Jornal 11 8,7%<br />

Médio completo 10 15,1% Tegretol 03 1,67% Literatura 24 19,0%<br />

Superior incompleto -- -- Tetnoid 01 0,55% Mosaico 01 0,8%<br />

Superior completo 01 1,5% Tofranil 01 0,55% Pintura 24 19,0%<br />

Sem dados 37 56% Tryptanol 01 0,55% Tai-chi 01 0,8%<br />

Umbanil 01 0,55% Acomp. Psiq. Não -- --<br />

Profissão Valproato 01 0,55% Sim 66 100%<br />

Ajudante geral 1 1,5% Zyprexa 01 0,55% Último encaminham.<br />

Auxiliar de prod. 1 1,5% Psiquiatra 34 51,5%<br />

Balconista 2 3,0% Sem dados 09 5,02% Só Medicação 02 3,0%<br />

Funcionário Público 1 1,5% Oficina 12 18,2%<br />

Guarda 1 1,5% (TOTAL) (179) (100%) T.O. 05 7,5%<br />

Jardineiro 1 1,5% Enfermagem 12 18,2%<br />

Manicure 1 1,5% Média medicação/pac. 2,71 -- Neurologista 01 1,5%<br />

Tabela 4: Tabulação dos dados obtidos com a análise dos prontuários do CAPS – São Carlos.<br />

36


HD CID Qtde Porcent.<br />

Alucinose orgánica F 06.0 01 1,12%<br />

Transtorno orgânico de personalidade F 07.0 01 1,12%<br />

Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de álcool F 10.0 02 2,25%<br />

Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de álcool, atualmente<br />

abstinente<br />

F 10.2 03 3,37%<br />

Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de solventes voláteis F 18.0 01 1,12%<br />

Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de múltiplas drogas e F 19.0 02 2,25%<br />

de uso de outras substâncias psicoativas<br />

Esquizofrenia paranóide F 20.0 23 25,84%<br />

Esquizofrenia catatônica F 20.2 01 1,12%<br />

Esquizofrenia indiferenciada F 20.3 01 1,12%<br />

Esquizofrenia residual F 20.5 01 1,12%<br />

Esquizofrenia simples F 20.6 01 1,12%<br />

Transtorno esquizotípico F 21.0 01 1,12%<br />

Transtorno delirante F 22.0 01 1,12%<br />

Transtorno psicótico polimórfico agudo sem sintomas de esquizofrenia F 23.0 01 1,12%<br />

Transtorno psicótico esquizofreniforme agudo F 23.2 01 1,12%<br />

Transtorno esquizoafetivo, tipo maníaco F 25.0 01 1,12%<br />

Psicose não orgânica, não especificada F 29.0 02 2,25%<br />

Transtorno bipolar, episódio atual hipomaníaco F 31.0 02 2,25%<br />

Transtorno bipolar, episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos F 31.1 01 1,12%<br />

Transtorno bipolar, episódio atual depressivo F 31.2 03 3,37%<br />

Transt. bipolar, episódio atual depressivo grave com sintomas psicóticos F 31.5 01 1,12%<br />

Transtorno bipolar, episódio atual misto F 31.7 03 3,37%<br />

Episódio depressivo leve F 32.0 03 3,37%<br />

Episódio depressivo moderado F 32.1 02 2,25%<br />

Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos F 32.2 02 2,25%<br />

Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos F 32.3 03 3,37%<br />

Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve F 33.0 03 3,37%<br />

Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos F 33.2 02 2,25%<br />

Transtorno depressivo recorrente, não especificado F 33.9 01 1,12%<br />

Ciclotimia F 34.0 01 1,12%<br />

Agorafobia F 40.0 01 1,12%<br />

TOC predominantemente atos compulsivos (rituais obsessivos) F 42.1 01 1,12%<br />

Neurastenia F 48.0 01 1,12%<br />

Transtorno de personalidade paranóica F 60.0 01 1,12%<br />

Transtorno de personalidade emocionalmente instável F 60.3 02 2,25%<br />

Retardo mental leve F 70.0 01 1,12%<br />

Retardo mental moderado com comprometimento significativo de<br />

comportamento requerendo atenção ou tratamento<br />

F 71.1 01 1,12%<br />

Retardo mental grave F 72.0 01 1,12%<br />

Epilepsia G 40.0 02 2,25%<br />

sem HD -- 07 7,86%<br />

Tabela 5: Tabulação hipóteses diagnósticas obtidas com a análise dos prontuários do CAPS – São<br />

Carlos.<br />

37


Após agrupar os dados em tabelas, como demonstrado acima, os mesmos<br />

foram analisados através de uma comparação entre os gráficos, item a item, para<br />

ambos os serviços: Centro de Saúde II - Caconde e CAPS – São Carlos.<br />

Com relação à data de admissão no serviço, pode-se notar que no Centro de<br />

Saúde II – Caconde houve um pico entre os anos de 1981 e 1990 (49,82%) e no<br />

CAPS – São Carlos a taxa de admissão foi alta logo no início (71,2%), decaindo<br />

continuamente até os dias de hoje. Isso pode ser observado nas figuras 1 e 2,<br />

abaixo.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

71-80 81-90 91-<br />

2000<br />

2001 2002 2003 Sem<br />

dados<br />

Data de admissão no serviço<br />

Figura 1: Data de admissão dos usuários no Centro de Saúde II - Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

1º sem.<br />

2002<br />

2º sem<br />

2002<br />

1º sem.<br />

2003<br />

2º sem.<br />

2003<br />

Data de admissão no serviço<br />

Figura 1: Data de admissão dos usuários no CAPS – São Carlos.<br />

Sem<br />

dados<br />

38


Como era de se esperar, foi constatado que o Centro de Saúde II – Caconde<br />

oferece exclusivamente um acompanhamento ambulatorial (100%), enquanto o<br />

CAPS – São Carlos oferece acompanhamento intensivo (47%), semi-intensivo (30%)<br />

e já proporcionou até algumas altas aos usuários (23%), como mostra as figuras 3 e<br />

4, abaixo.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

ambulatorial outros<br />

Acompanhamento<br />

Figura 3: Tipos de encaminhamentos recebidos pelos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Intensivo Semi-Intensivo Recebeu alta<br />

Acompanhamento<br />

Figura 4: Tipos de encaminhamentos recebidos pelos usuários do CAPS – São Carlos.<br />

39


A distribuição dos sexos entre a população usuária de ambos os serviços de<br />

Saúde mental não apresentou-se muito discrepante. No Centro de Saúde II –<br />

Caconde, a quantidade de usuários do sexo feminino (56,44%) foi um pouco maior<br />

que os do sexo masculino (43,55%). Já no CAPS – São Carlos foi verificado o<br />

contrário; o número de usuários do sexo feminino (41%) foi um pouco menor que o<br />

de usuários do sexo masculino (59%), como demonstrado nas figuras 5 e 6, abaixo.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Feminino Masculino<br />

Sexos<br />

Figura 5: Distribuição dos sexos dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Feminino Masculino<br />

Sexos<br />

Figura 6: Distribuição dos sexos dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />

40


No Centro de Saúde II – Caconde, os usuários dos serviços de Saúde Mental<br />

encontram-se predominantemente na faixa etária que vai dos 21 aos 60 anos<br />

(77,35%), enquanto que no CAPS – São Carlos a faixa etária predominante dos<br />

usuários é de 21 à 50 anos (85%). Isso pode ser observado nas figuras 7 e 8,<br />

abaixo.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0-10 11 -- 20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71 ou<br />

mais<br />

Faixa Etária<br />

Figura 7: Distribuição da faixa etária dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0-10 11 -- 20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71 ou<br />

mais<br />

Faixa etária<br />

Figura 8: Distribuição da faixa etária dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />

Sem<br />

dados<br />

Sem<br />

dados<br />

41


Observa-se que enquanto os usuários dos serviços de Saúde Mental do<br />

Centro de Saúde II – Caconde residem tanto na zona urbana (61,99%) quanto na<br />

zona rural (25,43%), os usuários do CAPS residem exclusivamente na zona urbana<br />

(94,00%), sem contar, é claro, com os prontuários nos quais esse dado não<br />

constava, fato que teve maior incidência no Centro de Saúde II – Caconde (13,58%)<br />

que no CAPS – São Carlos (6,00%), como mostram as figuras 9 e 10, abaixo.<br />

Pocentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

zona urbana zona rural sem dados<br />

Endereço atual<br />

Figura 9: Endereço atual dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

zona urbana zona rural sem dados<br />

Endereço atual<br />

Figura 10: Endereço atual dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />

42


Devido à falta de informações nos prontuários dos usuários de ambos os<br />

serviços, os dados obtidos no que diz respeito ao nível de escolaridade não foram<br />

muito significativos, uma vez que tanto no Centro de saúde II – Caconde quanto no<br />

CAPS – São Carlos a maior parte dos prontuários não tinham esse tipo de<br />

informação (92,33% e 56,00%, respectivamente), como pode ser observado nas<br />

figuras 11 e 12, abaixo.<br />

Pocentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Não Alfab.<br />

Fund.<br />

Incompleto<br />

Fund.<br />

Completo<br />

Médio<br />

incompleto<br />

Médio<br />

completo<br />

Superior<br />

incompleto<br />

Nível de Escolaridade<br />

Superior<br />

completo<br />

Figura 11: Nível de escolaridade dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Não Alfab.<br />

Fund.<br />

incompleto<br />

Fund.<br />

completo<br />

Médio<br />

incompleto<br />

Médio<br />

completo<br />

Superior<br />

incompleto<br />

Nível de Escolaridade<br />

Figura 12: Nível de escolaridade dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />

Superior<br />

completo<br />

Sem dados<br />

Sem dados<br />

43


Como pode ser observado nas figuras 13 e 14, abaixo, os usuários do CAPS<br />

– São Carlos possuem profissões mais diversificadas que as dos usuários dos<br />

serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde, mas ambos os serviços<br />

possuem muito pouca informação desse tipo nos prontuários, uma vez que a maioria<br />

tanto do Centro de Saúde II – Caconde quanto do CAPS – São Carlos não possuem<br />

esse tipo de dado (94,42% e 78,00%, respectivamente).<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Lavrador<br />

Costureira<br />

Profissões<br />

Manicure<br />

Sem dados<br />

Figura 13: Profissões dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Ajudante geral<br />

Auxiliar de prod.<br />

Balconista<br />

Figura 14: Profissões dos usuários CAPS – São Carlos.<br />

Guarda<br />

Jardineiro<br />

Manicure<br />

Profissões<br />

Pedreiro<br />

Sem dados<br />

44


Os antecedentes familiares também não indicam dados muito significativos<br />

pelo mesmo motivo do nível de escolaridade; a falta de informação nos prontuários<br />

tanto dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde quanto dos usuários do CAPS<br />

– São Carlos foi muito grande (98,6-% e 90,90%, respectivamente), como<br />

demonstrado nas figuras 15 e 16, abaixo.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Pai Mãe Irmão(ã) Avô/avó Tio/tia Primo/prima Sem dados<br />

Antecedentes familiares<br />

Figura 15: Antecedentes familiares dos usuários Centro de Saúde II – Caconde, com problemas<br />

psiquiátricos.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Pai<br />

Tio/tia<br />

Primo/prima<br />

Antecedentes Familiares<br />

Sem dados<br />

Figura 16: Antecedentes familiares dos usuários do CAPS – São Carlos, com problemas psiquiátricos.<br />

45


Como pode ser observado nas figuras 17 e 18, abaixo, o Centro de Saúde II –<br />

Caconde possui maior número de usuários diagnosticados nas categorias F20-F29<br />

(22,33%) e F40-F48 (35,21%), enquanto o CAPS - São Carlos possui maior número<br />

de usuários diagnosticados nas categorias F20-F29 (38,20%) e F30-F39 (30,33%).<br />

O Centro de Saúde não possui nenhum usuário diagnosticado nas categorias F80-<br />

F89, enquanto o CAPS – São Carlos não possui nenhum usuários diagnosticado nas<br />

categorias F50-F59, F80-F89, F90-F98, F99, nem hipótese diagnóstica sem<br />

classificação segundo a CID-10, diferente dos dados obtidos no Centro de Saúde II<br />

– Caconde que apresentam hipóteses diagnósticas sem classificação segundo a<br />

CID-10 (4,63%).<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

F00-<br />

F09<br />

F10-<br />

F19<br />

F20-<br />

F29<br />

F30-<br />

F39<br />

F40-<br />

F48<br />

F50-<br />

F59<br />

F60-<br />

F69<br />

F70-<br />

F79<br />

F80-<br />

F89<br />

Hipóteses Diagnósticas<br />

F90-<br />

F98<br />

F99 Outros Sem<br />

class.<br />

Figura 17: Hipóteses Diagnósticas dos usuários dos serviços de Saúde Mental do centro de Saúde II<br />

– Caconde.<br />

Pocentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

F00-<br />

F09<br />

F10-<br />

F19<br />

F20-<br />

F29<br />

F30-<br />

F39<br />

F40-<br />

F48<br />

F50-<br />

F59<br />

F60-<br />

F69<br />

F70-<br />

F79<br />

F80-<br />

F89<br />

Hipóteses Diagnósticas<br />

Figura 18: Hipóteses Diagnósticas dos usuários CAPS – São Carlos.<br />

F90-<br />

F98<br />

F99 Outros Sem<br />

class.<br />

Sem<br />

HD<br />

Sem<br />

HD<br />

46


Os tipos de medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários dos<br />

serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde e do CAPS – São<br />

Carlos foram organizados previamente segundo a Tabela 1 (pp. 31) e logo depois<br />

agrupados segundo sua classificação, como está demonstrado na tabela 6, abaixo.<br />

MEDICAÇÃO – Centro de Saúde II MEDICAÇÃO – CAPS<br />

MEDICAÇÃO (485) qtde porc. MEDICAÇÃO (179) qtde porc.<br />

ANTIPSICÓTICOS ANTIPSICÓTICOS<br />

clorpromazina 34 7,01% clorpromazina 11 6,14%<br />

haloperidol 88 18,14% haloperidol 27 15,08%<br />

tioridazina 01 0,20% tioridazina 03 1,67%<br />

levomeprazina 35 7,21% levomeprazina 07 3,91%<br />

risperidona 02 0,41% risperidona 11 6,14%<br />

TOTAL 160 32,99% clozapina 02 1,11%<br />

trifluoperazina 01 0,55%<br />

olanzaprina 01 0,55%<br />

TOTAL 63 35,19%<br />

ANTI<strong>DE</strong>PRESSIVOS ANTI<strong>DE</strong>PRESSIVOS<br />

amitriptilina 53 10,92% amitriptilina 05 2,79%<br />

clomipramina 25 5,15% clomipramina 01 0,55%<br />

fluoxetina 24 4,94% fluoxetina 14 7,82%<br />

imipramina 25 5,15% imipramina 05 2,79%<br />

nortriptilina 01 0,20% sertralina 01 0,55%<br />

TOTAL 128 26,39% TOTAL 26 14,52%<br />

ANSIOLÍTICOS ANSIOLÍTICOS<br />

bromazepan 01 0,20% alprazolan 01 0,55%<br />

calman 01 0,20% diazepan 25 13,96%<br />

diazepan 34 7,01% clonazepan 07 3,91%<br />

clobazam 01 0,20% clobazam 01 0,55%<br />

lorazepan 01 0,20% TOTAL 34 18,99%<br />

clordiazepóxido 04 0,82%<br />

clonazepan 06 1,23%<br />

TOTAL 48 9,96%<br />

ESTAB. DO HUMOR ESTAB. DO HUMOR<br />

litio 03 0,61% carbamazepina 09 5,02%<br />

valproato 01 0,20% litio 04 2,23%<br />

carbamazepina 17 3,50% valproato 03 1,67%<br />

TOTAL 21 4,32% TOTAL 16 8,93%<br />

OUTROS OUTROS<br />

biperideno 36 7,42% biperideno 07 3,91%<br />

Complexo B 07 1,44% prometazina 16 8,93%<br />

digoxina 01 0,20% fenobarbital 04 2,23%<br />

prometazina 32 6,60% fenitoína 03 1,67%<br />

fenobarbital 07 1,44% levotiroxina 01 0,55%<br />

fenitoína 02 0,41% TOTAL 31 17,31%<br />

propanolol 04 0,82%<br />

ranitidina 01 0,20%<br />

TOTAL 90 18,55%<br />

-<br />

Diozenato, Fenicure, Fenilav 03 0,61%<br />

SEM DADOS 35 7,21% SEM DADOS 09 5,02%<br />

Tabela 6: Classificação dos princípios ativos dos medicamentos encontrados nos prontuários dos<br />

usuários do Centro de Saúde II – Caconde e do CAPS - São Carlos.<br />

47


A partir dessa classificação é possível notar que os usuários dos serviços de<br />

Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde utilizam mais antipsicóticos<br />

(32,99%), seguido de antidepressivos (26,39%), outros medicamentos (18,55%),<br />

ansiolíticos (9,96%) e estabilizadores do humor (4,32%). Já no CAPS – São Carlos<br />

faz-se mais uso de antipsicóticos (35,19%), seguido de ansiolíticos (18,99%), outros<br />

medicamentos (17,31%), antidepressivos (14,52%) e estabilizadores do humor<br />

(8,93%), como pode ser observado nas figuras 19 e 20, abaixo.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Antidepressivos<br />

Estabilizadores do Humor<br />

Outros<br />

Tipo de Medicação<br />

Sem class.<br />

Sem dados<br />

Figura 19: Medicações prescritas aos usuários dos serviços de Saúde mental do Centro de Saúde II –<br />

Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Antidepressivos<br />

Estabilizadores do Humor<br />

Outros<br />

Tipo de Medicação<br />

Figura 20: Medicações prescritas aos usuários do CAPS – São Carlos.<br />

Sem class.<br />

Sem dados<br />

48


Além das hipóteses diagnósticas que dizem respeito à Saúde Mental dos<br />

usuários, também foram coletados dados sobre doenças associadas. Como pode<br />

ser observado nas figuras 21 e 22, abaixo, os usuários do Centro de Saúde II –<br />

Caconde também sofrem muito de hipertensão arterial (12,54%) e gastrite/úlcera<br />

(13,58%), enquanto os usuários do CAPS – São Carlos também sofrem muito de<br />

hipertensão arterial (37,50%) e gastrite (18,75%), mas também sofrem de doenças<br />

do aparelho respiratório como bronquite, rinite e sinusite (18,75%).<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Artrite/Artrose<br />

Anemia<br />

Bronq./Rinite/Sinusite<br />

Burcite<br />

Cardiopatia<br />

Diabete<br />

Labirintite<br />

Obesidade<br />

Osteoporose<br />

Outras doenças associadas<br />

Tuberculose<br />

Nenhuma/Sem dados<br />

Figura 21: Outras doenças associadas às doenças mentais dos usuários do Centro de Saúde II -<br />

Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Alergia<br />

Anemia<br />

Bronq./Rinite/Sinusite<br />

Gastrite<br />

Outras doenças associadas<br />

Tendinite<br />

Nenhuma/ sem dados<br />

Figura 22: Outras doenças associadas às doenças mentais dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />

49


Com relação ao número de internações psiquiátricas, há muito mais registro<br />

de internação de usuários do CAPS – São Carlos, tanto em número de vezes por<br />

paciente, pois há caso de paciente que chegou a ser internado 24 vezes, quanto<br />

com relação ao total de usuários uma vez que 37,70% dos usuários já foram<br />

internados pelo menos 1 vez. Enquanto que no Centro de Saúde II – Caconde os<br />

dados encontrados nos prontuários apontam que o número de internações não é tão<br />

grande nem em número de vezes por paciente, pois chegou a 12 vezes, nem para o<br />

número total de usuários, uma vez que 19,51% dos usuários já foram internados<br />

pelo menos 1 vez, sendo que dessas, 3,48% foram realizadas em 2003 (no período<br />

de janeiro à julho).<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 09 ou<br />

mais<br />

Internações Psiquiátricas<br />

Total Sem<br />

dados<br />

Figura 23: Internações Psiquiátricas dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde<br />

II - Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Em<br />

2003<br />

Várias 1 2 3 4 5 6 8 13 15 24 Total Sem<br />

dados<br />

Internações Psiquiátricas<br />

Figura 24: Internações Psiquiátricas dos usuários do CAPS – São Carlos.<br />

50


Também pôde ser verificado que a maioria dos usuários de ambos os<br />

serviços não recebem aposentadoria, ou pelo menos não há registro nos<br />

prontuários, sendo que os registros encontrados foram em quantidades muito<br />

pequenas tanto para o Centro de Saúde II – Caconde (5,92%) quanto para o CAPS<br />

– São Carlos (18,2%), sendo maior neste que naquele. As figuras 25 e 26, abaixo,<br />

ilustram essa situação.<br />

Pocentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Sim Sem dados<br />

Recebe Aposentadoria<br />

Figura 25: Usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II - Caconde que recebem<br />

aposentadoria ou não.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Sim Sem dados<br />

Recebe Aposentadoria<br />

Figura 26: Usuários do CAPS – São Carlos que recebem aposentadoria ou não.<br />

51


No que diz respeito aos atendimentos terapêuticos recebidos pode-se<br />

observar que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II –<br />

Caconde só dispõem do serviço de psicoterapia individual, 1 vez por semana,<br />

podendo ser divididos em quem está recebendo psicoterapia, independente de já ter<br />

recebido antes ou não (14,63%) e quem já recebeu por algum período (8,36%). Os<br />

prontuários que não apresentavam qualquer dado dessa espécie (77,01%) foram<br />

considerados como se os usuários não recebessem nenhum tipo de atendimento<br />

terapêutico.<br />

Já o CAPS – São Carlos oferece para seus usuários não só o serviço de<br />

psicoterapia individual, como também terapia ocupacional individual, terapia<br />

ocupacional em grupo e oficinas. Pode ser observado que o atendimento de maior<br />

coro é o de terapia ocupacional em grupo (21,20%), seguido de psicoterapia<br />

individual (3,00%) e depois por terapia ocupacional em grupo (1,50%). Ainda pode-<br />

se agrupar os usuários em grupos de quem no momento não está recebendo<br />

nenhum tipo de atendimento, mas algum dia já recebeu por algum período na<br />

instituição psicoterapia (4,50%), terapia ocupacional (4,50%) ou já participou de<br />

alguma oficina terapêutica (6,00%).<br />

Essa situação pode ser melhor observada nas figuras 27 e 28, abaixo.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Recebe psicoterapia Já recebeu<br />

psicoterapia<br />

Atendimentos Terapêuticos<br />

Sem dados<br />

Figura 27: Usuários dos serviços de Saúde Mental que recebem atendimento terapêutico no Centro de Saúde II - Caconde.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Psicoterapia<br />

indiv.<br />

T.O.<br />

individual<br />

T.O. em<br />

grupo<br />

Já recebeu<br />

psicot.<br />

Atendimentos Terapêuticos<br />

Figura 28: Usuários que recebem atendimento terapêutico no CAPS – São Carlos.<br />

Já T.O. Já participou<br />

oficina<br />

52


No que diz respeito à participação em oficinas foi constatado no Centro de<br />

Saúde II – Caconde que nenhum usuário recebe esse tipo de terapia, enquanto que<br />

no CAPS – São Carlos a maioria dos usuários participam de algum tipo de oficina<br />

terapêutica (71,20%), como pode ser notado nas figuras 29 e 30, abaixo.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

sim não<br />

Participação em Oficinas<br />

Figura 29: Usuários do Centro de Saúde II - Caconde que participam de Oficinas Terapêuticas.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Sim Não<br />

Participação em Oficinas<br />

Figura 30: Usuários do CAPS – São Carlos que participam de Oficinas Terapêuticas.<br />

53


Com relação aos tipos de oficinas oferecidas aos usuários dos CAPS – São<br />

Carlos, segundo a figura 31 abaixo, estas são muito variadas, mas a mais<br />

freqüentada é a oficina de Expressão Corporal (19,80%), seguida pela de Pintura e<br />

Literatura (19,00% cada), Improvisação Cênica (11,90%), Jornal (8,70%), Coral<br />

(6,30%), Dança (4,80%), Cestaria (4,00%), Bordado (3,20%), Bijuteria, Biscuit,<br />

Mosaico e Tai-chi (0,80% cada).<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Bijuteria<br />

Biscuit<br />

Bordado<br />

Cestaria<br />

Coral<br />

Jornal<br />

Tipos de Oficinas<br />

Literatura<br />

Mosaico<br />

Figura 31: Tipos de Oficinas das quais participam os usuários do CAPS – São Carlos.<br />

Por último, foram coletados dados que dissessem respeito ao último<br />

encaminhamento recebido nas instituições. Os dados obtidos demonstram que em<br />

ambos os serviços a maior parte dos usuários consultaram o psiquiatra, sendo que<br />

no Centro e Saúde II – Caconde à consulta com médico psiquiatra (31,35%) segue-<br />

se de fornecimento de medicação (31,70%), consulta com o clínico geral (18,11%),<br />

terapia com o psicólogo (8,01%), atendimento pelo pessoal da enfermagem (3,48%),<br />

consulta com médico ginecologista (3,11%), consulta com médico cardiologista<br />

(1,39%), consulta com médico otorrinolaringologista (1,39%), consulta com médico<br />

ortopedista (1,04%) e por último, consulta com médico neurologista.<br />

Já no CAPS – São Carlos, pôde ser observada que a variação dos<br />

encaminhamentos foi menor, sendo eles consulta com médico psiquiatra (51,50%),<br />

atendimento pelo pessoal da enfermagem e participação de oficinas terapêuticas<br />

Pintura<br />

Tai-chi<br />

54


(18,20% cada), atendimento de terapeuta ocupacional (7,50%), fornecimento de<br />

medicação (3,00%) e por último, consulta com médico neurologista.<br />

Esses dados estão ilustrados nas figuras 32 e 33, abaixo.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Psiquiatra<br />

Cardiologista<br />

Ginecologista<br />

Neurologista<br />

Ortopedista<br />

Otorrino<br />

Último encaminhamento recebido<br />

Enfermagem<br />

Figura 32: Último encaminhamento recebido pelos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro<br />

de Saúde II – São Carlos.<br />

Porcentagem<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Psiquiatra<br />

Oficina<br />

T.O.<br />

Enfermagem<br />

Último encaminhamento recebido<br />

Figura 33: Último encaminhamento recebido pelos usuários do CAPS –São Carlos.<br />

Neurologista<br />

55


Os itens da Base para análise dos prontuários que diziam respeito à local de<br />

nascimento (cidade, estado e país) e queixa de entrada não puderam ser analisados<br />

uma vez que os prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos não dispunham<br />

desses dados e os prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do<br />

Centro de Saúde II - Caconde dispunham o local de nascimento em pouca<br />

quantidade (20,55%, sendo 13,94% nascidos em Caconde; 1,39% em outras<br />

cidades do estado de São Paulo; 4,18% em cidades do estado de Minas Gerais e<br />

1,04 em cidades do estado do Paraná) e os dados referentes à queixa de entrada<br />

eram os mais diversos possíveis, uma vez que a instituição oferece uma gama muito<br />

variada de atendimento à população, sendo inviável a classificação dos mesmos.<br />

56


VI. DISCUS<strong>SÃO</strong><br />

A maior disponibilidade de recursos, não só no que diz respeito ao interesse<br />

pela pesquisa, disponibilização dos prontuários, mas também de uma sala para<br />

consulta dos mesmos, oferecida pelo Centro de Saúde II – Caconde, facilitou o<br />

desenvolvimento do estudo, em detrimento do CAPS – São Carlos, no qual o<br />

aparente desinteresse pela pesquisa em si, considerando o estudo somente como<br />

uma fonte de dados levantados por uma pessoa que substituiria o trabalho que<br />

poderia ser realizado por qualquer funcionário interno, a indiferença de alguns<br />

funcionários da instituição, a dificuldade na retirada dos prontuários e a não<br />

disponibilização de uma sala ou de algum lugar onde a pesquisadora tivesse<br />

melhores condições para a coleta dos dados dificultou e atrasou o desenvolvimento<br />

do presente estudo.<br />

No que diz respeito aos resultados obtidos, o que pôde ser observado<br />

inicialmente foi a enorme diferença entre a quantidade de prontuários analisados no<br />

Centro de Saúde II – Caconde (287) e os do CAPS – São Carlos (66), ou seja, a<br />

quantidade de usuários de cada instituição, fato esse já esperado devido ao tipo de<br />

atendimento oferecido por cada uma delas.<br />

Com relação à data de admissão, foi constatado que no Centro de Saúde II –<br />

Caconde houve um pico entre os anos de 1981 e 1990, podendo ser explicado pelo<br />

fato do atendimento público à saúde ter deixado de ser oferecido apenas às<br />

crianças, passando à população em geral, mesmo que exclusivamente ambulatorial.<br />

No CAPS – São Carlos, a maior taxa de admissão encontra-se no 1º semestre do<br />

ano de 2002, época esta em que a instituição foi inaugurada (março/2003). Isso<br />

demonstra que a rotatividade de usuários não tem sido muito alta (23% dos usuários<br />

deste serviço receberam alta), ou seja, eles têm permanecido durante um período<br />

longo de tempo na instituição, ainda mais se considerarmos que a maioria dos<br />

usuários são acompanhados de maneira intensiva (47%) e não semi intensiva (30%).<br />

A distribuição dos sexos dos usuários foi homogênea, não havendo muita<br />

discrepância, a não ser no fato de que enquanto no Centro de Saúde II – Caconde a<br />

maioria é feminino (56,44%), no CAPS a maioria é masculino (59%). O mesmo<br />

aconteceu com relação à faixa etária dos usuários, uma vez que no Centro de Saúde<br />

II – Caconde a maioria se encontrava entre 21 e 60 anos (77,35%) e no CAPS entre<br />

21 e 50 anos (85%).<br />

57


No que diz respeito ao local onde os usuários residem, observou-se que nos<br />

serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde os usuários residiam<br />

tanto na zona urbana quanto na zona rural, enquanto que os do CAPS residiam<br />

somente na zona urbana. Provavelmente, entre esses últimos, existam indivíduos<br />

oriundos da zona rural, que se mudaram para cidade devido às condições adversas<br />

do trabalho no campo. Mas, infelizmente, tal hipótese não poderá ser comprovada,<br />

pois, em ambos os serviços, os dados referentes ao local de nascimento, ou em<br />

caso de mudança, da proveniência do usuário, bem como em relação à<br />

escolaridade, antecedentes familiares e queixa de entrada são precários, o que<br />

impossibilita a realização de um levantamento confiável.<br />

Com relação às hipóteses diagnósticas, estas foram as mais diversas<br />

possíveis e até um pouco surpreendentes, na medida em que muitos dos prontuários<br />

continham mais de uma indicação de hipótese diagnóstica, sendo que estas podiam<br />

mudar a cada consulta. Pôde ser observado que entre os usuários do Centro de<br />

Saúde II - Caconde constavam em seus prontuários, em média 1,69 hipóteses<br />

diagnósticas por usuário, sendo observados diagnósticos que não constam da CID-<br />

10. A maioria dos casos se enquadra entre F40 e F48 (35,21%) e entre F20 e F29<br />

(22,33%). Já no CAPS – São Carlos foram encontrados prontuários com uma média<br />

de 2,71 hipóteses diagnósticas por usuário, sendo que a maioria dos casos se<br />

encontra entre F20 e F29 (38,20%) e entre F30 e F39 (30,33%). Isso indica que o<br />

Centro de Saúde II – Caconde atende mais casos de transtornos neuróticos<br />

relacionados ao estresse e somatoformes, além de casos de esquizofrenia,<br />

transtorno esquizotípico e delirante, enquanto o CAPS – São Carlos atende mais<br />

casos de esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante e também casos de<br />

transtornos do humor (afetivos), fato este que influencia diretamente a prescrição da<br />

medicação.<br />

O Centro de Saúde não possui nenhum usuário diagnosticado entre as<br />

categorias F80-F89, enquanto o CAPS – São Carlos não possui nenhum usuário<br />

diagnosticado entre as categorias F50-F59, F80-F89, F90-F98, F99, nem hipótese<br />

diagnóstica que não obedeça aos critérios da classificatórios da CID-10.<br />

A diferença entre o número médio de hipóteses diagnósticas por usuário pode<br />

indicar tanto uma falta de precisão no levantamento dessas hipóteses diagnósticas<br />

quanto a real existência de mais de um tipo de doença.<br />

Observou-se que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de<br />

Saúde II – Caconde utilizam, em maior porcentagem, antipsicóticos (32,99%),<br />

58


seguido de antidepressivos (26,39%), outros medicamentos (18,55%), ansiolíticos<br />

(9,96%) e estabilizadores do humor (4,32%). No CAPS – São Carlos a maior<br />

porcentagem de medicamentos utilizados também recai sobre os antipsicóticos<br />

(35,19%), seguidos pelos ansiolíticos (18,99%), outros medicamentos (17,31%),<br />

antidepressivos (14,52%) e, por último, estabilizadores do humor (8,93%).<br />

Sabe-se que os antipsicóticos são a primeira escolha no tratamento da<br />

esquizofrenia e outras psicoses, que os antidepressivos são medicamentos cuja<br />

função primordial é o tratamento da depressão (também utilizados para tratar<br />

transtorno bipolar, traumas do sistema nervoso central, demências, transtorno de<br />

ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares,<br />

síndromes de dor crônica, enurese e encoprese), que os ansiolíticos são indicados<br />

no tratamento da ansiedade, e que os estabilizadores do humor são utilizados na<br />

prevenção e tratamento dos transtornos do humor e esquizoafetivos.<br />

O fato dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde receberem mais<br />

prescrições de medicamentos classificados como antipsicóticos e antidepressivos<br />

encontra-se intimamente relacionado ao índice de hipóteses diagnósticas<br />

levantadas, uma vez que os antipsicóticos tratam a esquizofrenia e outras psicoses,<br />

enquanto os antidepressivos são medicamentos cuja função primordial é o<br />

tratamento da depressão, sendo também indicados para o tratamento de TOC<br />

(Transtorno Obsessivo Compulsivo), um tipo de transtorno neurótico, enquanto que<br />

para os transtornos fóbico-ansiosos o mais indicado são os ansiolíticos. No CAPS –<br />

São Carlos também se faz mais prescrição de antipsicóticos, mesmo porque o maior<br />

índice de hipóteses diagnósticas é de esquizofrenia, seguido de transtornos do<br />

humor.<br />

Foi encontrada uma média de 1,68 medicamentos utilizados por usuário no<br />

Centro de Saúde II – Caconde, enquanto que no CAPS – São Carlos essa média foi<br />

de 2,71 medicamentos por usuário, o que pode ser um indício de que mesmo<br />

oferecendo somente um serviço ambulatorial, o Centro de Saúde II – Caconde se<br />

preocupa com uma possível superdosagem medicamentosa proporcionada aos seus<br />

usuários além de provavelmente conseguir uma maior controle dos sintomas destes<br />

com uma menor quantidade de drogas, algo controverso se pensarmos que essa<br />

deveria ser uma das maiores preocupações do CAPS – São Carlos, e nem tanto da<br />

outra instituição.<br />

Além das hipóteses diagnósticas que dizem respeito à Saúde Mental dos<br />

usuários, também foram coletados dados sobre doenças associadas, podendo ser<br />

59


observado que tanto os usuários do Centro de Saúde II – Caconde, quanto os do<br />

CAPS – São Carlos sofrem de hipertensão arterial (12,54%; 37,50%<br />

respectivamente) e gastrite/úlcera (13,58%; 18,75% respectivamente), mas os<br />

usuários do CAPS – São Carlos também sofrem de doenças do aparelho respiratório<br />

como bronquite, rinite e sinusite (18,75%). Não há registro de outras doenças<br />

concomitantes à doença mental em 58,18% dos prontuários dos usuários dos<br />

Serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde, e em 81,80% dos<br />

prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos, fato este que deve ser ressaltado.<br />

E, relação ao número de internações psiquiátricas, há muito mais registro de<br />

internação de usuários do CAPS – São Carlos, tanto em número de vezes por<br />

paciente, pois há caso de paciente que chegou a ser internado 24 vezes, quanto<br />

com relação ao total de usuários, uma vez que 37,70% dos usuários já foram<br />

internados pelo menos 1 vez; enquanto que no Centro de Saúde II – Caconde os<br />

dados encontrados nos prontuários apontam que o número de internações não é tão<br />

grande, nem em número de vezes por paciente (o máximo de internações por<br />

paciente chegou a 12), nem para o número total de usuários, uma vez que 19,51%<br />

dos usuários já foram internados pelo menos 1 vez, sendo que dessas internações<br />

psiquiátricas, 3,48% foram realizadas em 2003 (no período de janeiro à julho).<br />

Para o CAPS – São Carlos não foi possível fazer um levantamento das<br />

internações ocorridas em 2003 devido à falta de dados, já que nessa instituição não<br />

foram encontradas, nos prontuários, as guias de contra-referência, documento este<br />

enviado pelo Hospital Psiquiátrico indicando data de internação, data de saída,<br />

sintomas apresentados, hipóteses diagnóstica, medicamentos utilizados para o<br />

tratamento e indicações de como esse tratamento deve ser continuado.<br />

No Centro de Saúde II – Caconde todas as guias de contra-referência se<br />

encontravam junto aos prontuários, facilitando o trabalho de coleta de dados.<br />

Uma justificativa para o alto índice de internações pode estar relacionada às<br />

hipóteses diagnósticas dos usuários de ambos os serviços, uma vez que indivíduos<br />

esquizofrênicos e com transtornos de humor podem apresentar mais crises de<br />

instabilidade psíquica e emocional do que os neuróticos. Mas, mesmo assim, os<br />

dados referentes às internações ocorridas entre os usuários do CAPS – São Carlos,<br />

que possuem mais diagnósticos de esquizofrenia e de transtornos de humor, foram<br />

considerados muito altos se comparados com os dados referentes às internações<br />

ocorridas entre os usuários do Centro de Saúde II – Caconde, que apresentam mais<br />

casos de transtornos neuróticos e esquizofrenia.<br />

60


Não só o alto índice de internações, assim como uma maior média de<br />

medicação por usuário, dados estes encontrados nos prontuários dos usuários do<br />

CAPS – São Carlos, constituem fatos bem estranhos se considerarmos que os<br />

principais objetivos de uma instituição como o CAPS – São Carlos são a orientação<br />

de usuários, acompanhantes e familiares, visando, basicamente o resgate da<br />

cidadania e a reabilitação psicossocial; diminuição do uso prolongado e contínuo de<br />

medicamentos com [sem?] acompanhamento adequado; criação de recursos para<br />

serviços alternativos à hospitalização, além de uma reorganização dos serviços de<br />

Saúde Mental promovendo mudanças que realmente levem à reabilitação do<br />

usuário, é estranho ter dados que mostrem que o que vêm acontecendo nos remete<br />

a uma realidade bem diferente da inicialmente proposta para a criação do CAPS -<br />

São Carlos.<br />

Também pôde ser verificado que a maioria dos usuários de ambos os serviços<br />

não recebem aposentadoria, ou pelo menos não há registro nos prontuários, sendo<br />

que os registros encontrados representam uma parcela mínima de usuários, tanto do<br />

Centro de Saúde II – Caconde (5,92%) quanto do CAPS – São Carlos (18,2%). Esse<br />

é um dado importante, uma vez que a maioria dos usuários apresenta condições<br />

precárias de vida, não só econômica, como também social, demonstrando a pouca<br />

ou não interferência das instituições na tomada de providências que mudem esse<br />

quadro e apontando ainda mais a necessidade urgente de inserção/reinserção<br />

desses usuários na comunidade, principalmente no que diz respeito ao CAPS – São<br />

Carlos, por ser um dos seus objetivos.<br />

No que diz respeito aos atendimentos terapêuticos recebidos pode-se<br />

observar que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II –<br />

Caconde só dispõem do serviço de psicoterapia individual, 1 vez por semana; sendo<br />

que o CAPS – São Carlos oferece para seus usuários não só o serviço de<br />

psicoterapia individual, como também o de terapia ocupacional individual, terapia<br />

ocupacional em grupo e oficinas, ou seja, uma gama bem maior de possibilidades de<br />

terapias alternativas à internação psiquiátrica. A freqüência de atendimentos<br />

terapêuticos oferece um dado interessante se for observado que a porcentagem de<br />

indivíduos que recebem atendimento psicológico no Centro de Saúde II – Caconde<br />

(14,63%) é bem maior que no CAPS – São Carlos (3,00%), mesmo tendo este<br />

condições mais favorecedores para propiciar tal serviço, pois possui um quadro de<br />

estagiários de psicologia da <strong>UFSCar</strong> e um número menor de usuários.<br />

61


Uma vez que o Centro de Saúde II – Caconde não oferece oficinas como<br />

recurso terapêutico, só puderam ser anotados os dados referentes ao CAPS – São<br />

Carlos, sendo observado que a maioria dos usuários participa de algum tipo de<br />

oficina terapêutica (71,20%), e que as oficinas em que se registra maior freqüência<br />

são as de Expressão Corporal (19,80%), seguida pela de Pintura, Literatura (19,00%<br />

cada) e Improvisação Cênica (11,90%), oficinas estas ministradas por estagiários do<br />

Curso de Psicologia da <strong>UFSCar</strong>. Esses dados demonstram como tem sido de<br />

fundamental importância a participação ativa da Universidade no CAPS – São<br />

Carlos, assim como a manutenção da parceria entre a <strong>UFSCar</strong> e a Secretaria<br />

Municipal de Saúde, que poderá continuar trazendo benefícios não só para os<br />

estudantes da Universidade, mas principalmente para o usuários da instituição, seus<br />

familiares, funcionários, enfim, para a comunidade de uma maneira geral.<br />

62


VII. CONCLU<strong>SÃO</strong><br />

O presente estudo revelou alguns dados cuja constatação era esperada,<br />

tendo em vista a proposta dos serviços em questão, e outros dados que<br />

surpreenderam.<br />

Tendo em vista a estrutura e a proposta básica do Centro de Saúde II –<br />

Caconde, este superou as expectativas em relação ao atendimento fornecido e aos<br />

resultados obtidos, como, por exemplo, sua taxa média de medicamentos prescritos<br />

por usuário, o número médio de internações e o número de atendimentos<br />

psicológicos realizados.<br />

Em relação ao CAPS – São Carlos, ao tomarmos como referência seus<br />

objetivos, concluímos que sua prática está distante de refletir uma<br />

desinstitucionalização plena, pois ainda mantêm-se alta a taxa média de<br />

medicamentos prescritos, o alto índice de internações e o baixo índice de<br />

atendimentos psicológicos realizados.<br />

Ambos os serviços foram deficitários no que diz respeito às informações<br />

referentes à escolaridade, à profissão, à antecedência familiar e queixa de entrada<br />

dos usuários dos serviços em questão, apontando para uma insuficiente<br />

organização das informações, o que no caso do CAPS – São Carlos é mais crítico,<br />

uma vez que o serviço é novo e tais dados são importantes para o levantamento e<br />

estruturação das possíveis causas e tratamento mais eficaz da doença.<br />

No decorrer do estudo, através também de observações e conversas<br />

informais com os usuários, foi observada uma aparente desospitalização, mas não<br />

uma desinstitucionalização dos mesmos. Isso levando em consideração o termo<br />

instituição como o conjunto das normas, regras e atividades agrupadas em torno dos<br />

valores e das funções sociais, e não no sentido de uma disposição hierárquica das<br />

funções que se efetuam geralmente no interior de um edifício ou de um espaço<br />

limitado, sendo isso considerado como organização; além de considerar que um<br />

grupo que deixa de ser um processo para se estabelecer como uma organização,<br />

também deixa de ser um grupo terapêutico para se transformar em um grupo anti-<br />

terapêutico, no sentido de uma reação terapêutica negativa (Käes et al.,1991).<br />

Essa desospitalização, mas não desinstitucionalização dos usuários pode ser<br />

explicado por Käes et al. (1991), onde segundo ele a instituição apresenta,<br />

psicanaliticamente, uma identificação como sendo aquela formação intermediária<br />

que mantém juntos os membros das instituições e uma identificação de própria<br />

63


instituição, onde o sujeito ganha e perde com esse processo e com o que se dá com<br />

ele no conjunto que assim se forma.<br />

De acordo com Käes et al. (1991), a existência de identidade de uma pessoa<br />

ou de um grupo é determinada, na ordem cotidiana e manifesta, pela estrutura e<br />

pela integração atingidas, em cada caso, pelo “eu individual” e pelo “eu grupal” (grau<br />

de organização, amplitude e de integração do conjunto das manifestações de<br />

verbalização, motricidade, ação, julgamento, raciocínio e pensamento). A identidade<br />

grupal pode ser dada por um trabalho efetuado em comum, instaurando regras de<br />

interação e de comportamento, como também através de uma identidade particular<br />

ou identidade grupal sincrética, que se apóia sobre uma socialização na qual esses<br />

limites não existem, uma vez que os indivíduos não têm identidade enquanto tal,<br />

mas sim na sua filiação ao grupo.<br />

Sendo assim, por um lado a instituição pode ser vista como uma celebração<br />

pelo grupo que institui e desinstitui continuamente a função criadora do imaginário<br />

social e da realização dos desejos individuais; mas por outro lado há a denúncia da<br />

instituição instituída, alienante, que pereniza a rigidificação do movimento social, a<br />

permanência dos poderes coercitivos e a hierarquia dos valores oponíveis à<br />

satisfação do desejo, favorecendo o sofrimento humano através da força<br />

esmagadora da própria natureza, da decrepitude do corpo e da insuficiência das<br />

medidas destinadas a regular as relações entre os homens e entre os homens e a<br />

sociedade no geral.<br />

As organizações constituem parte da nossa personalidade, mas o que<br />

também deve ser levado em consideração é a crença incorreta de que há uma<br />

oposição do indivíduo ao grupo e da organização ao grupo, na medida em que é<br />

pensado que indivíduos existem isoladamente e que se reúnem para formar grupos<br />

e organizações. Isso é incorreto, uma vez que o ser humano, antes de ser uma<br />

pessoa, é sempre um grupo, não no sentido de pertencer a um grupo, mas no<br />

sentido em que sua personalidade é grupal.<br />

Sendo assim, faz-se mister uma maior discussão e uma rápida solução para o<br />

que diz Käes et al. (1991), onde<br />

“(...) qualquer organização tem tendência a manter a mesma<br />

estrutura do problema que ela tenta enfrentar e pelo qual foi<br />

criada (...). A função iatrogênica e de confirmação das doenças<br />

desempenhada pelos hospitais psiquiátricos (...) constitui um<br />

64


aspecto sobre o qual se insiste muito hoje em dia; mas<br />

esquecemos outros aspectos também importantes, que têm o<br />

mesmo efeito burocrático iatrogênico e a mesma função latente:<br />

a de manter a clivagem que controla a sociabilidade sincrética”<br />

(Käes et al.,1991, pp. 68).<br />

65


VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BASAGLIA, F., La distruzione dell’ospedale psichiatrico. In: Basaglia, F. Scritti,<br />

Einaudi, Totino, 1982.<br />

CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Ed. Cultrix, 1982.<br />

COOPER, J. E. (org.) Classificação de Transtornos mentais e de<br />

Comportamento da CID-10: uma referência rápida. Trad.: Gabriela<br />

baldisseroto. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.<br />

DITTRICH, A. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação,<br />

renovação e libertação. Psicologia, Ciência e Profissão, v. 18 nº 1, pp. 46-55,<br />

1998.<br />

KÄES, R. et al. A instituição e as instituições: estudos psicanalíticos. Trad:<br />

Joaquim Pereira neto. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1991<br />

KINOSHITA, R.T. Contratualidade e reabilitação psicossocial. Em: Pitta, A. (org.)<br />

Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001.<br />

MARQUES, A.J. de S. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica. Em:<br />

Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001.<br />

PESSOTTI, I. A loucura e as épocas. Rio de Janeiro: Ed. 34,1994<br />

PITTA, A. O que é reabilitação social no Brasil, hoje? Em: Pitta, A. (org.)<br />

Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001-a.<br />

________. Prefácio à 1ª edição. Em: Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no<br />

Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001-b.<br />

REY, F. L. G. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. São<br />

Paulo: Ed. Pioneira, 2002.<br />

66


SANTOS, S.N.; ALMEIDA, P.F.; VENANCIO, A.T. & <strong>DE</strong>LGADO, P.G. A autonomia<br />

do sujeito psicótico no contexto da reforma psiquiátrica brasileira.<br />

Psicologia, Ciência e Profissão, v. 20 nº 4, pp. 46-53, 2000.<br />

SARACENO, B. Libertando Identidades. Rio de Janeiro: Ed Te Cora, 2001-a.<br />

____________. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do<br />

milênio. Em: Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo:<br />

Hucitec, 2001-b.<br />

SIMANKE, Richard Theisen. Loucura e psicose: a abordagem psicanalítica.<br />

Apostila de aula. São Carlos: <strong>UFSCar</strong>, 1997.<br />

WICKERT, L.F. Loucura e direito a alteridade. Psicologia, Ciência e Profissão, v.<br />

18 nº 1, pp. 38-45, 1998.<br />

http://www.psicopatologia.hpg.ig.com.br/reforma.htm (site visitado em janeiro/2003)<br />

http://www.comciencia.br (site visitado em janeiro/2003)<br />

http://www.ifb.org.br/ (site visitado em janeiro/2003)<br />

67


ANEXO 1<br />

BASE PARA ANÁLISE <strong>DE</strong> PRONTUÁRIOS<br />

1. Serviço________________________________________________________<br />

2. Prontuário no. __________________________________________________<br />

3. Iniciais_________________________________________________________<br />

4. Idade__________________________________________________________<br />

5. Data de nascimento______________________________________________<br />

6. Local de nascimento: cidade: ______________________________________<br />

Estado: _________________________País___________________________<br />

7. Endereço atual: Cidade_________________, Bairro_____________________<br />

8. Escolaridade____________________________________________________<br />

9. Profissão ______________________________________________________<br />

10. Data de admissão no serviço: ______________________________________<br />

11. Queixa de entrada:_______________________________________________<br />

12. Descrição dos principais sintomas:___________________________________<br />

_________________________________________________________________<br />

_________________________________________________________________<br />

13. Antecedentes familiares___________________________________________<br />

_________________________________________________________________<br />

14. Hipótese diagnóstica_____________________________________________<br />

15. Medicação em uso_______________________________________________<br />

16. Nº de internações psiquiátricas_____________________________________<br />

Datas/Locais____________________________________________________<br />

_________________________________________________________________<br />

_________________________________________________________________<br />

17. Outras doenças/medicação_______________________________________<br />

18. Recebe benefício do INSS? ( ) sim ( ) não<br />

19. Atendimentos terapêuticos recebidos<br />

( ) psicoterapia ( ) terapia ocupacional<br />

19.1Modalidade<br />

( ) grupo ( ) individual ( ) ambas<br />

19.2 Freqüência<br />

68


( ) uma vez/ semana ( ) duas vezes/ semana ( ) três vezes/semana<br />

20. Acompanhamento psiquiátrico<br />

( ) sim ( ) não<br />

21. Participa de alguma atividade terapêutica expressiva em Oficinas ?<br />

( ) sim ( ) não<br />

21.1Qual (is)? _____________________________________________________<br />

22. Último encaminhamento recebido ___________________________________<br />

22.1 Data: ________________________________________________________<br />

23. Evolução clínica do usuário__________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

24. Outros achados não contemplados pelas questões acima<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

______________________________________________________________<br />

Data da consulta ao Prontuário : _____________________________________<br />

Nome da pesquisadora_____________________________________________<br />

Assinatura_______________________________________________________<br />

69


Prezado Senhor (a)<br />

ANEXO 2<br />

<strong>UNIVERSIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>FE<strong>DE</strong>RAL</strong> <strong>DE</strong> <strong>SÃO</strong> <strong>CARLOS</strong><br />

<strong>CENTRO</strong> <strong>DE</strong> CIÊNCIAS HUMANAS<br />

<strong>DE</strong>PÁRTAMENTO <strong>DE</strong> PSICOLOGIA<br />

CURSO <strong>DE</strong> GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA<br />

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido<br />

São Carlos, ____ de _______________ de 2003.<br />

Venho, pela presente, solicitar a autorização de V. Sa. para a realização das atividades da<br />

Pesquisa “Estudo comparativo entre o encaminhamento em saúde mental oferecido pelo CAPS – São<br />

Carlos/SP e pelo Centro de Saúde II – Caconde/SP.<br />

O objetivo dessa pesquisa é caracterizar, por meio da consulta aos prontuários dos usuários,<br />

o encaminhamento oferecido à população atendida, sempre considerando as possibilidades de<br />

atendimento e as características próprias de cada serviço.<br />

Este trabalho implicará em uma análise dos prontuários dos usuários de ambos os serviços<br />

de acordo com um roteiro pré-estabelecido (em Anexo no Projeto).<br />

A aluna que realizará a pesquisa, Marina Ceres Silva Pena, é graduanda do Curso de<br />

Psicologia da Universidade Federal de São Carlos, o qual exige, para sua formação em Bacharel, o<br />

desenvolvimento e conclusão desta pesquisa.<br />

O presente trabalho só poderá ser realizado com o devido consentimento de V.Sa.,<br />

responsável pela instituição. Salientamos que a atividade a ser desenvolvida não trará qualquer<br />

prejuízo para a instituição nem para os usuários desta, e que seus nomes permanecerão em absoluto<br />

anonimato.<br />

O resultado da pesquisa será depositado, em forma de Monografia de Pesquisa, na<br />

Coordenação do Curso de Psicologia, ficando, ainda, à disposição da <strong>UFSCar</strong> (por meio do Programa<br />

de Extensão "Saúde Mental e Cidadania"), da Coordenação e Equipe do CAPS-São Carlos/SP e da<br />

Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Saúde II, Caconde/SP, resguardando, em todas essas<br />

instâncias, o anonimato dos usuários. Eventualmente, poderá ser divulgado por meio de Congressos,<br />

reuniões científicas ou publicações da área, sempre garantindo o anonimato do usuário.<br />

Contando com sua compreensão para o caso, solicito sua autorização por meio da assinatura<br />

do presente termo, para que seja efetivado o planejamento das atividades acima referidas e que a<br />

execução do projeto seja realizada na instituição, sem nenhum ônus à mesma, durante o primeiro e<br />

segundo semestres de 2003.<br />

Atenciosamente,<br />

(Nome do responsável pela Instituição)<br />

(cargo ocupado)<br />

Profª. Georgina Faneco Maniakas Marina Ceres Silva Pena<br />

Orientadora / Pesquisadora responsável Pesquisadora<br />

End.: Rod. Washington Luís, km. 235 End: R. Episcopal, 2474, ap.12-A/ São Carlos-SP<br />

São Carlos-SP Fone: (16) 272 5536<br />

Fone: (16) 260 8361 e-mail: mcsp15@yahoo.com.br<br />

70


1. Projeto de Pesquisa:<br />

2. Área do Conhecimento (Ver relação no verso)<br />

ANEXO 3<br />

COMITÊ <strong>DE</strong> ÉTICA EM PESQUISA<br />

MINISTÉRIO DA SAÚ<strong>DE</strong> - Conselho Nacional de Saúde - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP<br />

FOLHA <strong>DE</strong> ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS<br />

3. Código: 4. Nível: ( Só áreas do conhecimento 4 )<br />

5. Área(s) Temática(s) Especial (s) (Ver fluxograma no verso) 6. Código(s): 7. Fase: (Só área temática 3) I ( ) II ( )<br />

III ( ) IV ( )<br />

8. Unitermos: ( 3 opções )<br />

9. Número de sujeitos<br />

No Centro :<br />

Total:<br />

11. Nome:<br />

SUJEITOS DA PESQUISA<br />

10. Grupos Especiais :


COMITÊ <strong>DE</strong> ÉTICA EM PESQUISA<br />

1-) <strong>DE</strong>SCRIÇÃO DA PESQUISA, CONTENDO:<br />

a-) Descrição dos propósitos.<br />

Buscando refletir sobre as práticas substitutivas em Saúde Mental, o presente<br />

trabalho pretende realizar um estudo comparativo entre o encaminhamento oferecido<br />

aos usuários que procuram os serviços de saúde mental em duas unidades de<br />

saúde mental: o CAPS-São Carlos, inserido no contexto de reformulação da atenção<br />

em Saúde Mental e pretendendo ser um serviço que de alguma forma venha a<br />

inaugurar o “novo” em termos de atendimento ao doente mental, e o Centro de<br />

Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP, que funciona em<br />

esquema ambulatorial tradicional. Este estudo também pretende caracterizar, por<br />

meio da consulta aos Prontuários, o tratamento oferecido à população atendida, o<br />

tipo de demanda, assim como a questão da construção da autonomia dos sujeitos<br />

psicóticos atendidos pelos serviços, sempre considerando as características próprias<br />

de cada serviço. A indagação é pertinente, pois a discussão sobre a “autonomia” dos<br />

sujeitos psicóticos põe em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em<br />

psiquiatria, além de, depois aproximadamente uma década de implantação dos<br />

“novos serviços”, parece ser este um bom momento para refletir e avaliar as<br />

possíveis transformações no campo da Atenção em Saúde Mental.<br />

b-) Antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesquisa.<br />

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde seria um estado<br />

completo de bem-estar físico, mental, social e não somente a ausência de doenças<br />

ou enfermidades (Capra, 1982). Mas saúde é uma experiência subjetiva, algo que<br />

pode ser conhecido intuitivamente, mas nunca descrito ou quantificado; saúde é uma<br />

experiência de bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico que envolve os<br />

aspectos físicos e psicológicos do organismo, assim como sua interação com o meio<br />

ambiente natural e social.<br />

Para Wickert (1998),<br />

“a saúde só se dá quando o sujeito tem possibilidades de traçar o<br />

seu próprio destino, conforme seu desejo, em direção ao seu bemestar<br />

físico, psíquico e social e que o caminho construído nem<br />

sempre é condizente com a modelagem social (...)” 16<br />

Saraceno (2001-a), entende que saúde mental seja o conjunto de ações de<br />

promoção, manutenção e tratamento referentes à melhora, manutenção ou<br />

restauração da saúde mental de uma população.<br />

A subjetividade é um objeto de pesquisa psicológica, sendo esta um<br />

“sistema complexo de significações e sentidos subjetivos produzidos<br />

na vida cultural humana, se definindo ontologicamente como<br />

diferente dos elementos sociais, biológicos, e de qualquer outro tipo,<br />

relacionados entre si no complexo processo de seu desenvolvimento<br />

individual e social (...) a subjetividade e a cultura são processos<br />

16 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade., pp. 38.<br />

72


construtivos complexos que ocorrem de forma simultânea; a<br />

subjetividade não é determinada pela cultura; a cultura depende da<br />

subjetividade”. 17<br />

Segundo Pessotti (1994), na antiguidade grega o homem não se conhecia; as<br />

distorções e aberrações da natureza humana eram entendidas vagamente e, na<br />

ausência de qualquer psicologia, atribuídas à forças e entidades desconhecidas.<br />

Acreditavam na intervenção direta e permanente dos e dos seus instrumentos na<br />

vida dos homens, e pensavam na loucura como um estado de desrazão, de perda<br />

do controle consciente sobre si mesmo, de insensatez, de perda do contato<br />

ordenado com a realidade física ou social. Já a doutrina demonista que associa a<br />

loucura à possessão diabólica e marca a concepção medieval da psicopatologia,<br />

não é apenas um artifício religioso da época para repreender as heresias e impor a<br />

ortodoxia teológica e moral, mas também uma forma de pensar, que tem suas raízes<br />

na própria formação doutrinária do cristianismo; quase tosos os comportamentos<br />

acabam sendo tidos como suspeitos e gradualmente atribuídos ao demônio. Obras<br />

importantes foram publicadas como Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas)<br />

escrito por Sprenger e Institor, e o Traité Médico-Philosophique sur l’aliénation<br />

mentale, de Pinel.<br />

De acordo com Pessotti (1994), a confusão doutrinária das últimas décadas<br />

do século XIX gera vários absurdos terapêuticos; há uma desorientação geral da<br />

teórica médica quanto à etiologia e conseqüentemente da terapêutica da loucura; há<br />

o desaparecimento do modelo mitológico religioso e destaca-se o organicismo que<br />

incentiva a busca por maiores explicações das funções orgânicas, culminando num<br />

conflito entre o modelo organicista clássico e um modelo médico biopsicossocial,<br />

que por sua vez, testemunha a fragmentação e o paralelismo da teoria psiquiátrica,<br />

já que aquilo que não se explica com o “bio”, se explica com o “psico” e/com o social,<br />

gerando uma espécie de ilusão e impotência terapêutica (Saraceno, 2001-a).<br />

Para Wickert (1998),<br />

“no pensar coletivo atual, louco é aquele que não tem razão, que dá<br />

medo, que não controla seus próprios impulsos, escapando aos<br />

padrões sociais a serem seguidos e mantidos, necessitando, então,<br />

de tratamento especializado (...) Como o insano não é<br />

controlável/suportável nos termos morais, a razão coexiste com a<br />

loucura em contraposição, assim quem tem a razão não é louco e<br />

quem é louco não tem a razão.” 18<br />

Segundo Dittrich (1998),<br />

“será sempre em relação a uma ordem de ‘normalidade’,<br />

‘racionalidade’ ou ‘saúde’ que a loucura é concebida nos quadros de<br />

‘anormalidade’, irracionalidade’ ou ‘doença’ ”. 19<br />

A prática de submeter o paciente psiquiátrico às instituições manicomiais são<br />

práticas que visam moldar a conduta do sujeito sem levar em consideração o seu<br />

desejo, a sua subjetividade, num único objetivo de exclusão, a massificação e a<br />

dominação social. Os loucos passam a ser enclausurados em um lugar delimitado e<br />

2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, p.36-37 e 43.<br />

18 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade, pp. 39.<br />

19 Dittrich, 1998. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação, pp. 52.<br />

73


afastado, para que os ditos como sãos saibam a história do sofrimento psíquico<br />

desses doentes, saibam quais males os ameaçam e busquem maneiras de evitar tal<br />

sofrimento, nascendo dessa estrutura os manicômios, lugares onde se despejavam<br />

aquelas pessoas que a sociedade, apesar de produzir, rejeitava (Wickert, 1998).<br />

Para Goffman (1996) apud Wickert (1998), os manicômios assim como as<br />

prisões, os conventos, os quartéis e as casas de recolhimento de indigentes são<br />

instituições totais, uma vez que as instituições totais são caracterizadas por locais<br />

onde as atividades são realizadas num mesmo local e sob uma única autoridade;<br />

todas as pessoas são tratadas da mesma forma e obrigadas a realizar tarefas em<br />

conjunto, sendo estas rigorosamente organizadas por um sistema de regras formais<br />

explícitas e por um grupo de funcionários. Além disso, há uma divisão básica e de<br />

pouca mobilidade social entre o grupo de internados e a equipe de supervisão. Na<br />

estrutura manicômio-instituição total, uma estufa para mudar pessoas, o paciente é<br />

obrigado a despir-se não só das suas roupas, mas também da sua história, sua<br />

subjetivação, sua individualidade, tornando-se apenas um simples número ou uma<br />

categoria da CID-10.<br />

Com o processo de internação, as barreiras que separam o manicômio do<br />

mundo externo acarretam perdas de papéis sociais e a aquisição de um padrão de<br />

comportamento homogeneizado a ser seguido, sendo uma agressão à subjetividade<br />

e à individualidade do paciente, além da perda do rótulo de saudável, de quem “tem<br />

a razão”, pois dizer socialmente “doente mental” é sê-lo para o resto da vida,<br />

condicionando o passado e o futuro do sujeito e marcando-o para toda a vida<br />

(Wickert, 1998).<br />

Segundo Saraceno (2001-a), os anos 70 se caracterizaram pela idéia de que<br />

a psiquiatria seria um conjunto de técnicas terapêuticas a serem aprendidas a fim de<br />

escolher aquela mais convincente, além da manutenção da idéia equivocada de<br />

cientificidade, na qual<br />

“científico é tudo aquilo que se exprime com categorias do<br />

quantitativo, que se refere a modelos claros e distintos, que exclui a<br />

subjetividade”. 20<br />

No entanto, como expressar em categorias puramente quantitativas um<br />

fenômeno cujo objeto às vezes é e as vezes não é alguma coisa ? 21<br />

Partindo da análise do discurso comum, Simanke (1997) observa que o termo<br />

loucura, longe de seu significado psicopatológico atual, formou uma rede ou campo<br />

de significações, do qual se alimentaram, posteriormente, os discursos mais<br />

organizados. A denominação “loucura” não representa nada de específico. Ela<br />

somente vai sofrer uma determinação estreita ao ver-se apropriada de formas de<br />

conhecimento mais organizadas, a partir dos parâmetros que definem as diversas<br />

teorias, adquirindo, somente desse modo, um sentido próprio, mas que permanece<br />

circunscrito a essa dada disciplina 22 .<br />

Somente quando a psiquiatria se impõe como o campo de domínio das<br />

doenças mentais, é que a loucura passa a se restringir ao significado “científico” que,<br />

hoje, lhe é atribuído.<br />

No entanto, ainda segundo Simanke (1997), o significado “científico” da<br />

loucura nasceu de práticas sociais mais ou menos simétricas à maneira como o<br />

fenômeno era percebido. O autor nota que tais práticas,<br />

3 Saraceno, 2001-a. Libertando Identidades, pp.13.<br />

21 Simanke, 1997, Loucura e Psicose: a abordagem psicanalítica. Apostila.<br />

22 Simanke (1997), p. 5<br />

74


“desencadeadas pelos aspectos mais superficiais das<br />

manifestações, podiam ser exercidas sem necessidade de entrar no<br />

mérito da natureza última dos fenômenos em foco; em outras<br />

palavras, ao menos nesse caso, a ação precedeu a reflexão” 23 .<br />

Inspirado por algumas noções gerais foucaultianas, o autor arrisca um esboço<br />

de definição dizendo que<br />

“histórica e culturalmente, a loucura identifica-se com um certo<br />

campo de discursos, que emergem de práticas sociais e/ou<br />

institucionais mais ou menos concretas.” 24<br />

Tais práticas foram rapidamente institucionalizadas, e foi através de um<br />

modelo hospitalocêntrico para o tratamento das doenças mentais que chegaram até<br />

nós.<br />

A Reforma Psiquiátrica consiste em uma reação a essa modelo, por meio de<br />

uma série de transformações na assistência em saúde mental propostas pela<br />

chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se iniciou na Itália com<br />

Franco Basaglia e teve seus primeiros momentos no Brasil a partir do final da<br />

década de 70, se intensificando ao longo dos anos 80, 90 e 2000. Este movimento<br />

reúne diversos atores sociais como usuários de serviços de saúde mental, seus<br />

familiares e técnicos da área de saúde; não pretende acabar com o tratamento<br />

clínico da doença mental, mas sim eliminar a prática do internamento como forma de<br />

exclusão social dos indivíduos portadores de transtornos mentais. Propondo, para<br />

isso, a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços<br />

territoriais de atenção psicossocial, de base comunitária. A extinção dos manicômios<br />

deve ser gradual, sendo que para que isso ocorra, foi aprovada uma Lei Federal de<br />

Saúde Mental em abril de 2001 (após 12 anos de tramitação no Congresso), que<br />

regulamenta o processo de Reforma a Assistência Psiquiátrica no Brasil.<br />

A partir da década de 70, percebe-se no país alguns movimentos de crítica ao<br />

modelo hospitalocêntrico no que se refere à assistência psiquiátrica, sendo a<br />

exclusão e a violência nos manicômios pautas de discussões que reivindicavam os<br />

direitos dos doentes mentais. Os principais questionamentos eram relacionados à<br />

natureza do modelo privatista e à sua incapacidade de produzir um atendimento que<br />

contemplasse as necessidades de seus usuários, mas ainda não havia um modelo<br />

muito claro nem uma proposta de intervenção clínica. Já na década de 80, período<br />

marcado pela ditadura, o movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil ganha<br />

importância política e social, possibilitando mudanças na saúde, permitindo a<br />

participação de outros setores que não médicos, enfatizando críticas às noções de<br />

clínica e cidadania, ambas ancoradas a uma concepção universal do sujeito onde a<br />

normalidade deve ser reconstituída. A construção de um novo espaço social para a<br />

loucura exigia não só que a noção de cidadania e a base do saber psiquiátrico<br />

fossem colocados em debate, mas também a invenção de novos locais, instrumentos<br />

técnicos, terapêuticos e novos modos de estabelecer relações com esses sujeitos<br />

(Santos, Almeida & Venâncio, 2000).<br />

Nesse período foi muito importante a influência da psiquiatria democrática<br />

italiana, propondo o questionamento da suposta universalidade do racionalismo<br />

científico das psiquiatrias; usuários e familiares passaram a reivindicar mais<br />

intensamente por outras possibilidades de atenção assim como espaços, avanços<br />

técnicos e formas de reabilitação psicossocial. Começaram a ser implantados os<br />

23 Idem, ibid, p. 6<br />

24 Idem, ibid, p. 7<br />

75


hospitais-dia, mas só nos anos 90 foram criados e consolidadas propostas como os<br />

Centros de Assistência Psicossocial (CAPS), os Núcleos de Atenção Psicossocial<br />

(NAPS) e os Lares Abrigados (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).<br />

Originada do grego, a palavra autonomia surgiu para designar a capacidade<br />

de um indivíduo de se autodeterminar, de se auto-realizar (Santos, Almeida &<br />

Venâncio, 2000). Para Kinoshita (2001), autonomia seria<br />

“a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a sua vida,<br />

conforme as diversas situações que enfrente (...) não se trata de<br />

confundir autonomia com auto-suficiência nem com independência.”<br />

25<br />

No campo da saúde mental, entretanto, seu conceito parece ser mais<br />

impreciso, uma vez que os sujeitos se tornam destituídos de todo e qualquer valor<br />

ao receber o atributo de doente mental, além da dúvida de se as instituições que<br />

utilizam novos dispositivos contrários àqueles do tradicional manicômio, propiciarem<br />

ou não a produção de autonomia para os usuários que se beneficiam do tratamento<br />

(Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Aqui, se torna muito importante a questão da<br />

reabilitação psicossocial.<br />

Para a OMS, segundo Pitta (2001-a), a reabilitação psicossocial seria<br />

“o conjunto de atividades capazes de maximizar oportunidades de<br />

recuperação de indivíduos e minimizar os efeitos desabilitantes da<br />

cronificação das doenças através do desenvolvimento de insumos<br />

individuais, familiares e comunitários”. 26<br />

Segundo Pitta (2001-b), reabilitação psicossocial<br />

“implica numa ética de solidariedade que facilite aos sujeitos com<br />

limitações para os afazeres cotidianos, decorrente de transtornos<br />

mentais severos e persistentes, o aumento da contratualidade<br />

afetiva, social e econômica que viabilize o melhor nível possível de<br />

autonomia para a vida na comunidade.” 27<br />

Já Kinoshita (2001) pensa que reabilitação seria a reconstrução dos valores, o<br />

aumento do poder contratual do usuário; a criação de condições para que o paciente<br />

possa participar do processo de trocas sociais; a produção de dispositivos que<br />

mudem o pressuposto de desvalor natural; em suma, um processo de restituição do<br />

poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia.<br />

Complementando a idéia, Saraceno (2001-b) afirma que<br />

“o processo de reabilitação seria, então, um processo de<br />

reconstrução, um exercício pleno da cidadania, e, também, de plena<br />

contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e<br />

trabalho com valor social.” 28<br />

Marques (2001), ainda define como metas da reabilitação<br />

25 Kinoshita, 2001. Contratualidade e reabilitação psicossocial, pp. 57.<br />

26 Pitta, 2001-a. O que é reabilitação social no Brasil, hoje?, pp. 21.<br />

27 Pitta, 2001-b. Prefácio à 1ª edição, pp. 9.<br />

28 Saraceno, 2001-b. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio, pp. 16.<br />

76


“prevenir e/ou reduzir incapacitações ou perda de habilidades;<br />

restaurar habilidades potenciais em desempenhar papéis sociais;<br />

fortalecer habilidades latentes e dignidades potenciais; facilitar<br />

adaptação social e psicológica aos efeitos de prejuízos sociais na<br />

vida do indivíduo; minimizar a deterioração; capacitar níveis ótimos<br />

de autodeterminação, execução de responsabilidades pessoais e<br />

independentes, melhorar o sentido de bem-estar da pessoa.” 29<br />

A reabilitação deve ser a principal característica da psiquiatria; um<br />

“entretenimento” do doente. Tendo em vista que entreter significa “ter dentro” e<br />

também “passar prazerosamente o tempo”; na espera de que o doente morra ou que<br />

a doença se cure sozinha, o significado empregado pode ser o de que o doente<br />

“fique dentro” do hospital psiquiátrico, nas alas, nas enfermarias, nas salas de<br />

contenção, na violência e na miséria; ou então o de que o doente também pode ser<br />

entretido com conversas, com oficinas terapêuticas, em um hospital dia e/ou no meio<br />

da sua própria família, adotando assim o sentido de inserção em um sistema onde a<br />

espera é de melhora. É importante também conhecer as ações que contribuíram<br />

para a melhora do paciente, pois assim talvez fosse verificado que as ações formais<br />

não são especialmente influentes sobre a evolução das doenças; que a psiquiatria<br />

clínica com suas terapêuticas constitui um conjunto de entretenimentos danosos ou<br />

indiferentes, raramente úteis. A ruptura deste entretenimento não é apenas uma<br />

ruptura à prática da psiquiatria, mas também uma busca de caminhos que confluam<br />

para a reconstrução da cidadania plena do paciente psiquiátrico, sendo esta não só<br />

a restituição de seus direitos formais, como também a construção afetiva, relacional,<br />

material, habitacional e produtiva dos seus direitos substanciais (Saraceno, 2001-a).<br />

c-) Descrição detalhada e ordenada do projeto.<br />

Segundo Capra (1982), a influência do paradigma cartesiano (concepção<br />

mecanicista da vida) sobre o pensamento médico resultou no modelo da moderna<br />

medicina científica, onde o corpo humano é considerado uma máquina que pode ser<br />

analisada em termos de suas peças; a doença é tida como um mau funcionamento<br />

dos mecanismos biológicos, que são estudados do ponto de vista da biologia<br />

molecular. Em se tratando das doenças mentais, postula uma relação linear de<br />

causalidade entre danos do sistema nervoso e o surgimento das doenças mentais,<br />

considerando que os tratamentos das doenças não são outro que modificações<br />

(essencialmente farmacológicas) da função cerebral alterada.<br />

A abordagem biopsicossocial procura contemplar o processo de saúdedoença<br />

como uma relação interativa entre fatores biológicos, psicológicos e sociais<br />

(agora também espirituais). Fatores macrossociais, diferenças culturais, eventos<br />

externos (guerras, desastres), condições sócio-econômicas (desemprego, recessão<br />

econômica, condições de insuficiente suporte social, ambientes psicológicos<br />

adversos) e contextos microssociais (família) são todos importantes no surgimento e<br />

na evolução de muitas das doenças psiquiátricas (Saraceno, 2001-a).<br />

Segundo Rey (2002) e apoiando a abordagem biopsicossocial, o<br />

conhecimento estaria ligado à cultura, à organização social e à “práxis histórica”,<br />

sendo não só condicionado, determinado e produzido, mas também condicionante,<br />

determinante e produtor.<br />

O que ainda vem acontecendo ultimamente é que o papel biológico vem<br />

dominando o modelo de assistência à saúde mental. O ideal seria uma relação não<br />

29 Marques, 2001. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica, pp. 107.<br />

77


simplesmente somatória, mas interativa entre as dimensões biológica, psicológica e<br />

social, sem deixar quer um dos aspectos fosse dominante sobre os outros, pois a<br />

abordagem biopsicossocial não exclui, evidentemente, a biológica, mas coloca em<br />

crise o paradigma biomédico, mostrando sua ineficácia e deterioração.<br />

O presente estudo pretende seguir, predominantemente as orientações da<br />

pesquisa qualitativa, sendo que esta última, segundo Rey (2002)<br />

“enfatiza tanto a compreensão da pesquisa qualitativa como processo<br />

dialógico que impede tanto o pesquisador, como as pessoas que são<br />

objetos da pesquisa, em sua condição de sujeito do processo; (...) a<br />

busca de grandes narrativas vai sendo substituída por teorias mais<br />

locais e de pequena escala. Centradas em problemas e situações<br />

específicas (...). A definição do qualitativo na pesquisa psicológica não<br />

é uma questão instrumental, nem tampouco uma questão definida<br />

pelo tipo de dados que devem ser incluídos, mas que se define<br />

essencialmente pelos processos implicados na construção do<br />

conhecimento, pela forma de se produzir o conhecimento”. 30<br />

O estudo será realizado no CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) de<br />

São Carlos-SP e no Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em<br />

Caconde-SP.<br />

O CAPS foi recentemente implantado (março/2002) na cidade de São Carlos,<br />

mas já presta serviços a uma demanda considerável, uma vez que a cidade possui<br />

quase 200.000 habitantes e ainda é referência regional, atendendo então, não<br />

somente sua população, mas também a população das cidades vizinhas (como<br />

Ibaté, Água Vermelha, Dourado, Ribeirão Bonito, entre outras). O CAPS oferece<br />

tanto o serviço de fornecimento de medicamentos gratuitamente, de atendimento<br />

médico (diagnóstico psiquiátrico ou neurológico e “troca de receitas”) como<br />

atendimento psicológico, de enfermagem, de terapia ocupacional, de serviço social,<br />

de oficinas terapêuticas e até a permanência de determinados períodos do dia para<br />

os casos mais graves, dependendo do tratamento (intensivo e semi-intensivo).<br />

Já o Centro de Saúde, apesar de ter sofrido recentemente uma pequena<br />

reestruturação no Serviço de Saúde Mental, possui um tipo de serviço totalmente<br />

diferente do realizado nos CAPS em geral, pois oferece serviço um serviço mais<br />

emergencial: fornecimento de medicamentos gratuitamente, consultas com médico<br />

psiquiatra (para diagnóstico e “troca de receitas”) e em alguns casos<br />

encaminhamento para o psicólogo. Além da diferença do tipo de serviço oferecido, é<br />

preciso destacar que a população atendida é bem menor, uma vez que a população<br />

de Caconde é de aproximadamente 20.000 habitantes e a cidade não é referência<br />

regional para nenhum assunto referente à saúde.<br />

Dessa maneira, tendo em vista que as duas instituições apresentam diversas<br />

diferenças entre si, somente torna-se viável a realização de um estudo comparativo<br />

em relação ao tipo de encaminhamento oferecido aos usuários se todas essas<br />

diferenças puderem ser consideradas e explicitadas no estudo em questão,<br />

realizando, para isso, análise do projeto para implantação e estruturação de ambos<br />

os tipos de serviços de atendimento aos doentes mentais; levantamento dos<br />

recursos terapêuticos oferecidos (como consultas médicas, psicoterapias, oficinas<br />

terapêuticas, entre outros); assim como análise dos prontuários dos usuários dos<br />

serviços.<br />

2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, pp. ix, 6 e 24.<br />

78


Serão analisados os prontuários dos usuários dos serviços em questão de<br />

acordo com roteiro já pré-estabelecido (ver Anexo 1 no projeto) com a finalidade de<br />

caracterizar o encaminhamento oferecido aos usuários por ambas instituições.<br />

d-) Análise crítica dos riscos e benefícios que a pesquisa pode trazer.<br />

O estudo não pretende arriscar a integridade física, moral ou psíquica dos<br />

usuários do CAPS - São Carlos-SP nem do Centro de Saúde II “Dr. Sebastião<br />

Ribeiro do Valle” - Caconde-SP, uma vez que os nomes dos usuários envolvidos não<br />

serão divulgados e uma solicitação de consentimento para a realização da pesquisa<br />

será requerida aos responsáveis de ambas instituições.<br />

Com relação às contribuições que o presente estudo pode trazer, isso de<br />

deve ao fato deste englobar uma discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos<br />

psicóticos, pondo em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria.<br />

Além do que, depois de aproximadamente uma década de implantação dos “novos<br />

serviços”, este parece ser um bom momento para refletir e avaliar as possíveis<br />

transformações no campo da Atenção em Saúde Mental, se estas são efetivas e/ou<br />

eficazes ou não.<br />

e-) Duração total da pesquisa.<br />

Sendo o desenvolvimento e a conclusão desta pesquisa necessária para a<br />

formação da aluna em Bacharel em psicologia, o estudo terá duração total de dois<br />

(2) semestres letivos.<br />

f-) Explicitação das responsabilidades do pesquisador e da instituição.<br />

A pesquisadora responsável pelo projeto em questão compromete-se<br />

conduzir a pesquisa cumprindo os termos éticos norteados pela resolução 196/96 do<br />

Ministério da Saúde após a sua aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa,<br />

garantindo também que seu início se dará somente após a autorização de ambas<br />

instituições por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,<br />

resguardando a identidade e o sigilo sobre os dados obtidos dos usuários dos quais<br />

os protocolos serão analisados, além da posterior informação dos resultados<br />

obtidos.<br />

g-) Critérios para suspender e encerrar a pesquisa.<br />

Se nenhum dos princípios da resolução 196/96 do Ministério da Saúde forem<br />

infringidos, resultando em prejuízo ao sujeito ou à pesquisa ou se nenhuma das<br />

instituições entrarem em desacordo com a pesquisadora, a pesquisa só será<br />

encerrada quando todos os procedimentos metodológicos (coleta, análise e<br />

interpretação dos dados; resultados e conclusão) forem cumpridos. Caso contrário, a<br />

pesquisa será suspensa imediatamente.<br />

h-) Local da pesquisa e infra-estrutura do projeto.<br />

O presente estudo pretende ser realizado no CAPS-São Carlos (Centro de<br />

Atenção Psicossocial), inaugurado em 18/03/2002, sito à Rua Riachuelo nº 171 na<br />

cidade de São Carlos-SP, local que abriga usuários adultos da Saúde Mental local e<br />

da região, diagnosticados como psicóticos, drogaditos ou neuróticos graves, em<br />

recuperação por meio de um serviço intensivo, e semi-intensivo diário, que conta<br />

79


com oficinas, psicoterapia, atendimento médico, enfermagem, entre outros, e o<br />

Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, sito à Rua Floriano Peixoto nº<br />

205, na cidade de Caconde-SP, uma instituição multiprofissional de atendimento aos<br />

usuários da Saúde mental do município, de caráter exclusivamente ambulatorial,<br />

entre os quais serão selecionados para o presente estudo, os usuários adultos<br />

diagnosticados como psicóticos, drogaditos ou neuróticos graves.<br />

i-) Demonstrativo da infra-estrutura necessária ao desenvolvimento da<br />

pesquisa e para atender eventuais problemas dela resultantes, com a<br />

concordância documentada da instituição.<br />

Ambas as instituições possuem infra-estrutura suficiente para dar suporte a<br />

esta pesquisa.<br />

j-) Orçamento financeiro.<br />

Não há recurso financeiro para a realização do projeto.<br />

k-) Se vão ser publicados os resultados da pesquisa, sejam eles favoráveis ou<br />

não.<br />

Por ser uma monografia de final de curso, os resultados ficarão à disposição<br />

na Coordenação do Curso de Psicologia, sendo favoráveis ou não, com cópia<br />

entregue à Coordenadoria do CAPS, à Secretaria Municipal de Saúde de São<br />

Carlos-SP, ao Centro de Saúde II e à Secretaria Municipal de Saúde de Caconde-<br />

SP, sendo que sua divulgação e publicação dependerá de apresentações em<br />

Congressos e interesse de revistas especializadas.<br />

l-) Sobre a propriedade e destinação dos conhecimentos.<br />

Os conhecimentos obtidos com o presente estudo serão destinados à<br />

Universidade Federal de São Carlos (<strong>UFSCar</strong>), à Secertaria Municipal de Saúde das<br />

cidades de São Carlos-SP e Caconde-SP, aos usuários e funcionários de ambos os<br />

serviços, à comunidade acadêmica e à comunidade em geral.<br />

2-) INFORMAÇÕES RELATIVAS AOS SUJEITOS DA PESQUISA:<br />

a-) Características da população.<br />

Usuários adultos dos serviços de Saúde Mental de São Carlos-SP (CAPS-<br />

São Carlos) e de Caconde-SP (Centro de Saúde II).<br />

b-) Descrever claramente os métodos que possam afetar os sujeitos.<br />

Não haverá interação direta com os usuários e os dados colhidos nos<br />

prontuários, bem como o nome dos usuários, serão mantidos em completo<br />

anonimato.<br />

c-) Identificar os dados e registros a serem obtidos.<br />

80


Serão registrados os dados que disserem respeito ao serviço (CAPS ou<br />

Centro de Saúde II), nº do prontuário, iniciais do nome do usuário, idade, data de<br />

nascimento, local de nascimento (cidade, estado e país), endereço atual (bairro e<br />

cidade), escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, queixa de entrada,<br />

descrição dos principais sintomas, antecedentes familiares, hipótese diagnóstica,<br />

medicação em uso, nº de internações psiquiátricas (também datas e locais), outras<br />

doenças e medicação, se recebe ou não benefício do INSS, se recebe atendimentos<br />

terapêuticos (psicoterapia e/ou terapia ocupacional), qual a modalidade (em grupo,<br />

individual ou ambas), qual a frequência desse atendimento (uma vez por semana,<br />

duas vezes por semana ou três vezes por semana), se recebe acompanhamento<br />

psiquiátrico, se participa de alguma atividade terapêutica em oficinas e quais, qual o<br />

último encaminhamento recebido (data) e a evolução clínica do usuário.<br />

d-) Informar-se se a pesquisa será usada para outros fins.<br />

A pesquisa poderá ser utilizada para possíveis melhoras na forma de<br />

atendimento aos usuários da Saúde Mental tanto no CAPS – São Carlos-SP quanto<br />

no Centro de Saúde II, em Caconde-SP.<br />

e-) Planos de recrutamento, procedimentos e critérios para inclusão ou<br />

exclusão.<br />

A permissão para consulta aos prontuários será dada pelos responsáveis do<br />

CAPS – São Carlos-SP e do Centro de Saúde II, Caconde-SP, sendo que serão<br />

considerados para esta pesquisa somente os usuários adultos de ambos os<br />

serviços.<br />

f-) Descrever a possibilidade de risco e avaliar a sua gravidade.<br />

Os prontuários serão consultados em local privado e os dados coletados<br />

ficarão sob total responsabilidade da pesquisadora. Não será divulgada qualquer<br />

informação que possa levar a identificação do usuário. Assim sendo, consideramos<br />

que o risco deste procedimento é mínimo ou inexistente.<br />

g-) Apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos.<br />

Não haverá nenhum gasto para as instituições envolvidas.<br />

81


ANEXO 4<br />

82

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