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Considerações do Autor<br />
o começar a escrever este livro, deparei-me com al-<br />
Agumas barreiras preconceituosas aos meus escritos<br />
que considerava inadmissíveis, não me permitindo<br />
ir adiante. Porém, com minha persistência, continuei.<br />
Mesmo com o pensamento inexato, sentia<br />
grande necessidade de ir em frente, pois com a sensibilidade<br />
que passei a adquirir notei que não era só ficção o que eu<br />
estava passando para o papel. Alguma coisa ou alguém do<br />
plano metafísico me conduzia por meio da inspiração.<br />
Após alguns depoimentos de amigos e com as devidas<br />
provas, como relatórios médicos em formato de documentos<br />
de onde ficou internado o jovem acidentado, cujo nome<br />
do personagem, este sim é fictício assim como os demais<br />
personagens desta narrativa, continuei a escrever.<br />
O jovem acidentado será citado como Juarez, que teve<br />
uma cura verdadeira por meio de fenômenos de aparição e<br />
materialização de espíritos luminosos, fenômenos esses naturais,<br />
simples e verdadeiros, no entanto, complicados para<br />
os leigos, que confundem esses abnegados trabalhadores com<br />
espíritos demoníacos ou almas perdidas.<br />
Procurei ser o mais coerente possível e gostaria de agradecer<br />
aos filhos da União Espírita Ogum da Lua e Cabocla<br />
Iara, pois foi pelo amor e dedicação desses irmãos que desenvolvi<br />
meus escritos, por meio de psicografias enviadas<br />
pelos irmãos espirituais. Mas deixo um adendo. Como disse<br />
um pensador: “Muito tenho para aprender e pouco para<br />
ensinar”.<br />
7
Com Deus e por Deus<br />
Deus, em sua infinita sabedoria, bondade e total<br />
amor pela Criação, nos permite ter contato com o mundo<br />
transcendental, onde habitam os nossos entes queridos. Mas<br />
para que isso seja possível, necessário se faz estar com o<br />
nosso pensamento claro e livre do orgulho, do egoísmo,<br />
da vaidade, da ganância etc., para que nossa aura não tenha<br />
nenhuma nódoa, assim, os nossos contatos além de ser totalmente<br />
agradáveis, também serão terapêuticos.<br />
O que não podemos é dar margem a pensamentos<br />
obsoletos, pois sua negatividade enganará até mesmo o nosso<br />
subconsciente, e aí então, em nossos sonhos, pode nos<br />
fazer vítimas de nós mesmos.<br />
Nesse contato que fazemos com o mundo espiritual,<br />
passamos não somente por sintonias em camadas superiores,<br />
como também por camadas inferiores, às vezes<br />
com sortilégios tristes e sintomas ruins que se refletem em<br />
nós, adquiridos pela captação de energias negativas – sofredoras,<br />
vingativas e outras.<br />
Por esse motivo, com Deus e o amor de Deus é que<br />
temos como via de fato o nosso porto seguro, e a virtude de<br />
transformar energias ruins em fontes de luz que, se bem<br />
conduzidas, podem até ser transmitidas aos que necessitam.<br />
Se pensarmos no milagre da multiplicação dos pães,<br />
poderemos vê-lo todos os dias: na agricultura, nos mares,<br />
nos rios e na vegetação. Esse é o milagre que dificilmente<br />
nós enxergamos, e que acontece nas 24 horas do dia.<br />
Todos os dias.<br />
8
Então, necessário se faz que não odiemos as camadas<br />
inferiores, popularmente ditas demoníacas, pois elas<br />
também são parte da Criação do Pai. Por conseguinte, são<br />
eles nossos irmãos. É de nossa missão resgatá-los para Deus,<br />
pois a palavra expressa pelos lábios Divinos diz que não<br />
quer jamais um filho para o caminho da desonra.<br />
É necessário que não tenhamos ódio no coração,<br />
mas muito amor, fé, caridade, solidariedade e confiança<br />
no Criador. É necessário que aprendamos a não só a pedir,<br />
pedir, pedir, mas a agradecer o que Deus nos dá em abundância:<br />
o oxigênio, as frutas, as águas, os grãos, as vegetações,<br />
as ervas medicinais e muito mais. Este é o verdadeiro<br />
milagre da multiplicação que esperamos.<br />
O milagre da multiplicação não se expressa<br />
somente na abundância de frutas, das águas, do oxigênio,<br />
dos grãos, da vegetação, dos peixes, dos pães, das ervas<br />
medicinais e outros, para a nossa satisfação e cura material.<br />
O milagre da multiplicação se faz complementando<br />
a tudo isso com o acréscimo do amor, para que sejam multiplicados<br />
os alimentos do corpo e da alma com orações e<br />
atos da fé, com a grandeza e a arte da caridade e com a<br />
sutileza da esperança, que se transformam em perdão e<br />
AMOR – magnífico é o Amor que se resume puramente<br />
em Deus. Seguramente, nesse caminho seremos felizes, pois<br />
nos faz progredir no mundo físico e espiritual.<br />
Nós, deste planeta, vivemos em um plano de expiação<br />
e precisamos nos conduzir, porque somos sim, parcialmente<br />
limitados. E é justamente por esse motivo que<br />
estamos sujeitos à arrogância e à ignorância. Temos o nosso<br />
livre-arbítrio para nos conduzir, mas temos as leis de<br />
9
Causa e Efeito constituídas no Universo.<br />
Portanto, ao partirmos para o Plano Espiritual, lá<br />
sim, estaremos em nosso verdadeiro lar. E voltamos para<br />
lá com o que conseguimos conquistar. Certamente, levamos<br />
o que é nosso de direito, deixando na Terra o que é da<br />
Terra (exemplo: os bens materiais). Levamos o que aprendemos<br />
ou o que de bom praticamos, com fé e solidariedade,<br />
para ganharmos amor, o amor de Deus, mas também<br />
levamos o que de ruim praticamos: a desonra, o egoísmo,<br />
a calúnia, a ganância e a nossa ausência, quando se fazia tão<br />
necessário a nossa presença.<br />
O Plano Espiritual é um de nossos lares. Certamente<br />
que, ao regressarmos para ele, seremos glorificados com<br />
as boas atitudes ou sofreremos o peso de nossas matulas.<br />
Os resultados para nele viver dependerão exclusivamente<br />
de nossas conquistas e dos nossos direitos. Então, no Plano<br />
Espiritual, somos conduzidos para as moradas que herdamos<br />
de fato e de acordo com o nosso psíquico. E para<br />
que a nossa herança seja farta, é necessário que façamos um<br />
bom investimento na Terra!<br />
10<br />
Um forte abraço e boa leitura.<br />
Nevas do Amaral
Início Início Início da da Saga<br />
Saga<br />
Dona Antônia e seu marido trabalhavam muito para<br />
manter João Eduardo em uma boa escola particular, dandolhe<br />
tudo o que desejava: brinquedos, roupas caras e outras<br />
variedades, sempre do bom e do melhor. De momento e<br />
hora, faziam-lhe suas vontades, era só pedir.<br />
João, criado com muito mimo, era o caçula da família,<br />
a “raspa do tacho”, como se diz popularmente. Após<br />
alguns anos, o menino, já transformado em homem, cursa a<br />
universidade “São Francisco”, para logo começar a trabalhar<br />
em um escritório de partido político, onde prontamente<br />
se destaca como um excelente líder, conquistando uma<br />
promoção e um elevado salário. Mas não é por aí que as<br />
coisas ficam: João, por meio de elogios, se sente extremamente<br />
seguro em suas ambições, tornando-as ilimitadas.<br />
Seus pais, abarcados pela ambição do filho, remetem-no<br />
à segurança da recompensa pela criação de uma<br />
criança traquina, inteligente e encantadora. Foram nesses<br />
requisitos que João se formou em sua intelectualidade. E<br />
por tudo isso, compensou seus pais, porque o conforto<br />
financeiro que João Eduardo lhes proporcionou, fora fantástico.<br />
“Valeu a pena”, diziam o senhor Arnaldo e sua esposa<br />
dona Antônia.<br />
E João Eduardo, que a cada instante desejava ainda<br />
mais provar a todos a sua imensa capacidade, até se excedia<br />
em seus desejos. A ganância o inquietava e isso não lhe<br />
fazia bem, porque perdia a solidariedade de ceder a outrem<br />
a oportunidade de conquistar a felicidade, assim como<br />
ele , no tocante à parte financeira. João Eduardo só conseguia<br />
ver abastanças e volumosas fortunas.<br />
Soam os sinos das eras. Aquele jovem, já próximo<br />
aos 28 anos, um dia se apaixona por uma mulher de pele<br />
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morena, olhos castanhos, muito sensual e de traços troianos.<br />
20 anos apenas: Ternamente linda. O que de mais interessante<br />
havia era justamente a ascendência dessa mulher e também<br />
a sua forma física. Seu nome era Izabel e, por coincidência<br />
ou destino, havia um parentesco entre ambos que<br />
nem eles, nem os de suas famílias sabiam. A única coisa que<br />
sabiam é que conviveram juntos durante a infância, morando<br />
no mesmo bairro e na mesma rua e o destino lhes colocou<br />
frente a frente novamente, em sua fase adulta.<br />
Izabel, uma mulher extremamente culta, apesar da<br />
pouca idade, era fluente nos idiomas inglês, alemão e francês,<br />
que lhe caíam perfeitamente com os trejeitos do corpo,<br />
do coração e da alma. Uma mulher com quem João se<br />
encantou e se casou, tendo com ela dois filhos: Junior e<br />
Gabriela.<br />
Falemos um pouco neste parágrafo sobre as dificuldades<br />
encontradas para que fosse realizada essa união<br />
conjugal. Na verdade, para que fosse executado esse matrimônio,<br />
houve alguns transtornos quanto aos pais de<br />
Izabel, cuja educação lhe remetiam aos princípios matrimoniais<br />
de uma criação, muito rigorosa no contexto religioso,<br />
e que rejeita a ganância financeira. Porém, por mais<br />
uma vez o amor levou à deriva os preconceitos ou excesso<br />
de cuidados. E isso não bastou. Izabel havia se prometido<br />
a Lúcio, uma pessoa possessiva em seu modo de ser. Um<br />
homem cuja paixão tresloucada, ínfima, mesquinha e imperativa,<br />
deixa excedido e encarcerado seu coração pela<br />
obsessão sentida por Izabel. Lúcio era homem tão possessivo<br />
quanto a sua própria loucura; um homem egoísta em<br />
seus desejos pessoais, amargo e irresoluto em relação à própria<br />
vida. Para ele, Izabel serviria só e simplesmente para a<br />
sua continuidade, fatal continuidade... Seria um objeto em<br />
suas mãos.<br />
12
Lúcio, não conformado pela perda de Izabel, nada<br />
mais poderia fazer do que caluniá-la, difamá-la e<br />
desmoralizá-la com todo o ódio que sentia. Pensando e<br />
agindo dessa forma, faria dessa maneira o resgate de seu<br />
brio e sua acrimoniosa desforra.<br />
Seus apelos chegaram ao mais baixo caminho. Além<br />
dos requisitos negativos predeterminados por ele, havia<br />
também práticas anônimas e demoníacas. Um homem sem<br />
recato nem honradez, que se fazia valer de missas, cultos<br />
evangélicos e até de feitiçarias, pois o que queria era lograr-se<br />
de um objetivo único, que era ver João Eduardo e<br />
Izabel arrastados num recife de lodo, pobres e loucos.<br />
Bem, como o amor sempre vence, as dificuldades<br />
foram imensas para realizar-se o tão polêmico matrimônio,<br />
porém aconteceu, pois era inevitável, pelo amor que<br />
sempre vence.<br />
No entanto, Lúcio prometera a si que mesmo indo<br />
para o inferno, haveria de ver João e Izabel separados. Suas<br />
visitas a lugares onde ficava sabendo que poderia reconquistar<br />
Izabel eram frequentes, não importando qual a religião<br />
ou rituais que pudesse trazê-la de volta para satisfazer<br />
seu ego. Com isso ele cada vez mais decaía no conceito<br />
espiritual, dando vazão a espíritos de baixíssima frequência,<br />
energias estas captadas em lugares onde se praticam magia<br />
negra. Além do mais, suas orgias eram constantes: bebidas,<br />
tabagismo, drogas e amigos que estavam sempre na mesma<br />
sintonia. Com isso se formava um elo entre o mundo<br />
físico e as baixas camadas do mundo espiritual, onde a<br />
morada desses espíritos era em camadas obscuras, e lá que<br />
eram planejadas as desordens em laboratórios plasmados,<br />
tudo com a finalidade de prejudicar tanto espíritos perdidos<br />
em busca de um caminho, como também seres encarnados.<br />
Em uma dessas orgias, Lúcio fora assaltado por<br />
13
quatro bandidos; uma armação de seus falsos amigos. Mas<br />
Lúcio reagiu ao assalto e a fatalidade foi inevitável. Ele veio<br />
a falecer e em seguida foi resgatado pelos espíritos das<br />
trevas. Por ser ele muito inteligente, rapidamente aprendeu<br />
a se comunicar de forma telepática, e seu objetivo era a<br />
destruição do casal: João e Izabel.<br />
João Eduardo é perseguido por Lúcio<br />
João tinha como objetivo dar conforto para sua esposa<br />
e filhos, pois tinha em seu íntimo o mesmo intuito de seus<br />
pais: dar tudo do bom e do melhor para sua família. Além do<br />
mais, seu ego era alimentado por todos que o cercavam, familiares<br />
e seus superiores do trabalho: o partido político. João<br />
queria mais e mais, não importando a que custo. Com isso<br />
começou uma cadeia de egoísmo incalculável, aceitando suborno<br />
pela troca de favores, facilitando assim a vida de amigos e<br />
parentes com bons empregos, excelentes salários e total estabilidade.<br />
Por serem empregos públicos, em repartições as quais<br />
ele tinha livre acesso, passou a ser um homem notável em seu<br />
poder.<br />
E ainda tinha Osmar, o presidente do partido em suas<br />
mãos. João sabia de tudo o que se passava no movimento<br />
partidário, de todas as sujeiras. Passou então a tomar atitudes<br />
irrelevantes, adversas à conduta de um bom cidadão e pai de<br />
família.<br />
João era solicitado pelo partido para viagens e mais<br />
viagens, e seu lar passou a ser os aviões e os carros, e em cada<br />
uma das viagens suas finanças aumentavam ainda mais, gerando<br />
mais entusiasmo, ou melhor, cada vez mais se dispunha<br />
a servir ao seu partido.<br />
Em uma dessas viagens conheceu Lídia, mulher de<br />
belo porte físico e muito sensual, mas problemática e de ca-<br />
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áter dúbio. Ela vivia com crises neuróticas, portanto, estava<br />
vulnerável a energias ruins. Então, Lúcio aproveita essa abertura<br />
ou oportunidade para usá-la como trampolim em suas<br />
ações sórdidas contra João. E João, induzido pelos espíritos<br />
que acompanhavam Lúcio, enxergava em Lídia uma mulher<br />
mais interessante. Por ser extremamente sensual e a mais linda<br />
que já conhecera, estava deslumbrado por ela, que se mostrava<br />
ou se insinuava, mostrando estar sempre disposta a satisfazer<br />
as vontades eróticas de seu parceiro. As visitas de<br />
João a Lídia eram constantes e ela o seduzia para as orgias.<br />
Logo se tornaram amantes, e com as juras de amor ele mentia<br />
prometendo a ela que logo estaria divorciado e livre de sua<br />
esposa, dizendo que o divórcio estava para sair e aí sim, os<br />
dois estariam totalmente livres. Aquela dama estava deslumbrada;<br />
além de ele ser um homem viril, ainda lhe dava vários<br />
presentes, como carro, apartamento, jóias, vestidos e festas,<br />
na alta sociedade e nos meios políticos.<br />
Sua esposa começou a perceber que algo estava errado<br />
e passou a indagar. Com isso, Lúcio sentia que sua vingança<br />
estava próxima. Mas João sabia se sair de situações piores<br />
como, por exemplo, quando era sabatinado por seus adversários<br />
e convencer Izabel, uma simples dona de casa, seria fácil,<br />
pensava João.<br />
Izabel já não era mais a mesma. Suas amigas invejosas,<br />
querendo ver “o circo pegar fogo”, diziam: – Izabel, minha<br />
querida, abra os seus olhos. Você parece que está cega!<br />
O João está sendo desonesto com você. Ele é um canalha,<br />
está na cara que ele tem outra. Cuidado... Cuide do seu<br />
homem, boba!<br />
João já não era mais o mesmo, não era o homem carinhoso<br />
de outrora com sua esposa. Não participava da educação<br />
de seus filhos, Junior e a pequena Gabriela, e estava cada<br />
vez mais afastado de sua ainda jovem esposa. Ela se sentia<br />
15
sozinha e sucessivamente angustiada. Começou então a ter<br />
sintomas de depressão. Perdera o interesse em se arrumar e<br />
tudo ia mal com ela.<br />
Entre os colegas de João havia Alberto, um homem<br />
de meia idade que era realmente um bom amigo, sempre devoto<br />
a Deus, bem conceituado em seu modo de vida, tanto<br />
familiar quanto profissional. Era um funcionário que trabalhava<br />
no partido, mas era terceirizado, e tentava passar para<br />
João Eduardo suas experiências no campo amoroso e familiar,<br />
dando-lhe bons conselhos.<br />
Izabel, desmotivada com o comportamento mundano<br />
do marido, deixa os cuidados do lar e a educação dos filhos<br />
sob os auspícios de suas duas empregadas, para com algumas<br />
de suas atuais amigas, satisfazer-se em festas, afogando<br />
assim os seus sentimentos em taças de bebida.<br />
João, alertado por seu bom amigo, que lhe aconselhava<br />
e implorava a Deus por ele e sua família, começou a perceber<br />
que estava perdendo algo muito precioso: sua esposa e<br />
seus filhos.<br />
E Izabel, sem perceber, estava dando vazão a espíritos<br />
de planos inferiores: era Lúcio sob o comando daquela legião,<br />
que aproveitava sua vulnerabilidade para sugar suas<br />
energias.<br />
João, pensando no que dissera seu amigo Alberto em<br />
relação à sua família, tomou uma decisão. Deixou de comparecer<br />
a alguns encontros marcados com Lídia e aos poucos<br />
foi se afastando daquela dama. Sua amante lhe cobrava por<br />
essas faltas, dizendo a ele que deveria ser mais presente e que<br />
ela não aceitava ficar sozinha nos finais de semana, pois era<br />
jovem ainda e tinha de aproveitar o seu tempo. João estava<br />
entre a cruz e a espada, e seu amigo tentava de alguma forma<br />
fazer com que ele entendesse que sua família era tudo o que<br />
importava em sua vida, enfatizando os clamores a Deus em<br />
16
prol de João e sua família e argumentando que a melhor<br />
mulher do mundo literalmente é a nossa esposa, pois ela está<br />
sempre potente para qualquer situação, em momentos bons<br />
ou ruins. Uma amante só é interessante nos bons momentos,<br />
pois ela não está presente e é impotente nas horas amargas,<br />
isto, logicamente, com raras exceções.<br />
As amigas de Izabel lhe aconselhavam a ir em frente dizendo:<br />
– Larga de ser boba, não dá moleza. Vai passear, a noite é<br />
uma criança. Vamos sair e conhecer pessoas interessantes. Se<br />
ele lhe trai, você deve pagar na mesma moeda.<br />
A quantidade de bebida que Izabel estava ingerindo<br />
era cada vez maior, sendo quase que diariamente. Nas suas<br />
saídas, as duas falsas amigas lhes diziam: – Você, Izabel, é<br />
realmente muito bonita! Olha como você esta sendo notada,<br />
veja como aquele rapaz não tira os olhos de você. Não perca<br />
tempo sua boba, aquele rapaz é lindo, é um gato.<br />
Izabel respondia: – Não, literalmente não. Eu tenho<br />
um marido. Não vou pagar na mesma moeda, pois isso não é<br />
de minha índole.<br />
Quando João percebeu que sua esposa estava para se<br />
transformar em uma alcoólatra, tomou uma atitude definitiva.<br />
Separou-se de Lídia, que totalmente segura, achava que<br />
João estava por ela realmente apaixonado. Mas na realidade,<br />
nem ela e nem João sabiam do amor verdadeiro que ele tinha<br />
pela sua esposa e pelos filhos.<br />
Lídia, por meio de dívidas exageradamente feitas para<br />
manter o seu alto padrão de vida, começa a vender os presentes<br />
que ganhou de seu amante João. Inconformada com a situação,<br />
passa a persegui-lo, ligando diariamente para o seu<br />
trabalho. E ele, por sua vez, não quis mais atender às suas<br />
ligações. Desesperada, Lídia passa a ligar para a casa de João,<br />
e não sabendo mais como agir, com arrogância conta tudo a<br />
Izabel, expondo-lhe a sua vida íntima com João e até as<br />
17
aberrações que cometia com ele na parte sexual e o drama de<br />
sua atual situação, exigindo dele que assumisse suas dívidas<br />
porque ela não era descartável. Disse-lhe também dos presentes<br />
ganhos, de seu status na sociedade e que num instante<br />
perdera tudo.<br />
Izabel, com seus apelos a Deus, pedia forças para<br />
suportar todos aqueles dissabores. E João, sem saber, recebia<br />
por via telepática as vibrações de Lúcio, então com muito<br />
ódio, e pensou em várias formas para se ver livre de Lídia.<br />
Mas Alberto intercedeu, dando-lhe conselhos e pedindo-lhe<br />
que se acalmasse para não tomar decisões precipitadas.<br />
Izabel queria divorciar-se a qualquer custo, mas no<br />
fundo sabia que mesmo com todos os problemas, João era o<br />
seu porto seguro. Ela ainda o amava e, afinal de contas, ele<br />
era o pai de seus filhos. Izabel dizia isso entre lágrimas, mas a<br />
depressão, as amigas e as energias negativas de espíritos de<br />
baixa freqüência e aproveitadores invadiram seu lar, começando<br />
uma desordenada vibração e causando uma grande discórdia.<br />
Esses espíritos, conhecidos como vampiros, se aproveitavam<br />
da desarmonia do lar para se satisfazer com as<br />
vibrações de sadismo, ódio, traição e vícios em excesso.<br />
O casal de filhos de João era bem educado, apesar do<br />
caminho errado que o pai deles seguira. Com o lar se desfazendo,<br />
os filhos perdiam o entusiasmo pelos estudos. Não<br />
eram mais aquelas crianças dóceis e tornaram-se rebeldes por<br />
causa da ausência dos pais, que se transformaram com o uso<br />
do álcool em excesso e das palavras grotescas que brotavam<br />
dos lábios de ambos.<br />
A mãe daqueles meninos, Izabel, além de alcoólatra<br />
estava tristemente para se transformar em uma pessoa grosseira<br />
e amarga. Ela já não era mais a mãe dedicada e carinhosa,<br />
e os maus espíritos se deliciavam com aquela situação,<br />
pois as energias ruins deles emanavam, se proliferavam com<br />
18
a presença de mais companheiros para preencher com<br />
desordens o lar daquela família. Lídia, já sem propósito de<br />
vida, fazia constante visitas a Izabel. Suas palavras pesadas<br />
agrediam até a alma de Izabel, que também tomada por energias<br />
inferiores, fazia-se enlevar quase que totalmente. Mal<br />
intencionada em suas palavras, Lídia tentava convencer Izabel<br />
a se separar de João Eduardo, pois ele era um cafajeste, mas<br />
mesmo assim, era o grande amor de sua vida. Izabel afirmava<br />
que tudo o que tinha, havia conquistado pelo amor que João<br />
Eduardo sentia por ela.<br />
Naquele instante, ela ofegava diante das más energias<br />
que recebia de Lídia. O que Izabel fez foi apelar para o nosso<br />
tão esquecido Pai, o nosso amado Deus, que naquele momento<br />
de angústia e desespero fora lembrado. Com esse apelo, foram<br />
emanadas sintonias de paz, que certamente absorveram<br />
os murmúrios de Lídia.<br />
No âmago daquele pedido a Deus, Izabel começa a<br />
atrair para si minúsculas gotículas de energias supremas e favoráveis<br />
a ela. Uma luz se acendera à sua volta. Ali se aproximaram<br />
novamente grandes e magníficos Anjos da<br />
espiritualidade, Espíritos Guardiões, que sem palavras e sem<br />
que ambas percebessem a presença deles, fizeram com que<br />
aquelas energias ruins começassem a se dissipar. Lídia, não<br />
se sentindo bem, se afasta incomodada, dizendo a Izabel que<br />
em outro dia se falariam.<br />
João, desolado com o que estava se passando, tinha<br />
uma preocupação quase única - seus filhos. Alberto, seu amigo,<br />
insistia para que seus olhos se abrissem quanto a Lídia, o<br />
grande obstáculo que atrapalhava a sua felicidade. Os filhos<br />
se afastavam dele; sua esposa, terna mulher, fragilmente possuída<br />
por más companhias quando ingeria bebidas alcoólicas,<br />
e com o ódio que sentia pelo que estava se passando em<br />
suas vidas, dava vazão aos espíritos aproveitadores. João<br />
19
percebia também que sua vida profissional estava ameaçada<br />
pelos acontecimentos atuais. Seus superiores já não o viam mais<br />
como o supremo intelecto e excelente profissional de primeira<br />
linha. Enfim, tudo na vida de João Eduardo transformara-se<br />
em um jogo de difícil resolução. Um jogo injusto, no qual o<br />
poder se encontrava totalmente nas mãos do inimigo.<br />
De tudo, o que ainda lhe segurava era o seu trabalho,<br />
pois diante de seus superiores uma cumplicidade os mantinha<br />
unidos: os “segredos profissionais”. Profissionalmente, João<br />
conhecia por demais os pontos podres, as chantagens, os crimes<br />
de colarinho branco etc. Se contasse aos adversários aqueles<br />
segredos, seria o partido totalmente desmascarado pelos<br />
oposicionistas.<br />
Osmar, o líder do partido, pensou, pensou e pediu a<br />
opinião dos demais. Cada um lhe passava um conceito.<br />
Haroldo, o vice-líder e conselheiro, braço direito de Osmar,<br />
disse:<br />
– Haveremos de dar um jeito em João Eduardo e em<br />
sua família, e isto será muito fácil.<br />
– Você é louco, Haroldo? – responde Osmar. Não há<br />
necessidade de chegarmos a esse ponto, isso somente em última<br />
hipótese. João não é nada bobo e deve ter um excelente<br />
Seguro de Vida. Se algo lhe acontecer, vamos ser sabatinados<br />
por autoridades e por nossos adversários. Haverá uma investigação<br />
minuciosa da seguradora, por isso, nem pensar nessa<br />
hipótese. Devemos ter muita calma, Haroldo, pois existem<br />
outros meios. Nós temos excelentes advogados e o nosso<br />
departamento de marketing poderá montar boas estratégias.<br />
Afinal, João Eduardo não é louco, e certamente não nos denunciará.<br />
Não se esqueça de um detalhe, meu amigo: o dinheiro<br />
compra tudo, e se há algo de que João gosta, é de dinheiro,<br />
assim como nós. Fique tranquilo e deixe comigo, está<br />
bem?<br />
20
Após Osmar argumentar e colocar aos demais os seus<br />
planos, todos se reuniram para chegar a um consenso, que foi<br />
oferecer a João uma boa aposentadoria, mas ameaçando se<br />
ele abrisse a boca, dizendo que ele poderia até sofrer um<br />
enfarte fulminante.<br />
E João, em pensamento, ao perceber que entre eles<br />
havia muita astúcia, agiu de um modo que lhe era peculiar.<br />
Pediu-lhes, antes de qualquer proposta, uma reunião. Com<br />
isso João estava se prevenindo para não correr riscos com a<br />
sua segurança.<br />
Imediatamente após lhe ser permitida a reunião, todos<br />
nela compareceram para, atentos, ouvirem as suas propostas.<br />
Na mesa onde estava reunidos, João Eduardo inicia o<br />
seu discurso usando o termo “ironia”, pois era disso que eles<br />
gostavam, e isso os excitava. E João Eduardo começa a expor<br />
seus argumentos.<br />
– Meus amigos e correligionários, vocês não imaginam<br />
o quanto eu amo o meu trabalho, e esta casa é tudo o<br />
que eu tenho, e o que sou, devo a vocês. Tanto aos meus<br />
antecessores, como também aos que chegaram após mim. Esta<br />
casa e todos vocês, muito me ensinaram. Por isso, sou grato a<br />
cada um de vocês e jamais usarei de ingratidão, pois sei muito<br />
bem reconhecer o que de bom fizeram por mim, todos<br />
vocês. Hoje tenho uma família saudável e meus pais estão<br />
bem amparados financeiramente. Enfatizo: Tudo o que tenho,<br />
devo a vocês. Porém, cometi uma falha, e somente eu<br />
posso e devo corrigi-la. Enlevei-me, por algum tempo, pela<br />
beleza de uma mulher, e dela fiz minha amante. Hoje, essa<br />
mesma mulher tenta destruir o meu lar e age também em<br />
meu trabalho e, após tantas sequelas, agora sei como evitá-la<br />
para que não me ocorra mais catástrofes. Para preservar minha<br />
família e principalmente este movimento (partido político),<br />
ouvi Alberto, nosso companheiro que presta serviços para<br />
21
esta boa casa. Digo boa casa pelas pessoas competentes que<br />
aqui estão à minha volta, e se estas pessoas são competentes,<br />
imaginem nossos líderes, que são nossos dirigentes, principalmente<br />
a pessoa de nosso presidente Osmar e nosso vice<br />
Haroldo, pessoas estas que elevo em meus pensamentos pela<br />
grandeza de seus conceitos, caráter elevado e serviços prestados<br />
à nossa sociedade. Estes dois homens são os pais deste<br />
partido, e também excelentes pais de família. Gostaria de citar<br />
também o quanto eles são grandes, tanto como pais deste<br />
partido, quanto com a preocupação que ambos têm com sua<br />
dignidade e a de seus companheiros de trabalho, e também a<br />
lealdade com os adversários. Estes meus comentários são só<br />
uma pequena gota do que são verdadeiramente estes nobres<br />
senhores. Mas agora, quero voltar ao que me disse o nosso<br />
amigo Alberto, que me abriu os olhos em relação àquela mulher<br />
com quem me envolvi. Bem, diante deste impasse e com<br />
muita tristeza no coração, tenho que tomar uma decisão coerente,<br />
que é a seguinte: Para que eu não venha atrapalhar o<br />
bom andamento desta conceituada casa, estou pedindo meu<br />
desligamento, sem nenhum prejuízo para nosso querido movimento<br />
partidário. Mas pediria a compreensão dos senhores,<br />
pois não quero me desligar totalmente.<br />
– E o que você pretende? – Retruca Haroldo. Você Já<br />
tem emprego em outro partido?<br />
– Bem, se eu renunciar do meu cargo de diretor executivo<br />
e tesoureiro, tudo aqui fica mais tranquilo. Mas se eu<br />
ficar, posso, com os meus problemas, atrapalhar o bom andamento<br />
desta casa. Fico torcendo para que tudo ande bem por<br />
aqui, portanto, vou abrir um escritório e dar assessoria financeira<br />
ao partido. Prometo-lhes que jamais pertencerei a qualquer<br />
outro partido, e se vocês me permitirem, poderei no futuro,<br />
quando lhes convier, assessorá-los com consultoria, pois<br />
é neste campo que desempenho bem o meu trabalho, assim<br />
22
como também a outras empresas privadas de outros segmentos.<br />
Gostaria de repetir, em alto e bom som: Prometo não<br />
prestar serviço a qualquer outro partido político, pois o meu<br />
coração ficará nesta casa.<br />
– E o que você precisa para montar seu escritório?<br />
– Pergunta Osmar, o presidente do movimento.<br />
– Bem, Tenho uma boa conta bancária e não pretendo<br />
incomodá-los, – responde João, já sabendo o que Osmar tinha<br />
a lhe dizer.<br />
Osmar contesta. – E se você tiver uma ajuda do nosso<br />
caixa?<br />
Essa pergunta foi feita por Osmar com a intenção de<br />
suborná-lo ou comprar sua consciência. João, percebendo a<br />
manobra, sentiu-se aliviado, pois sabia que o seu silêncio estava<br />
sendo comprado. Menos mal, pois dessa maneira o risco<br />
de vida seria menor. Melhor assim do que tê-los como<br />
inimigos declarados.<br />
João Eduardo pensa consigo mesmo: – A partir de<br />
agora vou tentar consertar as coisas. Não quero mais trabalhar<br />
de maneira tão desonesta, pretendo me reconciliar com<br />
minha família. Mas neste momento vou seguir aquele velho<br />
conselho, ou melhor, aquele velho ditado: “Se não pode com<br />
eles, junte-se a eles”. Essa é a única saída que vejo neste<br />
exato momento. E João, fingindo estar pensado na proposta<br />
de Osmar, faz uma pausa e depois diz:<br />
– Pois assim será. Aceito a vossa proposta, meu presidente,<br />
e podem contar com minha fidelidade e total discrição.<br />
– Com total ironia, João continua. – Pois bem, sei que a<br />
discrição é nossa maior segurança para a nossa dignidade física.<br />
– Disse essas palavras para mostrar aos seus líderes que sabia<br />
o risco que corria se abrisse a boca em relação aos podres de<br />
seu partido.<br />
João Eduardo queria consertar os erros, porém, os atos<br />
23
cometidos desde sua juventude, nos quais colocava o dinheiro<br />
como prioridade em sua vida, fez com que sempre estivesse<br />
vulnerável às vibrações negativas. Após montar seu escritório,<br />
passa por grandes dificuldades para conquistar sua clientela,<br />
mas, mesmo assim, sua vida profissional começa a<br />
dar algum sinal de melhora e também a sua vida familiar. Izabel,<br />
no entanto, continuava bebendo quase que diariamente, e<br />
andava a cada dia mais deprimida.<br />
Lídia encontra João em um restaurante<br />
Lídia, após tomar conhecimento do afastamento de<br />
João de seu partido, se desespera, pois sabia claramente porque<br />
isso aconteceu. O que Lídia também sabia era que João<br />
Eduardo tinha uma conta bancária altíssima, e vendo que<br />
todo o apelo feito para reconquistá-lo não dera certo, começa<br />
a pensar em novas investidas. Tenta de todas as formas<br />
chantageá-lo, até que, num belo dia, por acaso encontra João<br />
entrando em um dos restaurantes que os dois costumeiramente<br />
frequentavam quando estavam juntos.<br />
– Olá meu caro, como está? Tudo bem? – Pergunta<br />
Lídia, com um sorriso sarcástico.<br />
– Tudo bem – Responde João Eduardo receoso, pois<br />
nesse instante preocupou-se com os seus acompanhantes, que<br />
eram futuros clientes. Quando João vira-lhe as costas, Lídia o<br />
aborda.<br />
– Se você não me der atenção farei um grande escândalo<br />
aqui mesmo meu caro, na presença de seus amigos. Você<br />
não pode me descartar dessa forma.<br />
– Por favor, não me faça passar por esse vexame –<br />
responde João, preocupado com o que ela poderia fazer. –<br />
Dessa forma você só vai piorar a situação, pois essas pessoas<br />
são homens de negócios. Estou fechando bons contratos com<br />
24
eles e você pode acabar comigo. Tenha calma, vamos<br />
conversar.<br />
– Está bem. – Responde Lídia.<br />
– Só que agora não é possível – lhe diz João Eduardo,<br />
– marcaremos um encontro.<br />
– Nem pensar, meu caro. Você acha que sou boba de<br />
perder esta oportunidade?<br />
– Bem, então façamos o seguinte: aqui está o número<br />
do telefone do restaurante. Daqui a alguns minutos você me<br />
liga. Pensarei numa desculpa para dar aos meus clientes.<br />
– Está bem, mas não tente me enganar, pois poderá<br />
lhe custar muito caro.<br />
João conseguiu sair-se bem, como sempre. Afinal, ele<br />
era muito astuto. Cinco minutos depois, o telefone do restaurante<br />
toca e o garçom chama João, dizendo-lhe que era sua<br />
esposa afirmando urgência. Depois de atender ao telefone,<br />
João Eduardo volta aos seus clientes desculpando-se, pois<br />
sua esposa não se encontrava bem e precisaria transferir a<br />
reunião para o dia seguinte. Logo depois, João Eduardo e<br />
Lídia se encontram como ele havia prometido. Ironicamente,<br />
Lídia diz:<br />
– João, que saudade! Você é o único homem de minha<br />
vida, eu te amo!<br />
Mas ele, não acreditando e procurando um meio para<br />
sair daquela situação, mostrando a Lídia um ar de decepção,<br />
lhe pergunta:<br />
– Será?<br />
– O que você quer dizer com isso? Ou melhor, o que<br />
você sabe? – Responde Lídia.<br />
– Não adianta você negar, você me traiu e sei muito<br />
bem com quem, sei de tudo.<br />
– Foi por isso que você deixou o seu emprego no partido?<br />
– O que você acha?<br />
25
– Mas foi só uma aventura, meu amor. Contigo é diferente,<br />
porque você é um homem de verdade. Viril, inteligente,<br />
bonito...<br />
– E com eles foi tudo um fracasso, um grande fracasso,<br />
não é?<br />
João percebe que Lídia teve relações íntimas com alguém<br />
de seu antigo trabalho e, jogando a sua esperteza, ele<br />
diz o nome do líder.<br />
– Osmar é muito oportunista, minha cara.<br />
– Osmar lhe contou algo?<br />
– Olha Lídia, vamos acabar com esta palhaçada. Está<br />
tudo acabado, siga com a sua vida.<br />
– João, eu sai só uma vez com Osmar.<br />
– E com os demais?<br />
– Bem, com Haroldo foi quase à força, ele me<br />
chantageou.<br />
– E como ele chantageou você? Vamos fazer o seguinte,<br />
Lídia. Siga a sua vida e não tente me perseguir. Eu<br />
não tenho mais nada com você.<br />
– João, isso não vai ficar assim, você não perde por<br />
esperar. Você usou e abusou de mim e agora quer me jogar<br />
fora, como se eu fosse descartável?<br />
Alguns dias após o encontro com Lídia, Alberto encontra<br />
João e, com alegria pelo reencontro, os dois vão comemorar<br />
em um almoço no restaurante que sempre frequentaram.<br />
Durante o almoço, João argumenta que não quer mais<br />
nada com Lídia, mas confessa sentir que algo o empurra para<br />
ela, e que por algumas vezes fora procurá-la.<br />
Alberto lhe diz que ele deveria ser forte e não procurála,<br />
pois diante das chantagens de Lídia, as coisas só iriam<br />
piorar para João e sua família.<br />
Após os conselhos dado a João, Alberto, ao chegar à<br />
26
sua casa, continua com suas suplicas a Deus em prol do amigo,<br />
enfraquecendo assim as energias ruins de Lúcio e seus<br />
comparsas do mundo espiritual, vindas dos umbrais onde se<br />
situam os maus espíritos.<br />
Lídia encontra uma amiga<br />
– Lídia! Como você está, minha amiga? Há quanto<br />
tempo não nos vemos! Como vai, tudo bem? – pergunta Anita.<br />
– O que você acha, Anita?<br />
– Pensando bem, me parece que você está com<br />
problemas.<br />
– Problemas? Pode por problema nisso, minha cara.<br />
– Mas na última vez em que nos falamos você me<br />
parecia tão bem. Estava alegre, até achei você um pouco<br />
metida. Você estava com um caso, se não me engano ele se<br />
chama João Eduardo, e agora você me parece tão impotente.<br />
– E você, como está? – pergunta Lídia.<br />
– Comigo está quase tudo bem. No amor estou mal,<br />
mas vou superar essa dificuldade, você verá.<br />
– Por que tem tanta certeza assim Anita?<br />
– Bem, o Marcos me trocou por outra mulher, e eu fui<br />
orientada a procurar um Pai de Santo que faz trabalhos para<br />
o amor, trazendo o namorado de volta. Estou trabalhando<br />
para isso, porque o meu objetivo é tê-lo de volta.<br />
– Anita, me dê o endereço desse feiticeiro, pois o meu<br />
maior problema é esse. Você se lembra bem de João<br />
Eduardo, não é?<br />
– Lógico que me lembro! Um gato. Como poderia<br />
esquecê-lo? E ele, como está?<br />
– Pois é menina, ele também me largou, deu-me as<br />
costas. Demitiu-me de sua vida e eu o quero de volta, custe o<br />
que custar.<br />
27
– Por falar em custe o que custar, vou logo lhe avisando<br />
que não são baratos os trabalhos do tal feiticeiro, minha<br />
cara.<br />
– Para que existem cheques?<br />
– Só que tem que ter fundo, minha cara Lídia.<br />
– Vamos logo. Dê-me esse endereço que estou ansiosa.<br />
Lá eu darei um jeito, deixe comigo.<br />
Lídia e o Pai de Santo<br />
Lídia bate palmas para chamar alguém. Quando aparece<br />
o tal Pai de Santo, ela diz:<br />
– Bom dia! Gostaria de falar com o Pai Gildo.<br />
– Aqui não se diz bom dia, e sim boa noite, minha<br />
senhora. Mas vai falando o que deseja.<br />
– Eu quero falar com Pai Gildo.<br />
– Sobre o quê?<br />
– Quero fazer uma consulta. É o Senhor?<br />
– Sim, sou eu. Mas pode me chamar de Pai Quiumba.<br />
Entre que eu vou lhe atender. Sente-se e espere, porque eu<br />
tenho mais gente para consultar.<br />
O lugar onde Lídia estava era ameaçador e com<br />
muitos trabalhos espalhados pelo chão. Ali, tudo parecia ter<br />
mau cheiro. Era assombroso! O tal pai Gildo era esquisito e<br />
misterioso, ou melhor, totalmente desconfiado, com um olhar<br />
sinistro.<br />
Após Lídia esperar por duas horas, o tal Pai Gildo chamou-a<br />
para uma pequena sala, cuja porta era uma cortina em péssimo<br />
estado, suja e mal cheirosa. Ali se inicia uma variedade de<br />
perguntas. Queria o tal Pai Gildo saber quem a tinha mandado e o<br />
que ela fazia em sua vida. Sua profissão etc. Após várias<br />
perguntas, ele afirma:<br />
– Você veio aqui por causa de um homem, não é verdade?<br />
28
– Sim, é verdade. O senhor acertou em cheio.<br />
No desespero em que Lídia se encontrava, ela não<br />
percebera a artimanha que tinha sido usada pelo mal espírita<br />
para mostrar-lhe que profetizava.<br />
– Eu estou sofrendo muito por causa desse homem.<br />
– Mas você é tão apaixonada por ele a ponto de vir<br />
aqui, pedir que eu o traga de volta?<br />
– Entenda do jeito que o senhor quiser, eu o quero de<br />
qualquer jeito. Farei o possível e o impossível para tê-lo de<br />
volta. Lúcio estava próximo de Lídia para que ela não<br />
desistisse de suas investidas.<br />
– Olhe, minha senhora, não é muito barato! Quanto a<br />
senhora pode gastar para que eu o traga de volta, com um<br />
trabalho feito em amarração?<br />
– Bem, eu vou deixar um cheque em branco com o<br />
senhor, e aí o senhor vê em quanto fica, está bem?<br />
– Dona Lídia, não trabalhamos com cheques, tem que<br />
ser dinheiro vivo.<br />
– Bem, em dinheiro eu só tenho no momento o da<br />
consulta.<br />
– E como você quer um homem? Pensa que é assim?<br />
Paga logo a minha consulta e volta quando tiver o dinheiro,<br />
dona.<br />
Lídia não tinha escrúpulos. De caráter dúbio, porém<br />
não tão esperta quanto pensava, achando que poderia tapear<br />
o feiticeiro com cheque sem fundo. Nesse momento, Lúcio<br />
entra em total sintonia telepática com Lídia e faz com que ela<br />
responda ao tal “Pai Quiumba”.<br />
– O senhor fique tranqüilo, que volto ainda hoje com<br />
o dinheiro. Darei um jeito. Até mais tarde.<br />
– Eu sei que você irá dar um jeito, pois quando vocês<br />
querem um homem, não medem as consequências. Em pensamento,<br />
Pai Gildo diz: “Essas mulheres ficam até sem<br />
29
comer para arrumar dinheiro e ter o seu homem de volta. E<br />
quem se dá bem sou eu!”.<br />
Lídia dá o golpe para conseguir dinheiro<br />
Lídia apela para alguns amigos sem sucesso, pois seu<br />
crédito estava cortado em todos os lugares. Pensando em<br />
como fazer para conseguir o dinheiro, tenta vender alguma<br />
coisa que lhe restava, porém, não consegue. Vai para casa<br />
desesperada e sente uma dor horrível nos rins. Há dias passados<br />
já vinha tendo algumas crises, talvez pelo desenfrear de<br />
sua agitação. Mas mesmo com dores, a sua prioridade era fazer<br />
talvez até o impossível para reconquistar João. Lúcio vibrava<br />
para Lídia reatar com João Eduardo.<br />
Lídia Pensou, pensou e então se lembrou que tinha<br />
uma folha de cheque em um velho talão da antiga conta de<br />
João, que ele esquecera em sua casa. João Eduardo era bem<br />
conceituado financeiramente e Lídia não teve dúvidas. Preencheu<br />
uma folha de cheque, colocou uma assinatura semelhante<br />
à dele, pois ela tinha algumas notas de compras com A<br />
assinatura de João, e foi procurar Alberto, amigo de João, inventando<br />
uma história, ou melhor, dando-lhe uma desculpa,<br />
dizendo que João havia lhe dado aquele cheque.<br />
Alberto, encurralado, mesmo sabendo que Lídia estava<br />
mentindo achou melhor trocar o tal cheque e ficar livre<br />
das ameaças que ela estava fazendo. Lídia disse a Alberto<br />
que mostraria o cheque à esposa de João, pois precisava daquele<br />
dinheiro para cuidar de sua saúde, quando na verdade,<br />
ela o queria era para fazer o tal trabalho com o inescrupuloso<br />
feiticeiro.<br />
30
Lídia, de volta ao Pai Gildo<br />
Já era quase meia-noite quando Lídia chega ao seu<br />
destino. Bate palmas e logo é recebida pelo auxiliar do Pai de<br />
Santo, que logo foi dizendo que ele estava ocupado e não<br />
poderia atendê-la naquele instante.<br />
Diga ao Pai que arrumei dois mil reais. Pergunte-lhe<br />
se esse dinheiro é o suficiente.<br />
O homem, já de volta, através do velho portão de<br />
madeira, quase caindo, convidou-a para entrar dizendo-lhe:<br />
– Dona Lídia, sente-se que vou lhe servir um café. O<br />
Pai Gildo não tardará a lhe atender.<br />
Em seguida, entra na sala Pai Gildo, sorrindo-lhe e<br />
beijando-lhe a testa, dizendo:<br />
– Vamos conseguir trazer o seu homem, você verá!<br />
– Mas por que o senhor fala com tanta firmeza?<br />
Pai Gildo era raposa velha, como diz o ditado, e se<br />
saindo bem, ele responde:<br />
– Porque você provou-me que é uma mulher forte,<br />
uma guerreira que não desiste nunca. Então, vamos iniciar os<br />
trabalhos?<br />
O feiticeiro pediu a Lídia que escrevesse o nome dos<br />
dois, dela e João Eduardo, pedindo-lhe também algum objeto<br />
pertencente ao rapaz. Ela entregou-lhe algumas fotos e os<br />
endereços de ambos. Logo em seguida, tomado por energias,<br />
o inescrupuloso “Pai de Santo” pronunciava palavras de baixo<br />
calão, de espíritos atrasados e revoltados, que de alguma<br />
forma se tornam obedientes ao que o feiticeiro lhe mandava<br />
fazer. Esses espíritos, equivocadamente são confundidos com<br />
Exus, que na verdade são espíritos ou energias que trabalham<br />
em uma linha intermediária, que divide o bem do mal.<br />
São espíritos voluntários e em elevação, que aceitam missões<br />
difíceis, assim como algumas profissões no plano terrestre.<br />
31
Eles se sujeitam até mesmo a ser escarnecidos, taxados como<br />
diabo ou satanás, não somente por outros credos, como também<br />
por espíritas mal informados.<br />
Os que aceitam presentes para fazer o mal são conhecidos<br />
como quiumbas por grandes mestres e bons pesquisadores<br />
da verdadeira teologia do conhecimento espiritual pósvida<br />
(quiumba é uma palavra de origem africana que significa<br />
espírito das trevas).<br />
O tal Pai, logo após o iniciar dos trabalhos, passa a dar<br />
um atendimento “vip” a Lídia para tirar-lhe mais dinheiro, fazendo<br />
dela sua vítima. Assim que sai do transe, pergunta à<br />
moça:<br />
– Lídia, você sentiu boas vibrações, minha amiga?<br />
– Pai Gildo, será que ele volta?<br />
– Eu lhe prometi que o prazo para ele voltar é de sete<br />
a vinte e um dias. Agora, é só uma questão de tempo.<br />
As dores de Lídia aumentaram e ela pediu ajuda a<br />
“Pai Gildo”.<br />
– O senhor pode me dar um passe para aliviar as dores<br />
que tenho nos rins?<br />
– Minha cara, aqui nós só trabalhamos com magia negra,<br />
e o seu caso pertence à Medicina. Vá procurar um médico,<br />
nós não tratamos de pessoas materialmente enfermas.<br />
A casa do tal feiticeiro ficava num bairro da periferia.<br />
Um lugar muito perigoso, pois ali havia uma comercialização<br />
descontrolada de drogas. Naquele lugar, estava outra vítima<br />
de “Pai Gildo”, um consulente que se sente honrado em<br />
oferecer a Lídia uma carona, porque para sair daquele lugar a<br />
pé, seria um tanto arriscado.<br />
Dali Lídia segue, levada por essa pessoa, a um hospital,<br />
pois realmente não se sentia bem de saúde. Agradece ao<br />
homem, que ainda persistente oferece-lhe mais ajuda, dizendo<br />
que a esperaria após a consulta feita para levá-la até sua<br />
32
casa, dizendo um até breve.<br />
Depois de um ansioso e longo tempo de espera, uma<br />
atendente lhe chama para que o médico a examinasse. O<br />
médico, no entanto, após diagnosticá-la, diz:<br />
– Senhorita, o seu caso é sério, muito sério, você precisa<br />
cuidar-se. Vá a um especialista o mais rápido possível.<br />
Depois de dito isso, o médico lhe aplicou uma injeção, receitou-lhe<br />
alguns comprimidos e mandou-a para casa.<br />
Lídia, ao sair dali, propõe-se a buscar um táxi. Porém,<br />
percebe que tinha pouco dinheiro. Resolve então voltar para<br />
casa de ônibus, porque o dinheiro que tinha era suficiente<br />
apenas para uma passagem de coletivo. Ao chegar ao seu apartamento,<br />
o único dos presentes que lhe restava, dado por João<br />
Eduardo, estava sendo questionado na Justiça pela administradora<br />
do prédio por falta de pagamento de condomínios e<br />
outras taxas ativas. Lídia, como sempre, continua adiando<br />
suas dívidas na esperança de que João Eduardo voltasse, conforme<br />
prometido por pai Gildo. Só assim resolveria todos os<br />
seus problemas financeiros.<br />
O tempo passa e nada de João<br />
Passaram-se vinte e um dias. Ansioso foi esse tempo<br />
para Lídia, e nada. Assim como no início dos trabalhos do tal<br />
“Pai Gildo”, Lídia estava no mesmo ponto inicial: na estaca<br />
zero. Nada, simplesmente nada no que se referia ao retorno<br />
de seu homem, seu provedor João Eduardo.<br />
Enquanto isso, João, envolvido pelo feitiço de Pai<br />
Gildo, lutava e relutava contra sua vontade. A vontade de<br />
rever Lídia fazia com que ele sentisse algo que lhe puxava<br />
para aquela excitante mulher. Ao mesmo tempo, tinha como<br />
objetivo reconquistar Izabel. Era a luta entre o bem e o mal,<br />
do ódio contra o amor de sua amada esposa, que após aquele<br />
33
episódio sórdido, percebera o quanto amava. Mas, diária e<br />
continuamente, Izabel ingeria bebidas alcoólicas e sua casa<br />
continuava uma desordem. Não havia entendimento entre<br />
João, seus filhos e a esposa. Bastava-lhes algum gesto ou<br />
qualquer diálogo para que entrassem em choque.<br />
Enquanto Lúcio e os espíritos trevosos vibravam para<br />
que João voltasse para Lídia, assim a desordem seria total, os<br />
espíritos de luz, protetores de Izabel e João, ou melhor, seus<br />
anjos da guarda, vibravam a favor da reconciliação do casal e<br />
dos filhos. Era uma luta constante.<br />
As atitudes do passado e do presente, de ambas as<br />
partes, abriam um grande espaço aos espíritos negativos e<br />
corruptos, que aceitavam as ofertas ou presentes em troca de<br />
ver aquela família na lama, assim como eles são: perversos,<br />
vingativos e sádicos. Essas energias espargiam naquele lar<br />
um desconforto total, com atitudes e explanações errôneas e<br />
agressivas, sempre sob as más inspirações.<br />
Entre essa classe espiritual, há, assim como no plano<br />
material, uma divisão em diversas classes. Verifica-se no entanto<br />
que ali, no lar de João Eduardo, há uma definida classe<br />
espiritual trabalhando, composta de energias vãs emanadas<br />
por espíritos corruptos, concentrados entre a orgia e os vícios<br />
gerais, trazendo aos poucos, àquele lar, uma atmosfera<br />
degradante e pontuada por más vibrações.<br />
O que se percebia era uma tentativa de invasão dos<br />
bons amigos do Plano Espiritual Superior. Porém, lhes eram<br />
escassas a luz que os irradiariam para o auxílio aqueles irmãos<br />
tão carentes. Não percebia João e toda a sua família, a<br />
grande tentativa que faziam os bons espírito ou anjos, irmãos<br />
espirituais abnegados, para ajudar a resolver tal situação. E<br />
eles persistiam, e eternamente continuariam, mesmo com todas<br />
as dificuldades, a jorrar-lhes nem que fosse uma ínfima<br />
partícula de raios de amor, enlevada por suas boas vibrações.<br />
34
Por isso a degradação não era total, porque havia uma pequena<br />
luz no fim do túnel.<br />
O mau pensamento ou as más atitudes se transformam<br />
em más sintonias, que consequentemente atraem maus<br />
espíritos. O bom pensamento ou boas atitudes, por conseguinte<br />
atraem bons espíritos e a paz. João não cultuava nenhuma<br />
fé ou não se lembrava sequer da existência de Deus.<br />
Ele continuava e persistia preocupado com o dinheiro em<br />
abundancia, com o lucro em alta escala. O dinheiro era a sua<br />
vida.<br />
O ser humano que vive em contato<br />
com nosso querido Deus<br />
O criador de todas as coisas, ou seja, o nosso Deus<br />
Onipotente, não importando a fé, ou as denominações que lhe<br />
derem, sempre será o nosso porto seguro. Quem não tem uma<br />
fé, certamente se torna escravo de si mesmo ou escravo de seu<br />
próprio egoísmo, além de estar totalmente vulnerável e sujeito<br />
às vibrações negativas. E quando isso ocorre com pessoas de<br />
má índole, que permanecem no erro e que não tem escrúpulos,<br />
geram em torno de si maus pensamentos: inveja, ciúmes, egoísmo,<br />
ganância desenfreada, corrupção, individualismo, calunia<br />
etc. E quando um espírito do mal se aproxima, encontra o<br />
maior de seus desejos, que é o de atormentar as pessoas, materializando<br />
doenças e tirando o máximo de proveito que puder,<br />
sugando suas energias, incentivando aos vícios pelo psiquismo,<br />
ao roubo e até a homicídios. Essa pessoa, estando total ou<br />
parcialmente indefesa (sem nenhuma fé), logicamente será<br />
atingida, tornando-se uma presa fácil dessas vibrações<br />
maléficas.<br />
Sintomas físicos como mal estar, insônia, angústia,<br />
choros desmotivados, previsão ou sensação de morte e<br />
35
outros males. São assim que começam a se revelar as más<br />
sintonias. Isto é só o fim, ou o começo de uma situação<br />
degradante.<br />
Mas quando o ser humano tem sua fé, seja ela qual<br />
for, que pregue o amor ao próximo, à família, solidariedade e<br />
principalmente amor a Deus, tudo leva a crer que terá o seu<br />
anjo ou espírito guardião fortalecido, bem sintonizado, designado<br />
por Deus 24 horas por dia, não importando se o nome<br />
de sua proteção seja Anjo da Guarda, Protetor, Espírito<br />
Santo, Energia ou Orixá.<br />
Nosso querido mestre Jesus afastava e conduzia os<br />
espíritos que obsedavam as pessoas para outras dimensões.<br />
Essas pessoas obsedadas estavam vulneráveis por causa de<br />
seus atos improcedentes. Provavelmente, João Eduardo, sua<br />
esposa e seus filhos, estavam vulneráveis e expostos a tal<br />
obsessão.<br />
Observemos o que dizia o Mestre Jesus às pessoas que<br />
eram vítimas de espíritos obsessores, também conhecidos como<br />
“legião”: – “Vás e não peques mais”. Ou pode-se dizer: Vá e<br />
tenha bons pensamentos e boas atitudes.<br />
Lídia volta ao Pai Gildo<br />
Lídia, voltando àquele lugar, bate palmas e logo é atendida.<br />
O auxiliar pede para que ela entre. Em seguida, surge Pai Gildo.<br />
– Tudo bem? Veio trazer-me boas notícias, não é mesmo?<br />
– Não – responde Lídia, desolada. O senhor prometeu-me<br />
que João Eduardo voltaria entre sete a vinte e um dias.<br />
Já faz quase dois meses e nada. Ele ainda não voltou. Estou<br />
desesperada e com dívidas, muitas dívidas. Não tenho mais<br />
nem o que comer, e eu quero o João se arrastando aos meus<br />
pés, não só pelo que ele foi para mim ou porque ele me dava de<br />
tudo, agora eu o quero por vingança – e põe-se a chorar.<br />
36
Magoada pelos enganos e mentiras de João Eduardo e de<br />
pai de Gildo, frente a frente com seu guru, cheia de tormentos, se<br />
diz vencida por Izabel nessa batalha. E é bem verdade que Izabel,<br />
com todos aqueles problemas, era realmente uma vencedora.<br />
Afinal, ela usava uma poderosa arma: o amor que doava saído de<br />
suas entranhas, aos filhos a ao marido. Amor que estava guardado<br />
em seu íntimo, mas a bebida alcoólica estava lhe prejudicando,<br />
numa busca inútil por consolo e resolução dos problemas.<br />
Izabel, vagamente se apegava à fé, mas o que pedia,<br />
clamando, era com palavras verdadeiras. Nesses momentos, o seu<br />
coração se abria, despojado e seguro às suas preces. Mas, é claro<br />
que entre eles havia uma fenda já um tanto profunda, para que as<br />
energias inconstantes dali se provessem, para que os maus espíritos<br />
entrassem em sintonia com o ódio e a vaidade, cujo único<br />
objetivo era explorar esses sentimentos ao máximo, para completar<br />
a maldosa destruição daquele lar.<br />
Enquanto isso, Pai Gildo diz a Lídia que é preciso<br />
reforçar o trabalho.<br />
– Então reforce, – respondeu Lídia, com muito ódio.<br />
– Vamos reforçar minha filha, só que eu preciso de mais<br />
dinheiro.<br />
– Dinheiro? Eu não o tenho mais dinheiro. Já lhe disse<br />
que não tenho nem o que comer.<br />
– Mas você disse que tem um bom apartamento. Vai ter<br />
de vendê-lo.<br />
– O Senhor acha que devo vender meu apartamento para<br />
continuar esse trabalho?<br />
– Minha filha, o que mais vale? O apartamento ou esse<br />
homem?<br />
– E se ele não voltar? – pergunta Lídia.<br />
– Você tem de confiar em mim, o trabalho já está quase<br />
dando o resultado que você deseja. Agora, só precisa de um<br />
pequeno reforço.<br />
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– E em quanto fica esse “pequeno reforço?”.<br />
– Para que ele fique bem feito, quero que você me<br />
traga o quanto antes a quantia de sete mil reais. Garanto-lhe<br />
que o seu homem voltará, com certeza, no prazo de três dias.<br />
Lídia, espantada e com ironia, responde a pai Gildo.<br />
– Mas meu amigo, eu não tenho mais dinheiro, nem<br />
para comer. Ajude-me, por favor! Traga-me este homem que<br />
depois eu saberei ser muito generosa com você. Poderei ate<br />
lhe dar um carro novo.<br />
– Pois venda o seu apartamento. Sem dinheiro, não<br />
tem trabalho. E vá embora, porque tenho muita gente para<br />
atender.<br />
Lúcio, furioso, assim que Lídia vira as costas para Pai<br />
Gildo, com sua vibração ruim faz com que o tal “Pai<br />
Quiumba” leve um belo tombo, caindo de boca no chão.<br />
Lídia, por mais uma vez se sente derrotada e com os<br />
rins cada vez mais problemáticos. No desespero que sentia<br />
para alcançar aquele objetivo, a conquista do seu homem, ela<br />
se esquecera do mais importante: sua saúde, que se agravara.<br />
Ao chegar em seu apartamento, Lídia procura um companheiro<br />
para o seu consolo: o rádio. Sintoniza-o em qualquer<br />
emissora e ouve a voz do locutor, que diz:<br />
– Você está desesperada, não é mesmo? Nada está<br />
dando certo em sua vida? Sua saúde está abalada? Seu esposo<br />
ou namorado se foi? Nós temos a solução. Ligue-nos agora<br />
mesmo, porque teremos resposta de imediato para o seu caso.<br />
Temos aqui vários depoimentos e uma equipe que ora por<br />
você. Ouça alguns depoimentos.<br />
Lídia, muita atenta, começa a se envolver e a sentirse<br />
realizada com aqueles depoimentos. Não teve dúvidas. Foi<br />
à casa de Anita, também enganada por Pai Gildo, e as duas<br />
tomaram uma decisão. Ansiosa, Lídia liga para o líder religioso,<br />
o locutor, para um contato imediato. Logo ela é atendida<br />
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pela secretária da tal emissora pirata, que lhe pede que escreva<br />
uma carta para ser lida ao vivo pelo locutor. No dia seguinte,<br />
após a carta chegar às mãos do locutor, este a responde,<br />
pedindo que as duas fossem à igreja para serem atendidas<br />
pelo reverendo.<br />
Eis o que o locutor respondeu no ar:<br />
– Eu sou o Reverendo Luiz e aqui estou com a carta<br />
de Lídia, que me conta sobre o seu estado de saúde, causado<br />
pela má situação financeira que está atravessando, além da<br />
triste ausência e o abandono de seu namorado. Eis o que esta<br />
se passando com você, minha filha. Você está com um trabalho<br />
de feitiçaria muito pesado. Um Exu e uma Pomba-Gira<br />
aceitaram uma tarefa para acabar com você, e essa pessoa<br />
você conhece bem. É ela mesma, é exatamente quem você<br />
esta pensando neste exato momento. A minha vidência ainda<br />
me mostra todo o mal que fizeram a você. Esse trabalho partiu<br />
também de uma vizinha sua. Procure-nos com urgência,<br />
mas venha rápido, para que possamos fazer-lhe uma forte corrente<br />
de orações. Eu tenho o poder para lhe salvar dessa<br />
situação. Vou abençoar-lhe e seu namorado voltará urgente,<br />
mais rápido do que você pensa, minha querida ouvinte.<br />
Venha hoje mesmo.<br />
Lídia, já um tanto debilitada e com um péssimo aspecto,<br />
consegue, com a ajuda de Anita, chegar ao local onde<br />
o reverendo reunia, pela força da comunicação, o rádio, muitas<br />
pessoas que se encontravam desesperadas e sem saber o<br />
que fazer.<br />
O encontro<br />
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Quando Lídia se apresenta à secretária do reverendo, esta<br />
percebe que a pobre moça não se prezava mais ao futuro. Mas<br />
mesmo assim, após varias e varias perguntas, Silvia, a secretária<br />
do reverendo, diz à Lídia:<br />
Venda o seu apartamento e volte aqui. Nós não cobramos<br />
nada, mas você precisa só colaborar com ofertas para que possamos<br />
continuar pagando o aluguel desse enorme salão e o programa<br />
de rádio, por meio do qual prestamos auxilio às pessoas que<br />
têm problemas iguais aos seus.<br />
Lídia alegou que seu apartamento estava à venda já há<br />
algum tempo, porém, não conseguia vender, pois nunca havia<br />
aparecido ninguém interessado.<br />
– Posso lhe dar uma idéia? – diz-lhe a secretária. Abaixe o<br />
preço que você está pedindo para vendê-lo, assim, ficará mais fácil<br />
a negociação do seu imóvel. Eu pedirei ao reverendo para que ore<br />
muito por você, e verá como será rápida a venda do apartamento.<br />
Façamos o seguinte: você me dá o seu endereço para que eu o<br />
coloque na fogueira da prosperidade.<br />
No dia seguinte, logo após lídia se levantar, toca a campainha.<br />
Era uma pessoa interessada na compra do apartamento:<br />
– Bom dia! Quero falar com dona Lídia.<br />
– Pois não, sou eu mesma. O que o senhor deseja?<br />
– A senhora está vendendo o apartamento?<br />
– É, estou.<br />
– Bem, estou interessado. Quanto a senhora quer por ele?<br />
– Veja bem meu senhor, o apartamento vale oitenta<br />
mil, mas estou pedindo cinqüenta mil, pois tenho urgência<br />
em vendê-lo.<br />
– Têm dividas? – pergunta-lhe o comprador.<br />
– Algumas taxas de condomínio atrasadas. Lídia lhe<br />
mostra os boletos.<br />
– Aqui está o que devo: Três mil reais.<br />
– Bem, eu lhe dou vinte mil reais. É pegar ou largar.<br />
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– O senhor aceita um café? É a única coisa que posso<br />
lhe oferecer no momento.<br />
Lídia lhe oferece um café para ter tempo de pensar,<br />
pois estava sendo pressionada. Enquanto fazia o café, martirizava-se<br />
em pensamentos: “Aquele pessoal da igreja do reverendo<br />
Luiz é realmente incrível. Fui ontem ter com eles e<br />
hoje já estou vendo o resultado. Isto é um verdadeiro milagre.<br />
Não é bem o que eu queria, mas até agora não havia<br />
aparecido nenhum comprador, e se eu pegar os vinte mil<br />
reais e tiver o João de volta, tudo estará resolvido em minha<br />
vida, pois se aconteceu este milagre, com certeza outro milagre<br />
acontecerá: João irá voltar”.<br />
Mas o que Lídia não sabia é que aquele sujeito, o comprador<br />
sem escrúpulos e mal intencionado, era comparsa do<br />
revendo Luiz e de sua secretária Silvia, que o enviaram até<br />
Lídia para extorqui-la, executando uma compra desonesta e<br />
oportunista do imóvel, a preço irrisório, sabendo eles perfeitamente,<br />
que através da sensibilidade emocional em que a<br />
moça se encontrava, certamente seria uma presa fácil, e eles<br />
bem sucedidos com a compra do imóvel. Com isso, teriam<br />
um bom lucro após vender o apartamento para outra pessoa<br />
pelo preço de mercado.<br />
Lídia, voltando da cozinha com o café, diz ao homem:<br />
– O senhor não pode melhorar um pouco mais a sua<br />
proposta?<br />
– Senhora, na verdade eu já estou quase arrependido,<br />
pois percebo que nesse apartamento tem alguma coisa. Aqui<br />
há uma tristeza muito grande, parece-me que tem macumba,<br />
feitiçaria, enfim, uma energia totalmente negativa que toma<br />
conta deste lugar. Quem morar aqui só terá problemas. Parece-me<br />
que tem um feitiço muito bravo, coisas de vizinho.<br />
Após ouvir atentamente aquele homem, Lídia deduz<br />
rapidamente que João fora embora porque alguma vizinha<br />
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invejosa lhe fez algum trabalho para tirar João de sua vida.<br />
Ao ouvir as estranhas palavras daquele homem, inesperadamente,<br />
quase que suplicando, diz ao homem:<br />
– Pensando bem... Não, não vá embora! Vamos<br />
conversar!<br />
– Não, dona Lídia, eu não vou comprar mais o<br />
apartamento da senhora.<br />
– Então está bem, eu aceito os vinte mil. Fechamos o<br />
negócio agora?<br />
O comprador convida Lídia a ir ao seu escritório para<br />
concluir o negócio. Assim, consumado o negócio, ela entrega<br />
as chaves do apartamento ao homem. E a convite de sua<br />
amiga Anita, Lídia vai morar com ela, dividindo ambas as<br />
despesas de aluguel, telefone, alimentação e outros.<br />
– Você viu Anita? Agora vai ser tudo do jeito que eu<br />
quero. Aquele canalha logo em breve estará aqui, em minhas<br />
mãos. O pessoal do reverendo Luiz é ótimo, fomos num dia e<br />
no dia seguinte consegui vender o apartamento. Temos que ir<br />
lá o quanto antes para eu dar a minha oferta, para que João<br />
Eduardo esteja logo, bem aqui, aos meus pés. Vamos Anita,<br />
arrume-se enquanto eu pego um táxi.<br />
– Que nada Lídia! Vamos de ônibus, você precisa<br />
economizar.<br />
– Que economizar, que nada. Logo, logo o João voltará<br />
e meus problemas financeiros estarão resolvidos, mesmo<br />
porque, eu não estou bem de saúde. De vez em quando me<br />
dá umas crises e eu tenho muitas dores nos rins. Estou<br />
urinando sangue.<br />
– Cuidado Lídia, você precisa se cuidar, mulher ! – previne<br />
Anita.<br />
– Assim que João voltar para mim amiga, irei tomar<br />
providências em relação à minha saúde. Irei me tratar nas<br />
melhores clínicas e aproveitarei para fazer algumas correções,<br />
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com cirurgias plásticas e estéticas faciais. E você Anita? O seu<br />
namorado não voltou?<br />
– É, mas eu prefiro não mexer mais com essas coisas,<br />
vou deixar nas mãos de Deus. O que for meu virá em minhas<br />
mãos. Bem, até que enfim chegamos à igreja do reverendo.<br />
Na igreja<br />
Lídia aborda um atendente. – Boa tarde moço, quero<br />
falar com a Sílvia.<br />
– Quem quer falar-lhe?<br />
– Diga que é a moça do apartamento que ela saberá .<br />
– Qual é o seu nome moça?<br />
– Diga-lhe que é a Lídia.<br />
Em seguida, aparece Sílvia. E Lídia, dirigindo-se a ela<br />
com entusiasmo, diz:<br />
– Vocês são demais. Eu vim o mais rápido para agradecer-lhes,<br />
e também para trazer a oferta prometida. Diga-me o<br />
quanto devo dar como colaboração, além do meu testemunho.<br />
– Bem Lídia, você colaborando com ofertas, no máximo<br />
em três dias seu namorado estará de volta, com toda a<br />
garantia.<br />
– Quero saber o quanto devo doar.<br />
– Quanto mais você puder colaborar, mais rápido seu<br />
namorado voltará. Faça esse desafio e você verá como o milagre<br />
acontece rápido. Faça isso.<br />
– Duzentos reais está bom?<br />
– Se você acha que estamos aqui pedindo esmolas, está<br />
totalmente enganada, moça. Isso é uma ofensa. Bem, faça o<br />
seguinte: Doe a metade do que conseguiu com a venda do seu<br />
apartamento e você verá o milagre acontecer. Reafirmo-lhe que<br />
em três dias você terá o seu homem de volta, eu lhe garanto.<br />
Anita quis interferir, dizendo que aquilo era um<br />
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absurdo. A secretária Sílvia, porém, percebendo a intromissão<br />
de Anita, chamou Lídia para outra sala para torná-la sua presa.<br />
– Dez mil reais? – indaga Lídia, com admiração.<br />
– Sim, exatamente dez mil reais – afirma a secretaria<br />
do tal reverendo. E foi o preço que Lídia pagou por seu ato<br />
de simplicidade, desespero e fé naquela quadrilha. Silvia, a<br />
secretária confiável do reverendo, participava de um esquema<br />
sórdido, cuja finalidade era só usufruir do desespero das<br />
pessoas com promessas e garantias em tudo o que se dizia<br />
relativo à solução de problemas.<br />
Lídia em estado grave<br />
Lídia, ansiosa, aguardara os três dias. Porém, João<br />
Eduardo não regressara. Os dias se passavam e o seu coração,<br />
totalmente em frangalhos, se desajustava em seu peito<br />
sórdido, seco, frio, quase em morte. E João Eduardo, não mais.<br />
Ou nunca mais.<br />
Sua doença estava cada vez mais grave e Anita tentava<br />
ajudá-la do jeito que podia. Lídia dizia à amiga que os seus<br />
caminhos se estreitavam a partir dali. Enferma de corpo e<br />
alma, se calava pelos cantos. Porém, com muita revolta, não<br />
ouvia ninguém, e também não obtinha mais respostas aos<br />
seus clamores. Talvez a vida lhe obrigara, a partir daquele<br />
momento, a se conformar.<br />
Anita, por sua vez, passou a frequentar um templo<br />
budista, onde, bem orientada, se instruiu e passou às meditações<br />
e à leitura de bons livros, tornando-se em pouco tempo<br />
uma pessoa mais alegre, passando a compreender e a aceitar<br />
o que a vida podia lhe dar. Entendia que na vida, faz-se<br />
sintonia com as leis de causa e de efeito. O bom torna-se<br />
bom, o ruim se multiplica e torna-se ainda pior.<br />
Metafisicamente falando, o sobrenatural aprofunda-se<br />
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nela através de leituras feitas em livros extraordinários, assim<br />
como os bons livros espíritas, e, além do mais, de fundo científico<br />
elevado, trazendo-lhe fontes tranquilas para a sua alma.<br />
Lídia, totalmente apegada aos seus encantamentos, esquece<br />
de sua saúde física, já um tanto afetada pelas esperas e pela<br />
angústia. É aconselhada várias vezes por sua amiga a cuidar de<br />
sua saúde. Após visitar um consultório médico, imediatamente<br />
recebe das mãos do doutor uma guia de internação em caráter<br />
de urgência, por sorte em um hospital que ficava bem próximo<br />
à casa onde ela morava com sua amiga Anita.<br />
Após vários exames realizados por uma junta médica,<br />
foi feita uma biopsia e concluiu-se que os rins de Lídia estavam<br />
totalmente comprometidos, pois ela tardara a procurar<br />
por tratamento. Após o diagnóstico feito, encontraram um<br />
enorme tumor maligno bem próximo ao seu coração e outro<br />
no rim. Quem sabe não teria sido o resultado de tantas lágrimas,<br />
tanto ódio e tanta angústia? Ou, quem sabe, não estaria<br />
ali já há muito tempo, somente aguardando o momento de<br />
mostrar-se em dores, para arrancar-lhe o máximo de sofrimento.<br />
O tempo, curto o tempo, deixa por alguns dias a jovem<br />
mulher banhar-se com as próprias lamúrias, para depois de<br />
derrubadas suas lágrimas, afagar suave o “benéfico mal” que guardava<br />
em seu peito com as delicadas mãos, aceitando-o diante do<br />
tempo que ainda lhe restava de vida. Termina aqui a passagem<br />
de Lídia pelo plano Terrestre, mas perguntas pairam: Será que<br />
Lídia teve oportunidades de resgatar dívidas? E para onde<br />
teria ido? Lídia acreditava parcialmente que as pessoas, João<br />
Eduardo, por exemplo, é que tinham por obrigação cumprir<br />
com os compromissos dela e promover seus devaneios. Seria<br />
Justo?<br />
Lúcio, junto àquela legião de espíritos trevosos,<br />
resolve que deveria resgatar Lídia para se juntar a eles, mas<br />
sabendo de antemão que não seria tão fácil, afinal, ela tinha<br />
45
seu livre-arbítrio.<br />
– Será que Lídia perdera essa oportunidade de se<br />
vingar de João? – questiona Lúcio.<br />
Há um pequeno trecho bíblico que diz: “Nem filho paga por<br />
pai, nem pai paga por filho”.<br />
Será que essa lei fará com que a alma de Lídia fique por<br />
aí, vagando?<br />
Após a morte de Lídia, Anita resolve mudar-se, pois<br />
sentia um grande vazio em sua casa: faltava-lhe a amiga. Anita<br />
recordava-se muito de Lídia e passou a frequentar um bom<br />
centro espírita. Lá, formavam-se grupos de voluntários para<br />
visitas constantes às crianças excepcionais. E Anita sempre<br />
se fazia presente nessas oportunidades, além de continuar frequentando<br />
o templo budista, onde aprendera a meditação, o<br />
jejum e a reflexão. Entre os frequentadores daquela casa de<br />
caridade, Anita conheceu Oscar, um homem culto, de meia<br />
idade e boa procedência, cuja humildade jorrava de seus lábios<br />
em forma de sorriso. Um cavalheiro que lhe cercava de<br />
atenção, fazendo-a dele se aproximar num encantamento de<br />
amor. Houve entre ambos, as flores e o namoro.<br />
O desejo de estar sempre junto dela, de lhe dar flores,<br />
era uma realidade fantástica que fazia Anita fruir em seu coração,<br />
também muito sofrido, o desejo da vida, o desejo de<br />
amar. Mas como em todo sonho ou conto de fadas, de<br />
repente, sem motivo, uma emoção profundamente triste, vazia,<br />
faz surgir dos lábios de Oscar uma doçura ternamente<br />
transformada em um gosto amargo, ao dizer a Anita que não<br />
poderiam mais se envolver, que ele se afastaria dela por motivos<br />
alheios à sua vontade.<br />
Há dois anos, Oscar tivera um romance com uma moça<br />
chamada Camila. Depois de perceber que não havia nada em<br />
comum entre ele e Camila, que eram desajustados, ele foi amargamente<br />
traído por aquela mulher, que preocupada somente com<br />
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o seu bem-estar, feriu-o intensamente com suas falsas juras de<br />
amor, transformadas por Oscar em decepção e desconfiança<br />
no sexo oposto.<br />
Certamente que Anita lhe parecia diferente, no entanto,<br />
não confiava nela o suficiente para viver uma bela história<br />
de amor, assim como sonhara. Quis colocar à prova a<br />
paixão, o amor e a honestidade de Anita.<br />
Esse afastamento de Oscar foi uma determinação um<br />
tanto insegura e vulgar da parte dele, que por não ter nenhuma<br />
experiência com as mulheres, acreditava que seria o único<br />
caminho para chegar ao que ambos buscavam: o amor.<br />
O coração de Oscar ficou imensamente amargurado, e o de<br />
Anita, duplamente amargurado, pois sabia o que havia acontecido<br />
no passado entre Oscar e outra mulher.<br />
– Anita! O melhor que devemos fazer é nos separar,<br />
paremos por aqui. Não mereço você, sou só um tolo, não sei<br />
lidar com as mulheres, não podemos mais ficar juntos<br />
Ela rebate as suas palavras respondendo-lhe:<br />
– Oscar! Que brincadeira é essa? O que está<br />
acontecendo? – e se põe a chorar.<br />
Momentaneamente, ao levantar o rosto, percebe que<br />
o homem a quem estava aprendendo a amar se encontrava ali<br />
chorando, e a passos lerdos ia aos poucos se afastando dela,<br />
silencioso, pés rastejantes, para que talvez nem mesmo os<br />
seus rastros ficassem. Ele sabia perfeitamente que seus rastros<br />
seriam as suas saudades.<br />
Oscar não diz mais nada e vai-se embora, com a certeza<br />
de que Anita sairia à sua procura. Pobre mulher... Ali,<br />
surpreendida, os seus braços não se moviam e suas pernas só<br />
lhe deram forças para que se ajoelhasse no chão, sozinha, lançando<br />
um grito triste acompanhado de um choro sórdido, tão sórdido,<br />
que instantaneamente a fez se calar.<br />
Aquela noite, uma noite de inverno, estava muito fria.<br />
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Anita tinha preparado uma bebida muito saborosa, com uma<br />
receita elaborada por sua mãe que ela jamais esquecera. Nessa<br />
bebida estavam incluídos os seguintes ingredientes: chocolate,<br />
ovos, leite, açúcar e uma pequena dose de conhaque. Junto<br />
àquela bebida viria também um pouco de sua história de<br />
vida, de suas labutas e tudo pelo que já tinha passado em sua<br />
vida.<br />
Anita nascera em uma família pobre, originária do sul<br />
do Brasil. Ainda menina, que viera para a cidade grande para<br />
conquistar uma vida mais digna.<br />
Mas e o seu amor? Por que não teria Anita sorte com o<br />
amor? Que Deus tomasse conta de sua alma.<br />
Alguns dia se passam e Oscar, por intermédio de outras<br />
pessoas, fica sabendo notícias de Anita. Ela não andava<br />
bem, estava abatida e muito deprimida. A verdade é que ele a<br />
queria, e sofria muito com a separação.<br />
Oscar era um homem simples; não possuía bens e vivia<br />
com um salário razoável. Um homem de 40 anos cuja<br />
vida sempre fora voltada para o trabalho. Após o episódio<br />
com Camila, Oscar jurou para si mesmo que nunca mais passaria<br />
por uma situação daquela natureza, que o envolvera em<br />
traumas, tristezas profundas, traição, desilusões e inquietações.<br />
Mas Anita, não! Por que Anita? O seu amor por ela<br />
tirava-lhe os domínios que impusera para o seu destino! Deveria<br />
procurá-la? Sim é claro que deveria, porque nada soubera<br />
de erros passados. Anita lhe dissera tudo num gesto transparente,<br />
para nada ficar-lhe oculto. E será que ela o perdoaria?<br />
O que Anita nem imaginava era que Oscar, na verdade,<br />
era um empresário bem sucedido, que ocultara dela os<br />
seus grandes bens financeiros. Era dono de uma siderúrgica que<br />
empregava 1.500 funcionários.<br />
A tristeza, irmã melancólica da depressão, compartilhava<br />
as horas com Anita após a sua separação de Oscar. Do<br />
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silêncio oculto que se fazia em sua casa, nada se ouvia além dela<br />
mesma e de suas lamentações. Para si, todas as manhãs lhe eram<br />
vazias, as tardes pareciam não existir mais, e desejava o véu da<br />
noite pra morrer com ele. As noites lhe eram frias e trevosas. Às<br />
vezes chamava por sua amiga que já se fora, outras vezes temia a<br />
presença de Lídia, chegando a sentir fortes arrepios e temores<br />
em um dia que invocou a presença da amiga falecida. E poucas<br />
lhe foram as noites tranquilas em que conseguia dormir.<br />
De repente, numa manhã, ao levantar-se da cama olha<br />
para o espelho e assustada e põe-se a chorar. Teria perdido<br />
uns bons quilos de peso corporal. Sua fisionomia era cadavérica,<br />
flagelada. Imediatamente toma o seu banho e troca a<br />
sua roupa para dirigir-se a um hospital, pois daquela forma<br />
não poderia continuar.<br />
Que Ironia, mais uma vez, o destino<br />
Anita, em uma de suas idas ao hospital, ao passar por<br />
alguns exames não sabia que ali, onde se tratava doentes, um<br />
dos provedores do hospital teria o nome de Oscar. Ela realmente<br />
não se importava com o nome, porque não seria o<br />
mesmo Oscar a quem ela tanto amava, jamais, pois ele não<br />
teria o mínimo de condição para ser um provedor daquele<br />
complexo hospitalar. Em uma das consultas, um médico simpático<br />
chama-lhe pelo nome ao atendê-la.<br />
Dr. Osvaldo, ao examiná-la sorrindo, lhe dá o<br />
diagnóstico: chama-o de “solidão”.<br />
Essa situação despertou nela grandes atenções, e aquele doutor<br />
passou-lhe um carinho especial através das palavras, pois sabia<br />
que a situação daquela senhorita estava ligada somente ao fator<br />
psicológico.<br />
O que resta dizer é que, após algumas visitas ao hospital,<br />
Anita sente que ainda teria possibilidades de se reerguer,<br />
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por encontrar ali uma pessoa que se tornou um grande amigo,<br />
que era o Dr. Osvaldo. Mas ela sentia que ele lhe omitia alguma<br />
coisa, ainda assim, confiara a sua vida a ele, pois suas<br />
palavras lhe confortavam, e muito.<br />
O tempo passava. Depois de suas visitas ao médico,<br />
Anita conseguira se estabilizar, retornando à vida ativa. Não<br />
se esquecera por todo de Oscar, mas já se sentia melhor, quase<br />
pronta para o labor. Algumas sessões lhe foram feitas por<br />
profissionais na área de psicologia, para ajudá-la em seu progresso<br />
íntimo. E sempre ali presente estava o seu “Dr. Amigo”.<br />
E nessa vigilância, com algumas visitações médicas,<br />
Anita sente-se muito bem. Só que uma coisa começava a afligir<br />
a sua mente. Por que tanta atenção do Dr. Osvaldo? Foi<br />
quando caiu em si. – Meu Deus! Não pode ser! Eu não devo<br />
mais passar por essa penosa situação.<br />
Um dia, ao examiná-la, Dr. Osvaldo, não contendo<br />
mais sua paixão mas sem lhe faltar com o devido respeito,<br />
fez-lhe um elogio, convidando-a para jantar.<br />
– Anita, você é e está hoje ainda mais bonita. Não<br />
gostaria de jantar comigo?<br />
– Dr. Osvaldo, o senhor é realmente uma pessoa muito<br />
interessante, bonito. Um excelente médico, de boa posição<br />
social e tem uma missão maravilhosa, que é a de curar as<br />
pessoas. O senhor é tudo que uma mulher equilibrada sonha.<br />
Mas o meu coração doutor, meu coração está totalmente<br />
ocupado, e para sempre.<br />
– Você me desculpe, Anita. Pensei que você fosse<br />
solteira e que não tinha compromisso algum. A sua ficha diz<br />
que você é solteira.<br />
– Sim, sou solteira e não tenho namorado, não tenho<br />
ninguém. Quem eu realmente amo, profundamente, foi<br />
embora sem dar-me explicações.<br />
– E como se chama esse felizardo, Anita?<br />
50
– Isso agora não importa, doutor.<br />
– Desculpe a minha curiosidade, estou querendo<br />
saber demais de sua vida.<br />
– Não, não há problema. Eu é quem lhe devo desculpas.<br />
Fui um tanto grosseira e o senhor me é tão gentil. A<br />
pessoa a quem amo se chama Oscar. Ele trabalha em uma<br />
siderúrgica. Não tem o seu status, é uma pessoa simples financeiramente,<br />
porém, um perfeito cavalheiro tanto quanto<br />
o senhor, doutor. Ele é tudo o que eu sonhei para completar<br />
a minha felicidade: Um homem pobre financeiramente, mas<br />
rico de alma, rico em suas convicções, em seus planos. Só<br />
que eu não entendo porque ele se foi. Não pensou nas sequelas<br />
que me deixaria ao afastar-se de mim, sem que existisse algum<br />
motivo ou justificativa para isso.<br />
– Ele não lhe deu nenhuma explicação? – pergunta<br />
Dr. Osvaldo.<br />
– Por que Oscar? Por quê? Se você soubesse como eu<br />
te amo e o quanto te odeio por isso. Eu tinha planos para nós<br />
dois, mas tudo não passou de uma mentira.<br />
Em seguida, Anita se despede de Dr. Osvaldo e ele<br />
lhe pede desculpas.<br />
– O senhor não imagina o bem que me fez com esse<br />
convite, auxiliando-me em meu interior, levantando minha<br />
autoestima. Quando vim a este hospital, desolada, jamais<br />
pensei em meu regresso como pessoa normal. Mas com as<br />
bênçãos divinas, encontrei-me com o senhor e lhe fiquei devedora.<br />
Foi aqui, através de seu braço amigo e de seu coração<br />
maravilhoso que me fiz novamente filha de Deus, uma<br />
pessoa normal. E foi exatamente isso que eu tanto precisei para<br />
erguer-me novamente. Fico-lhe grata doutor, muito grata. Que<br />
Deus o ilumine sempre.<br />
Oscar, além de provedor daquele hospital, também o<br />
era em outras instituições filantrópicas, em especial numa casa<br />
51
espírita, onde ele se sentia muitíssimo bem na companhia de<br />
crianças “especiais”. Mas mantinha sigilo total, para que sua<br />
solidariedade não perdesse a essência da caridade.<br />
Lídia vaga sobre a Terra<br />
Após a morte de Lídia, com o seu espírito já desligado<br />
do corpo físico, ela se encontra numa dimensão de baixa<br />
frequência, com outros espíritos da mesma faixa vibratória.<br />
– Que lugar é este? – pergunta Lídia. – Que horrível!<br />
Onde estou?<br />
Responde-lhe, telepaticamente, um dos espíritos ali<br />
presentes:<br />
– Aqui, minha cara, é a sua nova casa.<br />
– Como assim? Eu tenho de encontrar Anita. Pelo que<br />
sei, ela estava comigo no hospital, e aqui não me parece ser<br />
um hospital.<br />
– Verdadeiramente, aqui não é um hospital, você esta<br />
certa. Aqui é outro lugar, é a sua nova casa. O seu corpo<br />
você deixou lá no hospital, e de lá ele foi levado para o cemitério.<br />
Seu corpo agora está podre! Podre, você entendeu? Em<br />
decomposição.<br />
– Não entendi e você está falando bobagem. Eu<br />
estou aqui, viva e com muitas dores. Diga-me onde posso<br />
encontrar um médico.<br />
Como ninguém a atendia em seus apelos, confusamente<br />
ela perguntava:<br />
– Por favor, diga-me a verdade! Eu quero voltar pra casa!<br />
– Como você se chama? – alguém pergunta.<br />
– Eu me chamo Lídia.<br />
– Olhe aqui moça, você agora é um espírito, só espírito.<br />
O seu corpo está debaixo da terra, podre, todo podre. Você<br />
entende isso? Logo ali na frente tem um homem que se cha-<br />
52
ma Lúcio. Ele esta à sua procura faz tempo. Tem outro ali<br />
que você já conhece. Foi assassinado de tanto enrolar os outros<br />
enquanto viveu na Terra. Um belo dia ele achou um que<br />
fez dele churrasco! Vá até lá que você descobrirá quem ele é.<br />
– E você, quem é? Pergunta Lídia.<br />
– Bem, eu era ladrão, assassino, estuprador etc. Só<br />
que, após vários anos, comecei a entender que estou aqui na<br />
condição de espírito, sofrendo um monte neste lugar horrível.<br />
Estou aqui de acordo com as minhas ações. É aqui o<br />
nosso lugar, e pode ir se acostumando, minha cara.<br />
– Estou com frio, com fome e com muitas dores.<br />
– Para você se alimentar terá que esperar. Bem, eu não<br />
estou aqui pra lhe ensinar nada, aqui é cada um por si.<br />
– E onde está a pessoa que eu conheço?<br />
– Vá andando por aí. Depois daquele lodo você o<br />
encontrará. Será fácil você encontrá-lo, pois ele está todo<br />
deformado, talvez se banhando no lodo que ele mesmo<br />
construiu.<br />
– Então ele está vivo! – responde Lidia. – No meu<br />
caso, se eu sinto dores em todo o meu corpo, certamente é<br />
porque também estou viva. Sabe de uma coisa, você está me<br />
enrolando, seu mentiroso.<br />
Naquele momento, surge na presença de Lídia um<br />
espírito de aparência suave. Após cumprimentá-la, ele lhe diz:<br />
– Chamo-me Rafael, sou um espírito que trabalha na<br />
linha que divide o bem do mal. Sou conhecido por vários<br />
nomes no planeta Terra. Alguns me chamam de Guardião,<br />
outros de Exu, Portal, Auxiliar... Assim, rotulando-me com<br />
nomes diferentes e credos também diferentes. Por vezes somos<br />
confundidos com espíritos que sentem prazer em fazer o mal.<br />
O que fazemos, no entanto, é trabalharmos ardorosamente para<br />
manter o equilíbrio no Universo, e vim aqui neste lugar de trevas<br />
com a missão de lhe fazer um convite. Venha conosco para<br />
53
uma colônia espiritual, onde você terá grandes oportunidades<br />
de um bom aprendizado e conforto espiritual.<br />
– Bem, Sr. Gabriel ou Sr. Rafael, – responde Lídia –<br />
isso pra mim não tem a menor importância. O que me interessa<br />
no momento é falar com o homem que aquele outro<br />
espírito diz que eu conheço. Você pode me dizer onde ele<br />
está?<br />
– Eu lhe recomendo que não o veja, pelo menos por<br />
agora.<br />
– Veja bem, Sr. Rafael ou Sr Exu, seja lá o que for.<br />
Sempre fui dona do meu nariz. Não lhe conheço e não aceito<br />
suas ordens ou recomendações. Eu tenho um objetivo, que é<br />
reconquistar o homem que perdi. Não estou bem de saúde,<br />
sinto muitas dores. Sinto fome e muito frio. Quero resolver<br />
minhas pendengas. Você pode me dizer onde está a tal<br />
pessoa que aquele cara disse que eu conheço? Sim ou não?<br />
– Aqui você tem vontade própria, ou seja, tem o seu<br />
“livre-arbítrio”. Portanto, você é livre para ir e vir. Siga o seu<br />
caminho e encontrarás quem procura – responde Rafael.<br />
Após algum tempo, Lídia se depara com Lúcio e Gildo,<br />
o tal feiticeiro. Com muito espanto, ela exclama:<br />
– Você por aqui? Nossa! Pai Gildo, como você está<br />
péssimo, seu pilantra! Cadê o João, que você jurou que no<br />
máximo em 21 dias estaria comendo em minhas mãos?<br />
– Agora ficou mais fácil, minha cara! Este aqui é Lucio.<br />
Você não o conhece, mas ele esteve sempre ao seu lado, tentando<br />
lhe ajudar. Ele era namorado da esposa do seu amante.<br />
Vamos formar uma equipe e nos preparar para uma viagem, e<br />
lá você terá o seu homem a hora em que você quiser. O terá até<br />
24 horas por dia. O que você acha?<br />
– Você está tentando me enrolar outra vez, não é<br />
mesmo? – diz Lídia.<br />
– Tente entender uma coisa moça, nós estamos mor-<br />
54
tos! Mortos, entendeu? Estamos mortos fisicamente, como se<br />
diz na Terra. Agora nós estamos em outro plano, que muitos<br />
chamam de “Inferno”. Aqui, ou você se une a nós, ou você se<br />
declara nossa inimiga. Como queira minha cara.<br />
Lídia, já um tanto amedrontada, procura disfarçar,<br />
buscando resolver as suas preocupações e necessidades físicas.<br />
– Como é que a gente se alimenta por aqui? Estou<br />
com muita fome... Sinto frio e tenho dores.<br />
– Para nos alimentarmos por aqui – diz o feiticeiro –<br />
temos que vagar sobre a Terra para sugar as energias das<br />
pessoas que nos dão abertura.<br />
– Como assim? O que é abertura? Não estou entendendo<br />
nada, meu caro – responde Lídia.<br />
– Quanto mais as pessoas cometem erros, mais elas<br />
ficam vulneráveis, ficando assim mais fácil para nós. Mas não<br />
tenha pressa para aprender, pois você terá tempo disponível<br />
em seu aprendizado. Aos poucos você aprenderá a fazer isso,<br />
é muito fácil. O que basta é que você não tenha piedade de<br />
ninguém, pois o ódio é a arma mais eficiente para nós.<br />
Lídia, muito confusa com aquela situação, não sabia<br />
se era realidade ou sonho. Dizia para si mesma ser só um sonho,<br />
apenas um sonho. Era o que estava lhe acontecendo, era no que<br />
ela queria acreditar. Aquilo tudo não se passava de um sonho banal,<br />
afirmava Lídia para si mesma.<br />
Mesmo acreditando que estava sonhando e que ainda estava<br />
viva e na Terra, ela pergunta ao feiticeiro:<br />
– Então, Pai Gildo, diga-me, o que foi que lhe aconteceu?<br />
– Bem, minha cara, das coisas que não resolvi em sua<br />
vida, muitas outras pessoas eu também enganei com minhas<br />
mentiras e traições. Até que um dia, de tanto enrolar os outros,<br />
acabei me dando mal.<br />
– Mal como?<br />
– É, minha cara, fui procurado por um libertino ex-<br />
55
plorador de mulheres, popularmente conhecido como cafetão,<br />
você entende? Ele estava desesperado para conquistar uma<br />
bacana e tomar o dinheiro dela. Eu o fiz vender o carro e a<br />
casa para me pagar um trabalho, que jamais fiz direito. E foi<br />
daí que, após a promessa vencida, ele notou que eu não tinha<br />
feito trabalho algum, da forma como ele queria que acontecesse<br />
e, mordido de raiva, me arrancou da Terra e me mandou<br />
pra cá, para o inferno. Jogou gasolina em meu corpo e<br />
sem piedade ateou fogo. Por isso estou todo deformado. Mas<br />
estou convicto de que aqui é realmente o meu lugar, pelo<br />
fato de ter enrolado muitas pessoas. Mas não me arrependo<br />
de nada de errado que fiz.<br />
Aos gritos, o feiticeiro retumba bem alto: – Quero<br />
que se dane!<br />
E, voltando para Lídia, ele diz: – Agora, depois de<br />
estar ciente que aqui é o meu lugar, faço uma imensa questão<br />
de buscá-lo para que ele viva aqui também. Esta será a minha<br />
vingança, ele será meu escravo, pois este é o meu, maior<br />
objetivo.<br />
– Mas aqui há muitos moradores? – pergunta Lídia.<br />
– Sim, aqui há muitos moradores, e vão bem mais<br />
além do que você imagina. Aqui é a morada de corruptos que<br />
enganam as pessoas, exploradores mentirosos etc. Mais pra<br />
baixo, é a de assassinos, gananciosos, mesquinhos e fraudulentos.<br />
Mais abaixo, de estupradores e outros, enfim, de homens<br />
que conhecem o poder Divino, mas que persistem no<br />
erro ou na rejeição, assim como eu, que estou aqui por minha<br />
opção, porque sou alimentado pelo ódio e seduzido a continuar<br />
aqui por aqueles espíritos que trabalharam comigo, os<br />
quiumbas (espíritos trevosos). E aqui há muitos políticos e líderes<br />
de nações, que manipulavam o seu povo e ainda manipulam,<br />
interferindo junto aos maus políticos que lá na Terra ainda<br />
vivem, pessoas que eram consideradas importantíssimas na Ter-<br />
56
a, mas que aqui são consideradas lixo dos mais podres.<br />
Novamente Lídia pergunta ao feiticeiro: – Mas se você<br />
morreu recentemente, como pode saber de tudo isso e eu não?<br />
– Você se esqueceu de quem eu fui? Fui e sou um<br />
feiticeiro, fiz vários trabalhos para atrapalhar os outros e por<br />
isso lhe afirmo: sou um mau espírita com muito prazer. Eu<br />
praticava somente magia negra, trabalhava com espíritos perigosos<br />
e hei de me tornar um desses líderes ou gênios do<br />
mal. Vivia constantemente invocando espíritos trevosos para<br />
fazer o mal às pessoas.<br />
Lídia, confusa com as respostas dadas pelo feiticeiro,<br />
confessou-lhe que realmente estava uma tanto atrapalhada,<br />
porque não imaginava nada daquilo.<br />
O tal Pai Gildo, no entanto, entre comparações lhe diz:<br />
– Minha cara, assim como existem maus espíritas, há<br />
de existir também maus pastores, maus padres, e tantas outros,<br />
de tantas outras religiões existentes na face da Terra.<br />
Eu, Pai Gildo, o feiticeiro, conheci a vida e a morte. Por opção<br />
dediquei minha vida em lidar com essa qualidade de espíritos,<br />
pois me identifiquei com eles. Só não sei lhe dizer se fui<br />
fruto desse ambiente. Mas aqui estou por questão pessoal e me<br />
dou bem, mesmo sofrendo muito. O sofrimento me traz mais<br />
ódio, e o ódio me alimenta. Me considero um psicopata, aprendiz<br />
de gênio do mal.<br />
– Mas por que você quer ser tão perverso assim?<br />
– Você, moça, não conhece o que é maldade, pensa que<br />
sabe fazer o mal, mas na verdade é uma otária. Nós aqui nada<br />
somos em relação aos nossos chefes, os chamados espíritos das trevas.<br />
– E os Exus? – pergunta Lídia – Quem são eles?<br />
– Os Exus podem ser comparados a policiais. Alguns<br />
mais evoluídos, outros menos, alguns mais severos outros mais<br />
amenos. Eles trabalham como voluntários na linha que divide o<br />
57
em do mal, para manter o equilíbrio universal, assim dizem eles.<br />
– E você pretende sair daqui e ir para um lugar melhor?<br />
– O que me segura e me alimenta aqui é o ódio, como já<br />
lhe disse, pois foi pelo ódio fui criado por meus genitores. Meu<br />
pai carnal era um matador pistoleiro feroz, um pistoleiro que<br />
matava pra ver o tombo, e minha mãe uma pilantra de marca<br />
maior. Gosto muito de ver os outros sofrerem, assim como eu<br />
sofri na minha infância e juventude. Tornei-me um sádico, por<br />
isso sempre gostei de invocar os maus espíritos para fazer amarrações<br />
e também para fazer o mal aos outros E você Lídia, quer<br />
sair daqui?<br />
– Se é que não estou sonhando, e se tenho o poder de<br />
fazer o mal aos outros também, então, só tenho um objetivo,<br />
uma só coisa a fazer: Quero o João Eduardo em minhas mãos,<br />
quero vê-lo se arrastando aos meus pés como um animal ferido.<br />
Nesse momento, Lúcio solta varias gargalhadas e afirma:<br />
– É isso aí! E pode contar comigo, Lídia, já que é isso<br />
que você quer e agora sabe que não é um sonho!<br />
– É, eu sei que nada mais conseguirei, o que me resta<br />
agora é me consolar com essa situação e trazer aquele maldito<br />
para este lugar, para eu saciar minha vingança.<br />
O feiticeiro lhe diz:<br />
– Pois é, já que você não acredita totalmente em sua<br />
morte física, vou lhe mostrar um quadro visionário de como<br />
você morreu e como está hoje o seu corpo embaixo da terra,<br />
decomposto após algumas semanas devido à ausência de sua<br />
alma. Assim, você poderá tirar todas as suas dúvidas. Agora olhe<br />
nesse espelho que está logo aí, na sua frente.<br />
Lídia, ao ver sua própria imagem fria e triste, numa<br />
sepultura solitária, fica também muito triste e começa a soluçar,<br />
dizendo que aquilo não era possível, porque ela estava<br />
ali, totalmente lúcida a conversar com Pai Gildo e Lucio, que<br />
aquilo não passava de mais um truque baixo daquele patife.<br />
58
O falso Pai de Santo, sarcasticamente se põe a sorrir com altas<br />
gargalhadas, dizendo-lhe:<br />
– Minha cara, isso que você está sentindo é totalmente<br />
normal. Porém, terá que aceitar por ser esta a sua realidade<br />
agora, pois você se encontra em outro plano de vida.<br />
– Não me venha com mais uma de suas mentiras –<br />
responde Lídia – Eu não acredito mais em você!<br />
– Eu queria poupá-la de mais sofrimentos, mas já que<br />
você insiste, então olhe mais uma vez no espelho que verá no<br />
seu quadro de existência: a sua própria morte, física, é claro.<br />
Lídia, ao voltar-se de frente para o espelho, fica espantada<br />
ao ver-se morrendo naquele hospital. Lembra-se que,<br />
agonizante, pedia às pessoas que estavam ao seu lado por<br />
ajuda, mas ninguém lhe fazia caso. Certamente porque ela,<br />
naquele momento, já se encontrava desligada, para fora de<br />
seu corpo físico e se transferindo para o Plano Espiritual,<br />
pelo fato de ninguém estar ouvindo os seus apelos, pois<br />
espírito não tem cordas vocais.<br />
Aos poucos Lídia vai se afastando do espelho ao ver<br />
exatamente a triste cena de sua própria morte. Ao perceberse<br />
de frente para o espelho, reconhece que naquela imagem o<br />
seu corpo entra em estado profundo de inércia, para logo após<br />
erguer-se, como uma cópia feita ou um clone de seu próprio<br />
corpo físico, na condição de espírito ou alma miserável em<br />
total degradação.<br />
Naquele instante, mistura-se nela medo e revolta, por<br />
não poder rever seus bens materiais, o luxo ou a boa vida que<br />
desfrutou na companhia de João Eduardo. Só lágrimas, além<br />
das dores, fome e frio. Muitas lágrimas!<br />
O tal Pai Gildo, ao vê-la sentada no chão com as mãos<br />
desesperadas sobre a cabeça, tenta lhe dizer algo.<br />
– É assim mesmo, minha cara, é assim mesmo. É a lei<br />
de causa e efeito.<br />
59
O feiticeiro, como já era prático na indução das pessoas, e principalmente<br />
de espíritos, quando em seus momentos psicológicos<br />
frágeis, aproveita para induzi-la aos seus planos sórdidos.<br />
– Veja, é como eu lhe falei. Vamos formar uma equipe e<br />
você aprenderá muitas coisas. Ficaremos mais fortes nos unindo,<br />
aí, você poderá fazer dele, digo, do tal de João Eduardo, o que<br />
você quiser. Pense, pense bastante e não tenha pressa.<br />
Após algum tempo, Lídia, obstinada e um tanto revoltada<br />
por sua atual situação, aprende, por meio da indução<br />
do feiticeiro, como se tornar um espírito obscuro. E com uma<br />
equipe pronta, sob o comando de Pai Gildo, parte em busca<br />
dos seus maldosos objetivos. Lúcio se oferece para participar<br />
daquela equipe, sem saber que se tornaria mais um escravo<br />
do tal feiticeiro.<br />
Na casa de João<br />
João, conversando com Izabel, diz:<br />
– Bem que você poderia amenizar mais com a bebida,<br />
Izabel. Eu acho melhor procurarmos ajuda, existem clínicas<br />
especializadas para esse caso.<br />
– Não se esqueça João, foi você quem provocou esta<br />
situação – responde Izabel.<br />
– Izabel, você está dando um péssimo exemplo aos<br />
nossos filhos. Eles não são mais crianças, já estão saindo da infância<br />
para a adolescência, e esses maus exemplos lhes são muito<br />
perigosos.<br />
– João, eu tenho consciência disso, quero parar, mas<br />
não consigo. Mas e você, já pensou nos seus maus exemplos?<br />
– Izabel, você deve procurar fazer um tratamento, pois<br />
está se tornando uma alcoólatra.<br />
– Não vai adiantar João, porque isso não é doença.<br />
60
Eu vou parar, você verá, é só deixar que a minha mágoa passe.<br />
Me dê um tempo.<br />
Parcialmente, Izabel estava certa. Só o que ela não<br />
sabia é que a sua mágoa abria fendas para que espíritos viciados<br />
lhe induzissem através de bebidas alcoólicas, que favoreciam<br />
a eles. As energias eram sugadas, fortalecendo as suas<br />
forças negativas e, através de artimanhas, realizavam as suas<br />
maldades. Por conseqüência do álcool em excesso, poderia<br />
provocar sequelas em Izabel e traumatizar seus filhos.<br />
Passados alguns dias, Izabel, tocada pela bebida, começa<br />
a contar aos seus amigos sobre a situação que está passando<br />
com sua família. Por que não poderiam eles ser felizes?<br />
Será que ele, João Eduardo, estaria com algum plano macabro,<br />
por isso nada fazia por ela, somente esperando por sua morte<br />
para poder ficar totalmente livre para Lídia? Na verdade, o<br />
que Izabel e João Eduardo não sabiam é que a pobre mulher<br />
já havia falecido.<br />
João, a parte, escuta sem querer as lamúrias de Izabel<br />
e, após suas amigas irem embora, tenta conversar com sua<br />
mulher.<br />
– Izabel, eu tive uma aventura com aquela mulher,<br />
mas me arrependi amargamente. Eu nunca mais a vi por opção<br />
minha, porque optei por você, entenda de uma vez por<br />
todas. Nós não estamos mais juntos, confie em minhas palavras.<br />
Ela não está mais em minha vida, nunca mais a vi, mesmo<br />
porque, ela desapareceu. O que posso dizer-lhe é que nem mesmo<br />
sei onde ela anda e nem quero saber.<br />
– Quem? A tal Lídia? – pergunta Izabel – João, acontece<br />
que eu não sou tola como você. Se ela parou de vir aqui<br />
para me atormentar, logicamente ela está com você, e vocês<br />
dois, com certeza, têm um acordo.<br />
João Eduardo irrita-se naquele mesmo instante, como<br />
se um ódio imenso o atravessasse e adentrasse em si, em for-<br />
61
ma de uma fonte de energia ruim, assim como a luz de um raio<br />
que, lhe atravessando o cérebro, deixou-o atordoado e com dores<br />
frequentes e profundas. Naquele momento, não percebera o<br />
que lhe ocorrera. Aquele foi o primeiro contato com a falecida<br />
Lídia, e ambos tragavam a frequência de uma vibração profundamente<br />
espiritual. Sem que João Eduardo o percebesse, ao dar<br />
um grito, pede a Izabel:<br />
– Ai, ai, ai! Que dor horrível, Izabel! Por favor, socorra-me,<br />
socorra-me que estou passando mal. Por favor, seja<br />
imediata, pois sinto que estou morrendo! Que sensação horrível,<br />
nunca havia sentido isso em minha vida. Pegue o carro<br />
e leve-me ao médico.<br />
Izabel, perdidamente atordoada com o que estava<br />
acontecendo, tirou-lhe do bolso as chaves e, pedindo a ajuda<br />
de um de seus filhos, colocou-o dentro do carro e levou-o a<br />
um consultório médico próximo de sua casa. Já no consultório,<br />
o médico lhe da um bom analgésico e recomenda a Izabel<br />
que leve João Eduardo imediatamente a um hospital, para ter<br />
um melhor atendimento.<br />
Após ser atendido por Dr. Osvaldo, um profissional<br />
idôneo e capacitado na área da Medicina, logo uma enfermeira<br />
aplica-lhe um calmante injetável para que ele pudesse<br />
ficar em observação, e no dia seguinte lhe seriam feitas as<br />
avaliações necessárias. João Eduardo agonizava. Seu semblante,<br />
quase desfalecido, se desfigurava em morte. Dr. Osvaldo<br />
procura acalmar Izabel, talvez pelo fato de, em pesquisas elaboradas,<br />
ele perceber que ali havia outra parte da Ciência. A “Ciência<br />
Oculta”, talvez.<br />
O sono de João Eduardo era dramático. Ele se debatia<br />
na cama como quem estivesse transbordado de angústia e<br />
de ódio, havendo em seu corpo tremores contínuos, comparados<br />
aos de um estado febril, como se tivesse a presença de<br />
mais alguém naquele recinto. Tudo o que ali estava aconte-<br />
62
cendo, era justamente pelas vibrações negativas que Lídia e sua<br />
gangue, através da maldade e ódio, transmitiam ao pobre homem.<br />
E aquele quarto de hospital realmente estava infectado<br />
com a presença daquela legião.<br />
Depois de ser avaliado parcialmente, Dr. Osvaldo<br />
colocou João Eduardo sob fortes medicamentos, para que<br />
mais tarde pudesse diagnosticá-lo melhor. Somente no final<br />
da tarde é que foi chamado para falar com o Doutor Osvaldo,<br />
que lhes disse:<br />
– O senhor João Eduardo terá que fazer algumas radiografias,<br />
ressonâncias e alguns exames de rotina.<br />
– Sim, doutor – Confirma Izabel, aflita.<br />
Dali se seguiram as radiografias e os exames<br />
laboratoriais, até que, com tudo concluído, o médico retorna<br />
com as respostas.<br />
– Dona Izabel, as minhas notícias quanto ao quadro clínico<br />
de seu esposo não são das melhores, tenho que lhe ser sincero.<br />
O seu esposo está com um tumor enorme nos rins, que já<br />
está abrangendo outros órgãos.<br />
– Mas ele nunca reclamou de nada, doutor! Como pode<br />
ser assim tão grave?<br />
– A senhora tem razão, e é realmente temível. Eu sou<br />
médico e minha especialidade é exatamente o câncer. Eu, em<br />
toda a minha vida profissional, nunca vi um caso desses. Normalmente<br />
o tumor começa a incomodar o paciente quando ele<br />
ainda está bem menor. E se estivesse menor, teríamos mais chances.<br />
– O Senhor acha que meu marido não tem cura, doutor?<br />
– Veja dona Izabel, a chance é muito remota. O melhor<br />
que posso fazer é transferi-lo para o Hospital São Miguel.<br />
Eu trabalho lá também e a senhora pode confiar que faremos<br />
o melhor, mas não podemos lhe garantir nada, dona Izabel.<br />
Comentário<br />
63
Nós, seres humanos, independente ou não das fartas<br />
religiões, certamente que temos os nossos guardiões (lógica<br />
da existência humana), designados por Deus para zelar por<br />
nossas vidas espiritual e física. Recebem esses guardiões alguns<br />
nomes como Anjo da Guarda, Protetores, Energias,<br />
Orixás, Portal de Luz, Benfazejos, Espírito Santo e outros,<br />
podendo-se imaginar que, aqui neste Orbe, somos sustentados<br />
beneficamente por esses guardiões. E assim também,<br />
opostos a eles, certamente existem os chamados espíritos do<br />
abismo com outros codinomes, que devastam todo um sistema<br />
de harmonia. Mas temos a convicção de que esses espíritos<br />
trevosos um dia estarão do lado oposto, ou melhor, do<br />
lado do bem. Não podemos prever quando, pois é questão de<br />
tempo, que é senhor supremo e sábio. Por isso, a evolução de<br />
cada um deles se dará com o progresso espiritual dos mesmos.<br />
Sobre esse complexo de contrariedade, nada sabemos<br />
com exatidão, pois ainda não há uma conclusão extremamente<br />
verdadeira, sabemos muito pouco diante da sapiência do<br />
criador (Deus). Podemos dizer que existe um equilíbrio no<br />
Universo, gerado justamente por meio dessas fontes<br />
energéticas, como também podemos dizer que essa energia<br />
inferior possa ser a que exatamente necessita ainda ser lapidada<br />
para que, unida à sua outra metade, a benéfica, quem<br />
sabe o mundo ficará completo em sua composição. Mas só o<br />
tempo poderá nos dizer, só o tempo.<br />
Aquele mal que João sentia, na realidade eram as vibrações<br />
que Lídia lhe passava. Foi o que ela aprendera, e tão<br />
bem, após o seu desencarne, com os seus recentes companheiros<br />
das trevas que, com as suas façanhas espirituais, conseguiram<br />
confundir até mesmo os médicos, enfermeiros, Izabel<br />
e principalmente a sua almejada vítima: João Eduardo.<br />
As crises que João Eduardo sentia, passados alguns<br />
64
dias foram aos poucos diminuindo, porque, certamente, ao receber<br />
as orações emanadas pela esposa, pelos filhos e alguns<br />
amigos, seus inimigos eram atacados e as perversidades de Lídia<br />
enfraquecidas.<br />
Pelo resultado do diagnóstico feito, os médicos acreditavam<br />
que a situação do rapaz só tendia a piorar, e se assustaram<br />
diante do quadro de restabelecimento de João Eduardo.<br />
Em suas hipóteses e indecisões, acreditavam estar diante<br />
de uma situação não alcançada por eles, por se tratar de um<br />
fenômeno ou algo desconhecido pela Medicina contemporânea.<br />
Por esse motivo, jamais pensaram ou acreditaram naquelas<br />
bases, com exceção de Dr. Osvaldo que, silenciosamente,<br />
em suas meditações, formava ao redor do rapaz uma<br />
aura quase protetora, por não ser totalmente cético e acreditar<br />
que existia algo acima da Medicina ou de sua capacidade<br />
como médico.<br />
E Lídia, quando percebia isso, vibrava com mais<br />
frequência, colocando em sua fórmula ainda mais ódio! Quando<br />
isso ocorria, as dores de João Eduardo aumentavam e, em<br />
intervalos menores, ficavam mais fortes. Era uma verdadeira<br />
luta entre o bem e o mal: de um lado, afloravam-se energias<br />
em forma de orações de parentes e amigos de João, havendo<br />
do outro lado um contra-ataque de energias cheias de ódio,<br />
violência e obscuridade, reunidas por uma legião perversa e<br />
maligna, exaltada pelos devaneios de Lídia, e, de outro lado, as<br />
orações que contra-atacavam essas energias e traziam algum alento<br />
a João Eduardo.<br />
– Lídia, assistindo a degradação de João e o desalento<br />
de Izabel, se deliciava e cada vez se exaltava, intensificando<br />
ainda mais, com aqueles espíritos vingativos e trevosos, seus<br />
ataques de ódio.<br />
Após alguns dias, João recebeu alta do hospital, pois<br />
os médicos acharam por bem não mexer naquele tumor por-<br />
65
que, se o fizessem, a situação do paciente se agravaria mais. Na<br />
verdade, os protetores de João travavam uma luta contínua contra<br />
Lídia e seus companheiros, fazendo de tudo para que João não<br />
passasse por uma cirurgia, pois isso poderia ser fatal e desnecessário.<br />
João não resistiria e, após a anestesia geral, seu espírito<br />
ficaria à disposição de Lídia, por estar semi desvinculado de seu<br />
corpo físico e isso não seria compensatório. Enfim, ele estava<br />
totalmente desenganado pelos médicos e, seus últimos meses,<br />
segundo a Medicina, poderiam ser em casa diante dos filhos e<br />
da esposa, que ficaram perturbados por não saberem mais o que<br />
fazer. Para Izabel, a bebida era a principal companheira. Dizia a<br />
pobre mulher que lhe servia para satisfazer seus desabafos e insegurança.<br />
No dia seguinte, após João ter vindo do hospital, se<br />
levantou do leito para não se sentir só. E, mesmo debilitado,<br />
resolveu ir a uma praça próxima de sua casa para apreciar a<br />
paisagem e repensar a sua vida. João Eduardo se senta em<br />
um dos bancos e começa refletir sobre sua vida. Tudo o que<br />
fez e o que foi, resulta-lhe num retorno triste ao seu passado,<br />
às tantas amarguras que ele e as pessoas que estavam ao seu<br />
redor sofreram. Também milhares de pessoas perderam com<br />
seus lucros gananciosos e desonestos. Ele se recorda primeiramente<br />
de sua infância; como fora doce! Além de sua inocência,<br />
havia duas límpidas luzes que constantemente se punham<br />
ao seu redor: seu querido pai e sua amada mamãe. Que<br />
intensa vida de labor ambos tiveram em prol de uma vida abundante<br />
para João Eduardo. Lembra-se também de sua juventude,<br />
de seus tempos de colegial, dos amores, afetos e desejos juvenis.<br />
Lembra-se também dos seus amigos.<br />
Profissionalmente bem sucedido, necessitava agora de<br />
uma trégua para não cavar a sua própria decadência e a de<br />
seu lar.<br />
– Meu Deus! O que restou de meu lar?<br />
66
Era essa a principal pergunta que João Eduardo se fazia,<br />
em busca de uma solução para o que aquela família estava passando.<br />
Inquieto, se questionava:<br />
– O que será de minha esposa e de meus filhos se eu<br />
não resistir a esta doença?<br />
Os sintomas que João Eduardo sentia, eram na verdade<br />
as vibrações emanadas por Lídia, que o afetavam psiquicamente,<br />
pois recebia energias enfermas através de formas<br />
adquiridas pelos espíritos trevosos, companheiros de<br />
Lídia. Na realidade, seus rins estavam bons, mas os médicos<br />
queriam aplicar-lhe quimioterapia, que neste caso só agravaria<br />
ainda mais sua situação em relação à sua saúde.<br />
67
A volta de João ao hospital<br />
Oscar visita o hospital com outros provedores, não<br />
só com a intenção de supervisionar o trabalho dos médicos e<br />
dos funcionários, mas também para visitar os pacientes na<br />
intenção de tranquilizá-los.<br />
Nesse hospital, havia pacientes particulares, como<br />
João Eduardo, que tinha boa condição financeira, sendo que<br />
noutra ala havia os que nada pagavam, eram mantidos pelos<br />
provedores. Ali, no entanto, diante da situação, todos eram<br />
atendidos pelos médicos, funcionários e provedores da mesma<br />
forma: com respeito e carinho.<br />
Oscar, entrando na sala de espera onde estava João<br />
Eduardo aguardando Dr. Osvaldo, o cumprimenta:<br />
– Bom dia, senhor!<br />
– Bom dia! – Responde João.<br />
– Como vai o senhor?<br />
– Vou levando, com a ajuda dos médicos, que são<br />
muito bons.<br />
– Qual o seu nome?<br />
– Chamo-me João Eduardo. E como vai o senhor? –<br />
pergunta-lhe João Eduardo<br />
– Estou bem. Sr. João Eduardo, meu nome é Oscar. Faço<br />
parte de um grupo de voluntários aqui no hospital.<br />
– Mas o que realmente fazem os senhores aqui? – pergunta<br />
João Eduardo.<br />
– O que fazemos aqui é visitar os pacientes. Doamos<br />
dois dias por semana para colaborar com os funcionários no<br />
que nos for permitido. Aqui, auxiliamos desde a faxina até os<br />
banhos nos pacientes. Em momentos vagos, nos dedicamos<br />
com nossas palavras, um contato direto e de coração aberto<br />
com os pacientes que permitirem nossas visitas.<br />
68
– Como assim? Dá pra você me explicar melhor? –<br />
diz João Eduardo.<br />
Às vezes, Sr. João Eduardo, nós, por de alguma palavra<br />
dita, podemos confortar alguém que está ao nosso lado.<br />
Além do mais, podemos descobrir as possibilidades que há<br />
entre nós mesmos em fazer amigos. E essa certeza nos é exata<br />
quando percebemos que todos somos filhos de um Pai único<br />
e, vitoriosos, cantamos a alegria de sermos irmãos. Esse é o<br />
meu, ou melhor, o compromisso que eu e o restante do grupo<br />
temos com todos os que carecem. E posso lhe dizer que ganhamos<br />
também com essa permuta, gestos de humildade e<br />
principalmente “amor”. O que queremos na verdade meu<br />
amigo, é que as nossas palavras possam auxiliar em seus<br />
restabelecimentos, porque esse é o nosso gesto fraterno e a<br />
nossa obrigação humana, afinal, ser solidário nos faz bem, porque<br />
temos como lema que, fazer o bem, faz bem. Caso necessite<br />
de alguma coisa Sr. João Eduardo, pode me procurar que<br />
estarei pronto a lhe ajudar.<br />
Oscar, naquele momento, mesmo sendo verdadeiras<br />
as suas palavras, não se identificara como provedor, preferindo<br />
passar como voluntário.<br />
João se encontrava sentado numa cadeira de rodas à<br />
espera do médico. Sentia fortes crises provocadas por Lídia<br />
que, com suas vibrações maléficas, se deleitava no plano espiritual.<br />
Quando o seu ódio aumentava, as dores de João<br />
Eduardo também se agravavam. Lídia ainda estava também<br />
enferma em seu psíquico ou períspírito, totalmente seduzida<br />
pelo que deixara na Terra.<br />
Oscar, ao perceber que João não estava bem, imediatamente<br />
dá a devida assistência, levando-o a sala do Dr. Osvaldo,<br />
pedindo-lhe prioridade no atendimento e que antecipasse<br />
a consulta do paciente. Pela delicadeza de seu estado,<br />
o atendimento deveria ser prioritário. Oscar, próximo a João<br />
69
Eduardo e já parcialmente orientado por sua sensibilidade<br />
espiritual, percebe que por ali vagava uma vibração ruim, mas<br />
cala-se em oração, pedindo a Deus, no silêncio de sua prece,<br />
que a eles fosse transmitida uma fonte de luz, que os envolvesse<br />
por meio dos protetores da divina casa espírita e instituição<br />
filantrópica que freqüentava, e da qual era também<br />
provedor.<br />
Dr. Osvaldo chama Oscar, que está saindo, e lhe diz:<br />
– Obrigado Dr. Oscar, pelo auxilio. O senhor foi<br />
magnífico.<br />
E foi naquele exato momento que a atendente, sem<br />
perceber que Dr. Oscar, pelo seu livre acesso ao hospital teria<br />
entrado com o paciente na sala do Dr. Osvaldo, pede a<br />
Anita que também entre, por ser a próxima paciente a ser<br />
atendida.<br />
Ao entrar na sala, Anita se põe perplexa ao ver Oscar.<br />
Fixando os olhos nos dele, Anita perde-se no tempo. Não<br />
poderia ela ali chorar as tristezas passadas, nem tampouco<br />
poderia sorrir pelo reencontro. O que realmente ela desejava<br />
naquele instante era morrer... Sim, “morrer”, pois só assim,<br />
talvez, por um minuto apenas voltaria para os braços de Oscar,<br />
a quem ainda tanto ama.<br />
– Oscar! O que significa isso? Você, doutor? Pelo<br />
que sei você é funcionário de uma siderúrgica, e não doutor!<br />
Naquele instante, Anita volta os olhos a João Eduardo e diz:<br />
– Eu o conheço. Por acaso você se chama João Eduardo?<br />
João, abatido, perdera também, no decorrer daqueles<br />
dias, alguns quilos, tendo facialmente um envelhecimento<br />
precoce, mas sem perder o vínculo de sua fisionomia.<br />
– Sim é este o meu nome. E você, quem é? Não me<br />
lembro de você!<br />
– E o senhor, Dr. Oscar? – pergunta João. O senhor<br />
me disse que era voluntário aqui neste hospital.<br />
70
– Sou amigo do Dr. Osvaldo e ele me chama de doutor<br />
por brincadeira. Essa é a sua maneira carinhosa de me<br />
tratar, não é verdade Dr. Osvaldo?<br />
João e Anita, já quase convencidos, são surpreendidos<br />
pela atendente que entra na sala.<br />
– Doutor Oscar, tem um funcionário seu lhe esperando;<br />
é o seu motorista, e pediu para avisá-lo que já esta<br />
de volta e que a seu pedido está à sua disposição para leválo<br />
para a sua siderúrgica.<br />
Oscar, já não tendo mais como se defender, abaixa a<br />
cabeça como a pedir clemência e, sem nenhuma explicação,<br />
espera o julgamento de sua amada, que vagarosamente aproxima-se<br />
dele e, num gesto muito triste, começa a dizer algumas<br />
palavras enquanto inicia um suave pranto.<br />
Anita dirige-se ao Dr. Osvaldo.<br />
– Doutor Osvaldo, aquela proposta para jantarmos<br />
juntos ainda está de pé? Se o senhor quiser, tudo bem, eu<br />
irei jantar com o senhor.<br />
Dr. Osvaldo sabia algo sobre Anita que nem ela mesma<br />
sabia, e pretendia lhe dizer no momento certo, quando<br />
estivesse convicto de sua suspeita.<br />
Oscar, percebendo que Anita estava confusa, lhe diz:<br />
Anita, preciso falar-lhe. Podemos?<br />
– Lógico que não, não tenho nada para falar com você!<br />
Fui classificada por você como descartável “Dr. Oscar”!<br />
Anita, paralisada, aflita e com o coração em chamas,<br />
gesticulava e colocava as mãos sobre o peito, num ato<br />
desesperado de amor pelo homem que à sua frente se colocava,<br />
dando-lhe o direito de abraçá-lo. Anita o amava fortemente,<br />
mas, diante da situação, ela compreendera tudo o<br />
que ele havia feito, pois, sabendo naquele momento que<br />
Oscar era o dono da siderúrgica, seguramente ela não queria<br />
envolver-se com gente poderosa para não passar por<br />
71
decepções como Lídia, e terminar como quase terminou.<br />
– Não, não quero falar com você.<br />
Numa última tentativa, Oscar se despede e aguarda a<br />
saída de Anita do hospital.<br />
– Então Dr. Osvaldo, vamos jantar juntos ou não? –<br />
pergunta Anita, ainda tensa.<br />
– Gostaria muito Anita, mas não sabia da sua ligação<br />
com Dr. Oscar. Ele me falou de alguém que ama muito, só que<br />
precisava tomar uma atitude muito arriscada, porque tinha passado<br />
por uma decepção amorosa que lhe trouxe aborrecimentos<br />
e esse foi o único jeito que encontrou, colocando quem<br />
mais amava à prova. Peço-lhe perdão, pois agora vejo que essa<br />
pessoa é você.<br />
– Dr. Osvaldo, aceite a minha companhia. Não sou<br />
submissa a ninguém, não tenho mais nada com Oscar.<br />
– Não, Anita. Seria o melhor jantar da minha vida, mas<br />
me seria também muito desastroso. Dá para ver nitidamente o<br />
quanto vocês se amam, eu seria um tropeço para ambos.<br />
– Você quer um conselho? Lute, mas lute mesmo por<br />
este amor. Lute pelo Dr. Oscar, porque valerá à pena. Qualquer<br />
um percebe o quanto ele te ama e você a ele. Isso é uma<br />
fase de encontros e desencontros.<br />
Anita, sem ter mais o que dizer, pede licença a Dr.<br />
Osvaldo para retirar-se, pois aguardaria na sala de espera sua<br />
vez para ser atendida, pois precisava de uma consulta de retorno.<br />
Antes de ela sair do consultório, João Eduardo, que já se<br />
sentia um pouco melhor e participara de toda a conversa sem<br />
dizer nada, faz uma pergunta a Anita:<br />
– Anita, de onde você me conhece?<br />
– É melhor deixar pra lá, eu garanto que você não vai<br />
gostar de saber.<br />
– Se o Dr. Osvaldo permitir que você continue eu<br />
gostaria sim, de saber.<br />
72
Dr. Osvaldo intervém na conversa dos dois.<br />
– Perdoe-me, amigo, nós nos esquecemos de você e<br />
das dores que sente.<br />
– A crise passou, ela vem e volta – responde João.<br />
No mundo espiritual, os espíritos trevosos, responsáveis<br />
pela obsessão, sabiam que as orações de Oscar fizeram<br />
com que os guardiões de João o fortalecessem e, com<br />
isso, as vibrações de Lídia foram afastadas e as crises de<br />
João passaram momentaneamente.<br />
– Então Anita, você pode me dizer?<br />
– Podem ficar à vontade, hoje está calmo por aqui –<br />
diz Dr. Osvaldo.<br />
– Bem, João Eduardo, se você quer saber mesmo, vou<br />
aliviar sua curiosidade. Eu era a amiga numero um de Lídia.<br />
Você se lembra dela?<br />
– Lógico que sim! E ela, como está? – pergunta João<br />
– Você não sabe? Jura? Infelizmente ela morreu.<br />
– Como? Não posso acreditar! Como foi isso? – diz<br />
João, perplexo com a notícia.<br />
Anita conta com detalhes sobre a doença de Lídia, e<br />
sobre sua revolta e ódio por João ter desistido dela.<br />
– Talvez o que você esteja passando seja resultado da<br />
sua insensatez, João Eduardo. Lídia sofrera muito para morrer,<br />
completamente revoltada com sua indiferença, com seu<br />
desprezo.<br />
– Mas entre nós não poderia haver mais nada, tudo<br />
estava terminado – responde João Eduardo.<br />
– Sim, vocês poderiam ter terminado, mas que houvesse<br />
entre ambos o diálogo pra finalizar o relacionamento<br />
de forma coerente, não a deixando com esperanças, como ela<br />
ficou.<br />
– Mas eu era um homem muito ocupado profissionalmente,<br />
além de ter a minha família.<br />
73
– João Eduardo, você se fez parte da vida de Lídia.<br />
Ao se afastar dela, levou uma parte dela consigo. Ela não te<br />
amava na verdade, mas, de alguma forma, ela fazia parte de<br />
você, afinal, havia um contato intimo entre ambos.<br />
– O incrível é eu estar tendo os mesmos sintomas que<br />
Lídia teve. Dr. Osvaldo, como o senhor pode explicar isso?<br />
Que coincidência, não sei como posso explicar, meu<br />
amigo.<br />
– Mas afinal, quem foi Lídia Anita? – pergunta-lhe o médico,<br />
e João Eduardo, antes que Anita respondesse se antecipa.<br />
– Doutor, Lídia foi uma bela mulher que passou pela<br />
minha vida, mas que eu desprezei, desrespeitando antes a<br />
minha própria família.<br />
– Enquanto falavam Lídia, no plano espiritual, presenciava<br />
toda a conversa, mas não tendo como mostrar-se diante<br />
deles, sugava as energias de João Eduardo para que o seu estado<br />
de saúde se agravasse, devolvendo-lhe energias maléficas<br />
em forma de dores insuportáveis, como as que fizeram com<br />
que ele fosse imediatamente internado no hospital.<br />
– Depois de tomadas as providências com João Eduardo,<br />
Dr. Osvaldo retorna ao consultório para passar uma receita<br />
à Lídia, e mais uma vez, pede insistentemente que ela<br />
vá a procura do Dr. Oscar.<br />
– Dr. Osvaldo, eu não quero status e nem ser amante,<br />
quero viver a realidade de uma felicidade. Quero um companheiro<br />
que me faça feliz e que eu também o faça, pois certamente<br />
eu também o farei. Quero sentir o desejo da vida, quero<br />
procriar e quero a presença de Deus, quero sim é viver um<br />
grande amor, este é o meu grande sonho.<br />
– Mas você pode unir o útil ao agradável Anita. Não é<br />
sempre que a sorte bate à nossa porta.<br />
– Não considero isso como sorte, pelo contrário, acho<br />
isso um azar.<br />
74
– Por que Anita?<br />
– Doutor, eu já passei por uma decepção amorosa,<br />
mas a maior lição que eu tive foi exatamente o que minha<br />
amiga Lídia passou.<br />
– Quem? A tal amante de que João falou?<br />
– É isso mesmo!<br />
– Que eu saiba, João Eduardo não é daqui, mas de<br />
uma cidade próxima.<br />
– É verdade, ele veio de Itupeva.<br />
– Exatamente, responde Dr. Osvaldo.<br />
– Pois é, eu não sei se hoje ainda é assim, mas João<br />
era poderoso, tinha ou tem muito dinheiro. Ele encheu Lídia<br />
de presentes, carros, jóias, roupas boas e até um apartamento.<br />
Ele frequentava com ela muitas festas, reuniões e bons<br />
jantares. Aí então, quando a paixão passou e tudo se acabou,<br />
Lídia, não tendo limites para gastar, pois já acostumada com<br />
aquela nova fase de sua vida, ficou à deriva e perdeu tudo.<br />
Perdeu sua dignidade e até a sua saúde. Ganhou, talvez até<br />
antes da hora, uma tristeza tão abominável que a levou à<br />
morte. Quando esse romance veio à tona e os filhos e a esposa<br />
de João descobriram, a casa dele transformou-se num verdadeiro<br />
caos. A esposa dele começou a beber, os filhos ficaram<br />
rebeldes, e ele em tão decidiu se separar de Lídia, que do<br />
outro lado já achava fazer parte da família de João. Dali nasceu<br />
o ciúme, a ira, as calúnias e a difamação. E Lídia, como já<br />
estava acostumada com aquela vida de alta sociedade, começou<br />
contrair cada vez mais dívidas para manter o seu status.<br />
Ela realmente não tinha juízo. Foi nessa época que eu a reencontrei,<br />
pois já fazia algum tempo que não a via. Foi exatamente<br />
quando o homem, que eu julgava amar, foi embora e<br />
eu, em meus apelos, procurei um Pai de Santo conhecido como<br />
Pai Gildo para que ele resolvesse o meu problema, sendo esse<br />
um dos maiores erros de minha vida.<br />
75
– Por que foi o maior erro da sua vida?<br />
– Foi o maior erro de minha vida porque, além de<br />
gastar uma boa quantia em dinheiro, caí nas mãos de um vigarista<br />
que fez-me sentir também, durante algum tempo, uma<br />
pessoa tão baixa quanto ele. Inocentemente, talvez tenha até<br />
prejudicado Lídia, pois, tentando ajudá-la em sua situação<br />
amorosa com João Eduardo, acabei colocando-a em uma miséria<br />
financeira e psicológica quase total. Meu Deus! Como<br />
fui inocente, tola e incoerente! E não ficou só nisso não Dr.<br />
Osvaldo, a cada dia que passava, o nosso desespero aumentava,<br />
e saímos tresloucadas em busca de solução para as nossas<br />
ilusões, passando pela mão de gente que só sabe enganar<br />
as pessoas, numa pura ilusão de que alguma coisa poderia dar<br />
certo. Mas eram só promessas, puras promessas que nunca se<br />
realizavam. Eu, já cansada, logo me desiludi. Larguei tudo e<br />
deixei nas mãos do destino. Lídia, porém, obcecada com os<br />
seus problemas, a cada dia se tornava mais escrava de suas<br />
vontades. E nessa fixação ou fanatismo, Lídia se excedeu tanto<br />
que suas atitudes se transformaram em grandes pesadelos.<br />
Tentei tirá-la daquela situação, mas já era tarde demais. E o<br />
sonho de minha amiga transformou-se em ódio, e o ódio transformou-se<br />
em morte. Minha pobre menina, doutor!<br />
Anita, ao sussurrar essas palavras, começou a clamar<br />
a ausência de sua grande amiga, entre lágrimas e soluços.<br />
– Depois disso tudo, comecei a frequentar um templo<br />
budista e uma casa espírita onde ensinam o amor ao próximo,<br />
a ter solidariedade, como evitar preconceitos e a respeitar<br />
fenômenos com Entidades Espirituais. Foi aí que eu me libertei<br />
dos erros que estava cometendo. Mas Lídia, infelizmente<br />
continuou em seus erros, envolvendo-se tanto que isso<br />
afetou até a sua saúde. Ela sentia muitas dores nos rins, que<br />
foram se agravando. Quando resolveu ir ao médico, já era<br />
tarde, pois um tumor enorme já tinha atingido o órgão. Um<br />
76
tumor maligno, doutor. Coincidência ou não, o seu ex-amante<br />
está com o mesmo mal. Como pode ser isso? É, nós não<br />
somos nada nessa vida. O restante da história o senhor já<br />
sabe.<br />
– É Anita, você, além de ser muito bonita é também<br />
notável. E sua fragilidade interior também é marcante.<br />
– É a vida que ensina por isso, eu prefiro sofrer só. O<br />
amor que sinto por Oscar é tão intenso que me parece já ter<br />
ultrapassado as linhas carnais. Parece-me até coisa de alma!<br />
Amo Oscar perdidamente. Quando me deito, silenciosa, me<br />
ponho a conversar sozinha com ele. Faço carícias no meu<br />
travesseiro, beijo-o e lhe chamo de “meu Oscar”. Às vezes,<br />
quando, por exemplo, vou comer uma maçã, coloco frente a<br />
mim e digo: “Essa maçã é para o meu amor!” Imagine Dr.<br />
Osvaldo, não tenho coragem de comê-la. No dia seguinte,<br />
coloco-a no jardim frente à minha casa. Para mim, seria um<br />
desafeto comer a fruta logo após ter dado a ele. Coisas de<br />
amor, coisas de mulher, coisas de quem muito ama!<br />
– Anita, tudo o que você está me dizendo é perfeito.<br />
Procure o Oscar e lhe fale dos seus sentimentos.<br />
– Não Doutor, prefiro não mais tê-lo, porque não quero<br />
passar pelo que passou a minha amiga. Tenho muito medo.<br />
Dr. Osvaldo, eu gostaria de fazer-lhe um pedido.<br />
– Pois peça Anita.<br />
– Bem, eu não sei qual a sua religião, mas gostaria de vir<br />
aqui amanhã cedo para fazer uma oração para João Eduardo.<br />
– Isso é muito bom. Eu acredito na Ciência. Não tenho<br />
nenhuma religião ou fé, na verdade, sigo aquele pensamento<br />
que diz: “Eu não acredito em bruxa ou em sua existência,<br />
mas que existe, existe”. Com isso quero dizer que acredito<br />
que realmente existe algo acima da Ciência, não sei nem como<br />
lhe explicar, mas se você quiser pode vir, eu lhe autorizo.<br />
Venha amanhã às 9 horas. Está bom para você?<br />
77
– Está ótimo Doutor, muito obrigada.<br />
Assim que Anita se vai, Dr. Osvaldo liga para Dr. Oscar<br />
e fala sobre a conversa que teve com Anita, mas sem lhe<br />
dar muitos detalhes.<br />
Oscar, convicto do amor de Anita, sente-se enlevado.<br />
Era tudo de que ele precisava para sua felicidade. No dia seguinte,<br />
Oscar chega ao hospital pouco antes das 9 horas e,<br />
antes de fazer uma visita a João Eduardo, segue até o consultório<br />
de Dr. Osvaldo que, ao contar-lhe mais alguns detalhes de<br />
sua conversa com Anita, ainda lhe diz que provavelmente ela<br />
estaria no hospital para fazer uma oração para a melhora de<br />
João Eduardo.<br />
Oscar nada mais fazia do que olhar o seu relógio. Queria<br />
imediatamente ver a mulher amada. Chega o momento – 9<br />
horas. A passos largos, pelo corredor do hospital Oscar busca<br />
o quarto de João Eduardo. Ao entrar no quarto não a vê, mas<br />
percebe que ali, um aroma suave de Anita se faz presente. E<br />
ela, ao entrar novamente no quarto para iniciar suas orações<br />
em favor de João Eduardo, se põe frente a Oscar e quase não<br />
responde ao seu cumprimento, por assustar-se com a presença<br />
de seu homem tão amado. Pelo tremor de seu corpo, era evidente<br />
que ela não se sentia calma, mas iniciara naquele instante,<br />
súplicas em preces a Deus. O que se percebe espiritualmente<br />
é que o enfermo passa a ficar mais tranquilo em suas dores,<br />
que no princípio o agitavam muito. Pelo poder das palavras da<br />
prece, Lídia e seus comparsas se afastam, tendo João Eduardo<br />
condições de sentir-se aliviado. Sereno e ausente das dores ele<br />
adormece, anestesiado pela energia dos bons espíritos.<br />
78
Lídia no Plano Espiritual<br />
– Mas que droga! – reclama Lídia. Eu gostaria que<br />
você, seu feiticeiro mentiroso, que você me dissesse, ou melhor,<br />
que me falasse a verdade sobre os meus poderes. Você<br />
os enaltece tanto! Mas quando alguém faz aquelas orações<br />
idiotas a gente se esparrama como fumaça por aí. Por que<br />
acontece isso? Responda-me seu capeta, imbecil!<br />
– Nós temos um poder muito forte cara amiga, – responde-lhe<br />
o feiticeiro – que pode criar até tempestades, redemoinhos,<br />
enchentes e mortes. Nós temos uma infinidade de<br />
poderes que deixa o mundo em atropelos. A nossa grande<br />
força, vaidade e euforia são justamente quando não aparece<br />
um empecilho desses para nos afastar, nos aniquilar, nos destruir.<br />
A chamada oração, quando bem executada por um coração<br />
que seja puro e verdadeiro, tem todas as possibilidades<br />
possíveis de nos atingir.<br />
A oração é o único sistema que envolve os bons camaradas<br />
– explica Pai Gildo – trazendo os espíritos do alto<br />
para nos afastar. A tal da oração minha amiga, varre tudo<br />
que há de mal, ela queima, quase extermina. Por isso é que<br />
quando ela vem nós, da baixa esfera, por estratégia nos afastamos<br />
rapidamente, para que não pereçamos. Neste caso, temos<br />
que fugir das orações, que são como uma grande tempestade.<br />
E atenção, minha cara. Quando você notar que a<br />
oração está se aproximando, corra, pois essa arma, que os do<br />
bem usam, é muito poderosa quando bem feita.<br />
– Isso é um disparate ou mais uma de suas outras<br />
mentiras! Eu que não vou temer a tamanho absurdo saído de<br />
sua boca. O inferno que lhe acolha com suas mentiras.<br />
– Você tem toda razão, Lídia. Mas quando passar por<br />
uma situação dessas, certamente que se lembrará do que estou<br />
lhe dizendo. Verá que aqui eu não preciso mais do seu<br />
79
dinheiro, o que eu realmente quero é a sua companhia, para<br />
que possamos nos fortalecer nessa nossa nova vida trevosa,<br />
que provavelmente será eterna.<br />
Anita e Oscar<br />
Quando terminam as orações, Anita e Oscar se cumprimentam<br />
e se dirigem a uma sala ao lado do quarto, pois<br />
João adormecera.<br />
– Anita... Tenho saudades.<br />
– Será que você não percebeu que eu não te amo mais?<br />
Eu não quero comprometer-me mais com você Oscar, afinal,<br />
você é um grande mentiroso.<br />
Ao mesmo tempo em que dizia tudo isso a Oscar, um<br />
medo enorme se formava dentro de Anita, onde estava a personagem<br />
verdadeira, que queria desvendar a grande mentira<br />
saída de seus lábios. Lábios infames, ardilosos, que não permitiam<br />
que ela exprimisse a verdade de seus sentimentos.<br />
Lábios que não permitiam que ela pudesse sentir o corpo do<br />
homem tão desejado pelo seu amor.<br />
Oscar, de várias maneiras tenta convencê-la, fazendo-lhe<br />
mil declarações de amor.<br />
Mas Anita dizia: – Oscar? O meu Oscar morreu!<br />
Redimido de seus erros após a sua conversa com Dr.<br />
Osvaldo, Oscar é que passa a perceber o quanto a havia maltratado<br />
com o seu desdém e o seu desafeto. Percebe ali, naquele<br />
instante, com apenas uma pequena frase: “O meu Oscar<br />
morreu!” Os fragmentos da dor. E quanta dor ele teria<br />
deixado no coração daquela mulher, já surrada pelo seu passado.<br />
– Eu não estou entendendo nada, – diz Oscar – você,<br />
naquele quarto, liderou uma corrente de preces maravilhosa,<br />
demonstrou um amor imenso pelo próximo sendo solidária,<br />
80
como é recomendado pela espiritualidade, e aqui fora você<br />
me parece uma pessoa amarga, cheia de mágoas e rancorosa.<br />
Dr. Osvaldo falou de você e de seus sentimentos nobres de<br />
mulher especial e sofrida, mas bem equilibrada. Mas aqui você<br />
se mostra outra pessoa! Você não pode imaginar o quanto eu<br />
te amo Anita! Hoje eu vejo com muita clareza o quanto eu<br />
lhe quero, se case comigo.<br />
– Você tem consciência do que fez comigo? Deixoume<br />
sem nenhuma explicação, não me dizendo o porquê e nem<br />
mesmo dando-me o direito à defesa. Por quê? Por quê?<br />
– Não chore Anita. Sei agora o quanto eu te amo também,<br />
meu amor. Eu agi com você de uma forma brutal, muito<br />
baixa, eu reconheço. Eu simplesmente, por uma questão<br />
de egoísmo, quis por à prova o seu amor e errei, eu sei que<br />
errei. Por isso lhe peço perdão, e sei que essa é a única forma<br />
que tenho para tê-la em meus braços. Anita, eu te amo.<br />
Anita, quase cedendo, mas ainda muito magoada, tinha<br />
medo de perdoá-lo, pois teria que compartilhar com o<br />
seu amor o dissabor que tivera, e isso ela não queria mais. O<br />
“Eu te amo” de Oscar, ali, naquele momento, ia se distanciando,<br />
pois ela, em sua reflexão, viajou no tempo em sua memória.<br />
Pensa Anita na posição social que tinha Oscar... Era<br />
de uma posição elevada. E sendo ela uma mulher financeiramente<br />
simples, acreditava que ficaria refém de Oscar, na<br />
mesma situação de sua amiga Lídia. Isso lhe amedrontava e<br />
ela jamais desejaria para si. Se Oscar a fez passar por uma<br />
situação desagradável e desnecessária como aquela, será que<br />
não faria um dia alguma coisa pior? Por mais que ele tivesse<br />
sofrido por alguma decepção em sua vida, Anita não estava<br />
mais disposta a ficar à mercê dele como uma poça, para que<br />
ele jogasse os seus despojos, a sua vingança, a sua ira. Isso<br />
não! Para ela não foi bom o que ele fez. Ela não sentia revolta<br />
nem ambição, por amá-lo demais. O que sentia era medo.<br />
81
Dali em diante, ela guardaria para si, em seu coração, o grande<br />
amor que sentia por Oscar. Faria dele parte de sua alma.<br />
Enquanto ali estavam Oscar e Anita, entra Dr. Osvaldo,<br />
trazendo em suas mãos alguns papéis. Batia-os euforicamente<br />
em suas mãos com um gesto imenso de felicidade.<br />
– Anita, traga-lhe ótimas notícias. Eu já sabia pelos<br />
testes que fiz sem lhe falar, mas agora tenho certeza e posso<br />
lhe dizer com toda a convicção.<br />
– Pode falar Dr. Osvaldo. E diga o quanto antes, porque,<br />
pela felicidade do senhor, a notícia parece ser ótima.<br />
– Bem, eu não sei se posso dizer na frente do Oscar,<br />
por não saber se é particularidade sua ou não. Perdão, Anita<br />
acho que, enlevado pela minha euforia, creio estar fazendo<br />
alguma coisa errada. Prefiro que vá até minha sala.<br />
– Doutor... Seja lá o que for, eu jamais ficarei magoada,<br />
pois lhe estimo muito. Vamos, Doutor, fale o quanto antes<br />
esse seu segredo, o que sabe de mim. A minha vida, Dr.<br />
Osvaldo é, e sempre será um livro aberto. Eu não tenho nada<br />
a esconder.<br />
– Bem, se eu posso falar, então, lá vai. É uma ótima<br />
notícia Anita.<br />
– Fale Dr.Osvaldo, estou curiosa.<br />
– Anita, você será mamãe. Você está grávida!<br />
Oscar toma-se frente de Anita. – Grávida? Você Anita,<br />
grávida?<br />
Anita, inconformada mas feliz, pergunta:<br />
– É verdade Dr.Osvaldo? Eu estou grávida?<br />
– Com certeza minha amiga! Deus é imensamente<br />
maravilhoso.<br />
Oscar põe-se de joelhos ao chão e, vazado em lágrimas,<br />
diz para Anita:<br />
– Aí está meu amor, agora você não tem outra saída.<br />
Fiquemos juntos...<br />
82
Anita saíra das trevas. Aquele momento fora totalmente<br />
a sua glória. Não mais tristezas, não mais o vazio que<br />
tanto sombreou os seus olhos... Não! Nunca mais! Teria alguém<br />
para amar e ser seu companheiro ou sua companheira<br />
até o fim de seus dias. Deus colocou-lhe no ventre um anjo<br />
em forma humana. Um anjo, que em suas responsabilidades<br />
se tornaria frágil até a sua idade adulta, que traria para ela,<br />
enquanto sua vida durasse somente “felicidade”. Mas sem<br />
perceber que poderia dividir a grande felicidade com o homem<br />
que ama, inconsequentemente abandona Oscar.<br />
– Como ficar juntos? Eu tenho condições de cuidar<br />
do meu filho sozinha. Além do mais, você nem sabe se o<br />
filho é seu, Oscar.<br />
– Pelo seu caráter Anita, eu não tenho a menor dúvida.<br />
– Só que eu pretendo criá-lo sozinha. Quando esta<br />
criança nascer, você faça nele um exame de sangue, pois se<br />
ele for o seu filho, assim como você acha que é, deixarei vê-lo<br />
uma vez por mês.<br />
– Você está louca? Nem pensar? Verei o meu filho<br />
todos os dias. Anita, eu lhe proponho que nos casemos, – diz<br />
Oscar, eufórico – Vamos nos casar? Eu sei que você me<br />
ama, assim como eu também te amo. E sei também que cometi<br />
uma infantilidade colocando-lhe à prova. Mas vamos<br />
deixar isso passar, perdoe-me, por favor, eu lhe peço. Se acaso<br />
você quiser, faça comigo o que lhe fiz por ignorância ou<br />
ingenuidade. Faça o que quiser, mas deixe-me ficar junto com<br />
o nosso filho.<br />
– Tudo isso agora por causa da minha gravidez, não é<br />
verdade Oscar? Não, nem pensar meu caro.<br />
– Não quero casar-me com você só pelo bebê, Anita,<br />
por favor, entenda isso. Eu agora sei o quanto a amo, de verdade.<br />
Loucamente eu te amo!<br />
– Você me pôs à prova porque se sente o senhor da<br />
83
situação. É rico e acha que pode fazer o que quiser com seu<br />
semelhante, acha que o dinheiro compra tudo, mas você está<br />
completamente enganado comigo, porque o dinheiro nunca<br />
me comprou. É rico e tem tudo nas mãos para colocar-me a<br />
seus pés. E eu não quero a sua riqueza, quero um amor de<br />
verdade. O que me satisfará a partir de agora é o meu bebe.<br />
Uma luz está iluminando-me desde o meu ventre até o meu<br />
coração. Estou feliz. Quero, a partir de então, ser forte, não<br />
mais ser hipócrita, insegura, frágil. Quero ser verdadeira comigo<br />
mesma. Nessas novas sensações que adiciono em mim,<br />
conservarei o que sempre me foi real, e isso meu caro, lhe<br />
digo olhando firme em seus olhos, que é e certamente será<br />
você Oscar, a alma que tanto idealizei para viver junto com a<br />
minha. Mas agora, sem medo, há em mim uma partícula sua<br />
que eu felicito.<br />
– Mas Anita, eu estou aqui, à sua frente, sou real. Sou<br />
uma pessoa normal, um ser humano que errou, mas que<br />
agora está diante de você para se redimir.<br />
– Você e nenhum outro homem me farão chorar novamente.<br />
Você é o grande amor da minha vida, mas quando<br />
falei que o meu Oscar morreu, é a pura verdade. O meu Oscar<br />
é aquele funcionário da siderúrgica que você idealizou e<br />
me fez conhecer e ficar fascinada, não é esse Oscar com<br />
motorista particular, segurança à sua volta, com pompa e riqueza.<br />
Você me pôs a prova, uma prova difícil que me fez<br />
sentir totalmente vulnerável e humilhada. Você ainda me diz<br />
que posso lhe colocar à prova? É isso mesmo o que eu deveria<br />
fazer, mas eu não quero. Jamais, porque se eu lhe colocasse<br />
à prova, com certeza sofreria outra decepção.<br />
– Então me diz que eu tenho de fazer. Pelo amor de<br />
Deus, me diz! Eu quero estar com<br />
você. Seja o que for que quiser que eu faça, eu farei, tenha<br />
certeza disto.<br />
84
– Bem Oscar, pensando bem e para que você esqueça<br />
de uma vez por todas de mim, resolvi neste exato momento<br />
lhe colocar à prova. Você terá que tomar uma decisão corajosa.<br />
E o que é minha querida Anita? Estou completamente<br />
a seus pés. Ponha-me à prova, assim não teremos nenhuma<br />
dúvida.<br />
– Você me dará um tempo, peço-lhe que tenha paciência.<br />
Vou pensar em tudo o que está acontecendo com a<br />
gente. Quero e preciso ser coerente e ter certeza desse amo<br />
que tanto nos tem imaculado. Quero ter certeza que você me<br />
ama assim como eu te amo, ou melhor, como eu amo aquele<br />
Oscar que conheci e que me deixou deslumbrada, mas que<br />
me trouxe tanto sofrimento.<br />
Não tendo mais palavras para convencê-la, Oscar,<br />
calado, se afasta de Anita e, pouco distante dela, sussurra<br />
que irá esperá-la, mesmo que seja o tempo de sua existência.<br />
Mesmo que seja esse tempo, o último sinal de sua vida. Quando<br />
já estava um tanto distante, Anita quis trair-se indo ao seu<br />
encontro, pois imaginava o quanto ele sofreria. E era justamente<br />
o que não desejava para Oscar. Mas lembrou do que<br />
sua amiga Lidia passou e, naquele instante, voltou atrás.<br />
Anita volta ao hospital no dia seguinte<br />
– Bom dia, Dr. Osvaldo.<br />
– Bom dia Anita. Mas o que lhe traz aqui hoje? Há<br />
algum problema com a sua saúde?<br />
– Não Doutor, o motivo de minha vinda aqui não é<br />
por mim. É que eu gostaria de visitar novamente João Eduardo<br />
para continuar com as orações que iniciei ontem. Posso?<br />
– Muito bem, Anita. A partir de agora você terá livre<br />
85
acesso neste hospital, a hora e o dia que desejar. A sua presença<br />
nos será sempre uma honra.<br />
– Sinto-me lisonjeada com suas palavras Doutor, muito<br />
obrigada.<br />
– Fique à vontade Anita. Caso necessite de algo, estarei<br />
em meu consultório.<br />
– Preciso sim, Doutor, mas terá que ser agora.<br />
– Sim, Anita, me diga o que é.<br />
– O senhor por acaso não vai me perguntar como está o<br />
meu bebê?<br />
O médico sorri, pela sua graciosidade e lhe responde:<br />
– Como está o seu bebê? Ou melhor, vou lhe perguntar:<br />
“Como está ‘o nosso bebê’?”. Digo-lhe dessa forma porque já o<br />
tenho também em meu coração, acredite!<br />
Anita, emocionada, quase começa a chorar. Porém, Dr.<br />
Osvaldo, ao colocar a mão em seu avental, tira dele um bombom<br />
e lhe diz:<br />
– Se você chorar, lhe garanto que não irá ganhar este bombom.<br />
E mulher grávida não pode ter vontades! Imagine, o nosso<br />
bebezinho com carinha de bombom?<br />
Anita sorri e, ao dirigir-se para pegar o bombom, lhe dá<br />
um forte abraço.<br />
– Ah! Doutor Osvaldo, como é bom ter o senhor ao meu<br />
lado. Que Deus derrame dos céus uma gotinha de bálsamo sagrado<br />
sobre o senhor, para que a sua força e a sua luz se perpetuem.<br />
– Obrigado, minha doce Anita, farei bom uso de suas palavras.<br />
E, por hoje, chega de fortes emoções. Vá visitar o nosso<br />
amigo paciente.<br />
- Não se esqueça. Eu estarei no consultório e, pensado bem, você<br />
bem que poderia ser uma voluntária no nosso hospital, que tal<br />
Anita?<br />
– Ótimo! Eu aceito o convite. Diga-me o que devo fazer.<br />
86
Chegando ao quarto onde João Eduardo estava Anita se<br />
depara com uma mulher.<br />
– Bom dia, senhora.<br />
– Bom dia.<br />
– E o senhor João Eduardo, como amanheceu hoje?<br />
– Parece bem melhor.<br />
– A senhora é parente dele?<br />
– Sim, eu sou a esposa dele. E você? Quem é?<br />
– Eu me chamo Anita. Conheci o seu esposo há pouco<br />
tempo, e agora tomei a liberdade de vir aqui para lhe fazer uma<br />
corrente de oração em prol de sua saúde. E se a senhora não se<br />
opuser, eu gostaria de continuar.<br />
– Mas você poderia dizer-me o porquê de toda essa dedicação?<br />
Quem é você realmente? Como conheceu o meu marido<br />
e qual o grau de afinidade você tem com ele? E por que tanto<br />
interesse em fazer orações pra ele?<br />
Com tantas perguntas, Anita, receando suas próprias respostas,<br />
começa a gaguejar por não saber como lhe responder.<br />
– Bem, eu o conheci...<br />
Nesse momento, entra Oscar.<br />
– Bom dia, senhora. Bom dia, Anita! A senhora é a<br />
esposa de João, não é?<br />
– Sim, sou. E o senhor, quem é?<br />
– Muito prazer, senhora. Eu sou um voluntário e venho<br />
sempre ao hospital, assim como Anita, para doar uma<br />
palavra amiga de apoio aos pacientes e parentes dos mesmos.<br />
Eu e Anita estamos namorando. Em breve, se ela quiser, é<br />
claro, nós iremos nos casar. Eu a quero muito. Ela é o grande<br />
amor de minha vida, além de que, nós estamos esperando a<br />
chegada do nosso bebê.<br />
Anita, não sabendo o que dizer, mais uma vez brava e<br />
feliz, reprime Oscar.<br />
– Oscar, você está me ofendendo com suas palavras.<br />
87
A senhora Izabel acaba de conhecer-me. O que ela vai pensar<br />
de mim? Por favor, pare com essa conversa.<br />
– O que eu quero Anita, é que o mundo todo saiba o<br />
quanto eu lhe quero, o quanto eu lhe amo. Não estou conseguindo<br />
mais respirar naturalmente, os sentimentos me sufocam.<br />
Às vezes, penso que estou morrendo. Quero que todos<br />
saibam! Ah, se eu pudesse aqui, neste lugar, gritar bem alto<br />
para que todos ouçam as minhas palavras, letra a letra: Eu te<br />
amo!<br />
Anita abaixa a cabeça, pois não suportava mais o cruel<br />
destino de seu orgulho. Ali, na sua frente, estava Oscar.<br />
Braços fortes de jovialidade para protegê-la do frio que a isolava.<br />
Ali, na sua frente, estava o homem mais belo que a natureza<br />
preservou para ela, somente para ela. Ali, perto de<br />
seus lábios, outros lábios que a seduziam com palavras. Doces<br />
os lábios do homem a quem tanto ama. Um brinde à vida!<br />
Sim, pois tudo o que Izabel acabara de presenciar, não havia<br />
como não se comover. Ela tenta disfarçar diante do ocorrido,<br />
porém com gestos de quem estivesse pouco interessada em<br />
saber da vida íntima de ambos, Izabel responde:<br />
– Vocês podem fazer as orações, mas até onde eu sei,<br />
meu marido é incrédulo. Ele não acredita em oração, em nada.<br />
Oscar e Anita logo perceberam que aquela mulher<br />
suportava um sofrimento cáustico, tão intenso que ambos<br />
sentiram de uma só vez uma energia cavernosa, extremamente<br />
negativa, que se fazia aparecer em sua aura, a sua moradia.<br />
Apiedaram-se da pobre mulher devido à situação em que estava,<br />
principalmente com o seu esposo enfermo. Izabel mostrava<br />
em seus olhos a ausência de perspectiva e a intensidade<br />
de sortilégios que a vida lhe reservara. Oscar e Anita, silenciosos<br />
em suas orações, pediam do alto o auxilio dos irmãos<br />
espirituais, para que suavizassem a gravidade que tanto fluía<br />
da pobre mulher.<br />
88
Logo no início da oração, Izabel pressente que as palavras<br />
de ambos pareciam transformar-se em energias. Era algo<br />
que ela nunca sentira antes, mas que a deixara envolvida,<br />
embriagada. Por um breve momento Izabel chegou a sentir<br />
náuseas. Ela não se sente bem e pensa em sair dali, porém,<br />
resolve ficar. Com aqueles sintomas, algum resultado teria através<br />
daquela reação. Sim, ela esperaria. Se passasse mal não<br />
haveria problema, porque já se encontrava dentro de um hospital<br />
e ali Dr. Osvaldo lhe prestaria o atendimento necessário.<br />
Na turbulência de seus pensamentos, Izabel começa<br />
a criar situações vulgares. Pensava também em qual seria a<br />
reação de todas as pessoas que estavam envolvidas em sua<br />
vida se ela chegasse a morrer naquele dia. Seria bom para ela?<br />
Sim, seria ótimo, porque ela se afastaria de tudo o que se<br />
passava em sua vida. Tomaria pra si um lugar distante, nada<br />
mais lhe pesaria nessa vida. Seria por esse caminho a forma<br />
correta para que pudesse resolver sua situação?<br />
Iniciadas as orações, um silêncio envolvente penetrava<br />
naquele lugar. Um silêncio apenas quebrado pelas preces.<br />
Izabel sentia ao seu redor um vento suave, que soprava dos<br />
seus ouvidos aos seus pés. Aquele vento entorpecia o seu<br />
coração em remissão, pois lhe fazia se encontrar com as fervorosas<br />
palavras daquele casal. Um êxtase... Nele, luzes opacas<br />
reluziam. Nele, um presente, uma dádiva. Os sintomas<br />
que Izabel sentia se amenizaram. Todos os sintomas ruins<br />
que estavam em seu corpo já haviam passado, não mais existiam.<br />
Que maravilha! Era muito bom.<br />
Izabel põe-se a pensar: – Será que aquele casal, que<br />
acabara de se aproximar, não estaria aqui para ajudar-me também?<br />
Anjos em forma humana.<br />
O peso dos sofrimentos que Izabel trazia na alma estava<br />
insuportável. A sua emotividade parecia não existir mais,<br />
não sabia dizer nem mesmo o que estava fazendo naquele<br />
89
hospital ou que providências tomar. No que dizia respeito à<br />
sua vida... Uma vida amargurada, sem direito algum à felicidade.<br />
Sentia-se uma mulher sem sorte no amor, sem sorte na<br />
vida... Uma mulher cuja juventude, assim como o vento, transformara-se<br />
rapidamente em um destino bárbaro.<br />
Confusa, Izabel sentia-se extremamente inferior diante<br />
de Oscar e Anita. Uma mulher dominada pelo impulso<br />
da bebida alcoólica, que se fazia de amiga, a única e verdadeira,<br />
mas que estava destruindo a ela e a sua família. Era ela<br />
quem a acariciava em seus momentos de depressão. A cada<br />
trago que tomava, se tornava mais amarga, assim como o fel.<br />
E seus filhos? Ela já não se importava mais com eles. Estavam,<br />
pela mãe, abandonados. O seu marido...<br />
– Oh! João Eduardo! Por que não fomos felizes?<br />
Tudo pra Izabel realmente estava terminado. Mas e<br />
os anjos? Os anjos em forma de seres humanos, que frente a<br />
Izabel se prostravam em orações? Ali estavam os dois,<br />
homem e mulher.<br />
Depois de terminadas as orações, Izabel, com de delicadeza<br />
e respeito, antecipa-se e pergunta a Anita:<br />
– Você está grávida, Anita?<br />
– Sim, Senhora, eu estou grávida. Poucas semanas<br />
apenas, mas estou grávida.<br />
– Meus parabéns! Vocês realmente formam um lindo<br />
casal.<br />
Anita sorri não pela maneira agradável com que Izabel<br />
dirigiu-se a ela, mas porque percebera que as orações, bem<br />
direcionadas, foram como um analgésico, tanto para João<br />
como para Izabel. Aquele ambiente estava magnífico. Parecia<br />
que ali havia chegado uma legião de anjos enviados por<br />
Deus.<br />
– Deus seja louvado! – exclama Anita.<br />
Oscar, mais próximo de João Eduardo, sentia vibra-<br />
90
ções extraordinárias, porém com elas havia um misto de tristeza<br />
e ódio, emitidos por um espírito desordenado. Um espírito<br />
que, por não ter nenhum bom reflexo, se perdia entre<br />
aquela imensidão de luzes que entraram naquele ambiente<br />
para fortalecer as auras que aos poucos se apagavam. Eram<br />
Anita e sua “gang”, que se camuflavam para não serem percebidos.<br />
Oscar também sorri após sentir que a tristeza havia<br />
debandado daquele recinto por algum tempo. Izabel põe-se a<br />
olhar fixamente para Oscar e Anita, que logo se aproximam<br />
e, num abraço, viram-se para ela, que imediatamente abaixa<br />
seu rosto e começa chorar.<br />
– Dona Izabel! Acalme-se – pede Anita – Tenha fé<br />
em nosso Senhor Jesus! Vamos pedir a Deus que tudo fique<br />
bem daqui por diante.<br />
– Anita, não me chame de dona, por favor, apenas de<br />
Izabel, e me dê um abraço forte, bem forte! Não tenho ninguém<br />
mais a quem recorrer ou desabafar. Creio precisar de<br />
vocês... Necessito de amigos, de bons amigos. Eles me fazem<br />
uma falta danada na vida, pois até agora só tivemos falsos<br />
amigos e também falsas amigas, que agora percebo claramente<br />
que só queriam ver o circo pegar fogo, como diz o velho<br />
ditado.<br />
Anita abre os braços e, chorando, neles Izabel se agasalha<br />
como se fosse o reencontro de duas grades amigas.<br />
– Como eu preciso disso! Abraços de verdade – diz<br />
Izabel – Estranho, Anita, a impressão que tenho e a de que<br />
nos conhecemos há muito tempo, e na verdade conheço você<br />
há pouco mais de uma hora!<br />
Pelo que podemos observar, nos conceitos extrafísicos,<br />
aquelas almas já eram velhas amigas. O reencontro delas nesta<br />
vida não era mera coincidência, pois em vidas passadas<br />
elas conviveram juntas fazendo parte de uma mesma família,<br />
91
daí então, neste exato momento, ambas se reencontram para<br />
seguir juntas e se beneficiar em suas evoluções espirituais.<br />
Comove, aos que tem sensibilidade, o amor EM um encontro<br />
desse gênero.<br />
Entre afagos e sorrisos, Anita e Oscar, envoltos pelo<br />
amor, disseram a Izabel que seriam, a partir dali, os seus aliados.<br />
Que ela não deixasse que eles ficassem ausentes, pois<br />
isso eles jamais aceitariam. Houvesse o que fosse Izabel sempre<br />
poderia contar com o apoio de ambos. Aproximaram-se<br />
de João Eduardo por intermédio das orações e do amor emanado<br />
pelos espíritos de luz. João, num sono profundo, mostrava-se<br />
também muito calmo.<br />
Todos se despediram e prometeram que no dia seguinte<br />
estariam ali novamente, no mesmo horário, para se ajudarem.<br />
Anita também havia derrubado as desilusões, o tanto<br />
que até ali tinha sofrido. Oscar, amedrontado com a resolução<br />
de Anita, pouco se expressava, pois tinha medo de alguma<br />
palavra não se encaixar bem entre ambos e a situação<br />
deles se tornar pior.<br />
O Mundo Espiritual<br />
Com aquela maravilhosa vibração, Lídia e sua legião,<br />
sentindo-se fracos em suas nefastas vibrações, se afastaram<br />
temporariamente de João. Os espíritos atormentadores e enraivecidos<br />
se afastarem, mas na promessa de que voltariam<br />
duplamente mais fortes, e que Anita e Oscar também fossem<br />
atingidos, para não serem mais intrometidos e nenhum empecilho<br />
na vingança planejada por eles. Anita e Oscar deveriam<br />
levar uma boa lição.<br />
– Aquela infeliz da Anita – diz Lídia entre dentes –<br />
Ela se dizia minha melhor amiga... Bem que poderia usar suas<br />
forças para me ajudar, pois ela bem sabe o que eu sofri. Se ela<br />
92
continuar persistindo, tiro tudo que está vindo de bom para<br />
ela, inclusive seu filho. Um dos espíritos da legião, ali presente,<br />
comenta:<br />
– Isso é muito bom! Lídia está se saindo melhor do<br />
que a encomenda. Vamos lá garota, não dá mole! Bota pra<br />
arrebentar e mate-a também! Passe as vibrações de seu câncer<br />
para ela, assim como está fazendo com o canalha do seu<br />
ex-amante.<br />
Ao ouvir a palavra “mate-a”, Lídia, rancorosa, sentiu em seu<br />
coração que não poderia ser assim tão calculista. Por enquanto<br />
aquela que fora a sua amiga ainda não a tinha prejudicado<br />
diretamente, por não saber onde a alma de sua amiga se encontrava.<br />
Por algum instante Lídia se aquieta. Como o soprar<br />
de um vento forte, sua alma sobe a um grande despenhadeiro<br />
e lá, sozinha, ela começa refletir.<br />
– O que eu devo fazer? Anita também já sofreu tanto,<br />
eu não tenho como. Não! Não devo mais sentir piedade de<br />
ninguém! Mas Anita não! Tentarei fazer com que ela se afaste<br />
de João Eduardo e de Izabel.<br />
Um espírito comparsa de Lídia que se encontrava por<br />
perto, diz:<br />
– Ela não vai lhe ouvir! Ferra ela também!<br />
– Se ela não me ouvir, minha benevolência por ela se<br />
acabará, e a transformarei em nada. Essa será a minha regra.<br />
No outro dia, Dr. Osvaldo presencia algo estranho e<br />
sem explicação. O que estava acontecendo não tinha reflexo<br />
científico. Pelo diagnóstico executado pela junta médica hospitalar,<br />
adequada ao caso de João Eduardo, os médicos resolveram<br />
de comum acordo que seria aplicada a quimioterapia e<br />
o tratamento se iniciaria nesse mesmo dia, no período da<br />
manhã. Porém o que ocorreu é que pouco antes de iniciar o<br />
tratamento, Dr. Osvaldo, ao entrar no quarto do paciente para<br />
averiguar seu quadro, percebeu que João Eduardo não estava<br />
93
no leito e muito menos no quarto. Preocupado, pergunta a uma<br />
das enfermeiras o que havia ocorrido com ele, já pensando que<br />
o pior poderia ter-lhe acontecido.<br />
A enfermeira responde que seu paciente estava no corredor<br />
do hospital com uma ótima aparência, inclusive esperando<br />
pela visita de seu médico para dizer-lhe que não sentia mais<br />
nada. Que por sanar-lhe as dores, ele se sentia muito bem.<br />
Dr. Osvaldo enfim encontra-o numa outra ala do hospital,<br />
conversando com alguns enfermeiros e dizendo-lhes que<br />
Dr. Osvaldo poderia lhe dar alta. Uma alegria imensa havia<br />
no semblante de seu paciente, o que fez com que o médico<br />
parasse no corredor, ainda distante dele e, colocando as mãos<br />
sobre o queixo, se perguntava o que realmente havia acontecido.<br />
Parecia um tanto impossível, mas ali estava uma realidade<br />
ainda desconhecida por ele.<br />
Foi algum sedativo? Ou teria sido algum engano quanto<br />
ao diagnóstico? Bem, teria que examiná-lo novamente, só<br />
que aquele dia não seria possível. Não haveria de destruir a<br />
felicidade do jovem senhor com suas dúvidas e curiosidades!<br />
Como poderia estar curado um câncer nos rins diagnosticado<br />
com total precisão? Como, se o tumor é totalmente maligno?<br />
– João, realmente eu não entendo esta sua melhora,<br />
está tudo muito confuso para mim, não estou entendendo<br />
nada! E olha que sou especialista nessa enfermidade. Vou<br />
mandá-lo pra casa até que eu possa saber com certeza o que<br />
está se passando. Qualquer coisa me procure, aqui está meu<br />
telefone. Seja noite, dia ou madrugada, não se preocupe. É<br />
só me ligar.<br />
– Eu não sei o que dizer quanto à minha saúde ou<br />
quanto à enfermidade que se apossou de mim, Doutor. Só o<br />
que sei é que durante a minha convalescença ocorreram<br />
coisas estranhas.<br />
– O que, por exemplo?<br />
94
– Ouvia palavras horríveis, que aos poucos iam se<br />
desmanchando por meio de palavras santificadas.<br />
– Como assim? Você pode me explicar melhor?<br />
– Creio que não saberei lhe explicar nunca, Doutor.<br />
Parecia uma execução de Deus contra a profanação. Eram<br />
gritos terríveis, de um ódio alucinado! O que não se apagou<br />
de minha memória a respeito desse sonho ou visão, não sei,<br />
porque eu me sentia meio acordado, meio dormindo, algo<br />
muito estranho. Apesar de não acreditar em nada disso, uma<br />
frase ficou-me gravada na mente. De todas as vozes, havia<br />
uma de bom tom, uma voz feminina que, parecendo entediada,<br />
repetia por várias vezes a seguinte frase: “Você há de vir para<br />
onde estou, pois esse é o meu desejo e o meu veredicto”. E<br />
repetia como que se estivesse com ódio: “Você há de vir para<br />
onde eu estou, pois esse é o meu desejo”. Por mais que eu<br />
não acredite nisso, não consigo tirar de minha mente. O que<br />
o senhor acha que pode estar acontecendo? Será um delírio?<br />
– Isso não há de ser nada, deve ser porque você ainda<br />
está muito fraco, não se preocupe.<br />
Oscar e Anita<br />
Oscar pede a Anita que vá jantar com ele, pra que possam<br />
nesse ter uma oportunidade maior de diálogo referente à vida<br />
de ambos.<br />
– Oscar, já lhe disse, siga o seu caminho. Não queira<br />
colocar à prova o que a vida lhe propõe. Esteja certo que será<br />
para você um caminho muito difícil, quase impossível. Nós<br />
vivemos em mundos diferentes e eu não pretendo sair de<br />
minha posição, estou feliz assim e me sinto bem.<br />
– Eu, Anita, vivo numa sociedade bem avantajada<br />
financeiramente, mas nem por isso deixo os meus compromissos<br />
com as pessoas. Deus me deu o dom da fraternidade.<br />
95
Isso a mim pertence e também sou muito feliz em poder<br />
dividir com os meus irmãos deste plano, porque estou certo<br />
de que a riqueza que herdamos verdadeiramente é o amor<br />
ao próximo e a Deus. Sei que errei muito com você e mil<br />
vezes lhe peço perdão e, se necessitar, outras mil vezes lhe<br />
pedirei.<br />
Anita se cala diante das palavras de Oscar. Seus<br />
olhos brilham de fulgor e lisonjeio pelo homem a quem tanto<br />
ama. Calada, porém orgulhosa em ouvir palavras doces,<br />
tranquilas, serenas e exatas que lhe enchem a alma, pelo<br />
justo fato de estarem frente a frente e próxima de uma pessoa<br />
realmente abastada em amor. Só que, quanto a ambos,<br />
só tempo os instruirá.<br />
– Anita, jante comigo, lhe peço. Nem que seja esse o<br />
nosso último jantar.<br />
Depois de Oscar muito insistir, Anita abre a guarda.<br />
Aceita o convite e ele marca para logo mais à noite.<br />
– Às sete horas está bem?<br />
– Sim, está!<br />
– Então irei à sua casa para lhe buscar.<br />
– Está bem.<br />
– Mas uma coisa eu tenho de lhe perguntar: Será que<br />
você virá mesmo? Perdoe-me pela pergunta, meu amor.<br />
– Sim Oscar, eu lhe espero. Afinal, sou uma mulher de<br />
palavra.<br />
Beijaram-se na face como bons amigos, mas o coração<br />
de amantes, em arroubos de amor, parecia saltar-lhe pelos<br />
lábios.<br />
Por que Anita não cedia a ele o seu perdão? Talvez pela<br />
justa razão de esperar que o tempo se incumbisse de todos os<br />
motivos e razões. O tempo é quem curaria as feridas que ainda<br />
permaneciam num fruto ainda verde ou amargo.<br />
96
Durante o jantar, Anita explica os motivos pelos quais<br />
ainda exita em aceitar ficar com Oscar.<br />
– Por que você mentiu para mim? Não havia necessidade<br />
disso! Você se fez passar por um simples funcionário da<br />
siderúrgica e ainda desprezou-me, por quê?<br />
– Veja bem Anita, a coisa não é tão simples assim.<br />
Não foi bem uma mentira, foi o modo que encontrei para me<br />
defender.<br />
– Para se defender de quê? Como assim? Eu não<br />
entendi.<br />
– Eu lhe explico. Eu estava vivendo uma fantasia, ou<br />
melhor, fazendo uma experiência comigo mesmo. Há dois anos<br />
passados, bem antes de conhecer você, eu passei por uma<br />
situação amorosa muito difícil e traumatizante. Pensava estar<br />
vivendo um grande amor e, mesmo apesar dos meus 38<br />
anos, foi a minha primeira experiência sexual e amorosa, e<br />
por isso, ou melhor, por não ter nenhuma experiência em relação<br />
ao sexo oposto, fui iludido ao entregar-me de corpo e<br />
alma àquela mulher sem a mínima experiência, será que você<br />
entende? Antes eu só pensava em trabalhar para assumir a<br />
enorme responsabilidade que meus pais jogaram em minhas<br />
costas. Logo que me formei, colocaram sob o meu comando<br />
a siderúrgica. Estava imaturo, desprevenido profissionalmente,<br />
porque até os meus vinte e cinco anos eu só estudava. Formei-me<br />
em Administração de Empresas. Por essa razão arquei<br />
em minha vida um compromisso muito sério com o trabalho.<br />
Não foi nada fácil manter aquela empresa em pé, e a<br />
minha primeira experiência sexual veio-me praticamente aos<br />
trinta e cinco anos. E, de tudo que tenho passado, a única<br />
situação que me fez amadurecer tão cedo em minha vida foi<br />
o respeito e amor ao meu próximo. Isso sim, eu posso lhe<br />
dizer, com clarividência, era o que meus pais me enfatizavam.<br />
Por isso dou graças e louvo a Deus por ser assim, pois esse é<br />
97
um dos maiores vínculos que tenho com a felicidade.<br />
Dos meus desenganos comigo mesmo eu cometi um<br />
grande erro em relação a você. Foi realmente uma fraqueza,<br />
ou falta de experiência amorosa, não sei. O que sei é que o<br />
que estou passando, talvez seja o preço do meu aprendizado<br />
ou da minha insegurança. Por isso Anita, é que tanto insisti<br />
para que você jantasse comigo, pois se não soubesse um pouco<br />
de minha vida, a impressão que você teria de mim seria a<br />
pior. Eu posso até lhe jurar que, a partir de hoje, mesmo que<br />
você não se fique mais comigo, certamente estarei contigo<br />
pelo resto de minha vida, juntos ou em pensamento, pois ninguém<br />
mais importa na minha vida.<br />
– Como assim, Oscar?<br />
– O nosso bebê é também parte de mim.<br />
– Estou ansiosa para fazer-lhe uma pergunta. Por que<br />
os seus pais lhe deram essa responsabilidade tão cedo em sua<br />
vida? E onde estão eles neste exato momento?<br />
– Anita, eu sou filho único. E é por esse motivo e<br />
outros mais que tenho sofrido tanto em minha vida.<br />
– Oscar, da maneira que você fala, tenho a impressão<br />
de que deve ser alguma coisa muito séria. Você não gostaria<br />
de me dizer?<br />
– Não somente eu gostaria como lhe implorei tanto<br />
para que você estivesse comigo neste jantar, porque preciso<br />
de um ombro amigo para os meus desabafos. Tudo começou<br />
com os meus pais fugindo da Áustria, por causa da guerra.<br />
Eles vieram para o Brasil, onde aqui nasci. Eles estiveram<br />
comigo até a minha tenra juventude e, que após me<br />
empossarem em nossa empresa, eles desapareceram.<br />
– Mas o que aconteceu com eles?<br />
– Nada sei a respeito deles. E para lhe ser sincero,<br />
tenho medo até em pensar. O que quero lhe dizer Anita, é<br />
que meus pais me fazem uma grande falta, não tenho sequer<br />
98
um parente aqui no Brasil, sou extremamente só.<br />
Anita, comovida com a história de Oscar, aproximava-se<br />
mais dele para que ele pudesse sentir o seu apoio, o seu<br />
carisma. Mas em alguns momentos também vacilava quanto<br />
às palavras de Oscar, temendo que ele não estivesse dizendo-lhe<br />
a verdade. Curiosa, ela fazia perguntas tentando descobrir<br />
algumas falhas que pudessem mostrar a fraqueza de<br />
Oscar.<br />
– De onde é mesmo que os seus pais são?<br />
– Eles são austríacos. Naquela época, se os austríacos<br />
não se convertessem ao nazismo eram subjugados e se<br />
tornavam inimigos de seu próprio país. Meus pais, não querendo<br />
renegar a sua pátria, só tiveram uma alternativa: Fugir.<br />
Mas para onde? O mundo era e é grande, mas para os que<br />
viviam em guerra, como no caso da Europa que estava envolvida<br />
nessa situação, eles acreditavam que tinham de ir para<br />
bem longe. Meu pai, ainda jovem, não se admitia ter de ir<br />
para as frentes de batalha. Ele tinha se casado recentemente,<br />
era filho de pessoas nobres e muito religiosas, portanto, tirar<br />
a vida de qualquer ser humano era contra seus princípios. Os<br />
seus pais, ou seja, os meus avôs colocaram os meus pais num<br />
navio para que partissem em busca de paz, enquanto meus<br />
avôs foram em busca da morte, para eles já não havia mais<br />
como fugir. E foi aqui, neste belo e imenso país, que eles<br />
foram acolhidos. Trabalharam muito e, quando eu me formei,<br />
me entregaram a empresa e partiram para uma aventura<br />
que eu sempre achei que fosse uma grande loucura, que era<br />
voltar para a Europa de barco, assim como fora a fuga deles.<br />
É como fazem alguns excêntricos aventureiros.<br />
– É por isso que não é correto você deixar que eu<br />
compartilhe de sua vida e de seus bens, pois afinal, foi com<br />
muito sacrifício que seus pais e você conquistaram os seus<br />
objetivos.<br />
99
Anita, mais uma vez para colocá-lo à prova, pergunta:<br />
– E seus pais, estão aqui no Brasil ou na Europa?<br />
– Eu não sei. O que posso lhe afirmar é que soube, na<br />
época, que a viagem deles não teria dado certo, pois uma<br />
tempestade muito forte não permitiu que chegassem ao destino.<br />
E era só o que eles queriam. Oxalá não tenha sido esse<br />
o tributo que eles deveriam pagar.<br />
– Mas só havia eles dois no barco?<br />
– Não, além deles havia mais três pessoas. Um comandante<br />
e dois imediatos.<br />
– E com eles, o comandante e os imediatos, o que<br />
aconteceu?<br />
– Nada se sabe a respeito de todos eles. O comandante<br />
e os imediatos foram em companhia dos meus pais por<br />
dinheiro, por sinal foram muito bem remunerados.<br />
– Mas os seus pais estavam cientes do risco que<br />
corriam no mar?<br />
– Mesmo sabendo que havia um grande risco, os meus<br />
pais tomaram essa atitude por se tornarem egocêntricos, talvez.<br />
– Não vejo nada de egocentrismo nessa história Oscar,<br />
porque se era uma realização a ser feita, foi o que eles<br />
fizeram: completaram a realização.<br />
– Me trocaram por uma realização mesquinha, como<br />
lhe disse antes, egocêntrica. Eu, aqui sozinho. Eu e meus<br />
gritos numa voz rouca, muda. Ninguém podia ouvir minhas<br />
lamentações.<br />
Anita, sensibilizada, toca-o em seus braços dizendolhe<br />
que ele não estava só.<br />
– E onde eles deverão estar?<br />
– Com certeza todos pereceram e fiquei sozinho, órfão,<br />
mas muito bem financeiramente. Para que essa estabilidade?<br />
Para nada? De que vale essa riqueza? Para muitos, isso<br />
100
significa sorte, liberdade financeira. Para mim, é somente um<br />
vazio imenso, deixado por uma grande ferida chamada tristeza.<br />
Perdi meus pais, não tenho você, e uma criança que agora<br />
vem ao mundo para reviver uma história que parcialmente<br />
irá se repetir: Um filho sem pai. Para ele será muito triste,<br />
Anita. Eu, particularmente, nunca me acostumarei com a idéia<br />
e a oportunidade que tive, mas o tempo amenizará mais um<br />
destino que terei ou virei a cumprir. Deus seja louvado, Anita.<br />
– Abrace a vida Oscar...<br />
Ansiosa, plena no seu amor que reacendera ainda mais<br />
forte em seu coração, Anita passa a querer lutar consigo mesma<br />
em sua opinião, que a faria esquecer tudo para ficar para<br />
sempre junto ao homem a quem tanto ama. Mas as provas<br />
ainda eram insuficientes, pois Oscar teria a marcante presença<br />
de pai. Amedrontava-se ao pensar no desprezo que ele<br />
poderia dar ao seu filho, e isso ela jamais aceitaria.<br />
– Até hoje Anita, eu me busquei tanto em minha vida!<br />
Fiz nela coisas fantasiosas.<br />
– Como coisas fantasiosas?<br />
– O que eu quero dizer é que a minha fantasia ou<br />
minha experiência foi a mais profusa, a mais vulgar que fiz, e<br />
com quem fiz. Foi com você; eu machuquei a pessoa a quem<br />
mais amo, e você provou-me com seu amor que devo ter força<br />
e vontade de viver. Hoje eu sei que fui ou que sou amado<br />
não pelo meu status, mas pelo que sou. Pelo menos me resta<br />
este consolo.<br />
– Uma pena essa sua fantasia. Para mim ela foi cruel.<br />
Mas Oscar, você deve ter amigos. Pelo seu status, o que não<br />
lhe faltam são amigos!<br />
– Amigos eu os tenho e muitos. Tenho amigos que me<br />
abraçam forte, que choram comigo. Que se preocupam as 24<br />
horas do dia comigo, até que eu me reative depois da bonança.<br />
Esses meus “verdadeiramente amigos” me procuram para<br />
101
que eu possa proporcionar-lhes uma festa, dar-lhes um dinheiro<br />
emprestado ou quando necessitam de uma viagem urgente<br />
para o exterior e me pegam como patrocinador. Esses<br />
são os amigos que tenho. São maravilhosos, você não acha<br />
Anita?<br />
Anita sorri dizendo-lhe que ela era a sua melhor amiga.<br />
– A sua amizade vem diretamente dos céus, você é o<br />
meu anjo protetor, não posso deixar de acreditar em você. Se<br />
eu fizer isso não acreditarei mais em mim, nem tampouco em<br />
Deus.<br />
Anita abaixa o seu rosto, orgulhosa da grandeza por<br />
ele prestada.<br />
– Um dia, já exausto de tanto oportunismo, decidi fazer<br />
com aqueles amigos uma brincadeira. Disse-lhes que tinha<br />
ficado pobre financeiramente, que estava falido e que só<br />
estava vivendo de aparências. Os que estavam ao meu redor<br />
desapareceram feito ratos de esgoto. Esqueceram-se das festas<br />
proporcionadas por mim, enfim, de tudo o que lhes era<br />
satisfatório e simplesmente debandaram. Aquilo tudo me foi<br />
muito engraçado, senti que as amizades eu não conquistava,<br />
mas as comprava, e sempre por um bom dinheiro. Eles sumiram,<br />
se dissiparam.<br />
– Eu, após este jantar delicioso e cheio de requinte,<br />
vou ter que ir embora.<br />
– Pois leve a minha alma contigo. Certamente ela se<br />
deliciará também. Você é diferente. É especial. E agora mais<br />
do que nunca, porque é a mãe do meu filho. Eu a tenho a<br />
minha família, quer você queira ou não.<br />
– Você tem certeza disso? Você tem certeza que A<br />
criança que está no meu ventre é seu filho?<br />
– Eu sinto isso no mais fundo do meu coração e de<br />
minha alma. Eu tenho plena convicção. Não é só mãe que<br />
tem sexto sentido ou “intuição”, pai também tem.<br />
102
Anita, na intenção de por Oscar à prova, diz:<br />
– Mas não é seu este filho, a sua intuição pode estar<br />
errada. Anita tinha plena certeza de que o filho era de<br />
Oscar, mas ela queria provocá-lo na busca de saber se ele<br />
realmente a amava.<br />
Agora era ela quem queria provas decisivas do amor de<br />
Oscar.<br />
– Está bem. Mesmo que ele não seja, pelo que você<br />
me afirma, deixe-me aprender a amá-lo, quero ser o pai dessa<br />
criança. Prometo-lhe encher de carinho, tanto esta criança,<br />
quanto você.<br />
Minhas Três Vidas – O encontro<br />
Num banco de jardim, há ocasionalmente o encontro<br />
de dois homens. Um deles ainda com ares de juventude, o outro,<br />
mesmo sereno, em sua fisionomia mostra sua idade avançada,<br />
é um ancião. O velho senhor, num tom de paz e<br />
tranquilidade, cumprimenta o jovem senhor.<br />
– Bom dia!<br />
O jovem num tom áspero responde: – Bom dia.<br />
– Hoje o dia está lindo e a temperatura está agradável.<br />
– É verdade. Mas quando temos algo para solucionar,<br />
parece que o dia fica sempre escuro, as nuvens ficam negras,<br />
pesadas. Mas tirando os problemas, o dia realmente está<br />
muito formoso, lindo.<br />
– O senhor vem sempre aqui?<br />
– Não, não, só venho quando estou desocupado, por<br />
isso é raro vir aqui. Hoje é um dia especial. Estou precisando<br />
repensar minha situação e minhas pendências.<br />
O velho senhor percebe por meio da experiência de<br />
seus longos anos já vividos, que o tom ingrato daquele jovem<br />
103
senhor era de quem queria estar só. Não sabia o jovem que,<br />
às vezes, a solidão só aumenta os problemas e o velho homem,<br />
percebendo que poderia ajudá-lo, o faria se necessário<br />
fosse. Sabia aquele experiente ancião que por pior que fossem<br />
os problemas do rapaz, não passariam de coisas fúteis<br />
que a vida norteia e domina. Amigavelmente, o sábio senhor,<br />
dirigindo-se ao jovem já quase amigo, lhe diz:<br />
– Problemas, meu jovem, enquanto tivermos vida eles<br />
estarão sempre conosco. Imagine o senhor que tédio seria a<br />
vida se não existissem os problemas? Problemas meu jovem<br />
amigo, todos têm.<br />
O velho homem, olhando fixamente aos olhos do jovem,<br />
senta-se, cauteloso pelo cansaço de seu corpo, num dos<br />
bancos do jardim que estava próximo deles e estende uma<br />
pequena bengala que estava em uma de suas mãos, colocando-a<br />
encostada no banco. Depois, retira de sua cabeça um<br />
chapéu simples e velho, de formato elegante, assim como elegante<br />
também ele já fora. Tira o chapéu da cabeça e o pousa<br />
no colo. Sussurrando, pede ao jovem, da mesma forma como<br />
se pede a um filho, que se sentasse junto dele, para que fossem<br />
apresentados um ao outro e pudessem iniciar entre ambos<br />
uma combinação de idéias e fatos que a vida preserva.<br />
– Sente-se aqui, meu jovem rapaz.<br />
– Com muito gosto, apesar de não nos conhecermos.<br />
Perdão senhor, por não ter me apresentado antes. Meu nome<br />
é João Eduardo.<br />
– Não há problema algum meu amigo, estou aqui ao<br />
seu dispor. Fixe-se forte, para que alguém possa em você se<br />
amparar, como sua esposa e filhos. O meu nome é José.<br />
Aquele homem, o Sr. José, tem uma história longa em<br />
sua vida que, por mais resumida, ainda fica muito emocionante.<br />
E isso não lhe tira o direito de falar o mínimo possível<br />
dessa vida tão maravilhosa que nos serve de exemplo.<br />
104
– Eu, meu filho, se assim puder chamá-lo devido a minha<br />
avançada idade, nasci em berço muito forte, na presente e<br />
rica fonte do amor. Fui o primogênito de um amor intenso entre<br />
um homem e uma mulher, cuja duração foi curta na vida<br />
entre ambos. Já com os meus 10 anos de idade ganhei de presente<br />
dois irmãozinhos de uma só vez: João e Néu. Eles eram<br />
tão parecidos que até meus pais os confundiam. Os gêmeos<br />
chegaram pra completar a nossa felicidade e vedar os nossos<br />
martírios, pois aos nove meses dos pequenos, nos vem a faltar<br />
o nosso pai. Nessa época, minha mãe, ainda jovem, chorava<br />
pelos cantos a ausência do companheiro. Foram tempos<br />
vazios em nossas vidas.<br />
O velho José achou que deveria parar com a sua história,<br />
pois acreditava que era o seu amigo quem teria direito<br />
ao desabafo, mas foi propositalmente que o ancião lhe contou<br />
uma pequena parte de sua história, para que o jovem se<br />
sentisse mais à vontade. Calou-se frente ao novo amigo, lhe<br />
pedindo desculpas por falar demais.<br />
João, envolvido por uma história simples, porém<br />
magnífica, não se opôs ao velho senhor, pedindo-lhe,<br />
encarecidamente, que continuasse.<br />
Zé Tocador, como aquele velho senhor gostava de<br />
ser chamado, diz:<br />
– Se você não se opõe, mas eu tentarei resumi-la ao<br />
máximo.<br />
– O senhor terá o tempo que quiser.<br />
–Com o passar do tempo, minha mãe se casa novamente<br />
com um senhor também viúvo, que trazia com ele um<br />
“mundaréu” de filhos. Somados a nós, os seis irmãos e o casal,<br />
fizemos uma enorme família. Os anos se passaram e nossos<br />
pais se foram. Ficou para mim a responsabilidade de educar<br />
meus irmãos, e fiz o que foi possível diante de minhas<br />
condições paupérrimas, mas com orgulho e humildade. Para<br />
105
os irmãos que quiseram, tive a oportunidade de ensiná-los a<br />
ler e a escrever, pois onde morávamos não existia escola. O<br />
tempo continuou a passar... Os filhos de nossos pais se casaram<br />
e tiveram os seus filhos. Alguns irmãos e filhos também<br />
já se foram, pois havia chegado seu tempo. A mim, meu jovem<br />
amigo, só me resta transmitir o que aprendi em minha<br />
vida e mostrar para quem eu puder, que não vale a pena sofrer<br />
pelas coisas ruins proporcionadas por nos mesmos, ou<br />
também ser traídos por nossos atos ou nossos maus pensamentos.<br />
Podemos chamar isso de causa e efeito. Agora me<br />
conte, por que o meu novo amigo está demonstrando tanta<br />
tristeza nos olhos e também em seu semblante? Apesar de<br />
não termos nenhuma afinidade familiar, ofereço-lhe o meu<br />
ombro velho, no entanto, amigo. Se você achar que fará bem<br />
à sua alma, converse comigo.<br />
João, jamais pensando que na vida ainda existissem<br />
pessoas que pudessem agir dessa maneira, sente-se comovido,<br />
pois atos assim como esse se encontram pouquíssimo hoje<br />
em dia entre pais e filhos. O tempo atual é insuficiente para<br />
uma conversa; as pessoas parecem não ter mais tempo para<br />
um bom bate-papo. Não existe mais tempo para falar, não<br />
existe mais tempo para ouvir, mas o velho senhor faz a tal<br />
oferta com muito carisma. Que tenham um bom diálogo.<br />
– Eu estou... Nada, deixe para lá. Não vou ocupá-lo<br />
com os meus problemas. Desculpe minha curiosidade, mas,<br />
quantos anos o senhor tem?<br />
– Apenas 94 anos meu jovem amigo, – responde o<br />
ancião – mas a vida ainda me alegra. Sou um ancião muito<br />
feliz, porque a felicidade mora dentro de nós, ou melhor, mora<br />
dentro de nossa alma. Você é que me parece muito triste.<br />
– Nem sei se deveria abrir o meu coração para o senhor,<br />
pois acabo de conhecê-lo. Mas a situação que passo hoje...<br />
Tudo o que se refere à minha vida, setor profissional, afetivo,<br />
106
em meu lar, tudo está ruim, tudo está se destruindo. E com<br />
todas esses problemas, eu ainda me encontro muito enfermo,<br />
praticamente desiludido pelos médicos. Estou com uma doença<br />
incurável que me esmaga a cada segundo de minha vida.<br />
Sinto-me totalmente desamparado, inútil, sem perspectiva para<br />
nada.<br />
O sábio Sr. José, percebendo que João Eduardo estava<br />
completamente desconcertado, lhe responde:<br />
– Mas você tenha certeza de uma coisa: Após a<br />
tempestade, segue-se a calmaria.<br />
– Eu já ouvi várias vezes essas frases, mas a minha<br />
situação ainda é mais complicada que a tempestade.<br />
– Para Deus, meu amigo, nada é difícil. Não diga a Deus<br />
que você tem um grande problema, diga ao problema que você<br />
tem um grande Deus. Estou lhe passando este pensamento<br />
que ouvi de alguém e que acho muito precioso. Veja você que<br />
frase bonita, e é de autor desconhecido. Nós, meu amigo, temos<br />
o privilégio de ter um grande Deus. Portanto, diante da<br />
grandeza de Deus os nossos problemas se tornam ínfimo.<br />
– Sr. José, eu não sei mais o que fazer, estou desesperado.<br />
Os médicos constataram um grande tumor no meu rim e<br />
não consigo nem me alimentar. Tudo parece me fazer mal. Mas<br />
eu sinto que este tumor não é real, mesmo porque, nas ressonâncias<br />
que faço às vezes ele aparece e às vezes não. Tudo isso<br />
eu acho muito estranho. A minha esposa, esta se deixou levar<br />
pela bebida, uma quase alcoólatra já acima dos limites. Parece<br />
que ouço vozes em minha casa, enfim, tudo está fora do lugar.<br />
Só pesadelos e mais pesadelos, é horrível! Só angústia, tristeza,<br />
discussão... Não tenho sossego nem consigo dormir. Os meus<br />
filhos não querem mais estudar, estão, rebeldes. Eu sempre fui<br />
um pai e um esposo extremamente generoso, tudo que me<br />
pediam eu dava e, mesmo assim, tudo vai mal.<br />
O velho Zé Tocador, atentamente ouvindo as lamú-<br />
107
ias do jovem homem, com comoção lhe toca o peito ao dizer<br />
que tudo o que vem nesta vida passa. Tudo passa, menos a<br />
sabedoria e a bondade de Deus. Um silêncio afaga os lábios<br />
de João Eduardo, já farto de tristezas.<br />
– Nem sei por que estou lhe falando tudo isso, afinal,<br />
o senhor não tem nada que se sobrecarregar com problemas<br />
alheios.<br />
– Meu bom homem, você ainda é muito jovem, e posso<br />
lhe afirmar que tenho muito a ver com a sua vida afinal,<br />
você é um ser humano e, na condição de ser humano, somos<br />
irmãos. Somos filho do mesmo pai, somos uma partícula de<br />
Deus. Posso lhe sugerir uma coisa?<br />
– Pode sim, claro. É o que mais estou necessitando:<br />
de sugestões.<br />
– Você tem alguma religião?<br />
– Minha família é de origem católica, mas há também<br />
protestantes e espíritas. Eu não frequento nenhum desses lugares,<br />
pois sempre trabalhei muito, sempre fui uma pessoa<br />
ocupada.<br />
– Você precisa se aproximar de Deus, acredite! Tudo<br />
poderá melhorar. Aproximar-se de Deus só nos faz bem.<br />
– E onde encontrar Deus? Eu nem mesmo sei como<br />
fazer isso!<br />
– A dor é um mal provocado pela necessidade, portanto<br />
é um mal que se cura, mas para a cura há a necessidade<br />
da busca, a busca da fé. A fé é capaz de remover montanhas,<br />
tudo é possível quando realmente acreditamos. A fé é a irmã<br />
primeira do amor. Pense bem, meu rapaz, na existência de<br />
Deus. Todo este planeta em plena harmonia, o dia que se<br />
transforma em noite, a noite transformada em dia. É puramente<br />
a Existência Suprema. Bela em formas pelas quais Ele<br />
age, transforma, vivifica. Deus realmente existe, pois veja<br />
como nosso planeta e outros foram planejados, a posição do<br />
108
sol, da lua, das estrelas, das águas, com a percentagem de<br />
70% e 30% de terra, enfim, tudo foi projetado de forma matemática,<br />
de forma exata. Esta luz meu caro, é a irradiação de<br />
Deus sobre nós, e para que possamos acreditar, basta apenas<br />
olhar ao nosso redor.<br />
Um tanto distante da Terra... A Lua, as estrelas e o<br />
sol. Tão próximo de nós as vegetações, o oxigênio, os pássaros<br />
– como belos são os pássaros! A multiplicação dos<br />
alimentos que renascem pela terra todos os dias, enfim, isso<br />
é uma prova mínima da existência de Deus. É questão de<br />
analisar para depois crer, e pedir ao Pai, com humildade e<br />
amor, para que ele nos dê o pão, o pão do saber. Se pedirmos<br />
com amor, certamente que jamais ele nos dará pedra<br />
ou ignorância.<br />
Filho, se assim o posso chamar, tudo há de passar e<br />
você poderá, num futuro muito próximo, ver a comprovação<br />
do que lhe digo agora.<br />
– E o que o senhor me aconselha procurar? Que tipo<br />
de religião para que eu possa estar em sintonia com Deus?<br />
– Haja de acordo com seu coração e peça, dê esse<br />
tributo a ele. Certamente ele agirá corretamente, porque o<br />
nosso bom pensamento só tem uma direção: Deus.<br />
O senhor José era incansável em suas palavras. Em<br />
suas entranhas havia uma formosura inexplicável. Ele se expressava<br />
de uma forma elegante, amiga e carismática. Certamente<br />
por ser muito maduro e estar planificado em seus conhecimentos.<br />
Incansavelmente, ele continua.<br />
– Uma casa de oração sempre faz bem e ajuda-nos<br />
muito. Nesses lugares, encontra-se o apoio de algumas pessoas<br />
humildes que expressam as palavras de Deus. Essa é a<br />
sua vez, jovem amigo. As suas dores estão profundas, então<br />
siga o amor de Deus através de suas dores. Não se regozije<br />
das expressões de desprezo ou escárnio. Seja humilde e deixe<br />
109
o seu coração agir. Ainda há tempo, eu lhe afirmo com toda a<br />
convicção.<br />
– Mas que casa de oração? Existem tantas religiões<br />
nesse mundo!<br />
– Procure um lugar onde você se sinta bem, pois nesse<br />
lugar você haverá de encontrar Deus. Não importa se é<br />
igreja católica, igreja protestante, sinagoga ou uma casa espírita.<br />
Siga o lugar que lhe aproxime de Deus verdadeiramente.<br />
A você será muito fácil!<br />
– Vejo pessoas falarem das religiões atuais. Segundo<br />
pesquisas, existem no mundo por volta de 68 mil religiões.<br />
Pergunto para o senhor: Em que porta devo bater ou onde<br />
devo entrar?<br />
– A informação que você obteve está totalmente fora<br />
da realidade, pois não existe somente essa quantidade de<br />
religiões, e sim milhões e milhões delas.<br />
– Como assim? O senhor pode me explicar melhor?<br />
– Sim, eu posso. O nosso coração é o templo de Deus.<br />
Então, veja onde é que estão as religiões! Agora, o importante<br />
é que participemos de reuniões para explanar as palavras<br />
de Deus deixadas para nós. Mas observe um detalhe: Existem<br />
grupos de pessoas chamadas oportunistas ou usurpadoras<br />
que usam as palavras divinas para obter grandes lucros, e assim<br />
sugar as pessoas em nome de Deus. São pessoas profanas,<br />
não os siga. Eles são como animais peçonhentos, estão<br />
sempre cheios de um veneno que contamina e destrói. Um<br />
bom lugar você conhecerá facilmente, pois haverá nele sempre<br />
boas palavras, que expressam fervor e autenticidade na<br />
palavra “solidariedade”, sem a ganância financeira. Aí sim,<br />
entre corajosamente, entre de corpo e alma e ali você obterá<br />
respostas positivas. A caridade e a solidariedade são cegas<br />
meu amigo, não têm malícia, não pensam em bens materiais,<br />
são suaves. A caridade é a irmã primogênita da fé, e a fé sem<br />
110
a caridade transborda, porque caridade é amor, e amor é Deus.<br />
A caridade, no entanto, é o vínculo da perfeição. Não permita<br />
jamais que a sua fé o faça mesquinho, que o torne individualista.<br />
Isso poderá lhe transformar num ser totalmente<br />
materialista que só pensa em seu grupo, nos que se reúnem<br />
com você, mas todos os seres humanos são filhos do mesmo<br />
pai, estando certos ou errados.<br />
Não deixe que ninguém venha lhe convencer com essa<br />
situação elaborada, suja e sórdida. Seja solidário com o seu<br />
próximo, sem o tal preconceito religioso. Viva mais intensamente<br />
a sua vida e faça-se feliz. Mas lembre-se de uma coisa:<br />
se receberes caridade, quando puderes, a transfira.<br />
É a dadivosa mão a cultuar o amor ou a semente que faz<br />
renascer. Mas cuidado com os que colocam Deus à prova.<br />
Exemplo: Se você doar uma boa quantia em dinheiro, seus<br />
problemas serão resolvidos. O dinheiro esta com certeza mais<br />
ligado à ganância do que à solidariedade e ao amor a Deus, à<br />
família e ao próximo, que certamente é seu irmão por ser ele<br />
também uma partícula de Deus.<br />
Enquanto o Sr. José e João Eduardo travavam amizade<br />
naquela praça, o que não perceberam foi o tempo em que<br />
ambos permaneceram ali. Bastaram as poucas palavras expressadas<br />
por João Eduardo para que o velho senhor as decifrasse,<br />
para que João Eduardo ouvisse por horas seguidas uma<br />
voz terna e carinhosa, cujas mensagens envaideceram o amigo<br />
João Eduardo como um ser existente e com esperança de<br />
dias melhores, pois sendo ele uma criação divina, eterno ele<br />
também seria.<br />
– Dependendo da condição ou da situação, senhor,<br />
sem dinheiro nada é possível. Isso se vê mesmo entre as<br />
religiões.<br />
– Dê a César o que é de César... Dê a Deus o que a<br />
Deus pertence. Meu rapaz, a verdadeira riqueza que Deus quer<br />
111
em nós é o amor. O dinheiro é coisa da terra, é produto e criação<br />
do homem, da matéria. Deus não está preocupado com<br />
bens materiais, tributos, dízimos ou ofertas. Tudo o que há na<br />
terra, pertence a ela. Porém, o que é do Céu, pertence também<br />
a ele. A Terra é um mundo pequeno para a nossa eternidade; o<br />
Céu, como dizem nos é eterno. Vamos pedir a Deus por essa<br />
riqueza, a riqueza infinita do amor e do perdão.<br />
João, depois de ouvir tais palavras fica inquieto diante<br />
do que teria feito em sua vida. Pensava nos seus feitos, na<br />
sua soberania quanto ao seu próximo e trêmulo põe-se a chorar.<br />
Aquele senhor o havia despertado para a vida, porém, o<br />
que ele fizera talvez a própria vida não lhe daria oportunidade<br />
de perdão. Ele magoara a sua tão querida esposa,<br />
desestruturando o seu lar e os seus filhos, fazendo de sua<br />
companheira, uma mulher de traços delicados e de boa índole,<br />
uma pessoa enegrecida pelo ódio e pelo rancor, tragados<br />
em copos, no final de um vício profundo e frio. João Eduardo<br />
tomara para si corações, assim como o de Lídia, para os desejos<br />
ardentes do prazer e do dinheiro fácil. Mesmo profissionalmente<br />
ele havia prejudicado várias e várias pessoas.<br />
João pensa: – Meu Deus! Eu fiz desordens em minha<br />
vida! Que perdão é esse que eu terei que procurar?<br />
De todo esse seu pensamento confuso, amedrontado,<br />
lembre-se somente de uma coisa: O coração ou o pensamento<br />
é o meio ou o veículo de comunicação entre nós e Deus.<br />
De repente, José se levanta do banco e olha fixamente<br />
para João Eduardo. Esse, sem ter o que dizer, levanta-se<br />
também, ergue os olhos para o velho senhor e pergunta:<br />
– Por que todas estas recomendações? O senhor com<br />
certeza é um religioso ou frequenta algum lugar. A que<br />
religião o senhor pertence?<br />
– Não importa a minha religião, não quero que você<br />
se sinta influenciado por mim. Siga o seu caminho, siga seu<br />
112
coração. Na certeza de que alcançará o seu objetivo, fique<br />
em paz. Até um dia, meu jovem amigo.<br />
João, emocionado, sentou-se novamente no banco<br />
porque sentia uma dor profunda no peito. Não era nada referente<br />
ao seu estado de saúde. Naquele instante, o que ele<br />
sentiu foi uma luz muito forte que estava se afastando dele.<br />
Antes, sentira em seu ombro a mão de um homem de estatura<br />
alta, magro e de cor clara. Um homem cuja suavidade das<br />
mãos parecia ter iluminado todo o seu corpo em plena luz do<br />
dia.<br />
– Meu Deus, como a vida é infinita! Um homem a<br />
quem eu nunca vi, se projetou em minhas dificuldades e transmitiu-me<br />
uma filosofia altiva, trazendo para mim alívio e palavras<br />
de esperança. Estou quase sem dores.<br />
Naquele momento João estava quase sem dores, porque<br />
as vibrações de Lídia e sua gangue se tornaram fracas<br />
diante da luz que permanecia junto de João. Essa Luz ou<br />
energia fora deixada pelo Sr. José e, no plano espiritual, se<br />
tornou uma luta descomunal.<br />
– Engraçado, eu aqui, sentado nesta praça, e aparece<br />
esse senhor que me transmite uma paz tão grande, que me<br />
faz sentir alegre, com ânimo e vontade de viver, apesar dos<br />
tantos problemas que tenho. Eu não sei se o verei mais, mas<br />
a partir de agora, com ele em meu coração, vou chamá-lo em<br />
meu pensamento de “meu bom José”.<br />
113
João e Izabel<br />
Depois de sair do hospital, João fora à praça para se<br />
distrair e encontrou aquele senhor, “o bom José”, que lhe<br />
aconselhou a procurar um lugar de orações na intenção de<br />
que João tivesse um ponto de apoio, um porto seguro. Ao<br />
retornar para casa, encontra-se com a esposa Izabel, que<br />
preocupada já estava para sair à sua procura.<br />
– João! Onde você estava? Por que não avisou que ia<br />
sair? Todos nós ficamos preocupados com você!<br />
– Ficaram mesmo? Que bom!<br />
– Lógico! Afinal, você é o meu marido e precisa de<br />
cuidados.<br />
– Você falando assim eu me sinto lisonjeado<br />
– Anita e Oscar estiveram aqui para lhe fazer uma<br />
visita e eu tomei a liberdade de pedir a eles para fazer uma<br />
oração em seu favor.<br />
– Que bom! É bom saber que temos bons amigos e<br />
que eles se preocupam com a gente.<br />
– É, certamente que eles são amigos e não falsos como<br />
aqueles aproveitadores que vinham orar por você, com a bíblia<br />
numa mão e uma sacolinha na outra, para que déssemos uma<br />
oferta para Deus. Engraçado, depois que a gente passa por<br />
certas situações é que começamos a enxergar o lado profano<br />
das pessoas.<br />
– Izabel, eu ainda não lhe contei o que foi que me<br />
aconteceu na praça.<br />
– Mas que praça é essa?<br />
– É essa que fica aqui perto de nossa casa.<br />
– Sim, sei. E o que houve?<br />
– Conheci um senhor de 94 anos de idade. Gostaria<br />
que você visse a simpatia que ele é e o carisma que ele tem.<br />
114
Ele me passou uma paz magnífica com seus conselhos, tive<br />
até vontade de convidá-lo para vir aqui em nossa casa.<br />
– Mas porque não o convidou?<br />
– Tantos foram os seus bons conselhos que passamos<br />
horas a fio conversando. No final, eu estava tão emotivo que<br />
quase não percebi quando ele já estava indo embora. Ao se<br />
despedir de mim, eu tristemente chorava pela comoção de suas<br />
palavras. A impressão que tenho, até o momento, é que ele<br />
deve ser uma grande pessoa perante Deus, só mesmo você<br />
ouvindo para me dar razão, Izabel.<br />
– Pelo tempo que nós nos conhecemos como marido e<br />
mulher, tenho convicção plena de suas palavras, João. Mas o<br />
que foi que ele lhe disse? E onde podemos encontrá-lo?<br />
– Onde encontrá-lo eu não sei, mas ele me aconselhou, entre<br />
outras coisas, que fosse à procura de uma casa de oração, não<br />
importasse onde. Que eu seguisse o meu coração e fosse, devido<br />
também à necessidade que estamos passando em nossas<br />
vidas. Que deveríamos procurar Deus para sermos felizes.<br />
A Guerra<br />
Oscar e Anita agem de maneira discreta quanto à crença<br />
seguida por eles, para que João Eduardo e Izabel não se<br />
sintam influenciados. João e Izabel, de origem católica porém<br />
não praticantes, ao tomarem consciência de suas ligações com<br />
Deus passam a frequentar a igreja, mantendo em suas casas<br />
orações e pedidos em favor da paz e da saúde.<br />
Certo dia, ao participar de uma missa na igreja que<br />
frequentava, João Eduardo sente uma crise fortíssima e é<br />
imediatamente socorrido, justamente por um padre que estava<br />
em visita àquela paróquia. O nome do padre era André e,<br />
além de padre, era também um médium sensitivo. Só que,<br />
ele além de não saber nada sobre mediunidade, nem<br />
115
imaginava que a sensibilidade espiritual que trazia com ele<br />
era parte de seu dom.<br />
Ao aproximar-se de João Eduardo, Padre André sente<br />
algo estranho. Ao tocá-lo, começa a ter estranhas sensações<br />
a influenciar seus pensamentos, sensações cobertas de<br />
ódio e injurias. Que coisas estranhas estariam acontecendo<br />
com aquele homem? O padre, confuso, não soube explicar.<br />
Porém, percebeu que havia algo errado, pois as dores que<br />
João sentia possuíam vibrações ruins, maléficas, e uma resistência<br />
forte quando alguém tentava lhe amparar ou lhe<br />
tocar. As dores pareciam insuportáveis.<br />
Naquele instante, o padre, tentando socorrê-lo, de<br />
repente se ergue e, como se estivesse nele outra pessoa, mais<br />
resistente e forte, diz com autoridade:<br />
– Solte este homem! Saiam dele, eu vos ordeno!<br />
Os católicos fiéis que ali estavam ficaram abismados<br />
com a atitude daquele padre que, cruzando os braços<br />
de João, continua a dizer:<br />
– Saia deste homem! Saiba que está muito próxima a<br />
sua resignação. Assim como Jesus retirou os espíritos e nos<br />
deu esta autoridade, em nome de Deus eu ordeno: Afastese<br />
deste homem!<br />
João, um pouco mais tranquilo e já sem dores, ao<br />
perceber que aquele homem o havia auxiliado, beija-lhe as<br />
mãos e humildemente lhe agradece. Algumas pessoas ali presentes,<br />
por nunca terem presenciado uma cena daquele gênero<br />
antecipam os julgamentos, dizendo em voz alta que o<br />
padre visitante não pertencia nem a igreja e nem a Deus,<br />
pois o que fizera ali, na presença de todos, era puramente<br />
obra demoníaca.<br />
– Onde já seu viu? Falar com demônios! Pois que<br />
fosse também um deles, porque eram os demônios que<br />
podiam falar entre si.<br />
116
Foi o que muitos adeptos comentaram por falta de<br />
conhecimento sobre o fenômeno. Padre André se dirige a João<br />
Eduardo e lhe aconselha a procurar ajuda.<br />
– Saia daqui agora mesmo e vá procurar uma boa casa<br />
espírita, pois lá o seu caso será resolvido. Mas seja rápido,<br />
pois se você não se cuidar, irá para um buraco sem fim levando<br />
consigo a sua família. Sua companheira está se tornando<br />
uma alcoólatra, ela precisa acabar com aquele vício. Seus dois<br />
filhos estão rebeldes, perdendo o interesse pela vida. Pense<br />
bem moço, você não está doente. Este mal que está com você<br />
não é doença física nenhuma. Os médicos estão sem saber o<br />
que fazer com você, estão perdidos e não sabem como lhe<br />
curar.<br />
As palavras de Padre André eram insistentes e piedosas.<br />
Ele quase que implorava em tom baixo para João Eduardo<br />
e sua esposa, de forma que somente eles o escutavam. Já<br />
não havia mais alternativas. O que deveriam fazer era seguir<br />
as palavras ditas por lábios nobres.<br />
– Então o senhor acha que devo ir?<br />
– Sim, e o quanto antes, pois o que você tem não é<br />
doença física, meu filho, é uma vingança contagiosa e vulgar<br />
que pode destruir você e sua família. Ainda bem que não lhe<br />
aplicaram a quimioterapia ou outras drogas incompatíveis com<br />
seu organismo. Isso, graças aos seus anjos guardiões. O médico<br />
que está lhe prestando cuidados é muito bom, tem pesquisado<br />
constantemente para solucionar o seu problema. Porém, o que<br />
ele não sabe é que o seu caso é espiritual. Procure o quanto<br />
antes uma solução espiritual que esse problema será sanado.<br />
Os mentores transmitiam ao Padre André e ele disse<br />
a João que seguraria as energias nefastas que sombreavam o<br />
seu corpo por pouco tempo, por serem muito pesadas e<br />
malignas.<br />
João Eduardo, abismado com a situação, perguntava-<br />
117
se como aquele homem sabia de suas coisas pessoais. Era<br />
tudo muito estranho.<br />
Algumas pessoas que estavam ali comentavam. –<br />
Realmente o padre tem demônio.<br />
Ali, dentro da igreja, a ousadia de Lídia e sua gangue<br />
foi incrível. O mundo espiritual, naquele recinto, transmutouse<br />
em guerra, com situações horríveis entre anjos e quiumbas<br />
(espíritos obsessores). Lídia gritava...<br />
– Largue-me, eu já te disse, largue-me! Quem é você?<br />
– Eu sou o mensageiro das estradas.<br />
– Como você é bonito e forte!<br />
– Eu não estou aqui para a sua apreciação, estou aqui<br />
para retirar-lhe deste recinto e do corpo a quem tanto atordoas.<br />
– Mas será que a sua prepotência é dessa maneira que<br />
você está mostrando?<br />
– Eu não tenho prepotência alguma, tenho autoridade<br />
para expulsar-lhe daqui. Vamos, saia daqui.<br />
– Então veremos... Steph, Joab, Ruan! Convido todos<br />
os meus comparsas para o ataque.<br />
Somos uma legião, uma legião de maus espíritos. Veja que há<br />
uma grande desigualdade; você está só, mas veja só quantos<br />
somos!<br />
Lanças e espadas plasmadas fumegavam no templo...<br />
Medievais lutavam na defesa e no ataque. O que Lídia não<br />
sabia é que conhecimentos milenares são guardados no Universo<br />
espiritual. Bastou um sopro para que a defesa vencesse<br />
o ataque num só instante.<br />
Enraivecida, Lídia pede caminho para se retirar. Seus<br />
lábios flamejantes juraram vingança. Não se calaria nem se<br />
acalmaria enquanto não visse o homem a quem tanto queria<br />
ao seu lado, ou melhor, em suas mãos para o seu bel prazer.<br />
Caído, esmagado e uivando como um cão a procurar pelas<br />
sombras da noite por seu esgalgado corpo em decomposição.<br />
118
Era dessa maneira que Lídia desejava João. A força do<br />
seu ódio a deixara desnorteada. Estendia a sua jura a todos<br />
que estavam ali presentes em espírito. Só não blasfemou o<br />
padre porque sabia da importância supra daquele personagem<br />
no mundo da espiritualidade, tendo ele, para sua proteção,<br />
o zelo de um mensageiro, um grande guardião que lhe<br />
acompanhava há várias encarnações. O padre era um grande<br />
médium, apesar de não ter consciência de sua mediunidade.<br />
Em meio a toda aquela atribulação, Padre André não<br />
possuía a visão dos imortais, porém, pressentia a desarmonia,<br />
as contradições e a vitória! O que Padre André não sabia<br />
é que ele fora conduzido àquela igreja por seu mentor e pela<br />
Graça Divina, e de como importante fora ele ter sido enviado<br />
por bons espíritos e por Deus para salvar a vida de João Eduardo,<br />
que já estava predestinada por aquela legião à sua fatalidade<br />
e total destruição de sua família.<br />
Amantes Eternos<br />
O dia se finda, a noite se faz presente. É hora de<br />
refletir, de fazer o balanço diário. Depois de um grande susto,<br />
ao saber daquele acontecimento e receber seu marido em casa<br />
ajudado por mãos amigas, Izabel senta-se com seu marido no<br />
sofá da imensa sala de visitas que havia em sua casa. Imóveis,<br />
se olham profundamente e num só instante falam em<br />
uma só voz:<br />
– Meu Deus! O que está acontecendo conosco?<br />
Ao sentirem as mesmas palavras, os dois se põem a<br />
chorar, aproximam-se um pouco mais os corpos e se abraçam,<br />
rogando a Deus o perdão que aliviaria suas culpas, pois<br />
já se arrependidos queriam, além da saúde, obter paz e felicidade.<br />
Na verdade, João acreditava que por muito pouco ainda<br />
viveria, mas se o pouco que Deus lhe concedesse fosse<br />
119
suficiente para reparar pelo menos algumas de suas falhas,<br />
ele ficaria feliz.<br />
Quando não transformado o ser humano pelo amor,<br />
surge para si a dor. E a dor, dependendo das circunstâncias,<br />
resulta em sofrimento e aprendizado, que pode lapidar o ser<br />
físico e o ser psíquico, elaborando, na grande maioria dos seres,<br />
traços em seus escaninhos. A dor é persistente, é cruel e nociva...<br />
É bendita.<br />
João Eduardo tenta suportar os golpes da dor. O sucesso<br />
profissional fora para si o primeiro salto. Vem-lhe a morte<br />
dos pais e, logo após esse triste episódio, outros insucessos<br />
tais como o seu próprio massacre profissional. Sua conquista<br />
foi ter requisitado para si como esposa uma jovem mulher, bela,<br />
de boa índole familiar, culta, mas que após anos vividos em<br />
comum se transforma em uma mulher amarga, cujo vício do<br />
álcool a deixa completa de dissabor e aflita para sair das obscuridades<br />
da vida, pois ainda persiste muito para sobreviver. João<br />
Eduardo, que depois de tempos acostumado com as regalias,<br />
traz na vulgaridade de sua cobiça a exaltação, iludindo e deprimindo<br />
com o seu status social pessoas inferiores, irresolutas e<br />
incoerentes, em cuja permuta recebe vingança. Talvez esse<br />
tenha sido o seu pior erro ou seu grande aprendizado. Um erro<br />
que tem nome, que se chama traição ou Lídia!<br />
Izabel se tornara o seu ponto de amparo. Ele sofrera<br />
até ali o bastante para pedir-lhe perdão, por mil vezes se necessário.<br />
Ela o abraçava amparando sua cabeça em seus seios.<br />
Mesmo ainda sujeita ao domínio do álcool, ela requisitava para<br />
si forças extraordinárias para o acalento de todos de sua família.<br />
E Izabel estava ali, para João. Após aquele episódio maravilhoso<br />
com Padre André, como que em um passe de mágica<br />
Izabel se tornou dócil e mais protetora. O espírito de Lúcio,<br />
que também estava envolvido naquele esquema sórdido, fora<br />
afastado juntamente com a gangue de Lídia e do tal feiticeiro.<br />
120
Os filhos<br />
Naquele dia, João Eduardo recebeu o afago dos seus<br />
dois filhos. Foi maravilhoso o final de noite no aconchego da<br />
família, que boa aquela troca de carinho com esposa e filhos...<br />
Será que tudo voltaria a ser bom como fora há tempos?<br />
A Igreja - O Episódio<br />
– Izabel, eu estou assustado. O padre não é daquela<br />
paróquia, eu não o conhecia, nunca o tinha visto na minha<br />
frente! Como ele sabia de tudo aquilo? Dos meus problemas,<br />
que sou casado e que tenho um casal de filhos? Como pode?<br />
Falou-me até das bebidas que você toma diariamente... Ele<br />
falou-me de coisa íntimas, que estão só em meus pensamentos!<br />
Disse-me também que não é esta doença que vai me matar,<br />
porque na realidade eu não estou doente, que se eu não procurar<br />
uma casa espírita posso desencarnar muito em breve,<br />
porque há em mim um espírito perverso no desejo de vingança.<br />
Ele pediu-me, Izabel, por a minha própria vida que eu vá<br />
o quanto antes, porque ele não pode e nem tem condições de<br />
segurar essa energia ruim por muito tempo. O que faço, Izabel?<br />
– Vamos procurar ajuda. Nos informaremos com alguém<br />
onde podemos encontrar um lugar sério para irmos.<br />
– Eu não gosto desse negócio de “macumba”, mas<br />
diante de tudo o que nos tem acontecido, me parece ser a<br />
única maneira, ou a nossa ultima tentativa. É o único jeito, e<br />
espero que esse não seja o último lugar, mas o único que<br />
temos para os nossos apelos neste momento. Agora eu estou<br />
sem aquelas crises, estou ótimo. Vou andar um pouquinho ali<br />
na praça para apreciar o movimento e pensar em como<br />
vamos fazer, porque no momento me sinto perdido, sem<br />
121
iniciativa. Fazer o quê? Que atitude tomar? Não vamos nos precipitar<br />
com as nossas palavras, pois na vida há dois caminhos: o<br />
ruim e o bom. Mas repito: não gosto desse negócio de macumba.<br />
Creio que já temos sofrido o bastante para não sabermos<br />
diferenciar o bem do mal. Que procuremos o bem, pois ele existe,<br />
assim como existem bons evangélicos e bons padres, haverá<br />
de existir também bons espíritas.<br />
– Tenhamos calma, pois certa estou João, que Deus está<br />
nos iluminando. Ele nos enviará o pão da misericórdia para nos<br />
saciar, assim como também indicará o caminho certo, por isso<br />
não devemos temer. E quando você for à praça não demore,<br />
para que eu não fique preocupada. Está bem? Por favor!<br />
Padre André<br />
Um jovem que por vocação optou pela religião católica<br />
para ser seu ponto de comunicação com Deus. Um homem<br />
religioso cuja herança era sua conexão sublime com as divindades<br />
da Natureza. Um homem que tem dotes exclusivos, por<br />
se sobressair de uma seleção conquistada por pouquíssimas<br />
pessoas sensíveis e extremamente refinadas. Entre eles não há<br />
competidores negativos que possam induzir-se ao sistema ruim.<br />
Padre André foi criado por pais adotivos na vida material.<br />
Uma família de dois filhos legítimos, perfazendo-se com<br />
ele e mais outros dois, quatro filhos. A união e a religiosidade<br />
que havia nesse lar eram intensas em luz entre os quatros<br />
filhos do casal, sendo dois legítimos e dois adotivos. Um deles<br />
se tornou um excelente médico, a filha uma das melhores<br />
psicólogas e o terceiro se tornou um bom pastor, voltado para<br />
o bem como poucos, de uma igreja evangélica que conduzia<br />
seu rebanho sempre para o bom caminho, aliviando pais de<br />
família que tinham filhos problemáticos por causa da bebida<br />
e das drogas, além do excelente Padre André.<br />
122
A filosofia de vida que possuíam era um modelo interessante,<br />
exemplos que deveriam ser rotineiros e seguidos pela sociedade<br />
humana. Por sermos seres racionais, que se dizem superiores,<br />
deveríamos nos prostrar diante de situações que outros<br />
praticam diante de nossos olhos e que pouco percebemos ou<br />
não queremos nos dar conta.<br />
Vamos nos igualar às andorinhas, que têm filhotes de<br />
várias idades. Quando os mais velhos iniciam seus vôos, a<br />
prova de gratidão que têm com os pais é regressar ao ninho<br />
para ajudá-los na criação dos irmãos mais jovens, que necessitam<br />
de alimento para também sobreviverem. É assim que<br />
as andorinhas constituem a família, sempre se auxiliando e se<br />
protegendo. Tudo isso é simplesmente uma comparação com<br />
a família do padre, que praticou e deu certo, pois foi desse<br />
modo que os filhos se ergueram na vida.<br />
Padre André foi um privilegiado por ter sido criado<br />
nesse seio familiar. Sendo ele o filho mais jovem, recebeu<br />
guarida e muito amor de pais e irmãos. Isso fez com que esse<br />
religioso, hoje em dia, divida seu pão com os irmãos, não<br />
negando ajuda a nenhum necessitado. Ele faz o que tem de<br />
ser feito para outrem não por caridade, mas por obrigação<br />
humana e solidariedade, pois para ele a caridade é vivificada<br />
por Deus. Talvez seja esse o motivo de Lídia nem mesmo<br />
conseguir pensar em algo errado.<br />
Na realidade, o padre tinha vibrações de espíritos que<br />
rondavam estradas, mas exclusivamente para socorrer vítimas<br />
em acidentes fatais. Essas vibrações, ou seja, esses espíritos<br />
socorriam almas de corpos recém-desencarnados, encaminhando-os<br />
para o mundo extrafísico com carinho e muito<br />
consolo. Lógico que para aqueles que aceitavam os espíritos<br />
socorristas ou os espíritos amigos.<br />
Padre André não sabia a altura que se encontrava sua<br />
mediunidade, muito menos lhe passava pela cabeça ter esse<br />
123
dom. Às vezes estranhava a si próprio por acontecimentos<br />
como o de João Eduardo, que acabara de vivenciar. Em seus<br />
momentos de fraqueza, tentava até se reprimir excomungando-se.<br />
No entanto, ao se colocar como uma pessoa compreendida<br />
na religiosidade, além da dedicação e clemência a<br />
Deus, ele se redimia, certamente para avaliar as situações<br />
estranhas ou fenômenos que ele presenciava. É claro que seriam<br />
maravilhas emanadas por Deus, pois se assim não fosse,<br />
jamais deixaria algumas pessoas felizes com os seus feitos,<br />
pois tudo que é bom e traz felicidade pertence a Deus, porque<br />
pertence ao bem. Às vezes acontecia alguma dessas situações<br />
em lugares não adequados, como no caso de João na<br />
igreja. Cite-se inadequado pela interpretação dos ignorantes,<br />
pois o caso de João acontecera no lugar exato.<br />
Padre André jamais deixou de buscar esclarecimentos<br />
quanto às suas dúvidas. Ele se aprofundava mais, tomando<br />
as atitudes que necessitava para desvendar o que na verdade<br />
havia de mistério.<br />
Após algum tempo de busca entre religiosos, religiões<br />
e estudos afins, o padre chegara à conclusão de que era um<br />
médium nato e que haveria de abraçar e cumprir sua abençoada<br />
missão. O que ele não sabia é que esse dom da espiritualidade<br />
era trazido de sua descendência, já muito antes de seus avôs.<br />
Isso foi verificado através de estatutos de sua arvore<br />
genealógica, guardados como relíquias por seus avôs paternos,<br />
mais tarde encontrados por ele e desvendados.<br />
Na praça<br />
Apos João caminhar por quase uma hora, resolve voltar<br />
e sentar-se no banco da praça próxima de sua casa. E eis<br />
quem estava sentado próximo a ele: Sr. José!<br />
124
– Boa tarde João, Como vai? Está com a aparência<br />
boa, com toda certeza você está bem.<br />
João, de imediato não reconhecera a voz. Após se<br />
virar para o lado, verifica quem é a pessoa que lhe surpreende<br />
e se alegra, pelo fato de desejar rever o Sr. José.<br />
– Boa tarde Sr. José, que prazer imenso em<br />
reencontrá-lo! Que surpresa maravilhosa! E o senhor não<br />
esqueceu o meu nome!<br />
– Mas por que eu haveria de esquecer o vosso<br />
nome?<br />
– Pessoas boas iguais ao senhor a gente não pode<br />
esquecer a imagem.<br />
– Eu, pela minha idade, até que poderia esquecer<br />
o vosso nome, mas o seu semblante jamais. Pelo que vejo<br />
você também não se esqueceu do meu nome, apesar de<br />
que José, Zé, Zezinho... Fica tudo igual. Se esquecer um<br />
nome, existe outro. Não é mesmo?<br />
João Eduardo estava tão emocionado com aquele<br />
velho senhor ali, se fazendo presente à sua frente e com<br />
tanta humildade, que as palavras não saiam de seus lábios,<br />
ele somente sussurrava.<br />
– É realmente fantástico! Graças a Deus, que maravilha!<br />
Eu estou muito feliz em vê-lo, Sr. José! Agora<br />
estou melhor ainda, bem melhor que há dois minutos passados.<br />
Gostei muito da sua presença e dos conselhos que<br />
me deu no outro dia, mas pensei que nunca mais o veria.<br />
– Você me dizendo que gosta de minha presença?<br />
Fico muito lisonjeado, porque o senhor não me conhece<br />
bem ainda. Sou um velho jovem muito arteiro, gosto de<br />
festas, de música e de piadas picantes.<br />
Ambos começam a sorrir. João Eduardo, sentado<br />
no banco, se levanta e precipitadamente vai a ele para<br />
um abraço. Ao aproximar-se tenta recuar, mas não havia<br />
125
tempo para retornar, pois os braços do velho homem, já<br />
abertos, esperavam pelo aconchego do seu novo amigo.<br />
– Aceite meu filho este abraço que você buscou, e<br />
que eu o receba com muito afeto e muito amor a Deus celestial.<br />
Seja bem vindo em meu coração. Posso lhe chamar de amigo?<br />
João, buscando-lhe os braços, pede para que ele se<br />
sente no banco da praça nem que fosse por um minuto apenas,<br />
por ter uma grande necessidade em falar-lhe.<br />
– Meu jovem senhor, o meu tempo será o vosso. Fiquemos<br />
na paz de Deus o tempo que nos for permitido.<br />
– Vamos combinar uma coisa? O senhor me chama<br />
de amigo e eu o chamarei de meu bom José. Posso? E o<br />
senhor me chamará de você. Então, vamos combinar da seguinte<br />
forma: nenhum de nós dois será chamado de senhor,<br />
porque na verdade senhor é o Pai que está nos Céus.<br />
– E lhe afirmo, estou muitíssimo honrado com esse<br />
seu modo, meu jovem.<br />
Sentados no banco da praça, João Eduardo, um homem<br />
prepotente, ambicioso e materialista, que somente pensava<br />
em cálculos, hoje, no entanto, carinhosamente sorri e se<br />
emociona ao dialogar com um senhor de palavras simples,<br />
porém singelas e cheias de candura. Quando é que ele se sentaria<br />
numa praça para conversar com alguém?<br />
Os ensinamentos alcançados pelo tempo fizeram sim,<br />
João Eduardo amadurecer e alcançar alguns conhecimentos.<br />
Agora, um João, que de tanto sofrer por se equivocar da vida,<br />
já não mais repudiava o próximo. Era um ser ainda cheio de<br />
falhas, mas partir dali com algumas virtudes. João sentia agora<br />
um espaço maior em sua vida. Modestamente forte, queria<br />
vencer em igualdade com o seu próximo, porque, mesmo<br />
estando consciente de sua mortalidade, o que ele desejava<br />
era vencer as sequelas da imoralidade, sendo, no entanto,<br />
autêntico até o seu último instante.<br />
126
– Meu bom José! Acontecera-me algo extraordinário<br />
que me deixou impressionado. Não sei o que o senhor irá<br />
pensar e nem sei como lhe dizer, mas tenho de lhe falar.<br />
– E o que foi que lhe aconteceu de fantástico, de tão<br />
extraordinário, João?<br />
Nesse dia, o velho José se põe a ouvir as lamúrias dos<br />
sortilégios que João estava enfrentando para sobreviver, como<br />
via de regra, para a sua evolução. João Eduardo ia elucidando<br />
ao velho homem o passado de sua vida ao mais recente acontecimento<br />
que lhe ocorrera, concluindo a sua história com o<br />
ocorrido entre ele e Padre André dentro da igreja.<br />
– Meu bom José, o padre me pediu para que eu fosse<br />
rápido à procura de alguém que pudesse me ajudar. Pelo fato<br />
de eu não acreditar em bruxaria ou coisa parecida, não tenho<br />
ânimo e nem mesmo faço idéia de onde buscar alguém que<br />
possa me auxiliar. Tenho medo de cair nas mãos de oportunistas,<br />
assim como já aconteceu, e as coisas só piorarem.<br />
– João, tudo o que há na Terra é criação Divina. Nós,<br />
com os nossos percalços, é que transmutamos, através da<br />
poeira de nossas mentes, coisas boas em malfazejas. Nada,<br />
meu amigo, pertence ao diabo. Diabos somos nós mesmos ao<br />
usarmos o exclusivismo e as nossas ganâncias. Quando temos<br />
más atitudes e falta de solidariedade, certamente que o<br />
diabo está conosco, ou que sejamos o próprio, porque Deus,<br />
em sua infinita bondade e amor por sua criação, não iria criar<br />
diabo com chifre e rabo e nos entregar a ele por condenação<br />
eterna. O que existe na verdade são bons e maus espíritos,<br />
cada um de acordo com seus atos ou pensamentos. O malfeito<br />
atinge, mas pega justamente em quem não tem Deus em<br />
seu coração, ficando exposto e vulnerável ao mal. Existem<br />
sim, claro que existem espíritos do mal, e eles são vingativos,<br />
abomináveis e sádicos. Mas só existe um meio para resolver<br />
127
tudo isso, que é tentar salvar esses espíritos, porque, por mais<br />
que eles não queiram ser ajudados, com certeza estão à procura<br />
de um lugar ao sol. E para quem está com pensamentos<br />
positivos e voltados para as coisas benignas, esta classe de espíritos<br />
avança, mas não consegue penetrar. É muito fácil afastálos,<br />
pois a oração para eles é o pior dos venenos, pois na composição<br />
da oração sempre há o amor. Para a esfera deles a oração<br />
é incômoda, prejudicial, pois seus principais aliados são o<br />
ódio e a vingança e, em alguns casos, a vingança dura por varias<br />
encarnações, pois cada caso é um caso.<br />
Em meio ao diálogo entre ambos, João Eduardo começa<br />
a perceber o grau de conhecimento e sabedoria de seu amigo,<br />
o “bom José”. Ouve de sua suave voz palavras fecundas e<br />
infinitamente formosas, que adentram no mais profundo de<br />
seu coração. Palavras segredadas em amor e fé.<br />
– Meu bom José, qual é a sua religião?<br />
– Isto no momento não importa, porque não quero lhe<br />
influenciar, como lhe disse da outra vez em que nos falamos.<br />
– O senhor falou em ganância. Então é pecado a gente<br />
ter as coisas, ou melhor, lutar para ter um bom dinheiro?<br />
– João, veja bem. Em primeiro lugar, o pecado não existe.<br />
Trabalhar, criar oportunidades para ganhar dinheiro ou para<br />
ficar rico, não é errado. Errado ou pecado, como queira, é esmagar<br />
o seu próximo com o poder, é pisotear as pessoas para<br />
vencer na vida, iludindo-as por vezes, para tomar-lhes os bens<br />
que a maioria conquistou de forma sacrificada e honesta. É a<br />
corrupção, agir com má-fé e usar de calúnia ou iludir as pessoas<br />
para levar vantagens. Isso sim é que acaba por atrasar a evolução<br />
do ser humano, tanto no plano terreno quanto no<br />
extrafísico, pois não existe efeito sem causa. A Lei de “Causa e<br />
Efeito” é uma das maiores leis, escolhida por Deus e colocada<br />
no Universo pra reger o homem encarnado e o homem em<br />
espírito (eterno), tanto neste plano como no espiritual. Por ser<br />
128
magnânima, funciona 100%. Quando ouvir alguém dizer que<br />
Deus vai castigar o indivíduo, isso pode se chamar de balela,<br />
pois se está levantando calúnia contra Deus ou, pode se chamar<br />
de ignorância, porque se Deus é amor, como pode Ele<br />
usar o ódio contra seus filhos ou a vingança? Não, isso não é<br />
possível e nem verdade. Agora, dizer que essa Lei criada por<br />
Deus traz resultados, isso sim é correto. Somos nós, meu<br />
amigo, que geramos o efeito criado por nossas faltas.<br />
A conversa se tornara muito participativa entre<br />
ambos, e não contaram horas nem cansaço. Naquele dia, o céu<br />
tinha um azul especial; as flores se mostravam espetaculares<br />
em perfumes e cores, afinal, era primavera e a vegetações acabara<br />
de renascer. Um frescor suave se delineava entre eles num<br />
cheiro agradável de leite materno. Quem sabe não seria a Mãe<br />
Natureza revidando-lhes a graça de suas palavras. De repente,<br />
o velho homem, o bom José, se levanta do banco para o<br />
momento do adeus.<br />
– Meu bom José, gostaria tanto que o senhor fosse à<br />
minha casa para fazer-nos uma visita. Eu, minha esposa e<br />
meus filhos ficaríamos muito felizes com a sua presença.<br />
– Agora meu amigo, você me deixou emocionado.<br />
Um dia, se Deus permitir, lá estarei com vocês para um café<br />
e uma boa conversa. Obrigado pelo carinho de seu convite.<br />
Mas não vou deixar de dizer-lhe que amanhã você terá visita<br />
em sua casa, e que lhe trará boas novas. Um casal, duas<br />
pessoas que se tornaram seus bons amigos, e que irão ajudar<br />
muito você e sua esposa. Desejo-lhe boa sorte, e tenho<br />
certeza de que terá.<br />
Ao chegar à sua casa, João é recebido com alegria<br />
por Izabel, já preocupada com ele.<br />
– Mas o que houve com você? Parece-me tão estranho!<br />
– É que tudo de bom tem nos acontecido, por isso<br />
estou feliz assim.<br />
129
– Mas o que houve de tão bom assim que você parece<br />
não querer me contar?<br />
– Eu lhe contarei minha princesa, com todos os<br />
detalhes.<br />
João Eduardo, ao chamá-la de “minha princesa”, fez<br />
com que Izabel se sentasse numa poltrona que estava ao seu<br />
lado e, derribando-se em choro, repetiu:<br />
– Princesa... Você nunca mais havia me chamado dessa<br />
forma, “minha princesa”!<br />
João se põe de joelhos frente a ela e a abraça, deitando<br />
a cabeça em seu colo e repetindo “minha princesa” várias<br />
vezes seguidas, acariciando-lhe o rosto e os cabelos, para num<br />
pranto, sussurrar que a amava.<br />
Passada a forte emoção que se abatera sobre eles, João<br />
conta a Izabel sobre seu reencontro com o amigo José.<br />
– Mas por que você não insistiu pra que ele viesse<br />
aqui em casa? Só assim poderemos conhecê-lo melhor, e deveras<br />
ele nos ajudasse.<br />
– Ele me parece um homem tão verdadeiro Izabel,<br />
que antes que a gente pense em algo para dizer ele já traz as<br />
repostas prontas em seus lábios, é incrível!<br />
– Que bom meu, meu...<br />
– João lhe interrompe e diz: – Vamos, tenha coragem<br />
e complete a frase, eu sei do seu amor por mim, mas preciso<br />
ouvir da sua boca ou do seu coração, minha amada.<br />
– Vou dizer-lhe, meu príncipe. É muito reconfortante<br />
eu poder lhe dizer estas palavras: Eu te amo, meu marido.<br />
Bem, eu convidei Anita e Oscar para jantar conosco amanhã.<br />
– Eu já sei.<br />
– Como assim, eu já sei? Eu não lhe falei nada!<br />
– Parece que alguém já me disse isso... Não foi você?<br />
Mas deixemos pra lá, isso agora não convém, não é mesmo?<br />
130
O jantar no dia seguinte<br />
Antes do jantar, Izabel pede ao casal se poderia fazer<br />
aquelas preces tão reconfortantes e formosas, que só eles<br />
sabiam fazer.<br />
– Com todo o prazer Izabel, – responde Anita.<br />
Silenciados pela voz de Anita, todos passam a ouvir<br />
atenciosamente suas palavras.<br />
– Senhor Deus, Tu, Esplendido e Supremo, que criaste<br />
o infinito Universo, que fizeste para a sequidão da terra a<br />
brandura terna das águas, para a vida ser fecundada com a<br />
carícia dos mananciais. Tu, Senhor, que sacia os corações de<br />
seus filhos com o seu amor... Tu, Senhor, que não permite<br />
jamais que caíamos no vazio da escuridão, tão funesta em<br />
seu escárnio, e que nos ampara em vossos braços. O senhor é<br />
misericordioso com estes seus filhos, neste lar.<br />
Eles, Senhor, lhes pedem o “pão”, o pão do amor fraterno.<br />
Anita estendeu as suas boas palavras em súplicas por<br />
alguns minutos mais, deixando a casa, suave e leve espiritualmente,<br />
e, durante o jantar todos sorriram.<br />
– João, como você está se sentindo? Você me parece<br />
bem! – exclama Oscar.<br />
– Do que me aconteceu na igreja até o momento<br />
presente, estou ótimo, não sinto nada.<br />
– Mas o que aconteceu com você na igreja? Você não<br />
nos contou...<br />
João conta a Anita e Oscar, com detalhes, tudo o que<br />
lhe acontecera. As atitudes de um padre que, em sinal de<br />
solidariedade, passou a ser visto pelos praticantes da igreja<br />
de uma forma antagônica.<br />
– Há outra coisa interessante também que tem ocorrido<br />
comigo, inclusive eu nem mesmo ainda comentei com<br />
Izabel.<br />
131
João Eduardo, ao usar essas palavras se emociona,<br />
abaixa o seu semblante e se cala. Izabel, ao aproximar-se dele,<br />
dá um beijo em seu rosto e lhe abraça.<br />
– Então nos conte “meu príncipe”! Veja, nós estamos<br />
juntinhos de você. Não estamos ao seu lado, estamos com<br />
você.<br />
Ali, silenciosos por um instante, apesar de não saberem<br />
o que João diria, ficam atentos, pensando na hipótese de<br />
uma crise que poderia atingi-lo. Izabel, para preencher aquele<br />
vazio que já incomodava a todos, se dirige aos visitantes,<br />
Anita e Oscar.<br />
– É verdade, eu até tinha me esquecido de suas crises,<br />
João. Vejam vocês, meu marido está ótimo! Ele está com<br />
outra aparência, vocês não acham?<br />
– Obrigado, minha princesa, pelo seu carinho. Não se<br />
preocupe com as crises que sinto, pois não será desta vez que<br />
elas virão para prejudicar esta noite maravilhosa que estamos<br />
passando junto de nossos amigos. O que tenho a dizer é que,<br />
além de você, eu sinto pela primeira vez que tenho amigos<br />
verdadeiros. Nem sei como me expressar, mas haverei de conseguir,<br />
tentarei. É que Anita e Oscar, meu novo amigo, o<br />
bom José e o padre André, apesar de tê-lo visto uma única<br />
vez, enfim, todos vocês me fazem forte e saudável, e a minha<br />
vontade de viver já começa a aflorar em meu coração. Sinto<br />
emoções boas, as quais nunca antes havia sentido. O mundo<br />
para mim, nos dias atuais, despertou-me para a vida e para a<br />
Natureza e, principalmente, para o meu lar, a minha companheira<br />
e os meus filhos. E para Deus. A vida me despertou<br />
também para amigos verdadeiros como vocês, e isso está acontecendo<br />
depois que Padre André disse tudo aquilo para mim<br />
Izabel.<br />
– É verdade, mas fique quieto João, você não deve<br />
falar estas coisas para Oscar e Anita, que eles podem não<br />
132
gostar. Izabel usa um tom de brincadeira ao expressar suas<br />
palavras e todos se põem a sorrir.<br />
– Vocês dois não vão deixar seus amigos curiosos,<br />
não é mesmo? – retruca Oscar.<br />
Então, João toma coragem e passa a narrar tudo o que se<br />
passou na igreja com Padre André, e também comenta sobre<br />
o seu novo amigo, o bom José.<br />
– Não sei bem como explicar, mas sinto que o ambiente<br />
está bom e que entre todos nós vocês terão muita alegria<br />
– comenta Oscar, feliz pelas novidades.<br />
– E é chegado o momento de Anita e eu contarmos<br />
um segredo nosso.<br />
– É o sexo do bebê? Não? Então, não me digam que<br />
são gêmeos!<br />
– Erraram. O que temos a dizer é que seguimos o<br />
Espiritismo, somos espíritas. Infelizmente alguns<br />
preconceituosos chamam de “macumba”.<br />
– E por que vocês mantiveram isso em segredo?<br />
– Não lhes falamos antes por alguns motivos. O primeiro<br />
deles é que não conhecíamos a religiosidade de vocês<br />
ou suas raízes religiosas. Deduzimos que vocês fossem católicos,<br />
talvez. Pelo menos foi o que você nos disse no hospital,<br />
Izabel, que João não dava importância a nenhuma religião,<br />
e tínhamos de respeitá-los. Além do mais, por ser o Espiritismo<br />
muito perseguido por incrédulos e profanos, tivemos<br />
receio de perder essa amizade que está começando. Nós<br />
esperamos, por respeito, que as pessoas venham ter conosco,<br />
em nossa filosofia religiosa. Inclusive, como no caso de vocês,<br />
pois a nossa finalidade é ajudá-los, e não influenciá-los. Essa é a<br />
revelação que temos para vocês.<br />
– E vocês frequentam algum local? – pergunta Izabel.<br />
– Eu e Anita frequentamos uma casa espírita<br />
maravilhosa. É um local para prestar assistência a crianças<br />
133
excepcionais. Se vocês nos permitirem e quiserem, um dia desses<br />
nós os levaremos a um local que acreditamos ser bom.<br />
Tenho certeza que vocês irão gostar.<br />
– Gostaríamos imensamente de conhecer esse local<br />
Oscar – afirma João. – Meu amigo, nós não somente queremos ir<br />
para conhecer, como também para que possamos obter as<br />
respostas às nossas perguntas, pois, pelo que Padre André me<br />
orientou, ele suportaria por pouco tempo aquela carga negativa,<br />
por isso necessito tomar as devidas providências o mais rápido<br />
possível. Sentimos que em nossos corações alguma coisa parece<br />
nos despertar para esse misterioso mundo que tão próximo de<br />
nós se faz agora. Queremos conhecer porque para nós é diferente<br />
e parece bom. Nós queremos e desejamos ir com vocês, não<br />
importa onde.<br />
– É um centro espírita pequeno e muito humilde, próximo<br />
daqui – orienta Anita.<br />
– Mas eu tenho medo dessa coisa de alma ou espírito –<br />
diz Izabel, aflita.<br />
– Izabel, esses lugares existem para ajudar as pessoas<br />
aflitas a combater o mal que nelas estão. Esse ambiente onde<br />
queremos levá-los é um lugar limpo, onde vocês se sentirão bem.<br />
É um lugar onde Deus está presente, porque lá se ouvem muitas<br />
orações e palavras de bom tom. O que realmente as pessoas de<br />
lá desejam é ajudar ao próximo com seus bons conselhos. Vamos<br />
lá e vocês verão com seus próprios olhos que é um lugar<br />
humilde e maravilhoso. E se por acaso não gostarem, sairemos<br />
imediatamente. Está bem?<br />
João e Izabel aceitam o convite dos amigos para no dia<br />
seguinte conhecer a pequena casa de caridade.<br />
134
Acalanto<br />
Depois de uma noite tranquila, onde nascera uma<br />
calmaria naquela família, tudo ali emanava felicidade. João<br />
Eduardo e Izabel tinham motivos; bastava um olhar entre<br />
eles para que suas faces transbordassem de alegria e seus lábios<br />
sorrissem. Na noite anterior, Anita e Oscar se despediram<br />
por volta de 11 horas. Após os amigos partirem e enquanto<br />
os pequenos dormiam, os dois se dirigiram a uma varanda<br />
larga onde havia algumas cadeiras de encosto. Ali eles<br />
se sentaram para apreciar por alguns minutos o vácuo que<br />
possuía a noite com suas estrelas. Apreciavam a majestosa<br />
obra do criador: o silêncio, a suavidade do vento, o belo e<br />
triste cantar de uma ave noturna, cuja voz se explanava em<br />
saudosismo e amor. E beijam-se com os lábios úmidos e trêmulos.<br />
E se amam como adolescentes, como pela primeira<br />
vez. Até chegarem ao êxtase, completando o ciclo do prazer<br />
absoluto da arte de fazer amor com as bênçãos de Deus, enquanto<br />
o aroma agradável da flor dama-da-noite se encarrega<br />
de completar aquele momento único que só pertencia a ambos.<br />
Logo após vem o cansaço e o sono tranquilo e reparador,<br />
dando uma pausa para o acalanto daquelas almas. Mas antes<br />
de os dois irem para seu repouso, João diz a Izabel que o<br />
velho amor acordou, e Izabel lhe beija com ternura.<br />
O convite<br />
Após aqueles dois encontros na praça com seu recente<br />
amigo, Sr. José, João Eduardo o convida para ir à sua casa<br />
fazer-lhes uma visita, pois sua esposa teria imenso prazer em<br />
conhecê-lo. O bom José, envaidecido com a forma amistosa<br />
de seu amigo, se rende ao seu pedido dizendo-lhe que poderia<br />
marcar o dia, pois prontamente ele estaria lá para alguns<br />
135
minutos de conversa e para a conquista de uma nova amizade.<br />
Ambos ficam felizes.<br />
E foi num domingo, por volta das 10 horas da manhã,<br />
que Marília, a empregada, anuncia ao casal João Eduardo e<br />
Izabel que na sala de espera havia um senhor bem vestido<br />
que gostaria de falar-lhes. Espontaneamente, ambos vão<br />
recebê-lo.<br />
Um pouco mais adiante segue Izabel, logo reprimida<br />
por João que pede a ela que espere. Ela sorri, pois fora automática<br />
a pressa que sentiu.<br />
Na sala, Sr. José, logo que os vê, se precipita para<br />
cumprimentar o casal.<br />
– Como vai o senhor, meu bom José?<br />
– Muito bem, meu filho, apesar de um pouco cansado<br />
pela idade. Mas o meu espírito está muito bem.<br />
– Meu bom José, esta é minha esposa, de quem lhe<br />
falei. É a pessoa que imensamente gostaria de conhecê-lo, a<br />
minha Izabel.<br />
– Meu amigo, quem está em minha frente e a quem você<br />
chama de esposa, na realidade é um lindo diamante, um fragmento<br />
de seu coração. Fico envaidecido em conhecê-la, tão bela<br />
senhora.<br />
– Sinceramente meu bom homem, suas palavras são<br />
sutis e doces. Porém, não completas.<br />
– Mas por que você diz que ele, em suas palavras, não<br />
foi completo? – pergunta João.<br />
– Não foi completo porque quero deste ancião um<br />
forte abraço, e que ele também me chame de filha.<br />
Todos sorriram com o suspense que Izabel, à primeira<br />
vista, tinha deixado naquela sala.<br />
– Pois sim, minha filha. Mesmo tendo nos conhecido<br />
neste instante, me sinto lisonjeado com sua delicadeza, e penso<br />
que a partir de agora faço parte desta família. Os meus bra-<br />
136
ços estão fracos materialmente, mas o meu abraço vem do coração.<br />
Deus os abençoe e fortaleça a ambos.<br />
Após os abraços ganhos, os três se sentam e, bastaram<br />
alguns poucos minutos para que fossem anunciados também,<br />
– João, não se esqueça que o dia ainda não terminou<br />
para você, recorda Izabel ao seu marido.<br />
– E você pode me dizer por quê? Perdoe-me, amor, é<br />
que eu trabalhei tanto hoje que não estou me lembrando!<br />
– São exatamente 7 da noite, e você terá de ir à casa<br />
espírita às 8 horas, pois há uma consulta marcada para você,<br />
já se esqueceu?<br />
– É verdade! Estou tão cansado que já ia me esquecendo.<br />
Vou tomar uma boa ducha e em seguida irei até lá.<br />
Você não irá hoje comigo?<br />
– Mas é claro que sim, essa batalha nos pertence, meu<br />
amor, é a nossa recuperação. E, graças a Deus e as orientações<br />
de um mentor espiritual que se manifesta por meio do<br />
médium, o irmão Lazaro, essas consultas têm nos ajudado muito.<br />
É justamente com essa ajuda que estamos melhorando dia a<br />
dia, e estamos indo muito bem.<br />
Lídia no Plano Espiritual<br />
– Um bando de cafajestes, assim como eu, agora em<br />
pele de cordeiros, livres e leves. Já pensou? Eu, transformada em<br />
capeta e com direito a rabinho e chifrinho! Uma prostituta de<br />
saia curta, mal amada e sem direito a virar anjo, porque sou<br />
debochada. Sem direito a uma vingançazinha, sem direito a nada!<br />
Mas que petulância, vocês não acham? Eu, ou melhor, nós, não<br />
vamos perder essa batalha, pois seremos persistentes. Já que estou<br />
perdida, não tenho mais nada a zelar e seguiremos em<br />
frente. Prontos para a guerra?<br />
137
Lídia e Anita<br />
– Olá amiga, como você está?<br />
Anita, assombrada, não sabendo se era sonho ou realidade,<br />
se sentia meio dormindo e meio acordada. Como se estivesse<br />
passando por uma hipnose, senta-se à cama e vê que em<br />
seu quarto há sombras foscas em meio a um ar rarefeito que<br />
emanava um cheiro estranho de gases carbonizados e enxofre.<br />
Em meio àquela fumaça, surge uma sombra em forma de corpo<br />
que, em sua intuição, lhe parecia Lídia em fortes tons escuros.<br />
– Lídia! É você mesma quem está aqui?<br />
Lídia, de forma telepática, começa a se comunicar com<br />
Anita e lhe diz:<br />
– Acalme-se. Faça de conta que você está sonhando,<br />
minha cara. Tentarei ser rápida; vim aqui só para lhe dar um<br />
aviso, sua idiota. Fique fora do meu caminho, pois você me<br />
traiu e agora está cinicamente do lado de João Eduardo. Pense<br />
nesse pivete que você espera com ansiedade, pois você pode se<br />
arrepender, sua pilantra traiçoeira! Eu quero aquele patife do<br />
João cadavérico, seco e gritando aos meus pés! Eu o quero aqui<br />
comigo, não me atrapalhe e nem fique no meu caminho, estou<br />
lhe avisando! Onde vivo agora não se fala em piedade. Aqui, a<br />
sua desgraça é a nossa conquista minha cara, portanto não se<br />
meta, afaste-se da casa daquele pilantra.<br />
Anita acorda chorando e aos gritos daquele pesadelo<br />
horrível.<br />
– Meu Deus! Acho que não foi pesadelo, não. Minha<br />
irmãzinha, o seu estado está deplorável. Por que, Meu Deus?<br />
Ouça-me, Lídia, a luz divina é imensa e não faz sofrer. Senhor<br />
Jesus, tenha misericórdia dessa alma que cegamente se vê num<br />
mar de ódio, cuja violação de Sua palavra ali existe. Piedade<br />
senhor, tende piedade! Pois ela está no escaninho da morte<br />
eterna!<br />
138
Ouça o meu pedido, Lídia! Por Deus minha irmã, eu a<br />
amo muito e lutarei para que você um dia sinta a luz em seu<br />
coração. Sei o que você sofreu, mas não é justo que agora você<br />
se entregue aos seios da escuridão. Por nosso Senhor Jesus, ouça<br />
o meu pedido minha irmã, e tire esse ódio do seu coração.<br />
Anita vivia sozinha em sua casa e sua gravidez era recente.<br />
Mesmo assim, acordara aos prantos e gritos por estar totalmente<br />
perplexa diante do que vira e ouvira. Sua certeza, pelo<br />
fato de ter assiduidade aos ensinamentos de sua religião, é a de<br />
que fora real a sua visão. Por um instante, chorou a saudade de<br />
sua grande amiga... Chorou o destino de Lídia, que ela mesma<br />
escolhera. Tomada pela insônia e preocupada com a situação,<br />
uma pergunta surge em seu coração.<br />
– Como posso abandonar João Eduardo e Izabel? E<br />
Lídia, meu Deus? Que providências eu deverei tomar?<br />
Os comparsas de Lídia, ouvindo as lamentações de Anita,<br />
começam a escarnecer com seus deboches o sofrimento da amiga<br />
terrena. As palavras de Anita repercutem no plano espiritual,<br />
deixando Lídia calada. Mas aqueles espíritos maldosamente corrompiam-na<br />
com palavras violentas e repudiáveis.<br />
– Veja Lídia, depois que você se danou toda, vem essa<br />
santinha para lhe iludir e querer lhe levar para o “bom caminho”?<br />
Sai fora dessa, pois você já não tem mais salvação. Eles<br />
que se danem! Vamos ficar perto dela para que esse filho não<br />
nasça; depois a gente conta para eles que fomos nós que fizemos<br />
isso. Garanto-lhe que ela vai sair do nosso caminho.<br />
De repente, com um grito forte, Lídia pede para que<br />
todos se calem, pois ali quem dava as cartas era ela, e o que<br />
estava em pauta era a sua causa.<br />
– Hoje fui convidada para ir até o centro colocar as coisas<br />
em pratos limpos no que se refere ao João e a Izabel. Nós<br />
iremos todos a esse lugar, para bagunçar e, quem sabe, até trazer<br />
o meu troféu: João Eduardo.<br />
139
O mentor espiritual que prestava cuidados a João Eduardo,<br />
disse-lhe que nesse dia ele não poderia se ausentar da reunião,<br />
pois teria ali uma surpresa não muito agradável, porém,<br />
necessária.<br />
João Eduardo, confuso e ao mesmo tempo amedrontado por<br />
causa de sua saúde, pede ao mentor para que ele antecipe o assunto.<br />
Infelizmente, não lhe foi permitido saber antecipadamente<br />
o que iria acontecer naquela noite. O mentor simplesmente pediu-lhe<br />
que tivesse calma; bastaria que ele soubesse que seria em<br />
prol de sua saúde e de sua felicidade. Só aí então, é que João<br />
acalmou-se, porque não sofrera mais aquelas crises, que lhe pareciam<br />
mortais.<br />
Anoitece e os corações de João Eduardo e Izabel<br />
disparam.<br />
– João! Por favor, acalme-se. Por que tanta ansiedade?<br />
Tenha fé em Deus e nos mentores espirituais, pois todos eles<br />
estão a nosso favor.<br />
– Eu sei meu amor, assim como sei também que você<br />
está tensa. Vamos para o centro, lá eu ficarei mais tranquilo.<br />
Izabel, em seu sexto sentido, chegou até a pressentir que<br />
aquela surpresa teria algo a ver com Lídia, mas não quis contar<br />
nada a João Eduardo para que ele não se aborrecesse ou se amedrontasse<br />
ainda mais. Ao chegarem ao centro espírita, foram<br />
recebidos com afabilidade por Irmão Lázaro, que ao cumprimentar<br />
Izabel, lhe diz:<br />
– Minha irmã, estou certo de que você já sabe do que se<br />
trata.<br />
– Irmão Lázaro, para que eu me certifique desse pensamento<br />
que está fixado em minha mente, tem algo a ver com...<br />
– Sim, minha irmã, tem tudo a ver com Lídia.<br />
– Meu Deus! Como pode?<br />
– Tenhamos calma e fé, irmã Izabel. Nós conseguiremos,<br />
com as graças de Deus e o auxilio do espaço. Nós temos<br />
140
um grupo de espíritos que estão lutando a nosso favor.<br />
– Que Deus tenha misericórdia de nós e de Lídia.<br />
A reunião entre Lídia e João Eduardo<br />
Lídia é levada à presença de João e, por volta das 8 da<br />
noite, tem início a reunião. São poucos ainda os dias de frequência<br />
e participação de João e sua esposa naquela casa, porém, já recebem<br />
orientações de Entidades do plano espiritual.<br />
Um dos mentores pede para que João se coloque frente<br />
a eles. Logo se fecham em forma de círculo alguns médiuns<br />
preparados espiritualmente para equilibrar as energias negativas<br />
que Lídia poderia trazer consigo. Lídia, pelo pouco tempo de<br />
desencarnada, já trazia em si camadas negativas fortes de outras<br />
encarnações que, unidas à última, lhe deixara mais potente no<br />
campo oposto à luz. Ela, pelo contrário, não sentia medo algum<br />
de estar ali presente. O que ela sentia era uma vontade<br />
imensa de comparecer o quanto antes para mostrar, perante todas<br />
as pessoas, sua ira e seus deboches.<br />
Bastou, no entanto, chamá-la pelo nome que, de repente,<br />
o que se viu foi uma médium contorcer-se no chão, aos gritos<br />
e fortes gargalhadas.<br />
– Quem és tu, minha irmã? O que vens fazer aqui? –<br />
pergunta o mentor espiritual. – Se veio em nome de nosso Senhor<br />
Jesus Cristo, peça e receberás.<br />
A jovem mulher, tomada pelo espírito, tenta reprimir<br />
as palavras que lhe chegam aos lábios, porém, a força e a ousadia<br />
daquele espírito eram tamanhas que logo a fizeram perder quase<br />
todos os sentidos para que pudesse passar, totalmente a seu gosto,<br />
sua suja e devassa mensagem.<br />
– Estou aqui não é porque quero, mas porque imensamente<br />
desejo! Há, há, há... Tenho sede, muita sede de vingança.<br />
Quem sou eu e o que venho fazer aqui? Pergunte a essa pilantra<br />
141
traidora! – e aponta para Anita. Ao mesmo tempo, olha para<br />
Izabel com ódio...<br />
– Eu não lhe disse sua pilantra, para você sair de perto<br />
desse canalha? – e aponta para João. Em seguida, olhando para<br />
Izabel, Lídia continua.<br />
– A sua intuição... Por que você trouxe o seu tão amado<br />
cafajeste até aqui hoje? Coitados de todos vocês, pensam acreditar<br />
em uma força celestial para ajudá-los, sendo que o que vim<br />
fazer aqui, jamais será barrado.<br />
– O mentor espiritual responde: – E o que você, minha<br />
irmã, veio fazer aqui de tão importante para tanto escândalo?<br />
Será que não vê que aqui é uma casa de Deus, e que na casa de<br />
Deus o poder é tão infinito que jamais as suas forças irão predominar?<br />
– Bem, para que todos saibam, para que não paire nenhuma<br />
dúvida e para que meu nome se perpetue entre vós, eu<br />
me chamo Lídia, e trago comigo uma grande legião, disposta a<br />
tudo.<br />
Enquanto algumas pessoas no recinto se sentiam amedrontadas<br />
e tremiam pela cena ali exposta, Lídia escarnecia com<br />
o seu infame sorriso de desventura.<br />
– Eu não venho em nome de Jesus, estou aqui por ordem<br />
total do capeta. O que eu venho fazer aqui? Vocês ainda<br />
me perguntam? Venho buscar o que é meu por natureza, e certamente<br />
hoje levarei aquilo que a mim pertence.<br />
Nesse momento, João começa a ter uma forte crise e é<br />
socorrido por uma entidade conhecida como Preta-Velha e também<br />
por Irmão X.<br />
– Mas o que é que lhe pertence?<br />
– O meu amante. Ele é o meu homem. O meu desejo é<br />
levá-lo magro e seco, assim como uma folha em decomposição.<br />
Esquelético, frio, acabado. Mas eu resolvi e não vou adiar mais.<br />
Eu o levarei hoje mesmo comigo. Veja suas crises! As suas dores<br />
142
são as minhas dores, são as dores que me fizeram partir desta<br />
vida terrena para o inferno, e já que estou condenada...<br />
– A irmã não tem essa ordem e nem tampouco esse<br />
poder. Esse poder, minha irmã, só cabe a Deus e a mais<br />
ninguém.<br />
– Bem, se for assim, então veremos. Eu, de minha parte,<br />
não tenho tempo a perder.<br />
A médium que estava em transe e possuída por Lídia,<br />
começa a jogar-se no chão de uma forma que ninguém conseguia<br />
segurá-la. De repente, outro médium é colocado em estado<br />
calamitoso. Logo após outro mais, até que, já não tendo mais<br />
condição alguma de assegurar nada, o mentor pede auxílio às<br />
forças divinas para sustentá-los naquela atribulação.<br />
Todos os que estavam em transe e possessos se acalmam<br />
e caem ao chão. Num instante, um grito muito piedoso salta<br />
entre as pessoas que ali estavam.<br />
– Meu Deus! Estou morrendo!<br />
Naquele dia, encontravam-se no centro espírita por volta<br />
de 50 participantes. Por estarem todos juntos e pelo fato de o<br />
ambiente ser pequeno, foi só depois de alguns instantes que perceberam<br />
a ausência de João Eduardo no círculo feito por eles,<br />
pois Lídia o havia induzido a sair daquele recinto para ficar totalmente<br />
exposto às suas energias. Porém ela não conseguiu, mas<br />
permitiu que sua legião dele se apossasse, para que não fosse<br />
admitida a entrada da proteção divina. Ali estava um homem<br />
mórbido, esmaecido, com traços da morte em seu semblante<br />
cadavérico. Algumas pessoas ali choravam, temendo que o pobre<br />
homem tivesse morrido.<br />
Imediatamente, um médium veio para socorrê-lo e,<br />
quando o amparou em seus braços, ele se lamentou, dizendo<br />
que era tarde demais. Ele acreditou que João Eduardo estivesse<br />
morto.<br />
143
Izabel fica estática com o que acaba de ouvir.<br />
– Não! Não pode ser verdade!<br />
Amparada por Anita, ela repetia palavras ingênuas e tristes...<br />
– Não! Não pode ser verdade. O meu João não está<br />
morto! Eu não acredito! João, os nossos filhos, o nosso lar! Eu<br />
não posso ficar sozinha, sem você!<br />
Anita pede-lhe que se acalmasse porque, para Deus, nada<br />
era impossível.<br />
– Eu não acredito que o meu esposo, o meu companheiro<br />
tenha me deixado. Não! Isso não pode ser verdade!<br />
Em meio àquela cena, uma das médiuns grita em voz de<br />
prazer e êxtase:<br />
– Vamos embora, meu homem, você agora será somente<br />
meu. Saia desse corpo, porque ele já não lhe pertence. Vamos<br />
embora.<br />
– João, com a cabeça deitada no colo de Izabel, recebia<br />
em seu rosto as lágrimas da mulher amada.<br />
Naquele dia, Sr. José ou o “bom José”, como era chamado<br />
por João, não deveria ter se atrasado, mas ocorreu-lhe um<br />
imprevisto e somente de surpresa é que todos ali presentes ouviram<br />
uma voz de quem acabara de chegar àquele ambiente, dizendo:<br />
– Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo!<br />
Todos ouviram a voz suave de um homem de 94 anos e<br />
muito experiente pela sua idade, pelos seus conhecimentos e, principalmente,<br />
por toda a caridade que já praticara neste mundo.<br />
– Bendito e louvado seja o nome de Nosso Senhor Jesus<br />
Cristo!<br />
Todos, numa única voz, respondem.<br />
– Para sempre seja louvado o nome de Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo!<br />
– Meus queridos irmãos, o nosso amigo não está morto,<br />
está somente desfalecido. Sua energia está sendo sugadas por<br />
144
espíritos vampirescos e estão sendo emitidas energias ruins pelos<br />
espíritos que o estão atingindo. Mas nós estamos com ele e, se<br />
cada um de nós tiver fé viva em nosso bom Deus, poderemos<br />
emitir energias boas em forma de ectoplasma para repor o<br />
ectoplasma dele, que esta sendo sugado por esses espíritos maléficos.<br />
Essa corrente maligna será retirada desse irmão e do nosso<br />
meio, mas isso depende de nós. Tenhamos fé e muita concentração.<br />
Oremos.<br />
– Sr. Deus! Se for digno de nós aqui presentes, desejamos<br />
acabar com o sofrimento deste irmão. Se vossos desígnios<br />
estiverem ao final desta prova, permita-nos que falemos com<br />
autoridade a estes espíritos trevosos e sofredores, e com autoridade<br />
peçamos a toda legião de espíritos do bem o auxilio direto,<br />
e que estes irmãos sejam conduzidos a esferas transparentes e<br />
tenham a oportunidade de conhecer o caminho que conduz à<br />
Luz do Senhor, nosso querido Pai. Bom pai! Não permitais que<br />
pereçamos diante destes espíritos revoltosos e vingativos, porque<br />
a revolta e a vingança não prospera, mas atrasa a boa evolução<br />
dos irmãos que procuram um lugar ao sol, pois todos os<br />
espíritos revoltosos ou não, são frutos de vossa criação e nossos<br />
irmãos.<br />
Neste momento lhe pedimos por pão, o pão da vida. A ti<br />
Senhor, que com o Vosso amor nos criou, pedimos por estes espíritos<br />
que, enfatizo, são nossos irmãos e estão perdidos em seus<br />
devaneios ou iras psíquicas, se achando donos da verdade. Faça<br />
Senhor, com que saia de Vossas Dadivosas mãos, o orvalho de<br />
vossa existência sobre este vosso servo, para que ele, neste instante,<br />
receba em seu corpo, retirando todos os eflúvios maléficos que<br />
nele faz estada. E pedimos também, aos nossos guerreiros da luz,<br />
que tenham força total para nos amparar neste momento de total<br />
angustia. Misericórdia, Senhor Deus, é o que vos pedimos. Não<br />
deixe Senhor, que este vosso servo caia nos braços da vingança,<br />
pois se for para ele cair, que caia senhor, em vossos braços.<br />
145
Em nome de Jesus Cristo eu vos peço, Pai amado, que<br />
este nosso irmãozinho receba em seu corpo os bons eflúvios de<br />
nossos espíritos amigos e protetores. Peço também, com autoridade,<br />
que neste momento, se retire deste corpo, toda e qualquer<br />
ligação ruim que nele possa estar. Eu ordeno, em nome de<br />
Jesus, e peço aos nossos soldados guerreiros da luz que nos amparem.<br />
O velho homem, assim como Jesus em suas curas, soprou<br />
os ouvidos de João que, num instante abriu os olhos, começando<br />
a mover-se ligeiramente ano chão e a soltar uma grande<br />
gargalhada. As pessoas que estavam próximas dele se afastam,<br />
pois se assustaram com a horrível cena que acabavam de presenciar.<br />
Quem conhecera a Lídia poderia até dizer que houve<br />
uma mutação naquele corpo, de homem para mulher. Era realmente<br />
assustador ver João Eduardo totalmente transfigurado.<br />
O bom José pedia para que todos ali presentes formassem<br />
um elo em oração, para que fosse retirada a legião de maus<br />
espíritos nele presente. Auxiliado pelos guardiões do espaço,<br />
acorrentaram e expulsaram todos aqueles espíritos diabólicos<br />
quando, somente um deles, Lídia, aquela alma perniciosa, pede,<br />
por um instante a mais, para dizer, através dos lábios de João<br />
Eduardo.<br />
– Diga minha irmã, o que queres – pergunta o bom<br />
José.<br />
– Só quero, ao sair deste corpo, levar tudo o que lhe<br />
pertence. Vocês não têm o direito de impedir o que estou fazendo.<br />
É olho por olho e dente por dente. O que esse homem fez<br />
comigo na vida terrena, só posso revidar dessa forma. Infelizmente,<br />
parece-me que por enquanto eu não posso terminar o<br />
que comecei, porque o meu corpo espiritual parece estar em<br />
chamas com essas energias que todos vocês estão jogando em<br />
mim. Vocês são uns desventurados, assim como eu! Anita!<br />
146
Tanto que eu lhe pedi para não ficar contra mim!<br />
– Minha Lídia, eu a amo tanto! Você não está totalmente<br />
perdida em sua vida espiritual. Veja minha irmã, quanta luz<br />
cintila ao seu redor! O seu corpo está começando a se deformar...<br />
Olhe para os seus companheiros... Saia desse umbral! Eu<br />
lhe imploro, em nome de Jesus. Saia dessas trevas, pois lhe queremos<br />
juntinho de nós!<br />
– Prefiro o inferno! Prefiro me ver transformada em<br />
monstro. Quero escandalizar e desordenar quem eu puder, justamente<br />
para não ficar sozinha. Posso até ter perdido esse confronto,<br />
mas criarei novas forças para retornar mais potente ainda.<br />
– Eu lhe digo Lídia, que falas assim pelo ódio que está<br />
ressequido em seu coração. Mas Deus lhe relevará um dia suas<br />
palavras e você ira reconhecer quão bela, sublime e eterna é a<br />
Luz Divina! É tão bom estar do lado de cá sem ódio, minha<br />
querida amiga. Veja você, abandonei a ideia de ir atrás do meu<br />
ex-namorado e hoje me sinto feliz sem ele.<br />
Momentaneamente, um grito surge nos lábios de um<br />
médium ainda jovem. Um grito atinado e rebelde, a que todos<br />
ali presentes se apiedam. Surge naquele momento outra cena:<br />
uma pequenina luz que algumas pessoas mais sensitivas puderam<br />
observar. Estava ali, sob aquela luz, a mãe de lídia, a única<br />
pessoa a quem Lídia amou de todo coração, e que se fora quando<br />
Lídia ainda era uma adolescente. Naquele momento, sua<br />
mãezinha teve a grande e única oportunidade de comunicar-se<br />
com sua filha Lídia, pois ela estava em um lugar de luz. Então,<br />
para não perder tempo, ela diz:<br />
– Lídia, minha filha querida. Após tantos anos lhe encontrei<br />
e não lhe deixarei mais. Por amor vou até os confins<br />
com você, e bem que você poderia aproveitar esta oportunidade<br />
e seguir-me ao lado destes mentores, porque deste lado em que<br />
estou tudo é tranqüilo, tudo é paz. Estes irmãos são dedicados e<br />
147
solidários, mas, se for o caso, posso ir para esse umbral só para<br />
estar contigo. Nunca mais vou lhe deixar minha filha querida, e<br />
o que pedimos ao Pai ele nos concede. Venha! Eu te amo! Você<br />
é fruto de uma grande história de amor. Venha comigo e nenhum<br />
mal irá lhe acontecer, eu garanto. Além do mais, eu devo<br />
isso a você pelo total desempenho que teve quando eu estava no<br />
leito de morte. O seu desempenho foi fantástico na tentativa de<br />
salvar-me da morte, e isso só não foi possível porque minha<br />
hora havia chegado. Mas após ser socorrida por estes sábios Espíritos<br />
de Luz, me acho em um lugar maravilho. Venha minha<br />
filha querida, eu te amo e sei do seu amor por mim. Venha ver<br />
como o amor e a solidariedade transformam o espírito para<br />
melhor.<br />
Algumas pessoas, após o ocorrido, perceberam em seus<br />
aguçados sentidos que Lídia, ao sair do corpo de João Eduardo,<br />
lhes dera a impressão de estar tirando dele toda uma roupagem<br />
falsa em formato sombra, para em seguida estender a mão para<br />
sua doce mãe, que caminhava a passos lentos e com um olhar<br />
brando. Cabisbaixa, amparada pela mão e pelo colo que acalenta,<br />
Lídia foi encaminhada pelos bons mentores para uma clínica<br />
e, após sua recuperação, para uma escola espiritual.<br />
Lídia segue o seu caminho, um caminho inexplicável<br />
por parecer não haver nele destino algum que a levasse a um<br />
ponto final. Nela um vento soprava para limpar seu perispírito,<br />
trazendo às pessoas o seu odor, um perfume dulcificado e suave,<br />
calcinado pela transfusão de amor.<br />
Lídia partira, caminhando a passos lentos para uma jornada<br />
de luz.<br />
Uma legião de espíritos benfeitores, adentrando àquele<br />
ambiente, pede ao mentor para que as portas e as janelas fossem<br />
abertas, que todos ali presentes retirassem dos pés os seus calçados<br />
e que se mantivessem em silêncio e sintonizados com Deus<br />
e os bons espíritos de luz, por necessitarem fazer uma limpeza,<br />
148
etirando dali todas as impurezas deixadas pelos espíritos<br />
atordoadores.<br />
Seguem-se alguns dias. Izabel, sentada em uma cadeira<br />
que havia nos fundos de sua casa, passa a observar a beleza e a<br />
tranquilidade que havia ao seu redor. Ela não queria pensar mais<br />
no passado e em tudo o que aconteceu. Porém, não podia ainda<br />
se ocultar, porque em seu pensamento Lídia ainda se fazia presente<br />
e ela acreditava que não poderia deixá-la pra trás.<br />
De alguma maneira, Izabel e o grupo da casa espírita<br />
tinham que tomar uma atitude séria, porque Lídia não poderia<br />
mais seguir o caminho da vingança que cegamente premeditara.<br />
Izabel passou a compreendê-la e a amá-la após todo o sofrimento<br />
por que passara, para ela agora bem esclarecido e um grande<br />
aprendizado. Mas, como estará agora Lídia? Só o tempo dirá<br />
Muitas sessões foram feitas em prol da família de João<br />
Eduardo, mas com um segmento mais direcionado a ele, pois<br />
acreditavam que a sua doença poderia ser totalmente espiritual.<br />
Lídia, através de um impulso, acreditava-se que conscientemente<br />
tivera pena de João, pois levara consigo a carga do seu<br />
perispírito, que se quisesse poderia ter deixado com ele. Dentro<br />
da espiritualidade, pode-se dizer que Lídia era obsedada ou influencia<br />
por aquela gang, revoltada e com muita vontade e força<br />
para realizar suas façanhas do mal.<br />
O que Lídia fez, sem perceber, foi obter para si um raio<br />
de luz que a iluminava, por intermédio dos mentores de sua<br />
mãe.<br />
Lídia no Plano Espiritual<br />
A ala dos quiumbas, na Espiritualidade é considerada<br />
um dos níveis mais baixos dessa esfera. Nessa classe, mesmo<br />
sendo considerados malignos, existem espíritos de vários graus.<br />
149
A classe mais pesada supõe-se que seja daquelas almas que, de<br />
tão maléficas e perversas, chegam até a deformar o próprio<br />
perispírito, transformando-se em formas monstruosas horríveis.<br />
Outros, pela tamanha desordem que podem cometer entre si e<br />
com a humanidade, permanecem acorrentados. Uma outra classe,<br />
chamada de “obsessores”, são espíritos vingativos e vadios, que<br />
em suas desordens praticam calamidades como, por exemplo,<br />
praticar o mal por vingança, vagando pelo plano terrestre e trazendo<br />
depressão, angústia e decadência para as famílias. Mas essa<br />
aproximação só se faz possível quando as pessoas estão fora da<br />
sintonia com Deus, ou, quando visam só o dinheiro e a ganância,<br />
esquecendo do seu próximo e dos entes queridos que se<br />
foram para o mundo espiritual. Mas se a palavra de Deus afirma<br />
que ele não tem nenhum filho a perder, com certeza cabe aos<br />
líderes religiosos a incumbência de ter como objetivo lutar no<br />
intuito de conduzir ou resgatar essas almas perdidas para Deus.<br />
Portanto, para que isso seja possível e, quando estes espíritos se<br />
fizerem presentes em centros espíritas ou igrejas de qualquer<br />
denominação, devemos tratar essas almas com amor e solidariedade,<br />
porém, com rigor e muita convicção.<br />
São almas perdidas? Não! São almas que estão na perdição,<br />
mas que no fundo de suas consciências estão à procura de<br />
um lugar ao sol. Esses são nossos irmãos, como se fossem ovelhas<br />
negras de uma família, da família que luta ardentemente<br />
para restituí-los à casa do Pai, pois com certeza, o nosso Criador<br />
e Pai amoroso ama a todos sem distinção. Devemos orientar os<br />
espíritos trevosos, orientando-os sem julgá-los, mostrando que<br />
eles têm a possibilidade de reaver as suas falhas e de se redimirem<br />
com facilidade, porque Deus proporciona a eles esta oportunidade,<br />
assim como uma boa mãe e um bom pai proporcionam<br />
nova oportunidade para os filhos que estão seguindo o caminho<br />
errado. Essa é a classe onde se encontra Lídia.<br />
Deus não tem nenhum filho a perder, perdem-se “aque-<br />
150
les que querem”. Esta é uma frase verdadeira e magnífica deixada<br />
por Jesus. O que se quer dizer, é que Lídia depende somente<br />
de sua vontade e resignação. As leis estão no Universo portanto,<br />
nós é que escolhemos o caminho,<br />
Naquele instante juntam-se como insetos em desordem<br />
a legião de espíritos que fazia parte da mesma gang de Lídia.<br />
Trava-se uma luta mesquinha, suja e repleta de traição entre eles,<br />
dividindo-os em pequenos grupos por terem perdido uma aliada<br />
importante. Para aqueles revoltosos era uma derrota, para os<br />
bons Espíritos, uma vitória conquistada com amor e com a bandeira<br />
de Jesus. Com toda certeza Deus, em sua infinita bondade<br />
e amor, enche aquela casa espírita de luz e amor por gratidão.<br />
Gratidão pela dedicação daqueles médiuns, cujos objetivos foram<br />
salvar mais um filho ou filha e trazer de volta para o rebanho,<br />
nesse caso uma filha: Lídia.<br />
E então se ergue Lídia, a vencedora, pois aceitou o chamado<br />
de sua mãe e de Deus. Daquele espírito ficara ali somente<br />
seu passado e, junto dele, somente o exemplo do que ela seria ou<br />
teria capacidade para fazer. Houve ali um pacato e total silêncio.<br />
Bem acima da ala dos quiumbas, existem outras classes<br />
de espíritos que trabalham na linha que divide o mal e o bem,<br />
ou a luz e as trevas. Esses espíritos são erroneamente confundidos<br />
com espíritos do mal. São os chamados “Exus”. Dentro da<br />
escala espiritual, são espíritos mensageiros, guerreiros, guardiões,<br />
protetores, considerados os “bons policiais” do Universo. São<br />
brigões, pesados, duros e sinceros. Foram eles os guardiões naquela<br />
seção tão especial, e que muito colaboraram na recuperação<br />
de Lidia e na busca de sua mãe.<br />
Os Exus são conduzidos pelos Espíritos Superiores; são<br />
eles os seus guias, os dirigentes que lutam em prol do bem, pois<br />
almejam seguir a caminho da perfeição e alcançar mais luz, e a<br />
misericórdia Divina sempre há de enviá-los para que alcancem<br />
seus progressos espirituais. Os Exus nada mais são que espíritos<br />
151
que conhecem muito bem as leis do Universo, trabalhando com<br />
muita dedicação para que o equilíbrio não seja quebrado. Estão<br />
em busca da paz para se elevarem em boas energias.<br />
– Salve, senhor Exu.<br />
– Salve, Lídia. Diz-me o que deseja, minha irmã.<br />
Lídia estava muito tímida diante do espírito irmão. Alguma<br />
coisa estranha deveria estar nela, pois a sua aura se encontrava<br />
ligeiramente fraca, vazia. Ela inclusive se mostrava neutra<br />
em suas reações, era como se estivesse dopada por algum sentimento.<br />
Algo estranho e duvidoso estava se passando. Por um<br />
instante, ela fixou o olhar no irmão Exu como se estivesse analisando<br />
a sua aura. Calada diante dele, olhava-o de uma maneira<br />
estranha. Tímido, ele lhe responde:<br />
– Nada não, não é nada.<br />
Ao afastar-se, Lídia o deixa feliz, pois ele percebe que<br />
aquela estranheza era um bom sinal, afinal, Lídia não sentia mais<br />
aquelas dores horríveis e isso era realmente uma grande vitória<br />
de Lídia. Esperava que seu pressentimento não falhasse, pois<br />
desejava imensamente levar aos irmãos superiores uma boa<br />
notícia.<br />
Alguns meses depois<br />
Anita, muito feliz com sua gravidez provoca, de uma<br />
maneira que parece casual, se encontrar com Oscar para que<br />
ambos participem do desenvolvimento do bebê e possam compartilhar<br />
juntos o carinho por ele. Ela permite os seus afagos,<br />
dados ao bebê.<br />
– O meu bebezinho já veio visitar-me? Onde será que<br />
está a cabecinha do bebê, Anita?<br />
– Eu não sei dizer exatamente, mas me parece que está<br />
aqui, deste lado.<br />
– Nossa Anita! Como ele se mexe! Será que percebe<br />
152
quando a gente conversa com ele ou lhe faz afagos?<br />
– Sim Oscar, isso já foi provado pela ciência.<br />
– Se for assim, então vou aproveitar para dizer-lhe algumas<br />
palavrinhas. Mas são particulares, só entre ele e eu, você não<br />
pode ouvir. Meu bebê, assim como amo muito você, amo também<br />
a sua mãezinha. Sabe meu filhinho, se sua mamãe permitisse,<br />
ela não teria todo esse trabalho de vir com você até onde<br />
estou. Sabe por quê? Eu lhe afirmo que, certamente, ficaria<br />
com vocês 24 por dia. Mas quem sabe um dia? Em Deus eu<br />
tenho essa certeza.<br />
Ao dizer tais palavras, Oscar olha fixamente para Anita e<br />
ambos sorriem. Anita se afligia com a dor e o anseio de Oscar,<br />
mas não estava agindo de propósito, pois Oscar era o homem a<br />
quem ela tanto amava, mas era necessário que agisse daquela<br />
forma.<br />
Visitas de João ao Hospital<br />
João Eduardo continuara com o tratamento hospitalar.<br />
Por vezes, acreditou não ser mais necessário dar continuidade ao<br />
tratamento, por não sentir praticamente nada. Alguns reflexos<br />
das crises que ele tinha vinham-lhe ao corpo mas, na verdade,<br />
eram do seu psíquico, nada grave, como lhe acontecera há meses.<br />
Ele temia, sempre que voltava ao hospital, que os médicos<br />
lhe dissessem algo a respeito de sua saúde que ele não gostaria de<br />
ouvir.<br />
Os irmãos do Centro Espírita diziam a João que ele<br />
podia confiar e ter fé, pois se restabeleceria. Mas que não deixasse<br />
de retornar ao hospital quando necessário fosse, pois os médicos<br />
do Plano Espiritual, por ética respeitam a Medicina do plano<br />
físico.<br />
Suas idas ao consultório médico eram semanais; como João<br />
se sentia bem, suas consultas passaram a ser quinzenais. Aconteceu,<br />
153
no entanto, que o Dr. Osvaldo necessitou fazer uma longa viagem<br />
ate a Itália para resolver uma herança de seus avôs, permanecendo<br />
ausente de seu posto por dois meses.<br />
Nesse ínterim, João voltou ao hospital por algumas vezes,<br />
mas não fora atendido em todos os detalhes necessários que<br />
só o Dr. Osvaldo, como seu médico pessoal, fazia.<br />
Logo após retornar de sua viagem, Dr. Osvaldo pede a<br />
João que faça os exames rotineiros referentes à sua enfermidade.<br />
Após averiguá-los, Dr. Osvaldo fica estático diante do que vê.<br />
– Mas o que foi que o senhor viu aí nesses exames? É<br />
algo tão ruim para o senhor ficar desse jeito, parado, sem me<br />
dizer nada? Nenhuma palavra? O que há Doutor?<br />
– Não é nada grave meu amigo, mas acho que os aparelhos<br />
de ressonância devem estar com algum problema. Eu lhe<br />
enviarei a outro laboratório para que sejam feitos novos exames.<br />
Você se importa?<br />
– É claro que não, Doutor. O que precisar ser feito pela<br />
minha saúde, eu farei de bom grado. Aconteça o que for, eu<br />
não temo mais nada. Estou feliz e seguro em tudo. Se for para<br />
eu partir hoje para outro plano, irei sem mágoas e sem ressentimentos.<br />
Estou imensamente feliz, Doutor. Peço-lhe, por favor,<br />
que não guarde nenhum segredo sobre o meu estado de saúde.<br />
Pelo modo de João agir, nota-se que havia contradições<br />
em seu modo de pensar com relação à sua saúde. Hora ele acreditava<br />
estar totalmente curado, hora ele imaginava que seus dias<br />
estavam contados. Todo esse transtorno ocorria porque seu psíquico<br />
havia sido atingido, mas, com certeza, os psicólogos do<br />
Plano Espiritual estavam trabalhando incessantemente para curálo<br />
de seu problema psíquico, era só uma questão de tempo.<br />
Após refazer todos os exames, João Eduardo, ao retornar<br />
ao hospital a pedido do Dr. Osvaldo, percebe no médico um<br />
semblante sério. Ao se cumprimentarem, Dr. Osvaldo pede pra<br />
que ele se sente, juntamente com Izabel, pois lhe daria uma<br />
154
notícia duvidosa, dizendo-lhe, por mais uma vez, que os exames<br />
seriam refeitos. Ele reuniria uma junta médica no hospital,<br />
com profissionais altamente qualificados, para resolver o que<br />
estava acontecendo com os exames de João Eduardo e saber quais<br />
providências deveriam ser tomadas, pois havia algo sem<br />
explicação.<br />
– Doutor, o que o senhor está querendo dizer? Seja<br />
claro, por favor!<br />
– Não vamos nos precipitar meu amigo, porque, como<br />
você sabe, seu problema, além de delicado, é muito sério. Mas<br />
me parece que as notícias são ótimas!<br />
– Como são “ótimas”, Doutor?<br />
– É que os exames não acusam nada de grave, e o tumor<br />
nem aparece. Pelos exames, você está curado. Quero que me<br />
perdoe pelo que vou lhe dizer, mas, sinceramente, não estou<br />
acreditando. Quero que você aguarde um novo contato, mas,<br />
de minha parte, estou felicíssimo, mas ainda preocupado.<br />
– Bendito e Louvado seja, Doutor! Meu bom José,<br />
minha querida esposa Izabel, meus grandes amigos Anita e Oscar,<br />
meus irmãos da Espiritualidade e o senhor Doutor, por<br />
toda a sua dedicação. Seja o que for, em nome de Deus eu vos<br />
agradeço.<br />
– Eu e a junta médica deste hospital vamos lhe pedir<br />
dois meses, para termos a certeza plena e total do seu diagnóstico.<br />
– Mas se o senhor diz que estou bem, por que isso<br />
agora?<br />
– Por ser um caso inédito e delicado, temos que ter<br />
100% de certeza. Esse tempo será o suficiente.<br />
Doutor Osvaldo lhe falou desta forma por não conhecer<br />
as técnicas contemporâneas espirituais, só conhecia a parte<br />
científica.<br />
155
João e a Casa Espírita<br />
João Eduardo, depois de receber a notícia de que sua<br />
saúde poderia estar restabelecida, apressado segue para casa para<br />
compartilhar a felicidade que estava sentindo com os filhos. Ao<br />
caminhar pelas ruas, deixava que suas lágrimas se misturassem<br />
ao sereno e, na tarde fria de um mês de inverno, lhe permitia<br />
que as pessoas próximas dele não percebessem sua comoção. Ao<br />
chegar em casa, as primeiras pessoas que encontra são seus filhos.<br />
Izabel, ao vê-lo aos prantos como uma criança quando<br />
busca amparo, pensa logo no resultado dos exames e não hesita<br />
em envolvê-lo em seus braços.<br />
– Perdoe-me, por favor. Eu não deveria ter chegado dessa<br />
maneira para não preocupar as crianças, mas é que nós saímos<br />
muito felizes do hospital, e esse choro é de pura felicidade! Eu<br />
creio Izabel, que algo de maravilhoso tenha acontecido comigo.<br />
Você, ou melhor, nós, temos acompanhado as complicações com<br />
os exames, não é mesmo? Só que Dr. Osvaldo tem quase certeza<br />
de que não deva mais existir enfermidade alguma em mim. Por<br />
isso estou desta forma, feito um menino chorão.<br />
– Senhor Jesus, obrigada por tudo – agradece Izabel.<br />
Perdoai-nos, ó bom Deus, pois grande é a vossa graça! Meu<br />
esposo, você pode confiar, nós ainda seremos uma família muito<br />
feliz!<br />
Logo, ao cair da noite, João Eduardo e Izabel vão até o<br />
Centro Espírita para contar a todos sobre a graça recebida. Ao<br />
encontrá-los, nada disseram. Por estarem emotivos, às vezes sorriam,<br />
às vezes choravam. O que fizeram, naquele momento, foi<br />
abraçar forte os irmãos da casa espírita que, perplexos, sem saberem<br />
o porquê, pois ainda não haviam dado explicação, aceitavam<br />
os seus abraços sem nada lhes perguntar, pois certamente<br />
falariam no momento oportuno. Foi ali que eles perceberam e<br />
156
concretizaram em seus corações, as possibilidades que a<br />
Espiritualidade lhes oferecia.<br />
João Eduardo e Izabel aprenderam a amar e a respeitar<br />
os amigos daquela formação religiosa ou filosófica, principalmente<br />
pelo afeto e atenção que a todos eram peculiares. Doavam-se<br />
uns aos outros com muito amor e solidariedade. João e<br />
Izabel, depois de alcançarem uma graça impossível aos seus e aos<br />
conhecimentos da Medicina, passaram a acreditar no elo entre a<br />
natureza metafísica e o homem, o que para eles tornou-se algo<br />
magnífico. Passaram a classificar o homem, em seu estado físico,<br />
como uma matéria totalmente elaborada, desde a parte orgânica<br />
até a psicológica. Passaram a visualizar o homem, em seu<br />
estado fluídico, como um ser totalmente elaborado por partículas<br />
de igualdade, de respeito e de amor. Deslumbrados com o<br />
que acabara de acontecer, eles se conheceram e se avaliaram como<br />
membros do Cosmos e passaram a enxergar que o ser humano<br />
está ligado à Espiritualidade pelo chamado cordão de prata, que<br />
está situado no centro do cérebro.<br />
– Sua doença já não existe mais - dizia-lhe a Entidade<br />
com a qual ele se consultava, chamado de Irmão X, um dos<br />
mentores daquela casa que trabalhava com o médium Irmão<br />
Lázaro. Irmão X foi a Entidade que abraçou a causa de João e de<br />
sua família desde o início da doença ou peregrinação, comandando<br />
com amor aquela causa juntamente com outros espíritos<br />
trabalhadores da ceara do Mestre Jesus. Ali havia índios (Caboclos)<br />
e sábios Pretos-Velhos, entre outros fieis companheiros da<br />
Espiritualidade.<br />
– Como assim? Então eu estou curado mesmo? – indagava<br />
João.<br />
– Sim, está totalmente curado, ou melhor, você nunca<br />
teve essa doença, que foi projetada por Lídia e pelo seu<br />
psiquismo, e se tornou mais evidente após o primeiro diagnóstico<br />
médico, quando afirmaram que você tinha um tumor<br />
157
maligno. Meu irmão, nós já sabíamos da sua felicidade. Não<br />
pudemos falar-lhe antes por motivos superiores que não nos<br />
permitiam dizer. Tudo, meu irmão, no seu tempo exato. Esse é<br />
o tempo. Temos uma grande certeza de que tudo o que ocorrera<br />
a vós foi por misericórdia de Deus, para que aproveitassem essas<br />
oportunidades doadas para evoluírem. E nós, do Plano Espiritual,<br />
estamos 100% certos de que valeu a pena. Eu vos peço por<br />
uma coisa meus irmãos: tenham misericórdia de nossa irmã Lídia,<br />
pois ela, afinal, é nossa irmãzinha, pois como eu e vocês, ela é<br />
uma criação de Deus. Orem por ela, meus irmãos, pois neste<br />
exato momento ela está sob os cuidados de irmãos especialistas<br />
em psicologia para o seu restabelecimento. Quanto a vós, meu<br />
irmão, continue com suas visitas de rotina ao médico e não lhe<br />
diga nada, por favor. Deixe que eles saibam por conta própria, é<br />
o que lhe pedimos<br />
– E que mérito eu obtive para que essa enfermidade desaparecesse<br />
de meu corpo?<br />
– Essa doença não lhe pertencia, era projetada e quem a<br />
enviava para vós, na verdade era o espírito de Lídia e aquela gang.<br />
Lídia, que deixava as suas próprias sequelas em você, conviveu<br />
com as mesmas dores que você sentia, até resolver abandonar<br />
aquela vingança a convite de sua terna mãe. Ela optou por seguila,<br />
mas ainda sente rancor por você e por sua esposa. Um espírito,<br />
tal qual Lídia, ao aproximar-se de uma pessoa traz consigo<br />
todo o conteúdo de sua vida carnal. Ela dera passagem à enfermidade<br />
(câncer) pela qual culpava a ti, meu irmão. Como essa<br />
enfermidade a intranquilizava, ao aproximar-se de ti ela jorrava<br />
toda essa energia em forma de ódio em sua aura. Ela se aliviava<br />
através de sua ira, e vós, meu irmão, se contaminava por estar<br />
vulnerável. Em mais uns poucos dias essa energia ruim iria se<br />
materializar, porque o seu psiquismo ou a força de seu pensamento<br />
iria constituir e materializar o tumor em você. Aí então<br />
não haveria mais solução, você passaria a realmente ter o tal<br />
158
tumor, mas você nos procurou a tempo e isso foi muito bom.<br />
– Quer dizer que se ela morreu com essa doença e eu<br />
sentia os sintomas que ela?<br />
– Exatamente. Se o espírito fizer a passagem da Terra<br />
com uma doença ou qualquer outro problema, e aprender se<br />
comunicar de maneira telepática, até que ele se esclareça continuará<br />
por raiva, vingança etc., enviando as vibrações que há em<br />
seu psiquismo. Há casos em que ele consegue, em conjunto<br />
com o psiquismo do encarnado, até materializar a tal doença, e<br />
assim foi com você. O ódio que ela sentia por você era muito<br />
grande, por não conseguir em sua vida terrena o que ela almejava.<br />
Então, suas vibrações eram mais fortes e, sucessivamente, as<br />
dores ou a tal doença apareciam com mais frequência. Portanto<br />
agora, com certeza, você está totalmente livre, pois os nossos<br />
irmãos trabalhadores do Plano Espiritual conseguiram afastar<br />
definitivamente Lídia para uma clínica, e aquela legião que a<br />
acompanhava optou por voltar para o lugar de onde vieram. As<br />
vibrações ruins deles acabaram, eles só conseguiam lhe perturbar<br />
sob o comando de Lídia, porque o motivo era ela, e, além do<br />
mais, com suas orações e assistência espiritual de seus protetores,<br />
eles não tiveram mais força suficiente para lhe atormentar.<br />
Quanto à sua saúde, você aos poucos se restabelecerá. Mas para<br />
que isso seja definitivo e concreto, é necessário que sua mente<br />
esteja em perfeita harmonia com seus órgãos, que estão perfeitos.<br />
Os médicos irão constatar que o tumor que estava nos seus<br />
rins sumiu e muitos acharão que foi um milagre ou outro fenômeno,<br />
ou mesmo que foi um erro médico.<br />
– Se acaso eu viesse a falecer, o que seria de meu espírito?<br />
Antes que désseis passagem, seriam contínuas as vibrações<br />
em seu psiquismo. Lídia continuaria enviando-as, porque acreditava<br />
que era a arma mais eficaz que teria pra lhe atingir e,<br />
consequentemente, acabar com a sua vida terrena para depois lhe<br />
conduzir, em espírito, para o local onde ela convivia com a legião.<br />
159
– Mas por que ela queria me levar? Pelo que eu saiba, ela<br />
não me amava e nem eu a ela.<br />
– O que ela lhe fez não foi por amor. Ela se sentiu<br />
descartável quando você não quis saber mais dela. Tudo o que<br />
ela fez foi por vingança e por ódio. Ela acreditava que você fosse<br />
propriedade dela e também o culpado por sua decadência financeira<br />
e por sua doença. Para concluir, seu ódio duplicou-se após<br />
sua morte. No conceito que Lídia levara consigo para o túmulo,<br />
ela estava onde estava por sua culpa, sua total culpa João. Apesar<br />
de eu não ser juiz para julgar a sua culpa, o problema foi você<br />
não ter esclarecido a ela por que estava acabando com aquele<br />
romance ou aventura, que não existia nem uma gota de amor de<br />
ambas as partes. Faltou-lhe a coragem para ser verdadeiro com<br />
ela. O que ela queria, em verdade, era ver você passar por tudo o<br />
que ela passou. Portanto, meu irmão, aquele câncer já não existe<br />
mais em você e nem em Lídia.<br />
Ali, naquele momento, após uma longa conversa entre<br />
o mentor e João Eduardo, um mensageiro, ao aproximar-se do<br />
mentor, lhe trouxe uma ótima visita. Por um instante esse<br />
mentor, emocionado pelas vibrações energéticas enviadas pelo<br />
médium receptor, não se conteve e fez pender, sobre a face do<br />
médium, sua satisfação e alegria em forma de lágrimas.<br />
– Acabo de receber uma ótima mensagem de um<br />
guardião.<br />
– Qual é a noticia, meu irmão?<br />
– Lídia agora está entre nós. Neste exato momento, ela<br />
está sendo enviada para um lugar, ou melhor, para uma colônia<br />
de paz próxima de sua mamãe, onde serão regeneradas suas energias,<br />
por meio do auxílio cedido por sua genitora e outros parentes<br />
dela. Por isso temos que ir agora, mas em breve continuaremos<br />
nosso gostoso “bate-papo”, como dizem vocês<br />
160
Lídia pede por remissão<br />
As suas mãos, os seus pés, o seu coração... envelhecidos,<br />
feridos, em frangalhos. Por quê? Para quê? A sua carne já teria<br />
há muito sido despojada aos vermes. Um mundo intenso à sua<br />
frente seduzindo-a, num caminho cuja luz reluzindo em seus<br />
olhos a hipnotizava, parecendo querer neutralizar todas as dores<br />
que sentia. E era o seu ódio que a estava destruindo, aniquilando-a,<br />
fazendo-a definhar para que em alma se transformasse em<br />
verme.<br />
– Eu também sou filha de Deus – rogava Lídia.<br />
– Deus, tenha misericórdia de mim, Senhor, que tanto<br />
quero acabar com este ódio! Será, ó Pai, que tu me concederás<br />
essa oportunidade? Não quero e nem suportarei viver<br />
mais assim, como um verme. Abarca-me Senhor, com a vossa<br />
grandeza. Eu, neste instante, me redimo diante de vós e,<br />
de joelhos ao chão, me ponho em lágrimas diante dos seus<br />
olhos, Senhor! Não quero mais tragar desse veneno cruel que<br />
me faz definhar. Olhai por mim Pai, pois seu que errei senhor,<br />
então, perdoa-me, ó Paizinho querido! Sinto que minha<br />
caminhada é longa, mas sinto também que deste lado poderei<br />
ser feliz, assim como minha mamãe o é. Ela não sente mais as<br />
dores que sentia em seu corpo carnal e, com certeza, é pelo<br />
amor que ela emana de seu límpido coração. Permita-me que<br />
eu seja como ela! Prometo que já mais o decepcionarei.<br />
O mentor que estava encarregado dos ensinamentos a<br />
Lídia diz:<br />
– Lídia, minha irmã. Chegou o momento de você ver<br />
por esta tela materializada, o umbral onde estava antes de vir<br />
para cá. É bom que veja, pois faz parte de seu aprendizado.<br />
O local onde Lidia havia estado tinha um forte cheiro de<br />
corpos em decomposição. O que se via ali eram pessoas totalmente<br />
deformadas. Ouvia-se gritos horríveis de sofrimento,<br />
161
junto a gargalhadas demoníacas em um pântano lamacento e de<br />
cor obscura. Havia muito fogo e fumaça, dor e ódio que os<br />
alimentavam. Havia perispíritos em formas jovens que envelheciam<br />
porque, logo após jorrar suas dores e difamações sobre o<br />
mundo terreno, voltavam para aquele lugar um tanto mais leves,<br />
pra logo depois se sobrecarregarem até se reduzirem a nada.<br />
Naquele lugar, onde ninguém clamava por ninguém ou<br />
por nada, às vezes alguns daqueles espíritos, ao se redimirem de<br />
seus erros, saíam dali. Só que, quando ocorria alguma situação<br />
desse gênero, na maioria das vezes uns não conseguiam, pois<br />
eram acorrentados e escravizados, não passando de meros instrumentos<br />
para servirem de escudos para os mais astutos.<br />
Diz o Mentor a Lídia: – Você teve a oportunidade de<br />
reencontrar sua genitora em uma casa de oração, onde aquele<br />
povo terrestre, por solidariedade e amor ao próximo, dispõe<br />
de seu precioso tempo na Terra para servir a qualquer um<br />
que lhes procure. E quero acrescentar que você realmente é<br />
amada, tanto pela sua mãe como também por sua amiga que<br />
está encarnada, cujo nome é Anita. Ela realmente lhe ama,<br />
use-a como um porto seguro para que sirva em sua nova<br />
etapa na vida espiritual.<br />
Os ex-companheiros de Lídia, ao vê-la do outro lado,<br />
deixaram seus maus afazeres para tentar trazê-la de volta com<br />
vibrações telepáticas, mas foi em vão, porque, a essa altura, já era<br />
tarde demais, pois Lídia estava conhecendo o quanto é valioso o<br />
perdão e o verdadeiro amor ao próximo. Tentaram hipnotizá-la<br />
para deixá-la presa à ilusão das dores físicas de sua matéria, não<br />
sabendo contar dias ou noites naquele lugar.<br />
– Senhor Deus! Deixe-me ver minha mãezinha querida,<br />
que pela vossa misericórdia me tirou deste inferno – rogava<br />
Lídia.<br />
162
Missionários de Luz enfrentam o Umbral<br />
Os Exus, que mais uma vez frisamos, são pré-determinados<br />
em suas escalas evolutivas, têm acesso aos campos<br />
de contato que ligam o bem e o mal, auxiliando aos que buscam<br />
a luz e aos que vêm para a luz, um trabalho magnífico.<br />
Ao se aproximarem do portal daquele umbral, eles materializam<br />
roupas de chumbo para evitar as más vibrações, ondas<br />
magnéticas ofuscantes que tentam impedi-los de entrar naquele<br />
local. Mas isso não era possível, pois aqueles missionários,<br />
em sua grande maioria, já tinham passado por situações<br />
iguais naquele lugar, sabiam das artimanhas e usariam a<br />
força se necessário fosse.<br />
– O que vieram fazer por aqui? – pergunta-lhes a legião<br />
de espíritos trevosos.<br />
– Nada daquilo que nos é costumeiro, meus irmãos.<br />
Por que perguntam?<br />
– Lídia, se é que vieram buscá-la, ela não está mais<br />
aqui, vá procurar em outro umbral.<br />
Nós já sabemos que agora ela não pertence mais a este lugar<br />
– responde aos mensageiros<br />
– Nós estamos aqui em paz. Afastem-se, pois precisamos<br />
passar.<br />
De repente, homens em formato de animais pelo<br />
estado psíquico surgem à frente deles, os quais, ao lançarem suas<br />
espadas reluzentes, enfrentam-nos deixando-os embolados em<br />
chamas e perturbados em gritos. Caminham 7 mensageiros sob<br />
aquele mormaço ardente à procura de uma voz que tanto ressoara<br />
seu pedido de clemência, que se ouvira por todos os recantos.<br />
– Aqui, irmãos, eu o encontrei.<br />
Mesmo sabendo de suas linhagens na Espiritualidade,<br />
e que coisas horrendas se faziam por ali, esses mensageiros<br />
por hora também se apiedavam, como no caso de Lídia, que<br />
163
já não tinha mais os seus pés naquele lugar horrível. As suas<br />
mãos estavam envoltas de chagas e seu corpo começara a se definhar.<br />
A sua voz, rouca, porém ainda reconhecível, se punha a<br />
dizer:<br />
– Me tire daqui! Por favor, me tire daqui! Era Gildo, o<br />
ex-Pai de Santo e Lúcio.<br />
Lídia, assistindo à distância, ou melhor, por uma tela<br />
projetada para essa finalidade, diz em seus pensamentos: –<br />
Graças! Graças ao Bom Deus! Como o senhor é maravilhoso!<br />
Os mensageiros conseguiram tirar mais dois daquele lugar<br />
horrível.<br />
– Irmão, o seu pedido de ajuda chegou até nós, e sua<br />
força de vontade nos fortalecerá ainda mais. Mantenha fé, pois<br />
é pela força do seu pensamento que conseguiremos tirá-los<br />
daqui!<br />
Lidia sussurra: – Como eu gostaria de estar lá, nesse<br />
umbral, exatamente nesse momento, junto àqueles mensageiros,<br />
com uma espada em punho e trabalhando em prol da<br />
luz. Que maravilhoso é o resgate desses espíritos que querem<br />
se redimir<br />
– Nós podemos levá-lo em nossos braços, mas estamos<br />
certos de que você poderá buscar os seus pés e caminhar por<br />
si mesmo.<br />
– Eu não tenho mais os meus pés... O que devo fazer?<br />
– Pense no criador, somente nele, com toda força que<br />
lhe resta e com resignação.<br />
– Senhor, eu quero sair daqui! Ajude-me!<br />
Uma nuvem clara envolve os seus pés e Gildo, circundado<br />
pelos mensageiros, sai daquele local junto com Lúcio,<br />
e logo os dois são encaminhados para um hospital que há<br />
no espaço, para a cura de seus perispíritos.<br />
– Que bárbaro! Que trabalho lindo o desses mensageiros!<br />
É fascinante o resgate, salvar almas, fazer o bem, que maravilha!<br />
164
João Eduardo em outra sessão com o mentor<br />
– E Lídia, agora também está curada?<br />
– Sim, para onde ela foi conduzida, entendeu que a<br />
doença era do seu corpo físico, que ficou debaixo da terra.<br />
Por misericórdia de Deus, a doença que está em seu psiquismo<br />
os mentores saberão com certeza como curá-la. Quanto ao<br />
Gildo, o processo é o mesmo, só que bem mais demorado, e o<br />
destino dele só Deus sabe. Mas penso que ele se tornará um<br />
bom mensageiro ou guardião no futuro.<br />
– Por que só agora os mentores conseguiram afastar<br />
Lídia do meu João? – pergunta Izabel.<br />
– Porque, para isso, é necessária a técnica de espíritos<br />
especializados, e é necessário que haja permissão de vocês e<br />
dedicação total. Quando nos procuram, tudo fica mais fácil e<br />
nós, tendo a vossa permissão para trabalhar, conseguimos<br />
salvar Lídia, doutrinar alguns daqueles espíritos e conduzilos<br />
para outras colônias, onde terão novas oportunidades de<br />
aprendizado. Quanto a Lídia, foi realmente muito difícil afastála<br />
de você e de João, que era o mais atingido, mas graças a<br />
Deus e aos experientes e sábios mentores de luz, que<br />
perceberam o ponto fraco de Lídia, que é sua mãe, a pessoa ou o<br />
espírito a quem ela realmente ama de todo seu coração, com<br />
essa estratégia, os bons irmãos conseguiram, com muita dedicação,<br />
encontrar e trazer a mãe de Lídia, que muito colaborou e<br />
tudo foi resolvido com sucesso. Quanto ao Lúcio, foi mais fácil<br />
após descobrir que o que ele sentia na realidade era orgulho ou<br />
egocentrismo. Seu amor próprio estava ferido por perder Izabel<br />
para você. Os nossos mentores, compostos de Caboclos, Pretos-Velhos,<br />
Boiadeiros, Exus e outros como psicólogos, psiquiatras<br />
e médicos, todos do plano espiritual, já conduziram boa<br />
parte desses espíritos que traziam transtornos a vocês. Eles<br />
165
foram levados para escolas e clínicas, onde verão que o espírito é<br />
saudável, pois a doença só existe no corpo físico e no psíquico,<br />
tanto da mente encarnada como também do espírito. Porém,<br />
os conduzidos para clínicas ou escolas foram espontaneamente,<br />
por vontade própria.<br />
– Naquela sessão em que Lídia estava presente, eu<br />
pensei que meu João não voltaria à vida, mas graças a vocês<br />
todos e ao senhor José, que carinhosamente nós chamamos<br />
de meu bom José, meu marido esta aí para contar sua saga.<br />
– E por que só alguns e não a todos, meu irmão?<br />
– Se Deus disse “Eu não tenho nenhum filho a perder”,<br />
perdem-se aqueles que querem ficar perdidos, ou melhor,<br />
os que continuam com o objetivo do ódio, da vingança,<br />
da ganância etc. Isso quer dizer que Ele, o nosso bom Deus,<br />
nos deixou a lei universal do livre-arbítrio, lembra-se?<br />
– Sim, agora eu me recordo quando o senhor me disse,<br />
pouco tempo atrás.<br />
– Os seres humanos, quando desencarnam ou dão<br />
passagem da Terra, a que nós chamamos de “mundo de expiações”,<br />
em sua grande maioria são pessoas pouco esclarecidas<br />
quanto ao mundo espiritual, ou seja, o “plano astral”. Quando<br />
em espírito, não percebem que a sua carne morreu, pois<br />
perdem a noção e, em seus devaneios, acham que tudo aquilo é<br />
só um sonho ruim ou um pesadelo. Às vezes, quando percebe<br />
que desencarnou, a pessoa entra em estado de loucura, depressão<br />
ativa, inquietude e muitos outros sintomas, porque ainda<br />
está apegada aos bens materiais, objetos de suas paixões. Nós,<br />
mentores e mensageiros, buscamos proteger àqueles que necessitam<br />
e aos que querem ser auxiliados com bons aprendizados.<br />
É aí, meu irmão, que entra a “lei do livre-arbítrio.”<br />
– Como sabemos quando morremos? – pergunta curioso,<br />
João.<br />
– João, para que tenhamos consciência de nossa<br />
166
passagem, precisamos estar bem informados em relação ao mundo<br />
extrafísico e a Espiritualidade, ou seja, com o mundo dos<br />
espíritos. Nesse caso, a leitura de bons livros ajuda aos que habitam<br />
a Terra a serem mais informados, pois os bons livros espíritas,<br />
em sua maioria são psicografados por espíritos extremamente<br />
sábios, inclusive a Bíblia, desde que bem interpretada.<br />
– Porque acontece isso, como no caso de Lídia?<br />
– Acontece justamente quando as pessoas são apegadas<br />
às coisas terrenas, aos bens materiais, pois o bem maior<br />
está em seu coração, e a melhor maneira de se desviar desse<br />
apego é procurar conhecer Deus em sua essência e magnitude,<br />
ou melhor, como espírito, e lembrar que fomos criados por Ele<br />
à sua imagem e semelhança, em espírito, literalmente. Tanto<br />
nós, espíritos, como também o corpo humano, pois sem o Criador<br />
não há a obra, ou melhor, a obra-prima, pois, com toda a<br />
convicção, nós somos a obra-prima de Deus! Sendo assim, a<br />
melhor maneira para evitar que empecilhos ocorram em nossa<br />
vida espiritual é estarmos continuamente contritos diante de<br />
Deus Pai e abertos aos bons aprendizados, que nos levam a<br />
caminho da evolução.<br />
– E quanto a não sabermos que morremos? O que pode<br />
nos acontecer, meu irmão?<br />
– As pessoas desinformadas desse aprendizado se<br />
desligam do corpo físico de acordo com o seu estado psíquico.<br />
Um exemplo: Nem sempre, e pela condição do psíquico, a pessoa<br />
desencarnada aceita a sua passagem devido ao apego que tem<br />
aos bens materiais conquistados, como eu disse antes, ou até<br />
mesmo a um ente querido, paixões etc. Se esse ser não tiver um<br />
bom esclarecimento espiritual, que lhe ensine a não ter tanto<br />
apego às coisas terrenas, mais difícil se tornará para ele desligarse<br />
do plano terreno. Observe bem: O desligamento do corpo<br />
físico é imediato, mas do plano terrestre é de acordo com o<br />
tempo, que é senhor supremo e sábio.<br />
167
– Então, quer dizer que a maioria, ao morrer, fica ligada<br />
ao corpo físico?<br />
– Não propriamente ao corpo que está debaixo da terra<br />
ou cremado, ou até em outro estado. Quando o sangue para<br />
totalmente de circular, os órgãos do corpo físico também param,<br />
então, todo o processo físico também pára, inclusive o<br />
cérebro perde sua consciência e, aí, automaticamente o espírito<br />
se desliga do corpo, saindo em forma de ectoplasma ou o<br />
“fôlego da vida”, que o individuo adquiriu em seu nascimento.<br />
Mas o espírito não perde sua consciência, e nesse caso ele<br />
acredita estar sonhando ou vivendo um pesadelo horrível,<br />
começando a vagar pelo tempo e carregando em seu subconsciente<br />
o peso de seu corpo físico, impregnando sua casa e<br />
familiares e tudo o que deixou para trás. Aí então, após um<br />
determinado período, ele encontra a casa dos seus familiares<br />
ou o local onde ainda está impregnada a sua vida material<br />
(que pode ser sua casa, uma jóia, roupa ou até mesmo uma<br />
árvore que ele plantou quando vivo) e começa a tentar<br />
comunicar-se.<br />
Para que você compreenda melhor, irmão João, esse<br />
estado é como se o espírito ainda estivesse preso ao seu corpo<br />
físico; ele sente suas mãos, pés e todos os membros do corpo,<br />
inclusive o problema que lhe causou a morte. No caso da pessoa<br />
ser bem idosa, esse processo é bem mais ameno, porque o espírito<br />
já é mais experiente, tanto materialmente quanto espiritualmente,<br />
pelo tempo vivido na Terra. Imagine você tendo um<br />
pesadelo e querendo gritar ou se mover e não conseguir! Mas é<br />
aí, no entanto, que se vê o imaginário, pelo psíquico ou<br />
perispírito.<br />
– Há um momento exato para que o espírito se<br />
desprenda do corpo?<br />
– Veja bem João Eduardo, o espírito, quando<br />
reencarna, toma o seu corpo exatamente no momento do<br />
168
nascimento, que também é chamado de “fôlego da vida”. É nesse<br />
exato momento que o recém-nascido se torna independente<br />
do espírito e do corpo físico de sua mãe. Todo esse processo tem<br />
a ver com o oxigênio, o momento em que a criança aspira e o<br />
espírito se torna reencarnado, passando a pertencer ao seu corpo<br />
e a ter vida própria. Da mesma forma, quando a pessoa falece,<br />
ela expira, e é nesse momento que o espírito se desliga do corpo.<br />
E se o desencarnado não for bem esclarecido, aí então começa o<br />
pesadelo, conforme lhe falei. Ele vê tudo o que se passa à sua<br />
volta... Vê a sua família chorando, vê o velório, a cerimônia<br />
fúnebre, enfim, ele observa tudo o que está próximo de si. Mas<br />
repito-lhe: Tudo o que se passa com ele acontece como se estivesse<br />
dormindo, por acreditar que toda aquela situação seja um<br />
sonho. Isso tudo por ele não ter a prática da vida espiritual.<br />
Mais ou menos como uma criança que precisa aprender a andar.<br />
– Mas e os irmãos do plano espiritual, não vêm em seu<br />
socorro pra resgatá-lo, como eu já fui informado?<br />
– Os irmãos sempre vêm em socorro, pois estão prontos<br />
para essas situações. São os chamados “Auxiliadores”. Mas<br />
nem sempre os recém-desencarnados aceitam a ajuda de tais espíritos,<br />
achando que tudo aquilo faz parte de seu sonho ruim,<br />
pois acreditam que aqueles espíritos fazem parte de seus devaneios.<br />
Ali, João, além dos espíritos auxiliadores aproximam-se<br />
também os espíritos das trevas para tentar resgatá-lo, e várias<br />
dessas almas são levadas por eles, de acordo com seu proceder<br />
durante a vida terrena (lei de causa e efeito).<br />
– Irmão, quem tem mais seguidores? O bem ou o mal?<br />
– Não há mais nem menos, tudo depende das ações<br />
de cada um durante a vida material.<br />
– Por que, irmão, algumas pessoas ao desencarnarem<br />
ficam nessa aflição?<br />
– Tudo na vida de um ser vivente é uma questão de<br />
tempo, o tempo é que nos indica algo a ser feito. Mas quanto<br />
169
ao homem recém-desencarnado, por aflição daquilo que lhe disse<br />
pouco antes, ele tenta contato com os parentes mais próximos,<br />
principalmente onde viveu os seus últimos dias, pois ali está<br />
impregnado o seu EU e os seus bens materiais, não sabendo esse<br />
irmão que, a partir dali, o seu bem mais precioso está em seu<br />
coração ou pensamento. E enfatizo, é como disse nosso Mestre<br />
Jesus: “Onde está o seu tesouro, ali está o seu coração”. Por isso<br />
é recomendável orar sempre em favor dos entes queridos, para<br />
que eles não se tornem revoltados ou abandonados e sucessivamente<br />
venham a sentir revolta e ódio pelos que ficaram, como<br />
dizem vocês, ainda vivos ou presos em seus corpos carnais aqui<br />
neste plano.<br />
Quando esse espírito se põe presente, as pessoas mais<br />
sensíveis ficam com a sensação da presença de alguém e passam<br />
a ter medo, angústia e até sensação de morte, porque,<br />
pelo fato dele estar com essas sensações, a sua energia passa<br />
também a ser reflexo de um suposto pesadelo. E, quando a<br />
maioria dos desencarnados começa perceber que há algo<br />
estranho consigo, se perguntando “será que eu morri?”,<br />
começam a passar para as pessoas o seu medo e a sua angústia de<br />
forma telepática. Essa é a maneira que o espírito sem prática<br />
tem para se comunicar, porque ele não tem tato e nem as cordas<br />
vocais, mas dificilmente as pessoas percebem ou sabem se comunicar<br />
com seus entes queridos, por falta de conhecerem bons<br />
livros que possam lhes transmitir um bom ensinamento sobre o<br />
mundo espiritual. Por isso é recomendável as orações em favor<br />
daqueles espíritos que se foram para uma nova vida, é obrigação<br />
dos que ficaram no plano físico encaminhar seus entes queridos<br />
para esferas luminosas ou para o Céu, como dizem outras denominações<br />
ou filosofias religiosas. Com o passar do tempo, os<br />
que eram recém-desencarnados obtém a prática desse tipo de<br />
comunicação através da telepatia, sugestionando as pessoas e fazendo-as<br />
acreditar que possam estar até doentes, ou melhor, com<br />
170
o mesmo problema que deveras tenha causado a sua morte. Mas<br />
há casos e casos, uns passam a ter consciência que deram passagem,<br />
mas outros continuam achando que é pesadelo. Também<br />
há os espíritos vagabundos que convencem o recém-falecido de<br />
que sua família lhe virou as costas e, por isso, ele deve se vingar, e<br />
então começa a se formar uma corrente maldosa contra aquela<br />
família, chamada de legião. Muitas vezes a vítima confunde todos<br />
esses transtornos com feitiçaria, olho gordo, inveja etc. Você se<br />
recorda, João Eduardo, com quem isso aconteceu?<br />
– Graças a Deus, irmão, não tenho mais essas sequelas.<br />
Mas isso acontece sempre?<br />
– Sim, mas que para isso ocorra é necessário que a<br />
pessoa esteja vulnerável. O ideal é as pessoas serem mais<br />
zelosas com seus entes queridos e fazê-los entender que a<br />
vida continua após a morte física. Rezar ou orar para que<br />
bons espíritos ou o santo de sua devoção possam conduzir<br />
aquela alma para um bom lugar, um lugar de aprendizado,<br />
rogar a Deus transmitindo muito amor para que aquele que<br />
partiu entenda a sua passagem, o seu tempo na Terra, o ciclo da<br />
vida, assim como uma árvore, que morre após dar frutos e sombra,<br />
mas as suas sementes infalivelmente germinarão e surgirão<br />
novas árvores em forma de uma nova reencarnação.<br />
– É realmente uma boa forma para evitar transtornos.<br />
– Estando envoltos pelo bem, certamente nada de mal<br />
os atingirá. Por meio das orações nós podemos nos livrar de<br />
várias espécies negativas da Espiritualidade, como os<br />
obsessores, os suicidas, os gananciosos, os caluniadores e<br />
corruptos, que enganam seus semelhantes ou súditos, os espíritos<br />
da inveja, os que vos transmitem enfermidades e muitos<br />
outros. Por isso, meu irmão, é que devemos orar a Deus<br />
sempre, pois a oração nos irradia e nos alimenta a alma. As<br />
boas orações são sinônimo de amor, e são verdadeiramente<br />
um porto seguro para todos.<br />
171
– Então, nos dois mundos é tudo igual?<br />
– Veja bem, o Plano Espiritual é um mundo de aperfeiçoamento,<br />
e o mundo material é um lugar de expiação,<br />
aprendizado e acerto de contas.<br />
– Não entendi.<br />
– O mundo de aperfeiçoamento é onde aos poucos<br />
nos livramos de coisas fúteis que cometemos, e que inclusive<br />
podem nos custar várias reencarnações. Por isso, depois de<br />
esclarecidos, não temos fome nem sede, nem a necessidade<br />
de acumular bens como imóveis, dinheiro, carros e tantas<br />
outras coisas as quais damos tanto valor aqui neste plano,<br />
onde infelizmente ainda impera a ambição e a ganância. Mas<br />
o tempo vai cumprindo a sua etapa.<br />
Em contínuas perguntas ao Mentor Espiritual ou ao irmão<br />
Lazaro, um médium muito bem preparado, João Eduardo<br />
recebe deles informações extraordinárias do mundo espiritual.<br />
Irmão Lázaro sabia que aquela busca incessante de informação<br />
por parte de João Eduardo lhe seria muito importante, pois<br />
ele realmente buscava esclarecimento do mundo transcendental.<br />
E, sem que percebesse, estava se tornando um verdadeiro membro<br />
daquela casa de caridade.<br />
– Estou orgulhosa de tê-lo como meu companheiro, a<br />
quem Deus permitiu que passássemos por toda essa situação<br />
para ficarmos mais esclarecidos quanto ao prosseguimento de<br />
nossas vidas em evolução, pois fazemos parte dessa evolução.<br />
– Enquanto Deus permitir, eu ficarei sempre ao seu lado<br />
Izabel, pois só agora sei que nós somos parte um do outro, minha<br />
doce rainha! Como eu te amo! Deus é testemunha! Querolhe<br />
sempre e sempre juntinho de mim. Você é a minha pedra<br />
preciosa, o meu porto seguro. Nós não ficaremos longe um do<br />
outro nunca mais, Deus há de nos conceder essa graça.<br />
– Eu te amo, Izabel!.<br />
– Eu te amo, João Eduardo!<br />
172
As crises que João sentia, desapareceram. Izabel se tornara<br />
uma mulher mais jovem fisicamente, pois superara o vício,<br />
que aos poucos a extinguia. Os filhos se encontravam bem e a<br />
paz voltara àquele lar. Todo o ódio em forma de pesadelo, que<br />
entre eles se estabelecera, desapareceu. João tomara novos rumos<br />
profissionais; escolhera para si uma função mais alinhada,<br />
onde pudesse tranquilamente cumprir as suas obrigações como<br />
pessoa séria e de bom caráter com as suas responsabilidades. Financeiramente,<br />
João Eduardo era um homem com bem menos<br />
dinheiro do que antes, mas com uma situação estável, buscando<br />
respeitar com dignidade as coisas alheias e a si, e também a<br />
compactuar com as pessoas mais simples a sua atenção e os seus<br />
gestos solidários.<br />
– Hoje eu tenho de ir ao centro espírita mais cedo,<br />
porque haverá uma reunião importante. Você irá comigo hoje,<br />
Izabel?<br />
– Sim, quando quiser e como quiser, meu senhor.<br />
A Casa de Caridade<br />
A cada duas semanas, às quartas-feiras, as sessões eram<br />
feitas somente com a classe mediúnica, onde, além da presença,<br />
ou melhor, do contato com os Espíritos, havia um tempo para<br />
fazerem leitura e explanação de bons livros espíritas. Era um<br />
conceito de busca de conhecimentos numa ciência profundamente<br />
tentadora, que em sua beleza se ocultava como em matizes.<br />
Assim também os espíritos com pouco conhecimento, como<br />
por exemplo, Lídia, também poderiam desfrutar daquele bom<br />
aprendizado.<br />
Após leituras feitas e com a presença das Entidades Espirituais,<br />
poderiam ser feitas perguntas para esclarecimentos pessoais. Médiuns e<br />
mentores se dispunham a dar todas as explicações.<br />
– Irmão, onde moram os espíritos? – perguntou João Eduardo.<br />
173
– Assim como disse o nosso Mestre Jesus, existem muitas<br />
moradas, meu irmão, que estão de acordo com a compreensão<br />
de cada espírito. Existem lugares maravilhosos, lugares amenos<br />
e lugares horríveis, de muito sofrimento.<br />
– E como fazer para que um espírito mau se torne<br />
bom? – indagou Izabel, mas antes que o mentor pudesse responder,<br />
uma senhora que ali estava, rapidamente virou-se e<br />
disse:<br />
– Louvado seja o nome do Senhor Deus! Eu sou Lídia,<br />
necessito do perdão de vocês dois para que possa alcançar os<br />
meus objetivos e as graças divinas.<br />
A senhora, tomada pelo espírito, se põe a chorar. Era Lídia!<br />
– Por Deus, perdoem-me! A minha morada ainda é um<br />
pouco distante e se tornará próxima de Deus através do perdão<br />
de ambos, e minha caminhada se tornará mais suave<br />
– Não lhe perdoamos só uma vez minha querida irmã,<br />
como lhe perdoamos quantas vezes forem necessárias – responde<br />
Izabel, carinhosamente. – Que Deus lhe fortaleça em seu<br />
novo caminho rumo à Espiritualidade. Lhe pedimos que nos<br />
perdoe também.<br />
– Me perdoe Lídia – diz João Eduardo, – pois tudo<br />
não passou de um mal-entendido. Minha irmã, eu realmente<br />
fui egoísta, só me preocupando com o meu bem-estar.<br />
Em seguida, aquela senhora é tomada por um grito<br />
tão piedoso que algumas pessoas se assustaram e, entre elas,<br />
além de João, Izabel e o mentor, todos viram que uma mulher<br />
jovem – Lídia – levantara seus braços abertos, glorificando a<br />
Deus pelo perdão tão rápido. Em meio ao testemunho, as<br />
pessoas começaram a ouvir uma suave melodia de louvor a<br />
Deus, que saía dos lábios de uma das pessoas ali presentes.<br />
– Mais uma vez a vitória. Mais uma vez, Lídia, em sua<br />
mutação, de espírito rebelde torna-se um espírito bom – diz o<br />
mentor a todos. Pela pergunta que a mim fizestes, irmão, creio<br />
174
não ser necessária a minha resposta, mas posso lhe afirmar que,<br />
a partir de agora, Lídia estará em boa companhia, pois sua mamãe<br />
estará com ela como assim sempre desejou tê-la como eterna<br />
companheira. Vá com estes irmãos maravilhosos e dedicados<br />
e também com a presença de Deus altíssimo, Lídia. Deus realmente<br />
não tem nenhum filho a perder, todos têm chances de<br />
voltar para Ele. Quaisquer Entidades podem conduzir o espírito<br />
para o lado do bem, com amor e dedicação. O amor e o perdão<br />
são as mais eficazes das armas. Não há nada melhor para combater<br />
o mal do que o amor, pois o mal é sinônimo de ódio, de<br />
revolta, de violência e de terror. Esses sentimentos ruins afetam<br />
tanto o plano material, quanto o espiritual. Mas o amor, sinônimo<br />
do bem, o Grande Criador deixou para reger o nosso Universo<br />
que está aí, completo em seus planetas e em suas galáxias. Com<br />
suas estrelas, com seus astros e com toda a Criação que o nosso Pai<br />
Eterno nos deixou, além de sua generosidade em multiplicar os<br />
alimentos, a água em abundância e o oxigênio, que carinhosamente<br />
chamamos de o “Hálito de Deus” e tantas outras generosidades.<br />
No plano espiritual nós vivemos em plena evolução, principalmente<br />
quando temos a oportunidade de trabalhar com as<br />
nossas energias em prol do próximo. E quando ainda somos pouco<br />
esclarecidos, passamos por estágios, que nada mais são do que<br />
o nosso regresso ao mundo de expiações, assim chamado por nós,<br />
pois somos nós mesmos que nos condenamos a reencarnar, e pedimos<br />
para voltar para, aqui em Terra, poder resgatar as nossas<br />
dívidas de vidas passadas. É como uma duplicata que você tem de<br />
pagar ao seu credor. Por isso aqui, no plano terrestre, nunca somos<br />
totalmente felizes, somos inseguros com o dia de amanhã.<br />
– É a isso que chamamos de reencarnação?<br />
– Exatamente. A reencarnação é o ressurgimento do espírito,<br />
como as sementes que brotam e renascem sobre a terra.<br />
A morte é um fenômeno natural, a passagem para a outra vida,<br />
175
a liberdade do espírito. Assim como a reencarnação é a passagem<br />
para a expiação.<br />
Aqui, neste plano, os espíritos encarnados sofrem pela<br />
insegurança e necessidade de obter bens materiais para a continuação<br />
da vida, tida como preciosa. Todos amam a vida<br />
porque ela oferece a oportunidade de resgatar dividas anteriores,<br />
os espíritos encarnados têm este instinto e sentem o<br />
receio da morte e querem viver vários anos, por terem aqui<br />
na Terra a grande oportunidade de se resignar. Portanto, quanto<br />
mais tempo ficamos presos ao corpo físico, mais se tem a<br />
oportunidade do resgate. Mas mesmo assim há limites, devido<br />
ao peso da carne. Aqui, no plano espiritual, nós nos tornamos<br />
mais leves, porque deixamos a roupagem que nos oprime (o<br />
corpo físico). Tanto é que, ao chegarmos aqui, de volta no mundo<br />
espiritual de forma natural, nós, em nosso subconsciente, sorrimos,<br />
ao passo que, ao chegarmos aqui em Terra pela reencarnação,<br />
ao nascermos, choramos.<br />
Nesse momento, Isabel faz uma pergunta ao irmão<br />
espiritual.<br />
– E você, irmão, deve ser um espírito de muita luz!<br />
Ainda haverá a necessidade de você reencarnar e voltar para<br />
este plano?<br />
– Tenho me dedicado muito para que não haja mais<br />
essa necessidade, pois reencarnar, para nós, é como a morte<br />
no plano físico. Quanto mais trabalhamos, mais queremos<br />
trabalhar, porque é pelo labor que conseguimos erguer a bandeira<br />
da paz e do amor, em prol dos nossos semelhantes e da<br />
evolução. Trabalho não por mim, somente. Trabalhamos por<br />
nós, incansavelmente, por toda a eternidade. Essa é a ebulição<br />
do Universo. Somos energia, minha irmã, e desejamos<br />
que um dia o Universo seja totalmente iluminado pela compreensão.<br />
Quanto a reencarnar, só se eu regredir em minhas ações.<br />
Pode ser até que eu esteja na fase angelical, e isso é imutável.<br />
176
Mas, se eu regredir, o meu tempo de estada como reencarnado<br />
poderá ser de um segundo apenas, uns meses ou poucos anos,<br />
como também poderá ser de vários e vários anos. Isso depende<br />
dos meus próprios conceitos, ou seja, dos meus atos, de minha<br />
livre escolha. Você entendeu minha irmã?<br />
– Ainda estou confusa.<br />
– Observe que aqui, neste plano físico, milhares de<br />
seres humanos retornam em suas passagens de volta ao plano<br />
espiritual diariamente. Adultos, crianças, idosos e adolescentes.<br />
Isso porque a reencarnação tem um tempo de expiação, ou<br />
um prazo de validade. Como diz a palavra de Deus, “O fruto<br />
será colhido em seu devido tempo”.<br />
– Ainda estou um pouco confusa, irmão.<br />
– Vou lhe dar um exemplo: se você contrai uma pequena<br />
dívida, você vai pagá-la mais rápido. Por quê? Porque<br />
ela ainda está pequena. Porém, se a sua dívida for grande,<br />
certamente que se puder você pagará, caso contrário, você levará<br />
um tempo maior para quitá-la. Quando uma criança morre, é<br />
exatamente porque em sua vida passada só existia uma pequena<br />
dívida, ou seja, um pequeno carma para o seu resgate, ou para a<br />
sua volta à Espiritualidade.<br />
– Irmão, agora compreendo como a obra de Deus é<br />
perfeita e cheia de graça!<br />
– Sim, irmã, e olha que só conhecemos um milésimo<br />
dessa perfeição. Imagine o restante! São coisas que na graça<br />
de nossos pensamentos nem há como alcançar.<br />
O bom José e João Eduardo<br />
Terminada a sessão, João se sente envergonhado de<br />
perguntar ao médium Lázaro ou ao mentor a respeito de sua<br />
saúde, pois, ainda frágil em seu pensamento, uma gotinha de<br />
medo rondava sua fé, que não era totalmente convicta. Seu<br />
177
etorno ao médico fora marcado para o dia seguinte e, a partir<br />
dali, João contava cada hora que se passava, permitindo em si<br />
que uma pequena amargura lhe corroesse.<br />
Ao saírem do centro espírita, João e Izabel foram<br />
acompanhados até o veículo pelo irmão José, o bom José,<br />
que havia percebido no semblante de João que ele não se<br />
sentia bem, pois escondia alguma amargura.<br />
– João, não me negue. Diga-me, por favor, Por que<br />
você está permitindo que essa angústia lhe tome? Não, não é<br />
possível meu irmão, que por um pequeno deslize você jogue<br />
a sua felicidade fora, isso é inadmissível!<br />
João não manifestara o seu temor a Izabel para que ela<br />
não se preocupasse. O que ele não queria também é que alguém<br />
jamais soubesse de sua particular incredulidade. João Eduardo<br />
não conseguia assimilar para si que o seu problema era o que<br />
popularmente se chama de “encosto” e, em seu conceito, o afastamento<br />
do espírito obsessor não iria lhe trazer a cura de seu<br />
corpo físico. Ainda havia em João um pequeno sinal de descrença;<br />
não quanto à Espiritualidade, mas quanto à duração de<br />
sua vida neste plano.<br />
– Perdoe-me, meu bom José. Eu sei que é tentação<br />
ou ignorância minha, por isso peço ao senhor que me ajude.<br />
– Acalme-se, meu bom rapaz, que tudo dará certo.<br />
Confie em Deus.<br />
Izabel, entremeada em lágrimas, sorri e abraça João<br />
Eduardo ternamente, dizendo-lhe:<br />
– Meu grande esposo, o nosso carma ainda está muito<br />
pesado. Com o que aprendi há pouco com o nosso mentor,<br />
temos uma dívida dolosa para resgatar, por isso viveremos<br />
até nossa total velhice. O nosso bom José é quem pode nos<br />
dizer também quanto a esse nosso carma.<br />
– Tenha fé, meu filho. Que tenha a sua fé a dimensão<br />
de uma semente de mostarda, não importa. Tu e tua compa-<br />
178
nheira sigam os teus caminhos na paz do Senhor, nosso Deus.<br />
Não se preocupem, vão em paz.<br />
Ao ouvir aquelas palavras do bom José, João Eduardo<br />
sentiu-se mais confiante, tranquilo e com uma expressão<br />
de sorriso na face, pois adorava quando seu bom amigo lhe<br />
passava alguma mensagem. Isso lhe confortava.<br />
Já sozinho, João se perguntava: – Será que estou curado<br />
mesmo ou o meu problema é psíquico? Ou será que eles estão<br />
me escondendo a verdade para que eu não me desespere? O que<br />
será meu Deus? Será que o pessoal do centro está mentindo<br />
para que eu não caia em desespero?<br />
O espírito transmissor deixa transparecer a doença no<br />
corpo, na alma ou no psiquismo.<br />
É o que todos da casa de caridade dizem a João Eduardo e<br />
Izabel. Quando surge no corpo, a medicina consegue diagnosticar<br />
por intermédio de exames avançados como radiografias,<br />
ultrassonografias e ressonâncias, que buscam tumores<br />
benignos, malignos e tantas outras enfermidades. Mas se o problema<br />
estiver na alma, o espírito que causa obsessões transmite à<br />
sua vítima, por meio de ilusões, uma variedade imensa de achaques,<br />
trazendo-lhe uma série de sintomas. Isso torna a vítima<br />
desses espíritos perturbadores muita agressiva, podendo, em algumas<br />
dessas situações, levarem-no a uma enfermidade desconhecida<br />
pela medicina. É o que comumente acontece.<br />
Citemos como exemplo o caso de João Eduardo, quando<br />
auxiliado pela Espiritualidade. Se a pessoa possuída, seja por<br />
incredulidade, falta de orientação ou desconhecimento não buscar<br />
socorro para iluminar sua aura, certamente que com o tempo<br />
o seu corpo se tornará morada de espíritos sugadores ou<br />
vampirescos, que nada mais são que energias de baixa frequência,<br />
que acreditam que só podem sobreviver dessa forma, sugando a<br />
energia alheia. E quando a situação se entrelaça nesse sentido,<br />
fica quase impossível a recuperação da pessoa que está sendo<br />
179
obsedada. O “encosto”, afeta o paciente ou vítima de tal forma,<br />
que em muitos casos a vítima começa a declinar psíquica e financeiramente,<br />
e até no convívio familiar e de amigos. Outros<br />
passam a usar drogas e bebidas alcoólicas em excesso e a agredir<br />
fisicamente as pessoas. Existem médicos, advogados, intelectuais<br />
ou outros, morando nas ruas, embaixo das pontes ou em<br />
hospícios, sem que haja uma explicação coerente ou convincente<br />
de psiquiatras de renome para esse tipo de comportamento,<br />
pois no cérebro do paciente não consta nenhum tipo de lesão,<br />
sendo que esses problemas ou anomalias são causados pelos<br />
chamados “encostos”.<br />
Mas no caso de nosso amigo João, mesmo ainda estando<br />
um pouco descrente, há sim grandes possibilidades de cura.<br />
Retirou-se dele o espírito que o obsedava, conduzindo essa frágil<br />
criatura para outras esferas evolutivas, onde terá novas oportunidades<br />
de superar as suas próprias sombras. Cuidar de um<br />
espírito como Lídia requer paciência e muita dedicação.<br />
Em Sintonia com o Divino e com a Natureza<br />
Acreditamos que estar em sintonia com a Natureza é<br />
estar em harmonia com o “Onipotente”. Os elementos da<br />
Natureza – água, terra, fogo e ar – são primordiais para nossas<br />
vidas, acreditem! Os vegetais, em sua grande variedade, nos<br />
são úteis devido a grandes fontes energéticas que possuem. A vela<br />
simboliza o sol ou o fogo; Usamos as velas por causa do fogo,<br />
pois fogo é luz, que ao resplandecer nos serve como ponto<br />
referencial. Como dizem, “Uma luz no fim do túnel” ou a “estrela<br />
guia”. Onde há uma vela acesa, o ambiente se torna purificado,<br />
pois o calor da mesma mantém aquele local livre de bactérias, e os<br />
trabalhos espirituais seguem envoltos em energias boas ou ruins,<br />
de acordo com quem os estiver conduzindo. Se tudo o que há<br />
180
aqui, neste orbe, é dádiva de Deus, por que não utilizarmos o<br />
que Ele nos emana?<br />
Vejamos a importância das ervas, em conjunto aos<br />
quatros elementos da natureza.<br />
As Ervas<br />
As ervas são ricas em clorofila e outras substâncias<br />
fornecidas pelos quatros elementos da Natureza. João Eduardo,<br />
em uma das sessões, pergunta ao Irmão Lázaro sobre a<br />
utilização das ervas nos trabalhos.<br />
– O Senhor e as entidades, irmão Lázaro, se utilizam<br />
de instrumentos como velas, águas e ervas, para captar forças<br />
positivas. Por que isso se faz necessário aqui, nesta casa<br />
de caridade, se em outras denominações o que basta são as orações,<br />
dízimos e ofertas?<br />
– Cada lugar tem o seu culto, o seu ritual, a sua liturgia.<br />
Em todas as denominações, os dirigentes, quando bem intencionados<br />
em suas progressões, tudo o que ali por ele for<br />
utilizado tem a sua eficácia. Em nosso caso, sabemos que.<br />
quando nós, seres humanos, ingerimos verduras e ervas cruas<br />
conquistamos um grande benefício, tanto para o corpo<br />
material, quanto para o corpo astral, ou seja, nossas aura ou<br />
corpo astral também são beneficiados com os alimentos, chás e<br />
banhos com ervas.<br />
Os nossos antepassados, digo, avós e bisavós e também<br />
os índios e os velhos africanos, fervorosos no curandeirismo,<br />
usavam e recomendavam as ervas não somente para banhos e<br />
plasmas como também em forma de chás, sucos de ervas e também<br />
a ingestão das raízes, acreditando eles que as ervas fossem o<br />
meio mais eficaz para a manutenção da saúde. E, logicamente,<br />
eles estavam corretos em seu pensar e em suas ações, pois na<br />
época a medicina era algo muitíssimo raro. Quanto às pesquisas<br />
181
da medicina em relação à utilização de ervas, já há comprovações<br />
positivas em relação à teoria das antigas vovós.<br />
Água<br />
Água<br />
Os Quatro Elementos<br />
A água das nascentes, como também a que nos chega<br />
por intermédio das chuvas, nos traz energias primorosas. Os<br />
trovões, magníficos, ao anunciarem a chegada das águas provindas<br />
dos céus, avisam que uma chuva cairá para lavar a<br />
terra e penetrar em suas entranhas. Ao anunciarem as águas,<br />
às vezes surgem vozes que ressoam os seus martírios... Vozes que<br />
cantam a benevolência trazida pelas águas. O trovão, aos quais<br />
nossos irmãos indígenas dão à antonomásia de “deus”... Faz-se<br />
natural que o digam assim: “deus-trovão”, pois realmente não é<br />
ele o pai supremo que eles se referem, porém, uma essência abastada<br />
em alento.<br />
A água, em sua composição, contém ferro, fosfato,<br />
enxofre, magnésio e outros nutrientes. É ela que sustenta as<br />
nossas vidas. Isso se pode observar em nosso próprio corpo<br />
físico, cuja maior quantidade é composta de líquidos. Assim<br />
também é a composição de nosso planeta: 70% do nosso Globo<br />
Terrestre é composto de água.<br />
Fogo ogo<br />
O fogo, por meio do aquecimento do sol, em sua perfeição<br />
e grandiosidade está colocado a uma distância estratégica,<br />
para que nós, seres humanos, não sejamos sucumbidos.<br />
Ele é o nosso condutor de energia, a nossa estrela de quinta grandeza.<br />
182
O fogo saído de uma lareira, ateado em uma mata... O<br />
fogo que surge do centro da terra, que esparge dos vulcões. O<br />
fogo aceso de uma vela.<br />
Vejamos o quanto o fogo destrói, mas o que ele também<br />
constrói, mesmo destruindo. O fogo destrói bactérias e é a<br />
própria luz! Mesmo rigoroso, nos é benevolente, pois nos ilumina<br />
nas trevas. Ele nos aquece do triste frio do corpo e da<br />
alma.<br />
O fogo, em sua luz nos resplandece, nos guia como<br />
uma estrela, nos encaminhando para a vida eterna. Este é o<br />
monologo do fogo<br />
Onde houver uma vela acesa, tudo ao seu redor estará<br />
quimicamente esterilizado; ao seu redor não permanece<br />
ou não sobrevive nenhum inseto, tudo flui bem, pois, ao vê-la<br />
acesa em fogo, a nossa certeza é de um ambiente purificado. E,<br />
em nosso caso, o simbolizo em almas benfazejas.<br />
Terra erra<br />
Muito interessante quando chamamos a terra como<br />
mãe, a nossa mãe. Isso é algo extremamente belo, pois a nossa<br />
composição física é semelhante à dela e para ela todo ser<br />
vivo volta mesmo em cinzas. Os mesmos elementos que a terra<br />
possui o corpo físico também tem. Há entre nós um termo<br />
perfeito quando dizemos que a terra nos alimenta. Sim. É puramente<br />
verdade, pois como bem sabemos, carecemos de seus<br />
nutrientes, dos grãos às frutas, de espécimes vegetais e animais,<br />
tudo para a sobrevivência de nossos corpos físicos, ajudando<br />
assim, o ciclo da nossa evolução!<br />
Quando o espírito parte de volta ao plano espiritual,<br />
devolve à terra o que dela utilizou em forma de pó ou cinzas,<br />
reciclados ou reutilizados como fertilizante.<br />
Frase do célebre químico francês Lavoisier: “Na Natu-<br />
183
eza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Isso é muito<br />
perfeito e filosófico. Em nosso planeta, tudo se permite quando<br />
há a junção dos quatro elementos: fogo, terra, água e ar em<br />
perfeita harmonia, fazendo parte ativa da composição ou do<br />
milagre da colheita (arroz, feijão, milho, soja etc.).<br />
Ar Ar – – Oxigênio<br />
Oxigênio<br />
O oxigênio tem o sufixo “GÊNIO”. Quem sabe não<br />
seja um ar libertino formado por gases de ectoplasmas, pois<br />
gênios, no mundo extrafísico, são os espíritos, que se movimentam<br />
livremente pelo Universo, redundando numa única,<br />
extra e genial Energia: Deus. O ar perfeito, o oxigênio, o “hálito<br />
de Deus”.<br />
Nós, sem esse ar, não podemos ser coisa alguma! Nem<br />
mesmo partícula de nada, pois nem chegaríamos a nascer,<br />
por ser ele o principal elemento que, estando ligado à<br />
espiritualidade, rege a existência dos seres viventes.<br />
Para o Universo, o ar é único, é o “fôlego da vida”.<br />
Para se ter uma idéia o feto, durante a estada no útero de sua<br />
futura mãe, não tem vida própria, ele depende do ar que ela<br />
respira. Mas assim que o feto sai do corpo de sua mãe, a primeira<br />
coisa que ele precisa é de ar, e é nesse exato momento que se<br />
tem a junção do corpo espiritual com o corpo físico ou carnal,<br />
para sua sobrevivência.<br />
Irmão Lázaro continua com suas explanações<br />
– Quem mais respeita a Natureza? A parcela de pessoas<br />
que ainda conserva o bom- senso está se tornando irrisória.<br />
Não existem mais índios ou sertanistas que zelem 100% pela<br />
Mãe Natureza. O poder e a ganância, a estupidez, o desrespeito e<br />
a imoralidade, fazem estada neste mundo. É como cuspir no<br />
184
prato que se come. Abusam do autoritarismo, achando que pelo<br />
poder e pelo dinheiro, tudo podem. Acreditam ser sábios, mas na<br />
verdade são ignorantes e incrédulos. Não sabem que a reencarnação<br />
é algo notório e lógico, que merece ter um pouco de atenção.<br />
Quem sabe, se assim o fizessem, cuidariam um pouco mais do<br />
nosso planeta, da nossa Mãe Natureza. É assim o que o ser humano<br />
é: insatisfeito e cheio de soberba.<br />
Satisfeitos, João e Izabel se despedem marcando uma<br />
próxima reunião.<br />
Anita em consulta no Centro<br />
No pequeno centro espírita havia poucos médiuns,<br />
porém, eram pessoas realmente dedicadas e convictas de<br />
suas missões. Cumpridoras de suas obrigações, elas ali se<br />
encontravam toda vez que era necessário. Eram pessoas<br />
que tinham conhecimento da verdadeira riqueza doada<br />
por Deus: o amor ao próximo, a solidariedade e o perdão.<br />
No centro, João Eduardo encontra sua amiga.<br />
– Anita, você vai consultar com alguma entidade?<br />
– Sim, João. Hoje estou aqui também à procura de<br />
colo e braços para um consolo espiritual.<br />
– Você gostaria de se consultar com Mãe Benedita?<br />
– Que bom! Gostaria sim.<br />
Anita, aproxima-se da médium incorporada Irmã<br />
Alzira, uma senhora simples, humilde e de apenas 52 anos,<br />
cuja incorporação fizera com que a sua idade se duplicasse<br />
devido ao perispírito daquela sábia negra ex-escrava,<br />
“Irmã Benedita”. Com a proximidade, ela se reerguia<br />
em luz por meio de Irmã Alzira, que zelosamente a auxiliava<br />
emprestando-lhe seu corpo, doando-lhe energias, como<br />
a quem só pode um anjo ainda em corpo físico. Sem que<br />
percebessem, havia entre ambas uma ligação formidável em prol<br />
185
das pessoas que ali estavam em busca de prosperidade física e<br />
espiritual. Sim, um verdadeiro elo que cresce entre alguns membros<br />
da humanidade: o compartilhar.<br />
Naquele instante, ali estava Anita, a terceira pessoa. E<br />
Mãe Benedita se dirige a ela.<br />
– Hum... Minha filha, Deus te abençoe!<br />
– Que a sua benção, minha mãe, me sirva de lenitivo.<br />
– Filha, você está pensando em tomar uma atitude há<br />
um bom tempo, mas não tem coragem suficiente para tal projeto,<br />
que é colocar a pessoa a quem tanto ama a prova. Eu lhe<br />
afirmo: Essa prova que você exige dele é desnecessária. Esse seu<br />
rapaz está para tomar decisões em sua vida, decisões corajosas de<br />
um homem de bem, que vêm de encontro ao que você pensa.<br />
Digo-lhe, no entanto, que mesmo eu lhe recomendando a não<br />
fazer, por não haver necessidade, você fará.<br />
– Será mãe? Será que o que estou pensando em dizer<br />
a ele vai ser tão ruim assim?<br />
– Minha filha, ele está cansado de ser o que é no seu<br />
dia-a-dia, em sua vida profissional. E, por outro lado, está<br />
deslumbrado com o seu modo de vida, e esse deslumbramento<br />
chama a atenção de alguém ruim que quer prejudicá-los. Ore<br />
bastante por Oscar filha, cuide para que ele não decaia por vibrações<br />
ruins.<br />
– Mas porque a senhora me diz dessa forma? Parece<br />
querer me resguardar de algo.<br />
– Exatamente, porque eu não quero que você fique<br />
assustada com algum mal- entendido que você e Oscar possam<br />
ter, e que isto venha a lhe aborrecer. Mas não se preocupe,<br />
pois estaremos sempre ao seu lado. Se acalme que tudo<br />
virá a seu tempo, confie em Deus.<br />
Anita, muito preocupada com as atitudes que tinha para<br />
tomar, percebeu o que aquela mensageira queria lhe passar.<br />
– Ouça com atenção filha, e guarde para si tudo o que<br />
186
eu lhe disse.<br />
– Sim, minha mãe, eu farei o possível. E o meu bebê? A<br />
senhora acha que ele está bem?<br />
– A aura do seu bebê está ótima. Fique tranquila filha,<br />
que nós estamos juntinhos de vocês. Deixe-me benzer o<br />
seu corpo com um pouco de arruda para que você possa<br />
retornar em paz ao seu lar.<br />
Após a benzedura, Mãe Benedita recomenda a Anita<br />
tomar alguns banhos de rosa branca apanhada em quintal,<br />
pois seria bom para o bebê. Ao chegar em casa, logo lhe vem<br />
um sono inexplicável, e ela se deita e adormece. Ao adormecer,<br />
seu espírito passa a visitar lugares tranqüilos e interessantes. Nesse<br />
seu giro pelo mundo espiritual, Anita encontra com um jovem<br />
em apuros. Ao aproximar-se dele, já não o vê mais com esse<br />
aspectos, pois ele se modificara em seu físico, parecendo um<br />
homem de meia idade, cuja aparência, à primeira vista não identificara<br />
nitidamente, mas percebera, ao aproximar-se dele, que<br />
se tratava de Oscar, cercado por espíritos malfeitores. Próxima<br />
dele estava Mãe Benedita, que usava suas vibrações numa luta<br />
exaustiva para livrá-lo daquela baixa frequência. Na verdade, o<br />
sonho de Anita, estava concernente à realidade, pois foi revelado<br />
em seu sonho o que realmente estava acontecendo com o seu<br />
amado. Anita era médium sonambúlica, mesmo sem perceber.<br />
Oscar estava sendo envolvido por entidades negativas,<br />
exatamente porque o ex-namorado de Anita há muito vinha<br />
lutando para reconquistá-la por vingança e ódio, após Anita abandonar<br />
a ideia de reatar o namoro com ele. Apelando para conseguir<br />
obtê-la de volta, não por amor, mas para satisfazer seu ego,<br />
ele queria apossar-se de Anita, pois estava ferido em seu orgulho.<br />
Quando ela quis tê-lo de volta, ele a humilhou de todas as<br />
formas possíveis, mas quando ela concluiu que viveria feliz sem<br />
ele, então, com seu orgulho ferido, começou a apelar procurando<br />
templos evangélicos, igrejas, fazendo novenas e até feitiçarias<br />
187
com bruxos, tudo na intenção de prejudicar Oscar, pois ele acreditava<br />
que sem Oscar em seu caminho, tudo ficaria mais fácil.<br />
Por isso a dificuldade para Oscar e Anita ficarem juntos, e essas<br />
vibrações ruins começaram a fazer um efeito mais eficaz quando<br />
Oscar desistiu de Anita para colocá-la à prova. Por esse motivo,<br />
Oscar e Anita não conseguiam completar o sonho de ambos de se<br />
casarem, sempre havia alguma atrapalhação.<br />
Por conta dessas energias ruins, Oscar sentia desanimo para<br />
o trabalho, além de outros afazeres que arcara para constituir sua<br />
família. Mas Oscar era um homem de boa índole e bem intencionado.<br />
Na verdade, fora aberta uma fresta em sua aura e ele estava<br />
vulnerável àquela energia ruim, por ter um pouco de revolta em seu<br />
coração e por algo errado que ele cometera anos atrás. Oscar, já<br />
conhecendo um pouco a espiritualidade, começa perceber que não<br />
se encontrava bem. Vivia aborrecido e ranzinza, e seu comportamento<br />
não era aquele que costumava ter. A cada dia manifestava<br />
uma nova maneira de se comportar. Aquela energia parecia se multiplicar<br />
todos os dias, e Oscar estava abandonando a sua empresa.<br />
Ele, que era uma pessoa educada, bem conceituada, coerente e, acima<br />
de tudo, humilde. Mas ultimamente se sentia angustiado, sonolento,<br />
com raiva de tudo e de todos e sem interesse por nada.<br />
Anita, preocupada com seu sonho e com as atitudes de<br />
Oscar, no outro dia, inquieta e tensa, resolve ligar para Oscar para<br />
comentar o sonho que tivera com ele na noite passada.<br />
– Alô! Como está você Oscar? Está tudo bem? Liguei para<br />
o seu trabalho e o senhor Mário falou-me que faz três dias que você<br />
não aparece por lá, então, resolvi ligar para você aí em sua casa.<br />
Oscar, sem perceber que estava envolvido por energias ruins,<br />
responde com certa grosseria.<br />
– E daí, Anita? O que é que há? Se eu não fui trabalhar<br />
é problema meu, somente meu. Será que não posso descansar?<br />
Olhe Anita, não me leve a mal, mas vou desligar porque eu<br />
estava dormindo e você me acordou. Outra hora a gente<br />
188
conversa, está bem assim?<br />
– Não desligue Oscar, quero falar-lhe de um sonho<br />
que tive com você ontem. Sonhei que você estava sendo<br />
envolvido por espíritos ruins. E nessas...<br />
– Eu não sabia que você agora estava ficando fanática!<br />
Sonho é sonho, Anita! Tchau. – e desliga o telefone.<br />
– Meu Deus! O que estará acontecendo com Oscar?<br />
Ele nunca agiu dessa maneira! Ainda bem que eu não me<br />
casei com esse grosso!<br />
Oscar, ao se levantar, faz uma oração costumeira<br />
que sua mãe lhe ensinou na infância. Logo após a oração,<br />
ele começa a lembrar o que disse a Anita por telefone. Por<br />
que teria usado aquelas palavras com ela? Anita queria dizer-lhe<br />
alguma coisa importante, mas a sua rudez não lhe<br />
permitiu ouvi-la. Ele fora extremamente bruto com ela. Confuso,<br />
ele se assustava com os seus próprios gestos. Preocupado<br />
com a atitude que teve com Anita, também se sentia feliz. Na<br />
verdade não era felicidade, mas sadismo, emanado daquelas<br />
más energias enviadas pelo ex-namorado de Anita, tendo como<br />
intermediário um feiticeiro mau-caráter.<br />
De volta à Mãe Benedita<br />
Assim que Anita se aproxima de Mãe Benedita, ela lhe diz:<br />
– Pois é, minha filha. Às vezes a gente começa a ter um<br />
sonho bom, e esse sonho se transforma e fica ruim. Com a sua<br />
sensibilidade, que por sinal se faz muito importante na<br />
espiritualidade, sem com que perceba você às vezes consegue ajudar<br />
alguém.<br />
– Então a senhora sabe do sonho que tive esta semana? Eu<br />
estou preocupada. Por isso vim até a senhora para que me socorra<br />
com o seu auxílio costumeiro, orientando-me no que melhor eu<br />
189
deva fazer para ajudar Oscar.<br />
– Veja filha, o que você teve não foi bem um sonho, foi<br />
um contato extrafísico ou uma visão. Nós aproveitamos o seu<br />
estado de sonolência para requisitarmos o seu espírito para nos<br />
ajudar, pois você é o elo entre nós e Oscar, o nosso porta-voz.<br />
Você fez uma viagem astral; levamos você para outra dimensão.<br />
– E por que eu, mãe Benedita?<br />
– Às vezes nós necessitamos trabalhar com o espírito<br />
de encarnados. No caso de Oscar, para nós fica mais fácil ajudálo,<br />
pois a temos como nossa intermediária ou aliada. A sua<br />
participação foi fundamental naquele momento, porque o seu<br />
bom pensamento e a sua energia são maravilhosos. A sua aura<br />
é verdadeira, repleta de pontos contínuos de luz. Nós, do plano<br />
espiritual, trabalhamos muito bem contigo, minha filha!<br />
Agora, lhe peço que me conte sobre a visão que teve com Oscar<br />
em sua viagem astral. Isso irá ajudá-lo bastante, para que ele reflita<br />
bem e aprenda a se safar dos seus momentos de aflição e se defender<br />
dos irmãos das baixas esferas no plano inferior, que neste<br />
momento tentam envolvê-lo.<br />
– A Senhora, Mãe Benedita, disse que gosta de trabalhar<br />
comigo, sendo assim, não foi a primeira vez que eu tive a honra<br />
de trabalhar com a senhora, não é? E estou muito emocionada;<br />
quando precisar de mim e só me chamar, minha mãe, com seu<br />
gesto tão carinhoso!<br />
Ao dizer aquelas palavras, Anita sente o seu coração<br />
acelerar os batimentos, devido à emotividade que sente junto<br />
de Mãe Benedita, deixando que as lágrimas se derramem<br />
em sua face, para que seu lindo rosto e sua alma se refresquem<br />
com elas.<br />
Mãe Benedita responde com afeto:<br />
– O amor que há entre nós nos faz irmãos, filhos e pais,<br />
nos faz Deus!<br />
– Nós temos ligações de vidas passadas? Seguramente<br />
190
que sim...<br />
– Filha. Aqui, nesta vida terrena, siga e cumpra dignamente<br />
a sua missão. Neste plano, a sua caminhada será<br />
grande. Viva cada dia de sua vida sempre com intensidade, e<br />
faça tudo que tiveres de fazer com total alegria. Auxilie o seu<br />
bom amigo e amado Oscar, retirando dele, em nome de Deus,<br />
as más influências que tentam obsedá-lo pela magia negra.<br />
Essa é a meta do seu destino.<br />
No dia seguinte, Anita vai<br />
à casa de João Eduardo<br />
Anita, em visita ao casal João Eduardo e Izabel, casualmente<br />
(nada é por acaso) se encontra com Oscar. Ela pensa então<br />
– “Foi bom encontrá-lo, pois justamente o que eu iria fazer<br />
na casa de nossos amigos era pedir ajuda a eles no caso de Oscar,<br />
pois me encontro sozinha e sem forças para fazer o que for necessário<br />
por ele. Anita já se sentia cansada por causa da gravidez,<br />
pois seu corpo se avantajava à medida que o bebê se desenvolvia<br />
dentro de seu ventre. Ao chegar à casa de Isabel, estava fatigada<br />
com a roupa que usava, pois não estava adequada, apertava-lhe<br />
o corpo. Izabel logo percebe que Anita estava inquieta por causa<br />
da roupa que estava usando e, não resistindo, pois aquilo lhe<br />
incomodava também, pediu-lhe que fossem até o seu quarto,<br />
pois queria falar-lhe algo. Ao chegarem, Izabel foi até seu roupeiro<br />
e pegou um lindo vestido de gestante, bem solto, leve e muito<br />
suave, num tom de azul-celeste que parecia ter sido feito exclusivamente<br />
para Anita, porque se mesclava à cor de seus olhos.<br />
Um vestido que, no corpo de Anita, expressava toda a sua grandeza<br />
de caráter, bondade e beleza de uma mulher digna em contribuir<br />
com a continuidade da humanidade, gerando um filho<br />
cuja alma vinha da vanguarda de espíritos e que resplandecia em<br />
luz.<br />
191
– Bem amiga, estou aproveitando esta oportunidade para<br />
presentear-lhe com algo. Aqui está: Ele é todinho seu, tome.<br />
– Para mim? – Diz Anita. – Mas ele é muito bonito e,<br />
com certeza, caríssimo!<br />
– Teria que ser ele muito bonito para combinar contigo.<br />
Você concorda?<br />
– É o seu coração quem diz, minha boa e doce amiga.<br />
– Você merece! Minha querida, isso é nada diante do<br />
que você é em sua dignidade. Gostaria que você o colocasse<br />
agora, será que é possível?<br />
– Eu coloquei uma roupa pouco adequada para o dia.<br />
Estou tão fatigada e alegre com o presente, que farei uso imediatamente.<br />
Muito obrigada minha amiga, que Deus ilumine<br />
o seu carinho.<br />
Izabel deixa que sua amiga fique à vontade para trocar<br />
de roupa. E, não tardando muito, logo Anita pede para que<br />
Izabel entre no quarto para ver como ela ficara. Anita tinha a<br />
pele clara, os cabelos levemente castanhos, olhos azuis como o<br />
mar, nobre em sua personalidade, estatura mediana, corpo magro.<br />
Era uma mulher simples, mas de traços elegantes e expressão<br />
delicada.<br />
Ao aproximar-se Izabel se alegra ao ver que ali havia uma<br />
majestade em formato mulher.<br />
– Anita! Eu gostaria imensamente de... Eu gostaria<br />
de ser... Eu gostaria...<br />
– Izabel, seja madrinha do meu bebê, por favor!<br />
– Era isso mesmo que eu estava tentando pedir-lhe,<br />
mas não me encorajava para terminar a frase, pois se eu for<br />
madrinha de seu filho, passarei a ser da sua família.<br />
– E era isso mesmo o que eu tanto queria, mas nunca<br />
tive coragem de pedir. Entregar o meu filho em seus braços para<br />
que faças dele um de seus filhos, para mim será uma consagração<br />
a Deus.<br />
192
Ambas se abraçam e, emotivas, se põem a sorrir e a chorar,<br />
seguindo ambas para a sala. Uma mulher grávida linda, ao<br />
lado de outra mulher maravilhosa, cuja beleza surgia da alma,<br />
vinha de dentro, de dentro da alma e envolvia todo o seu corpo<br />
físico.<br />
Oscar e João sorriem. – Que mulheres lindas!<br />
– Oscar! Como Anita é linda!<br />
– Sim. A minha, quero dizer, Anita é excepcional!<br />
Oscar, ao voltar seus olhos para Anita, pede<br />
desculpas a ela.<br />
– Perdão Anita, pelo que eu disse. Não se ofenda,<br />
pois você sabe que não é do meu feitio ser grosso daquela<br />
forma que fui.<br />
Anita, ao aproximar-se dele, acaricia seus cabelos e<br />
começa a contar para todos os sonhos que tivera com ele. Por<br />
outro lado, Oscar conta que, quando Anita lhe telefonou, ele se<br />
sentia como que estivesse embriagado, em transe. Com essa<br />
sintonia, ele sentia uma sensação de angústia e medo, o ambiente<br />
em sua casa tinha uma atmosfera pesada, tensa, chegando a<br />
ser indelicado com Anita.<br />
– Há momentos em que sinto desejos estranhos. Sinto<br />
que a necessidade do isolamento me faz bem, e que algumas<br />
atitudes surgem em meu pensamento para que eu, sem pensar,<br />
haja de uma forma irreflexiva, impensada. E sei que essas atitudes<br />
não me pertencem, sinto que algo estranho vaga sobre mim,<br />
e que essas energias não são boas.<br />
João e Izabel dizem, quase ao mesmo tempo. – Se é assim,<br />
iremos todos juntos ao centro espírita. Lá teremos a resposta<br />
para tudo isso que está acontecendo com você.<br />
Ao dizer a Oscar que iriam todos ao centro espírita,<br />
imediatamente ele modifica o seu semblante e, em tom de ironia,<br />
responde que não haveria necessidade de aborrecer os irmãos<br />
do plano superior e muito menos os médiuns da casa.<br />
193
Mas Izabel insiste. – Oscar, nós estamos notando a sua<br />
mudança de comportamento, você está diferente, não é o mesmo<br />
de alguns segundos atrás. Cuide-se, meu amigo, não se permita<br />
ser envolvido e vencido pelos perseguidores. Pense, algo<br />
deve estar errado Oscar.<br />
– Creio que não há necessidade. Eu não irei, estou bem.<br />
Izabel chama João Eduardo um pouco mais distante<br />
de Oscar, dizendo-lhe que seriam padrinhos do bebê. Pedelhe<br />
que ele aproveite esse tempo para convencê-lo.<br />
– Oscar, bem, se você não quer se cuidar, se é assim<br />
que quer, aceitamos a sua opção. Só que eu gostaria imensamente<br />
de batizar o bebê, a pedido de Izabel e Anita. Mas não<br />
posso aceitar.<br />
– Como não pode aceitar? Por que essa desfeita com a gente,<br />
que lhe tem tanto apreço?<br />
– E você está tendo esse apreço com a gente? Será? Por que<br />
você não pode atender a um pedido nosso?<br />
– Não, não! Pelo amor de Deus, eu não sei o que estou<br />
dizendo. Eu irei sim, até agora, se vocês quiserem e se for necessário.<br />
Mas aceite o meu filho como seu afilhado.<br />
A mudança repentina no comportamento de Oscar ocorreu<br />
porque o seu perispírito, estava mesclado com dois tipos de energia, ou<br />
seja, a de seus protetores e a daquela falange, enviada pelo feiticeiro a<br />
pedido do ex-namorado de Anita.<br />
– Nós já aceitamos o bebê, desde quando fora fecundado.<br />
Vocês nos ensinaram a amá-lo. Eu e Izabel nos encontramos com vocês,<br />
podemos dizer, na maior de nossas amarguras e, por intermédio de<br />
vocês e do meu grande amigo, o nosso bom José, estamos vencendo as<br />
nossas batalhas. O que pudermos fazer, nós faremos, pois estamos junto<br />
com vocês. Lutaremos para fazer o possível e o impossível.<br />
194
Os quatro amigos<br />
Os quatro amigos seguiram juntos à casa de caridade. Ao<br />
entrarem no centro espírita, a maioria das pessoas ali presente percebeu<br />
que com eles havia também uma sombra. Escura, ruim,<br />
que trazia consigo uma atmosfera pesada, envolvida de maus presságios,<br />
afinal, os que ali estavam eram sensitivos por trabalharem<br />
espiritualmente.<br />
Logo se inicia a sessão. Irmão Lázaro era um excelente<br />
médium, um homem de 58 anos que passara da juventude até o<br />
presente momento a prestar serviços de caridade ao seu próximo.<br />
Ele era uma pessoa muito instruída quanto aos trabalhos mais<br />
pesados com certos espíritos. Herdara essa bem-aventurança de<br />
seu pai, que também já nascera dentro da filosofia espírita. O<br />
incrível é que, junto dele, os seus pais constantemente, ainda em<br />
visa, colaboravam participando em suas devidas funções.<br />
Logo após a abertura da sessão, irmão Lázaro inicia sua<br />
palestra.<br />
– Meus irmãos, daremos início à nossa sessão de hoje.<br />
Vamos pedir a Deus que tenha misericórdia de nós, não permitindo<br />
que as energias densas venham nos tentar. Pedimos a presença<br />
de todas as correntes que nos prestam socorro, dos benevolentes<br />
anjos salutares, aos guerreiros que lutam em prol da paz.<br />
Bendito e louvado seja o nome de nosso Senhor Jesus Cristo.<br />
Pedimos a presença de nossos Caboclos, Pretos-Velhos, Baianos,<br />
Boiadeiros e Exus, e todos os espíritos de luz para nos proteger.<br />
Amém.<br />
Em seguida, o médium Lázaro inicia uma linda oração<br />
chamada “Prece de Cáritas”, mundialmente conhecida.<br />
“Deus, nosso Pai, que sois todo Poder e Bondade, dai a<br />
força àquele que passa pela provação, dai a luz àquele que procura a<br />
verdade; ponde no coração do homem a compaixão e a caridade!<br />
195
Deus, Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação,<br />
ao doente o repouso.<br />
Pai, Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade,<br />
à criança o guia, e ao órfão o pai!<br />
Senhor, que a Vossa Bondade se estenda sobre tudo o<br />
que criastes. Piedade, Senhor, para aquele que vos não conhece,<br />
esperança para aquele que sofre. Que a Vossa Bondade<br />
permita aos espíritos consoladores derramarem por toda a<br />
parte a paz, a esperança e a fé.<br />
Deus! Um raio, uma faísca do Vosso Amor pode abrasar<br />
a Terra; deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e<br />
infinita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão.<br />
E um só coração, um só pensamento subirá até Vós,<br />
como um grito de reconhecimento e de amor.<br />
Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos<br />
com os braços abertos, oh! Poder, oh! Bondade, oh! Beleza,<br />
oh! Perfeição e queremos de alguma sorte merecer a Vossa<br />
Divina Misericórdia.<br />
Deus, dai-nos a força para ajudar o progresso, a fim<br />
de subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a<br />
razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho<br />
onde se refletirá a Vossa Divina e Santa Imagem”.<br />
Assim Seja.<br />
Esta prece, denominada “de Cáritas”, tem sido querida<br />
e contritamente orada por várias gerações de espíritas. Cáritas<br />
era um espírito que se comunicava por meio de uma das gran-<br />
196
des médiuns de sua época, Madame W. Krell, em um grupo de<br />
Bordeaux, na França, sendo ela uma das maiores psicógrafas da<br />
História do Espiritismo, em especial por transmitir poesias (que<br />
se constitui no ácido da psicografia), da lavra de Lamartine, André<br />
Chénier, Saint-Beuve e Alfred de Musset, além do próprio Edgard<br />
Allan Poe. Na prosa, recebeu ela mensagens de O Espírito da<br />
Verdade, Dumas, Larcordaire, Lamennais Pascal, e dos gregos<br />
Ésopo e Fenelon.<br />
A prece de Cáritas foi psicografada na noite de Natal,<br />
25 de dezembro do ano de 1873, ditada pela suave Cáritas,<br />
de quem são, ainda, as comunicações: “Como servir à<br />
religião espiritual” e “A esmola espiritual”.<br />
– Percebo que hoje, neste recinto, o ar está denso, e que<br />
há aqui uma propagação que nos tenta desvanecer ao ímpio.<br />
Não, isso jamais se permitirá aqui, porque esta casa é de solidariedade<br />
e caridade, é uma casa de orações. Há em nosso meio<br />
um irmão do plano inferior que acaba de ser acorrentado pelos<br />
nossos guardiões, e que nos dirá algo.<br />
O que aconteceu de interessante naquele dia é que havia<br />
um jovem adolescente de nome Henrique, com cerca de 18<br />
anos apenas, que justamente há um mês entrara pela primeira<br />
vez naquele local, vindo a ser frequentador assíduo das sessões<br />
devido a uma inevitável necessidade, qual se fizera, de ser levado<br />
por seus pais para receber auxílio dos irmãos superiores quanto à<br />
sua recuperação, pois o uso das drogas vinha definhando a sua<br />
carne e o seu espírito.<br />
Perfeito! O testemunho todos presenciaram, e tão perfeito<br />
fora o testemunho que, após o ocorrido, até o próprio<br />
rapaz, ao agradecer a Deus, colocou diante de todos os ali presentes<br />
a promessa feita pelos lábios dele próprio, por ficar maravilhado<br />
com a sólida realidade da existência de Deus e da<br />
Espiritualidade,<br />
197
Em seguida, irmão Lázaro continua – Em nome de nosso<br />
Senhor Jesus eu recorro aos bons mentores, para que tragam<br />
neste instante esse espírito obsessor, após as orações de abertura<br />
e as cantigas de exaltação aos Guias e Protetores.<br />
O pequeno jovem inesperadamente cai ao chão, se retorcendo<br />
em transe como em um ataque de epilepsia, lançando<br />
um liquido viscoso e de cor esverdeada de sua boca.<br />
Algumas pessoas, ao se levantarem de seus assentos para<br />
socorrê-lo, deixam os seus pais assustados e se pondo a chorar.<br />
Logo, ao se aproximar do rapaz, irmão Lázaro pede para<br />
que todos dele se afastem, pois não havia nada de errado, a<br />
não ser que o que estava se manifestando no jovem era um<br />
espírito de baixíssima frequência, conhecido pelos Pretos-<br />
Velhos como “quiumba”. Mas esse estava acorrentado, não havendo,<br />
portanto, perigo algum.<br />
O quiumba começa a falar por meio do jovem Henrique,<br />
em meio ao transe.<br />
– Seus filhos de uma p..., porque me trouxeram aqui?<br />
Eu não suporto este ambiente, sinto náuseas.<br />
Irmão Lázaro inicia o processo de doutrinação...<br />
– Sendo que os seus sintomas são esses, meu irmão, o<br />
que viestes fazer aqui então?<br />
– Eu não vim visitar ninguém, simplesmente acompanhava<br />
alguém. E se eu acompanhava a mandado de outrem,<br />
por que vocês me acorrentaram?<br />
– Nossos protetores lhe acorrentaram devido a sua<br />
energia ruim, que está muito forte, e isso deve estar afetando<br />
muito a quem você faz companhia.<br />
–Isso é problema meu e dele, para isso fui muito bem<br />
pago. Estou ganhando muita bebida, sangue de animal e outros<br />
presentes para ferrá-lo<br />
– E quem você está perturbando?<br />
– Pergunte ao próprio, e a esta corja de espíritos que<br />
198
me trouxeram aqui na marra. Se eu soubesse que daria no que<br />
deu, o teria jogado debaixo de um carro, ou teria feito com que<br />
ele se atirasse de cima de um viaduto, ou então, poderia provocar<br />
um assalto, aí ele poderia vir comigo para as profundezas do<br />
lodo, meu chapa. Eu já fui bandido e matador, mas agora, por<br />
eu ter dado uma vacilada, perderei a minha mesada.<br />
O quiumba, apontando para Oscar com sadismo e dando<br />
muitas gargalhadas, continua a falar: – Tudo bem palhaço, a<br />
gente se esbarra por aí. Um dia desses, eu te pego de jeito.<br />
– Quer dizer que todo esse transtorno que está se passando<br />
com nosso irmão Oscar é culpa sua meu irmão?<br />
– É isso mesmo! E eu não sou seu irmão! Estou encostado<br />
nesse homem para acabar com a sua dignidade e também<br />
para separá-lo daquela mulher com quem ele pretende casar-se. –<br />
E aponta para Anita. – E não vou falar mais nada, quero que se<br />
danem. – O quiumba sorria e gritava sarcasticamente.<br />
– E podemos saber quem pagou para você fazer tudo<br />
isso?<br />
O quiumba continuava sorrindo, com sarcasmo.<br />
– Cale-se, meu irmão, com as suas ironias, e contenos<br />
agora!<br />
Oscar, ainda envolto por aquela energia, queria ir<br />
embora, dizendo que aquilo tudo estava confuso para ele. O<br />
que teria ele a ver com aquela galhofa? Ele dizia que tudo<br />
não passava de uma grande palhaçada.<br />
O mentor da casa que era uma pessoa hábil, e pedia para<br />
que Oscar se acalmasse um pouco, obrigando aquele espírito a<br />
falar a verdade a respeito do que sabia sobre Oscar. O espírito,<br />
por sua vez, sentindo-se acuado, começa a falar, dizendo que<br />
quem o mandou perseguir Oscar foi o ex- namorado de Anita,<br />
apontando para ela. Normalmente, espíritos dessas esferas não<br />
gostam de falar nomes de pessoas encarnadas. Falou também<br />
sobre algumas particularidades de Oscar, ou melhor, algo que se<br />
199
passava só no pensamento dele.<br />
– Eu estou enfiando bobagens na cabeça desse trouxa,<br />
para que ele faça aquela viagem suicida que ele pretende<br />
fazer. É! Aquele passeio que os pais dele fizeram e se deram mal...<br />
Ele já conhece, não é mesmo seu otário?<br />
Oscar tente responder...<br />
– O Senhor me perdoe irmão, mas isto já está se tornando<br />
um transtorno. Chega aqui um espírito à toa, mentiroso,<br />
e começa a dizer essas coisas... Que viagem eu devo fazer?<br />
Quem sabe seja a influência do médium, por ser muito<br />
novinho e ainda não ter a devida experiência, ou melhor, com<br />
certeza é à força, pois o pequeno rapaz que quer me ajudar não<br />
entende ainda muito bem de mediunidade. E ainda, para completar,<br />
fica aí soltando palavras de baixo calão.<br />
Enquanto o jovem médium Henrique estava em transe<br />
com aquele espírito trevoso, Oscar, sem perceber, estava<br />
sendo influenciado e quase estava também entrando em transe e<br />
na mesma sintonia daquele espírito. Outro comparsa estava ali,<br />
exatamente para confundir os médiuns que estavam vibrando<br />
em favor de Oscar.<br />
Anita tenta acalmá-lo – Mas essa qualidade de espírito<br />
você já sabe Oscar, eles são dessa forma.<br />
Nesse momento, Irmão Lazaro sussurra para Anita –<br />
Minha irmã, Oscar está tomado pela energia que circula entre<br />
ele e o nosso jovem médium irmão Henrique.<br />
– Perdão irmão, eu não tinha percebido. É que estou<br />
agindo assim por preocupação.<br />
– A sua rejeição pra mim é zero. A viagem a que eu<br />
me refiro, é a mesma que os babacas dos seus pais fizeram em<br />
um barco há alguns anos. Será que agora você se recorda?<br />
Inclusive, eles estão atordoados no espaço, querendo muito<br />
lhe pedir que não faça aquela viagem, porque será fatal. Eles<br />
também querem lhe pedir perdão pelo que fizeram, por deixa-<br />
200
em você sozinho no mundo com toda aquela responsabilidade,<br />
mas nós cortamos a sua frequência e estamos conseguindo<br />
atrapalhar esse contato, porque você nos abriu a guarda seu bobão.<br />
Eu e minha gangue não vamos permitir essa aproximação. Quer<br />
também que eu fale o nome deles? Ou que carinhosamente eu<br />
os chame de “minha pequena Ásia” e “meu grande Habib”? E<br />
então? Acredita agora seu babaca?<br />
Esse comentário que o espírito das trevas fez abriu<br />
de vez os olhos de Oscar, e já se via nitidamente que, em sua<br />
composição espiritual, também havia um espírito de luz, especialista<br />
em psicologia e que trabalha para o bem, se<br />
misturando na comunicação telepática do tal espírito, exatamente<br />
para que Oscar saísse daquele quase transe. E, gritando,<br />
Oscar ordena:<br />
– Pare! Chega! Já basta. Meu Deus, será que é verdade?<br />
Meus pais viajaram. Na verdade, nunca mais me deram<br />
notícias e eu não sabia, até este momento, se estavam vivos ou<br />
mortos, tanto que gostaria muito de revê-los, por isso me passou<br />
pela cabeça fazer uma viagem para a Áustria. Cheguei até<br />
pensar em fazer essa viagem nas mesmas condições em que eles<br />
viajaram. O que esse espírito disse, quanto às formas carinhosas<br />
com que se tratavam os meus pais, está totalmente correta,<br />
certíssima! Meu Deus! Então é tudo verdade!<br />
O quiumba, sorrindo, continua a zombar de Oscar. –<br />
E não vamos ficar somente por aqui não, – e aponta para<br />
Anita – coitada dessa mulher! Sua empresa, onde você tem vários<br />
empregados à sua disposição, vai ficar nas mãos dela por imposição<br />
sua, e ela, sozinha, vai quebrar a cara! Mas vocês estão<br />
tentando estragar os meus planos. Escute aqui seu otário, com<br />
seu masoquismo e com nossa ajuda, você já estava quase que<br />
disposto e convencido da tal viagem e a abandonar a empresa.<br />
Certamente que iria direto pra as profundezas, para eu lhe apresentar<br />
ao meu chefe. Ele é bem mais poderoso do que eu!<br />
201
Irmão Lázaro pergunta ao espírito trevoso – E qual a<br />
razão para tudo isso?<br />
– Bem, eu ganhei vários presentes para fazer o mal a<br />
este palhaço. Já que não tenho mais nada a perder, vou contar a<br />
história completa, mas quero em dobro o que ganhei para abandonar<br />
tudo isso. E já vou avisando, não venham com essa história<br />
de que os bons irmãos querem me conduzir para esferas luminosas,<br />
pois eu quero ficar com o meu chefe. Agora eu pergunto:<br />
Topa o acordo ou não? Bem, eu sei que você vai topar.<br />
– Eu fui mandado para acabar com o casamento dele e<br />
levá-la de volta ao seu antigo homem. Aquela mulher – e aponta<br />
novamente para Anita – Ele está com ela em seu coração, mas<br />
eu, aos poucos, estava afastando-a dele.<br />
– E podemos saber o porquê de tudo isso?<br />
– Sim, podem. Se me derem o que eu quero, podem sim.<br />
Eu ganhei um bom banquete, que um homem me pagou.<br />
Inclusive ganharia o dobro após destruí-lo. Por isso eu<br />
quero o dobro.<br />
– Quem sabe eu ainda consiga, não é mesmo?<br />
Enquanto isso, aquele excelente espírito, o psicólogo,<br />
com muito esforço e total dedicação continua vibrando,<br />
passando mensagens telepáticas para aquele obsessor na<br />
intenção de que ele esclarecesse tudo o que se passava com<br />
as perturbações de Oscar<br />
– Não, meu irmão! Sua estada com o nosso irmão Oscar<br />
termina neste momento.<br />
– Eu não tenho permissão para falar o nome de quem<br />
me mandou. Eu estava quase ganhando esta batalha e vocês<br />
me prenderam aqui. Deixem-me ir embora, não gosto deste<br />
lugar! Me liberem! Vocês estão me sugando! Se você, irmão<br />
babaca, não me pagar, eu volto para cobrar! E quero em sete dias<br />
meus presentes<br />
Nesse momento, o mentor se manifesta e pede – Siga<br />
202
estes irmãos que o levarão a um plano melhor, onde você aprenderá<br />
as verdadeiras obras. Quanto ao homem que você está prejudicando,<br />
ele não lhe deve nada e não ira lhe dar nenhum presente<br />
relacionado a bens materiais. Ele pode sim, lhe dar excelentes<br />
presentes: muitas orações para que você entenda que o<br />
mal faz mal e o bem faz o bem.<br />
– Eu não quero... Tenho um gosto enorme em sofrer<br />
e fazer os outros sofrerem. Se um dia eu mudar as minhas<br />
idéias, já sei onde posso vir para ser socorrido. Mas agora,<br />
tenho de seguir meu destino. Eu quero fazer a minha estada<br />
no corpo do cara que me mandou para que eu fizesse o que<br />
tentei fazer. Agora por vingança porque a atitude porca desse<br />
cara só atrasou o meu lado, ou minha caminhada. Portanto<br />
peço que não me atrapalhem, vou voltar para quem me<br />
mandou. Conheço o que é causa e efeito ou a lei do retorno.<br />
Torno a repetir: esta é a lei do retorno, então, eu tenho esse<br />
direito ou meu livre-arbítrio, é ou não é? Eu estou nas trevas,<br />
mas conheço bem o sistema, ou melhor, as leis do Universo.<br />
– Mas tu sabes, meu irmão, que terás que levar contigo<br />
toda a tua energia, e que se colocá-la em seu amigo, o mal voltará<br />
todo para ele e para você?<br />
– Dane-se ele. Não é essa a Lei Superior? Ou a Lei do<br />
Universo? Você pensa que está conversando com um babaca?<br />
Eu conheço alguma coisa do Mundo Espiritual. Esse “jumento”<br />
em que estou montado não sabe nada, mas eu? Eu sei o<br />
que é bom e o que é ruim. Agora, faça um favor e me solte;<br />
prometo que vou embora, vou voltar para quem me mandou.<br />
Naquele instante, Henrique, o jovem rapaz, tomado por<br />
aquele espírito, levanta o seu semblante para cima e, com um<br />
grito piedoso, cai de joelhos prostrado no chão. Imediatamente<br />
foram ao socorro daquele jovem que, sonolento e assustado,<br />
pedia a presença de seus pais. Logo seus pais se aproximaram<br />
dele e, entre lágrimas, acolheram a sua cabeça ao colo.O mentor<br />
203
pede aos Exus e outras Entidades para que levem dali todo aquele<br />
rastro degradante. Tentaram doutrinar aquele espírito, mas ele<br />
estava ainda muito convicto de onde queria ficar e era imaturo.<br />
Não era aquela a sua vontade, ou seu tempo e o seu livre-arbítrio.<br />
O fruto ainda não estava maduro, tudo vem a seu tempo.<br />
Izabel fala ao mentor sobre Oscar. – Será que agora Oscar<br />
ficará bem?<br />
– Sim, certamente, desde que ele colabore, tomando<br />
alguns banhos com ervas para limpar a sua aura.<br />
– Eu irei ajudá-lo. Com os vossos auxílios, Deus nos<br />
fortalecerá.<br />
– Oscar estará constantemente vigiado. Terá os<br />
cuidados de Mãe Benedita e de outros espíritos benevolentes.<br />
Ele não poderá ficar sozinho, pois essa casta de espíritos maléficos<br />
é traiçoeira. Basta que ganhem mais para voltarem mais fortes<br />
e em número maior.<br />
Em seguida, Oscar é conduzido até onde está Mãe<br />
Benedita. A entidade lhe dá um passe magnético para lhe<br />
transmitir energias boas, envolvendo-o em sua aura, assim<br />
como uma ligação, ou seja, um cordão umbilical. Com uma<br />
vela acesa na mão direita, ela a circunda sobre sua cabeça<br />
para purificar seu corpo astral, passando-lhe algumas recomendações:<br />
Que ele fizesse orações diárias para estar sempre<br />
em sintonia com Deus e com os bons espíritos, pois só assim<br />
evitaria a aproximação das energias negativas.<br />
Seguem-se os dias. Para Oscar, a sua situação cotidiana<br />
volta à normalidade. Ele agradece imensamente aos<br />
amigos por tê-lo ajudado num momento tão perigoso de sua<br />
vida.<br />
Alguns dias depois, algo de interessante acontece. Uma manchete<br />
de jornal, estampa a forma estranha como um homem se<br />
suicidou.<br />
204
“Um homem enlouquecido teria se jogado de seu apartamento<br />
no terceiro andar”<br />
O interessante é que, antes de cometer o suicídio, ele<br />
corta a palma de sua mão em forma de uma letra, a letra “K” de<br />
“Kiumba”.<br />
Quando Anita fica sabendo daquele acontecimento,<br />
se surpreende ainda mais ao saber que aquele homem era<br />
Frank, o seu ex-namorado<br />
– Que coisa horrível! Será que é o que estou pensando ou<br />
só coincidência? Coisas da vida...<br />
Oscar em visita à Mãe Benedita<br />
Oscar teria que voltar à casa de caridade uma vez por<br />
semana, durante sete semanas seguidas para fazer uma corrente<br />
de orações, receber passes e obter orientações de Mãe<br />
Benedita, Guia Espiritual da médium Alzira. Como Anita não<br />
podia acompanhá-lo todas as sextas-feiras, Oscar pede a João<br />
Eduardo que o acompanhe, pois ele se sentia um pouco envergonhado<br />
e amedrontado.<br />
Ao chegarem à casa de caridade, são recebidos por<br />
Irmão Lázaro.<br />
– Seja bem-vindo Oscar, à nossa casa.<br />
– Obrigado, meu irmão, por vossa sensibilidade e por<br />
vosso carinho. Deus seja louvado.<br />
– Amém. Que Deus prepare o teu coração. Eu peço que<br />
você me perdoe, mas dentre o que você veio buscar aqui, existe<br />
uma coisa adormecida em seu coração que você provavelmente só<br />
irá se lembrar após algumas horas, ou ao sair daqui.<br />
– Meu Deus!!! Eu não disse nada a ninguém, mas sabia<br />
que teria outra coisa a fazer aqui, e agora, como num estalo eu já<br />
sei. Obrigado, farei isso agora mesmo.<br />
205
Os olhos de Oscar correm em todas as direções no interiores<br />
da casa espírita, porém, ali não estava a pessoa a quem ele<br />
dirigiria suas palavras.<br />
– Acalme-se, que o jovem rapaz está por vir.<br />
Poucos minutos se passaram e de repente Oscar vê o<br />
jovem Henrique. Ele prostra-se diante dele para pedir-lhe<br />
desculpas pela grosseria e por sua incredulidade.<br />
– Gostaria que você me perdoasse meu pequeno jovem,<br />
pelo que fiz contigo. Creio que eu estava envolvido por<br />
aquela energia ruim.<br />
– O mal que estava contigo me foi tão útil e necessário<br />
que eu só tenho a agradecer, a Deus e aos mentores desta casa,<br />
por permitir que a mim fosse transportado o que havia em sua<br />
aura senhor Dr. Oscar, pois só assim me libertei de um sofrimento<br />
ainda maior em minha vida. Até da morte eu me livrei,<br />
devido ao que aconteceu conosco naquela sessão. Eu estou feliz,<br />
pois renasci! O que tenho a dizer-lhe é que não há porque pedir<br />
perdão pela lição que acolhemos para as nossas vidas. Deus nos<br />
abençoe, hoje e sempre.<br />
Ao ouvir as palavras do rapaz, Oscar ficou sabendo da<br />
luta que o jovem vinha enfrentando para salvar-se. Emocionado,<br />
deu um abraço no rapaz e mais uma vez agradeceu-lhe.<br />
– Henrique, que Deus em sua infinita bondade e sabedoria<br />
lhe abençoe. Bem, quero aproveitar a oportunidade, já<br />
que somos amigos, para lhe pedir que não me chame mais de<br />
Doutor e sim de Oscar, afinal, somos amigos e irmãos na mesma<br />
fé.<br />
Iniciada a sessão, logo Mãe Benedita pede a um<br />
Cambone (auxiliar), que lhe traga Oscar, pois ela estava pronta<br />
para falar-lhe.<br />
– A sua bênção, Mãe Benedita.<br />
– Que Pai Oxalá lhe abençoe, meu filho.<br />
– Então minha Mãe, esse encosto veio mandado?<br />
206
– Certamente, filho!<br />
– Mas por que minha Mãe, se eu não faço mal a ninguém?<br />
Por que essas perseguições?<br />
– Bem, meu filho, alguma coisa errada se passou com<br />
você para estar assim vulnerável, pois as energias ruins só se aproximam<br />
de quem esta vulnerável, ou melhor, você deve ter feito<br />
algo errado e isso abriu uma brecha no seu perispírito. Quando o<br />
ser humano busca ser correto esses espíritos têm pouquíssimo<br />
acesso, não chegando a afetar o cotidiano das pessoas. Isso porque,<br />
estando em sintonia com seus guardiões, não fica vulnerável<br />
às energias ruins. Pense, examine a sua consciência.<br />
Faça uma pequena regressão voltando no tempo, assim você<br />
conseguirá saber se fez ou não algo prejudicial a alguém a ponto<br />
de prejudicá-lo. Eu sei que neste momento você se sente confuso,<br />
mas acredite, tudo ficará claro para você, pois o tempo é<br />
sábio e o nosso bom Deus é Supremo.<br />
– As vossas palavras são reconfortantes e me trazem<br />
uma segurança muito grande, minha Mãe. A senhora é muito<br />
sabia.<br />
– É, filho... Realmente eu devo ter aprendido alguma<br />
coisa nessa minha vida espiritual, porque junto a mim, além<br />
de excelentes mestres e bons livros que são plasmados para<br />
que possamos aprender, Deus me deu vocês também, para<br />
que eu possa compartilhar o pouco que sei e o muito que ainda<br />
tenho a aprender. Agora vá em paz, com Deus diante de seus<br />
passos. E tenha fé, pois tudo ficará bem, você verá.<br />
Terminada a sessão, Oscar, antes de despedir-se de<br />
João, é logo convidado por ele para ir até sua casa. Ao chegarem<br />
à casa de João, os dois e Izabel comentam sobre o acontecimento<br />
da semana anterior. Faltara Anita naquele dia, e Izabel<br />
telefonara para saber se estava tudo bem com ela.<br />
– Alô! Sim, sou eu, Anita!<br />
– Posso saber o que você está fazendo em casa às oito<br />
207
horas da noite, com um calor tão forte como esse?<br />
– Estou só morta de vontade de sair de casa para tomar<br />
um sorvete.<br />
– Eu tenho sorvete aqui em casa, de vários sabores.<br />
– Menos um que é o que eu mais gosto...<br />
– E eu posso saber qual é?<br />
– É de salada de frutas.<br />
– Pois eu tenho. É uma pena você não estar aqui<br />
conosco para saborear o delicioso sorvete de salada de frutas, e se<br />
você não vir logo, acabarei com seu sorvete.<br />
– Sim, é uma pena. E agora aumentou mais ainda a<br />
vontade! Mas vou dormir e logo esquecerei.<br />
– Mas você tem coragem de me dizer isso? Não senhora,<br />
Oscar e João irão aí nesse instante para buscá-la, está bem?<br />
– Verdade? Mas ficará muito tarde, deixemos para uma<br />
próxima oportunidade, sim?<br />
– Não, você pode muito bem dormir aqui em casa.<br />
– Não Izabel, eu nunca fiz isso em minha vida, tenho<br />
vergonha...<br />
– Você, além de minha irmã é minha protetora, e também<br />
a minha querida comadre. Você Já se esqueceu que agora<br />
somos uma família?<br />
– Você tem o dom de convencer Isabel, até já.<br />
– João e Oscar, eu fiz uma loucura! Aqui em casa eu não<br />
tenho sorvete de salada de frutas! E agora?<br />
– Não se preocupe, eu sei onde encontrar. Irei buscar<br />
agora mesmo.<br />
– Bem... Então, eu e Izabel poderemos ir buscar Anita.<br />
O que você acha Izabel?<br />
– Eu acho uma ótima idéia, mas vão vocês, enquanto<br />
eu dou umas ordens na cozinha.<br />
Correu tudo bem naquela noite. Oscar conseguiu o sorvete<br />
e João pegou Anita em sua casa. E só depois de fartada com<br />
208
o sorvete é que Anita ficou sabendo da façanha de Izabel. Todos<br />
sorriram alegres por estarem bem espiritualmente. Izabel, na<br />
intenção de ver o casal unido não perde tempo, convida a amiga<br />
Anita para jantar. Marcam para quinta-feira, às 19h.<br />
No bate papo entre os dois casais, Oscar comenta o que<br />
Mãe Benedita lhe disse sobre o exame de consciência que ele<br />
deveria fazer para não ficar vulnerável. Acreditava ele não ter<br />
nada de tão grave em sua vida, a não ser o que fizera com Anita.<br />
Aí sim, estaria com as sequelas do remorso.<br />
– Ninguém melhor do que nosso irmão Lázaro para<br />
nos ajudar nesta tarefa – comenta João Eduardo.<br />
Então vamos amanhã até a casa dele! – afirma Anita.<br />
Na casa de Irmão Lázaro<br />
– Bem, Oscar, primeiro vamos ligar o nosso pensamento<br />
a Deus em oração, pedindo-Lhe que conduza até nós<br />
um raio de luz e de sabedoria do local habitado por Mãe<br />
Benedita e os bons espíritos, para obtermos deles o auxílio<br />
de que necessitamos.<br />
Após algumas preces, irmão Lázaro pede a Oscar que<br />
reflita sobre tudo que fez durante os últimos anos de sua vida,<br />
todas as atitudes que ele imaginava serem boas e ruins. Pede para<br />
que todos ali presentes fiquem em silêncio absoluto e com os<br />
olhos fechados, para que Oscar pudesse refletir e fazer uma viagem<br />
em seu íntimo.<br />
Poucos minutos depois, aproxima-se daquele ambiente<br />
um espírito com prática na técnica em conduzir as pessoas à<br />
hipnose. Oscar, em transe provocado pela hipnose, começa a se<br />
transportar e a narrar o que sentia em um lugar que, aos poucos, ele<br />
percebe tratar-se de uma clínica. Ali, há duas enfermeiras e um médico<br />
e com eles estava uma paciente. Ao ver o rosto da paciente que<br />
estava em uma maca, mesmo com a visão ofuscada Oscar percebera<br />
209
que se tratava de uma mulher ainda jovem. Aproximando-se mais<br />
dela, Oscar a reconhece. Era Camila, a primeira e única mulher<br />
que tivera em toda a sua vida, a mulher com quem conviveu por<br />
um ano e meio e, após esse tempo, ele a abandonara porque, para<br />
sua decepção, descobrira que ela o havia traído várias vezes, com<br />
vários parceiros.<br />
Na realidade, Camila o havia traído várias vezes. Porém,<br />
ao se separarem, ela levava no ventre um filho e, com a má<br />
condição financeira em que se encontrava após se separar de Oscar,<br />
revoltada com sua tolice de engravidar fez, aos três meses de<br />
gestação, um aborto.<br />
Oscar soube, na época em que descobriu a traição de<br />
Camila, que ela estava grávida. Queria lhe dar uma nova oportunidade,<br />
mas não admitia a criança que estava em seu ventre:<br />
não a queria grávida de outro homem. Seria assim ou nada.<br />
Nesse momento, Oscar volta do transe e Irmão Lázaro<br />
lhe faz uma revelação.<br />
– Dentro da escala de consanguinidade, aquela criança<br />
poderia ser o seu filho.<br />
– Como, irmão Lázaro? Ele não tinha o meu sangue,<br />
com toda certeza.<br />
– Mesmo não sendo seu filho, para nós, que cremos<br />
no Plano Espiritual, ser pai ou ser filho vem da afinidade que<br />
sentimos por alguém. Tenho certeza que, se fosse nos dias atuais,<br />
mesmo você estando convicto de que não era um filho seu<br />
que ela carregava, mesmo assim, ele já teria conquistado o seu<br />
coração. O que tenho a lhe dizer é que hoje você está maduro e<br />
preparado para assumir essa falha cometida no passado. E este<br />
espírito que sofreu o terror do aborto poderia ter lhe escolhido<br />
como um bom pai adotivo.<br />
– Mas se por ventura eu me corrigir, esse espírito será o<br />
mesmo que foi abortado?<br />
– Isso não se sabe, ele já pode ter reencarnado. Mas a<br />
210
evelação virá do alto, porque, pela lógica e segundo o que estudamos,<br />
se ele escolheu a Camila para ser sua mãe, aguardará<br />
uma nova oportunidade. Quanto a você, esteja certo de que se<br />
isso vier a acontecer, deverá recebê-lo de braços abertos, porque<br />
já está determinado. Pai não é o que concebe, mas aquele que<br />
cria e que doa o amor.<br />
– Meu Deus! Eu ajudei e incentivei a interromper uma<br />
vida! Estou muito envergonhado diante de todos vocês, principalmente<br />
de você, Anita.<br />
– Oscar, você quer falar sobre isso na frente de todos ou<br />
prefere ficar a sós com nosso irmão Lazaro?<br />
– Não tenho nada a esconder Anita, por favor, fiquem<br />
aqui comigo.<br />
Irmão Lázaro explica a Oscar e aos demais que ali<br />
estavam as consequências de um aborto.<br />
– Não sei, mas gostaria que você e João Eduardo ouvissem,<br />
porque estou muito frágil para suportar mais um acontecimento<br />
comigo –, pede Oscar a Anita. – Por favor, fiquem<br />
comigo.<br />
– Não se preocupe, eu e João Eduardo ficaremos<br />
juntinhos de você. A sua dor e a sua resolução serão nossas<br />
também.<br />
A história de Oscar e Camila<br />
– Camila. Nós estamos namorando há dois meses, só<br />
que hoje tenho uma notícia ruim pra lhe dar.<br />
– E você pode me adiantar qual é a notícia?<br />
– Sim. Hoje, um rapaz cujo nome é Gustavo me<br />
procurou, pois queria falar-me. Pedi a ele que esperasse um pouco<br />
por estar muito atarefado, não podendo deixar as minhas obrigações<br />
naquele instante. Ele me respondeu que esperaria o tempo<br />
que fosse necessário, pois era inadiável o que tinha a me dizer<br />
211
e o assunto tratava de você, Camila. Quando ele se expressou<br />
dessa forma, fiquei curioso, deixando os afazeres para ouvi-lo.<br />
As poucas palavras que ouvi do rapaz foram suficientes para eu<br />
ficar num estado psicológico péssimo.<br />
– Mas o que ele disse de tão sério?<br />
– Ele me disse que é seu amante, e que precisava de<br />
dinheiro para não me incomodar e nos deixar em paz<br />
– Mas isso não é verdade Oscar! Ele lhe disse isso para terme<br />
de volta, e eu não o quero mais. Por favor, acredite em mim!<br />
A partir daquele dia, o rapaz não foi mais procurá-lo,<br />
mas mesmo assim, Oscar não acreditava na fidelidade de Camila<br />
e não confiava mais em suas palavras. Só pairavam em sua cabeça<br />
dúvidas e mentiras por parte dela. A vida de ambos estava em<br />
desordem total, e tentavam a cada dia que se findava modificar<br />
o que acontecia entre ambos, mas nunca as coisas acabavam bem,<br />
uma neurose os perturbava.<br />
Um ano e meio depois, numa manhã de domingo,<br />
Oscar, ao sair de sua casa, deparou-se com o rapaz, que lhe<br />
pediu um instante de atenção para dizer-lhe que Camila estava<br />
grávida de três meses, e que o filho não era de Oscar. Ela<br />
escondia a verdade para não perder o conforto financeiro que<br />
Oscar lhe proporcionava. Ao mesmo tempo ela tinha dinheiro<br />
suficiente para sustentar seu outro amante, que era o pai do<br />
filho que Camila carregava em sua barriga. Gustavo comentou<br />
com ironia para provocar Oscar.<br />
– Camila, o tal Gustavo esteve novamente à minha<br />
procura para me dizer que você está grávida, e que o filho<br />
não é meu. Isso é verdade? Por favor, não me esconda nada!<br />
– Por favor, perdoe-me! Eu tenho cometido graves<br />
erros com você! Antes de ficar contigo, como você sabe, eu me<br />
envolvia com drogas e nessa loucura conheci Gustavo, também<br />
viciado. Por algumas vezes ficamos juntos, até que um dia ele<br />
desapareceu. Pensei que ele tivesse morrido ou que estivesse<br />
212
preso. Quando ele soube que eu tinha mudado o meu estilo de<br />
vida e saí da miséria, ele veio à minha procura fazendo-me chantagens,<br />
inclusive com promessas de lhe fazer mal, Oscar. Para<br />
que isso não acontecesse, eu cedi às chantagens dele, até que há<br />
três meses eu estive com ele em nosso quarto. Fui forçada a manter<br />
um relacionamento íntimo com ele em nossa cama. Sarcasticamente,<br />
ele me deixou chorando, e com uma grande ferida no<br />
coração. Por um momento, passou-me pela cabeça que eu deveria<br />
matá-lo, mas não tive coragem. Sinceramente, não sei a<br />
quem o filho pertence, se a você ou a ele. Eu tive muito medo<br />
que você soubesse.<br />
– Você está mentindo, deveria ter me contado a verdade.<br />
Por que tanto mentira? Eu pensei que você me amasse!<br />
– É porque ele só vive no meio de vagabundos. Imagine!<br />
Um pedido que ele fizesse a eles poderia nos exterminar!<br />
– Mas ele diz que você está grávida de um filho dele!<br />
– É como eu lhe disse, não sei de quem é esse filho<br />
que espero, só sei que tenho sofrido muito com essa situação,<br />
e desmoronou tudo novamente. O que me resta agora é sair<br />
da sua casa e da sua vida. Assim ficarei mais tranquila Oscar.<br />
– Mais uma vez você esta mentindo, porque a minha<br />
mãe me disse, por várias vezes que a mulher sempre sabe<br />
quem é o pai de seu filho. Ela me dizia isso porque mamãe<br />
tinha uma irmã, que na 2ª Grande Guerra fora obrigada a ter<br />
relações amorosas com vários soldados. Mas quando ela<br />
engravidou, sabia exatamente quem era o pai da criança.<br />
Mamãe dizia que a mulher sempre sabe quem é o pai. Eu<br />
posso até ficar contigo, só que primeiro temos que dar um<br />
jeito de afastar esse rapaz de nós, e depois, pensaremos no<br />
que fazer com a sua gestação.<br />
Para Oscar, era interessante estar com Camila, uma<br />
mulher fisicamente muito atraente. Ele estava cego de paixão<br />
por Camila e acreditava que venceria essa batalha.<br />
213
– Se você me quiser de verdade Oscar, até tiro esta criança.<br />
Conheço um lugar bom para fazer o aborto.<br />
– Eu topo! Quanto ao aborto, será melhor assim, pois<br />
esse filho não é meu. Consiga uma boa clínica, que lhe dê toda<br />
a assistência de que você precisar. Eu pago todas as despesas.<br />
Logo você estará grávida de um filho meu.<br />
Passou-se exatamente uma semana para que tudo fosse<br />
resolvido. Lá estava a bela moça, livre de uma deformação<br />
física que, segundo ela, fora causada por uma gravidez indesejada.<br />
Assim pensava também Oscar. Camila ficou internada na clinica,<br />
pois havia tido um início de hemorragia e necessitava de cuidados<br />
médicos. Essa hemorragia teria sido causada por uma alteração<br />
de pressão, pela vida desregrada que levava.<br />
Esses dois dias de internação foram suficientes para que ela<br />
voltasse à vida triste que levava. No dia em que teve alta, quando<br />
Oscar foi buscá-la não a encontrou mais. Por várias semanas ele a<br />
procurou pelos arredores, mas nada soube da pobre mulher. Só<br />
lhe restaram saudades.<br />
Oscar, após ter relatado tudo o que acontecera consigo<br />
e Camila, deixa o pranto cair em sua face, para, em soluços,<br />
pedir auxilio a Deus e orientações a Lázaro, o irmão médium.<br />
– Meu irmão! Então aquela criança que estava no ventre<br />
de Camila seria realmente o meu filho de sangue! Meu Deus!<br />
Mesmo que não fosse, hoje eu não agiria dessa forma, eu o teria<br />
criado com muito amor e dedicação. Por que teve de ser assim?<br />
Olhe só o mal que causei à Camila, a mim e a esse espírito! Estou<br />
sentindo-me totalmente perdido, meu irmão.<br />
– O principal, diante dessa situação, é o arrependimento.<br />
– Lázaro cautelosamente lhe responde – Como eu lhe<br />
disse, esse espírito, que tentou reencarnar, provavelmente deve<br />
estar à espera de uma nova oportunidade para cumprir sua missão.<br />
Quem sabe?<br />
– Então, pode ser o que estou pensando?<br />
214
– Não, não é o que você esta pensando. Não é o filho<br />
que Anita está esperando, com certeza, não. Esse é fruto do<br />
amor entre vocês dois. Esse espírito terá de nascer do ventre<br />
de Camila, e o pai biológico não será você. Aquela gestação foi<br />
concebida em uma aventura frustrada, que não tinha nada a ver<br />
com você, meu irmão. Mas como você participou daquele ato<br />
sórdido, a sua própria consciência lhe acusa. O ideal agora é<br />
rezar e fazer boas ações, e até lhe recomendo, se um dia puder, a<br />
adotar uma criança.<br />
– Adotar uma criança? Isso é magnífico! Bem, eu posso<br />
e farei de bom grado, mas me parece difícil conseguir adotar<br />
uma criança.<br />
– Adotar uma criança não é tão difícil, Oscar.<br />
– responde Anita.<br />
– Só que para Oscar não será tão simples – argumenta<br />
Irmão Lázaro.<br />
– Mas por quê? – pergunta o amigo João Eduardo.<br />
– Porque, para Oscar, o ideal seria que ele adotasse<br />
um filho de Camila – explica Anita, tentando entender a situação<br />
que Lázaro expôs.<br />
– Como é que você sabe disso, Anita?<br />
– Eu imaginei que deveria ser assim. Estou certa em<br />
pensar dessa forma irmão Lázaro?<br />
– Você está correta. Das atitudes de Oscar, essa poderá<br />
ser a mais nobre e a que trará a cura total ao seu psiquismo e à<br />
sua consciência.<br />
– Eu bem que gostaria de saber onde está Camila e a<br />
situação em que ela se encontra. A partir do momento em<br />
que nos separamos, nunca mais voltamos a nos ver. O que<br />
posso fazer é contratar um detetive para encontrá-la. O que<br />
penso é que ela não tenha nenhum filho, pois não foi a primeira<br />
vez que praticou um ato que agora vejo que é sórdido<br />
e criminoso. Provavelmente ela até esteja passando por<br />
215
privações financeiras.<br />
Irmão Lázaro resume a todas aquelas palavras tomando<br />
a seguinte atitude:<br />
– Meus irmãos. A ansiedade neste momento é ruim; o<br />
ideal é entregar este problema nas mãos do Criador e seus auxiliares,<br />
nossos Espíritos de Luz. Agora, o mais importante é que<br />
Oscar tenha esse objetivo pelo arrependimento.<br />
– Quem sabe se ela já não pode estar grávida por aí e o<br />
destino os colocará frente a frente? Comenta João Eduardo.<br />
– É exatamente isso que devemos fazer: aguardar.<br />
Logo após, todos se despedem do irmão na promessa<br />
de estarem juntos novamente no centro espírita, para a próxima<br />
sessão. Ao sair da casa do Irmão Lázaro, Anita faz um<br />
convite aos dois amigos para um sorvete, pois desejava uma<br />
taça imensa de sorvete de salada de frutas. João pediu-lhes<br />
desculpas, dizendo que necessitaria ir à sua casa, na intenção<br />
de deixar Anita e Oscar a sós.<br />
Na sorveteria<br />
– Bem Anita, o que você acha disso tudo? Pelo que<br />
disse nosso grande orientador, Irmão Lázaro, necessito adotar um<br />
filho de Camila, mas não sei como fazer isso, pois acho quase<br />
impossível dar certo. Que Deus me perdoe dizer isso, mas ela<br />
deve estar envolvida com aquele camarada. Onde ela estará agora<br />
e fazendo o que de sua vida? Na época, ela se envolvera com más<br />
amizades, enfim, uma série de motivos que poderiam acarretar<br />
problemas à sua vida futura. Mas seja como for, que Deus me<br />
ajude, pois tudo deverá vir a seu tempo.<br />
– Seja paciente. O que você não pode e nem deve é ter<br />
pressa. Se você conseguir encontrar Camila agora, na situação<br />
psicológica em que está se encontra neste momento, creio que<br />
216
não valha a pena. Se um dia acontecer de encontrá-la, você terá<br />
o seu filho, adotivo ou não. Entregue nas mãos de Deus, pois o<br />
importante é que ele seja amado, e não somente criado.<br />
Mas Oscar se martirizava, pedindo a Anita para ajudá-lo<br />
a encontrá-la. Queria observar todos os passos de Camila para<br />
evitar que, se ela estivesse grávida, fizesse um novo aborto, pois<br />
ele assumiria a paternidade. Ele sabia que, pela cidade não ser<br />
tão grande, seria mais fácil encontrá-la.<br />
Depois de alguns dias, Oscar contrata um detetive para<br />
encontrar Camila. Os dias se passam e nada de Camila, e sua<br />
ansiedade fazia com que culpasse o profissional por ainda não<br />
ter nenhuma pista de Camila. Realmente Oscar estava inquieto,<br />
querendo resolver o quanto antes essa pendência psíquica que<br />
muito lhe incomodava.<br />
– Oscar! – repreende Anita – Você está ansioso, acalme-se.<br />
Tenha fé, muita fé. Cada coisa a seu tempo! Tenha a<br />
certeza que se você tiver que adotar um filho de Camila, ele<br />
virá em suas mãos. Confie. Pense que nada há de vir por<br />
acaso, assim nos aconselhou o irmão Lázaro.<br />
– Bem Anita, que tal então falar de nós dois? Eu gostaria<br />
de saber como você está em relação a mim, se já pode<br />
perdoar o meu erro, porque eu desejo sair da condição de amigo<br />
e me casar com você. Diz-me, o que preciso fazer para que você<br />
confie em mim definitivamente?<br />
– Eu lhe disse que preciso de uma prova do seu amor,<br />
assim como você fez comigo. Estou grávida e às vezes me<br />
sinto angustiada e insegura... Sinto sua falta ao meu lado, para<br />
acariciar a mim e ao bebê.<br />
– Mas eu tenho implorado a você e a resposta é sempre<br />
essa! Gostaria que você também imaginasse a minha situação,<br />
longe de você e do meu filho. Por quantas vezes, eu, repousando<br />
em minha cama, clamo por vocês, e com as mãos fixadas no<br />
rosto me ponho a rezar!<br />
217
– Eu acredito que realmente você transformou-me num<br />
pretexto em sua vida.<br />
– Eu lhe prometo não mais falar sobre isso. Saberei<br />
vencer esta fase, pois tenho que respeitar os seus modos, porém,<br />
não tenho mais como aceitar as suas imposições. Que sejamos felizes,<br />
cada um o seu modo, não é mesmo?<br />
Oscar tomara essa decisão não por medida de defesa ou de<br />
rejeição à Anita e ao bebê. Ele reagiu dessa maneira, contudo, teria<br />
que dar um basta àquela situação.<br />
Anita, por sua vez, se amedrontara realmente com a com a<br />
atitude de Oscar. Ela não queria perdê-lo jamais. Imediatamente,<br />
solta dos lábios a sua doce sugestão.<br />
– Pois bem Oscar, eu vou lhe fazer uma proposta. Será<br />
muito difícil para você, mas dessa vez, será tudo ou nada.<br />
– Então, pela última vez, diz-me a sua proposta.<br />
– Eu não acredito que você passe por esta avaliação,<br />
mas vou lhe propor o seguinte: Se você realmente ama a mim e<br />
ao meu filho, veja bem, é tudo ou nada.<br />
– Está bem Anita, é tudo ou nada agora, por favor, fale.<br />
– Compre uma casa modesta para mim, você e nosso<br />
filho. Entregue a sua siderúrgica para os seus funcionários,<br />
doe os seus bens para as instituições filantrópicas, assim como a<br />
Casa de Caridade que frequentamos, e vamos viver uma vida<br />
simples, porém, digna para os nossos dias, assim como imaginei<br />
ao lhe conhecer, porque, na verdade, eu o tenho como um bom<br />
amigo, eu não lhe amo. Na verdade, eu amo aquele Oscar, funcionário<br />
da siderúrgica. Esse sim, eu amo de todo o meu coração.<br />
Torno a repetir quantas vezes forme necessárias: Eu te amo<br />
Oscar, do fundo do meu coração, e esse amor que sinto pelo<br />
meu Oscar, é muito forte! Ele ultrapassa os limites da minha<br />
imaginação, eu vivo com você todos os instantes, Deus é testemunha.<br />
Eu não tenho como lhe explicar, pois é forte demais!<br />
Só que eu não consigo lhe ver assim, como se fosse meu senhor,<br />
218
quero lhe ver de igual para igual. Lutaremos juntos pela nossa<br />
sobrevivência, e saiba Oscar, que você é e sempre será meu homem,<br />
meu cúmplice meu amor verdadeiro, pois me abarco em<br />
tristeza ao sentir que umas manchas escuras e frias se abatem<br />
sobre você. Você para mim é atencioso, amigo e amante. Um<br />
perfeito cavalheiro. Sinto-me totalmente segura quando estou<br />
contigo, mas lhe vejo como um pássaro aprisionado, em busca<br />
de liberdade. Para mim, Oscar, essa sua liberdade é a proposta<br />
que lhe faço. Não me responda agora, pense, pois será tudo ou<br />
nada. Mas lembre-se de uma coisa, amanhã eu envelhecerei e<br />
certamente não serei a mesma. Pense bem, mas seja breve em<br />
sua resposta, pois agora é a hora.<br />
Ao calar-se, Anita se assusta e por um momento se sente<br />
indignada diante da sua coragem em fazer aquela absurda proposta<br />
a Oscar, pois ele começa a sorrir à sua frente, sem parar<br />
nenhum instante.<br />
– E você acha Anita? Você acredita em que Anita?<br />
– Basta Oscar! Eu já sei a resposta por causa do seu<br />
sorriso, que me parece sarcástico!<br />
– Não, não basta Anita. – Oscar aproxima-se de Anita e,<br />
ao acariciar seus lábios, afaga o seu ventre – Eu estou sorrindo<br />
e sorriremos muito, se essa realmente for a sua proposta.<br />
– Mas eu posso saber por que o sorriso?<br />
– Sim, e lhe darei a resposta de imediato, neste<br />
instante, pois, não tenho mais no que pensar.<br />
Quando Oscar tenta lhe falar, ela, com suavidade e<br />
ternura, coloca os seus lábios ao dele, deixando que o seu<br />
perfume o envolvesse, pedindo-lhe que naquele instante não<br />
lhe dissesse mais nada porque, diante da sua intuição, aquele<br />
seria o seu último beijo.<br />
Após um terno e longo beijo, Oscar, ao fixar seus olhos<br />
nos de Anita, lhe diz:<br />
– E a minha resposta? Como ficamos?<br />
219
– Deixe para daqui a alguns dias. É melhor que você<br />
pense, não quero lhe perder, pelo menos por hoje.<br />
– Não! Não pretendo esperar mais!<br />
Oscar se levanta da mesa e pede para que Anita o espere,<br />
pois iria buscar algo que estava em seu carro.<br />
Sozinha, Anita fica a pensar. – O que será que ele foi<br />
fazer no carro? Será que vai embora e me deixará aqui sozinha?<br />
Que vergonha! Eu acredito que, mesmo que ele não me<br />
queira mais, não será capaz de fazer isso comigo, afinal ele é um<br />
cavalheiro.<br />
O coração de Anita se acelera com a adrenalina que<br />
lhe sobe ao corpo. Porém, Oscar não demora, trazendo em<br />
suas mãos uma pequena pasta com alguns papéis.<br />
– Anita, você fala em doar a empresa para os meus<br />
funcionários, para que se torne uma cooperativa. Bem, aqui<br />
está o projeto de doação.<br />
– Mas o que é isso? Você fez...<br />
– Sim. Agora, preste atenção. Eu já imaginava tomar<br />
essa decisão, só me faltava o seu empurrão, e este será o pontapé<br />
inicial. Quanto a eu abrir mão dos meus bens para ter<br />
uma vida humilde ao seu lado, para mim será gratificante,<br />
porque ficarei ainda mais rico: terei você e nosso filho. Essa será<br />
a melhor e maior riqueza da minha vida.<br />
Anita estava perplexa diante o que ouvia. Essa foi a<br />
maior prova que a vida poderia lhe dar. Parada, olhava no<br />
fundo dos olhos de Oscar. Pensou num instante em morrer,<br />
pois acreditava que sua missão havia se completado. O seu<br />
homem, a sua imagem, o seu reflexo, o seu grande amor!<br />
– Meu Deus, Oscar!<br />
– Quero que você saiba que lhe amo de verdade, pois<br />
você despertou em mim uma nova vida. E mesmo que não<br />
queira mais ficar comigo, lhe digo que jamais esquecerei dos<br />
nossos momentos. Talvez por não ter tido muita experiência<br />
220
no amor, não saiba tratar uma mulher especial como você.<br />
Sinto que lhe perdi.<br />
Oscar levanta-se da mesa e, ao afastar-se dela, ouve Anita<br />
lhe dizer:<br />
– Oscar, ouça-me! Ouça-me, por favor! Eu quero me<br />
casar com você.<br />
Os dois se abraçam e se beijam. As lágrimas de ambos se<br />
misturam feito água do mar, deixando-os calados, sublimes.<br />
Ambos sorrindo, murmuram – Graças a Deus!<br />
– Anita, quanto a eu ter me levantado para ir embora,<br />
devo lhe confessar que foi só um blefe ou um dengo.<br />
O ventre de Anita se agita. Um medo de que aquelas<br />
emoções pudessem atingir o pequeno bebê, fez com que decidissem<br />
ir até um hospital próximo. No caminho, param em<br />
uma floricultura onde, além do proprietário, havia uma freguesa,<br />
uma senhora de idade um tanto avançada que, se<br />
aproximando deles diz – Você está se sentindo bem, filha?<br />
– Não, senhora, o bebezinho parece querer nascer<br />
antes do tempo.<br />
– Não se preocupe filha. Vá para sua casa com o seu<br />
companheiro, tome um banho refrescante e tome um chazinho<br />
bem suave. Não se esqueça filha, de colocar numa vasilha<br />
algumas gotas daquela essência que você tem em sua casa. Em<br />
curto período você estará bem.<br />
Anita ficara surpresa com a atenção e o carinho de<br />
uma senhora que mal havia conhecido. Oscar, ouvindo tais<br />
palavras, sorriu para a senhora e ambos, ao agradecê-la por<br />
sua atenção, perguntam-lhe o nome, pois a senhora se mostrara<br />
ser uma pessoa de Deus, com a sua capacidade de amor ao<br />
próximo.<br />
– Gostaríamos de saber o seu nome, para guardá-lo<br />
em nosso coração.<br />
– Engraçado filha, a impressão que tenho é de que eu<br />
221
já os conheço. O meu nome é Benedita. Vão em paz, e que<br />
Deus os abençoe.<br />
Ao se afastarem, já dentro do carro percebem que aquela<br />
senhora, a cada momento que se distanciava deles, parecia<br />
tomar uma forma física diferente, assim como uma<br />
materialização, ou seja, a transformação de uma pessoa em<br />
outra. Anita pede para que Oscar pare o carro alguns metros<br />
depois daquela senhora.<br />
– Oscar, o nome dela é Benedita, o mesmo nome da<br />
Entidade do centro espírita – Mãe Benedita. Inclusive o seu<br />
tom de voz me fez lembrá-la.<br />
– Anita, olhe para ela! Apesar de distante de nós, ela<br />
me parece familiar! Deus seja louvado, afinal, Mãe Benedita<br />
é quem esta cuidando de nós.<br />
Ao chegarem em casa, já era noite. Anita começa a<br />
amedrontar-se com as leves dores que sentia em seu ventre.<br />
– Por favor, Anita, vamos ao hospital.<br />
– Não, meu amor. Vamos parar por aqui com a nossa<br />
incredulidade. Se for para eu morrer agora, estarei feliz e grata<br />
a Deus por ter conquistado o maior dos meus sonhos:<br />
morrer pertinho de ti.<br />
– Não fale assim, meu amor!<br />
Anita, próxima de Oscar, desfalece. Enlouquecido, Oscar<br />
a coloca na cama e imediatamente telefona para o seu médico<br />
particular para que ele a socorra. Apoiada em seu colo, Oscar<br />
aos gritos é socorrido pela vizinha do apartamento ao lado, que<br />
após ver a porta aberta, imediatamente entre para socorrê-los.<br />
– Oscar, não se preocupe. Tenha fé em Deus que ela ficará<br />
bem – diz a vizinha, Matilde, tentando acalmá-lo. – Eu fui até a<br />
cozinha e preparei um pouco de chá, vamos dar a ela.<br />
Anita, ao voltar da vertigem, toma um pouco de chá e<br />
logo começa a reagir. Ao tocar a campainha, Matilde abre a<br />
porta para receber o médico que havia chegado. Depois de<br />
222
diagnosticá-la, ele diz:<br />
– Oscar, não se preocupe porque Anita e o bebê passam<br />
bem.<br />
– Mas o que houve com ela Doutor?<br />
– Uma pequena queda de pressão, provocada por alguma<br />
emoção. Isso nós resolveremos com um simples chá.<br />
– Nós já demos um chá para ela, há poucos instantes –<br />
responde Matilde ao médico.<br />
– Então, nada melhor que bom um banho e repouso,<br />
isso lhe fará bem. Só não a deixem sozinha.<br />
– Muito obrigado Doutor.<br />
– Se precisar me chame. Não se importe com a hora.<br />
Anita já se encontrava no oitavo mês de gestação. As<br />
mudanças que estavam acontecendo em seu corpo lhe incomodavam,<br />
porém, ela suportava com paciência e amor. Oscar,<br />
para não deixá-la sozinha, sentava-se a seu lado a observála,<br />
vendo o quanto estava bela em sua gestação.<br />
– Minha querida Anita. Desejo tanto ficar juntinho de<br />
você, por toda a minha vida. Quero fazê-la minha companheira,<br />
minha esposa, a mulher a quem eu tanto desejo em minha vida!<br />
O nosso bebezinho será parecido contigo. Oscar aproxima-se do ventre<br />
de Anita e, ao beijá-lo, sorri de uma maneira doce. – Mesmo que<br />
você me rejeitasse, sem que percebesse jamais eu sairei de perto de ti.<br />
Andaria oculto para lhe proteger, a ti e ao nosso pequeno bebê.<br />
Ao dizer aquelas palavras, Oscar, também cansado, pois já<br />
eram duas horas da madrugada, sem perceber, adormece ao lado de<br />
Anita.<br />
O dia amanhece. Anita, ao acordar, percebe que alguém<br />
está ao seu lado. Ao verificar que se tratava de Oscar, ela o empurra<br />
da cama. Ele acorda assustado, pois caíra no chão.<br />
– Escute aqui meu caro, o que é que você está fazendo<br />
em minha cama? Você pode me dizer, senhor Oscar?<br />
223
– Perdão Anita, é que eu adormeci.<br />
– Mas você tinha que adormecer em minha cama? E<br />
onde é que está a sua cama, a sua casa?<br />
– Eu não podia deixá-la sozinha, por isso fiquei aqui<br />
com você.<br />
– Não tem mais nenhuma desculpa. Você queria<br />
mesmo era se deitar comigo, e isso eu não permito mais.<br />
– Eu estou envergonhado, desculpe-me. A única<br />
coisa que fiz foi beijar-te...<br />
– Foi beijar o meu ventre e dizer que me amava.<br />
– Você ouviu?<br />
– Tanto ouvi como também vi e aceitei os seus carinhos.<br />
Agora, para você dormir comigo, só depois do casamento.<br />
A não ser que você queira deitar agora por mais um<br />
tempinho, aí eu deixo...<br />
Oscar imediatamente se deita ao lado de Anita e ambos<br />
riem muito depois do susto que Anita dera em Oscar. Em seguida,<br />
se abraçam e se beijam. Certamente que Deus os abençoara<br />
naquele instante, pois foi ali, naquele momento, que se consumou<br />
aquela linda união que entrelaçara ambos.<br />
Planos para o casamento<br />
– Bem Oscar, eu já escolhi os meus padrinhos.<br />
– E quem são eles?<br />
– João e Izabel.<br />
– Olhe aqui Anita, isso não é correto. Você está roubando<br />
os meus padrinhos!<br />
– Será que não é você o espertalhão? Mas eu disse primeiro,<br />
eu ganhei, porque já falei com eles. Você viu como sou<br />
mais esperta que você? Não, meu amor, eu não fiz isso. Só estou<br />
brincando, não os chamei ainda. Queria primeiro falar com você.<br />
– Meus parabéns pela escolha, estou morrendo de inveja.<br />
224
Agora terei de abrir mão desse casal? Não é possível! Eu só<br />
permitirei que eles sejam seus padrinhos porque tenho em mente<br />
uma dupla maravilhosa.<br />
– E quem são? Eu posso saber?<br />
– Ainda não sei... Você está muito Curiosa? Acho que<br />
vou guardar segredo. Bem, é o nosso irmão Lázaro, que dirige<br />
a Casa de Caridade e a médium dona Alzira, que trabalha<br />
com Mãe Benedita.<br />
– Com certeza estamos bem de padrinhos, só que,<br />
pensando bem, acho que deveríamos escolher o irmão Lázaro<br />
para consagrar nossa união.<br />
– E quem eu poderia escolher no lugar dele?<br />
– O senhor José.<br />
– Como diz João Eduardo: “o nosso bom José”!<br />
– Ótimo! Está fechado!<br />
Pistas de Camila<br />
– Anita, eu bem sei que a hora não é propícia para lhe<br />
dizer, mas há pouco o detetive que contratei para encontrar<br />
Camila me telefonou para dizer que já tem uma pista dela. Ele<br />
descobriu que ela está presa.<br />
– Eu não acredito! E qual foi o motivo?<br />
– Pelo que ele ficou sabendo, ela foi acusada de roubo.<br />
– Como assim? Roubo de quê?<br />
– Ela estava em um restaurante, jantando com um homem.<br />
Quando ele foi pagar a conta, a carteira dele não estava<br />
mais no bolso do seu paletó, simplesmente havia sumido. Pelo<br />
que o detetive contou-me, o homem jamais esperava que fosse<br />
Camila. Porém, a falta de sorte dela foi tamanha que, ao apanhar<br />
do bolso dele para colocar em sua bolsa, a metade da carteira<br />
ficou para fora. Foi aí que, de repente, ele viu a ladra à sua<br />
frente, e o jantar acabou na delegacia.<br />
225
– E você sabe onde ela está?<br />
– Não, eu não sei. O detetive ficou de me ligar assim<br />
que souber de algo.<br />
Logo em seguida, o telefone toca; era o funcionário de<br />
Oscar dizendo que o Sr. Magalhães havia ligado pedindo para<br />
Oscar retornar a ligação. Oscar diz a Anita que vai retornar a<br />
ligação para o detetive Magalhães, pois ele já devia ter o endereço.<br />
Logo ele desliga o telefone e diz a Anita que já tem o endereço<br />
da delegacia onde está detida Camila.<br />
– Vamos até lá?<br />
– Vamos fazer-lhe uma visita? Quem sabe isso não é<br />
o começo ou o caminho de que você precisa para corrigir o<br />
que supõe ser um erro, o seu erro.<br />
– Tenho receio de aproximar-me dela, não sabemos o<br />
que vamos encontrar. Mas se você estiver junto de mim eu<br />
terei coragem.<br />
– É claro que sim, meu amor! É claro que estarei contigo,<br />
e para que você se recorde, nós temos as Entidades conosco<br />
e nossa Mãe Benedita pertinho de nós.<br />
Em visita à delegacia<br />
– Como vai, Camila?<br />
– O que você quer? Que veio fazer aqui, Oscar? E,<br />
afinal de contas, quem é essa moça?<br />
– Esta é Anita, a minha noiva.<br />
– Por que vieram me visitar? Eu não lhe devo nada;<br />
sei que não tenho juízo, que sou uma pessoa vulgar, mas com<br />
certeza não roubei nada de você. Se há uma coisa que não tenho<br />
costume é de roubar, faço tudo errado mas roubar, nunca!<br />
– Ninguém está lhe acusando de nada – responde Anita.<br />
– Mas se você nem me conhece... Por que esta aqui, moça?<br />
– Nós não estamos aqui para prejudicá-la ou acusá-la,<br />
226
estamos aqui para lhe ajudar.<br />
– Aquele safado que estava comigo, maldito Josué! Foi<br />
ele quem colocou a carteira na minha bolsa para se ver livre de<br />
mim. Fez-me essa acusação, para se livrar de mim. Mas ele há de<br />
pagar por isso.<br />
– Por que ele queria se livrar de você? – pergunta Oscar.<br />
– Porque ele não é homem. Homem que é homem<br />
assume seus atos, assim como você, que no momento em<br />
que mais precisei me ajudou. Eu não sei se posso falar aqui,<br />
na presença da sua noiva, mas você foi um homem muito<br />
bom para mim. Cuide bem dele moça, pois ele merece. É um<br />
bom homem, eu é que não presto, sou uma louca.<br />
– Ouça Camila, eu não tenho nada a esconder da minha<br />
noiva. O que você quiser falar sobre o que houve em nosso<br />
relacionamento, e o que está acontecendo com você agora, pode<br />
nos dizer abertamente.<br />
– Estou muito confusa, não sei quais são as suas intenções.<br />
O que vocês querem de mim? Por que estão aqui?<br />
Pelo amor de Deus, não me prejudiquem ainda mais!<br />
– Se você não deve nada à justiça, então confie em<br />
nós, pois conseguiremos um bom advogado pra lhe tirar daqui<br />
– explica Anita à Camila, ainda muito confusa com toda aquela<br />
situação.<br />
– Mas por que todo esse interesse em mim, se, quanto à<br />
fidelidade, não fui honesta com o Oscar? Afinal, o que vocês<br />
querem comigo? Vocês ainda não me responderam!<br />
– Bem, você se lembra quando estava grávida? Eu a ajudei<br />
levando você a uma clínica clandestina para que você fizesse<br />
um aborto, lembra-se?<br />
– Lembro-me perfeitamente Oscar, como se fosse<br />
hoje.<br />
– Naquela época, por não ter nenhum escrúpulo ou a<br />
maturidade que tenho hoje, me fiz cúmplice. O correto seria<br />
227
utilizar um meio qualquer para que aquilo não acontecesse. Sinto-me<br />
até hoje muito culpado, e é por isso que estamos aqui.<br />
– Não se sinta culpado nunca, pois você tinha toda a<br />
razão. Eu tenho certeza que o filho nem era seu, era daquele<br />
safado, que já era...<br />
– O que aconteceu com ele?<br />
– Ele morreu nas mãos de um traficante – conta<br />
Camila, chorando.<br />
– Você o amava? – pergunta Oscar.<br />
– Sim! Ele era meu homem, apesar de todos os defeitos<br />
que tinha. Ele era ardente e companheiro, era ele quem<br />
eu realmente amava. Perdoe-me, moça, por estar falando dessa<br />
maneira. A maioria dos meus sofrimentos foi de moça bonita,<br />
porém pobre. Infelizmente essa é uma parte de minha sofrida<br />
vida. A maioria dos homens que tento segurar vivem comigo<br />
por algum tempo e, após descobrirem que estou grávida,<br />
arranjam um motivo não pra me ajudar e me prejudicar ainda<br />
mais. É por isso que eu digo que aquele canalha que me acusou<br />
não é homem suficiente para assumir os seus atos.<br />
– Como assim? Você já o conhecia antes? Nós ouvimos<br />
quando ele disse para o delegado que lhe conheceu há<br />
duas horas apenas!<br />
– Qual nada, é pura mentira dona. Somos amantes há<br />
algum tempo, coisa de oito a nove meses. Ele me fez promessas<br />
e mais promessas, e o que eu ganhei dele? Nada além de<br />
promessas, uma grande calúnia e esta gravidez indesejada.<br />
Eu falei para aquele canalha que estava grávida dele, e ele me<br />
respondeu que filho nem pensar. Aí então, pedi para ele providenciar<br />
uma clínica e pagar o aborto, pois eu não tenho dinheiro<br />
e nem quero filho, pois filho só atrapalha. Mas o que ele fez<br />
foi mandar que eu me virasse. Eu não sou ladra! Estou revoltada<br />
com o desdém com que ele me tratou. Então, insisti para ele<br />
pagar o aborto, pois assim eu o deixaria em paz. Não querendo<br />
228
pagar o aborto e pretendendo ficar livre de mim, enquanto fui<br />
ao toalete ele colocou a carteira dele com uma mixaria de dinheiro<br />
na minha bolsa para me acusar. Denunciou-me como<br />
ladra para se ver livre de mim e por vingança, porque não fui fiel<br />
a ele, e agora aqui estou. Sou mesmo uma miserável, além de<br />
grávida, ainda estou presa.<br />
– Grávida? – Pergunta Oscar, eufórico. – Então você<br />
está grávida?<br />
– É, infelizmente eu estou, e esse cafajeste está fazendo<br />
o mesmo que aqueles outros estúpidos que passaram<br />
pela minha vida. O único que eu realmente amei foi aquele<br />
que você conheceu há tempos passados, e que agora está<br />
morto. Não sei se foi para o céu ou para o inferno, Deus ou o<br />
diabo que o tenham. Foi ele quem me engravidou quando eu<br />
estava com você.<br />
– Estamos dispostos a lhe dar toda a assistência<br />
possível – diz Anita.<br />
– Nós só lhe faremos uma exigência – completa Oscar<br />
– Você não pode abortar. Nós vamos lhe tirar daqui o<br />
quanto antes; você fará um bom pré-natal e será assistida por<br />
um excelente médico até o nascimento desse bebê.<br />
– Eu não tenho pretensão nenhuma em continuar com<br />
esta gravidez.<br />
– Por favor, não faça isso! – pede Anita.<br />
– Só se eu der esse filho para vocês, mas pelo que<br />
estou vendo, você já traz um filho em seu ventre. Digam, então,<br />
por que tanto interesse? Será que vocês querem mais um filho<br />
ou vieram aqui para me ferrar mais um pouco? Vamos, falem!<br />
Vocês não pediram para que eu jogasse limpo? Então joguem<br />
limpo comigo.<br />
– Eu não sei se conseguirei explicar Camila, é muito<br />
difícil. O que eu tenho a dizer é que, por causa do que aconte-<br />
229
ceu conosco no passado, eu também tenho sofrido muito, pois<br />
não deveria ter lhe incentivado a fazer aquele aborto, deveria ter<br />
amparado o seu filho. Por uma questão de querer corrigir um<br />
erro do passado, eu acredito que a única forma de reverter essa<br />
situação seria adotar o seu filho, que seria criado por mim e<br />
Anita com carinho, porém, sem nunca esconder dele quem são<br />
os seus pais verdadeiros. Isso agora dependerá exclusivamente de<br />
você, Camila.<br />
– Mas como é que vou fazer para ganhar o meu<br />
dinheiro com esta criança na barriga?<br />
– Como você já percebeu, eu também estou grávida,<br />
e lhe prometo que o tratamento e o conforto que eu tiver<br />
você também receberá. Você terá tudo que uma gestante necessita<br />
para ter um bebê saudável. E nós estamos certos de que<br />
após a sua gestação você não ficará desamparada. Ajudaremos<br />
também, para que você reconstrua a sua vida de uma forma<br />
digna e saudável.<br />
– Eu insisto, ainda não entendi o porquê de todo esse<br />
interesse.<br />
–Não importa por enquanto Camila, se você aceitar<br />
que nós a tiremos daqui o mais rápido possível, e que durante<br />
a sua gravidez cuidemos de você, com a condição de que<br />
você não cometa o aborto, com o tempo você entenderá tudo<br />
direitinho. Só podemos lhe afirmar que isso será bom para<br />
nós e para você. É pegar ou largar.<br />
– Bem, já que é assim... Pior eu não posso ficar,<br />
porque não há nem como. Vocês vão me tirar daqui?<br />
– Você pode contar com isso, confie em nós – afirma<br />
Anita.<br />
– Eu topo, mas veja lá se vocês não vão me tapear!<br />
– Fique tranquila amiga, você entenderá tudo quando<br />
sair daqui.<br />
Ao saírem da delegacia, Oscar entra em contato com o<br />
230
detetive para que ele vá até onde está o amante de Camila. Foi<br />
fácil encontrá-lo e convencê-lo, pois lhe bastou uma pequena<br />
quantia pra que ele fosse à delegacia e retirasse a queixa feita<br />
contra a pobre mulher.<br />
Logo depois que Camila foi solta, Anita e Oscar alugaram<br />
um pequeno apartamento para ela e lhe deram toda a<br />
assistência que uma gestante necessita em sua gravidez. Durante<br />
esse período, Oscar e Anita, por várias vezes, repetiram<br />
a Camila que eles queriam adotar aquela criança para<br />
tranquilizar Oscar por sua cumplicidade no aborto feito por<br />
Camila no passado. Mesmo assim, a moça parecia não<br />
compreendê-los por completo, mas aceitou deles o apoio.<br />
Algum tempo depois, João e Doutor Osvaldo<br />
Izabel pede insistentemente para que João Eduardo<br />
vá à consulta com Dr. Osvaldo.<br />
– João Eduardo, você precisa ir ao hospital!<br />
– Izabel, já faz algum tempo que eu não sinto mais<br />
nada, inclusive, como você mesma sabe, o Dr. Osvaldo me<br />
avaliou há seis meses.<br />
– Pelo amor de Deus e dos bons mentores, vá, meu<br />
marido! Eu irei contigo. Seja o que for, não perca a fé e nem<br />
a esperança.<br />
– Sim Izabel, eu tenho fé! A prova disso é que eu<br />
acho desnecessário ir ao medico.<br />
João Eduardo, logo após tomar um demorado banho,<br />
em seguida toma outro banho a base de ervas, indicadas pelos<br />
mentores espirituais. Após os banhos ele se recosta em<br />
sua cama para um curto repouso, não tardando mais que dez<br />
minutos. Logo em seguida, ao apoiar-se na cabeceira, ele<br />
começa a chorar.<br />
231
– Meu Deus. Esteja comigo, Pai querido, e permita que<br />
os bons amigos do Plano Espiritual nos tragam boas energias!<br />
Tenha misericórdia deste vosso servo. Peco constantemente Senhor,<br />
mas permita-me que eu conquiste a sabedoria e seja menos<br />
ignorante, controle a minha insensatez e as minhas ganas,<br />
permitindo-me que eu tenha a alegria de mais algum tempo de<br />
vida neste plano. Eu bem sei, Senhor, que somos mortais nesta<br />
vida, mas imortais no Plano Espiritual. Mas a vida nos deste<br />
com o seu total amor, por isso, vos peço compreensão para os<br />
meus desígnios.<br />
Ao levantar-se de sua cama, João Eduardo segue para<br />
o centro espírita e, lá chegando, pede com veemência aos<br />
irmãos daquela casa de caridade que lhe auxiliem, transmitindo-lhe<br />
energias de paz, fé e coragem para enfrentar mais uma<br />
de suas provações em seu resgate.<br />
Três horas da tarde, no hospital<br />
Izabel e João Eduardo se encontram com Oscar no hospital<br />
executando seu trabalho como voluntário, e ele acompanha<br />
o casal para lhes dar apoio. Os três são recebidos por uma assistente<br />
do hospital, que os encaminha ao consultório de Dr. Osvaldo.<br />
João Eduardo, ansioso, talvez por receio, não queria saber o resultado<br />
dos exames. Poucos minutos depois, Dr. Osvaldo, ao<br />
cumprimentá-los, senta-se em sua cadeira atrás de sua escrivaninha<br />
e, ao abrir o envelope que estava consigo, tenso e angustiado<br />
e com total perplexidade, ele exclama:<br />
– Mas não é possível, deve ter acontecido algo estranho<br />
com o resultado de seus exames, João Eduardo. Agora o seu<br />
problema está nos pulmões.<br />
– Como assim, doutor? – pergunta Izabel, já aflita.<br />
– Meu Deus!... Bem que eu não queria vir, pra não saber<br />
de nenhuma noticia ruim!...<br />
232
– Mantenha-se calmo meu amigo, seu diagnóstico está<br />
confuso, mas tenha calma João. Estava tudo certo e eu estava<br />
preparado para lhe dar uma boa notícia.<br />
Nesse momento, Oscar percebeu que a fé de João ainda<br />
não era suficiente para a sua cura psíquica e também Izabel<br />
percebera, pois ficara abalada e tensa com o que Doutor Osvaldo<br />
lhes dissera.<br />
– Como o diagnóstico está confuso doutor? Eu não<br />
estou curado? Os tumores ainda estão nos meus órgãos?<br />
– Como pode isso doutor, se João está sem dores?<br />
– Sim, mas por favor, me aguardem por alguns minutos.<br />
Eu a voltarei, pois não é possível, algo está errado. – Sussurrando,<br />
ele repete a si mesmo que nos exames de João aparecem<br />
dois tumores nos pulmões.<br />
Izabel e João se olhavam entre si assustados e amedrontados,<br />
pois para eles a dúvida de Dr. Osvaldo realmente lhes deixou<br />
desconcertados. Sua fé ou convicção na cura ainda era muito pouca,<br />
porque no centro, o mentor chamado de Irmão X lhe dera um<br />
diagnostico totalmente favorável, dizendo que a doença não seria<br />
dele, e sim de Lídia, aquele espírito que virou sua família de cabeça<br />
para baixo. Será que, talvez, João Eduardo estivesse pior e realmente<br />
com o tal câncer que todos imaginavam? A sensação que se<br />
via no semblante de João era muito triste. Caminhando pelos<br />
cantos do consultório, ele se lastimava, balançando a cabeça de<br />
maneira negativa.<br />
– Senhor Deus, não deixe que o resultado desse diagnóstico<br />
venha a me trazer desespero. Que eu seja paciente e tenha<br />
resignação com os seus desígnios, pois tu sabes o que fazer<br />
pra nós, seus filhos.<br />
– Acalme-se, meu amor, Deus está conosco. Seja do<br />
jeito que for, estarei sempre ao seu lado.<br />
Oscar, abraçando ambos, tenta reconfortá-los – O que<br />
tiver de acontecer contigo, estaremos juntos. Você pode contar<br />
233
com isso, mas se bem conheço aquele centro espírita, o diagnostico<br />
do irmão X está correto. Confie João, que tudo terminara<br />
bem. Eu tenho fé e estou convicto disso. O que devemos fazer<br />
neste instante é unir as nossas forças, você não acha?<br />
A ansiedade estava tomando conta do casal. Juntos a<br />
eles, estavam também duas atendentes que se emocionavam,<br />
mas que se calavam, devido à ética profissional que tinham<br />
de seguir.<br />
O tempo parecia não ter fim. Frente ao consultório,<br />
havia um longo corredor vazio, que só denunciava vida quando<br />
alguém ali passava trazendo aos pés o som de seus sapatos.<br />
Um som vazio e triste. Dez minutos depois, Dr. Osvaldo<br />
retorna à sala.<br />
– Onde está a minha secretária, a senhorita Clara?<br />
– Ela está no ambulatório – responde a atendente. O<br />
senhor necessita falar-lhe? – Pergunta uma das auxiliares.<br />
– Sim, e com a maior urgência, se possível. Olhando<br />
para João, o médico sutilmente lhe sorri.<br />
– O seu sorriso doutor, o que quer dizer?<br />
– Posso saber por que tanta ansiedade?<br />
– Porque eles me dizem que eu não estou doente.<br />
– Se o meu sorriso não lhe diz nada, será que o meu<br />
abraço pode lhe dizer algo?<br />
– Ganhar um abraço seu doutor, me deixaria feliz.<br />
– Mas, e se esse abraço vier para lhe dar uma ótima notícia,<br />
100% verdadeira, dizendo, em minhas palavras, que você<br />
está bem e que seus órgãos estão perfeitos? Curado... Não seria<br />
melhor? Pois eu quero lhe dar esse abraço, meu amigo! João,<br />
você está curado e totalmente fora de perigo. Sua saúde está<br />
ótima!<br />
Necessário se fez que Dr. Osvaldo viesse ao encontro de<br />
João que, ao ouvir as palavras do médico, pela comoção que<br />
tivera, por alguns segundos suas pernas perderam os movimen-<br />
234
tos. Sorrisos e lágrimas se espalharam entre eles, invadidos pela<br />
felicidade.<br />
– Se o senhor está tão certo assim doutor, eu abrirei os<br />
meus braços e agradecerei a Deus por sua infinita bondade, e<br />
por colocar todos vocês ao meu lado como anjos que me auxiliam<br />
para que, com o progresso de minha humildade, eu consiga<br />
me equilibrar em minha luz.<br />
Prontamente, a secretária Clara entra no consultório.<br />
– Doutor, o senhor pediu-me que eu viesse, aqui estou.<br />
– Sim, e pela primeira vez eu serei um tanto rude com<br />
você e mal-educado, principalmente frente às pessoas que<br />
aqui estão, mas assim se faz necessário. Apesar de você ser<br />
muito eficiente e responsável, será que percebe a confusão<br />
em que me colocou com o seu equívoco?<br />
– O Senhor poderia me explicar melhor, doutor?<br />
Naquele instante, todos se calaram para ouvi-los.<br />
– Você simplesmente confundiu o nome do paciente<br />
e me trouxe os exames de outro, que está na ala dois, apartamento<br />
15, cujo nome é João Eduardo Dautanies que, inclusive,<br />
está muito mal. Você entendeu agora a minha situação<br />
frente ao meu paciente?<br />
– Doutor, perdoe-me, pois não foi intencional.<br />
– Sim, certamente que não foi intencional, só que esse<br />
descuido não poderá mais acontecer, Clara.<br />
– Talvez eu não tivesse o reconhecimento e a alegria que<br />
tenho agora sem esse suspense que nos aconteceu por causa dos<br />
exames trocados, devido à situação do meu caso. – comenta,<br />
feliz, João Eduardo. – Hoje você está sendo um personagem<br />
exclusivo em minha vida, Clara e certo estamos que isso não<br />
deva ter acontecido por acaso. Que Deus lhe abençoe.<br />
– Se o senhor pensa dessa forma, eu fico feliz. Mesmo<br />
assim, peço a todos que me perdoem pelo constrangimento que<br />
causei.<br />
235
– Tudo bem Clara, o seu erro poderia até ser inadmissível,<br />
mas não será por isso que você deixará jamais de ser a<br />
minha assistente de trabalho preferida. Agi dessa forma porque<br />
não tive outra saída para dar explicação a eles.<br />
– Obrigada, doutor, é uma honra trabalhar com o senhor.<br />
E mais uma vez, perdoem-me.<br />
Dr. Osvaldo, ao sentar-se em sua cadeira, ainda comenta<br />
por alguns segundos sobre o que acontecera ali com<br />
eles, não julgando mais a fragilidade e o erro que ocorrera,<br />
porém, a nobreza e a simplicidade que Clara tivera ao corrigir<br />
a sua falha profissional.<br />
– Mas vocês não acham que isso é motivo para comemorar?<br />
Afinal de contas, isso acontece uma vez em cada 100<br />
anos, vocês não acham?<br />
– Não é possível doutor, eu renasci para a vida!<br />
– Vou pedir suco, café e água, é o que de melhor tenho<br />
para oferecer a todos neste instante. Quero também estar com<br />
vocês neste momento, pois estou feliz e gostaria de compactuar<br />
essa alegria com todos. Um dia ainda quero decifrar este enigma.<br />
Agora me pergunto: Como pode um tumor maligno aparecer<br />
e desaparecer por várias vezes em seus rins, sem os devidos<br />
tratamentos da Medicina?<br />
– Um dia desse eu explicarei ao senhor com detalhes,<br />
tudo o que aconteceu com o nosso amigo João Eduardo. –<br />
enfatiza Oscar, também feliz com o resultado final de todo o<br />
acontecido naquele consultório.<br />
– Claro que queremos comemorar com o senhor esta<br />
nossa vitória! – congratula-se Izabel, agora aliviada pelo malentendido<br />
ter sido prontamente resolvido. – O senhor é o nosso<br />
Anjo da Guarda. Façamos um trato; marcaremos um encontro<br />
em nossa casa e o senhor será nosso convidado de honra.<br />
Ficará ao seu critério o dia e o horário, doutor.<br />
– Mas por que ao meu critério, Izabel?!<br />
236
– Para que o senhor use o seu dia de folga pois, para nós,<br />
o compromisso quanto ao dia ou horário não nos pesa.<br />
– Me sinto muito grato Izabel, inclusive, nem havia<br />
pensado nisso. Que tal depois de amanhã? Assim está bem João?<br />
– Esta ótimo para nós, doutor, e leve a sua secretária<br />
Clara, com certeza ela irá adorar o seu convite, e ficaremos<br />
muito felizes com este belo evento.<br />
– Oscar e Anita estarão conosco?<br />
– Sem a menor duvida, pois esse jantar sem eles não<br />
terá a menor graça.<br />
– Mas, por falar em Anita, onde ela está Oscar?<br />
– Eu a deixei em casa, na certeza de que irá reclamar<br />
por não estar conosco neste momento tão importante.<br />
– Diga-lhe que foi melhor que ficasse em casa, devido às<br />
fortes emoções que tivemos aqui hoje. Se eu, médico, me preocupei<br />
com vocês e comigo mesmo, imaginem se ela estivesse<br />
aqui, a situação ficaria uma tanto mais delicada, não é mesmo?<br />
– Claro, doutor, o senhor tem toda a razão.<br />
Às 17 horas, ao saírem do consultório, Izabel e Oscar se<br />
assustam com os gestos que João começa fazer. Ele simplesmente<br />
começa a cantar, assoviar e a dizer para as pessoas que ele acaba de<br />
renascer. Uma senhora, ao passar por ele, indaga:<br />
– Por que você está dizendo para o mundo acaba de<br />
renascer, hein, meu garoto?<br />
– É que o nosso Pai Altíssimo teve misericórdia de<br />
mim, me permitindo mais algum tempo de vida.<br />
– Entendi. Você estava doente e com medo de morrer, e<br />
agora vê que está fora de perigo. Acertei?<br />
– Sim, minha querida senhora, é isso mesmo.<br />
A senhora dirige o olhar a Izabel e pergunta se João Eduardo era<br />
irmão ou marido dela.<br />
– É meu marido.<br />
– Que pena que este “gato” tem compromisso! Posso dar<br />
237
um abraço e um beijo nele?<br />
– Não somente um abraço, mas quantos a senhora quiser<br />
dar.<br />
– Muitas felicidades meu filho, e nunca mais deixe escapar<br />
de ti esta linda mulher. Que Deus guie a todos vocês.<br />
Izabel decide convidar aquela senhora tão simpática a se<br />
juntar a eles no jantar em comemoração à boa saúde de João<br />
Eduardo.<br />
– Por que a senhora não vem jantar conosco nesta quinta-feira?<br />
Será um jantar em família maravilhoso, pois nessa ocasião<br />
comemoraremos a cura de meu marido.<br />
– Gostei da idéia. Posso levar meu marido também? Ele<br />
é muito alegre!<br />
– Claro que sim. – Responde João.<br />
– Vai ser muito bom. – Retruca Oscar.<br />
Izabel pega um pequeno bloco de rascunho e dá o endereço de<br />
casa àquela senhora, dizendo-lhe para que chegassem às 17h.<br />
Oscar e a divisão da empresa<br />
Oscar chama Anita para lhe mostrar como será dividida<br />
a sua empresa, querendo inclusive saber se ela estaria de<br />
acordo com o projeto elaborado por ele e por seus advogados.<br />
– Bem, Anita, eu não poderia renunciar totalmente à<br />
empresa, porque na siderúrgica não há um líder a altura, pelo<br />
menos por enquanto. Após pensar cuidadosamente, agirei da<br />
seguinte forma, mas quero a sua aprovação.<br />
Antes de Oscar dar início às explicações, Anita o interrompe,<br />
dizendo-lhe:<br />
– Oscar, você não precisa me dizer como será feita a<br />
divisão...<br />
– Anita, você precisa saber. Se vamos nos casar, a partir de<br />
238
agora somos uma família. Aqui está o projeto, e quero saber se<br />
você tem alguma opinião, alguma idéia, para que, de repente,<br />
possamos aproveitá-la. Aí então eu comunicarei aos meus funcionários<br />
o que vou fazer com a empresa e finalizar com uma bonita<br />
festa.<br />
– Se você faz questão, eu fico muito feliz em participar.<br />
– A idéia é a seguinte: vou doar 50% da siderúrgica<br />
para os funcionários em forma de cooperativa, 30% para instituições<br />
filantrópicas e 15% pertencerá ao nosso filho, com<br />
usofruto nosso até que ele alcance a maioridade. Nós, digo,<br />
você e eu, ficaremos com 5%.<br />
– Quando nosso filho alcançar a maioridade, todo o<br />
lucro de suas cotas, que serão de 15%, pertencerá a ele?<br />
– É aí que eu lhe pergunto: o que você acha?<br />
– Quando o nosso bebê fizer 18 anos ele será dono de<br />
si próprio. Mas, e nós? O que faremos nessa época pela nossa<br />
sobrevivência? Também temos que pensar na criança que<br />
vamos adotar. Podemos fazer alguns ajustes no projeto em<br />
forma de testamento?<br />
– Sim, é claro.<br />
– Então, vejamos. Em vez de 15% para nosso filho, vamos<br />
colocar 20% para nós. Se der certo, a doação deixará 10% para cada<br />
um deles, que será usufruído por eles após a maioridade de ambos.<br />
Quanto a nós dois, poderemos viver de nossa aposentadoria!<br />
– Sendo nós, já velhos, a nossa aposentadoria será o suficiente.<br />
Não é mesmo?<br />
– Que bom! Você pensou em tudo.<br />
– mas se não fosse você com as suas sugestões...<br />
Graciosamente, Anita, entre trejeitos e lágrimas, começa a<br />
imitar uma velhinha para que Oscar sorrisse.<br />
– Oi, meu amor, eu me chamo Anita “com H”. Qual é o<br />
seu nome mesmo? É José?<br />
– Eu não me chamo José, o meu nome é Pedro. Pedro não,<br />
239
desculpe-me, eu tenho o mesmo nome que o seu marido tem, meu<br />
nome é Oscar.<br />
– Seja lá quem for, eu só sei dizer que te amo muito meu<br />
moleque travesso, seu velhinho atrevido!<br />
Ambos sorriem.<br />
– Ah! Anita, vamos logo escolher a nossa casa, estou ansioso<br />
para ficar com você para sempre, meu grande e único amor.<br />
– Seu grande mentiroso, eu não sou o seu único amor.<br />
Você se declarou para outra pessoa, pensa que eu não sei?<br />
– Isso é verdade meu amor, é a pura verdade Anita, você<br />
não é o meu único amor, afinal de contas, temos a caminho outro<br />
grande amor para preencher nossas vidas, que é o nosso filho, o fruto<br />
do nosso amor.<br />
– Oscar, agora falando sério. Lhe farei uma pergunta, mas<br />
gostaria que você olhasse bem para os meus olhos e que me respondesse<br />
com sinceridade.<br />
– Pergunte logo, Anita. Do modo como você me olha,<br />
estou ficando assustado.<br />
– Eu estou envergonhada, mas vou lhe perguntar assim<br />
mesmo. Vai ter bastante doce no nosso casamento? Estou<br />
maluquinha pra comer doces de casamento.<br />
– Eu lhe dou uma tonelada de doces, minha velhinha<br />
maravilhosa. Até agora mesmo, se você assim desejar.<br />
– Não, agora eu só quero duas coisas: uma, é tomar<br />
um sorvete, daqueles bem grandes, de salada de frutas!<br />
– E qual é a outra coisa?<br />
– Bem, pelo fato de saber que você não é homem de se<br />
jogar fora, o que eu quero nesse momento é lhe beijar muito.<br />
Ao abraçá-la, Oscar agradece a Deus em pensamento pela<br />
felicidade que sentia em conseguir juntar a parte verdadeira que<br />
se entrelaçava a seu corpo: Anita, a sua alma querida. Oscar literalmente<br />
reconhece que valeu a pena trocar sua fortuna por uma<br />
pequena e doce família: Anita e o bebê que estava a caminho.<br />
240
O casamento de Oscar e Anita<br />
Numa quarta-feira pela manhã, Anita e Oscar se unem<br />
pelo matrimônio. A cerimônia foi simples, porém, farta de<br />
amor. Pela manhã, eles e algumas testemunhas seguiram em<br />
direção ao cartório para consolidar o casamento civil. À noite<br />
houve o matrimônio religioso no centro espírita, na presença<br />
de amigos e do Irmão Lázaro, que na condição de dirigente<br />
da casa, celebrou o casamento e intercedeu, dando ênfase<br />
à confirmação de Deus e dos bons mentores do Plano<br />
Espiritual, transmitindo-lhes alguns conselhos e as bênçãos<br />
para as duas almas que se uniram por amor para uma nova<br />
etapa em suas vidas.<br />
Assim foi a explanação do médium Lázaro, durante a<br />
celebração do casamento.<br />
– A paz do Senhor Deus esteja, agora e sempre, bem juntinha<br />
de nós. Estamos felizes neste dia, pois estamos frente a um<br />
casal que se faz especial ante a criação Divina. Anita, por meio de<br />
suas expressões de doçura nos tem ensinado, com seus gestos, os<br />
grandes louvores pelos quais todos nós deveríamos nos<br />
exemplificar, pois, em tudo o que faz, ela alcança o seu progresso.<br />
Oscar, um homem que, através de suas reencarnações vem demonstrando<br />
para si mesmo como é importante carregar em seus<br />
trechos percorridos a humildade, o amor e a solidariedade. Hoje,<br />
falo isso para que todos ouçam. A luz que irradia deles tem um<br />
tom jaspe de céu. Neles essa luz se torna tão magnífica, que nós,<br />
aqui presentes, junto a eles temos o privilégio de recebê-la também<br />
em nossos corações. Realmente, nos é esta uma grande e<br />
misericordiosa dádiva. Quisera eu, irmãos, contar-lhes o passado<br />
que se incube do presente dessas duas lindas almas. Neles um<br />
traço, uma linha, um segmento, que ainda os levará frente ao<br />
241
misericordioso Deus, nosso Pai. Portanto, tomo a liberdade de<br />
lhes dar outra notícia maravilhosa. Este casal, bem sabe que está<br />
aguardando a vinda de uma nova progênie para a conclusão do<br />
amor de ambos e a continuação da humanidade: o filho que<br />
virá com muita saúde e lhe trará também muita alegria, e lhes<br />
parabenizamos, principalmente Anita, pela graça de ser mulher,<br />
que tem o dom de dar à luz, tornando-se sublime para Deus por<br />
estar colaborando com o surgimento de novas vidas. Anita, pela<br />
graça de ser mulher sim, pois a mulher que da à luz com zelo e<br />
amor pela sua gestação, se torna sublime para Deus por colaborar<br />
com o surgimento de novas vidas. Quanto a Oscar, o felicitamos<br />
por seu desempenho e convicção para reconquistar seu<br />
grande amor de vidas passadas, e sua solidariedade e amor ao<br />
próximo quando ele e Anita tomaram a atitude de adotar e salvar<br />
a vida de outro ser que logo nascerá de outra mulher, que<br />
rejeitou suas gestações anteriores por viver insegura em seu mundo<br />
de idas e vindas.<br />
O fenômeno Luz<br />
Por conta de todas as palavras ditas pelo irmão médium,<br />
as lágrimas se delineavam sobre as faces, reconhecedoras<br />
de seus dizeres e de seu zelo em seus diálogos. Algumas pessoas,<br />
mais concentradas após as orações, percebem dentro da<br />
casa um clarão de luz suave passando por todos e fechando-se<br />
entre Anita e Oscar. Outros sentem uma sensação de bem-estar<br />
fora do comum. Com certeza, uma gotícula de energia ou luz do<br />
nosso Deus querido.<br />
Novamente, Irmão Lázaro toma a palavra.<br />
– Deus está conosco, sejam felizes Oscar e Anita.<br />
O estimado Irmão Lázaro acaricia o ventre de Anita dizendo-lhe<br />
que aquele bebê estava por demais feliz por Deus lhe<br />
permitir a escolha de seus pais e os seus resgates. Anita, no entan-<br />
242
to, emocionada se abraça ao médium e em seguida a Oscar, e em<br />
uníssono dizem:<br />
– “Seja bem-vindo, meu filho”.<br />
As emoções, os festejos e o tempo que não parava,<br />
deixaram aflorar a luz do novo dia, fazendo com que Izabel se<br />
aproximasse de sua amiga para dizer-lhe:<br />
– Anita, o dia já amanhece e você precisa descansar.<br />
Afinal de contas, você já está entrando nos nove meses de<br />
gestação.<br />
– Oh, minha querida irmã e comadre, eu nunca estive<br />
tão bem em minha vida! Oscar também está preocupado comigo,<br />
só porque comi uns docinhos a mais. E por falar nisso, eu<br />
ainda não degustei do meu bolo. Você me acompanha?<br />
– É dessa vez que viro uma baleia! Eu topo, mas com<br />
uma condição.<br />
– Meu Deus! Que condição é essa?<br />
– Bem... É que não sei se devo falar-lhe...<br />
– Ora Izabel, por que você está assim? Fale-me logo!<br />
– É que após o nascimento do bebê, gostaria muito<br />
que você fosse lá para casa. Eu tenho uma saudade imensa dos<br />
meus filhos quando crianças.<br />
– É nada, isso é puro ciúme de madrinha. Mas eu topo,<br />
e tenho certeza de que Oscar também irá gostar.<br />
Enquanto isso, Oscar e João Eduardo também conversam<br />
sobre os últimos acontecimentos.<br />
– Estou feliz por demais Oscar, em lhe ver casado com<br />
Anita. Eu aprendi tanto a querer bem vocês dois que já não<br />
conseguimos, eu e Izabel, ficar distante de vocês. Estou<br />
felicíssimo. Que Deus os abençoe para sempre. Venha cá, meu<br />
irmão que quero lhe dar um abraço bem forte! Eu tenho certeza<br />
de que Deus ouve as nossas súplicas.<br />
– Com certeza João, seremos amigos e irmãos para todo<br />
o sempre.<br />
243
Nasce o bebê de Anita e Oscar<br />
Exatamente 15 dias após o casamento de Anita e<br />
Oscar, surge um novo personagem em nossa história: um rapaz<br />
de 54 cm de estatura e 3,580 kg. Moreno claro, olhos<br />
claros, fisionomia serena, mas que não suporta passar do<br />
horário de alimentação.<br />
Anita deu à luz um belo menino. E quem fez o parto<br />
com todos os cuidados? Claro! Dr. Osvaldo e sua futura<br />
esposa Clara, que depois do incidente com os exames de João<br />
Eduardo, sutilmente Izabel abriu os olhos de ambos, convidando-os<br />
para aquele jantar em sua casa. Foi ali que Dr. Osvaldo e<br />
Clara fizeram uma grande descoberta: o amor, e em breve irão<br />
se casar.<br />
Izabel chega com o bebê para Anita amamentar.<br />
– Mamãe, o seu bebê está faminto!<br />
– Bem que eu queria ter tido uma madrinha dessas, só<br />
assim eu não seria tão frágil e raquítica como sou hoje. Venha<br />
meu bebê, mamãe tem um montão de leite pra você.<br />
Assim na Terra como no Céu. Essa é a forma com que<br />
aprendemos quando entramos ou saímos deste planeta.<br />
Enquanto Anita repousava, Oscar e seus amigos juntavam<br />
as suas felicidades, principalmente com a vinda do pequeno<br />
Francisco Xavier (em homenagem póstuma a um grande<br />
líder espiritual). Uma imagem de mulher se punha próxima a<br />
Anita. Uma bela jovem, com um pouco de luz em sua volta, que<br />
desabrochara para a vida, a “doce vida da espiritualidade”. Era Lídia.<br />
– Meu Deus, meu Deus! Você está aqui Lídia? – diz Anita,<br />
emocionada. – Eu não posso vê-la, mas sinto-a pertinho de mim.<br />
Seja bem-vinda minha querida irmã, seja bem vinda!<br />
Imediatamente, Lídia se espanta com os dizeres da amiga,<br />
por jamais perceber que ela sentiria a sua presença. Abaixa o seu<br />
244
semblante e se põe a chorar.<br />
– Ó, Deus! Como o Senhor é misericordioso permitindo<br />
que Anita percebesse a minha presença e conduzindo-me em seu<br />
coração. E ela sabe que jamais eu estaria aqui novamente para lhe<br />
fazer algum mal. Bendito sejais vós, ó Pai Celestial.<br />
Lídia, naquele instante, enlevada pelo amor envia uma<br />
mensagem de paz à sua amiga acariciando o seu bebê, que ao<br />
fixar seus olhinhos se põe a sorrir pela doce carícia recebida daquele<br />
espírito que viera visitar Anita por amor.<br />
– É titia Lídia que está nos visitando, filhinho – diz Anita.<br />
– Bendita seja.<br />
De imediato, entra em seu quarto para uma visita formal<br />
Irmão Lázaro, acompanhado de Izabel. Ao cumprimentá-la, logo<br />
diz:<br />
– Perdoe-me minha amiga e irmã, eu não sabia que aqui<br />
contigo se encontrava outra visita.<br />
– Mas não há ninguém aqui comigo, irmão.<br />
– Anita, eu sei que você tem uma excelente visita.<br />
– Já sabe? Então eu não estou sonhando e é verdade<br />
que Lídia esta aqui conosco?<br />
– Não só é verdade, como também lhe deixou uma<br />
singela mensagem.<br />
“Anita, minha amiga e irmã em Cristo. Eu estou indo<br />
bem, aqui tudo é tranquilo e fazemos aquilo que queremos fazer,<br />
pois temos o livre-arbítrio, e os irmãos do Plano Espiritual<br />
são compreensivos, solidários e maravilhosos, nos ensinando e<br />
nos conduzindo com muita benevolência e amor. Por isso agradeço<br />
sempre por ter saído daquela condição de espírito do umbral<br />
para a luz, e quero aproveitar a oportunidade para estudar<br />
muito, pois aqui, no Plano Espiritual, existem excelentes bibliotecas<br />
com os melhores autores. Quero agradecer o empenho<br />
que todos vocês tiveram quando ainda eu estava com aquele<br />
245
ódio e revolta. E também aproveitar a oportunidade que me<br />
concederam para parabenizar-lhe pela sua união com Oscar, um<br />
gato e com um excelente coração, cercado de bondade, solidariedade<br />
e amor. Parabéns também pelo seu lindo bebê, o Francisco,<br />
e a criança que logo virá, adotada por vocês para fazer companhia<br />
ao seu bebê. Um forte abraço.<br />
– Você gostou da mensagem? – pergunta Irmão Lázaro.<br />
– Sim, irmão, e me sinto muito honrada por ela estar<br />
aqui me visitando.<br />
– Como você está irmã Lídia, no mundo da<br />
espiritualidade?<br />
Por meio de telepatia, Lídia responde ao Irmão Lázaro.<br />
– Tenho me esforçado muito para alcançar progresso Irmão<br />
Lázaro, e estou muito feliz em saber que Deus é um bom Pai e<br />
tem cuidado para que eu não mais caia nos braços da devassidão<br />
e da tristeza. Hoje estou congratulada a Deus por estar aqui conquistando<br />
mais um risco de luz pra recompor a minha aura, que<br />
se encontrava totalmente escura e perdida. E quero aproveitar o<br />
momento para lhes dar boas novas. Eu fui convocada pelos<br />
mentores a fazer parte da equipe que zelará pelo espírito de Gildo<br />
na clínica onde ele se encontra neste momento, portanto, terei o<br />
maior empenho em tirá-lo do estado psíquico em que ainda se<br />
encontra, muito confuso e ainda sofrendo. Gostaria de frisar<br />
que minha mãezinha está sempre comigo, trazendo-me excelestes<br />
orientações.<br />
– Anita, Lídia já se foi. Vamos nutri-la sempre com as<br />
nossas orações. E você, fique alerta e feliz, pois bendita sejas tu<br />
por perceber os irmãos que estão em nossa volta, minha querida<br />
irmã, porque tens luzes magníficas ao teu redor.<br />
– Rendo graças a Deus por todos os instantes de minha<br />
vida, irmão. A minha grande felicidade é ter todos vocês<br />
comigo. Deus permita que esse nosso elo haja de ser eterno.<br />
246
A fuga de Camila<br />
Com o passar dos dias, um grande amor vai se somando<br />
no coração de Camila, ao perceber que em seu ventre o bebê<br />
cresce. Ela passa a compreender que aquela criança, totalmente<br />
dependente de si, lhe seria a sua única e verdadeira companhia<br />
para toda a vida.<br />
– Bom dia, minha criança – diz carinhosamente<br />
Camila, afagando o ventre. – Como estamos hoje? Antes de<br />
qualquer coisa, referente à atitude que sua mãezinha vai tomar<br />
para não se separar de você, eu gostaria de saber se você<br />
é uma menininha ou um rapazinho. Eu tenho uma leve impressão<br />
de que você é uma menininha, mas se for um rapazinho será<br />
bem-vindo da mesma forma. O que eu não desejo é perder você,<br />
e farei o que for necessário para que isso não aconteça.<br />
A decisão tomada por Camila a deixa confusa. Toma<br />
em suas mãos uma folha de papel e uma caneta para deixar<br />
uma triste carta de despedida aos seus amigos, com os seguintes<br />
dizeres:<br />
“Meus amigos. Jamais pude compreender até o momento<br />
o por quê de vossas preocupações e de tanto zelo comigo.<br />
Mesmo assim, através de seus afetos vocês me ensinaram<br />
o que é amar, colocando frente a meus olhos atitudes e<br />
encantos. Sinto-me prazenteira em dizer-lhes que aprendi a amar.<br />
E é justamente por isso que venho tomar uma decisão muito<br />
séria em minha vida. Sinceramente, com o passar dos dias tenho<br />
convivido com uma situação que me faz atuar como mãe, que<br />
aos poucos vai me fraquejando e me fazendo sentir, como doce<br />
se faz o ser mãe. Tenho me afligido muito com esse sentimento<br />
que está crescendo em mim, que é o dom divino de gerar uma<br />
nova vida. Agora, sinceramente, eu não posso tirar essa criança<br />
dos meus braços, pois tenho certeza de que não conseguirei.<br />
Anita, agora que você já é mamãe, pense um pouco em mim e<br />
247
ore por mim... Por favor, eu sinto um grande medo de tudo,<br />
mas o que não posso fazer é fugir de minha realidade, da divina<br />
missão de ser mãe.<br />
Tenho lutado para me afastar do obscuro mundo do<br />
vício e dos fracassos vividos para recomeçar a minha vida.<br />
Quem sabe eu consiga! Eu sinto que conseguirei, porque até<br />
agora não usei mais drogas. Deixo-lhes esta carta com amor,<br />
pedindo que não me procurem, não me censurem pela minha<br />
atitude e não se aflijam por mim. Eu e o bebê ficaremos bem.<br />
Mais uma vez lhes digo que não sei quais são os motivos que<br />
os fizeram me ajudar, porém, eu aprendi a amá-los. Mesmo<br />
assim, adeus e obrigada por tudo”.<br />
Camila pega apenas parte de seus pertences, uma pequena<br />
quantia em dinheiro, que era a mesada oferecida por Oscar e<br />
Anita e somente a roupa vestida em seu corpo. Era um vestido<br />
solto, apropriado à gestação e muito bonito, que Anita lhe presenteara.<br />
O vestido tinha um tom esverdeado que combinava<br />
com a sua serenidade, apesar de que a sua tranquilidade estava<br />
contrastada com os ressentimentos passados.<br />
– Meu Deus, o que é que estou fazendo?! Estou sendo<br />
cruel e ingrata com Oscar e Anita!<br />
Meu corpo, a cada dia que passa está ficando mais delicado...<br />
Sinto o peso da criança, mas tenho que procurar Josué, afinal<br />
de contas, ele é o meu homem e o verdadeiro pai do meu bebê,<br />
e não é justo que eu fique sozinha com esta responsabilidade, ou<br />
que deva passá-la para outras pessoas.<br />
Por algumas vezes, Camila pensou em voltar ou telefonar<br />
para pedir-lhes perdão pelo que havia feito com amigos,<br />
mas não se encorajava em tomar tal atitude. O que ela acreditava<br />
é que teria de cumprir naturalmente o seu destino. Voltando<br />
ao lugar de onde saíra, ou seja, de sua humilde casa alugada onde<br />
vivia com Josué, Camila, ao chegar à tal casa, soube que Josué<br />
havia mudado dali pra safar-se da perseguição pelo envolvimento<br />
248
com as drogas.<br />
Camila persistiu em sua busca até conseguir, com um<br />
de seus amigos, o seu endereço atual. Esse amigo, inclusive, pediu-lhe<br />
que não fosse a esse lugar, por ser muito perigoso. Mas<br />
Camila, persistente consigo mesma, certamente que iria, pois<br />
lugares piores do que esse ela já havia frequentado. Buscou um<br />
transporte que a levaria até esse lugar para reclamar ao amante os<br />
seus direitos de estarem juntos.<br />
Ao chegar ao local, logo fora recebida com maus tratos<br />
e perguntas obscenas, que pela primeira vez a fizeram<br />
ficar envergonhada frente à sua própria gestação.<br />
– Por favor, meu senhor, é só uma informação que<br />
procuro.<br />
– Senhor uma pinóia, eu tenho nome, sua.... Se quiser<br />
informação, me chame de Zé da Rocha e arruma algum dinheiro<br />
para o “véio” aqui pagar as contas. Cinquenta tá bom.<br />
– Mas, cinquenta? Eu não tenho esse dinheiro, só tenho<br />
dois reais. Por favor, eu só quero uma informação.<br />
– Eu não quero essa merreca, não tô passando fome. Se<br />
quiser, vamos lá pra minha casa descansar comigo que te passo<br />
a informação.<br />
– O senhor deveria me respeitar, sou uma senhora e estou<br />
gestante.<br />
– Isso é que não! Você não é senhora nem aqui, nem no<br />
céu. Basta procurar o vagabundo do Josué pra gente saber quem é<br />
você. Com certeza é mais um caso dele, é ou não é? E caso dele é<br />
coisa perdida, pois ele só anda com vagabunda. E tem mais, Eu sei<br />
da sua história. Você deve ser a tal da Camila, a quem ele usou e<br />
debochou. Vamos dormir comigo e chega de conversa fiada.<br />
– O senhor acha que ninguém tem o direito de se redimir?<br />
– Nem todos. E você bem sabe que é uma dessas perdidas,<br />
para quem não existe cura. Uma hora dessas deve ter alguém<br />
chorando muito por alguma maldade feita por você. E torno a lhe<br />
249
dizer: se você esta aqui atrás desse pilantra, é porque não presta<br />
mesmo!<br />
– E o senhor pode me dizer qual foi a maldade que eu fiz?<br />
– Nem precisa, porque só você é quem sabe. Cala logo<br />
essa boca, que dela só esta saindo besteira.<br />
– O senhor não se aproxime de mim, pois não tardará<br />
para que o Josué venha aqui para tirar-lhe satisfações.<br />
O homem furiosamente avança sobre Camila tentando<br />
arrancar-lhe a roupa do corpo. Ela, por sua vez, se põe a<br />
gritar por socorro, e o homem tão logo a joga ao chão,<br />
esmurrando sua face para tentar desfalecê-la.<br />
Camila, não suportando mais as agressões e totalmente<br />
indefesa, desfalece. No início do ato ela sente a agitação do bebê<br />
em seu ventre e, com o objetivo de defender seu filho, mesmo<br />
sem saber de onde viera tanta força ela consegue tirar o homem<br />
de cima de si, empurrando-o com os dois pés, afinal, ela sabia se<br />
defender, pois não era a primeira vez que passava por isso. Rapidamente,<br />
ao levantar-se do chão passa a agredi-lo com um pedaço<br />
de madeira que estava próximo de si.<br />
Aquele homem, cheio de monstruosidade e força, teria<br />
cerca de 50 anos de idade. No entanto, a ira da jovem fora tanta<br />
para proteger a si e a seu filho, que conseguiu deixá-lo desfalecido<br />
no chão após alguns golpes.<br />
Meu Deus! Não sei se matei este miserável. Ajuda-me e daime<br />
forças para que eu saia deste lugar. Vamos embora, meu bebê,<br />
mamãe não permitirá que nada de ruim nesse mundo lhe aconteça.<br />
Havia nela desmantelos e danos físicos. Sua roupa não<br />
estava rasgada, mas suja. Os seus longos cabelos, esvoaçados. A<br />
sua face, dolorida devido às agressões sofridas. Mas o seu bebê,<br />
sua maior preocupação naquele instante, se encontrava bem.<br />
Camila teria levado um mau jeito em seu joelho esquerdo, mas<br />
passaria. Tudo passaria, como em tantas outras vezes.<br />
Logo à frente, Camila, ao se encontrar com uma velha<br />
250
senhora, lhe pergunta se já ouvira falar no nome de Josué, que<br />
por algum tempo vivera por ali.<br />
– Sim, filha, eu o conheço, apesar de saber que ele<br />
não é gente boa, você me perdoe por meus dizeres. Eu o conheço<br />
e vou lhe passar o endereço, mas por favor, não diga a<br />
ele quem lhe deu o endereço, eu tenho medo. Estou fazendo<br />
isso porque me parece que você está precisando de ajuda, mas<br />
lembre-se, ele não vale nada, estou lhe avisando.<br />
– Senhora, muito obrigada e que Deus lhe ilumine<br />
por sua caridade.<br />
Já era tarde, aproximadamente dez horas da noite.<br />
Camila, ao sair daquele lugar, parte em busca de Josué. Somente<br />
por volta das duas horas da madrugada, após fazer<br />
longa caminhada, é que ela consegue encontrá-lo.<br />
– Mas você está louca? Veja a sua situação! O que<br />
houve? Você foi agredida por Oscar? Conta-me!<br />
– Jamais! Eu vou lhe contar o que foi que me aconteceu,<br />
mas primeiro eu tenho que tomar um banho e comer alguma<br />
coisa, porque estou faminta. Já tem quase dois dias que estou<br />
à sua procura, e até que enfim lhe encontrei neste cortiço.<br />
– Mas onde é que você ficou na noite passada? E você<br />
não tem bagagem, nem grana...<br />
– O único dinheiro que trouxe comigo foram cinquenta<br />
paus para a passagem, e nem isso deveria ter pegado, porque eu<br />
não tinha o direito diante do que fizeram por mim. Eles são<br />
maravilhosos. Logo o dinheiro acabou e ontem fui obrigada a<br />
encostar-me num banco qualquer de praça.<br />
– Mas até que ponto você chegou! Você é masoquista,<br />
parece que gosta de sofrer.<br />
– Pelo meu filho eu faço qualquer sacrifício, e não fale<br />
desse jeito comigo. Eu não quero doar o bebê, porque ele tem<br />
pai e mãe. Esse filho eu não quero desprezar. Hoje eu tenho<br />
251
consciência de que fiz muitas bobagens; fiz vários abortos e matei<br />
muitos inocentes. Agora, tudo o que fiz foi pensando no bebê e<br />
em nós dois.<br />
– Belos e exemplares pais esse bebê terá, você não<br />
acha? Nenhum de nós dois presta Camila, somos vidas tortas,<br />
o que vamos dar como exemplo para o nosso filho? Vou<br />
ensiná-lo a roubar e a usar drogas?<br />
– Você não diga isso, porque nós temos chances em<br />
nossas vidas. Podemos ainda ser felizes.<br />
– Sim, você ainda não me contou tudo. O que foi que<br />
lhe aconteceu? Como você chegou aqui, nesta situação? Inclusive<br />
o seu rosto está inchado, como é que você se machucou assim?<br />
– Eu caí ao andar pela rua. Por um instante, me deu<br />
uma vertigem e quando dei por mim, estava caída no chão.<br />
Talvez tenha sido devido ao cansaço e à fome que sentia.<br />
Como você vê, estou gestante.<br />
Bem. Quanto à verdadeira história a respeito do que<br />
lhe acontecera realmente, Camila não quis contar a Josué para<br />
não haver vingança. Ela o havia procurado para recomeçarem as<br />
suas vidas. Aquilo passaria, assim como outras muitas vezes já<br />
passara.<br />
– Alguns poucos meses longe de você e sabe que estou<br />
percebendo que você está mudando? Está mais bonita, mais<br />
bem tratada. Enfim, parece que “bateu” um requinte em você.<br />
Parabéns, que seja daí para melhor. Me dê um abraço e vamos<br />
tentar modificar tudo isso de ruim que ainda trazemos conosco,<br />
só que lhe aviso: eu posso tentar mudar, mas primeiro preciso<br />
fazer a boa, pois está tudo certo entre eu e mais quatro amigos<br />
para a gente assaltar um banco do jeito que bolamos. Vai dar<br />
tudo certo, depois eu prometo que paro com tudo para nós<br />
seguirmos uma outra vida.<br />
– Alguma coisa vai dar errado, porque eu senti um gelo<br />
252
no coração, e você pode não acreditar, mas vim atrás de você<br />
não só pelo nosso filho, mas porque eu te amo de verdade. Eu<br />
ficava com outros homens, mas sempre voltava para você.<br />
Uma semana depois, Camila ainda se sente intranquila<br />
pela decisão que tomara, principalmente ao perceber, através de<br />
sussurros entre Josué e alguns de seus amigos, que alguma coisa<br />
muito perigosa estava cercando-os. E ela não queria ouvir os<br />
seus dizeres, porque temia alguma coisa ruim. Às vezes, sozinha,<br />
sem que Josué percebesse, Camila, preocupada com o pós-parto<br />
de Anita, começava a chorar. Porém, uma fé desejável de ser<br />
também feliz, vinha e lhe abrandava as dúvidas.<br />
Anita e a carta<br />
Anita, com a chave reserva do apartamento onde estava<br />
vivendo Camila, entra e pergunta:<br />
– Onde é que você está, Camila?<br />
– Ola! Somos nós, Oscar e Camila. Viemos lhe visitar e<br />
ver como você está.<br />
– Ela não está, deve ter saído um pouco – diz Anita.<br />
– Será que foi ao hospital falar com Dr. Osvaldo?<br />
– Creio que não, está marcada para amanhã a consulta<br />
de rotina, Oscar, inclusive ela me pediu para que eu a<br />
acompanhasse.<br />
– Ainda bem. Ela deve estar por aí.<br />
– Eu trouxe para ela algumas roupinhas de bebê, vou<br />
colocá-las em cima da cama.<br />
– Mas será que ela irá gostar que você entre em seu<br />
quarto?<br />
– Tanto gosta meu amor, que na maioria das vezes em<br />
que venho aqui, sozinha ou com Izabel, ela nos pede que arrumemos<br />
as roupinhas do bebê na cômoda dele.<br />
– Então, se é assim, vá até lá que eu ficarei aqui lhe esperando.<br />
253
Minutos depois, Anita, chorando, volta para a sala.<br />
– Oscar! Ó, meu Deus!<br />
– Mas o que houve? Você está pálida. Tem alguma coisa<br />
errada lá no quarto? Vamos, diga-me!<br />
– Há sim, uma coisa ruim, e está aqui em minhas mãos.<br />
É uma carta muito triste que Camila nos deixou. Oscar, ela<br />
foi embora! Ela foi embora!<br />
– Mas como isso pode acontecer? Não é possível! E<br />
o que ela diz nesta carta?<br />
– Coisas em que não posso acreditar. Ela nos deixará<br />
por ainda não confiar em nós, e também para tentar uma nova<br />
vida com o seu bebê e Josué.<br />
– E você acha que devemos deixá-la à sorte?<br />
– Creio que não. Tentemos encontrá-la, talvez não<br />
esteja bem.<br />
Oscar e Anita em busca de Camila<br />
Por mais uma vez, o destino se cumpriu entre Anita e<br />
Oscar. Saíram dia após dia em busca de informações sobre Camila<br />
e não desistiriam. No entanto, não sabiam mais onde procurá-la.<br />
Novamente Oscar combina com um detetive, Paulo Antunes,<br />
para auxiliá-los na busca de Camila.<br />
– Por favor, Paulo. Não vamos desistir. Gaste o que for<br />
necessário para encontrá-la. Nós precisamos saber como ela está<br />
para ajudá-la.<br />
– Certamente que nós a encontraremos, fiquem<br />
tranquilos.<br />
Alguns dias já haviam se passado. Era uma noite triste e<br />
fria; um frio na alma perturbava aquela mulher sem que ela<br />
soubesse o porquê. Aquela tristeza parecia estar no peito há um<br />
século, e aquele martírio lhe deixava profundamente desalentada.<br />
254
Relembrava naquela noite tudo o que já havia se passado<br />
em sua vida: a sagaz e infame vulgaridade que havia encalçado<br />
seu progresso espiritual. Sentada à beira da cama de um quarto<br />
pequeno, quase escuro, cuja iluminação vinha de uma pequena<br />
lâmpada que havia do lado de fora da casa, Camila, com as mãos<br />
postas no ventre, cabelos caídos à face, pés descalços no chão,<br />
aos prantos pedia perdão à criança que estava por vir. Era a noite<br />
mais triste de todas as noites.<br />
Passara-se o tempo. Camila se sentara ali por volta das<br />
20h; estranhamente calada, sem ao menos ter força para erguer a<br />
cabeça, não percebera que as horas se iam, até que, por volta das<br />
23h ela se assusta com um grande movimento do lado de fora<br />
do pequeno quarto.<br />
– Meu Deus! Que tiros são esses? E estas sirenes?<br />
Logo o seu quarto é invadido por um homem que, num tom<br />
baixo de voz, mandou que ela se calasse. Era um policial.<br />
– Onde está o seu macho vagabunda?<br />
– Pelo amor de Deus, o senhor Não me trate assim.<br />
Mal terminara de completar a frase e Camila é esbofeteada pelo<br />
policial.<br />
– Pelo amor de Deus, não faça isso comigo! Estou<br />
grávida!<br />
– Melhor que esse aí também não nasça para não ficar<br />
igual ao pai dele. E enquanto você não disser onde ele está, vai<br />
continuar apanhando.<br />
O jovem rapaz que estava escondido no quarto, sem<br />
que Camila soubesse, logo se põe à frente do miserável policial<br />
e se identifica dizendo não ser o marido dela.<br />
– Eu tô pouco me lixando! Dane-se ela, dane-se você!<br />
Não havendo testemunhas, morrerão os dois, aqui e agora.<br />
O rapaz, enlouquecido, se põe à frente de Camila. Por<br />
sua vez, o policial toma em suas mãos a arma que estava em sua<br />
cintura e impiedosamente a dispara contra o rapaz, que desfale-<br />
255
ce imediatamente. A pobre mulher, sem perspectiva nenhuma<br />
de vida, leva as mãos ao ventre, fecha os seus olhos e clama por<br />
Deus.<br />
– Senhor meu Deus, perdoa-me! Salve esta criancinha<br />
inocente... Quanto a mim, não importa. Um tiro é disparado.<br />
Uma morte silenciosa, sem voz. Braços que lhe afagam, um<br />
corpo que aquece o seu. Uma voz suave que lhe diz:<br />
– Eu te amo Camila, eu te amo muito. Nós seremos<br />
felizes com o nosso bebê.<br />
Assustada, imediatamente Camila abre os olhos ao reconhecer<br />
aquela voz: era Josué. Ao virar-se para a porta, percebe que havia<br />
outro corpo no chão. Era o do policial que Josué acabara de<br />
matar.<br />
– Não olhe, fique encostada em meu peito. Não tema<br />
nada, estou aqui com você.<br />
– Mas porque você o matou? Meu Deus! Pensei que o<br />
tiro teria saído dele pra mim!<br />
– Aconteça o que acontecer, as únicas palavras que posso<br />
pronunciar agora são eu te amo. Sente-se e descanse um pouco.<br />
Poucos foram os minutos de felicidade e alegria entre<br />
ambos, pois prontamente à sua porta surge outro policial, que<br />
pedia cobertura a tantos outros que estavam ali ao redor para<br />
que Josué fosse capturado.<br />
– Vamos pegá-lo, ele está dentro da casa.<br />
Josué, ao perceber que ali estava o seu fim, teria de conseguir<br />
uma maneira de se afastar de Camila para que ela e o bebê<br />
não sofressem. Beijou-a e, afastando-se rapidamente, ao pular a<br />
janela ainda teve um instante pra dizer que a amava, pedindo a<br />
ela que fugisse pelo buraco que havia na parede da casa de madeira<br />
onde estavam.<br />
Josué se dirige ao policial e diz:<br />
– Aí, seu estúpido, somos ambos da mesma matilha.<br />
Quer me matar só porque não dividi a droga do dinheiro contigo?<br />
256
– Cale a boca infeliz, você já está morto!<br />
Um estalo, uma queda, vários suspiros.<br />
Camila imediatamente se levanta da cama e segue em direção à<br />
rua, quando vê Josué caído no chão, entre dores e gritos de ódio.<br />
Ao dirigir-se ele, é segura pelas mãos de uma senhora que tenta<br />
tranquilizá-la.<br />
Josué grita...<br />
– Não! Não, Camila! Fique aí para cuidar do nosso bebê!<br />
Estes policiais são do mal, fuja!<br />
– Josué, não me deixe!<br />
– Estaremos sempre juntos, não tenha medo!<br />
Outro disparo. Josué, com as mãos no peito se vira de<br />
costas pra cima, oportunidade que o policial jamais perderia para<br />
crivar o corpo do homem de balas, para não serem acusados por<br />
ele.<br />
– Meu Deus! Tenha misericórdia! – Grita Camila, desesperada.<br />
Josué, ao ouvir as palavras de clamor de sua amada, toma<br />
imediatamente a arma das mãos do policial que estava ao seu<br />
lado, caído e desfalecido e, com um só disparo derruba o seu<br />
algoz, o seu inimigo.<br />
– Vamos juntos, amigo, não é justo que eu sofra sozinho<br />
se temos a mesma natureza. Vamos juntos para o inferno.<br />
Aos poucos, Josué vai se largando no chão. Camila, ao<br />
aproximar-se dele, se ajoelha para que ele deite sua cabeça em<br />
seu colo. Ofegante Josué começa a dizer algumas palavras e todos<br />
ali presentes se emocionam.<br />
– Deus! Ó Deus! Não sei que mundo é este onde estou,<br />
nem mesmo sei para onde devo ir! Tudo em minha frente está<br />
opaco, quero luz, dê-me luz, Senhor!<br />
Nesse mesmo instante, aquele homem deixa de existir.<br />
Talvez por ironia, um vento oculto passou entre as pessoas que<br />
ali estavam. A face de Camila, molhada por suas lágrimas, era<br />
257
enxugada com o suave roçar de seus cabelos em sua face, com o<br />
espanar do vento. Doce e triste era o vento, pois cantava nos<br />
ouvidos da jovem mulher a sua triste sina.<br />
Quatro mortes, quatro horríveis assassinatos. Uma<br />
monstruosa chacina divulgada por jornais e TVs pelo mundo<br />
afora, cujas imagens ficariam presas para sempre nos olhos e no<br />
coração de Camila. Um estado depressivamente profundo atinge<br />
aquela mulher. Dessa vez, Camila se perdera no mundo; um<br />
estado de letargia roubara-lhe o último elo de esperança que a<br />
faria alcançar a felicidade que ainda poderia ter nessa vida. Como<br />
uma pessoa totalmente embriagada, saiu às ruas sem destino<br />
como uma inocente ave ainda sem saber voar, perdida ao vento.<br />
Sem vida futura, sem nada.<br />
258<br />
Lídia e a reencarnação<br />
O mentor Irmão X conversa com Lídia.<br />
– Como se sente irmã, nesta sua nova morada?<br />
– Louvado seja o Senhor Jesus. Aqui me encontro muito<br />
bem e em total paz, pois sinto que minha aura está suave. Creio<br />
que já me libertei da insanidade por meio das buscas que tenho<br />
feito pelo labor e resignação, para o meu progresso espiritual.<br />
– Sabias que já estás preparada para o retorno?<br />
– Não, irmão, eu não sabia. Mas me parece que faz tão<br />
pouco tempo que saí do corpo físico! E estou bem aqui, mas se<br />
tiver de ser assim, que assim seja meu bom irmão, mesmo que<br />
haja forças negativas para tentar impedir-me, eu voltarei para resgatar,<br />
eliminar as minhas dívidas do passado e seguir a caminho<br />
da perfeição. Quem sabe assim eu possa ter progressos em minha<br />
espiritualidade, pois terei possibilidades melhores para o labor em<br />
prol do bem, tanto aqui, quanto no plano terrestre. Desta vez não<br />
perderei a oportunidade que o nosso Criador esta me dando, mas<br />
pensei que demorasse anos para um espírito reencarnar.
– Ha casos e casos, minha boa irmã. Cada espírito tem<br />
o seu histórico e, no seu caso, pela bondade de Deus houve um<br />
consenso e a permissão lhe foi dada pelos Espíritos Superiores<br />
para a sua volta ao plano físico. Mesmo porque, regressaste ao<br />
Plano Espiritual prematuramente, graças ao seu descuido com a<br />
saúde de seu antigo corpo carnal. Por isso, lhe afirmo que está<br />
próxima a sua reencarnação.<br />
Lídia estudava com afinco naquela colônia, onde se<br />
esclarecia com muita rapidez, por meio do aprendizado em vidas<br />
passadas e também por sua atual vivência no Plano Espiritual.<br />
Eis que, em determinado momento, o mentor recomenda a<br />
Lídia e aos demais alunos que fizessem um intervalo, para que<br />
todos pudessem imaginar e refletir sobre tudo o que haviam<br />
aprendido até o momento. Após sair da sala de aula, Lídia sentou-se<br />
em um lindo jardim onde havia várias e várias espécies de<br />
orquídeas. Ela então as admira, pois eram a sua flor preferida,<br />
que ela e Anita cultivavam com muito carinho quando da sua<br />
estada no plano físico. As duas costumavam comentar que as<br />
orquídeas eram lindas por serem barrocas e nativas. Aquelas orquídeas,<br />
plasmadas no astral para sua sensível admiração, também<br />
eram uma tática para que Lídia se lembrasse do caminho<br />
de volta, que ela agora teria de seguir.<br />
Irmão X, pela técnica da telepatia, muito comum entre<br />
os espíritos, diz a Lídia:<br />
– Não temas irmã, o que tu fizestes até agora foi alcançar<br />
raios iluminados o suficiente para aprender e renascer, sem<br />
que haja qualquer empecilho. Lá, viverás por 94 anos na contagem<br />
terrestre. Seus anjos e protetores estarão ao seu lado o tempo<br />
todo durante a sua estada no Plano Terrestre.<br />
– E como devo agir de agora em diante, irmão? Na minha<br />
volta?<br />
– A sua missão será árdua; terá algumas dificuldades e,<br />
259
no seu caso, excepcionalmente você perdera a consciência bem<br />
próximo ao momento da sua reencarnação, ou melhor, no momento<br />
exato do seu nascimento. Esquecerá tudo que passou<br />
aqui conosco e se tornará uma criança totalmente inocente.<br />
– Mas isso é necessário, meu irmão? Por que eu devo<br />
perder a consciência?<br />
– Deus nos dá o livre-arbítrio, mas existem regras. Perante<br />
as Leis do Universo o esquecimento é necessário, e isso nos<br />
é dado pela misericórdia de Deus, para que não nos perturbemos<br />
com os erros do passado. Pense bem; como seria se você<br />
reencarnasse sem perder a consciência? Como seria nossa nova<br />
oportunidade na Terra com nossa consciência cobrando os nossos<br />
erros do passado? Siga o seu coração e o seu destino. Saberás<br />
por si mesma e pelo seu instinto como deverá agir.<br />
– Irmão, desculpe-me por tantas perguntas, mas tenho<br />
que lhe fazer mais uma.<br />
– Fique à vontade minha boa irmã, estou aqui exatamente<br />
para lhe orientar. Esta é a minha missão ou função, auxiliála<br />
respondendo a todas as suas perguntas. Fui designado pata<br />
esta colônia com essa finalidade.<br />
– Por que eu, excepcionalmente, tenho de perder a consciência<br />
e os outros que<br />
reencarnam não a perdem?<br />
– Não é assim, Lídia. Todos que reencarnam perdem a<br />
consciência literalmente. Uns bem próximos ao nascimento,<br />
outros bem antes, e outros até alguns anos antes de reencarnar.<br />
Cada um com seu histórico. Enfatizo: cada caso é um caso, mas<br />
todos são acompanhados por Espíritos esclarecidos e<br />
especializados para cada caso, e também pelos guardiões designados<br />
para cuidar e lhe proteger durante sua estada no plano<br />
físico. Há também uma legião de espíritos que trabalham para<br />
resguardá-la durante a gestação da futura mamãe, e quando lá<br />
você renascer ou nascer, terá vários anjos, vários Espíritos de Luz<br />
260
para lhe acompanhar até o fim de sua jornada terrestre. No seu<br />
caso, você e a Legião de Espíritos precisarão estar próximos à sua<br />
futura mamãe, exatamente para que ela sinta sua total presença e<br />
não desista da criança que está em seu ventre. E você terá a grande<br />
oportunidade de ampará-la em seu sofrimento durante e até<br />
o final de sua gestação. Essa assistência que você dará a ela fará<br />
parte da sua missão nessa sua nova passagem. A partir de hoje,<br />
Irmã Lídia, a sua missão será estar ao lado dela até no momento<br />
da sua reencarnação. Proteja-a com toda a sua energia e a sua<br />
paz. Zele bem pelo corpo carnal de sua futura mamãe e lembrese:<br />
você encontrara muito sofrimento naquela alma encarnada,<br />
pois tudo isso faz parte do resgate dela.<br />
Não esqueça, minha irmã, que a vida, tanto aqui quanto<br />
no plano físico, é um grande aprendizado para todos nós,<br />
desencarnados e encarnados. Então, a esses dois processos podemos<br />
nos referir como teoria e pratica ou vice-versa. Em um<br />
plano você aprende e em outro você pratica o que aprendeu.<br />
Mas quem aprende na teoria pode fazer tudo errado na prática,<br />
por isso o livre-arbítrio.<br />
– A minha afinidade será grande com essa pessoa, irmão,<br />
eu tenho certeza, pois já a conheço. Digo isso pelo que eu<br />
aprendi aqui e por minha intuição. Conheço também um pouco<br />
mais o meu coração, logicamente que aqui eu tive a oportunidade<br />
de aprender a amar o próximo e ser solidária e, além do<br />
mais, sinto que já a conheço. Principalmente após descobrir em<br />
minhas aulas que em vidas anteriores já estive com ela em uma<br />
ligação familiar, meu bom Irmão X. Farei o melhor para que<br />
tudo dê certo.<br />
– Bem Lidia, como você já sabe, por seu excelente desempenho<br />
em suas aulas, a reencarnação é como a morte para os<br />
que aqui estão. Você irá desaparecer do nosso convívio para esta<br />
missão, e lá no plano físico se tornara outra pessoa, mas com o<br />
mesmo espírito, pois o corpo físico após a morte apodrece e<br />
261
vira pó, mas o espírito, esse minha boa irmã, é eterno, porque<br />
Deus nos fez eternos. Então, quando o espírito precisa reencarnar,<br />
seria como trocar sua roupagem espiritual por um novo corpo<br />
físico<br />
Quero que saiba de uma coisa muito importante. Quanto<br />
a você reencarnar agora, é notório que realmente é um pouco<br />
cedo, e que você poderia desfrutar de sua estada aqui conosco<br />
por mais algum tempo, mas por sua excepcional desempenho<br />
você está pronta. Dessa vez, além do seu resgate, também lhe<br />
pedimos que como voluntária abraçasse esta missão. Você poderá<br />
permanecer por mais um tempo aqui conosco se quiser,<br />
mas queremos lhe pedir que antecipe sua reencarnação como<br />
voluntária, por que neste momento se assim o fizer estará prestando<br />
um grande serviço para sua futura mãe, seu futuro irmão<br />
e para a Espiritualidade. – E eu poderei saber o que é este serviço<br />
voluntário, meu bom irmão?<br />
– A bem da verdade, você seria a primeira dos dois filhos<br />
dessa mulher, cujo nome no plano físico é Camila. Mas o<br />
espírito que iria reencarnar em sua atual gestação não tem por<br />
enquanto a mínima condição pelos seus traumas sofridos, motivados<br />
exatamente pelos abortos provocados por aquela mulher.<br />
Consequentemente, ela também passou e passará por vários<br />
traumas e, nesse caso, você estaria dando a grande oportunidade<br />
a esse espírito, que está sob tratamento em uma colônia<br />
especifica de ser seu irmão. Assim sendo, ele não perderá a oportunidade<br />
de voltar para seus acertos, afinal, será sua quinta e<br />
última tentativa e, se ele não conseguir reencarnar, ficará por<br />
vários séculos perdido em seus próprios traumas psíquicos. Para<br />
que você tenha idéia de como ele está neste momento, vou<br />
materializar o local onde ele se encontra em suas deformações<br />
psíquicas.<br />
Assim que foi plasmado o local onde aquele espírito se<br />
encontrava, Lídia levou um grande susto e perguntou:<br />
262
– Então eu estaria reencarnando por solidariedade a este<br />
espírito?<br />
– Sim, Lidia. – Afirma o mentor.<br />
Havia ali um espírito em uma situação degradante, meio<br />
adulto, meio criança. Enquanto ele se preparava, ou seja, voltava<br />
para o seu estágio infantil, sua genitora estava se relacionando<br />
intimamente, de forma que sua gravidez seria inevitável, pois<br />
ela não tomava os devidos cuidados, era promíscua. E aquele<br />
espírito, nos abortos que Camila praticava, era arrancado de seu<br />
ventre aos pedaços, como se fosse arrancado de uma cratera,<br />
sem nenhum pingo de misericórdia. De outro ângulo, ele se via<br />
dissolvendo e podia sentir que estava sendo jogado em um vaso<br />
sanitário para ser devorado pelo esgoto. Ouvia-se, de forma telepática,<br />
aquele espírito pedindo por clemência, dizendo que<br />
amava sua futura mamãe e, em cada nova tentativa de renascer,<br />
ele fazia o possível para que ela o recebesse com carinho e dignidade,<br />
mas toda vez sofria outra decepção. Mas ele nunca desistiu<br />
de sua mãe, por ser ela eleita a mulher que lhe daria a grande<br />
oportunidade de seguir a caminho da perfeição.<br />
– Portanto, minha boa irmã, – explica o mentor Irmão<br />
X –por mais uma vez ele irá tentar se refugiar exatamente no<br />
ventre que lhe feriu, mas como agora ele não tem a mínima<br />
condição de reencarnar, pedimos a você que antecipe sua passagem<br />
para o plano físico, salvando Camila e este espírito da degradação<br />
total por vários séculos. Mas saiba que esta decisão é só<br />
sua, nenhum de nós pode decidir por você. Posso lhe afirmar<br />
que será a atitude mais nobre que poderá demonstrar, e com<br />
essa atitude estará colaborando com Camila e com esse espírito<br />
para um resgate mais suave, e também aos demais envolvidos<br />
neste processo.<br />
Para nós, que estamos lutando para a melhora desse espírito,<br />
será uma grande vitória, e você também estará colaborando com<br />
o sistema ou processo de vidas, tanto no plano espiritual quanto<br />
263
no plano físico. Isso lhe trará um reconhecimento maravilhoso<br />
da Alta Espiritualidade.<br />
– Eu tinha algumas dúvidas quanto a voltar a voltar ao<br />
plano físico, mas após ver o sofrimento desse espírito, lhe afirmo<br />
Irmão X, que estou pronta para esta missão. Haverei de<br />
passar dias felizes em minha volta para cá, quando me for permitido<br />
o regresso.<br />
– Você esta certíssima, Lídia, e lhe repito que, durante a<br />
gestação de Camila, haverá muito sofrimento daquela mulher,<br />
pois este sofrimento lhe trará um grande aprendizado e o reconhecimento<br />
dela do mal que fez, tanto para a alma quanto para<br />
o corpo físico com os abortos que praticou. Inclusive, após o<br />
seu nascimento, ela tornará a ficar grávida para receber o filho<br />
que renegou por várias vezes, interrompendo por meio do aborto<br />
a reencarnação daquele ser inofensivo que você viu plasmado<br />
através de uma tela telepática.<br />
– Este, para mim, será o maior dos desafios e uma grande<br />
oportunidade de ser solidaria. Sei também que estar junto a<br />
essa mãe me fará gloriosa, pois numa dessas viagens de retorno,<br />
em vidas anteriores, já estivemos juntas.<br />
– Você irmã, é muito querida por todos nós. Nós aprendemos<br />
a lhe amar verdadeiramente. O seu progresso se fez muitíssimo<br />
rápido depois de chegar a este plano. Esse é o resultado<br />
de sua coragem, de sua luta e persistência. Você realmente é uma<br />
grande guerreira. Prossiga sem temer a nada, irmã Lídia. Estaremos<br />
com você em todas suas dificuldades, creia-me.<br />
264
O Retorno de Lídia<br />
Lídia ainda traz alguns vestígios de seu psiquismo<br />
quando fora martirizada pelos espíritos da baixa esfera. Após<br />
algum tempo ausente, ela regressara, porém com uma roupagem<br />
magnífica de amor, serenidade e grandes afetos conquistados<br />
no mundo da Espiritualidade. Ela se alegrava por ter o<br />
alvedrio de volitar (andar) para onde queria. Assim veria, por<br />
vezes mais a Anita, a quem o seu enlace de amizade permaneceria<br />
como uma esmeralda valiosíssima em seu coração,<br />
mesmo depois de reencarnações posteriores.<br />
Agora Lídia sabia um pouco mais sobre os dois mundos,<br />
um pouco mais do que ha entre os Céus e a Terra. E<br />
quanto o homem ainda caminharia na conquista da perfeição<br />
ou de um Céu. Lídia sabia que teria à sua frente uma imensa<br />
quantidade de degraus a subir, mas tinha a precisão necessária,<br />
em conhecimentos abarcados pela Espiritualidade, de<br />
onde deveria iniciar o seu caminho. Seria fiel e breve em sua<br />
busca.<br />
– Onde deverá estar a quem eu procuro? Certamente<br />
que o tempo me dará essa satisfação.<br />
Estática com a visão que tivera desse mundo após o<br />
seu aprendizado espiritual, Lídia, totalmente resignada,<br />
adentra à casa de seus recém-amigos a quem tanto aprendera<br />
a amar e respeitar, deixando ali uma aura tão formosa e com<br />
aroma de orquídeas campestres, que o aroma era inconfundível.<br />
Ela exalava seu perfume suave gratuitamente por amor aos seus<br />
amigos.<br />
– Anita, que aroma suave... Parece ter vindo de fora!<br />
Você está sentindo?<br />
– Você também, meu amor, está sentindo? Pensei que<br />
fosse somente eu. Por isso me calei. Foi uma suave brisa que<br />
265
entrou pela janela de nosso quarto. Esse perfume pertencera à<br />
Lídia, pertence a ela, meu amor, ela adorava orquídeas. Lídia<br />
está aqui neste momento para nos dar a sua mensagem de amor.<br />
Ela parece quase um anjo em sua brandura... Eu posso senti-la.<br />
Anita teve a impressão de estar vendo quase um anjo,<br />
porque aquele processo era verdadeiro. Lídia, em espírito, estava<br />
passando por uma metamorfose, voltando ao estado infantil.<br />
Emocionada, ela se põe a chorar e, aproximando-se do pequeno<br />
bebê de Anita, este lhe sorri.<br />
Naquele momento de vibrações magníficas, entra no<br />
quarto uma jovem que há duas semanas apenas fora admitida<br />
para cuidar dos afazeres domésticos. Prontamente, após servir o<br />
chá da tarde para Anita e Oscar, ela sente uma pequena tontura,<br />
sendo logo apoiada por Anita, que estava ao seu lado, sentandoa<br />
numa cadeira que estava próxima à cama.<br />
– Perdoe-me, senhora, por favor. Nunca senti uma sensação<br />
estranha como essa... Estou ficando tonta. Parece que os<br />
meus sentidos se vão...<br />
– Não se preocupe, Márcia, isso pode ser queda de pressão.<br />
Abaixe um pouco a sua cabeça.<br />
– Não, minha irmã! Sou eu, Lídia. A paz esteja com<br />
vocês.<br />
– Oscar! Eu imaginava que fosse Lídia. Como você está<br />
minha querida?<br />
– Creio que estou melhor do que mereceria estar.<br />
– Lídia, nós não te esquecemos jamais...<br />
– Como eu posso não saber e não agradecer a vocês,<br />
principalmente pelo que me fizeram para que eu alcançasse o<br />
meu progresso? Por isso venho a vocês pra dizer-lhes que o meu<br />
retorno está próximo. Que Deus, em sua bondade infinita, está<br />
permitindo o meu regresso. Irei reencarnar e estarei sempre<br />
pertinho de vocês. Meu Deus, estou tão feliz!<br />
Ao dizer aquelas palavras, Márcia, como numa verti-<br />
266
gem, se derriba nos braços de Anita e Oscar. Eles a deitaram<br />
sobre a cama para que ela pudesse refazer as energias doadas.<br />
Calmamente, Márcia se levanta perguntando aos patrões:<br />
– O que eu fiz? Sei que falei um bocado de coisa, mas<br />
eu não consegui me controlar, não sei por que aconteceu isto<br />
comigo, com certeza vocês vão me demitir.<br />
Calados, eles a olham sem lhe dizer nada.<br />
– Os senhores me perdoem, eu nunca me senti assim<br />
em toda a minha vida. Se os senhores pensam que tenho alguma<br />
enfermidade, por favor, não me demitam, eu preciso muito<br />
trabalhar. Nunca aconteceu isso comigo. Eu sinto muito, vou<br />
arrumar as minhas coisas.<br />
– Márcia, você não sabe por que lhe aconteceu tudo<br />
isso? – pergunta Anita.<br />
– Não, senhora... Creio que tive um passamento ou uma<br />
epilepsia, ou outra coisa qualquer, porque olhando em seus semblantes,<br />
algo horrível deve ter me ocorrido aqui, há poucos minutos.<br />
– Sim, Márcia, ocorreu, – conta Oscar. – E você é uma<br />
pessoa enorme, admirável, formidável. Que Deus te ilumine,<br />
filha!<br />
– Mas, enfim, o que foi que aconteceu para o senhor<br />
usar esses termos tão reconfortantes comigo?<br />
Após Anita e Oscar contar o ocorrido, a moça<br />
totalmente espantada se levanta e diz:<br />
– Mas isso senhor, não pode acontecer comigo, porque<br />
os meus segmentos são opostos a isso. Eu sou evangélica, meus<br />
pais já nasceram evangélicos. Eu não aceito essa linhagem religiosa.<br />
Oscar e Anita se calam. A moça pede licença a eles para<br />
se retirar e não mais voltar ao trabalho nem sequer para receber<br />
os dias em que efetivara o seu compromisso. Não deixou endereço<br />
algum e saiu dizendo baixinho:<br />
267
– Vade retro, Satanás! Em casa de macumbeiro, nem<br />
passando fome eu trabalho.<br />
Seis meses depois, Márcia retornou à casa deles para pedir-lhes<br />
perdão e dizer que, após uma pesquisa pessoal, ela passou<br />
a ver a Espiritualidade de um modo respeitoso, solidário,<br />
participativo e verdadeiro, e que a partir daquele dia se tornaria<br />
uma espírita convicta. Isso foi para Anita e Oscar motivo de<br />
alegria e prova de que o mundo não está resumido, mas sim,<br />
abrangente ao infinito.<br />
Márcia, uma moça de poucos estudos e grande vontade<br />
de desenvolvimento intelectual, de imediato foi convidada por<br />
Oscar para preencher uma vaga em uma de suas instituições,<br />
onde poderia trabalhar e estudar, só sairia dali quando quisesse e<br />
depois de formada, pois os seus estudos seriam por conta da<br />
Corporação. A moça fica feliz e aceita, pela forma humilde com<br />
que lhe ofertaram.<br />
Lídia sofre perseguição no Umbral<br />
– Olhe só aquelazinha! O que você está fazendo aqui?<br />
Se cansou de suas asinhas? Não, eu acho que você sentiu saudades<br />
dos seus demônios. Venha aqui pra eu lhe dar um abraço!<br />
– Afaste-se de mim, porque sou uma serva de Deus.<br />
– Engraçado! Então a gente pode fazer a desordem que<br />
quiser que não acontecerá nada de ruim. Legal!<br />
– Porque dizes isso?<br />
– Ora, vejam só. O que tu eras e agora quer posar de<br />
santinha! É uma perdida disfarçada de...<br />
– Cale-se! Não vou ouvir mais os seus abusos, as suas<br />
difamações. Eu simplesmente não persisti em meus erros passados,<br />
eu os reconheci.<br />
– Mas por que então nós ficamos aqui neste inferno,<br />
sendo somente você a protegida, a privilegiada?<br />
268
– Eu não sou privilegiada, todos nós somos, é só questão<br />
de querer. Vocês não quiseram e não querem. Isso foi o que<br />
vocês fizeram a mim, mas em tempo reconheci minha revolta e<br />
ódio e me arrependi. Deus, em sua infinita bondade e misericórdia,<br />
permitiu que os nossos irmãos de luz viessem em meu<br />
auxílio.<br />
– Ora vai se danar... Eu vou chamar e reunir a legião<br />
para que você sinta novamente o peso de nossos aferros.<br />
Lídia sentindo-se constrangida e sem saber como poderia<br />
se defender, medita e implora a presença dos irmãos da alta<br />
esfera. Prontamente é atendida por Irmão X.<br />
– Eu e outros espíritos estamos próximos, nem você nem<br />
ele podem nos ver, mas estamos na sua sintonia. Enfrente-os sem<br />
temor, nós estaremos contigo irmã, em todos os instantes.<br />
-Não os tema, pois o teu medo pode lhe trazer transtornos.<br />
Enfatizo: não tenha medo.<br />
Com um barulho ensurdecedor, os quiumbas se manifestavam.<br />
– Ela voltou, ela voltou! Vamos pegá-la. Desta vez ela<br />
não resistirá.<br />
– Senhor, tenha misericórdia de mim e destes irmãos<br />
que têm os corações em chamas e os olhos tão escuros para o<br />
infinito! Misericórdia, Senhor!<br />
Ao se aproximarem, o corpo fluídico de Lídia foi se<br />
refletindo em múltiplas luzes até que, assustados, eles se afastaram.<br />
Tentaram mais vezes se aproximar dela para capturá-la, mas<br />
não conseguiram nada. Para eles, os quiumbas, talvez fossem<br />
novos truques que ela aprendera com sua nova gangue.<br />
– Vamos cair fora daqui! Essa mulher está muito estranha,<br />
assim, com tanta luz! Luzes que nos perturba e nos ofuscam.<br />
Estou fora!<br />
Nem mesmo lídia entendeu direito o que se passara!<br />
Protagonista desse ato, não soube esclarecer o que vivenciou ali,<br />
269
no entanto, foi agradecer aos mentores pelo luminoso aconchego.<br />
Dali, Lídia se dispersa, dirigindo a sua atenção ao seu compromisso<br />
de busca. Os olhos da espiritualidade, em seus breves<br />
reflexos, fizeram Lídia descobrir o que procurava encontrar.<br />
Emocionou-se ao vê-la: Uma mulher maltrapilha que vagava<br />
inerte, cuja pobreza se esvaia em seu semblante, a encostar-se no<br />
canto de uma rua. Uma mulher ferida na alma e problemática,<br />
com olhos que não refletiam mais as perspectivas que a vida<br />
poderia lhe ofertar.<br />
Uma senhora jovem, cujo destino rasgava-lhe as entranhas...<br />
Quem sabe, talvez a sua alma, ocasionada pelo ensejo de vidas<br />
anteriores... Quem sabe. Os seus cabelos longos... O seu cansaço<br />
fatigante, por já não mais suportar o peso de seu ventre nem<br />
os dissabores ganhos nessa vida, tão amargurada vida!<br />
A toda essa cena, meticulosamente Lídia observava, até<br />
que, em sua aproximação, percebe que sentiu fome, porém não<br />
se sentiu desamparada. Estranho, pela primeira vez após a sua<br />
ascensão espiritual, depois de seu desencarne, ela sentiu fome!<br />
Além do que, juntinha daquela mulher o que Lídia queria e<br />
necessitava era de proteção. Muito estranho.<br />
Após alguns minutos em que volitara, Lídia sente por<br />
extinto que estava à frente de sua mãe, por um instinto familiar.<br />
Ela percebera que chegava a hora de sua volta ao plano físico.<br />
Ela iria reencarnar. Muito triste por ter de deixar seus amigos do<br />
plano astral mas feliz por ter a oportunidade de reencarnar para<br />
resgatar suas dívidas do passado, e também porque estava à serviço<br />
da Espiritualidade, em especial daquele espírito que viu plasmado,<br />
ela se sentia agasalhada, apesar de que o seu compromisso<br />
se fazia, e não poderia mais deixar aquela mulher a sós, deveria<br />
cuidá-la para que não sofresse as perseguições dos espíritos<br />
maledicentes e renunciasse àquela gestação.<br />
– Não! Isso não. Afinal, sou uma guerreira. – afirma<br />
Lidia. – Camila não irá renunciar, e é para isso estou aqui. Lou-<br />
270
vado seja o Pai Celestial, eis a minha mãezinha! A partir de agora<br />
permaneceremos juntas, aconteça o que acontecer. Teremos um<br />
grande período juntas.<br />
Anoitecia. Aquela mulher com fome não se dava conta<br />
de nada. Calada, encostou-se nas paredes de uma construção<br />
que a protegia dos ventos do sul. Uma brisa suave tocava os seus<br />
lindos cabelos e a magnífica Lua deixava marcada, nas paredes<br />
em ruína, o belo semblante de Camila. Aquela mulher a quem<br />
Lídia buscava, era Camila. Entre ela e o bebê, uma magia estonteava<br />
Lídia. Ao ver Camila tocar seu ventre com uma de suas<br />
mãos, Lídia fechou os olhos para sentir-se acariciada, mesmo<br />
ainda estando ao seu lado. Era o amor, infinito amor entre duas<br />
energias emanadas por Deus: Mãe e filha.<br />
Nesse momento, aconteceu uma explosão naquele jovem<br />
espírito... Lídia não estava e nem se sentia mais só. Por vezes<br />
seguidas, sem que sua futura mãe percebesse, em noites frias e<br />
chuvosas, Lídia encontrava e induzia Camila sempre a uma guarida,<br />
para que sua futura mamãe ficasse protegida.<br />
Passam-se três dias apenas quando se surpreende, logo<br />
pela manhã, com uma senhora que, ao passar por elas, com um<br />
branco nos cabelos denunciava a sua idade de anciã, piedosamente<br />
pergunta:<br />
– Filha, você com certeza precisa de ajuda. Deseja alguma<br />
coisa? O que posso fazer por você?<br />
– Tenho fome...<br />
– O que faz sentada neste chão úmido e frio? Você não<br />
tem casa? Nem família?<br />
– Não. Eu tenho muita fome e frio...<br />
– Você está com uma gestação já muito avançada. Venha,<br />
deixe-me ajudar-lhe, Levante-se!<br />
As forças da jovem estavam aniquiladas; arrastava os pés no<br />
chão para seguir a senhora que lhe prometera um pouco de alimento.<br />
271
– Olhe, filha, a minha casa é simples mas sempre cabe<br />
mais um Sente-se aqui nesta cadeira que vou lhe preparar algo<br />
para comer, e também vou preparar um bom banho para você.<br />
Prontamente a senhora volta com uma variedade de alimentos<br />
para Camila que, vagarosamente, passa a se alimentar.<br />
Após um copo com refrigerante, Camila se levanta da cadeira e<br />
aproxima-se da boa senhora.<br />
– Deus a abençoe senhora. Agora eu tenho que ir.<br />
– Diz-me filha, onde é que você mora? Veja os seus pés,<br />
estão inchados e você está rastejando. Se você quiser, darei um<br />
jeito de levá-la até a sua casa.<br />
Camila, calada, saiu em direção à rua e vagarosamente,<br />
acompanhada pelos olhos piedosos daquela senhora, cabisbaixa<br />
se despediu, até completar o final do horizonte demarcado por<br />
aquela rua.<br />
– Pobre menina, tão jovem e jogada pelas ruas para cumprir<br />
o seu destino.<br />
Certamente que haveria uma resposta. Quem sabe a felicidade<br />
de Camila não estaria depois de todo esse sofrimento?<br />
Esse é um mistério que o ser humano não conseguia decifrar<br />
ainda. Lídia por sua vez se comovia ao lado de sua mãe. Porém,<br />
uma aragem acariciou-lhe, saindo dali uma voz oculta que sussurrou<br />
em seu ouvido.<br />
– Eis tua mãe, e aí está você. Na verdade, o espírito que<br />
era para estar aí, onde você se encontra, seria aquele que por<br />
várias vezes tentou reencarnar como filho desta mulher, para<br />
que ambos se completassem em seus resgates cármicos. Mas não<br />
é possível por enquanto que ele renasça, pois, com as tragédias<br />
pelas quais passou em consequência dos abortos provocados por<br />
Camila, ele se encontra deformado e quase destruído em seu<br />
estado psíquico, por isso foi solicitado a você que reencarnasse<br />
como filha de Camila, já que tens afinidade com ela de vidas<br />
passadas. Faça com ela um lindo elo e prepare-se para o seu<br />
272
egresso ao plano físico. Logo terá um irmãozinho para lhe fazer<br />
companhia em sua vida terrena<br />
Feliz, Lídia, em meio às lágrimas ora chorava, ora sorria,<br />
por certificar-se que realmente seria aquela a sua futura mamãe.<br />
Ela se unira àquela mulher e dali em diante lutaria contra as<br />
tiranias do sobrenatural. Juntas prosseguiriam com seus compromissos<br />
para poder resgatar saldos anteriores. Essa seria a vitória<br />
de Lídia.<br />
Os momentos de alegria foram breves, por causa das coisas estranhas<br />
que às vezes Camila fazia. Da forma que se encontrava,<br />
afastada do mundo, por causa do grande abalo pelo qual havia<br />
passado com a morte de seu companheiro Josué, a fome e o frio<br />
também as assolava.<br />
Camila balbuciava algumas palavras ao levar as mãos ao<br />
ventre.<br />
– Meu bebê... – e chorava... Ambas choravam.<br />
Seguem-se os dias. Enquanto o bebê crescia naquele<br />
humilde ventre, o espírito daquele bebê, ou seja, Lídia, também<br />
crescia em evolução, até que finalmente completa-se o ciclo do<br />
milagre da vida, pois Camila já havia chegado ao nono mês de<br />
gravidez.<br />
– Já estamos preparadas pra nossa união e para receber a<br />
nossa missão, minha mãe. Sinto-me um tanto desligada do passado<br />
e da minha vida espiritual, porque percebo que outra esfera<br />
ou domínio renasce em mim. Deus permita que vençamos esse<br />
trajeto, e que não tenhamos medo algum do que poder vir a<br />
acontecer conosco.<br />
Alguns dias depois, logo ao entardecer o tempo se fechara<br />
para uma tempestade. Lídia pressentira algo ruim, pois<br />
aquele tempo lhe perturbava. Por quê? Devia haver algo que<br />
pudesse servir-lhe como explicação. O tempo se fechava ainda<br />
mais, foi quando Camila começou a passar mal. Dores horríveis<br />
273
surgiram em seu corpo e sua voz de clamor ressoava em seus<br />
lábios. Já muito fraca pela desnutrição e maltratada pelo tempo,<br />
mostrava sinais de derrota, sentindo que poderia perder aquela<br />
criança que estava para nascer. Em seu desespero ela clamava a<br />
Deus.<br />
– Meu Deus! Não deixe que eu perca o meu bebê, pois<br />
já aprendi a amá-lo acima de minha própria vida.<br />
Lídia também rogava a seus amigos espirituais – Meu<br />
Deus, peço-lhe ajuda! Permita que os espíritos protetores venham<br />
em nosso socorro. Por que agora, quase ao final de sua<br />
gestação, a minha futura mamãe se encontra dessa forma?<br />
Lídia sabia perfeitamente da situação emocional e física<br />
de Camila. Porém, era inadmissível que algo ruim viesse a acontecer-lhe.<br />
De repente, uma suave voz e já conhecida por Lídia<br />
veio novamente aos seus ouvidos lhe sussurrar.<br />
– Minha irmã, cuidado! Todas essas mazelas estão sendo<br />
provocadas pelos espíritos da baixa esfera, para que tu não venhas<br />
a ter a oportunidade de reencarnar.<br />
– Mas por Deus! O que devo fazer?<br />
– Consulte o seu coração, tu bem sabes da força que<br />
emana de ti, e que nós estaremos sempre juntos. Não temas...<br />
Pense na doce mãe de Jesus, pense em alguém do plano espiritual<br />
que possa lhe dar forças e também em espíritos encarnados<br />
que possam lhe ajudar. Mantendo contato com seres deste plano<br />
em que você irá renascer, se forem do bem, com certeza terá<br />
grande auxílio, porque essas pessoas poderão lhe fornecer um<br />
bom ectoplasma para revigorar tanto você, quanto a sua futura<br />
mamãe e farão parte da vida de vocês.<br />
De imediato, seu pensamento inexato chega a quem<br />
muito colaborou para tirá-la do umbral: sua mãe, e também em<br />
Anita e Oscar. Logo ela recebe uma mensagem de espíritos colaboradores<br />
que se fizeram voluntários em busca do sucesso da<br />
missão designada para Lídia. Eram Mãe Benedita e outros.<br />
274
Percebe que eles, Oscar e Anita, estavam justamente à procura<br />
de Camila, e que por capricho do destino, ou melhor, pelas leis<br />
do Universo, elas estariam juntas novamente, o que Lídia considerou<br />
um presente de Deus. Então, com muito mais vibração,<br />
ela consegue se comunicar por telepatia com sua mãe que estava<br />
bem, em sua caminhada espiritual.<br />
– E Anita, como fazer agora para que também esteja<br />
neste encontro?<br />
Irmão X e seus superiores do plano metafísico preparam<br />
o espírito de uma criança que muito trabalha no plano espiritual,<br />
cujo nome é Saulo, para fazer uma visita a Anita, instruindoa<br />
para que saia à procura de Camila, levando Oscar até uma<br />
delegacia próxima de onde estava a pobre mulher. Foi esse o<br />
meio que Lídia conseguiu para ajudar sua futura mãe, juntamente<br />
com os demais irmãos do mundo espiritual.<br />
Quando Irmão X se afasta de Lídia, nuvens escuras em<br />
formato de sombras se põem sobre ela com palavras imundas e<br />
risos sarcásticos.<br />
– Nós jamais permitiremos o seu retorno sua traidora,<br />
você já sabe disso. Afaste-se dessa mulher porque ela nos pertence.<br />
O homem dela nós já resgatamos, só falta ela. Você não fará<br />
nada para nos impedir. Nós arrancaremos neste instante o feto<br />
que se encontra no ventre dela, assim como fizemos com os<br />
outros que ela gerou.<br />
Uma legião perversa e maligna toma a frente de Camila,<br />
que grita pedindo socorro, pois suas dores já estavam muito<br />
fortes. Na rua onde se encontrava as pessoas a olhavam com<br />
indiferença dizendo: – A louca hoje está embriagada. Camila<br />
escondia sua gravidez o máximo que podia com um cobertor<br />
velho ganho de alguém que teve piedade dela, porque na verdade,<br />
os espíritos ruins passavam essa vibração para ela. Assim<br />
Camila não teria socorro e os maus espíritos lhe provocariam<br />
mais um aborto.<br />
275
– Qual nada, é a cirrose dela que vai estourar de tanto<br />
álcool ingerido. – Dizia outro curioso que por ali passava. Todos<br />
ali profanavam o sofrimento da pobre mulher, pois não<br />
sabiam realmente das más influências.<br />
Lídia, repelindo os maus espíritos dizia:<br />
– Deixem a mim e a minha futura mãe em paz.<br />
– Saia daqui sua traidora!<br />
– Vão embora todos, saiam daqui e deixe minha mãe<br />
em paz.<br />
– Nós conseguimos o melhor para arrebatar as forças<br />
dela contra nós. Ela blasfemou, pois esta ficando irritada com<br />
isso tudo. Ela mesma está afastando os espíritos de luz.<br />
– Ó, meu Deus, me perdoe! Preciso ter calma e fé!<br />
Um vento saiu de trás do corpo astral de Lídia e imediatamente<br />
desfez aquela sombra em migalhas soltas pelo ar. Eram<br />
os guardiões da noite, conhecidos por muitos como Exus, que<br />
vieram em seu auxílio a pedido de sua mãe que vivia no plano<br />
astral e que ali também se encontrava para ajudá-la.<br />
Enquanto isso, um anjo chamado Saulo se fazia presente<br />
na casa de Anita com outras crianças, espíritos brincalhões<br />
mas de muita luz. Anita, com sua percepção, sentiu que havia<br />
ali no meio da sala uma criança que soltava várias esferas de luz<br />
de todas as cores. Chama por Oscar pedindo que ele vá depressa<br />
para a sala. Assim que Oscar entra sala adentro vê nitidamente<br />
uma linda criança de olhos azuis, de uma beleza angelical e maravilhosa,<br />
brincando com outras crianças. Então, Saulo materializa<br />
no meio das esferas um retrato de uma jovem conhecida<br />
do casal. O retrato estava bastante ofuscado, mas ele pode perceber<br />
que se tratava de Camila. Assim que aquele fenômeno<br />
desapareceu, sem perda de tempo o casal sai à procura de Camila,<br />
mas sem saber onde encontrá-la. Nesse momento, a mãe de<br />
Lídia, que muito colaborou para que ela saísse do umbral, entra<br />
em ação intuindo ou fazendo com que eles vissem e fossem até<br />
276
uma delegacia, ao mesmo tempo em que consegue afastar os<br />
maus espíritos de Lídia.<br />
– Nós não podemos com você agora, mas no ato de sua<br />
reencarnação você ficará totalmente vulnerável a nós. Você verá<br />
que não é fácil assim como pensa a reencarnação, pois reencarnar<br />
é o mesmo que morrer. – Eles afirmam.<br />
– Eu sei que reencarnar é morrer, mas também sei que é<br />
um renascimento. E eu confio em Deus e nos bons companheiros<br />
espirituais, portanto, não tenho medo de vocês.<br />
Lídia volta-se para Camila, que agora parecia já ter se<br />
acalmado. Os gritos e as dores amenizaram e já não havia mais o<br />
desespero. Encostada em uma parede qualquer, ela adormece.<br />
Aquela noite estava fria e a roupa que Camila vestia era apenas<br />
um vestido fino, já muito sujo, nada mais. A não ser aquele<br />
velho cobertor que escondia sua gravidez. Ela se encolhia no<br />
canto de um muro e se cobria com o velho cobertor que alguém,<br />
por misericórdia colocara em seu corpo debilitado. A rua<br />
era pouco movimentada e ali ela se encostava para ficar sossegada.<br />
Lídia, juntinho a ela, constantemente orava louvando a Deus<br />
por todos os segundos de estada junto àquela mulher e tentava<br />
lhe dizer algo, mas ela não ouvia. Só um pouco mais tarde, lá<br />
pela madrugada, que um velho senhor, ao aproximar-se de<br />
Camila, colocou em seu corpo outro pequeno cobertor para<br />
protegê-la das intempéries que assolavam o ar numa canção triste<br />
de amor.<br />
Na manhã seguinte, Camila se mostra sem forças para a<br />
vida. O seu semblante se modificara e Lídia percebera que ela<br />
estava estranha. Camila começa a chorar e a reclamar do que<br />
estava passando.<br />
– Mas o que está acontecendo comigo? Lembro-me vagamente<br />
do que me aconteceu num passado próximo, pois ainda<br />
estou grávida. Ó meu Deus, o meu bebê! O desanimo tomou<br />
conta totalmente de mim, não tenho forças nem para me<br />
277
levantar deste lugar! Sinto dores, dores fortíssimas. Ajude-me<br />
meu Deus, não deixe que eu perca o meu bebê, pois é a única<br />
coisa que tenho nesta vida!<br />
Lídia, ao perceber que Camila estava se recordando do<br />
trauma que vivera na noite passada, fica muito feliz. O início<br />
das contrações de sua futura mamãe começa a lhe arrastar para o<br />
ventre de Camila. A dor que Camila sente já não são mais emanadas<br />
dos espíritos perversos, mas sim contrações que antecedem<br />
o nascimento de seu bebê. Nesse momento, Lídia roga a<br />
Deus.<br />
– Que tenhamos coragem, que sejamos fortes, porque é<br />
chegado o momento. Turbulências e fortes nebulosidades vedam<br />
os olhos de Lídia. Nua, molhada e inquieta, ela busca as<br />
entranhas, para se desligar do cordão. No mundo espiritual, trava-se<br />
uma grande batalha entre luzes e trevas, entre o bem e o<br />
mal, entre anjos e demônios. Do ventre de Camila jorra um<br />
caminho de luz para que livre, a pequena criança pudesse nascer.<br />
– Alguém me socorra, por favor, o meu bebê está nascendo!<br />
– Grita Camila, em busca de ajuda. Algumas senhoras<br />
curiosas se aproximam, mas ninguém ousa lhe ajudar, pois estava<br />
muito mal cheirosa e suja. Mandaram que viessem policiais<br />
para socorrê-la.<br />
– Senhor delegado, bem próximo daqui há uma mulher<br />
dando à luz.<br />
– É uma mendiga? Que fica por aqui, em volta da delegacia?<br />
Mande alguém buscá-la para levar a um hospital, não posso<br />
sair agora porque estou com uma ocorrência de uma pessoa desaparecida,<br />
e esse caso não é tão importante, é só uma moradora<br />
de rua.<br />
A ocorrência da pessoa desaparecida era justamente a<br />
pedido de Oscar e Anita, que estava com aquele delegado à procura<br />
de Camila.<br />
– Não seja por isso, nós fazemos questão de ir junto<br />
278
ajudar essa mulher. Dependendo do caso, poderemos levá-la a<br />
uma de nossas instituições. Depois continuamos a procurar<br />
Camila. – Diz Oscar ao delegado.<br />
– Já que vocês acham que devem ajudá-la... Eu acho<br />
que não vale a pena, mas se assim querem. Adotar uma mendiga...<br />
Aviso a vocês que ela é louca, mas se querem ir, então vamos<br />
até ela, mas acho que vocês não irão aguentar o mau cheiro.<br />
As dores que Camila sente se refletiam em Lídia.<br />
– Deus, fortaleça a mim e minha futura mãe para que<br />
não nos separemos!<br />
As dores ultrapassam os seus sentidos... Camila, com a<br />
sua mão direita estendida, só ouvia sussurros.<br />
– Meu Deus, pobre mulher! Não devemos colocar a mão,<br />
pois a situação dela só vai piorar. O socorro está para chegar.<br />
O vento que vinha do sul trazia consigo um clima frio,<br />
pois já era inverno. Camila ali, no canto da rua, procurava se<br />
proteger. Lídia, confusa e em meio àquela triste cena, já não<br />
pensava e nem queria mais regressar a este mundo expiatório.<br />
– O que será de mim? Como me defenderei de tantas<br />
aflições neste pequeno corpo físico?<br />
O que Lidia sentia era simplesmente o reflexo das desigualdades<br />
que há entre os homens. Contudo, existem grupos<br />
imensos de espíritos benevolentes, tanto encarnados quanto<br />
desencarnados.<br />
– Deus, ajude-me! Estou me asfixiando! Ah! Nesse<br />
momento, um grito imenso se ouviu nas Espiritualidade, e um<br />
grupo de benfeitores ali presentes ajoelhou-se diante daquela cena<br />
e bendizendo a Deus por sua bondade suprema.<br />
– Meu Deus, meu bebê está nascendo! Pensando bem,<br />
eu não posso ter esta criança nesta total miséria. – Esse<br />
pensamento de Camila era transmitido pelos espíritos de baixa<br />
frequência para que houvesse o aborto. – Mas eu já aprendi a<br />
amar esta criança, afinal, ela faz parte do verdadeiro amor entre<br />
279
mim e Josué. – Já estes pensamentos, seriam exatamente os guias,<br />
protetores ou espíritos de luz que transmitiam a Camila, para<br />
que ela não desistisse.<br />
– O que eu faço agora? Aqui sozinha, na rua. Alguém<br />
me ajude!<br />
As dores queriam tomar os seus sentidos e a vertigem já<br />
lhe tomava, deixando seus olhos ofuscados. A sua mão, porém,<br />
continuava estendida em busca de ajuda.<br />
– Pelo indicado e o tumulto de pessoas, deve ser ali<br />
mesmo que a mulher está. – Diz o delegado. Anita e Oscar se<br />
assustam quando reconhecem no semblante daquela mendiga o<br />
rosto de Camila. Oscar é o primeiro a correr a dizer.<br />
– Anita! Será que...<br />
– Sem sombra de dúvida. Aquele é o vestido que lhe<br />
dei, nós a encontramos! Veja Oscar, Camila está com a mão<br />
estendida, pedindo ajuda.<br />
Não tardou para que o carro parasse diante de Camila e<br />
Anita e Oscar fossem correndo ao seu encontro.<br />
– Minha menina! – Diz Anita. – Por que você está assim?<br />
Eu vou lhe amparar... Não tenha medo, pois somos a sua família.<br />
– Que situação! Por que isso, Camila?<br />
Ao sentir os braços singelos de sua amiga, Camila, muita<br />
fraca, sussurra algumas palavras, e todas as pessoas que ali estavam<br />
se apiedaram de suas lágrimas.<br />
Estou sendo mamãe! Isto é lindo, é uma benção! Eu<br />
não consigo vê-la direito à minha frente, mas sei que é você<br />
Anita, e o que lhe peço é que você divida o seu amor comigo,<br />
não deixando que o meu bebê caia em mãos alheias às suas. Não<br />
me sinto bem... Diga ao meu bebê que estou muito feliz por<br />
lhe dar a vida, mas sinto que não suportarei, sinto que não posso<br />
continuar.<br />
Um choro forte se ouve entre tantas vozes caladas e surge<br />
uma linda criança, uma menina que acabara de nascer. Anita<br />
280
trajava apenas um fino vestido em tom verde, e trazia em seu<br />
ombro uma blusa de tecido leve, mas ao ver a nudez da criança,<br />
de imediato tirou-a de seus ombros para envolvê-la. Camila<br />
cuidadosamente é apanhada do chão e levada à ambulância para<br />
que pudessem socorrê-la.<br />
No hospital<br />
Camila está desfalecida, o corpo gelado e inerte em meio<br />
às roupas maltrapilhas... Só um respirar frágil em um peito magro<br />
e quase sem vida. A criança estava fora de perigo e havia sido<br />
levada ao berçário para os devidos cuidados. Anita a chorar,<br />
entregando a criança a uma atendente que vinha de encontro a<br />
ela, pousa as suas mãos sobre sua amiga e a lamentar diz:<br />
– Camila, como isso pôde acontecer? Por que você não<br />
confiou em mim e em Oscar?<br />
Mas Deus, o nosso Pai, nos é bondoso e deixou que nós a<br />
encontrássemos, permitindo que os bons espíritos viessem em<br />
nosso auxílio. Obrigada, Senhor, por nos permitir encontrá-la.<br />
De repente saem dos lábios de Camila, com dificuldades,<br />
algumas segredadas palavras:<br />
– Anita, e o meu bebê?<br />
– O seu bebê é uma linda menina. Confie em nós, a sua<br />
filha é linda!<br />
– Eu não deveria ter feito o que fiz com vocês, perdoemme!<br />
Minha filha irá se chamar Thalita.<br />
– Oscar, a Camila quer que a criança se chame Thalita.<br />
Nesse momento, Camila desmaia e prontamente<br />
enfermeiros e médicos levam-na para uma grande sala para os<br />
cuidados necessários e especiais, enquanto Anita e Oscar,<br />
penalizados, permanecem na sala de espera.<br />
Alguns minutos depois, a criança é colocada no berçário<br />
para que Oscar e Anita pudessem vê-la.<br />
281
– Talvez seja pelo cansaço ou sono que estou sentindo,<br />
mas esta criança me faz lembrar de alguém. – Diz Anita a Oscar.<br />
– E quem é que ela lhe faz lembrar?<br />
– Eu não sei, mas me parece uma pessoa muito especial.<br />
Realmente eu não sei dizer, mas me é familiar. Bem, deixe para<br />
lá.<br />
– Estou admirado Anita, mesmo estando Camila nessa<br />
situação, a criança está perfeita e tem um bom peso. E o mais<br />
importante são os fatos; Como pode? Fomos à delegacia no<br />
momento exato! E encontramos a pessoa a quem tanto<br />
procurávamos. Não cai uma folha de uma arvore sem a permissão<br />
de Deus. Com certeza, aí tem as mãos de nossos amigos do<br />
Plano Espiritual.<br />
– É Oscar, essas são coisas que a gente nem imagina que<br />
venham a nos acontecer. Como dizem os bons espíritas, nada é<br />
por acaso, tudo, mas tudo mesmo tem uma razão de ser. Há<br />
quantos meses estamos à procura de Camila e só agora, justo<br />
neste momento, é que conseguimos encontrá-la. Ela tinha que<br />
passar pelo que o passou, são seus carmas. Estou feliz, mas ainda<br />
me preocupo com a situação dela, pois está bastante debilitada.<br />
Oscar e Anita passaram algumas horas de vigília no<br />
hospital. Quando perguntavam aos médicos e enfermeiros sobre<br />
a situação de Camila, eles diziam que ainda não podiam dizer<br />
com certeza a respeito do diagnóstico da moça, mas que a situação<br />
era bastante delicada, devido a uma anemia e uma forte<br />
pneumonia que lhe acometera.<br />
– Doutor, já se passaram algumas horas e o senhor não<br />
nos diz nada a respeito de Camila. – Diz Anita, aflita.<br />
– Tudo leva a crer que o caso dessa moça tem a ver com<br />
hipertensão. Vamos trabalhar e buscar acreditar em prodígios,<br />
pois a vida dela está por um fio, Por enquanto, é só o que tenho<br />
a dizer a vocês.<br />
Anita e Oscar sentem-se inertes, como se nada pudessem<br />
282
fazer e com sentimento de culpa e de perda. Ali, sozinhos, se<br />
abraçam prometendo que não desistiriam de lutar por Camila e<br />
pelo bebê, por menor que fossem as esperanças.<br />
– Estou pensando em algo. – Diz Oscar.<br />
– Será que é a mesma coisa em que estou pensando?<br />
Os dois falam juntos: – Vamos tirar Camila daqui!<br />
– Vamos levá-la para o hospital que nos é familiar, onde<br />
trabalha Dr. Osvaldo. Lá ela estará em boas mãos. – Reitera<br />
Oscar.<br />
Após transferi-la, já no hospital e após uma bateria de<br />
exames, Dr. Osvaldo diz que Camila não tem nada no coração,<br />
que Oscar e Anita podiam ficar sossegados. Quanto ao resto, ela<br />
não estava nada bem, mas que estava sob controle.<br />
– Ainda bem que ela é forte; daqui a quatro ou cinco<br />
dias, se o quadro dela não se agravar, ela terá de alta e o resto do<br />
tratamento poderá ser feito em casa. Mas seria muito bom se<br />
vocês a levassem àquele centro espírita em que me levaram. Anita.<br />
– E o Senhor Gostou de lá, doutor? – Pergunta Anita.<br />
– Gostei tanto que estou aguardando novo convite.<br />
Confesso que não conhecia tal filosofia.<br />
Já era tarde, nove horas da noite. Na sala de espera do<br />
hospital, Oscar e Anita recebem seus amigos, João Eduardo e<br />
Izabel, que foram para apascentar os seus corações..<br />
– Por que vocês não nos contaram nada, Oscar?<br />
Poderíamos estar aqui há mais tempo! E Francisco, onde está? –<br />
Pergunta Izabel.<br />
– Está com a babá, inclusive ela tem de ir embora... Vou<br />
chamá-la, um instante.<br />
– Vamos fazer uma troca? Vá descansar com Anita que<br />
eu e João Eduardo ficaremos aqui fazendo vigília.<br />
– Mas aí estaremos abusando... – Responde Anita.<br />
– Por favor, não termine essa frase porque dói! Você já<br />
esqueceu que hoje nós somos uma família?<br />
283
– Minha querida, me dê um abraço! Estou deveras<br />
preocupada com a situação de Camila. Como é bom ter você...<br />
Então está bem, nós iremos.<br />
– Vocês e meus filhos, além de João Eduardo, foram as<br />
melhores coisas que Deus me deu nesta vida.<br />
– Fiquem o tempo necessário e tenham um bom<br />
descanso. – Recomenda João Eduardo.<br />
No outro dia pela manhã, chegam ao hospital Anita,<br />
Oscar e o pequeno Francisco, para trocarem de turno com Izabel<br />
e João Eduardo.<br />
– Bom dia, meus encantos. – Dizem Anita e Oscar aos<br />
bons amigos.<br />
– Bom dia minha menina! E o nosso bebê, como está?<br />
Venha no colo de sua madrinha, que está cheia de amor pra lhe<br />
dar. Anita, você deixa Francisco ir para sua segunda casa com a<br />
madrinha?<br />
– Não só deixo como peço: “Por favor!”<br />
Todos sorriem esquecendo-se, por um instante, de<br />
Camila e do bebê, a pequena Thalita.<br />
– Alguma notícia de Camila? Anita pergunta, apreensiva,<br />
a João Eduardo.<br />
– Seu estado de saúde é regular, mas ainda não pode<br />
amamentar. Agora pela manhã uma enfermeira nos disse que<br />
seria ótimo uma mamãe que pudesse amamentar a pequena<br />
Thalita.<br />
Todos, no mesmo instante, olham para Anita, que<br />
levando as suas mãos aos seios se emociona ao responder bem<br />
baixinho, o que todos já sabiam.<br />
– Eu posso, eu posso! Ela terá também uma gotinha de<br />
meu sangue!<br />
Todos, silenciosos, a aplaudiram. O que Anita ainda não<br />
sabia era do elo espiritual que havia entre ela e aquela criança,<br />
mas que bastariam os seus gestos, fecundos de amor.<br />
284
– Mas que nome terá essa criança? – Pergunta Izabel.<br />
– Meu Deus, Oscar, nós não contamos para a Izabel.<br />
Com toda essa turbulência, não paramos ainda para lhes contar<br />
como foi e o que aconteceu.<br />
Izabel e João Eduardo ficaram surpresos com o que<br />
acontecera. Mas estavam tranquilos, apesar da situação de Camila.<br />
Após três dias em observação, a criança segue para o seu<br />
novo lar nos braços de Anita,<br />
mas Camila teve que permanecer no hospital. As visitas à<br />
Camila eram constantes, mas em nada ainda havia progredido<br />
o seu estado de saúde.<br />
O bebê no centro espírita<br />
Irmão X, por meio do médium Irmão Lázaro, pede a<br />
João Eduardo e Izabel que transmitam seu recado a Anita e Oscar.<br />
Ele pede aos dois que fossem visitá-lo, pois gostaria de conhecer<br />
Thalita.<br />
– Anita, a sua vida e a de Oscar estão sendo transformadas<br />
num romance maravilhoso.<br />
A história espiritual que há entre todos vocês dois é magnífica,<br />
porém, você, Camila e Lídia pertencem à classe de espíritos que<br />
vêm, já há algum tempo, vencendo limites para alcançarem um<br />
ponto admirável, doado por Deus. Anita, minha irmã. Procures<br />
que acharás uma resposta para as suas perguntas. Tudo está em paz<br />
com Lídia, pois agora está tudo consumado. Camila ficará bem,<br />
confie, pois não cai uma folha de laranjeira ou de uma árvore<br />
qualquer, sem que haja a permissão do Pai que está no Céu.<br />
Nas visitas de rotina que Anita fazia ao hospital para estar<br />
com Camila, num dia pela manhã, ao banhar Thalita, ela se assusta<br />
ao ver que no ombro da pequena criança surgira uma mancha<br />
estranha. Preocupada, aproveita e leva o bebê ao médico para que<br />
qualquer, sem que haja a permissão do Pai que está no Céu.<br />
285
Nas visitas de rotina que Anita fazia ao hospital para estar<br />
com Camila, num dia pela manhã, ao banhar Thalita, ela se assusta<br />
ao ver que no ombro da pequena criança surgira uma mancha<br />
estranha. Preocupada, aproveita e leva o bebê ao médico para que<br />
a mancha fosse diagnosticada.<br />
– Nós faremos os exames necessários, porém a senhora<br />
não se preocupe que isso pode ser de origem hereditária.<br />
– Mas doutro, eu nunca ouvi falar sobre isso.<br />
– Existem esses casos, senhora. Poucas pessoas sabem,<br />
mas existem.<br />
Mesmo com o médico lhe acalmando, Anita retorna<br />
para casa preocupada. Ela não se conformava por aquela mancha<br />
ter surgido no corpinho do bebê de uma hora para outra.<br />
– Não se preocupe meu amor, Thalita está bem. – Diz<br />
Oscar, tentando tranquilizá-la.<br />
Logo mais à tarde, Izabel vai até a casa de Anita para<br />
uma visita informal e a encontra preocupada.<br />
– Anita, essa mancha me faz lembrar uma folha cítrica,<br />
de laranja ou de limão. É! É uma folha cítrica!<br />
Como se de repente tivesse se espantado, Anita exclama:<br />
– Bem que falei para Oscar que este bebê não me era<br />
estranho! Mas Será?<br />
– Será o que Anita?...<br />
– Izabel, os sinais de reencarnação estão a olhos vistos,<br />
mas por pura ignorância nós não os percebemos.<br />
– Explique-me melhor, porque não estou compreendendo<br />
o que você está tentando me dizer. Estou curiosa.<br />
– Izabel, Lídia tinha em suas costas uma mancha, e ela<br />
me dizia que era como a folha de uma laranja. Inclusive eu vi e<br />
me certifiquei, por conhecer bem a folha de uma laranja. O<br />
medico me disse que esta mancha poderia ser hereditária, e o<br />
Irmão X havia me alertado que não cai uma folha de laranja ou<br />
de outra arvore sem a permissão de Deus. É uma questão de<br />
286
analisar com cuidado tudo o que foi dito pelo medico e pelo<br />
Irmão X. Vamos ver... Será mesmo?<br />
Anita reconhece que o bebê talvez pudesse até mesmo<br />
ser a reencarnação de Lídia, por que em seu corpinho havia uma<br />
mancha igual a que ela possuía e seria muita coincidência, mas o<br />
espírita verdadeiramente esclarecido não acredita em coincidência,<br />
mas sim, que nada é por acaso, e também acredita na lei de<br />
causa e efeito.<br />
– Da forma com que Irmão X se expressou, Camila,<br />
Lídia e eu temos um elo na Espiritualidade.<br />
Se for assim, estamos todos juntos minha querida, e<br />
isso é magnífico! – exclama feliz Izabel.<br />
Camila é atingida por bactérias<br />
Dois meses se passaram e Camila ainda estava internada<br />
sob cuidados médicos. Seu estado era vegetativo e estava em<br />
coma induzido. Não se movia; sua respiração vagarosa era auxiliada<br />
através de aparelhos e medicamentos. Por algumas vezes,<br />
os médicos que acompanhavam o estado da paciente acreditavam<br />
que ela não mais retornaria ao seu estado normal e que<br />
definharia até a morte. Mas em seus atos interrogativos eles persistiam,<br />
chefiados por Dr. Osvaldo, acreditando que havia algo<br />
além de suas capacidades profissionais. Camila tornou-se uma<br />
paciente muito amada por todos por saberem de todos os problemas<br />
pelos quais já havia passado. O parto em plena rua, a<br />
falta de um teto durante a gestação, fazendo com que Camila<br />
dormisse ao relento e a falta de higiene também fizeram com<br />
que seu corpo fosse invadido por bactérias nocivas à sua saúde,<br />
além dos problemas psíquicos e espirituais, pois espíritos sádicos<br />
se deliciavam com a degradação de Camila, desnorteando<br />
seu cérebro e fazendo com que ela não pudesse lutar pela vida.<br />
Mas se essa infiltração no corpo físico e psíquico se manifestava<br />
287
tão claramente nela, não haveria também grandes possibilidades<br />
de estar envolta por uma baixa esfera da espiritualidade? Anita<br />
frequentemente dizia que desejava imensamente que Camila<br />
acordasse para conhecer o seu bebê. Qual mãe não morreria feliz?<br />
Nos braços de Anita, a criança é tratada carinhosamente, da<br />
mesma forma como Francisco. Seus seios de mãe alimentavam<br />
os filhos que Deus lhe predestinara.<br />
A súplica de Josué<br />
As preces eram constantes. Uma corrente de orações era<br />
feita frequentemente entre os irmãos da casa espírita. A maioria<br />
dos membros se encontrava todas as quartas-feiras para elevarem<br />
os seus pensamentos a Deus pedindo, por misericórdia, pela<br />
saúde de Camila. Bem sabiam que não havia progresso em sua<br />
saúde, porém, fervorosos, enchiam seus corações de esperança.<br />
E foi o que aconteceu. Irmão Lázaro inicia a sessão.<br />
– A paz do Divino Mestre Jesus esteja entre nós neste<br />
início de orações. Vemos que há aqui hoje um irmão, que provavelmente<br />
está em busca de auxilio, pois se encontra perdido.<br />
É o que ele tenta demonstrar através de uma pequena sensibilidade<br />
energética e telepática. Nele há certa urgência em nos<br />
contatar. Devemos fluidificar com as nossas preces este ambiente,<br />
para que os bons mentores nos ajudem e possam trazê-lo até<br />
nós.<br />
Pedimos aos nossos mentores, ao Irmão X, à Mãe<br />
Benedita e também ao nosso Pai que está no Céu, a proteção e a<br />
luz dos Espíritos que comandam nossos trabalhos, para que tragam<br />
este espírito que suplica por nossa ajuda.<br />
Ao abrir a reunião com a Prece de Cáritas e em seguida<br />
um Pai Nosso, a oração ensinada por Jesus e uma ave Maria, em<br />
lembrança à mãe de Jesus, logo em seguida Irmã Angélica, uma<br />
das médiuns da casa espírita, é tomada em transe por um espíri-<br />
288
to que começa a gritar por socorro.<br />
– Socorro! Ajudem-me, por favor, ajudem-me! Estão<br />
querendo me pegar, estou em lugar horrível.<br />
– Mas quem és tu irmão? – Indaga Irmão X.<br />
– Eu levei vários tiros... Sinto que estou debaixo do chão,<br />
mas ao mesmo tempo sinto que estou sendo perseguido pela<br />
polícia e por um punhado de sombras escuras que estão querendo<br />
me arrastar. Um pouco mais distante de mim, uma luz muito<br />
pequena me chama para ir com eles, mas eu tenho medo. Foi<br />
esta luz que me conduziu para cá. Porque me trouxeram? Eu<br />
não devo nada, estou muito confuso, na verdade não sei o que<br />
se passa comigo. Eu não sou bandido, só fiz alguns pequenos<br />
assaltos. Já usei droga, mas não sou viciado e nem traficante.<br />
– Mas tu podes nos dizer quem és?<br />
O espírito se cala, voltando a dizer novamente: – Eu? É... Eu?<br />
Eu sou...<br />
– Esta é uma casa que socorre espíritos aflitos e perdidos<br />
que não sabem para onde ir, meu irmão. Você precisa saber que<br />
seu corpo físico está morto, ou melhor, o seu corpo está debaixo<br />
da terra e você está aqui conosco em espírito. Nos diga o seu<br />
nome, por favor, e então saberemos como lhe ajudar.<br />
– Meu corpo? Mas não é possível! Como posso estar<br />
falando com vocês se já estou morto?<br />
– Quem morreu foi seu corpo físico, mas o espírito<br />
prevalece. Olhe através do seu pensamento que poderás ver seu<br />
corpo se desfazendo debaixo da terra, mas seu espírito não morreu,<br />
ele prevaleceu após a morte física. Você atravessou a nossa<br />
porta, que estamos abrindo com amor, meu irmãozinho, desde<br />
que iniciamos os nossos trabalhos. Aproveite as boas orações<br />
para lhe ajudar a se alimentar com energias, saciar sua fome e<br />
acalentar suas dores; jogar os seus maus critérios para longe e<br />
assim estar ao lado do bem. A escolha é sua, porque tens a liberdade<br />
de fazer o que achar melhor para o seu espírito. Mas lem-<br />
289
e-se, o espírito é eterno.<br />
– Como é essa coisa do bem e do mal? Eu não entendo!<br />
– O bem é onde estão os espíritos de luz, onde residem<br />
os seus familiares, aqueles que foram corretos ou os que se arrependeram<br />
de praticar o mal. E o Mal é onde residem os seus<br />
perseguidores, os falsos amigos, aqueles que um dia lhe convenceram<br />
a usar drogas e a pegar aquilo que não lhe pertencia e<br />
outros malefícios É lá que moram os espíritos revoltados, vingativos<br />
e invejosos, que não podem sair daquele lugar enquanto<br />
não reconhecerem seus erros, e eles querem você com eles.<br />
– Eu vou dizer o meu nome, mas vou pedir, por favor,<br />
que encontrem a minha namorada. Antes de eu levar os tiros ela<br />
apanhou muito dos policiais e eu não sei se ela está deste lado ou<br />
do lado de lá, se ela está morta ou viva. Eu sinto ela me chamar,<br />
mas não consigo enxergá-la. Sinto que ela quer me dizer algo<br />
mas não consegue se desprender do seu corpo, pois eu a chamo<br />
para vir comigo e ela repete que quer vir, mas não consegue se<br />
desligar totalmente do corpo, porque nossa filha está desse lado.<br />
Ela também está confusa, sem saber se deve vir para ficar comigo<br />
ou se permanece aí para cuidar de nossa criança.<br />
De repente, aquele espírito, em transe no corpo de irmã<br />
Angélica, se põe desesperadamente a chorar e a clamar pelo filho<br />
que estava na barriga de Camila e agora não está mais.<br />
– Eu não conheci a minha filha ou meu filho na vida<br />
material, em que estive até bem pouco tempo. Eu sou o Josué,<br />
e minha namorada chama-se Camila. Ela estava grávida.<br />
Os olhos de Irmã Angélica são direcionados a Anita,<br />
que trazia no colo a pequena Thalita. Isso logo a fez perceber<br />
que aquele espírito tinha tudo a ver com Thalita e Camila.<br />
– Meu Deus, não é possível! Izabel, por tudo o que está<br />
se passando, será que Camila morreu? Enquanto estávamos aqui,<br />
há poucos instantes, será que desencarnou?<br />
– Louvado seja Deus! Tenhamos paciência, Anita.<br />
290
– Não é possível! Antes de virmos pra cá eu telefonei<br />
para o hospital e me disseram que ela estava ainda em coma, mas<br />
havia chance. A criança que ele fala, meu Deus, é a filha de Camila<br />
mesmo, Izabel.<br />
– Mesmo que seja, não vamos nos desesperar, porque não<br />
será nada bom perdermos as nossas energias e a nossa fé. Tenhamos<br />
calma, Anita, por favor, não vamos nos desesperar. Vamos<br />
rezar.<br />
Nesse momento, Irmão X se dirige a Anita.<br />
– Irmã Anita, acalme-se. Fique tranqüila, pois Camila<br />
ainda se encontra neste plano. Por ela estar em coma, seu espírito<br />
consegue se desprender com muito mais facilidade, então, a<br />
comunicação com Josué fica quase que perfeita, pois ela consegue<br />
se desprender mais facilmente do corpo, mais do que em<br />
um sonho, e se comunicar com o Plano Espiritual de acordo<br />
com o seu psíquico, ou seja, com o que ela mais deseja, que seria<br />
estar ao lado do seu amado. O que temos aqui em nosso meio é<br />
um espírito errante, mas de um bom coração. Veja que em nenhum<br />
momento ele falou de vingança ou reclamou de seus<br />
algozes, os que lhe tiraram sua vida terrena. Alguns deles, juntamente<br />
com sua legião, tentam nos ludibriar, para arrancar de<br />
nosso meio as almas que nos procuram em busca de socorro.<br />
Entre gargalhadas, um desses espíritos se comunica através<br />
de outro médium.<br />
– Vocês querem saber quem eu sou? Eu sou o vampiro<br />
da Calunga, sou relento, sou errante, sou da madrugada, sou<br />
quiumba, sou da pesada. E quem pode mais que eu e minha<br />
falange? Nós estamos aqui para levá-los e ninguém irá nos interromper.<br />
Irmão Renato tenta convencer os espíritos a se retirarem<br />
daquela casa de caridade.<br />
– Os irmãos de aura negativa estão impossibilitados de<br />
entrar neste local devido à nossa aura de proteção. Vós, irmão,<br />
291
será acorrentado e levado fora daqui. Vós ireis para o seu campo<br />
de existência no Umbral. Lá obterá conhecimento de vossa ignorância.<br />
Que sejas guiado pelos bons guardiões e mentores desta<br />
casa, os nossos queridos Exus de Lei. Assim seja.<br />
– Nós não vamos sem ele! Eu e meus companheiros<br />
queremos levá-los, eles nos pertencem e terão de ir conosco.<br />
Irmão X, mais uma vez intervém.<br />
– Veja aí à sua frente o seu quadro de existência. Vocês<br />
estão impossibilitados de impor qualquer condição, porque estão<br />
amarrados e dominados pela energia do bem e vão embora<br />
sim, pois assim será melhor para vocês.<br />
– Eu não quero ver o quadro de existência ou minha<br />
existência na Terra. É horrível ver o meu corpo apodrecendo<br />
debaixo da terra e o do meu companheiro só as cinzas, por que<br />
ele foi cremado. Por favor, não faça isso comigo, eu não quero<br />
ver... Já estamos indo embora.<br />
Um grito horrível e alucinante faz com que as pessoas ali se<br />
calem ainda mais, por estarem totalmente envoltas pela indignação<br />
em relação àqueles espíritos.<br />
– Você Está bem irmã Angélica? – Pergunta Irmão X.<br />
– Sim irmão X, com as graças de Deus e dos nossos<br />
mentores.<br />
– Que Deus lhe abençoe por sua caridade. Hoje você<br />
prestou um grande serviço para a Espiritualidade.<br />
– Amém. Coloco-me à disposição sempre que assim se<br />
fizer necessário.<br />
Depois de energizado o ambiente com orações, água,<br />
velas e ervas, percebe-se prontamente que ainda havia uma energia<br />
branda, porém urgente, e os lábios de irmão Pedro proferem<br />
algumas palavras.<br />
– Eu não sei ainda quem eu sou e nem o que estou<br />
fazendo aqui neste lugar. Vejo as coisas embaçadas, nada sei.<br />
292
Mesmo sem saber de quase nada aqui, eu estou me sentindo um<br />
pouco melhor, – Conta Josué, por meio do irmão médium.<br />
Prontamente, Irmão X inicia com ele um novo diálogo.<br />
– Mas podemos saber a causa que lhe trouxe aqui? Ou<br />
pelo menos o vosso nome irmão?<br />
– Meu nome é Josué, e o que me lembro é que um dia<br />
fiz grandes males com algumas pessoas. Só que por não saber<br />
medir as maldades fiz coisas estranhas pela minha sobrevivência<br />
e pela ansiedade de cuidar da minha namorada e do meu futuro<br />
filho, que estava na barriga de Camila. De todas elas, sei que<br />
algumas talvez não consegui corrigir, porém, neste momento há<br />
uma única coisa que me fez vir até vocês para que me ajudem.<br />
– Mas quem foi que lhe enviou aqui e o que vos, irmão,<br />
quer de nós?<br />
– Quem me trouxe até aqui foi um homem que alguns<br />
conhecem por guardião ou Exu, sei disso porque a condição foi<br />
ele me dizer quem era para depois eu topar vir com ele até aqui<br />
neste lugar. Acho que na verdade ele é um caçador de almas.<br />
Vocês não vão me ferrar, vão? – Josué, chorando, continua. –<br />
Pelo amor de Deus, eu não sei se é um pesadelo, se morri de<br />
verdade, ou se virei espírito, alma ou o que quer que seja, mas,<br />
por favor, salvem Camila. Ela está sofrendo muito por minha<br />
causa e isso não é justo, Camila não pode morrer. Eu falei para<br />
ela vir comigo, mas a perdi de vista. Sei que vocês podem ajudála,<br />
pois o guardião da noite me disse. Eu queria levá-la comigo,<br />
mas ele me falou que isso não seria possível, pois ela tem seu<br />
destino a seguir, que é cuidar e dar amor para nossa pequena<br />
filha.<br />
Irmão Renato, que também era um excelente<br />
doutrinador, recomenda:<br />
– Peço-lhe que feche os seus olhos e só os abra quando<br />
eu mandar. Peço também a todos aqui presentes que elevem,<br />
neste momento, seus pensamentos a Deus, para que a vida espi-<br />
293
itual deste irmão lhe possa ser esclarecida.<br />
As preces flutuavam nos lábios das pessoas como uma<br />
nuvem. Alguns videntes se maravilharam ao ver que Josué se<br />
suavizava e se deslumbrava com a leveza de seu corpo espiritual.<br />
Ficou-se sabendo, após a sessão, que Josué fora enviado a um<br />
lugar magnífico, e aquelas preces agiram como um transporte<br />
que conduzia aquele espírito e se transformavam em alimento<br />
para ele saciar-se, assim como o milagre das sementes que se<br />
espalham pela terra, se transformam em grãos e frutos, se multiplicam,<br />
alimentam e nutrem o corpo humano.<br />
Josué também ficou sabendo que Camila e sua filha estavam<br />
bem, e seriam esclarecidos todos os seus atos. Com o<br />
aprendizado que passaria a ter, chegaria à conclusão por si mesmo<br />
do que é certo ou errado, e como ele caminharia dali em<br />
diante em sua vida espiritual. Quanto à Camila, dali para frente<br />
os cuidados a ela seriam presenciais, pois o principal já havia<br />
sido feito. A partir daquele momento, estava livre das energias<br />
negativas e do apego carnal a Josué que queria levá-la naquele<br />
momento de total desespero.<br />
O regresso de Camila do estado de coma<br />
Constantes foram as visitas e orações feitas para Camila,<br />
mas nada havia em seu progresso material: vida vegetativa. A<br />
moça, com a face pálida mas sem a delicadeza e os traços naturais,<br />
deixava-a serena. Pela fisionomia, poderia se dizer que somente<br />
mães e anjos poderiam transparecer esse semblante.<br />
– Eu não sei Oscar, mas tenho uma impressão<br />
estranha dentro de mim.<br />
– Que impressão é essa, meu amor?<br />
– Thalita hoje amanheceu com febre. Não quer mamar,<br />
enfim, parece-me estar aborrecida.<br />
– Não se preocupe, eu vou ao hospital com você. Não<br />
294
haverá de ser nada grave com ela.<br />
– Oscar, o telefone. Atenda por favor, veja quem é.<br />
– É Izabel que quer falar-lhe.<br />
– Não sei não, Anita, estou ligando porque estou pressentindo<br />
que você precisa de mim, ou melhor, pode ser que seja<br />
eu que esteja com saudades das crianças, porque já faz três dias<br />
que não as vejo. O que você acha que é?<br />
– Eu não posso nem imaginar, mas o que posso lhe dizer<br />
é que se eu tivesse um helicóptero à minha disposição, você<br />
já estaria aqui conosco. Venham para almoçar. Depois, se quiser,<br />
podemos ir ao hospital. Após a visita que faremos a Camila<br />
poderemos esticar o nosso caminho até uma sorveteria, e logo<br />
mais à noite você chama João e eu chamo Oscar para uma pizza<br />
bem deliciosa. Depois, voltaremos exaustos e felizes para casa.<br />
O que você acha?<br />
– Eu não acho nada bom... Eu acho esplendido! Já, já<br />
estarei aí.<br />
Logo que Izabel chegou à casa de Anita, as duas tomam<br />
um delicioso café da manhã e seguiram ao hospital para visitar<br />
Camila, que ainda estava em coma. Aproveitam também para<br />
passar pelo pediatra, que tranquilizou totalmente Anita em relação<br />
à pequena Thalita. Assim que Anita foi até a outra ala do<br />
hospital, onde estava Camila, o médico de plantão recebe as<br />
ambas com um largo sorriso dizendo:<br />
– As senhoras vieram visitar a paciente Camila, não é<br />
mesmo?<br />
– Sim, – responde Anita.<br />
– E como ela está? – Pergunta Izabel.<br />
– Vocês não vão acreditar, mas aconteceu algo fantástico,<br />
parece até um milagre. Ela saiu do coma e está totalmente<br />
fora de perigo.<br />
As duas agradecem ao médico pela boa notícia e então<br />
295
ligam para Oscar e João Eduardo para lhes contar as boas novas.<br />
Oscar diz aos três:<br />
– Amanhã haverá uma reunião de trabalho no centro,<br />
sob o comando de Mãe Benedita e Irmão X. Que tal se nós<br />
formos até lá para agradecer a ajuda que tivemos com as orações<br />
e aquela desobsessão, em que Josué foi o protagonista em prol<br />
de Camila?<br />
No dia seguinte, por volta das 20 horas, lá foram os<br />
dois casais, juntamente com o pequeno Francisco e a pequena<br />
Thalita. Assim que chegaram, logo a seguir foi aberta a sessão<br />
com orações e cânticos de louvores a Deus e aos Guias, Protetores<br />
e Entidades auxiliares. Os dois casais, por já terem um relacionamento<br />
familiar com aquela casa espírita, pediram que, se<br />
fosse possível, eles gostariam de falar com Irmão X e Mãe<br />
Benedita. Os quatro ao mesmo tempo, pois a finalidade seria<br />
fazer um agradecimento e tomar um passe. O atendente lhes<br />
responde que não seria possível falar com Irmão X porque ele<br />
estava em outra frequência, com uma missão diferente, portanto,<br />
quem estava atendendo em seu lugar era irmão Y e Mãe<br />
Benedita, mas que o atendimento seria igual porque os dois<br />
eram companheiros de muitas etapas juntos com Irmão X. Assim<br />
sendo, iriam ter com eles.<br />
Junto às Entidades, eles dizem:<br />
– Vimos aqui hoje para tomarmos um passe e agradecer<br />
pela recuperação de nossa amiga Camila, pois graças às vibrações<br />
das Entidades desta casa, ela saiu do estado de coma em que se<br />
encontrava. Foi realmente um milagre.<br />
Irmão Y é o primeiro a se manifestar.<br />
– Meus queridos irmãos. É bem verdade que foi a permissão<br />
do nosso querido Pai, Deus Todo Poderoso, e de nosso<br />
querido Jesus, que os bons mentores fizeram um excelente trabalho<br />
para livrar nossa irmã daquelas vibrações que a envolviam,<br />
auxiliando os médicos a ministrar os remédios corretos e assim<br />
296
acabar com a tal infecção, que ameaçava tomar conta de todo o<br />
corpo de Camila. Por isso, agradeço aos médicos daquele hospital.<br />
A dedicação e o carinho que tiveram com aquela nossa irmã<br />
foi fundamental para sua recuperação. Para que vocês entendam,<br />
a infecção dela estava atingindo seu corpo físico e a obsessão estava<br />
atingindo diretamente todo o seu perispírito, por isso o estado<br />
de coma. Quando aqueles espíritos de baixa frequência se afastaram<br />
e ela em espírito entendeu que deveria voltar à vida terrena e<br />
deixar Josué seguir seu destino, os Espíritos de luz lhe aplicaram<br />
vários passes magnéticos e seu psiquismo voltou ao estado normal,<br />
então ela pode sair do coma. Mas repito: os médicos foram<br />
fundamentais neste caso.<br />
Izabel toma a palavra para agradecer ao Irmão Y.<br />
– Irmão, estamos muito felizes por conhecer mais um Espírito<br />
de luz e tão educado. Que nosso Deus lhe dê muito mais luz<br />
para trabalhar em prol da solidariedade e em favor de quem realmente<br />
necessita de ajuda.<br />
Após os passes, todos aguardaram o término dos trabalhos e,<br />
com ansiedade, aguardaram também a alta de Camila do hospital.<br />
Auto-hemoterapia<br />
Após aquele episódio e com Camila já em casa de Anita,<br />
aos prantos ela sentiu-se na obrigação de pedir a Oscar que tratasse<br />
dos documentos de adoção, pois ela teria que ir embora.<br />
Anita sugere a Oscar oferecer um emprego à Camila na siderúrgica.<br />
De imediato, Oscar chama Camila seguindo a sugestão<br />
de Anita, aproveitando também a oportunidade para lhe informar<br />
sobre as consequências de um aborto, tanto espiritual como<br />
também na parte física, pois o aborto danifica todos os órgãos<br />
genitais com consequências graves, como por exemplo, inflamação<br />
no útero, mioma e sucessivamente o câncer e outros males<br />
297
de ordem psíquica, como o peso da consciência em relação ao<br />
delito. No tocante ao feto, imagine a dor que ele sente por estar<br />
sendo arrancado aos pedaços do útero ou sendo dissolvido com<br />
produtos químicos. Em relação ao espírito, surgem sequelas terríveis<br />
de ordem psíquica, pois ele precisa cumprir seu tempo de<br />
expiação mas está sendo interrompido pelo aborto (um assassinato).<br />
Ele precisa resgatar as dívidas de seu passado e ajudar também<br />
a mãe a corrigir as suas dívidas ou expiações.<br />
– Vocês são de que religião? – Pergunta Camila<br />
– Somos espíritas, graças a Deus.<br />
– Eu posso ir até lá, à casa que vocês frequentam? É só<br />
por curiosidade!<br />
– Com o maior prazer, responde Anita.<br />
Com isso, Camila visitou aquela boa casa de orações e<br />
passou a frequentá-la semanalmente, tornando-se uma pessoa<br />
mais equilibrada e aceitando o emprego na siderúrgica. Com o<br />
passar do tempo, Anita sugeriu a Oscar comprar o pequeno apartamento<br />
em que Camila morava, não como pagamento pela<br />
adoção, mas como gratidão. Anita passou a amar aquela doce e<br />
meiga menina como sua própria filha. E Colocou o nome de<br />
Thalita, porque Thalita é como Fênix, que ressurgiu das cinzas,<br />
e com sua sensibilidade conseguiu enxergar o lado bom de<br />
Camila. Educou a menina procurando fazer com que Camila<br />
estivesse sempre presente, fazendo parte ativa do desenvolvimento<br />
da pequena, sempre lembrando à criança que ela tinha duas<br />
“mamães”.<br />
O casal, Anita e Oscar, conseguiu enxergar com a ajuda<br />
das Entidades do pequeno centro espírita, os problemas que atingiam<br />
Camila, que eram as consequências e sequelas de uma infância<br />
mal vivida com os pais problemáticos. A mãe e o pai de<br />
Camila tinham um passado muito ruim. Eles morreram por<br />
consequência de bebidas alcoólicas, orgias e muita infidelidade<br />
de ambas as partes, alem de outras drogas que usavam, deixando<br />
298
a menina Camila à deriva em sua infância e adolescência. Camila<br />
tinha aquelas atitudes por revolta ou trauma e, inconscientemente,<br />
era uma maneira que tinha para vingar-se dos seus pais.<br />
Oscar, Anita e Mãe Benedita, muito trabalharam para<br />
ajudar Camila a entender que tudo aquilo era um resgate de sua<br />
vida passada. Camila se apaixonou por Luiz, um colega de trabalho<br />
educado e com um bom desempenho em tudo o que<br />
fazia e, após entender que seus pais também foram vítimas de<br />
espíritos vingativos, tudo fora perdoado por ela com resignação.<br />
Camila passou a orar por seus pais, sendo que a recíproca de<br />
seus bons pensamentos era visível em sua vida, pois seus pais<br />
puderam ter uma caminhada mais feliz na Espiritualidade enquanto<br />
aguardavam, com um bom aprendizado, por suas reencarnações<br />
em outra etapa a caminho da evolução. Com isso, ela<br />
se tornou exemplar, honesta e tranquila, e teve a oportunidade<br />
de ser se casar com Luiz.<br />
João Eduardo em visita ao Centro Espírita<br />
João, em consulta no centro espírita, tentadoramente<br />
faz um pedido ao Irmão X.<br />
– Gostaria de ver você, irmão X. Seria para mim uma<br />
grande prova de sua verdadeira existência, algo maravilhoso e<br />
mais concreto para mim.<br />
– Não é necessária essa prova, meu irmão.<br />
– Mas eu tenho esse grande desejo, e posso lhe afirmar<br />
que é por amor a esta bela religião, ou melhor, esta filosofia.<br />
– O que você tanto quer e está me pedindo é totalmente<br />
fora de propósito, é desnecessário, meu irmão. A maior prova<br />
é a existência de Deus. De que forma? Pense nas aves roçando o<br />
céu, nos oceanos com suas criaturas, na multiplicação dos alimentos,<br />
nos astros e planetas. Tudo em plena harmonia! Portanto,<br />
para nós, que somos auxiliares de Deus e dos Espíritos<br />
299
mais elevados, seria pura vaidade, e vaidade nós procuramos eliminar<br />
do nosso vocabulário.<br />
João continua insistindo.<br />
– Eu necessito disso... Já ouvi falar em materializações;<br />
você pode materializar-se se quiser, não pode?<br />
Nós consideramos isso desnecessário e inconsequente.<br />
No seu caso, nós não vemos necessidade. Só utilizamos a<br />
materialização em casos excepcionais.<br />
– Como vocês não têm permissão? Se há tantos casos<br />
comprovados de materializações!<br />
– Enfatizo que no seu caso nós não temos permissão,<br />
porque não vemos essa necessidade.<br />
– Nem sei se realmente estou curado, nem sei se eu estava<br />
mesmo doente.<br />
– O importante é que você não sente nenhum tipo de<br />
dor. Seus rins, assim como os outros órgãos estão perfeitos. Você<br />
já não está angustiado, não chora com frequência e sua vida está<br />
normal com sua família. Continue contrito a Deus e seus auxiliares.<br />
Mas eu não sei da sua existência, não sei como você é.<br />
Eu posso estar aqui apenas conversando com esta pessoa, a quem<br />
chamamos de Lázaro, e a quem fui apresentado há algum tempo<br />
no começo destas seções, por isso, o meu psíquico é que<br />
poderia estar doente.<br />
– Exatamente, você está certo. Era a sua consciência que<br />
arrastava os seus algozes para lhe prejudicar. E quanto a mim,<br />
Irmão X, estar aqui ou não, não faz diferença. Eu não tomei o<br />
corpo do médium, porque o corpo do médium já tem dono,<br />
ou melhor, nele já habita um espírito. Na verdade, estou a uma<br />
certa distância transmitindo a ele, pela técnica da telepatia, o<br />
que se faz necessário falar. Por meio deste médium, que gentilmente<br />
nos empresta o corpo para você nos ouvir, nós nos aproximamos<br />
e transmitimos, de forma telepática, nossos pensamen-<br />
300
tos e orientações, palavras de amor, caridade e solidariedade. É<br />
verdade que eu poderia me materializar e dar uma prova para<br />
você da minha existência, mas repito que é totalmente desnecessário<br />
e não está no projeto dos nossos superiores.<br />
– Então continuarei na dúvida... Eu preciso tanto ter<br />
certeza da sua existência e dos demais espíritos! E posso lhe afirmar<br />
que este pedido é por amor, pois pretendo ser um bom<br />
espírita, e para isso tenho que ter total convicção.<br />
Se eu lhe desse essa prova, seria injusto, porque não podemos<br />
fazer o mesmo com todos que nos pedem, e por isso eu<br />
iria regredir na minha caminhada espiritual.<br />
Está bem, mas no meu íntimo não vou ficar tranquilo.<br />
Sinto-me um pouco perturbado, não tenho certeza deste mundo<br />
após a vida terrena. Tudo que eu aprendi na faculdade nada<br />
se relaciona com seu mundo, por isso me sinto à deriva.<br />
– Faça muitas orações e peça ao Pai que está no Céu.<br />
Você verá que não há necessidade deste processo. Fique na paz;<br />
vá com Deus e até outro dia. Agora, preciso ir.<br />
Em outra sessão<br />
Alguns dias depois, João de volta à casa de Lázaro, o<br />
médium.<br />
– Meu bom irmão Lázaro, gostaria de falar com a Entidade<br />
Irmão X. Preciso muito conversar com ele, por favor.<br />
– Hoje não será possível, pois ele está se reabilitando da<br />
sessão anterior. Você gostaria de falar com a Entidade Y?<br />
Na impossibilidade da consulta com a entidade habitual,<br />
João é atendido pelo irmão Y<br />
– O que está se passando meu amigo, o que lhe aflige? –<br />
Pergunta-lhe a entidade Y.<br />
– Você é um espírito, portanto, deveria estar sabendo<br />
do que estou precisando neste momento.<br />
301
– A nossa função não é a adivinhação, mas o auxílio aos<br />
que necessitam de orientações ou de uma palavra amiga. Sabemos<br />
o que se passa em seu coração ou em seu pensamento, mas<br />
não interferimos no seu dia a dia, porque isto não cabe a nós.<br />
– Eu não vim em busca de palavras, vim saber onde<br />
estou pisando, pois tenho mais coisas a fazer. Sou uma pessoa<br />
de bem e não posso me expor ao ridículo.<br />
Ouvindo a imponente resposta, a Entidade Y pacientemente<br />
pergunta.<br />
– A propósito, como está você? Ainda sente aquelas dores<br />
horríveis?<br />
– Não, não sinto mais aquelas dores. Mas diante de tudo,<br />
provavelmente pode ser o efeito dos remédios que tomei anteriormente.<br />
Ou talvez o meu estado psicológico, que estava horrível,<br />
ou alguma coisa que se passou pela minha cabeça, sei lá.<br />
– E a sua casa, como está? As coisas já se acertaram? –<br />
Continua a Entidade.<br />
– Isso eu não posso negar. Minha família está bem, minha<br />
filha e meu filho estão de volta à escola e minha esposa<br />
renunciou à bebida.<br />
– E você recuperou seus bens materiais? Hoje é um homem<br />
de bem, não é?<br />
– É, mas tudo isso porque não tenho mais aquelas dores<br />
horríveis. Minha família ficou mais calma e eu pude trabalhar<br />
com a cabeça melhor.<br />
– Então volte para casa e pense em Deus que sua vida<br />
continuará boa. Mas cuidado: não mexa com o que você não<br />
conhece.<br />
– E quando posso falar com a Entidade X?<br />
– Em breve, logo, logo. Agora, vá com Deus. E Repito<br />
a você: não mexa com o desconhecido, pois você poderá ter<br />
conseqüências sérias.<br />
Dizendo isso, a entidade vai embora. João fica com seus<br />
302
pensamentos, inconformado por não ter controle sobre a situação.<br />
Resolve então conversar com o médium.<br />
– Não é possível meu bom irmão, essa Entidade não<br />
entende que eu quero apenas ser generoso com eles, que só quero<br />
uma prova, apenas para ter certeza do que me fez ficar bom.<br />
Não sei se foram eles ou aquela psiquiatra, que também fez<br />
algumas sessões, ou até o Doutor Osvaldo, com toda a sua dedicação.<br />
Quero pagar quem fez este bem para mim, em dinheiro<br />
vivo. Agora eu tenho condições financeiras.<br />
– Meu amigo João, espírito não precisa de dinheiro.<br />
No Plano Espiritual tudo é feito por amor a Deus. Lá não existe<br />
nem uma moeda corrente.<br />
– E você, irmão Lázaro? Como sobrevive se não cobra<br />
nada de ninguém?<br />
– Eu tenho a minha aposentadoria. Ganho meu salário e<br />
com ele vivo com dignidade, pois não preciso de muito dinheiro<br />
para viver bem. Fazemos tudo de graça, pois Jesus disse:<br />
“Daí de graça, o que de graça recebestes”.<br />
– Diante de todas as explicações que tive, ainda não estou<br />
contente. Preciso saber e ter certeza da existência dos espíritos,<br />
e principalmente do irmão X.<br />
– Não se preocupe com isso meu amigo, se você irá<br />
pagar ou não os irmãos do Plano Espiritual ou a psiquiatra.<br />
Olhe para dentro de você, consulte seu coração. Se ele achar que<br />
foi a psiquiatra que o curou, tudo bem, a remunere da forma<br />
mais correta ou mais generosa possível. Mas se você achar que<br />
foi Deus, por intermédio do Irmão X e de outros, pague da<br />
seguinte forma: vá aos hospitais, às creches e aos orfanatos, vá<br />
aonde precisam de humanidade, solidariedade e amor e doe uma<br />
palavra amiga. Se chegar à conclusão que foi tanto o psiquiatra<br />
quanto os irmãos do Plano Espiritual remunere-os. Ao psiquiatra<br />
com dinheiro, e retribua ao Irmão X apenas com fé, caridade e<br />
amor, como lhe falei há pouco, pois a caridade sem a fé é morta.<br />
303
Percebendo que o médium Lázaro não lhe ajudaria no<br />
que achava ser uma “necessidade”, João retruca.<br />
– É o seguinte, meu bom médium. Entre a dúvida e a<br />
curiosidade, estou fascinado com esse tipo de misticismo, por<br />
isso eu gostaria de ir mais longe, saber mais da Espiritualidade.<br />
– Mas nem o próprio Irmão X sabe muito da<br />
Espiritualidade. O aprendizado vem no seu tempo certo, não<br />
devemos queimar etapas. O pouco que sei, aprendi com Irmão<br />
X e Y e o que eles sabem só o tempo e as atitudes, minha, sua e<br />
deles, é que vão fazer com que se elevem ou regridam.<br />
– Por que isso? – Pergunta João.<br />
– Porque de alguma forma eles estão ligados a nós, como<br />
familiares de vidas passadas ou porque foram designados para<br />
nos proteger. É mais provável que sejam ente queridos nossos. E<br />
por estarem designados para estas missões, estão conosco sempre<br />
que necessitamos deles. Não devemos nos preocupar com<br />
provas, basta termos fé em Deus, amar ao Pai sobre todas as<br />
coisas e respeitá-los, aos Irmãos X e Y e a outros vários. O que<br />
você deseja saber são enigmas que só cabe a Deus, em sua infinita<br />
sabedoria.<br />
– Eu estudei tanto para chegar aonde cheguei, sou uma<br />
pessoa formada pela melhor faculdade deste estado e me sinto<br />
como se nada soubesse.<br />
– Não se preocupe meu amigo, saiba que um dia, quando<br />
se for desta vida, você levará o que sabe e poderá ajudar ao<br />
próximo com sua sapiência. Você só não levará bens materiais,<br />
mas o teu saber levará para a vida espiritual, com certeza. Não<br />
leve a vida muito a sério, porque você não cairá dela vivo! – Diz<br />
Irmão Lázaro, em tom de brincadeira.<br />
Eu só queria conhecer melhor o Irmão X, mas já que<br />
você não pode fazer isso por mim, não sei como vou fazer, mas<br />
vou conseguir.<br />
– Não faça nada que tudo ficará bem, mas cuidado com<br />
304
o que você não o conhece. Há muito para aprender entre os dois<br />
mundos que nos envolvem.<br />
João Eduardo nem imaginava da ligação familiar que<br />
havia entre ele e Irmão X. Se soubesse, provavelmente não pediria<br />
o que pediu, pois saberia das consequências que infalivelmente<br />
viriam para eles e para qualquer outra pessoa que estivesse<br />
envolvida direta ou indiretamente. Do outro lado, Irmão X<br />
sabia de sua ligação, tanto com João, quanto com Izabel, e ficou<br />
desconcertado diante do pedido de João. Mesmo sendo ele um<br />
Espírito esclarecido e conhecendo sua ligação de vidas passadas,<br />
não tinha como negar o pedido de uma pessoa tão querida, mas<br />
as consequências viriam não por perversidade dos bons Espíritos,<br />
mas pela própria natureza ou pela leis imutáveis do Universo,<br />
que não podem ter exceções e nem ser violadas, nem uma<br />
vírgula sequer.<br />
O casamento de Camila<br />
Após o casamento de Camila com Luiz, o casal começa<br />
a fazer projetos. Um deles é ter mais um filho, e desta vez o ideal<br />
seria um menino, fruto do amor de ambos. Camila havia relatado<br />
tudo de sua vida a Luiz, para que não restasse nenhuma dúvida<br />
com o seu então amado esposo, por isso ela queria tudo às<br />
claras. Por conseguinte, Luiz também expôs todo seu passado<br />
para Camila, assim, eles começariam uma nova etapa em suas<br />
vidas sem nenhuma surpresa desagradável.<br />
– Hoje sou um homem de bem e encontrei minha alma<br />
gêmea. Não sei o que seria de minha vida sem você Camila,<br />
pois em você encontrei a mulher ideal. Mas quero que você<br />
saiba que fui um homem que errei muito em minha vida. Tive<br />
varias mulheres, fui um grande cafajeste e explorador de moças<br />
inocentes. Cada mulher que eu tinha, sempre conseguia seduzilas<br />
para intimidades sexuais e viver às custas delas. Quando elas<br />
305
engravidavam, eu não assumia. O máximo que eu fazia era<br />
incentivá-las ao maldito aborto, até mesmo por pressão de minha<br />
família, e com um casamento arranjado por eles, eu caseime.<br />
Minha ex-mulher era muito fértil e com isso eu fui pai de<br />
quatro filhos em um curto prazo de seis anos, sendo que um<br />
deles nasceu com vários problemas, era totalmente paralítico e<br />
com retardamento mental, totalmente dependente pela sua deformação<br />
física e psíquica.<br />
Chorando, Luiz continuou a sua narrativa.<br />
– Covardemente, abandonei minha ex-mulher e filhos,<br />
pois não a amava. Mas fui um covarde irresponsável por não<br />
assumi-los.<br />
– E onde estão seus filhos? – Pergunta-lhe Camila.<br />
– O meu filho mais novo, que era paralítico, morreu<br />
depois de um ano e meio de eu tê-los abandonado. Os outros<br />
foram para Belém do Pará, a terra natal de minha ex-esposa.<br />
Eles me odeiam pela minha covardia, mas hoje me tornei uma<br />
pessoa coerente e equilibrada, após conhecer o Senhor Oscar<br />
que, sabendo quem eu era, um irresponsável, muito lutou para<br />
que eu me recuperasse, orientando-me e dando-me a oportunidade<br />
de um emprego. Com muitos conselhos, ele me convenceu<br />
a fazer um curso profissionalizante em uma de suas ONGs.<br />
Depois que fiquei sabendo das ONGs e associações de que ele é<br />
provedor com outros empresários, comecei a me interessar pelo<br />
assunto e me tornei um voluntario, trabalhando uma vez por<br />
semana para ajudar ao próximo. Com isso fiquei conhecendo o<br />
centro espírita do qual ele, sua esposa e mais um grupo de amigos<br />
são assíduos freqüentadores. Lá eu aprendi a discernir o certo<br />
do errado, e aprendi também que eu tenho direitos e deveres,<br />
e que o meu semelhante também tem. Com isso estou aprendendo<br />
a ser coerente comigo mesmo e a respeitar as pessoas como<br />
meus irmãos, a não fazer para o outro aquilo que não é bom<br />
para você. Por isso devo muito a Deus, aos bons Espíritos e<br />
306
àquele casal maravilhoso, o Senhor Oscar e a Dona Anita.<br />
Realmente, Luiz e Camila eram semelhantes em seus<br />
desacertos nas vidas física e espiritual.<br />
– Luiz, você nunca mais teve notícias de seus filhos?<br />
– Sim, tive. Há algum tempo, aconselhado por Senhor<br />
Oscar e sua esposa, enviei uma carta para eles me redimindo e<br />
pedindo perdão, dizendo que estava disposto a de alguma forma<br />
tentar corrigir a minha covardia, mas eles me mandaram a<br />
resposta da tal carta que mandei em pouquíssimas linhas.<br />
“Por favor, não nos procure mais. Já superamos o pior das<br />
nossas crises e não queremos saber como você está, não nos interessa<br />
a sua vida. Portanto, siga o seu caminho e esqueça que nós existimos<br />
um dia. Nos deixe em paz.”<br />
– Logo em seguida, fiquei sabendo que a minha ex-esposa<br />
havia morrido, vítima de um acidente em um rio. Quem me contou<br />
de sua morte foi um parente dela que encontrei por acaso. Ele<br />
me contou que ela escorregou e bateu a cabeça em uma grande<br />
pedra, vindo a falecer e dando passagem para o mundo espiritual.<br />
– Mas eu acho que você deveria insistir em vê-los, afinal,<br />
são seus filhos.<br />
– Eu não os odeio pelo que me disseram na carta, afinal,<br />
eu é que fui totalmente errado. Mas fui orientado pelos bons<br />
espíritos a orar muito por eles para abrandar seus corações e entregar<br />
nas mãos de Deus, pois assim um dia tudo se acertará. O<br />
mais importante, segundo o que dizem as Entidades, é que eles<br />
estão parcialmente bem, e com orações em favor deles, um dia<br />
tudo poderá ser resolvido da melhor maneira possível. Aprendi<br />
também que tudo deve acontecer a seu tempo.<br />
307
João faz nova investida para que<br />
Irmão X apareça para ele<br />
– Como vai, meu bom amigo? – Pergunta Irmão X.<br />
– Está tudo bem, estou tentando seguir as orientações<br />
de seu médium e estou me sentindo bem. Mas não me conformo<br />
com tudo de bom que tem acontecido em minha vida. Eu<br />
amo a Espiritualidade, acredito em vocês, mas gostaria de alguma<br />
coisa mais palpável. Será que não tenho direito a uma prova,<br />
a algo mais concreto? Existe a materialização de espíritos, mas<br />
vocês me dizem que no meu caso não há necessidade.<br />
– Deus já lhe deu esta prova meu bom irmão, pois você<br />
e sua família estão restaurados dos danos que foram cometidos<br />
em sua vida.<br />
– E eu adoro a Deus, não sou mais um revoltado. Aprendi<br />
aqui a amar a vocês e agora ao Irmão Y, mas não posso me<br />
conformar com esta sua atitude. Eu sei que você, Irmão X, há<br />
de me dar uma luz em relação à materialização. Eu preciso disso.<br />
– Torno a repetir, meu bom irmão, se eu assim o fizer,<br />
terei de regredir e você arcará com as consequências. Regredirei<br />
um tempo curto; neste caso, seria como descer um único degrau<br />
de escada. Não sei bem o que aconteceria comigo, mas sei<br />
que teria uma queda, para depois eu me regenerar.<br />
– Mas em nossas conversas você me disse que Deus não<br />
castiga ninguém. Como nós podemos sofrer as consequências?<br />
– Essas consequências são da própria Lei do Universo,<br />
somos eu e você que determinamos o que temos de resgatar,<br />
pelas nossas atitudes. A reencarnação, para o Espírito é uma passagem,<br />
como a morte para vocês encarnados. Morrer é renascer,<br />
passar de uma vida para outra, assim como a vegetação. As árvores<br />
nascem, crescem, geram sementes, as sementes caem na terra.<br />
A árvore morre e a semente renasce. Assim como vocês sen-<br />
308
tem quando morre alguém querido, nós também sentimos quando<br />
um Espírito que nós amamos deve reencarnar. Seria como<br />
ter de morrer.<br />
Irmão X tenta, de uma maneira discreta, mostrar para<br />
João o tipo de consequência que ele poderá sofrer. Mas João<br />
continua irredutível.<br />
– Eu já cometi tantos erros, que em troca dessa prova<br />
não hesitaria em resgatar um pouco mais.<br />
– É bom que você saiba que haverá consequências para<br />
mim e para você,– responde irmão X. Para que você entenda, eu<br />
regredirei mais ou menos 5 anos da Terra. Meu bom amigo,<br />
quanto menos nós errarmos, menos teremos a resgatar. Você<br />
ama a sua vida material, eu amo minha caminhada espiritual.<br />
– E todos os Espíritos amam sua vida espiritual?<br />
– Isso eu não posso lhe afirmar, mas parece-me que nem<br />
todos. Os que estão no plano inferior, acham que tudo não<br />
passa de um sonho ruim, um pesadelo, por isso ainda estão muito<br />
ligados à vida terrestre. Outros mais esclarecidos ainda têm o<br />
desejo dos vícios ou a vontade de ingerir bebidas, cigarros e até<br />
drogas, ou um alimento que era de sua preferência. Por isso<br />
precisamos trabalhar esses irmãos constantemente com amor,<br />
para que eles se esclareçam.<br />
– Me diga uma coisa – pergunta João. – Um desses irmãos<br />
pode nos dar essa prova?<br />
– Sim, pode, mas depende de sua sapiência, só que é um<br />
tanto quanto perigoso.<br />
– Como assim, perigoso? Por quê?<br />
– Por serem pouco esclarecidos, eles têm menos luz, por<br />
isso, tudo o que desejam fazer, fazem com as legiões, e não sabem<br />
muito bem o que é certo ou errado. Se vão fazer o bem, a<br />
caridade, eles serão cercados de Espíritos de luz. Assim, eles obtêm<br />
mais luz, mais conhecimento do bem (força), pois atraem<br />
os bons espíritos pela vibração do amor. Mas se é algo contra a<br />
309
Lei do Universo, eles passam a ser perseguidos por legiões inferiores<br />
a eles em caminhos obscuros. Esses irmãos não têm escrúpulos<br />
nem remorso, e com essas atitudes errôneas, só regridem,<br />
por isso vivem em lugares horríveis, mais parecidos com um<br />
profundo abismo escuro e mal cheiroso. A bandeira deles é a<br />
violência, a inveja, o ego, a corrupção, homicídio, covardia e o<br />
egocentrismo, que é a ganância pelo poder, os vícios e principalmente<br />
o ódio. Mas como eles também têm o livre-arbítrio,<br />
permanecerão naquele lugar até entenderem o quanto estão errados,<br />
pois o ódio e a revolta são a arma principal das legiões<br />
inferiores.<br />
– Eles saem de lá a hora que querem? E por que eles têm<br />
tanto ódio e revolta?<br />
– Veja bem meu filho, para que eles possam se libertar<br />
daquele lugar é preciso que eliminem principalmente o ódio e a<br />
vingança. Na verdade, existe algo no subconsciente que nem<br />
mesmo eles percebem.<br />
– E o que é? – Pergunta João.<br />
– É o desejo de terem uma vida espiritual melhor do<br />
que a que estão vivenciando. Esses espíritos também estão à procura<br />
de um lugar ao sol ou um lugar de luz, mas isso está escondido<br />
em seu subconsciente, e a revolta, juntamente com o ódio,<br />
estão em evidência ou à vista de qualquer um que queira enxergar.<br />
Portanto, quando algum deles chega ao nosso pequeno centro,<br />
os mesmos são recebidos com seriedade e rigor, mas com o<br />
devido respeito e carinho, pois eles não devem ser tratados como<br />
“cachorros sarnentos”, como se dizem por aí.<br />
Em algumas denominações protestantes ou mesmo em alguns<br />
centros espíritas pouco esclarecidos, eles são excomungados,<br />
maltratados e escorraçados, e levam o nome de “Exu fulano de<br />
tal” ou “Pomba-Gira tal”. Pense bem; quem precisa de remédio<br />
é o doente, quem precisa de alimento é o faminto, quem precisa<br />
do leito é quem tem sono e quem precisa de luz é exatamente o<br />
310
que está no escuro. Quem precisa de professor é o aluno, por<br />
isso eu lhe afirmo que esses dirigentes de centros, igrejas etc.,<br />
precisam aprender sobre a Espiritualidade. Seria muito bom para<br />
a humanidade se houvesse esse aprendizado.<br />
– É, estou aprendendo muito com vocês. Pensei que<br />
por ter uma boa faculdade sabia de tudo, mas vejo que não sei<br />
nada, por isso, torno a repetir: eu adoro a Deus e amo a vocês<br />
como meus irmãos, do fundo do meu coração, mas desejaria<br />
imensamente sentir a sua presença em pessoa, meu bom Irmão<br />
X. Sinto uma alegria inexplicável quando falo com você, é como<br />
se eu estivesse reencontrando um parente muito amado ou um<br />
velho amigo muito querido, não sei se você entende isso. Eu<br />
não vejo a hora das sessões desta casa chegarem para estar aqui<br />
com vocês.<br />
– No seu pensamento passa um desejo muito forte, mas<br />
eu não devo satisfazê-lo. Sei que esse desejo é por amor e também<br />
por curiosidade ou egocentrismo, mas saiba que isso pode<br />
lhe custar caro e me deixa muito triste. Mas insisto em recomendar<br />
a você, meu bom irmão, muito cuidado. Não mexa<br />
com o desconhecido. Você deve aprender a agradecer, não só a<br />
pedir. No seu plano, o plano físico, terrestre, existe uma constituição<br />
que dita regras, os direitos e deveres. No nosso plano, o<br />
plano extrafísico, existem as Leis do Universo, e também temos<br />
direitos e deveres. Direito de estar bem e dever do labor em prol<br />
do próximo, tanto encarnado quanto desencarnado. O dever da<br />
solidariedade, do amor ao próximo, sem se preocupar se o próximo<br />
é bom ou mal, se é um espírito das trevas ou da luz. Importa<br />
que se ame o próximo como nosso verdadeiro irmão.<br />
– E você Irmão X, você nos ama, ou melhor, você me<br />
ama como seu irmão?<br />
– Essa é uma armadilha muito bem colocada que você<br />
está preparando para mim, afinal, essa é a bandeira dos Espíritos<br />
em evolução ou Espíritos de luz, como chamam, mas não pos-<br />
311
so mentir. Por isso, lhe respondo que você está me preparando<br />
essa armadilha. Lógico que amo a você, afinal, como eu disse,<br />
somos todos filhos do mesmo Deus, por isso somos filhos do<br />
mesmo Pai. É como você disse: ou fomos velhos companheiros<br />
ou parentes muito apegados, mas nem eu, na condição de Espírito,<br />
posso lhe afirmar se fomos ou não parentes ou amigos,<br />
porque eu não tive a curiosidade de perguntar aos meus superiores<br />
ou porque ainda não é a hora certa para tal pergunta.<br />
– Eu sinto que já estivemos juntos há muito tempo.<br />
– Isso pode ser um fato, mas ao mesmo tempo uma<br />
armadilha, – responde irmão X.<br />
– Então, torno a repetir: eu arco com as consequências.<br />
E você saberia me responder quais seriam as consequências?<br />
– Eu até gostaria de estar junto a você, mas existem dois<br />
mundos que nos separam. Bem, esta conversa já se estendeu<br />
demais e tenho mais afazeres. Tenho que visitar algumas maternidades<br />
e hospitais; alguém está me chamando. Até breve, e que<br />
a paz de Deus esteja contigo!<br />
Mesmo tendo se passado muito tempo desde que conversara<br />
com João, o médium ainda não acreditava que o amigo<br />
não houvesse entendido o que poderia acontecer num futuro<br />
não muito distante, abandonado seus planos. Por isso, foi com<br />
muita cautela que lhe dirigiu a seguinte pergunta.<br />
– Você ficou bastante tempo com o Irmão X.<br />
– É verdade, essa Entidade é maravilhosa. Estou fascinado<br />
por ele, e o amo de todo o meu coração. É um amor<br />
inexplicável, como se ele fosse mais do que meu pai.<br />
– Você deve ter mais cautela com os Espíritos, meu bom<br />
irmão João. Às vezes, por amor também se erra.<br />
– Eu sei, já conversei com outros Espíritos, mas o Irmão<br />
X é o que mais me fascina. Há poucos dias eu o senti se<br />
materializar, mas acho que foi coisa da minha cabeça, eu estava<br />
com uma máquina fotográfica.<br />
312
Irmão Lázaro o interrompe e continua.<br />
– Você colocou contra a luz e estava sozinho. O foco da<br />
lente em contato com a luz fez com que se transformasse em<br />
nuvens e, no meio das nuvens, uma porta se abriu e você viu<br />
uma pessoa em forma de luz, mas não deu para você identificar<br />
o rosto dele. Tudo isso era muito branco, simbolizando a paz...<br />
– E como você sabe disso? Que eu me lembre, não lhe<br />
contei nada.<br />
– Pois é. Isso foi um presente para você.<br />
– Mas não estou certo disto, pode ser coisa da minha<br />
cabeça.<br />
– Bem, só você pode saber se é coisa da sua cabeça ou<br />
não, mas peça a Deus esclarecimentos.<br />
Logo depois, Irmão Lázaro fez suas orações, pedindo<br />
aos amigos espirituais proteção a todos os envolvidos, pois estava<br />
temeroso sobre o que poderia acontecer com João.<br />
Dias depois, no pequeno centro espírita<br />
Irmão Y se dirige a João Eduardo.<br />
– Estou aqui para avisar a você que nosso Irmão X vai<br />
permanecer ausente por algum tempo, para se refazer do que<br />
aqui se passou.<br />
– Como assim, Irmão Y?<br />
– É que ele não deveria aceitar suas condições, então,<br />
houve uma contaminação.<br />
Incrédulo João pergunta.<br />
– Como? Ele iria aceitar o meu pedido?<br />
– Não só iria como tentou materializar-se, e isso só não<br />
aconteceu por falta de ectoplasma, senão, seria fatal. Mas mesmo<br />
assim, houve algo estranho com sua câmera fotográfica, não<br />
houve? No conceito dele, seria para agradar o amigo e até por<br />
313
vaidade própria. Segundo a Lei do Universo, isso é um desafio<br />
que você está impondo, e ele, aceitando seu desafio, agora terá<br />
que regredir em sua caminhada espiritual alguns poucos anos.<br />
– Então, no Plano Espiritual vocês são rigorosos, a esse<br />
ponto? Aqui, para nós, seria como condenar ou deter alguém.<br />
– Só que ele não está enclausurado ou preso, e sim, num<br />
lugar que, para vocês aqui, seria como uma clínica de recuperação<br />
ou uma escola, com um novo e pequeno curso.<br />
Momentaneamente consciente do peso de sua incredulidade,<br />
João chega à conclusão de que não poderia exigir de irmão<br />
X como vinha fazendo. Esse pedido absurdo ao então caro<br />
Irmão X... João Eduardo coloca em palavras seu pensamento.<br />
– Não posso pedir isso a ele!<br />
Então, o Irmão Y lhe explica que na Lei do Universo<br />
existe algo que se chama Livre-Arbítrio, por isso, quem conduz<br />
a vida espiritual é o próprio Espírito, assim como nós aqui, no<br />
plano terrestre, conduzimos nossas próprias vidas e temos vontade<br />
própria e o direito de ir e vir. Mas no íntimo, João continuava<br />
lutando entre fazer o que sabe que é correto e a vaidade de<br />
ver realizado seu pedido. A vaidade é algo muito forte de se<br />
vencer.<br />
– Nem que me custe caro, quero ver o Irmão X com<br />
meus próprios olhos. Vocês me ensinaram que para obter a presença<br />
de espírito próximo a nós, basta entrar em sintonia.<br />
– É verdade! – Afirma irmão Y.<br />
– Eu sei que convivi com Irmão X em vidas passadas,<br />
por isso, acho que fica mais fácil a sintonia e aproximação.<br />
– A sintonia é realmente fácil, mas, a materialização,<br />
exige técnicas específicas. E eu imagino que vocês sejam velhos<br />
conhecidos sim, – responde irmão Y.<br />
314
Em casa<br />
É sempre à noite, após o jantar, que João e Izabel têm<br />
oportunidade de conversar, de poder compartilhar suas dúvidas<br />
e incertezas, os acontecimentos do dia e os planos para o dia<br />
seguinte. Em uma dessas noites, João fala a Izabel do que têm<br />
lhe ocupado os pensamentos ultimamente.<br />
– Izabel, cada sessão a que vou naquele centro, aprendo<br />
mais.<br />
– Que bom João. Se hoje estamos bem, é graças a Deus,<br />
Lázaro e sua equipe de médiuns, sem falar nos Irmãos X e Y e<br />
em Mãe Benedita e outros mentores daquela casa.<br />
– Só que isso é meio confuso...<br />
– Como meio confuso?<br />
– Nada, nada... – Diz João, preferindo ficar com suas<br />
dúvidas apenas em pensamento.<br />
– Nada como? O que se passa na sua cabeça? – Indaga<br />
Izabel.<br />
– É que eu acredito na ajuda que tivemos, mas queria ter<br />
certeza absoluta da existência dos Espíritos, principalmente do Irmão<br />
X. Às vezes me parece fantasia.<br />
– É. Eu também gostaria de ter plena certeza. Será tudo<br />
verdadeiro o que o médium diz João? Ou será que foi a vontade de<br />
resolver nossos problemas ou só uma fase ruim em nossas vidas?<br />
– Sei lá... De repente, a vontade daquele médium era<br />
tão grande em nos ajudar que acabou tudo dando certo. Eu sei<br />
que eles são muito honestos, mas será que aquilo tudo não é<br />
fantasia da cabeça deles? Às vezes eu me pergunto: Existe espírito<br />
mesmo? Afinal, eu nunca vi nada que me prove. O Espírito<br />
entra em nós? E para quem já morreu, como será? Como será<br />
tudo isso? Será tudo força da mente? Na faculdade aprendemos<br />
e cremos na ciência, e nada mais.<br />
315
– E o interessante disso tudo é que Lázaro não quer nada<br />
em troca. Ele e os outros médiuns só pregam o amor a Deus e<br />
ao próximo. – Diz João, ainda com suas dúvidas. – E nenhum<br />
deles, Izabel, nem Lázaro o médium, assim como os Irmãos X e<br />
Y, são contraditórios. Tudo que você fala para eles, eles tem uma<br />
resposta concreta, verdadeira, eu vejo firmeza nas palavras deles.<br />
É fantástico! Em um lugar tão simples como aquele, Espíritos<br />
tão sábios, e o mais importante é que o nosso irmão Lázaro é<br />
praticamente analfabeto. Estudou só dois anos na escola primária<br />
e a gente percebe que ele dá um banho de conhecimento, e só<br />
se preocupa com o bem-estar das pessoas. Lá, como você já pode<br />
observar, não se fala em dinheiro ou em bens materiais.<br />
– É, mas seria muito bom se nós pudéssemos saber mais<br />
sobre os Irmãos X e Y, apesar de ser isso só um desejo ou vaidade,<br />
seria algo que nos deixaria totalmente convictos. Você não<br />
acha João? Porque, na realidade, não sabemos bem quem realmente<br />
nos ajudou a sair daqueles problemas todos por que passamos.<br />
Eu acho que vamos conseguir realizar esse sonho. Se eles<br />
existem e conseguem até restaurar uma família, eles poderão<br />
também nos provar sua existência. Vamos batalhar que conseguiremos<br />
o nosso objetivo.<br />
– Será que não estamos pedindo demais Izabel?<br />
– Quais serão as consequências? – Pergunta Izabel.<br />
– Eles dizem que teremos consequências sim.<br />
– Você acha que seremos castigados por isso? Se eles só<br />
pregam o amor, porque não haverão de nos perdoar?<br />
– Eu tenho perguntado às pessoas que são atendidas pelo<br />
Irmão X, se as consultas têm dado bons resultados, e os depoimentos<br />
são todos otimistas.<br />
– Por falar nisso, você poderia pedir ao irmão Lázaro<br />
para ir visitar seu sobrinho, que está em coma no hospital.<br />
– Ah! Aquele lá não tem mais jeito, Izabel. Ele caiu e<br />
quebrou o crânio, está faltando até um pedacinho do osso da<br />
316
cabeça. No momento do acidente o choque foi tão violento,<br />
que ficaram algumas partículas de osso da sua cabeça no local. E<br />
o médico disse que se ele sobreviver, certamente ficará paralítico<br />
e com retardamento mental.<br />
– Coitada da sua irmã, João. Como ela fará para viver<br />
uma situação dessa?<br />
– Seria mais simples se ele logo desse passagem desta<br />
vida. Por enquanto é apenas um ser vegetativo. – Responde João,<br />
um tanto chateado, mas resignado. – É. Seja como Deus quiser.<br />
Neste momento, chega Gabriela, filha de João e Izabel.<br />
– Bom dia papai, bom dia mamãe.<br />
– Porque nesta noite você se debatia tanto minha filha?<br />
– Pergunta Izabel. –Você deveria estar com tanta sede que quase<br />
lhe acordei.<br />
– Agora que a senhora está me falando, lembrei-me que<br />
tive um sonho.<br />
– O sonho era ruim minha filha? – Diz João.<br />
– Não papai, foi um sonho bom e engraçado. O Junior<br />
teve um sonho quase igual!<br />
– Conte minha filha, como foi o sonho? – Pergunta<br />
Izabel, interessada.<br />
– No sonho a senhora estava grávida e tinha um nenê.<br />
– Pare com isso Gabi! Filho, nem pensar... – Diz João,<br />
não gostando nem um pouco da ideia.<br />
– E o Junior teve o mesmo sonho? – Pergunta a mãe.<br />
– É, foi quase igual. – Afirma Gabi.<br />
– Isso com certeza aconteceu porque vocês estiveram na<br />
casa de Anita, e lá tem dois bebês, – explica Izabel á sua filha.<br />
– É... Pode ser. – Afirma João. Com certeza é isto mesmo.<br />
Sua mãe é muito cuidadosa e está sempre em dia com seus<br />
anticoncepcionais, não é mesmo Izabel?<br />
– Com certeza, meu amor.<br />
Nesse momento, o telefone toca e João atende. Do ou-<br />
317
tro lado da linha, falava a irmã de João, Margarida.<br />
– João, é você? Quem está falando é a Margarida...<br />
– Sim Margarida, sou eu. Como esta seu filho?<br />
– Meu irmão, você sabe, somos de família católica, apostólica<br />
e romana, e sempre fomos contra esse negócio de macumba<br />
ou Espiritismo. Você sabe disso, mas estou tão desesperada!<br />
Sei que você e sua esposa frequentam um lugar desses. Já<br />
fiz todo tipo de oração, recorri a tudo que você possa imaginar,<br />
até promessas fiz. Fui à igreja protestante e só promessas. Não<br />
sei mais o que fazer, então, resolvi recorrer a você, apesar do<br />
preconceito que temos. Mas nestas horas, até o preconceito cai<br />
por terra. Peço a sua ajuda, meu irmão! Eu não queria me meter<br />
nesse negócio de Espiritismo, mas vejo que será minha ultima<br />
tentativa.<br />
– Calma Margarida, não chore. Que tipo de ajuda você<br />
quer minha irmã? Estou à sua disposição.<br />
– Fale para aquele homem, esse que você disse que conheceu<br />
nesse lugar que você freqüenta, se ele pode ir até o hospital<br />
fazer alguma coisa pelo meu filho, pois estou muito aflita.<br />
Você sabe que dinheiro não é problema.<br />
– Margarida, sei do seu sofrimento e estou propenso a<br />
compartilhar dele, mas mesmo assim, você tem que ser um<br />
pouco mais humilde minha irmã. Me perdoe lhe falar desta<br />
forma, neste momento em que você esta tão aflita.<br />
– Como assim João?<br />
– Não é ele quem tem de ir até o hospital ou nos procurar,<br />
é você quem deve ir até ele.<br />
– É verdade, você tem razão! Será que se eu for até lá ele<br />
poderá me atender?<br />
– Eu tenho certeza que sim. Ele é muito bom, humilde,<br />
extremamente solidário e tem sempre as portas abertas para todos<br />
que lhe procuram. Vamos lá à hora que você quiser.<br />
– Então vamos agora mesmo, meu irmão!<br />
318
Na casa de Irmão Lázaro<br />
Esperançosa, Margarida combina com o irmão e vão<br />
imediatamente à procura da ajuda tão esperada.<br />
– Bom dia meu bom amigo, como vai? – Diz João,<br />
cumprimentando Irmão Lázaro.<br />
– Tudo bem, graças a Deus. Esta é a sua irmã, não é?<br />
– Como sabe disso?<br />
– É que você me falou dela. Parece que o seu filho sofreu<br />
um acidente e está hospitalizado, não é isso?<br />
– É verdade, e viemos aqui lhe pedir uma palavra de<br />
consolo.<br />
– Entre minha amiga, a casa é humilde, mas o coração é<br />
grande.<br />
– Muito obrigada, como o senhor é amável.<br />
– Bem, como o senhor já sabe, eu trouxe minha irmã<br />
exatamente pelo meu sobrinho.<br />
– Vamos tomar um café, pois a pressa é inimiga da perfeição.<br />
Após alguns minutos de reflexão, o médium se dirige a<br />
João Eduardo e Margarida.<br />
– Vamos fazer uma oração e pedir ajuda ao Alto, tanto a<br />
Deus, que é nosso Pai querido, como também a Maria, Mãe de<br />
Jesus, que é mãe assim como a senhora. Vocês sabem que a Mãe<br />
de Jesus, que também é nossa mãe, esta sempre de braços abertos<br />
para nos ajudar. Vamos pensar também no filho de Maria,<br />
que só pregou o amor.<br />
– Sim, sabemos. – Respondem prontamente João e<br />
Margarida.<br />
Cansada, sob o peso da preocupação e sentindo-se incapaz<br />
diante de uma situação em que nada podia fazer, Margarida<br />
sente-se extasiada diante da tranquilidade que impera naquela<br />
humilde casa.<br />
319
– Como está casa é gostosa! Aqui a gente sente a paz.<br />
Que gostoso estar aqui... diz Margarida, dirigindo-se ao médium<br />
Irmão Lázaro.<br />
– Obrigada, minha irmã. Peço que se sinta à vontade.<br />
Alguns minutos depois, Irmão Lázaro se dirige novamente<br />
aos dois.<br />
– Já fizemos nossas preces e não tem ninguém para eu<br />
atender. Eu gostaria que vocês me levassem até o hospital onde<br />
está o menino. Podem fazer isso? Eu agradeço a gentileza.<br />
– Com toda a certeza, meu irmão! – Responde prontamente<br />
João Eduardo.<br />
Entusiasmados, cada um com suas preces no coração, os<br />
três se dirigem ao hospital.<br />
No hospital<br />
– Eles entram no prédio branco e frio. Em cada canto<br />
que se olha, pode-se ver estampado nos rostos ali presentes o<br />
que eles trazem na alma. Aqui, a dor e a esperança, ali só a dor, e<br />
assim eles atravessam corredores e portas, até chegarem à parte<br />
onde próximo está o filho de Margarida.<br />
– Clotilde, que bom encontrar vocês aqui! – Exclama<br />
com alegria João Eduardo.<br />
– Vim visitar meu sobrinho.<br />
– Meu bom irmão, esta é minha irmã Clotilde.<br />
– Muito prazer! – Diz Irmão Lázaro. – Eu acho que a<br />
senhora, com sua sensibilidade e seu bom coração, poderá nos<br />
ajudar na recuperação do seu sobrinho.<br />
– Como o senhor é otimista, ainda bem! Se depender<br />
das minhas orações, ele já está curado. O meu sobrinho, para<br />
mim, é como um filho. Bem, estamos aqui parados, daqui a<br />
pouco acaba o horário de visita e só pode entrar um de cada vez.<br />
– Onde fica a entrada? – Pergunta João.<br />
320
– Tem que seguir por aqui. Você fica de um lado do<br />
vidro e os pacientes do outro. Não pode haver contato direto<br />
para não contaminar os pacientes, pois este setor é a UTI (Unidade<br />
de Terapia Intensiva).<br />
– Bem, quem vai? – Pergunta João Eduardo.<br />
– Acho melhor ir a Margarida, pois é a mãe, tem prioridade<br />
– responde Irmão Lázaro.<br />
– Está bem. Volto logo.<br />
Na volta do quarto<br />
A visão que se tem de um hospital não é nada agradável,<br />
de uma UTI então...<br />
– Não chore minha irmã, – João consola Margarida.<br />
– Tenha fé e tudo ficará bem. – Diz Clotilde, sempre<br />
tentando espalhar a fé, mesmo sabendo da total gravidade do<br />
estado de seu sobrinho.<br />
– É porque vocês não viram como ele está. Além disso,<br />
tive uma conversa rápida com o médico. Antes não tivesse ouvido<br />
nada, nessas horas gostaria de ser surda. Ele disse que meu<br />
filho não vai andar e ficará com sequelas no cérebro.<br />
– Margarida, o médico já havia lhe falado sobre isso, –<br />
responde João. – Mantenha a calma.<br />
– Mesmo assim, eu tinha esperanças. Eu sou sua mãe e<br />
o vejo bom, mas a realidade não é essa.<br />
– Como ele se chama? Pergunta Irmão Lázaro.<br />
– Juarez! – Rapidamente responde Margarida.<br />
– Pense em Deus, não se desespere, – recomenda o<br />
médium.<br />
– Bem, eu vou lá visitar meu sobrinho.<br />
João entra e os outros aguardam ansiosos. Após alguns<br />
minutos, ele retorna nitidamente desolado.<br />
– Mas que coisa! Como um jovem igual a esse menino,<br />
321
forte, pode estar nessa situação? Vá lá Clotilde, diz João.<br />
– Eu já fui antes de vocês chegarem, responde Clotilde.<br />
Irmão Lázaro então resolve ver Juarez.<br />
– Bem, restam alguns minutos. Agora é minha vez.<br />
Assim que o médium se afasta, Clotilde pergunta.<br />
– Quem é aquele médico tão moço que pegou no braço<br />
do nosso amigo? Parece que ele está sendo conduzido para a<br />
porta errada, pois ali só entram os médicos.<br />
Sem que as pessoas se apercebam, no Plano Espiritual<br />
somos assistidos por nossos protetores. Nesse exato momento,<br />
o Irmão X se manifesta.<br />
O Irmão Y está comprando meu problema, vai tentar dar<br />
a prova que o irmão João tanto quer. Mas não será o suficiente,<br />
pois mesmo assim ele ainda ficará em dúvida. O que falta a ele,<br />
Irmão X, é fé no invisível, fé no que seus olhos não enxergam,<br />
mas que é uma realidade diante dos acontecimentos. Ele não acredita<br />
completamente naquilo que não vê. Sabe que existimos, que<br />
é verdadeiro, mas mesmo assim falta-lhe a convicção.<br />
Enquanto Irmão X ouve essa sabia resposta do Mentor, os<br />
acontecimentos em nosso plano prosseguem.<br />
– Vamos, vamos, diz João, aflito.<br />
– Vamos onde João? – Pergunta Margarida.<br />
– Vamos dar um jeito de ver de perto o que está acontecendo!<br />
Os três irmãos conseguem chegar até o vidro onde<br />
ficam as visitas e observam o médium e um médico, ainda muito<br />
moço, ao lado do jovem paciente. Como um relâmpago, o tempo<br />
passou. Acabada a visita, o jovem médico desaparece diante<br />
de seus olhos, permanecendo apenas o médium. Antes que se<br />
refizessem, um funcionário diz aos três que não podem permanecer<br />
ali, e eles saem para o pátio. Em seguida, chega Irmão<br />
Lázaro o médium e se dirige à Margarida.<br />
– Acho que errei a porta, fui parar bem onde está o seu<br />
filho.<br />
322
– O senhor estava acompanhado de um... – Clotilde<br />
não consegue terminar a frase.<br />
Irmão Lázaro percebe o embaraço de Clotilde e dos<br />
outros dois irmãos.<br />
– Não se assustem, isso é um fenômeno natural. Bem,<br />
conversei com aquele jovem medico. Disse-me ele que estão<br />
trabalhando muito neste caso, em auxílio à equipe médica que<br />
está cuidando de Juarez. Disse-me também que há chance de o<br />
menino ficar bom. Lembre-se de uma coisa dona Margarida,<br />
coração de mãe não se engana. Há pouco tempo a senhora comentou<br />
que tinha esperança e que enxergava seu filho bom, por<br />
isso, tenha fé e acredite em seu sexto sentido.<br />
– Mas quem é aquele jovem médico que estava com o<br />
senhor? Afinal, quem está cuidando do meu filho é o Dr.<br />
Roberto, e ele tirou-me toda esperança que eu tinha. Esse jovem<br />
que estava com o senhor é o único medico que eu não conheço,<br />
nunca vi ou ouvi falar dele.<br />
– Bem, isso agora não importa, o que importa é que<br />
tenhamos fé, pois assim estaremos ajudando Juarez em sua total<br />
recuperação, e ele haverá de se recuperar.<br />
Assim, os quatro voltam para casa. Mas o assunto entre<br />
todos era só sobre Juarez, o rapaz hospitalizado.<br />
No dia seguinte<br />
Na maioria das vezes, para que vibrem as boas energias,<br />
basta que algumas pessoas se reúnam com bons pensamentos.<br />
Esse é o verdadeiro milagre da vida.<br />
No dia seguinte, pela manhã, João recebe um emocionado<br />
telefonema de Margarida.<br />
– João, meu irmão! Já liguei para a Clotilde e agora<br />
também quero lhe dar a excelente notícia: meu filho saiu da<br />
UTI!<br />
323
– Como? – Pergunta João, com muita admiração.<br />
– Ele pediu comida e mexeu o dedo do pé! Isso é fantástico,<br />
pois os médicos foram bem convictos em dizer que meu<br />
filho iria ficar paraplégico e com problemas mentais.<br />
– É verdade! Mas o que você está falando? Eu não estou<br />
sonhando, não é? Que maravilha!<br />
– Pode acreditar, meu irmão!<br />
– Mas os médicos que estão tratando dele disseram que<br />
ele não tinha cura... Que bom ouvir isso! Que maravilha, Deus<br />
é bom!<br />
– Um dos médicos me disse que houve um enorme engano<br />
quanto ao diagnóstico da junta médica, e que só há essa<br />
explicação para a rápida recuperação de Juarez. Estou pensando<br />
naquele jovem médico que estava com nosso amigo Irmão<br />
Lázaro. Ele não sai do meu pensamento.<br />
- E eu também. Aquele médico que estava com Irmão Lázaro<br />
não pertence à equipe que está cuidando do seu filho.<br />
– Na verdade, nunca ouvi falar nesse médico.<br />
– É mesmo. Mas como ele conseguiu entrar lá?<br />
– Vai ver que funcionários pensaram que ele trabalhava<br />
no hospital.<br />
– É, pode ser. Ele estava vestido de branco. Bem Margarida,<br />
eu vou até sua casa agora mesmo. Precisamos conversar;<br />
diga para a Clotilde ir também.<br />
– Ela já está aqui.<br />
– Ótimo, – responde João, encerrando a conversa.<br />
324
Na casa de Margarida<br />
Reunidos, os irmãos trocam entre si opiniões a respeito<br />
dos últimos acontecimentos.<br />
– O que vocês acham de tudo o que aconteceu ontem<br />
no hospital?<br />
– Quer a minha opinião sincera? Pergunta e responde ao<br />
mesmo tempo Clotilde.<br />
– Claro! – Responde Margarida, sem nem ao menos dar<br />
tempo ao irmão.<br />
– Pois é. Aquele homem, digo, o médium, com certeza<br />
é uma pessoa excepcional que traz em suas mãos o dom da cura.<br />
É com certeza um enviado de Deus, uma pessoa maravilhosa<br />
que veio ao mundo para servir às pessoas aflitas. Vocês viram,<br />
ele não tem maldade no coração, é um verdadeiro amigo, minha<br />
irmã. E você não seja ingrata, dê uma boa recompensa para<br />
ele. –Afirma Clotilde.<br />
– Porque você está tão convicta disso?<br />
– Margarida, pense bem. Você, minha irmã, é Juíza e é<br />
uma pessoa bem informada, coerente e com uma formação acadêmica<br />
da melhor qualidade, digo, pela melhor faculdade deste<br />
Estado. Não é burra, é só analisar. Há quanto tempo seu filho<br />
está no hospital? Há quase dois meses e nunca houve progresso<br />
em seu restabelecimento. Lembra-se o que os médicos lhe falaram<br />
ontem?<br />
– Que ele não tinha mais jeito...<br />
E Clotilde continua.<br />
– Aí eu entrei, ele estava mal. Você, Margarida, também<br />
entrou e ele estava mal. Mas bastou o médium Lázaro entrar<br />
para aparecer um jovem médico, vindo do nada, pegar no braço<br />
do senhor Lázaro e ir até onde só podiam estar os pacientes e os<br />
médicos. Em seguida, o jovem médico aponta para a cabeça de<br />
Juarez como que se estivesse instruindo alguém a como aplicar<br />
325
algum tratamento em seu filho e desaparecer na nossa cara. Nós<br />
vimos! Então, o nosso modesto irmão médium comenta que<br />
falou com um médico de nome de Ylem, que nós não conhecemos.<br />
Espere, tem mais. E no dia seguinte? No dia seguinte,<br />
Margarida, seu filho Juarez sai da UTI. O que mais você quer?<br />
Maior prova do que essa? Isso tudo é real e nós pudemos comprovar,<br />
nós vimos, a olho nu.<br />
– É mesmo verdade tudo o que você acabou de dizer.<br />
Devo mesmo recompensar muito bem aquele médium.<br />
– Não faça isso. – Diz João. Você vai ofendê-lo.<br />
– Por que vou ofendê-lo? Estou até pensando em reformar<br />
aquele pequeno centro.<br />
– Ele não aceitará a reforma e muito menos o dinheiro,<br />
Isso eu posso lhe garantir, pois eu o conheço bem. Estará muito<br />
mais bem pago se você for lá e pedir uma oração de agradecimento.<br />
Aproveite e diga a ele que você visitará alguns hospitais,<br />
orfanatos e asilos. E que vai de alguma forma retribuir a graça<br />
que você e seu filho receberam, dando sua atenção àqueles que<br />
necessitarem de auxílio, de uma palavra amiga, solidariedade etc.<br />
– Vou ver. Talvez eu faça isso. Mas não acho justo, acho que<br />
ele merece uma boa quantia em dinheiro.<br />
Na casa do médium<br />
– Olá! Tem alguém em casa?<br />
– Pode entrar Dona Margarida, – responde Irmão Lázaro.<br />
– Como vai a senhora? E a Dona Clotilde? Que bom receber<br />
vocês! Trazem-me boas notícias, não é verdade?<br />
– Como sabe, meu bom irmão? – Indaga Clotilde.<br />
– Pelo semblante alegre de vocês.<br />
– Como o senhor é modesto, – diz Clotilde. – Já sabia<br />
das novidades antes de nós, não é mesmo? Pois é. Meu filho, o<br />
meu querido filho, – diz Margarida chorando, chorando de ale-<br />
326
gria, – saiu da UTI. Está em plena recuperação e os médicos<br />
disseram que é só questão de tempo. Ele ficará bem, mas não<br />
sabem explicar esse fenômeno, pois um dia antes eles não tinham<br />
a menor esperança de curá-lo. Um dia antes, eles haviam<br />
constatado que ele iria ficar em uma cadeira de rodas, inválido<br />
para o resto da vida. E agora, o único problema com o meu<br />
filho é um pequenino pedaço de osso que falta no crânio dele,<br />
talvez tenham de colocar uma prótese.<br />
– No crânio? – Indaga o médium. – Mas se é esse o<br />
problema, então está tudo resolvido. Sabem por quê?<br />
– Não, não sabemos. – Responde Clotilde, ansiosa.<br />
– Ontem eu vi o crânio de seu filho e não tem nenhuma<br />
infecção. E Dr. Ylem me disse que, não tendo infecção e sendo<br />
ele ainda jovem, o próprio organismo do menino com certeza<br />
restaurará a parte afetada. A senhora não deve deixar os médicos<br />
colocarem prótese.<br />
– Os médicos deveriam saber disso. Não entendo porque<br />
nada me disseram.<br />
Na humilde parede da casa do médium, um quadro<br />
chama a atenção das irmãs, que o olham admiradas. Percebendo<br />
o espanto das duas, Irmão Lázaro lhes pergunta.<br />
– Vocês não o conhecem?<br />
– Não, não sabemos quem é.<br />
– Este é o Irmão Y, um dos mentores da nossa casa<br />
espírita.<br />
– Mas esse aí é o médico que esteve com o senhor ontem<br />
no hospital!<br />
– É mesmo? Ele sempre comenta que trabalha com uma<br />
equipe de 2 mil Espíritos, entre médicos, enfermeiros, psicólogos<br />
e vários especialistas. Ele diz que é um simples “faxineiro”<br />
do Plano Espiritual. Mas vocês não se espantem, pois isso é<br />
muito natural para eles. Mas mesmo sendo natural, só conseguem<br />
se materializar-se em casos específicos.<br />
327
– Irmão, – diz Margarida, – nós queremos lhe agradecer,<br />
e gostaríamos de lhe recompensar.<br />
– Mas a visita de vocês já é uma recompensa. Eu estou<br />
muito feliz com vocês aqui me trazendo as boas novas.<br />
– E quanto à recompensa? – Insiste Margarida.<br />
– Minha irmã, quando nós fazemos a caridade, quando<br />
somos solidários, somos beneficiados também, pois quem nos<br />
procura nos proporciona a oportunidade de trabalharmos, e é<br />
assim que nós nos sentimos úteis, prestando serviço aos nossos<br />
semelhantes. Existe um ditado que diz. “Fazer o bem, faz bem”.<br />
– Mas isso não é tudo. –Retruca Clotilde.<br />
– Eu explico melhor. – Continua o médium. – Quando<br />
alguém bate à sua porta pedindo um prato de comida, o que<br />
você faz?<br />
– Eu o coloco para dentro e lhe dou um bom prato de<br />
comida. E, se possível, algumas roupas e procuro orientar a pessoa<br />
participando do seu problema. Bem, faço isso, mas com<br />
muita cautela.<br />
– Muito bem, isso é caridade ou solidariedade. Porém,<br />
se mais tarde você souber que suas orientações fizeram com que<br />
aquela pessoa não precisasse mais pedir, e a mesma estivesse feliz<br />
por ter superado os seus problemas, como você se sentiria?<br />
– Ah, Meu irmão! Eu me sentiria super, super bem. Posso<br />
lhe dizer porque já tive um momento como esse. – Responde<br />
Clotilde.<br />
– E nunca mais você esqueceu esse momento, não é<br />
mesmo minha boa irmã?<br />
– É verdade.<br />
– E aquela pessoa que foi pedir, lhe deixou tão feliz, tão<br />
feliz, que mesmo sem saber fez um bem enorme para a sua alma,<br />
não é mesmo? – Então ela praticou a caridade, e nós chamamos<br />
essas pessoas de “anjos da caridade”. Eu estou tão feliz, minhas irmãs,<br />
que não é necessária recompensa em dinheiro, carro, casa na<br />
328
praia ou qualquer outra coisa. Vocês querem me dar um presente,<br />
não querem?<br />
– Com certeza! – Responde Margarida.<br />
– Então me deem uma pequena lembrança. Posso<br />
escolher?<br />
– Claro que pode! – Antecipa-se Clotilde.<br />
– Eu quero uma camisa branca para meus trabalhos espirituais.<br />
– Esse foi o pedido do humilde médium.<br />
– Então, nos oriente sobre o que fazer. – Pede Margarida.<br />
– Em relação à recompensa?<br />
– Sim.<br />
– Todo benefício que recebemos do nosso querido Pai<br />
que está no Céu, por intermédio de seus auxiliares, é bom. Por<br />
isso, eu recomendo no seu caso não se apressar para dar a recompensa.<br />
Você deve se recuperar do susto que passou e descansar<br />
sua cabeça. Depois, aparecerá alguém que necessite de sua ajuda.<br />
Aí sim você irá dar sua recompensa, pagar o seu tributo.<br />
Elas agradeceram a orientação do irmão médium e saíram<br />
satisfeitas, pensando na caridade que poderiam fazer para<br />
“pagar” aquela recompensa.<br />
Em outra dimensão, no Mundo dos Espíritos<br />
Argumenta irmão X a outro mentor.<br />
– Você é um Espírito de maior elevação ou mais esclarecido<br />
espiritualmente do que eu, por isso, peço-lhe que me explique<br />
porque não posso voltar à Terra para ver meu amigo João.<br />
– Você está se recuperando bem, mas o seu campo de<br />
força espiritual precisa de mais energia.<br />
– Eu não posso deixá-lo sem a minha assistência.<br />
– No tempo certo você irá vê-lo.<br />
– E o Irmão Y, onde está? Nós somos inseparáveis, por<br />
que não posso vê-lo?<br />
329
– Tudo deve acontecer de acordo com a Lei do Universo.<br />
Neste momento, o Irmão Y está cuidando de uma pessoa da<br />
família do seu amigo João e tudo terminará bem. Como você<br />
está se sentindo aqui?<br />
– Está tudo muito bem. A pessoa de que ele esta cuidando<br />
é aquele jovem que estava na UTI?<br />
– Sim, é esse mesmo. – Responde o mentor.<br />
– Aqui é maravilhoso, mas sinto algo muito forte que<br />
me atrai para a Terra.<br />
– É que nesse exato momento alguém está em uma forte<br />
sintonia com você.<br />
– Por acaso é o irmão João?<br />
– Sim, é ele mesmo.<br />
– Mentor, por favor, me responda. Por que eu tenho<br />
tanta afinidade com o irmão João? Ele pediu uma prova concreta<br />
da minha existência e eu não tenho como negar a ele.<br />
– E você gostaria de satisfazer seu amigo, não é verdade?<br />
– Sim, é isso mesmo.<br />
– Só que tanto você, quanto ele sofrerão consequências.<br />
– Eu tenho consciência disso, mas mesmo assim, pretendo<br />
correr o risco.<br />
– Se é a sua vontade, então você será preparado para isso<br />
Irmão X.<br />
– E quais serão as consequências?<br />
– No tempo certo você saberá.<br />
Algum tempo depois, ainda<br />
no Mundo dos Espíritos<br />
Sabendo que tanto pode regredir, como também evoluir<br />
espiritualmente, naquele momento Irmão X ouve do Irmão<br />
Superior as seguintes palavras.<br />
– É necessário lhe avisar que tudo que você for fazer<br />
330
deve ser com muito cuidado, pois lhe foi dada a permissão que<br />
nos solicitou. Você conseguiu recuperar suas forças no campo<br />
espiritual, agora siga sua consciência, ou melhor, seu livre-arbítrio.<br />
E lembre-se: muito cuidado com as legiões inferiores para<br />
você não se contaminar. Peça ajuda quando precisar. Vá! Que a<br />
paz de Deus esteja contigo. Siga seu destino, siga sua vontade,<br />
pois sua vontades são seus desígnios.<br />
Enquanto isso na Terra, no pequeno centro espírita.<br />
– Irmão Lázaro, preciso falar com suas Entidades com<br />
certa urgência. – Diz João, que estava ali com sua esposa Izabel.<br />
– Eu já imaginava, por isso irei me preparar João.<br />
Logo depois, Irmão Lázaro volta.<br />
– Boa tarde, meus queridos irmãos.<br />
– Bom tarde, Irmão Y. Por onde anda o Irmão X? –<br />
Pergunta João.<br />
Como lhe disse anteriormente, ele está em plena recuperação,<br />
mas muito em breve estará conosco. Estou aqui para<br />
lhes fazer uma pergunta: você e sua esposa conseguem ficar por<br />
30 dias “na condição de vegetarianos”, sem comer carne, sem<br />
ingerir bebida alcoólica, sem cigarro, sem sexo e com seus pensamentos<br />
totalmente voltados a Deus?<br />
– Qual a finalidade dessa abstinência Irmão Y?<br />
– Vocês tanto pediram que finalmente o Irmão X lhes<br />
dará uma prova definitiva. Mas vou lhes avisar, ele conseguirá<br />
com muito sacrifício, terá de regredir para a tal prova, passando<br />
por outros caminhos, caminhos obscuros, lugares horríveis. Para<br />
isso ele teve de ficar no que vocês chamam de “clinica de repouso”,<br />
para restabelecer sua luz e ter forças para suportar o que virá<br />
pela frente. Ele terá de passar por situações muito difíceis.<br />
– Como assim? – Pergunta João.<br />
– Suponhamos que você vá participar de uma competição<br />
que requeira muito esforço físico. O que você deve que<br />
fazer?<br />
331
– Preparar-me com exercícios físicos, tomar vitaminas e<br />
repousar bastante.<br />
– É mais ou menos isso que ele teve de fazer, porque<br />
virá por outro caminho, por onde necessita de muita energia.<br />
Agora façam sua parte durante os próximos 30 dias. Assim sendo,<br />
após esse período vocês entrarão em nossa dimensão e terão<br />
a prova que tanto querem. Porém, não se esqueçam das<br />
consequências. Haverá alegria e tristeza nesse contexto.<br />
– E ele poderá nos perdoar! Pois vocês só ensinam a<br />
bondade, o amor e a resignação.<br />
– Nós temos um pouco de luz, realmente não temos<br />
ódio nem carregamos a bandeira de vingança, mas as<br />
consequências são naturais e virão da própria Lei do Universo,<br />
que é inevitável, pois como lhes foi dito anteriormente, para<br />
essas leis não há exceções, não se pode mudar nada.<br />
– Ouvindo tais palavras, João diz a si mesmo: “Ah, já<br />
entendi. As consequências virão em minha próxima encarnação,<br />
ou seja, em uma vida futura”.<br />
A Entidade responde ao pensamento de João.<br />
– É exatamente isso, – em uma vida futura tudo acontecera,<br />
mas não será a sua vida. Você só fará parte das futuras<br />
consequências.<br />
– Está bem. Até lá a gente dá um jeito.<br />
João e Izabel pensavam dessa forma não por rebeldia,<br />
mas por ignorar as normas ou a lei que rege o Universo.<br />
Em outra dimensão<br />
Irmão X começa sua peregrinação, passando por lugares<br />
habitados por espíritos em estado lamentável. Essa situação foi<br />
determinada para fazer com que ele tivesse consciência de sua<br />
vontade. Ele deve seguir seu destino e arcar com as consequências.<br />
Assim poderá balizar verdadeiramente a sua caminhada espiritu-<br />
332
al, trabalhando em prol da humanidade ou atender a um único<br />
pedido, o do seu amigo.<br />
Irmão X segue andando por entre aqueles destroços, onde<br />
parecia haver muitos restos mortais em um lamaçal movediço,<br />
um lugar sombrio e totalmente desolado. Mas não consegue<br />
deixar de dizer ao Mentor: Meu Deus, que lugar amedrontador!<br />
Ainda bem que estou acompanhado por esta legião de espíritos<br />
de luz e pelo senhor.<br />
– Você está sendo acompanhado por nós até a próxima camada,<br />
mas pior ainda está por vir. Seremos obrigados a voltar, pois lá a<br />
atmosfera é muito mais pesada.<br />
– E eu terei de seguir sozinho?<br />
– Você ainda pode voltar, basta consultar sua consciência.<br />
– No plano terrestre eu tenho um amigo e por ele terei<br />
de continuar, aconteça o que acontecer.<br />
– Mesmo sabendo que haverá consequências?<br />
– Sim, mesmo sabendo das consequências.<br />
– Se essa é sua decisão... Bem, chegamos até o nosso<br />
limite. Daqui teremos de voltar.<br />
Vá em frente que você encontrará irmãos que trabalham nas<br />
trevas para conter as camadas mais perigosas. Coragem irmão X!<br />
– E como devo chamar a esses irmãos, Mentor?<br />
– Bem, aqui eles são chamados de Guardiões, são como<br />
policiais. Lá na Terra são conhecidos por outros nomes, entre<br />
eles, um dos mais populares é Exu. Não tem perigo, esses espíritos<br />
são excelentes em seu trabalho, são realmente como bons<br />
policiais.<br />
– E como posso identificá-los?<br />
– Eles se apresentam com uma roupagem plasmada,<br />
como se estivessem vestidos com chumbo. Você também terá<br />
de usar essas vestimentas para continuar sua caminhada. Vamos<br />
materializá-la em seu corpo espiritual, para usá-la até o ponto<br />
que for necessário.<br />
333
– E para que servem essas roupas?<br />
– Para que você não receba as irradiações das legiões inferiores.<br />
Elas são muito perigosas e você pode se contaminar.<br />
Por algum tempo, que não se pode determinar qual,<br />
Irmão X seguiu sozinho por entre as densas trevas.<br />
– Nossa! Isso aqui é horrível! E eu sozinho... Onde estarão<br />
os mentores do plano inferior?<br />
Algum tempo depois...<br />
– Bom dia!<br />
– Por que bom dia?<br />
– Você está entre as trevas meu amigo, aqui é sempre<br />
noite, e apesar de você ser um espírito que veio da luz, lembrese:<br />
daqui pra frente quem comanda somos nós. Deixe que cuidemos<br />
de você. Tenha fé. A sua confiança será nossa total segurança,<br />
muito útil para nós lhe ajudarmos nessa missão. Não se<br />
descuide nunca e tenha muito cuidado, irmão.<br />
Eles passaram por várias camadas, das quais a mais suave<br />
é a dos suicidas. Depois a dos criminosos, dos hipócritas, corruptos,<br />
feiticeiros etc. Após algum tempo, o Guardião pede uma<br />
pausa, pois algo estava acontecendo com o Irmão Y e ele sentia<br />
e recebia as vibrações, chamando próximo dali, como se viessem<br />
de outra dimensão. Ele pede ao Irmão X que o aguarde<br />
com um grupo de espíritos guardiões, enquanto ele segue com<br />
o outro grupo na direção das vibrações que recebera.<br />
O guardião e seu grupo retornam com mais alguém em<br />
sua companhia.<br />
– O que você está fazendo aqui, Irmão Y? – Indaga Irmão<br />
X.<br />
– Eu não poderia deixar você vir sozinho, afinal, no<br />
mundo espiritual somos companheiros inseparáveis.<br />
– Mas este desafio é meu!<br />
– Realmente você está regredindo! Essa sua atitude chama-se<br />
egoísmo. Se você escolheu passar por este sacrifício, a única<br />
334
coisa que posso fazer, sendo eu seu companheiro, é estar ao seu<br />
lado aconteça o que acontecer. Afinal, amigo é para essas horas.<br />
Deixe que eu lhe acompanhe.<br />
– Está bem. Obrigado, meu bom companheiro. Agora<br />
sei que será mais leve meu fardo. Mas eu lhe aviso que não vai<br />
ser fácil, e também teremos consequências por causa disso.<br />
– Amigos são para todos os momentos, são para sempre.<br />
E a partir de agora, temos de aceitar os nossos próprios<br />
desígnios, ou melhor, as Leis do Universo ou causa e efeito dos<br />
nossos atos. Porque toda efeito tem sua causa.<br />
Após o diálogo entre os dois amigos, o guardião dirigese<br />
ao Irmão X.<br />
– Você tem consciência do que irá acontecer com você?<br />
– Sim, tenho. Terei de reencarnar.<br />
– No plano terrestre, o fenômeno que acontecerá com<br />
você é como se fosse a morte. Você desaparecerá do nosso convívio<br />
por uns tempos e renascerá na Terra, – diz Irmão Y pensativo.<br />
– Eu sei, esse processo chama-se reencarnação.<br />
– Bem, pela contagem da Terra vocês estão nesta peregrinação<br />
há 30 dias. Terão de ir até lá dar a prova que você Irmão X<br />
assumiu, voltar e se preparar para sua viagem, reencarnados. Lá<br />
deverá ficar com o Irmão Y pelo tempo que for determinado pela<br />
Lei do Universo. Aqui é o caminho para a Terra; não se esqueça<br />
que terá de voltar, e na volta, outros irmãos superiores lhes receberão<br />
em sua preparação definitiva para o que terá de passar.<br />
Na Terra<br />
Demonstrando certa ansiedade, João comenta com sua<br />
irmã.<br />
– Clotilde, faz 30 dias que eu e minha esposa estamos<br />
seguindo rigorosamente novos hábitos, tanto alimentares como<br />
outros. Estamos em abstinência total.<br />
335
– Não sei por que você faz tanta questão dessa prova.<br />
Você quer prova maior do que a sua cura, a cura do nosso sobrinho,<br />
a paz que reina em sua casa? Vocês estão prosperando e seu<br />
lar está restaurado!<br />
– São vários os motivos, Clotilde. Um deles é que vivo<br />
debatendo com pessoas que não acreditam na Espiritualidade, e<br />
sempre me falam que estou no caminho errado, que só lido<br />
com demônios e que o único que pode fazer as coisas é Deus, e<br />
se eu não tomar cuidado o demônio toma conta de mim e de<br />
minha casa. Mal sabem eles como esta fé ou filosofia me restaurou,<br />
me trouxe paz e vontade de viver. Hoje sou muito feliz<br />
com minha família, então eu pergunto: Por que eles fizeram<br />
tantas orações, tantas reuniões em minha casa e as coisas só pioravam?<br />
Falam em Deus, mas muito mais no “Diabo”, acreditam<br />
que o diabo tem tanto poder quanto Deus, porque, da<br />
mesma forma que eles temem a Deus, na mesma medida temem<br />
o “Diabo”. O que eu aprendi naquele centro espírita é que<br />
não devemos temer a Deus e sim amá-lo e respeitá-lo acima de<br />
qualquer coisa. Quanto ao Diabo ou demônio, este somos nós,<br />
com nossas mas ações que criamos, pois quando agimos de máfé<br />
e contra o nosso semelhante, nosso demônio sai de dentro de<br />
nós ou de nossa própria consciência e se multiplica em maldade,<br />
contrariando totalmente o que o nosso querido Jesus nos ensinou<br />
que é o amor ao próximo, sem o mal que tanto nos atinge<br />
e sem o preconceito. “Amai-vos uns aos outros assim como vos<br />
amei, seja ele de qualquer credo, raça e cor”. Com nosso Criador<br />
e os bons Espíritos, sinto-me seguro e feliz em minha casa e<br />
minha vida estava cada vez melhor. Agora estamos realmente<br />
em paz. Creio eu que temos em nós a luz e as trevas, portanto,<br />
devemos dar vazão à luz para que tenhamos cada vez menos<br />
trevas.<br />
Na casa de nosso Irmão Lázaro ele enfatiza sempre que<br />
Deus está sobre todas as coisas. – João continua a falar. – Sabe<br />
336
Clotilde, ele só prega e pratica o amor ao próximo, à caridade<br />
pura e a solidariedade, como poderia ser a casa do demônio?<br />
Deus é a luz. O demônio, com certeza são as trevas.<br />
Mas essas pessoas acham que esses irmãos maravilhosos<br />
não são auxiliares de Deus, e sim do diabo ou demônio.<br />
– Deixe-os pensar como quiserem. Diz o ditado: “Cada<br />
cabeça é seu mestre”, ou outro ditado que diz “Falem bem ou<br />
mal, mas falem de mim”.<br />
– Bem, já cheguei até aqui, agora vou em frente. Estou<br />
com vontade de ficar num lugar bem tranquilo ao lado de Izabel.<br />
– Você está bem, meu irmão? Sinto que você esta aflito.<br />
– Sim, estou bem. Estou alegre por dentro e muito feliz.<br />
Mas eu sinto que algo me atrai para um lugar isolado, longe<br />
do barulho. Vou chamar Izabel e dar uma volta. Até mais Clotilde,<br />
um beijo!<br />
– Você tem certeza que está bem? Você está bem mesmo?<br />
– Nunca estive tão bem, pode ficar tranquila. Posso não<br />
estar certo, mas o que quero do irmão X é por amor a esta fantástica<br />
religião, ou melhor, a esta fantástica filosofia. Fique<br />
tranquila minha irmã.<br />
– Bem, sendo assim eu vou para casa. Ah, o nosso sobrinho<br />
está ótimo, você viu?<br />
– É verdade, Deus é maravilhoso.<br />
A grande prova<br />
Depois de João dar várias voltas pelo centro da cidade<br />
com seu carro, ele vai até sua casa e convida sua amada esposa<br />
para também sair um pouco. Em seguida, pega uma estrada<br />
deserta e entra mato adentro e à direita numa trilha, onde observa<br />
duas pessoas estranhas, muito altas, com roupas parecendo<br />
de chumbo lhe indicando um caminho. Eles se aproximam um<br />
pouco mais.<br />
337
João para seu carro e, sai com Izabel. Quase inconscientes,<br />
continuam andando mato adentra a pé, até que observam<br />
duas luzes vindas do alto em suas direções a uma distância de<br />
cerca de 15 a 20 metros. As luzes ficam paradas no chão e se<br />
inicia o inigualável fenômeno de materialização dos Espíritos.<br />
Ele pergunta:<br />
– Quem são vocês?<br />
Do seu lado, ele observa uma senhora negra e muito<br />
velha e também em seguida um senhor muito velho e negro<br />
que lhes diz:<br />
– Esta é a prova que vocês tanto queriam. Aqueles ali<br />
são Irmãos X e Irmão Y.<br />
Ambos caem de joelho, chorando e agradecendo. Em seguida,<br />
aquela luz se transformou em dois belos jovens muito bonitos,<br />
de uma beleza espiritual inconfundível. João reconheceu que<br />
um deles, ou melhor, o Irmão Y, era o mesmo que estava vestido<br />
de médico ao lado do médium Lázaro no hospital, quando<br />
seu sobrinho estava enfermo. E eles, com os olhos fixos nos<br />
irmãos, observaram um fenômeno fantástico: os dois espíritos<br />
saem de cena dando lugar a uma criança recém-nascida, e essa<br />
mesma criança se transforma em um menino de mais ou menos<br />
5 ou 6 anos de idade, flutuando sobre o alto em forma de luz.<br />
João pergunta para o casal:<br />
– E vocês quem são? De onde vieram?<br />
– Nós somos chamados de Pretos-Velhos nos centros<br />
espíritas.<br />
– E aqueles dois que ficaram na entrada da mata, quem<br />
são? – Pergunta Izabel.<br />
– Vocês os chamam de Exus. Eles nos auxiliam trabalhando<br />
na linha que divide o bem e o mal. São como os policiais<br />
aqui no seu plano, ou melhor, aqui na Terra.<br />
João e Izabel estavam se comunicando com aqueles espíritos<br />
de forma telepática.<br />
338
A Realidade<br />
O casal de velhos continuou com suas explicações.<br />
Em verdade, os chamados Exus são espíritos elevados<br />
que abraçam esta espinhosa missão, mesmo sabendo o quanto<br />
vão ser humilhados, enxotados e excomungados até pelas pessoas<br />
que dizem entender a Espiritualidade. São missões difíceis,<br />
assim como algumas profissões aqui na Terra que vocês consideram<br />
humilhantes e difíceis de executar. Como, por exemplo,<br />
enterrar os mortos, tratar de pessoas com doenças contagiosas<br />
entre outras. Existe uma confusão tremenda em relação a estas<br />
Entidades, pois são confundidos até por alguns líderes de certas<br />
religiões e até por alguns médiuns de centros espíritas, com “Espíritos<br />
do mal, quando em verdade não são, pois, pela missão<br />
que Deus lhes deu, são eles que trazem o equilíbrio ao plano<br />
metafísico, em harmonia com o plano terrestre. Essa confusão<br />
se dá porque algumas crenças ensinam absurdos aos seus seguidores.<br />
E também porque existem alguns espíritas que vêm de<br />
outras denominações ou religiões, e continuam com essa cultura<br />
errônea em relação aos Exus, que são espíritos do bem e combatem<br />
o mal com muito rigor.<br />
– Mas se eles trabalham também nas trevas, não podem<br />
também fazer o mal? – Pergunta João Eduardo.<br />
– Não! Literalmente não! –Afirmam aqueles espíritos<br />
materializados, e complementam.<br />
– Quem faz o mal são os chamados quiumbas ou espíritos<br />
trevosos, que são vingativos invejosos ou gananciosos, que<br />
deixaram suas fortunas na Terra e acham que seus bens materiais<br />
ainda lhes pertencem. Essas pessoas que migram de outras denominações<br />
religiosas, nas quais lhes ensinavam que os Espíritos<br />
são “coisas do diabo”, e acreditam que os Exus, por serem<br />
espíritos ligados às questões mais terrenas, são demônios, por<br />
isso são os que mais sofrem preconceitos. Mas no próprio livro<br />
339
sagrado, também conhecido como a Bíblia ou Evangelho, em<br />
que muitas religiões se apegam, tendo como seu principal<br />
orientador, existe uma passagem que relata a aparição de dois<br />
Espíritos: Moises e Elias, e os mesmos conversam com Jesus.<br />
– Como assim? – Pergunta Izabel.<br />
Os Pretos-Velhos continuam explicando aos dois.<br />
– Jesus subiu ao monte, segundo a Bíblia, com três de<br />
seus apóstolos, e lá surgiram Moisés e Elias. Moisés já havia<br />
morrido há pelo menos 3.800 anos, e Elias há cerca de 900 anos<br />
antes de Cristo. Então, se o próprio Jesus tinha contato com os<br />
mortos, como pode a comunicação com os Espíritos ser coisa<br />
do demônio? O que essas pessoas chamam de demônios, são o<br />
que poderíamos chamar de espíritos sofredores, perdidos em<br />
seus próprios atos e em seu estado psicológico. Esses demônios,<br />
como eles os chamam, precisam de ajuda e devemos ser solidários<br />
com eles, orientá-los e com amor encaminhá-los para Deus,<br />
que é o a sua verdadeira morada, pois não existem Espíritos<br />
totalmente perdidos. Se assim fosse, a promessa do grande Mestre<br />
Jesus Cristo seria vulgar quando ele disse que o Pai não tinha ou<br />
não tem nenhum filho a perder, e que ele não viera buscar os<br />
justos, mas os pecadores ou impuros, pois a missão dele era<br />
resgatar as ovelhas perdidas para o seu rebanho. Ele deixou essa<br />
missão com seus apóstolos e discípulos, os doze apóstolos foram<br />
escolhidos para pregar e curar os enfermos de sua época. Os<br />
outros eram discípulos, e discípulos são aqueles que aceitam<br />
voluntariamente a incumbência de dar continuidade a uma obra,<br />
mas com honestidade e pureza de alma. Por isso todo cristão de<br />
verdade pode ser um discípulo do senhor Jesus, e os apóstolos<br />
foram os escolhidos por ele, não havendo outros. Jesus não privilegiou<br />
a Moisés e Elias, Pedro ou Paulo ou outros, nem no<br />
plano terrestre nem no plano espiritual. Não existe privilégio<br />
ou privilegiados. Cada um com sua sapiência, sua evolução ou<br />
degradação. Existem centros que invocam Espíritos que se iden-<br />
340
tificam como escritores, médicos, advogados, psicólogos, artistas<br />
plásticos, mas em vidas anteriores. Esses mesmos Espíritos<br />
podem ter reencarnado como um negro, um índio, um baiano<br />
ou um boiadeiro. E os índios, boiadeiros, negros etc., também<br />
podem, em vidas passadas, ter reencarnado como médicos, advogados,<br />
escritores ou filósofos, cada um com o seu histórico.<br />
Gostaria de deixar para você analisar essas questões com bastante<br />
cuidado, pois há espíritos inferiores que se passam<br />
tranquilamente por essas entidades chamadas de Exus.<br />
– E por que isso é permitido?<br />
– Porque todos nós temos o livre-arbítrio, lembra-se?<br />
– É verdade, não tinha pensado nisso. O que significa<br />
Exu?<br />
– Exu é um nome de origem africana, que quer dizer<br />
Entidade mais próxima da Terra. Essas Entidades trabalham para<br />
manter o equilíbrio entre os homens e os Espíritos, entre os<br />
dois mundos, e são também chamados de mensageiros ou<br />
guardiões. Quando uma pessoa ou uma família está em estado<br />
degradante procura um bom centro espírita, os Espíritos que ali<br />
trabalham percebem que aquela família ou pessoa está sendo<br />
vítima de alguma obsessão, feitiçaria, bruxaria ou outros males<br />
que provocam energias ruins. São eles que trazem os obsessores,<br />
pois é como se estivessem algemados, presos, para dizerem porque<br />
estão obsedando aquela vítima. Os Exus são exímios na<br />
limpeza de ambientes, por isso são chamados nos terreiros, roças<br />
ou centros no início das sessões para afastar as energias negativas.<br />
Vou lhe dar um exemplo. Quando alguém vai a um lugar<br />
de baixa frequência para pedir o mal, quem os atende são<br />
obsessores, chamados pelos africanos de quiumbas, que muitas<br />
vezes se fazem passar pelos Exus exatamente para confundir as<br />
pessoas. Como os exus, os quiumbas têm liberdade e também<br />
são chamados para se encostarem a uma vítima qualquer. Mas<br />
eles só conseguem se aproximar se a pessoa estiver vulnerável.<br />
341
Aceitam presentes para entrar em sintonia e destruir a vida ou a<br />
família daquela pessoa e, em sua ignorância, começam a prejudicar<br />
a sua presa com vibrações telepáticas.<br />
– Mas como isso é possível?<br />
– Veja, se você está protegido, esses quiumbas não têm<br />
acesso, não conseguem fazer sintonia com a sua mente.<br />
– E como devemos nos proteger?<br />
– Evitando tudo aquilo que é ruim.<br />
– E como saber o que é ruim?<br />
– É muito fácil. Basta não fazerem para o outro, aquilo<br />
que vocês não querem para si mesmos. E também estar sempre<br />
contrito a Deus e, em seu dia a dia, fazer sempre exames de<br />
consciência. Não importa a sua fé ou crença, pois o Espírito é,<br />
por natureza, ecumênico. Portanto, os Espíritos e também o<br />
Criador (Deus), não têm religião. Podemos dizer que pertencemos<br />
a todas as crenças, desde que cultuem o nosso Criador e<br />
que sejam verdadeiros em sua fé.<br />
– E porque os Exus são chamados de mensageiros?<br />
– Exatamente porque quando alguém nos procura em<br />
determinados centros para tirar o mal que lhe foi colocado, nós<br />
pedimos aos Exus que vão buscar os quiumbas, para saber como<br />
devemos agir. E, de acordo com o consentimento da pessoa que<br />
nos procurou, aí sim nós temos permissão para afastar e limpar<br />
aquela vítima.<br />
– Mas porque eles trabalham em uma só denominação?<br />
Ou melhor, eles só trabalham em religiões de origem afro-brasileira,<br />
digo, Umbanda e Candomblé?<br />
Aí é que você se engana meu irmão. Eles trabalham,<br />
assim como nós, em várias ou em qualquer denominação, por<br />
isso são chamados de Anjo da Guarda, Protetor, Orixá, Guia de<br />
Luz, Energia, Espírito Santo ou outros nomes. Mas em outras<br />
denominações eles não se identificam, por não serem reconhecido<br />
como auxiliares de Deus ou laboriosos da Espiritualidade.<br />
342
Trabalham em silêncio, pois seriam rejeitados e confundidos<br />
com o “demônio”.<br />
– E Por que isso acontece?<br />
– Porque é assim que irmãos de outras denominações<br />
aprenderam em suas religiões ou doutrinas, principalmente após<br />
a crucificação do nosso Mestre Jesus. Porque os interesses políticos<br />
continuaram e também na intenção de não perderem o<br />
controle sobre o povo. Com esse modo de agir, crucificaram<br />
Jesus, o nosso Cristo, e muitos outros seguidores do Cristianismo.<br />
Outros foram queimados vivos nas fogueiras, taxados como<br />
feiticeiros, e bruxos na época da chamada Inquisição.<br />
– E por que vocês são chamados de Pretos-Velhos? É<br />
uma maneira carinhosa de serem tratados?<br />
– Sim! Responde a Entidade. Mas também somos chamados<br />
pelo nome. Por algumas pessoas que dirigem determinados<br />
centros, ainda somos carinhosamente chamados de Pai, Mãe,<br />
Vovó e Vovô.<br />
– Porque existem várias denominações religiosas e não<br />
só uma? Afinal, Deus é único não é mesmo?<br />
– Você está totalmente correto, mas existem outras denominações<br />
religiosas porque existem várias culturas diferentes.<br />
Cada região tem seus costumes.<br />
– Mas como se sabe que existem várias crenças em uma<br />
só região?<br />
– Os motivos desses acontecimentos talvez sejam as<br />
imigrações ou colonizações. Cada um pratica sua fé de acordo<br />
com sua cultura, e também com o que aprenderam com seus<br />
líderes. As religiões se modernizam, assim como o mundo evolui,<br />
mas ainda existem algumas que continuam a manter-se na<br />
velha tradição. Imagine se todas as religiões resolvessem seguir a<br />
Bíblia ao pé da letra, principalmente o Velho Testamento, que<br />
relata Deus ordenando por intermédio de Moisés vários e vários<br />
sacrifícios de animais? Como seria? – Curiosidade: a Bíblia nos<br />
343
elata que o Rei Salomão sacrificou 200 mil bois de uma só vez<br />
como oferta para Deus –. Há vários maneiras de cultuar a Deus,<br />
mas você pode ter certeza de uma coisa, nós, Espíritos, estamos<br />
a serviço dos humanos em todas as religiões por determinação<br />
de Deus, pois os seres humanos também são Espíritos como<br />
nós, cada um com sua sapiência. Mas necessitam de um porto<br />
seguro, que são os Espíritos de Luz, pois os Espíritos encarnados<br />
encontram-se presos a um corpo físico.<br />
– Vocês, Pretos-Velhos, são carinhosamente chamados e<br />
considerados Espíritos simples e ignorantes, por se apresentarem<br />
na condição de ex-escravos. Vocês nunca reencarnaram antes,<br />
em outras condições? Quero dizer, não como escravos?<br />
– Filho, a nossa hora chegou e precisamos ir. Temos outras<br />
missões, precisamos socorrer irmãos em recantos diferentes. Estão<br />
me chamando com certa urgência, mas vou pedir para o irmão médium,<br />
do centro que vocês frequentam, para continuar com esta gostosa<br />
prosa que estamos tendo por telepatia, da próxima vez que você<br />
for àquela casa de orações. Deixarei outra Entidade próxima ao nosso<br />
querido médium Lázaro para que ele responda suas perguntas.<br />
E os velhos somem ali, bem às vistas de João Eduardo e<br />
Izabel.<br />
– Nossa, que fantástico! É inacreditável como nós conseguimos,<br />
– afirma Izabel. – Bem, temos de ir embora; já 6<br />
horas da tarde e chegamos aqui ao meio-dia. Interessante, parece<br />
que foi há apenas cinco minutos, como pode? E o pior é que<br />
ninguém irá acreditar. E agora, quais serão as consequências? Meu<br />
Deus! O que nós fizemos?<br />
João e Izabel comentam o<br />
ocorrido com Irmão Lázaro<br />
– Meu querido Irmão Lázaro. Nós estamos deslumbrados<br />
com tudo o que vimos e ouvimos ontem, foi realmente<br />
344
fantástico. Aprendemos muito com os nossos irmãos do Plano<br />
Espiritual. Sem querer abusar da sua costumeira atenção, mas<br />
nos ficou uma pergunta que eu gostaria muito de saber, – diz<br />
João Eduardo.<br />
– Pode perguntar meu irmão, – responde o médium<br />
com carinho. – Se a pergunta estiver ao meu alcance, com prazer<br />
responderei.<br />
– Eu perguntei aos Pretos-Velhos sobre reencarnação,<br />
mas especificamente no caso deles, perguntei se eles tinham passado<br />
por outras reencarnações, em outras condições antes deles<br />
virem como escravos.<br />
– Sim, com certeza, passaram sim. São Espíritos muito<br />
antigos, que já tiveram várias reencarnações.<br />
– Então por que eles regrediram tanto?<br />
– Aí é que você se engana, meu bom amigo. Esses Espíritos<br />
são elevadíssimos, e quanto mais o espírito é elevado, mais<br />
humilde é, prova disso é Jesus, o mais elevado dos Espíritos que<br />
encarnou no plano terrestre. Ele foi e é o Mestre dos Mestres.<br />
No entanto, ele nasceu em uma família humilde, em uma manjedoura,<br />
e em nome de seu povo ele aceitou passar por tudo que<br />
passou com resignação. Vou lhe fazer uma pergunta: Como você<br />
reagiria se fosse preso, humilhado, obrigado a trabalhar todos os<br />
dias de sua vida sem remuneração e ainda fosse surrado?<br />
– Eu ficaria muito revoltado, e assim que eu tivesse oportunidade<br />
me vingaria.<br />
– E se você não tivesse tempo de se vingar?<br />
– Como assim?<br />
– Quero dizer o seguinte: Se você desse passagem, morresse<br />
antes de conseguir se vingar de seus algozes?<br />
– Bem, aí então, no Plano Espiritual, eu passaria vibrações<br />
de ódio, revolta e tudo que estivesse ao meu alcance para<br />
me vingar dos meus algozes.<br />
– Entre todos aqueles escravos que saíram de suas terras<br />
345
natais e foram espalhados em outros continentes, havia Espíritos<br />
atrasados, ignorantes. Esses realmente são vingativos e maus!<br />
Mas essas entidades que se aproximam de nós médiuns e trazem<br />
palavras de amor ao próximo, usam como bandeira o amor ao<br />
próximo, a caridade e a solidariedade. São Espíritos elevadíssimos<br />
que nos ensinam chás e benzeduras, nos trazem palavras de conforto<br />
que levantam nossa autoestima. Por isso eu lhe afirmo,<br />
com toda a convicção, que são Espíritos de várias passagens pela<br />
terra. Eles foram escravizados, surrados, humilhados e mesmo<br />
assim são solidários, caridosos e resignados. A filosofia deles é<br />
bem semelhante aos ensinamentos do nosso Mestre Jesus, eu<br />
diria que Jesus foi o maior médium de todas as épocas, e esses<br />
Pretos-Velhos, como carinhosamente os chamamos, são Espíritos<br />
extremamente sábios, e quanto mais elevados e sábios, mais<br />
simples eles são. Veja o maior exemplo disto, que foi a vinda do<br />
Mestre, daquele espírito maravilhoso que passou pela terra há 2<br />
mil anos. Jesus não tinha bens, vestia uma túnica simples, andava<br />
de sandália com total simplicidade, pregava o amor, a caridade<br />
e insistia: “Amai os inimigos assim como eu vos amei”, e ele<br />
foi condenado à crucificação, foi surrado, humilhado, cuspiram<br />
em seu santo rosto e ainda, quando ele estava para dar passagem<br />
ao Plano Espiritual, disse: “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o<br />
que fazem”. Se o Espírito tivesse a necessidade de mostrar-se como<br />
ele é, Jesus viria com pompas de um rei, se declarando como o<br />
imperador, morando em um belo palácio e com vários súditos e<br />
escravo à sua volta, com toda a pose de um verdadeiro rei, assim<br />
como ele realmente é, por ser o mais elevado dos Espíritos como<br />
também por hierarquia, porque era descendente dos reis Davi e<br />
Salomão. Mas lhes afirmo: quanto mais o Espírito é elevado,<br />
com mais simplicidade ele se identifica.<br />
Nesse momento, o médium entra em transe e aproximase<br />
um mentor para continuar o dialogo com João e Izabel. E as<br />
perguntas brotam no pensamento de João.<br />
346
– E aquela criança que também se materializou, quem é?<br />
– Isso você saberá daqui a algum tempo,– responde a<br />
entidade. – Eu lhe aconselho a nunca mais fazer esse tipo de<br />
pedido ou quase exigência de um espírito, principalmente de<br />
um irmão maravilhoso e dócil como o Irmão X. Não mexa<br />
com o desconhecido e lembre-se: Deus não castiga ninguém,<br />
são os nossos próprios atos que nos condenam ou absolvem.<br />
Assim que João e Izabel chegam em casa, sua filha Gabi<br />
corre a lhes dizer.<br />
– Papai, sonhei outra vez aquele mesmo sonho!<br />
– Gabi, pare com esses sonhos. Sua mãe não está preparada<br />
para ter outro filho.<br />
– Isso deve ser um desejo seu, é a vontade de ter mais<br />
um irmãozinho filha, retruca a mãe.<br />
Na sessão seguinte<br />
Antes de iniciada a sessão, João conversa com o médium.<br />
– Meu bom irmão, minha filha já sonhou pela segunda<br />
ou terceira vez com minha esposa grávida. Você tem alguma<br />
explicação para isso?<br />
– Sonho é algo fantástico. Às vezes é coisa que passamos<br />
durante dois, três ou até seis meses, aí mistura no nosso subconsciente<br />
e o sonho se torna confuso. Mas quando é previsão,<br />
o sonho é repetitivo, digo, é sempre semelhante. Pode acontecer<br />
o que foi revelado no sonho ou ser ao contrário do que a pessoa<br />
está sonhando. Você não deve se preocupar com isso meu irmão.<br />
Pense em Deus e na Lei do Universo.<br />
– Como é a Lei do Universo?<br />
– Seria mais ou menos assim: Deus, em sua infinita sabedoria,<br />
fez as leis com muito equilíbrio e justiça, assim como<br />
cada país tem as suas constituições, e nas constituições o povo<br />
tem direitos e deveres. Na Lei do Universo há a constituição e<br />
também o livre-arbítrio, que são os direitos, e com os deveres<br />
347
cumpridos corretamente os espíritos não sofrem danos. Elevamse<br />
aí os Espíritos que respeitam as Leis do Universo e que não<br />
necessitam mais do mundo de expiação até que chegam ao plano<br />
máximo, que é o Plano Angelical. Aqui em nosso plano, os<br />
seres mais puros são as crianças, e no Plano Espiritual, abaixo de<br />
Deus estão os anjos.<br />
– Como você sabe tudo isso meu irmão? Estou fascinado<br />
com seus conhecimentos.<br />
– Os nossos queridos irmãos (as Entidades) nos passam<br />
esses ensinamentos, digo conhecimentos.<br />
– Eu lhe falei do que vi ontem! Nunca, mas nunca mesmo<br />
eu vou esquecer toda aquela maravilha. Em outra oportunidade<br />
em que tivemos uma longa conversa, você me falou da<br />
materialização de Espíritos, e que só seria possível pelo<br />
ectoplasma. Lembra-se?<br />
– Claro que me lembro. Mas vou pedir para outro irmão,<br />
especialista em materializações, que lhe explique melhor<br />
sobre o assunto.<br />
– Logo em seguida, se faz presente outra Entidade para<br />
passar esses conhecimentos ao atento ouvinte e aprendiz João.<br />
– Bem meu irmão, o ectoplasma é um material que<br />
exala da boca, nariz e ouvido do ser humano. Normalmente é<br />
um material puro, mas se torna impuro quando é ingerido em<br />
forma de bebidas, alimentos e outros, e também pelas más ações<br />
que o ser humano comete diariamente, transformando a<br />
adrenalina em ectoplasma maléfico. Para se tornar um médium<br />
de materialização, é necessário que haja uma total abstinência<br />
dessas coisas e até de sexo. Para que se torne possível a<br />
materialização de Espíritos, o ectoplasma não pode ser impuro<br />
e o médium tem que estar bem preparado para essa finalidade.<br />
Para você ter uma ideia, os banhos de ervas ajudam a limpar o<br />
perispírito, com isso o ectoplasma fica um pouco mais puro<br />
– E pode ser qualquer médium? – Pergunta Izabel.<br />
348
– Veja bem, para acontecer esse fenômeno é necessário<br />
que o médium seja especialista em materialização. Assim como<br />
existem médium de transporte, médium de cura, médium de<br />
evangelização, psicografia, entre outros.<br />
– Mas ali onde estávamos só estávamos eu e minha esposa,<br />
não havia nenhum médium de materialização. Então,<br />
como ter ocorrido aquele fenômeno?<br />
– E você tem alguma dúvida do que viu?<br />
– Nenhuma. Hoje eu tenho certeza de 100 por cento da<br />
existência daqueles irmãos.<br />
– Meu filho, assim como o médium de materialização<br />
exala o ectoplasma, nas árvores esse material é encontrado em<br />
abundância..<br />
– Nas árvores? – Pergunta João com muita admiração.<br />
– Sim, nas árvores. – Responde a Entidade com muita<br />
segurança e simplicidade. – Elas captam a energia que está no ar,<br />
também conhecido como oxigênio, e a transforma em<br />
ectoplasma. As árvores têm em seu interior proteínas, vitaminas,<br />
sais, anticorpos etc., porque elas têm ligação direta com a<br />
terra e captam as energias do subsolo, onde também se situa ou<br />
esta armazenada o melhor ectoplasma. É lá que está concentrado<br />
todo o processo energético do planeta. Por exemplo, a água,<br />
o ferro, o fosfato, o enxofre, o zinco, o petróleo, pedras preciosas<br />
e outros. Pelas árvores terem vida própria é que elas exalam<br />
em abundância um excelente ectoplasma. As árvores também<br />
procriam; existem árvores machos e fêmeas. Elas soltam as sementes<br />
como uma desova e geram mudas que crescem como<br />
um renascer ou reencarnar, e assim as árvores velhas morrem.<br />
Ou renascem, pois a pequena muda que nasce é a mesma arvore<br />
velha que morreu. Os médiuns de materialização, estes sim precisam<br />
passar por um rigoroso processo de preparação. Para você<br />
ter uma idéia, o médium tem que ser vegetariano, abdicar do<br />
sexo, entre outras coisas. Por aí dá para se notar a ligação de<br />
349
ambos, ou melhor, dos médiuns e das árvores. Enfatizo: o médium<br />
deve se alimentar somente com vegetais para armazenar<br />
um ectoplasma mais puro ou de boa qualidade.<br />
– É realmente fantástico e faz muito sentido tudo que<br />
você me falou.<br />
– Bem, se você não tem mais nenhuma dúvida, até outro<br />
dia meu filho. Que a paz esteja contigo.<br />
Em outra sessão, na semana seguinte<br />
– Boa tarde, meu bom Irmão!<br />
– Bem, você está satisfeito com o seu aprendizado?<br />
– Com toda certeza, estou muito satisfeito. Agora quero<br />
lhe fazer outra pergunta: É possível falar com o Irmão X?<br />
– No futuro, sim.<br />
– E com o Irmão Y?<br />
– Também não. Depois do que eles lhe proporcionaram,<br />
você terá de aguardar um bom tempo para falar com o<br />
Irmão Y. Quanto ao Irmão X, nós perdemos o contato.<br />
– Porque isso aconteceu? Eu sou o culpado?<br />
– Veja bem, os bons Espíritos não acusam e nem defendem.<br />
A Lei do Universo ou a nossa constituição, como vocês o<br />
chamam aqui na Terra, é que se encarrega dessas coisas. Nós só<br />
procuramos ajudar, orientando os seres da sua dimensão.<br />
– E em qual dimensão está o Irmão X?<br />
– Em um lugar que se parece com uma escola. De lá ele<br />
regressará para onde for designado pelos nossos superiores.<br />
– Você diz regressar, voltar para onde ele estava?<br />
– Tanto ele pode fazer uma viagem longa, como pode<br />
ser uma viagem curta.<br />
– Viagem longa ou curta?<br />
– Longa, para outras galáxias, outros planetas. Curta, na<br />
própria galáxia. Portanto, temos que aguardar, mas certamente<br />
350
você terá contato com o Irmão X de alguma forma. Como, eu<br />
não saberia lhe dizer.<br />
– Só mais uma coisa, meu bom irmão.<br />
– Pode falar, estou à sua disposição.<br />
– Por que o tempo passou tão rápido naquele momento<br />
de materialização com o os irmãos X, Y e outros? Permanecemos<br />
naquele lugar por seis horas, mas eu e minha esposa tivemos<br />
a impressão de que foram apenas cinco minutos.<br />
– Para acontecer aquele tipo de materialização você entrou<br />
na nossa sintonia, e assim sendo, os seu perispírito entrou<br />
em outra dimensão, a dimensão espiritual. Quando vocês se<br />
concentram para chamar ou invocar um Espírito, entram em<br />
sintonia com o mundo espiritual. Então, o Espírito que você<br />
invocou é sendo chamado para o seu habitat, mas naquele caso,<br />
o Irmão X queria lhes dar a tal prova, foi ele quem entrou em<br />
sintonia com vocês. Seu Espírito foi conduzido ou invocado<br />
para o nosso habitat, por isso vocês estavam conscientes, mas<br />
totalmente imóveis. Por isso, em seus pensamentos acreditaram<br />
terem se passado apenas cinco minutos, mas foram aproximadamente<br />
cinco a seis horas na contagem da Terra. Os Espíritos<br />
que trabalharam nesse projeto se conectaram com vocês pelo<br />
cordão de prata que há na cabeça de ambos e de todo ser humano.<br />
Esse cordão de prata é a ligação entre o mundo físico, o<br />
mundo espiritual e os vossos corpos na dimensão terrena. E mais,<br />
seus espíritos estavam ligados às suas matérias e ao mesmo tempo<br />
em nosso habitat.<br />
– Exatamente: Eu achei que tinham se passado só cinco<br />
minutos, por isso fiquei perplexo.<br />
– Bem, tenho de continuar minha caminhada. Até um<br />
dia, e que a paz esteja com vocês.<br />
351
Na Dimensão dos Espíritos<br />
– O Mentor que trabalha junto ao plano inferior está<br />
fazendo o caminho de volta? – Pergunta Irmão Y.<br />
Sim irmão Y, estou. – Responde o Mentor. Iremos passar<br />
outra vez por lugares horríveis, mas com estas roupas de chumbo<br />
plasmadas não correremos perigo de contaminação pelas más<br />
vibrações. Basta que sejamos cautelosos e não tenhamos medo.<br />
O medo poderá nos trazer problemas, pois atrai as más vibrações.<br />
Mas lembre-se: somos mais fortes do que eles. A minha<br />
legião está aqui para defender-te das legiões do mal.<br />
– Quer dizer que quanto mais fortes essas vibrações, mais<br />
próximos estamos da Terra?<br />
– É por isso que a Terra é o plano de expiação, onde<br />
nenhum ser humano é totalmente feliz. Sempre tem seus altos e<br />
baixos, e o Criador é tão bondoso que mesmo sendo um mundo<br />
de expiação, ele proporciona paz, alegria, prazer e felicidade.<br />
O espírito encarnado (ser humano) pode ser totalmente feliz,<br />
basta querer e saber ser feliz.<br />
– Como assim? Pergunta irmão Y.<br />
– Basta que o ser humano não seja soberbo, ou melhor,<br />
que seja feliz com o que ele conquistou, ou, como dizem no<br />
plano terrestre, ser feliz com o que Deus lhe deu.<br />
– Por que o Irmão X segue por outro caminho?<br />
– Você Irmão Y, irá para um lugar onde poderá repor<br />
sua luz e suas energias. Quanto ao Irmão X, o Mentor Superior<br />
lhe dará as devidas explicações.<br />
Algum tempo depois, Irmão Y, pergunta.<br />
– Nos já estamos na linha que divide a luz das trevas?<br />
– Sim, – responde o mentor – a partir daqui você seguirá<br />
sozinho. Logo encontrará o Mentor do Plano Superior. Que<br />
a paz esteja contigo.<br />
– Tenho que tirar estas roupas e continuar minha<br />
352
caminhada, ainda com muita cautela.<br />
Pouco depois, Irmão Y encontra outros Espíritos que o<br />
ajudam na caminhada.<br />
– Vamos Irmão Y, agora você irá para um lugar onde<br />
poderá se recuperar dessa sua nova experiência.<br />
– Mas onde está o irmão X? Para onde ele foi? O Mentor<br />
do plano Inferior nos disse que teríamos de nos separar, mas por<br />
que, se nós fomos designados para trabalharmos juntos? Somos<br />
velhos parceiros Mentor, por favor, me esclareça..<br />
– Ele foi se preparar para reencarnar no mundo de expiação,<br />
a Terra. E você, prepare-se para cuidar dele durante a gestação<br />
de sua futura mãe.<br />
- Como assim? Explique-me melhor Mentor, pois essa experiência<br />
para mim é nova. Por que não serei eu a reencarnar? Irmão<br />
X é mais elevado do que eu, mais sábio e tem mais luz.<br />
– Tudo, mas tudo mesmo tem sua razão de ser. Nada é<br />
por acaso, e o nosso Criador sabe exatamente o que é certo ou<br />
errado, por isso não devemos questionar meu irmão, as Leis do<br />
Universo. O que sei é que houve uma regressão dele por ter<br />
aceitado aquele desafio, e uma regressão menor de sua parte por<br />
tomar partido. Só que ele tomou aquela atitude para mostrar a<br />
verdade do nosso plano e por amor ao seu amigo, ou melhor, ao<br />
seu bisneto de vidas passadas, e isso ele fez sem uma real<br />
necessidade. Você resolveu tomar partido e acompanhá-lo por<br />
fidelidade ao seu amigo Irmão X, que é seu companheiro nas<br />
missões.<br />
– E por quanto tempo cuidarei do Irmão X?<br />
– Assim que acontecer a fecundação. A partir dali, o<br />
Irmão X estará ligado ao Espírito da sua futura mamãe, e o<br />
ponto de ligação é o umbigo, que se liga à placenta. Você<br />
terá muito trabalho pela frente!<br />
– Por que terei tanto trabalho? Afinal, o Irmão X é<br />
muito dócil. E haverá mesmo a necessidade dele reencarnar?<br />
353
– Questiona irmão Y.<br />
– Nosso superiores sabem o que fazem, tenha certeza<br />
disso.<br />
– É, eu sei. – Responde irmão Y. E por que terei tanto<br />
trabalho?<br />
– No momento da concepção e também durante a gestação<br />
da futura mãe, haverá vários Espíritos do plano inferior,<br />
cada um deles com um objetivo.<br />
– Como? Explique-me melhor...<br />
– Haverá Espíritos das legiões inferiores querendo tomar<br />
aquele corpo para reencarnar, sendo que aquela futura mãe<br />
não esta predestinada a tal situação, e do outro lado, Espíritos<br />
que só pretendem causar danos, por sadismo etc. Assim como<br />
os espermatozóides competem entre si para sobreviver e realizar<br />
a fecundação, esses espíritos trazem vibrações negativas para o<br />
pai ou a mãe, tentando provocar rejeições e aborto, doenças,<br />
desavenças e outros males, deixando a mãe muito tensa. Enfim,<br />
a sua missão será transmitir vibrações positivas pelo cordão de<br />
prata àquela família, e principalmente para a futura mamãe. E a<br />
melhor maneira ou técnica é transmitir pelo cordão de prata,<br />
que está no centro da cabeça das pessoas de forma invisível para os<br />
olhos humanos, e que liga o mundo material com o mundo astral.<br />
O cordão é invisível para os habitantes da Terra, mas visível<br />
para nós, Espíritos.<br />
– E terei de fazer isso sozinho?<br />
– Aconteceu algo muito interessante a seu favor por você<br />
ter tomado partido pelo Irmão X. Aquela equipe de 2 mil Espíritos<br />
com a qual você trabalha...<br />
– Sei, sei, onde estão?<br />
– Calma, estão a caminho daqui, pois chegaram a um<br />
consenso e todos resolveram que deveriam tomar partido a seu<br />
favor. Portanto, a partir de agora você comandará essa legião.<br />
– Mas nessa equipe eu sou apenas um auxiliar!<br />
354
– Acontece meu bom irmão, que a missão é sua. Você<br />
comandará, tenha fé!<br />
À procura de Irmão X<br />
Um dos Mentores informa que Irmão X já está pronto<br />
para sua nova etapa. Perdeu a consciência quase que totalmente,<br />
restando apenas alguns resíduos de sua vida espiritual. Agora ele<br />
é uma criança no Plano Espiritual. Uma criança que renascerá na<br />
Terra.<br />
Enquanto isso, no Plano Físico...<br />
– João, meu amor, aquela experiência que tivemos com<br />
aqueles Espíritos foi fantástica. Eu gostei muito de ter estado lá<br />
com você, pois hoje somos espíritas muito mais convictos.<br />
– Eu tenho lido muito e hoje compreendo que não deveria<br />
ter exigido tanto do Irmão X. Quem sabe um dia nos<br />
possamos vê-lo novamente, ou até mesmo tocá-lo.<br />
No dia seguinte, Izabel acorda indisposta<br />
– Eu não estou bem João, gostaria de ir ao médico, –<br />
diz Izabel.<br />
– O que você tem Izabel, o que está sentindo?<br />
– Não sei, mas estou com tonturas e com o estômago<br />
ruim.<br />
– O estômago dói?<br />
– Não, mas não consigo comer nada.<br />
– Arrume-se e vamos ao médico.<br />
Muito preocupado com a saúde da mulher, João a acompanha<br />
ao consultório, onde o médico pede uma série de exames<br />
e os orienta a retornar com os resultados.<br />
Assim que ficaram prontos os exames, eles retornaram<br />
355
ao médico, sem que houvesse nenhuma melhora de Izabel.<br />
– Aqui estão os exames, doutor.<br />
O médico abre o envelope e pede que ela se deite na<br />
maca. Mede sua pressão arterial e a examina minuciosamente.<br />
Pede que ambos sentem-se, pois tem uma notícia para o casal.<br />
Volta-se para o preocupado esposo e lhe diz:<br />
– Sr. João, meus parabéns! Sua esposa está grávida, e já<br />
está com 45 dias de gestação.<br />
– Mas não é possível, doutor, pois ela é muito cuidadosa<br />
com os anticoncepcionais.<br />
– Dona Izabel, a senhora está com a cartela de anticoncepcional<br />
aí?<br />
– Estou sim, e tomo rigorosamente há muito tempo.<br />
Nunca tive nenhum problema.<br />
O médico examina a cartela cuidadosamente.<br />
– É inexplicável, pois estes anticoncepcionais são extremamente<br />
eficientes. Enfim, ela está realmente grávida, estes exames<br />
não falham...<br />
– Bem, que seja tudo como tiver de ser. Seja como que<br />
Deus quiser... Com certeza será bem-vinda, ou então, bem-vindo.<br />
Pouco depois, em casa, Gabi exclama.<br />
– Viu só o meu sonho mamãe, como deu certo?<br />
– É Gabi, realmente é incrível.<br />
– Mamãe, muitas vezes eu tive aquele mesmo sonho,<br />
mas há algum tempo parei de sonhar, só que não comentei mais<br />
dos sonhos para não aborrecê-los. Engraçado, depois que sua<br />
gravidez foi confirmada, sonhei com outras coisas.<br />
– Às vezes a gente não quer acreditar, mas isso não passa<br />
de um aviso, pode ter certeza. – Responde Izabel.<br />
João chega em casa nesse momento e, todo sorridente,<br />
cumprimenta as duas e galanteia a esposa.<br />
– Izabel, você está quase de cinco meses e cada vez mais<br />
bonita.<br />
356
– Obrigada, meu galã! Você é um sedutor.<br />
Em seguida, os dois saem para fazer uma visita ao querido<br />
amigo Lázaro, o médium.<br />
João e Izabel com o médium Lázaro<br />
– Porque não tivemos mais contato com os Irmãos X e Y?<br />
– Parece-me que o Irmão Y está muito próximo, – responde<br />
o Irmão lázaro. – Eu sinto isso, mas não consigo contato<br />
com ele. E com Irmão X, é como se ele já não mais existisse, e<br />
ao mesmo tempo, quando vocês estão próximos, parece-me que<br />
ele esta por perto. É muito estranho, argumenta o médium.<br />
– Meu Deus, não me fale isso. Minha consciência precisa<br />
saber sobre ele. Um Espírito pode ser destruído, meu irmão?<br />
– Não, não, fique tranqüilo. Todo espírito, sem exceção,<br />
é eterno. O que pode acontecer é uma transformação, ou<br />
uma elevação muito alta.<br />
– Como assim, meu bom médium?<br />
– Se ele se elevou, ou como se diz por aqui, se progrediu,<br />
obteve tanta luz que não é possível mais contato com nosso<br />
mundo de expiação. Mas também pode ser que ele esteja se<br />
preparando para reencarnar, e isso seria uma transformação. Nesse<br />
caso, o Espírito perde totalmente sua consciência, esquecendo<br />
todas as suas vidas anteriores. Volta a ser uma criança totalmente<br />
inocente, mais inocente ainda do que uma criança recém-nascida.<br />
Mas sempre traz, em seu subconsciente, o que aprendeu no<br />
passado. Veja você que uns sãos bons em Matemática, outros<br />
em Ciências e também outros na Arte da pintura, em literatura,<br />
trabalhos braçais, enfim, por isso é que dizemos que todos nós,<br />
encarnados ou desencarnados, estamos sempre a caminho da<br />
evolução.<br />
– E qual das duas hipóteses você considera mais provável?<br />
– Meu bom amigo, isso eu não posso lhe responder,<br />
357
pois não somos juízes, e pensando assim nós estaríamos fazendo<br />
um julgamento. Algum tempo atrás lhe foi prometido que você<br />
mais cedo ou mais tarde haveria de ter contato com o Irmão X,<br />
não foi?<br />
– É verdade, por isso eu amo a Espiritualidade. Tudo,<br />
mas tudo se conclui. Sempre chegamos a um consenso, sem<br />
contradições, sem mentiras, todas as previsões ou promessas se<br />
cumprem. E lhe afirmo, meu irmão médium, o que seria de<br />
mim e de minha família sem as suas orientações?<br />
– Então fique tranquilo, pois tudo o que os bons Espíritos<br />
prometem, passe o tempo que passar, há de se cumprir<br />
pela misericórdia Divina. E quanto à minha ajuda meu irmão<br />
João, se não fosse eu a lhe auxiliar, haveria outros. Com toda<br />
certeza existem bons médiuns espalhados nos centros espíritas<br />
por aí afora.<br />
– E na hipótese do Irmão X reencarnar ele não tem lembrança<br />
de nada? Como será? – Pergunta Izabel, aflita.<br />
– De um jeito ou de outro vocês terão contato, e será<br />
com ele, isso eu lhes garanto.<br />
Izabel, que a tudo ouvia com muita atenção, não pode<br />
deixar de perguntar.<br />
– Mas como saberemos?<br />
– Eu não posso lhe afirmar nada minha irmã, mas com<br />
certeza haveremos de saber.<br />
Saberemos de sua existência onde ele estiver. Se os nossos irmãos<br />
do Plano Espiritual prometeram contato com ele, certamente<br />
teremos. Isso sim eu posso lhe afirmar, só não sei como e<br />
quando será esse contato.<br />
Nesse momento Izabel se emociona, pois o bebê que<br />
está em seu ventre se precipita e começa a mexer-se para lá e para<br />
cá, como se estivesse dizendo: – Eu estou aqui! Percebendo o<br />
médium que algo estava se passando naquele momento, com<br />
muita sutileza pede para que ela fique tranquila. Mas a suspeita<br />
358
do médium se concretiza, tendo ele a certeza absoluta de quem<br />
era aquela criança que Izabel protegia com sua própria vida. Sendo<br />
ela já de certa idade e com sequelas provocadas pela grande quantidade<br />
de bebidas alcoólicas que ingerira no passado, o irmão<br />
médium procura de todas as formas lhe acalmar.<br />
Na dimensão do Irmão Y<br />
Percebendo que a reação do Irmão X é devido à sua ansiedade,<br />
não tendo ele consciência, mas por instinto tivera aquele<br />
gesto querendo sentir o afeto dos futuros pais pelo amor que<br />
tinha de vidas passadas, o Irmão Y faz um apelo aos seus auxiliares.<br />
– Peço à equipe que fiquem todos atentos, pois estou<br />
tendo muito trabalho para conter os espíritos inferiores. Houve<br />
uma reação inconsciente do Irmão X, e esses espíritos inferiores<br />
querem aproveitar a oportunidade e vibrar negativamente provocando<br />
um aborto. Assim, pode haver um acidente com a mãe<br />
e não é o momento de ela dar passagem. O casal tem de cumprir<br />
sua missão e sucessivamente aceitar os seus desígnios.<br />
A luta no Plano Espiritual é muito grande para conter<br />
os espíritos aproveitadores, das trevas. Irmão Y teve de contar<br />
com a ajuda não só dos médicos do mundo espiritual, como<br />
também do casal de Pretos-Velhos, do Mentor que trabalha no<br />
plano inferior e também do Mentor Superior. Sabedor da importância<br />
que o momento requeria, o Irmão Y intuiu o médium<br />
a dar assistência à futura mamãe com orações e Mãe<br />
Benedita, por telepatia, sugeriu a Lázaro que lhe desse um bom<br />
chá de camomila com cidreira para Izabel ficar mais calma, e<br />
também um banho de rosas brancas e flor do campo para purificar<br />
a aura da futura mamãe.<br />
– Minha irmã. Estou recebendo uma mensagem do Irmão<br />
Y e também de Mãe Benedita e outros mentores. Eles me<br />
359
aconselham por intuição a rezarmos, termos muita fé, em Deus<br />
e ficar bem sintonizados com os nossos irmãos protetores. E<br />
mais: Mãe Benedita me recomenda para termos muita calma.<br />
Tome este chá e tudo ficará bem. Assim que você chegar à sua<br />
casa, deverá tomar um bom banho com rosas brancas e flor do<br />
campo para limpar sua aura.<br />
– Eu já estou bem, graças a Deus.<br />
– Meu irmão, agora sou eu que não estou bem, – argumenta<br />
João.<br />
– Fique tranquilo João, você receberá uma mensagem.<br />
– Como assim?<br />
– A partir de agora João, você tem um dever, ou uma<br />
missão, como preferir. Você irá trabalhar com os nossos irmãos.<br />
– Como? Não entendi.<br />
– Essa reação que você está tendo é a aproximação de<br />
uma Entidade.<br />
– Mas eu não estou preparado para tão importante missão!<br />
– Tudo que você passou e irá passar lhe servirá como<br />
uma grande experiência, e será a preparação para a sua missão na<br />
condição de médium, para servir a Deus e às pessoas que irão lhe<br />
procurar. A partir de agora você esta sendo convocado pela<br />
Espiritualidade para pagar, em forma de doação, tudo o que<br />
você recebeu do mundo extrafísico. Em breve você terá que prestar<br />
serviços a quem lhe procurar. E lembre-se: Uns vêm para<br />
servir, outros para serem servidos. Chegou a hora de você retribuir<br />
pelo muito que recebeu. Primeiramente de Deus, e depois<br />
dos nossos queridos irmãos, auxiliares ou discípulos de nosso<br />
querido Jesus e do Pai que está no Céu.<br />
– Seja como Deus determinar, estou à disposição da<br />
Espiritualidade.<br />
– Mas lhe aviso, recomenda Irmão Lázaro. – Você sofrerá<br />
calúnias, humilhações e ingratidões. Muitos lhe dirão que<br />
você está no inferno, levará o nome de feiticeiro, bruxo etc., terá<br />
360
várias decepções em nome da caridade, da solidariedade e da fé,<br />
ou melhor, em nome de Deus. E peço que você se lembre de<br />
uma coisa: aqui, no plano terrestre, que é um dos mundos de<br />
expiação, nem tudo é um mar de rosas, haverá muitas e muitas<br />
decepções. O importante é que seu Espírito, na condição de<br />
médium, esteja sempre bem. Lembre-se do que Jesus passou<br />
aqui neste mundo de expiação por ser justo, solidário e defender<br />
os fracos e necessitados, sempre enfatizando o amor ao próximo.<br />
Ele afirmava que todos os seres humanos são filhos do<br />
mesmo Pai. E eu lhes afirmo que tanto o ser humano por mais<br />
perdido que seja, assim como os espíritos trevosos, são filhos do<br />
mesmo pai, portanto, todos nós, encarnados ou desencarnados,<br />
precisamos evoluir, sempre a caminho da PERFEIÇÃO. A nossa<br />
missão é a sempre trazer para Deus os filhos perdidos, espíritos<br />
que habitam aqui ou no mundo extrafísico. Jesus foi caluniado<br />
de todas as formas mas não perdeu o amor ao próximo,<br />
porque sua missão era resgatar os pecadores para o Pai que esta<br />
no céu.<br />
– Se amanhã eu amanhecer vivo, Deus estará comigo.<br />
Mas se eu não amanhecer, estarei com Deus. – Responde João<br />
Eduardo com emoção (frase de autor desconhecido).<br />
Izabel dá à Luz<br />
Pelo telefone, João Eduardo avisa sua irmã Margarida.<br />
– Margarida, minha irmã, estou ligando para lhe informar<br />
que sou pai outra vez, e é um lindo garoto. Avise a Clotilde,<br />
por favor.<br />
– Meus parabéns, meu querido irmão. Fique tranqüilo<br />
que avisarei a Clotilde e em seguida vou para o hospital. Até já.<br />
Algum tempo depois, chegam ao hospital as ansiosas<br />
tias para dar às boas vindas ao recém-nascido.<br />
– Ele é lindo! Como vai se chamar João?<br />
361
– Será Daniel o nome dele, Clotilde.<br />
– Por que Daniel? Tem algum motivo? – Pergunta<br />
Margarida, curiosa.<br />
– Sim, é o nome de um grande personagem bíblico.<br />
Não sei o porquê, mas esta criança parece com alguém que já vi<br />
ou com quem convivi há muito tempo. Mas não é desta vida,<br />
ou melhor, não é nosso contemporâneo.<br />
Suavemente, o pensamento ou o subconsciente de João<br />
estava naquela criança que se materializou após a aparição dos<br />
irmãos X e Y.<br />
Margarida sorri ao responder.<br />
– Criança recém-nascida se confunde muito com outras<br />
pessoas. Daqui a pouco chega alguém e diz que ele se parece<br />
com o pai, outro diz que tem o nariz da mãe e as mãos da tia...<br />
– Só que essa semelhança me deixou intrigado. Vocês<br />
não acreditam, mas no momento em que peguei esta criança e<br />
coloquei no meu colo pela primeira vez, ele me fez um ar de<br />
riso, como se me dissesse que agora está tudo consumado, ou<br />
que conseguimos o que queríamos. Com certeza isto é coisa da<br />
minha cabeça!<br />
– Pare com isso João! Não ponha nada na cabeça. – Diz<br />
Clotilde. – Crie o meu sobrinho com carinho e tudo bem.<br />
– E trate de benzer contra quebranto, pois ele é muito<br />
bonitinho. – Completa Margarida.<br />
– É isso mesmo, – concorda João. – Preciso parar de<br />
imaginar o que não posso entender. Ah, lembrei-me que tenho<br />
de ligar para Oscar e Anita. Eles estão na Rússia a passeio, mas<br />
precisam saber das boas novas.<br />
362
Camila prepara-se para a<br />
chegada de seu segundo filho<br />
Após vários tratamentos para que sua segunda gravidez<br />
pudesse se consumar, pois seu grande objetivo era dar um filho<br />
para Luiz, Camila se prepara para ver confirmado o seu desejo:<br />
estar grávida.<br />
– Camila, meu amor, vamos ao medico! Afinal, hoje é<br />
o dia em que o Doutor Cláudio abrirá os exames para saber se<br />
você esta realmente grávida ou não.<br />
– Vamos sim, meu amor, apesar de que eu tenho certeza<br />
que aqui em meu ventre tem sim, sem dádiva, uma linda criança<br />
para brincar com Talita.<br />
Os dois se encaminham para o carro e seguem felizes até<br />
ao consultório do Doutor Claudio. No caminho, Camila comentava.<br />
– Mas como Talita é sortuda, você não acha meu amor?<br />
– É verdade, Camila.<br />
– Ela tem duas mamães, – diz Camila; – E dois excelentes<br />
pais!<br />
– Obrigado pela parte que me toca, – agradece Luiz.<br />
Assim, ambos seguiram felizes para o consultório. Ao<br />
chegarem, cumprimentam o médico e, após ele abrir os exames<br />
laboratoriais, olha para Camila com certa satisfação.<br />
– Parabéns, Camila. Você será mamãe outra vez, os exames<br />
deram resultado positivo. Após tantas insistências da parte<br />
de vocês e com vários tratamentos, você esta grávida, com absoluta<br />
certeza. – Afirma Doutor Claudio. – Agora é só seguir seu<br />
pré-natal que daqui alguns meses vocês serão pais de mais uma<br />
criança.<br />
Luiz, emocionado, não se contém. Mistura sorrisos e<br />
lágrimas de tanta alegria. Após saírem da clínica, Camila diz a<br />
Luiz que gostaria de dar as boas novas para Anita e Oscar. E Luiz<br />
363
completa: – Também para o Senhor João Eduardo e sua esposa.<br />
Camila segue rigorosamente os exames de rotina. Tomando<br />
as vitaminas recomendadas pelo medico, segue com total<br />
assistência de Anita e às vezes também de Izabel. As três se<br />
envolveram com aquela criança que estava para chegar com uma<br />
dedicação e amor incomparáveis, como se fosse filho de cada<br />
uma delas. João, Oscar e Luiz aguardavam com muita ansiedade<br />
a vinda do futuro bebê.<br />
A vida espiritual do futuro filho de Camila<br />
– O tempo passa e, aos cinco meses de gestação de<br />
Camila, Mãe Benedita recomenda a que ela faça alguns exames<br />
mais específicos em relação ao estado de saúde do bebê. A intenção<br />
daquela Entidade muitíssimo evoluída e sábia era prevenir e<br />
preparar o casal e os amigos, do que haveria de vir. Recomendou<br />
que não se preocupassem, pois o casal deveria aceitar os seus<br />
desígnios. Quanto ao Espírito do futuro filho de Camila e Luiz,<br />
nossa querida Mãe Benedita, que comandava com total dedicação<br />
e amor uma legião do bem, de Espíritos devotos à boa causa,<br />
ordenou que fosse plasmada em uma tela especifica para esses<br />
casos, a vida passada daquele Espírito que estava para reencarnar<br />
na condição de filho de Camila e Luiz. Só assim ela poderia<br />
analisar o melhor a fazer em prol de seu desenvolvimento físico<br />
e extrafísico. Enquanto não ficavam prontos os resultados dos<br />
exames laboratoriais pedidos pelo medico especialista cuidava<br />
do pré-natal de Camila, Mãe Benedita e os demais Espíritos<br />
colaboradores daquele pequeno centro espírita, após saberem<br />
com absoluta certeza o que causou toda a deformação naquele<br />
que seria o filho do casal, trabalham arduamente enviando energias<br />
benéficas em forma de passes magnéticos, tanto para o casal<br />
Luiz e Camila, como também para o Espírito, que estava sofrendo<br />
por causa dos abortos praticados por Camila. Mãe<br />
364
Benedita concluiu que se aquele fosse tratado com os devidos<br />
cuidados, sabendo de seu passado, tudo ficaria mais ameno em<br />
relação ao que teriam de enfrentar. Assim, os pais poderiam aceitar<br />
com resignação o resultado dos exames e receber aquela criança<br />
com muito amor, e aquele espírito reencarnaria também<br />
resignado e pronto para recomeçar a caminho da perfeição, sem<br />
se perder por séculos no mundo obscuro do Plano Espiritual.<br />
Quando os exames ficaram prontos, o casal, com muita<br />
preocupação e pensando no pior, ficou sabendo pelo médico<br />
que aquela criança não corria risco de vida, mas que iria nascer<br />
com retardamento mental e problemas de paralisia, tanto nos<br />
braços como nas pernas, e que seria totalmente dependente dos<br />
pais. Camila, ao receber a noticia chorou muito e se lamentou.<br />
Maldizendo, ao mesmo tempo ela pedia perdão ao seu marido<br />
dizendo que queria lhe dar um filho perfeito. Luiz, por sua vez,<br />
não se conformava, pois tudo estava planejado para receberem<br />
uma criança perfeita. Pensando dessa forma e com certa revolta<br />
de ambos, em seus subconscientes eles sentiam que Deus queria<br />
lhes castigar pelo que fizeram no passado, e com isto abriram a<br />
guarda em seus corpos astrais deixando uma pequena brecha<br />
para espíritos aproveitadores zombar deles, incutindo em seus<br />
pensamentos mais um crime: o aborto. Por sorte, Camila e seu<br />
marido estavam acompanhados de Anita no momento dos resultados<br />
dos exames, e imediato convenceram ambos a irem até<br />
a casa de Irmão Lazaro.<br />
Após um longo diálogo e também de excelentes orações<br />
em favor de ambos e daquela criança que estava no ventre de<br />
Camila, eles se acalmaram. Mesmo porque, Irmão Lázaro percebeu<br />
que havia influência de espíritos aproveitadores, então,<br />
pediu a presença de Mãe Benedita. Com isso, aproximou-se<br />
aquela boa Entidade e sua equipe, afastando por definitivo aquela<br />
legião de espíritos do maL.<br />
Após aquela pequena sessão particular, Camila e Luiz<br />
365
aguardaram com ansiedade o dia dos trabalhos espirituais que<br />
aconteciam semanalmente no pequeno centro espírita, na esperança<br />
de que houvesse uma saída para aquela situação que eles<br />
sentiam ser degradante.<br />
– Enfim chegou o grande dia, – comenta Camila. – Hoje<br />
haverá uma sessão no centro espírita onde trabalha Mãe Benedita.<br />
Assim que começam os trabalhos espirituais, logo chega<br />
a vez de Camila ser atendida.<br />
– Minha mãe, estou muito triste e decepcionada por<br />
não poder dar ao meu marido um filho prefeito. Luiz não se<br />
alimenta direito e vive pelos cantos se lamentando, e o meu<br />
bebe já esta quase para nascer. O que eu gostaria de saber é se<br />
existe alguma chance ou um milagre para que esta criança nasça<br />
perfeita.<br />
– Minha filha querida. – Responde Mãe Benedita com<br />
carinho. – Esta criança, ou seu espírito, sofreu muito em suas<br />
tentativas de reencarnar. Foram quatro abortos provocados, não<br />
é mesmo? Portanto, a cada tentativa dele reencarnar, havia uma<br />
interferência provocada pelo tal aborto. O que quero lhe dizer é<br />
que pesquisamos a vida espiritual do seu futuro filho e concluímos<br />
que em sua primeira tentativa de reencarnar ele escolheu<br />
você para ser sua genitora. Era um Espírito sem seqüelas. Lógico<br />
que egocêntrico, porém, perfeito em seu corpo astral. Mas a<br />
cada aborto que ele sofria, havia uma desordem em seu<br />
psiquismo. Em contrapartida, sentia o que o corpinho daquela<br />
criança que estava no ventre de sua futura mamãe sentia, digo,<br />
as dores no momento em que o feto estava sendo dissolvido ou<br />
sendo tirado aos pedaços do útero pelo veneno ingerido. Ou,<br />
em outra ocasião, quando ele fora sufocado até a morte, e em<br />
seguida, seu pequenino corpo fora jogado em um vaso sanitário<br />
e de lá foi para os esgotos. O sofrimento foi muito grande,<br />
tanto para aquele frágil corpinho, como também para o Espírito<br />
que estava ligado ao feto, pois já se faziam parte um do<br />
366
outro. O Espírito se decepcionava com a atitude da mãe que<br />
escolhera com muito amor. A cada aborto que ela praticava, ele<br />
sofria e regredia pela dor, angustia e o sentimento de rejeição.<br />
O Espírito que procura a reencarnação, renasce exatamente para<br />
cumprir suas tarefas em parceria com seus genitores. Lógico que<br />
há casos e casos, cada um com seu histórico. E neste caso, quando<br />
este Espírito tentou reencarnar por quatro vezes, é porque ele<br />
fora designado para renascer pelo intermédio daquela mãe. Exatamente<br />
pelo Espírito ainda não ter o esclarecimento suficiente,<br />
quer passar pela encarnação para praticar seu aprendizado que<br />
fora conquistado no Plano Espiritual. Mas por não ser ainda<br />
totalmente esclarecido, sente revolta e angústia, assim sendo,<br />
adquire sequelas horríveis em seu perispírito quando passa pela<br />
degradante situação do aborto. Imaginem vocês dois como é:<br />
Um ser humano, meio adulto, meio criança, digo, com parte<br />
do corpo adulto e outra metade criança, afirmo isto porque<br />
quando o Espírito esta em plena harmonia e aprendizado no<br />
Plano Espiritual ele é semelhante à forma que tinha no plano<br />
terrestre em sua última passagem. Mas quando decide reencarnar,<br />
se inicia um processo para voltar e esquecer as vidas passadas.<br />
Quando aconteceu o primeiro aborto, aquele Espírito estava<br />
exatamente passando por essa metamorfose.<br />
No plano físico esse fenômeno acontece exatamente ao<br />
contrário: todos nascem como crianças e aos poucos se tornam<br />
adultos. Imaginem um de vocês sendo despojado ou arrancado<br />
aos pedaços de um lugar com vida, onde só cabe uma pessoa e<br />
mais nada. Como vocês se sentiriam? Quanto ao pai, eu vos<br />
afirmo: ele também, de alguma forma está envolvido neste processo,<br />
mas não há necessidade de comentários, pois cada caso é<br />
um caso.<br />
Sem que houvesse nenhum tipo de acusação por parte<br />
de Mãe Benedita, logo após um breve silêncio, tanto Luiz quanto<br />
Camila reconheceram naquele momento porque deveriam<br />
367
eceber aquela criança que estava para nascer com amor e muita<br />
dedicação. Luiz colocou as mãos sobre o ventre de Camila com<br />
aprovação e com muito carinho, e chorando dizia:<br />
– Meu querido filho, você será bem-vindo. Não tenha<br />
medo, pois iremos lhe proteger com nossas próprias vidas.<br />
– Eu lhe garanto, – disse Camila.<br />
– Eu também prometo proteger-lhe acima de minha<br />
própria vida.<br />
Naquele momento, a criança precipitou-se mexendo no<br />
ventre da mãe para um lado e para o outro, como que se estivesse<br />
entendendo e recebendo o afeto de seus pais. Todos os médiuns<br />
que estavam fazendo parte daquela corrente presenciaram<br />
o momento de emoção que comoveu a todos. Mãe Benedita<br />
pediu que os todos se reunissem em volta do casal para louvar e<br />
agradecer a Deus e aos bons Espíritos que faziam parte daquela<br />
legião de amor. – Que bom! – Resmunga Mãe Benedita. –<br />
Mais um caso resolvido com êxito total. Louvado seja Deus em<br />
sua infinita bondade e sabedoria.<br />
Após alguns dias, Camila se dirige ao hospital para dar à<br />
luz e seu medico, antes de conduzi-la para a sala de cirurgia,<br />
convida o casal para irem até sua sala, propondo a eles que se<br />
quisessem, ambos poderiam acabar com o sofrimento, tanto do<br />
casal, quanto da criança, e aquele momento seria a grande oportunidade.<br />
Os honorários lhes custariam um pouco mais, mas<br />
poderiam até ser parcelados. Camila e Luiz responderam não,<br />
literalmente não.<br />
– Nós queremos criar esta criança com amor, porque nós o<br />
amamos em Espírito. E lhe digo mais, – continuou Luiz. – A<br />
partir de agora, a vida desta criança está em suas mãos Doutor<br />
Claudio, e lembre-se: o senhor é o grande responsável pela vida<br />
do nosso bebê. Faça um bom serviço para que ele não sofra, do<br />
contrário, a responsabilidade será só sua.<br />
– Percebo que o senhor não conhece o verdadeiro amor,<br />
368
– argumenta Camila. Nós amamos esta criança de corpo e alma.<br />
Para este Espírito se recuperar de seus traumas e seguir a caminho<br />
da perfeição, se faz necessário que lhe doemos muito amor,<br />
não importando seus defeitos físicos. Gostaria doutor, de ter<br />
aprendido o que é o verdadeiro amor bem mais cedo.<br />
O médico ficou totalmente surpreso e desconcertado,<br />
sem saber o que dizer, sem não ter nem como olhar para o rosto<br />
do casal. Após Camila ser encaminhada para a sala de cirurgia,<br />
Luiz exigiu que também participar do parto de sua esposa. Logo<br />
após, com muita dificuldade, o médico e seus auxiliares conseguem<br />
trazer aquela criança ao mundo.<br />
Após a criança nascer, com carinho e muito amor doado<br />
por Mãe Benedita, foram dados vários passes naquele bebê deformado<br />
por consequência de quatro abortos praticados por Camila.<br />
Após varias sessões naquela casa de caridade, a criança cresce em<br />
plena harmonia. Seu Espírito havia sido curado de seus problemas<br />
psíquicos e traumáticos e assim fora libertado de seus pesadelos.<br />
Isso havia sido notado pelos amigos e membros do centro<br />
espírita, porque aquele menino era extremamente meigo e de uma<br />
inteligência fora do comum. Mesmo com seus defeitos físicos, a<br />
cada dia em que o menino chegava de suas aulas especiais surpreendia<br />
seus pais, demonstrando estar bem acima de uma criança<br />
normal em sua sapiência. O cérebro daquela criança continuou<br />
com sequelas, mas a inteligência do seu Espírito fora restaurada<br />
pelos excelentes psicólogos e psiquiatras do Plano Espiritual, e<br />
também pelo amor doado pelos seus pais.<br />
Dois anos depois, na casa de João e Izabel<br />
– O nosso querido Daniel é dotado de uma inteligência<br />
muito acima do normal, ele assimila tudo com uma facilidade<br />
enorme, – comenta Izabel. – Eu sei que você gosta muito dele,<br />
mas quero ouvir da sua boca. João, você ama nosso Daniel?<br />
369
– Amo, amo acima da minha própria vida. Mas por que<br />
a pergunta?<br />
– Porque eu sinto um amor tão forte por ele, que não<br />
sei como definir. Às vezes chega até a me incomodar. E a sua<br />
beleza também, pois verdadeiramente ele é de um semblante<br />
angelical.<br />
Na casa do Irmão Lázaro<br />
Irmão João, com a sua evolução mediúnica já adquirida<br />
em nosso pequeno centro espírita, você está apto e tem permissão<br />
para dar passes nas pessoas que vêm nos procurar. O Irmão<br />
Y designou um Espírito de sua equipe para acompanhá-lo e trabalhar<br />
com você, ele se chama Irmão Z. Quero dizer, este não é<br />
o nome dele, mas é assim que ele irá se identificar até a conclusão<br />
de seu total desenvolvimento mediúnico. Assim que você<br />
estiver bem sintonizado com esse espírito, você trabalhará com<br />
mais dois irmãos de muita luz.<br />
– E quem são esses irmãos? São quem estou pensando?<br />
– Exatamente, são eles mesmos. O casal de Pretos-Velhos,<br />
e como auxiliar deles você terá...<br />
– Já sei, aqueles dois que nós chamamos de Exus, os que<br />
estavam na entrada da mata no dia em que se passou aquele<br />
fenômeno de materialização comigo.<br />
– Viu como você está preparado?<br />
– Só porque acertei quem são os auxiliares?<br />
– Não só por isso, mas por sua convicção.<br />
370
Após três anos, Irmão Y e<br />
sua equipe se manifestam<br />
– O que faz aqui Mentor? Veio comandar a nossa equipe?<br />
– Pergunta irmão Y.<br />
– A missão é sua, Irmão Y. – Responde o mentor.<br />
– Então por que está aqui? – Pergunta Irmão Y com<br />
carinho, porém, com certa preocupação.<br />
– Bem, já faz cinco anos, pela contagem na Terra, que<br />
você está com essa missão como guardião do irmão X (Daniel),<br />
e agora vem o mais difícil.<br />
– Como assim, meu bom Mentor?<br />
– Está quase no tempo do Irmão X retornar para o<br />
mundo espiritual.<br />
– Não, não, como pode? Ele tem de voltar para o mundo<br />
espiritual?<br />
– Sim, é assim que deve ser...<br />
– Mas e a família? Eles o amam!<br />
– Nós também o amamos.<br />
– Essa família entrará em desespero total! – Responde<br />
Irmão Y.<br />
– Você precisa de se conter Irmão Y, pense em Deus, são<br />
seus desígnios. Chegou o seu tempo ou o final de mais uma<br />
etapa. Os frutos têm de ser colhidos na época certa. Nossa mãe,<br />
que é a mãe de Jesus também, sofreu com a passagem de seu<br />
amado filho, mas seu tempo havia chegado. Esse tempo que<br />
Irmão X passou na Terra foi o mesmo que ele regrediu no Plano<br />
Espiritual, portanto, seu regresso para é inevitável, pois essa é a<br />
Lei do Universo, e não podemos acrescentar nenhuma vírgula.<br />
Por isso temos que aceitá-las com resignação e amor, Irmão Y. E<br />
lembre-se: João, por ter consciência das consequências, tendo<br />
concordado com aquela condição e sucessivamente com o incentivo<br />
de sua esposa, lhes foi concedido pela Espiritualidade<br />
371
tudo o que se passou na vida deles, afinal, é para isso que existe<br />
o livre-arbítrio. No entanto, João e sua esposa e também o Irmão<br />
X, sabiam que haveria consequências. Não haveria a necessidade<br />
de reencarnar se ele não tivesse aceitado aquele tipo de<br />
pedido ou desafio. Como você sabe muito bem, Deus não<br />
castiga ninguém, porém lhe afirmo meu bom irmão, que literalmente<br />
isso é causa e efeito. Mas pela afinidade ou parentesco<br />
de vidas passadas dos três, João, Izabel e irmão X fraquejaram,<br />
ignorando as Leis do Universo. Então, afirmo com toda segurança<br />
que esse acontecimento pode-se chamar sim de causa e<br />
efeito. Agora, diante das Leis do Universo ele terá de voltar. Pelo<br />
que consta na nossa constituição, ou melhor, na nossa lei, ele<br />
voltará no tempo certo, dentro do prazo determinado pelos<br />
nossos superiores. Não será uma passagem prematura, nem um<br />
dia a mais ou a menos. Essa é a lei que Deus deixou no Universo.<br />
O Espírito resgata o que tem para resgatar. Lembre-se que a<br />
terra é o plano de expiação, isso para nós é normal. Para os atuais<br />
pais e familiares haverá choro, por não serem eles conhecedores<br />
da verdade ou a realidade dos dois mundos. Mas por ser Irmão<br />
X um Espírito muito sábio e de muita luz, por instinto ele saberá<br />
contornar a situação sem que haja desespero total ou angústia<br />
dos familiares. E com o passar do tempo eles entenderão e até se<br />
alegrarão por saber que há um Espírito de tanta luz, um anjo<br />
verdadeiramente na família.<br />
– Eu insisto meu bom irmão, como vai ficar essa<br />
família, meu Deus?<br />
– Falta um ano para isso acontecer. Lembre-se que isso<br />
acontece todos os dias, em outras famílias e em toda parte do<br />
planeta. Você estará muito mais ativo junto aos familiares de<br />
João fazendo desde já uma preparação para quando isso acontecer.<br />
Não haverá tanto desespero, pois eles conhecem em parte<br />
como é o nosso mundo. Eles estão informados da melhor maneira<br />
possível, tanto pelos bons professores que temos no mun-<br />
372
do astral, como também pelos bons livros no plano físico que<br />
eles leem, e temos também o nosso grande e querido médium,<br />
o Irmão Lázaro, que no plano terrestre lhes passa bons<br />
ensinamentos. Tudo dependerá da tua força e da sua fé, a sua<br />
convicção da verdade ou da realidade. Você será a força da sua<br />
equipe, e a força da sua equipe será à força daquela família.<br />
– E quanto aos espíritos inferiores, meu bom mentor?<br />
Designará outra equipe para afastá-los do local familiar?<br />
– Irmão Y, não se preocupe com isso. Fique tranquilo,<br />
pois já tomamos as devidas providências quanto à passagem do<br />
Irmão X. Ele é um espírito esclarecido e de muita luz.<br />
Na Terra<br />
Na casa do pequeno Daniel, seus pais recebem a visita<br />
de Margarida e Clotilde, e os quatros não se cansam de admirar<br />
a criança tão bonita e muito amada.<br />
– Você vê João, o Daniel está com cinco anos e já lê<br />
qualquer livro corretamente. Como pode?<br />
– E as pinturas desse menino, que espetáculo! Cada quadro<br />
maravilhoso. Você viu aquele, Clotilde? São nuvens com<br />
uma porta se abrindo.<br />
É, realmente ele é fora de série, – concorda Clotilde com<br />
a empolgada Margarida.<br />
– O que vocês esperavam, afinal, ele é meu filho! – diz<br />
João, orgulhosamente.<br />
– Convencido, – diz Izabel em tom de brincadeira.<br />
– Você sabe que estou brincando, Izabel.<br />
– Todas nós sabemos, meu irmão. – Responde Clotilde.<br />
– E por falar em filho, como está o meu querido sobrinho<br />
Juarez? Nós sabemos que ele veio com você da França, onde<br />
vocês residem atualmente, mas ainda não tivemos a satisfação<br />
de vê-lo.<br />
373
– É como lhe disse meu irmão, ele foi passar uns dias<br />
com os avôs paternos. Depois que mudamos para a França ele<br />
está mais educado. É que lá as escolas aplicam muito mais etiqueta.<br />
Juarez fala muito de vocês e não se esquece do nosso<br />
irmão Lázaro, aquele médium maravilhoso, que muito colaborou<br />
para a sua cura. Ele faz questão de visitá-lo e de matar as<br />
saudades de vocês agora nessas férias que estamos passando aqui<br />
no Brasil. Por falar nisso, eu gostaria de convidar o Irmão Lázaro<br />
para estar conosco na formatura de Juarez. Ele irá se formar<br />
médico, e na festa de formatura gostaria da presença de vocês,<br />
que são pessoas que tiveram muita importância em nossa vida.<br />
As passagens e estadias para a França, tanto de ida quanto de<br />
volta, serão por minha conta. E quanto ao nosso irmão Lázaro,<br />
Juarez faz questão de receber a sua bênção na ocasião de sua<br />
formatura O nosso Irmão Lázaro ainda mora no mesmo lugar<br />
não mora? Estou lhe perguntando porque ele também é nosso<br />
convidado de honra.<br />
– Irmão Lázaro, Mora aqui – João aponta para o coração,<br />
deixando que as lágrimas rolem de seus olhos, lavando seu<br />
rosto.<br />
– Eu não entendi. Como assim, mora aqui?<br />
– Ele deu passagem, minha irmã, voltou para o nosso<br />
verdadeiro mundo, o mundo real, para o mundo dos Espíritos,<br />
minha irmã. Quando ele se foi, deixou um abraço fraterno para<br />
você, seu filho e para Clotilde. E pediu para nós não chorarmos<br />
por ele, pois ele tinha a convicção de que tudo ficaria bem. Com<br />
certeza ele tem muita luz e pediu, por favor, que nos alegrássemos,<br />
pois se assim o fizéssemos ele também estaria alegre em<br />
sua viagem de volta ao seu lar.<br />
– E faz tempo que ele morreu? – Pergunta Margarida.<br />
– Não, não faz, mas ele já nos enviou uma mensagem e<br />
continua nos ensinado com muito devotamento.<br />
– E por intermédio de quem ele enviou essa mensagem?<br />
374
– Pergunta Clotilde. Onde você achou um médium de<br />
psicografia? Pelo que sei, esse tipo de mediunidade é muito raro.<br />
– Vocês não vão acreditar! Izabel e eu estamos assustados!<br />
– Diz João, cautelosamente.<br />
– Fale logo João! Nós o conhecemos? – Pergunta a impaciente<br />
Clotilde.<br />
– Quem psicografou foi o Daniel.<br />
– Daniel? – Perguntam as duas irmãs com grande admiração.<br />
– Como isso é possível?<br />
– Você não acreditam, não é? Pois vou lhes mostrar.<br />
João sai da sala e retorna logo com um papel cuidadosamente<br />
dobrado nas mãos.<br />
– Estou muito preocupado com tudo isso. Isto aqui<br />
minhas irmãs, é a mensagem que Daniel psicografou. Vou ler<br />
para vocês.<br />
“Meu irmão João, pela permissão de nossos Mentores,<br />
usei a mão de seu filho para enviar esta mensagem de amor à sua<br />
querida família, pois a mão de um Anjo é suave e meiga e por eu<br />
ter este privilégio, agradeço muito primeiramente a Deus e aos<br />
Espíritos nossos superiores, os Mentores da colônia onde resido<br />
atualmente. Quero que saibam que estou indo muito bem em<br />
meu novo aprendizado e em meu novo lar. O labor é muito,<br />
mas estou praticando para continuar a trabalhar com afinco,<br />
por amor a Deus, aos nossos companheiros deste plano e também<br />
em prol dos nossos irmãos que aí estão no plano físico.<br />
Em um futuro bem próximo, quando a mim for permitido,<br />
estarei aí por perto para revê-los. Agradeço também todo o carinho<br />
que recebi de sua família. Nosso querido Juarez logo vai se<br />
formar e você receberá notícias dele pessoalmente, por intermédio<br />
de sua mãe. Ele será um grande médico, auxiliando as pessoas<br />
mais necessitadas, pois Juarez é um espírito de grande elevação<br />
e vem na vanguarda de grandes homens. E você, meu bom<br />
375
amigo, não se preocupe com o futuro, pois tudo deve se aceitar<br />
pela misericórdia Divina e os desígnios do Altíssimo.<br />
Até breve, com estima e amor. Um forte abraço!”.<br />
Pasma, mas sem perceber o consolo amigo que o médium<br />
tentava transmitir, já prevendo o que teria de acontecer<br />
para João e familiares, Margarida comenta:<br />
– Que fantástico!<br />
– Fantástico? Isso é assustador! – Retruca Clotilde.<br />
– Eu estou muito preocupada com isso, – diz Isabel.<br />
– Estamos sem saber o que fazer, ele é muito novinho, –<br />
responde João.<br />
E assim, todos ficaram com suas preocupações. Com o<br />
assunto em pauta e as conclusões que a mensagem lhes transmitiu,<br />
cada um teve o seu entendimento. A intenção do irmão<br />
médium era amenizar ou prepará-los para o que haveria de acontecer.<br />
Oscar e Anita, frequentadores assíduos do centro, também<br />
não sabiam o que dizer quando tomaram conhecimento<br />
da psicografia.<br />
No Plano Astral<br />
– Você já sabe da passagem de seu médium Lázaro,<br />
Irmão Y?<br />
– Eu senti a ausência dele na minha sintonia em seu lar<br />
no plano físico, digo, em seu centro. Mas logo eu estive com<br />
ele, na ocasião em que ele mandou uma mensagem para João e<br />
Izabel por intermédio de Daniel.<br />
– É isso mesmo, agora ele está em nosso mundo.<br />
– E posso vê-lo?<br />
– Você tem este direito. Qual a finalidade da visita a<br />
Lázaro?<br />
– Comunicar-se com o amigo e ajudá-lo a confortar a<br />
família para o que está por vir.<br />
376
Onde está o médium? O meu amigo e grande companheiro de<br />
varias batalhas?<br />
– Aguarde um momento, estou entrando na sintonia<br />
dele, logo ele estará aqui<br />
Alguns segundos depois surge o bom Irmão Lázaro. É<br />
com grande emoção, que o bom médium encontra-se com irmão<br />
Y, uma das Entidades que tanto o auxiliou em seu caminho<br />
de trabalho e total dedicação abnegação ao próximo no<br />
plano terrestre.<br />
– Você está muito bem! Está gostando do nosso mundo?<br />
– É realmente maravilhoso, é fascinante... – Responde<br />
Lázaro.<br />
– Pois se prepare Irmão Lázaro, pois haverá muito o que<br />
fazer por aqui.<br />
– Estou pronto, disposto e um tanto quanto ansioso<br />
para novas experiências em outras tarefas.<br />
– Agora Irmão Y, iremos conduzir o Irmão Lázaro até<br />
seu local de trabalho. – Afirma o mentor. Ele foi designado para<br />
participar de uma equipe que tem a especialidade de resgatar<br />
espíritos que estão se desligando de seus corpos no plano de<br />
expiação, a Terra, principalmente por acidentes em rodovias, a<br />
maioria com morte prematura. Bom trabalho Irmão Lázaro.<br />
No começo será difícil, mas logo você se acostumará.<br />
Enquanto o Mentor se afasta acompanhado pelo médium<br />
Lázaro, Irmão Y os observa sentindo uma gratidão imensa<br />
por aquele Espírito que quando habitava a Terra, havia demonstrado<br />
tanta convicção, dedicação, amor, fé e caridade, dando<br />
a ele, Irmão Y, e a tantos outros Espíritos, a oportunidade de<br />
propagar o bom trabalho espiritual na Terra, e com isso ter a<br />
oportunidade de seguirem a caminho da perfeição.<br />
377
Na Terra, algum tempo depois<br />
É em clima de muita dor, mas também com resignação,<br />
que vamos encontrar quatro pessoas a se consolarem.<br />
–Temos que nos conformar com a passagem de Daniel<br />
e aceitar com amor, pois ele era muito especial. Com certeza<br />
voltou para o seu labor espiritual, – diz Izabel, enquanto as lágrimas<br />
lhe correm pelo rosto.<br />
– Eu já aceitei a passagem dele com resignação, afinal,<br />
agora eu entendo o porquê, e sinto-o muito próximo de mim.<br />
– Papai, o que você ira fazer com as roupas e brinquedos<br />
do meu irmãozinho? – Pergunta Gabi a João Eduardo.<br />
– Vou doar para crianças carentes. Que mais me resta<br />
fazer com estas coisas Gabi? Pelo menos serão úteis a alguém.<br />
Junior, tentando consolar seus pais, lhes diz: – Fiquem<br />
tranquilos, pois com certeza ele está com Deus.<br />
– Vamos ao quarto agora mesmo separar o que doar<br />
João, pois desmanchando o seu quarto, será menos sofrido para<br />
nós, – diz Izabel.<br />
– Assim poderemos lembrar de nosso querido Daniel<br />
só em ocasiões especiais, e deixar que ele siga sua nova vida espiritual<br />
em paz. Não devemos ficar nos lastimando a todo o momento,<br />
pois assim ajudaremos muito a sua caminhada e progresso<br />
espiritual. – Conclui João.<br />
Todos se encaminharam ao quarto de Daniel para realizar<br />
a tarefa, cúmplices de estarem próximos do ente querido<br />
que os deixara. E, entre um brinquedo e outro, um quadro e<br />
outro, João vai exclamando com muita admiração.<br />
– Olhe só, veja bem este quadro que Daniel pintou! É<br />
idêntico àquela visão que tive quando estava fazendo o curso de<br />
fotografia, agora que consegui analisar os detalhes. É incrível,<br />
parece uma porta entre as nuvens e alguém saindo de dentro<br />
dela.<br />
378
– É mesmo! Que impressionante mamãe, – responde<br />
Junior. – Eu me lembro que há muito tempo você comentou<br />
sobre essa visão, quando estava fazendo a foto lá no curso.<br />
Enquanto João e Izabel conversavam, Gabi lia alguns<br />
escritos de Daniel, e um deles lhe chamou a atenção.<br />
– Papai, mamãe, é incrível! Leiam com atenção, vejam<br />
que impressionante.<br />
– Deixe-me ver, minha filha.<br />
– Antes papai, me responda. O senhor lembra-se bem<br />
da caligrafia do Daniel?<br />
– Lógico Gabi, que pergunta minha filha! Como seu<br />
pai, eu não poderia me esquecer. Afinal, a letrinha dele era inconfundível.<br />
– Então leia com atenção. – Diz calmamente Gabi.<br />
– Meu Deus, tudo se encaixa! Agora eu entendo tudo e<br />
sei que tenho de trabalhar muito para resgatar o que fiz e o que<br />
não deveria ter feito. Nesta carta ou mensagem está muito claro.<br />
Daniel nos afirma, com toda convicção, que nosso bisavô,<br />
que deu passagem em sua total velhice e que após algum tempo<br />
no plano astral reencarnou com o nome de Xavier, viveu em<br />
nosso mundo até sua tenra juventude, era nosso parente, primo<br />
em terceiro grau. Izabel, procure lembrar-se daquele nosso primo<br />
que deu a vida naquele incêndio para salvar seus amigos.<br />
– Entendo, – responde Izabel.<br />
– Agora está tudo claro para mim, inclusive minha irmã<br />
mais velha estava junto com aqueles jovens no dia do incêndio,<br />
e entendo também, que por sua missão ou carma ter se cumprido,<br />
ele voltou para o Plano Espiritual e, após um bom tempo<br />
de aprendizado, pediu aos Espíritos Superiores para fazer frente<br />
aos problemas que tanto nos afligiram, exatamente quando mais<br />
precisávamos de ajuda. A pedido dele, ou sob seu comando,<br />
aquele bom mensageiro que incorporou em padre André me<br />
conduziu até aquela praça, onde tive a grande oportunidade de<br />
379
conhecer meu bom amigo e irmão, o nosso bom José. A partir<br />
dali, conseguimos, com a ajuda de Oscar e Anita, chegar até<br />
aquela boa casa de caridade ao centro espírita, onde fomos recebidos<br />
com todo carinho e devoção, tanto daqueles médiuns que<br />
lá trabalham, como também pelos bons espíritos abnegados e<br />
Irmão Lázaro. Agora sim me vem a lembrança e a convicção de<br />
que seu bisavô, após a morte, reencarnou com o nome de Xavier.<br />
Assim sendo, em sua tenra juventude Xavier viveu entre nossos<br />
parentes. E ainda jovem ele deu passagem para a Espiritualidade,<br />
e como Espírito ele se identificava como irmão X. Ao ver todo<br />
o nosso sofrimento, veio em nosso socorro quando mais precisamos,<br />
ou seja, na pior fase de nossas vidas. Se identificando<br />
como irmão X, pois se ele se identificasse como Xavier, seria<br />
mais difícil para que nós acreditássemos, ou como nosso parente<br />
seria bem mais difícil todo o trabalho dele em nosso favor. E<br />
foi exatamente naquela igreja que ele encontrou os meios para<br />
nos ajudar, através daquele mensageiro, aceso na pessoa de padre<br />
André. Então ele se identificando como irmão X no médium<br />
Irmão Lázaro, pois durante nosso tratamento espiritual não seria<br />
bom sabermos que Irmão X era o mesmo espírito do jovem<br />
Xavier, e sucessivamente o seu bisavô, que se chama também<br />
Daniel, seu bisavô Izabel, ou melhor, “nosso” bisavô.<br />
– Como irmão X ou Xavier ele se foi ainda jovem, porque<br />
tinha pouco a resgatar e por sua elevação espiritual quando<br />
desencarnou. Não seria mais necessário que retornasse ao nosso<br />
plano de expiação. Quando nossa família estava sendo destruída,<br />
ele entrou em ação e trabalhou intensamente em prol de nossa<br />
recuperação, por amor a nós e pela necessidade de trabalhar para<br />
evoluir em sua caminhada espiritual também. Mas a sua caminhada<br />
como Irmão X fora interrompida por um capricho nosso,<br />
ou por amá-lo demais. A bem da verdade, nós exageramos<br />
João, passamos dos nossos limites.<br />
– Mas também foi por amor que Irmão X se mostrou<br />
380
para nós naquela materialização maravilhosa. Ele não soube dizer<br />
não, pois assim ele era em sua vida terrena, de um coração<br />
maior que seu corpo, no bom sentido da palavra. E para que<br />
isso fosse possível, houve um desdobramento fantástico, um<br />
esforço descomunal, fora do comum, e nas, naquele dia, não<br />
conseguimos associar Irmão X com o nosso primo Xavier. Eles<br />
passaram por muitas dificuldades para que nós entrássemos em<br />
sua dimensão, a dimensão daqueles irmãos queridos e de muita<br />
luz. Por ser Irmão X de nossa família, ele interrompeu sua vida<br />
espiritual e sucessivamente regrediu em seu aprendizado, e teve<br />
de reencarnar por pouco tempo. Reencarnou em nossa família<br />
como Daniel, também por amor e pelos desígnios, ou pela lei<br />
causa e efeito, pois assim cumpriu-se a Lei do universo.<br />
– Na condição de pai do nosso Daniel, realmente você<br />
faz parte da família do meu bisavô, de alma e de sangue – afirma<br />
Izabel, – pois era tudo o que ele queria. O meu bisavô lhe amava<br />
muito e o considerava como seu bisneto, como se fosse de<br />
seu sangue e alma. Mas acontece que após a sua morte, descobrimos,<br />
depois de muito tempo de casados, que aquele amor<br />
dele por você meu querido esposo, não era por acaso. Após casados<br />
ficamos sabendo pela sua tia que tínhamos um parentesco,<br />
ou seja, tanto eu como também você, temos o mesmo sangue<br />
de nosso bisavô.<br />
Comovido pela emoção e chorando pelo que o momento<br />
lhe proporcionava, João responde a Izabel.<br />
– Você se lembra quando nós nos vimos pela primeira<br />
vez?<br />
– Ainda éramos duas crianças, – afirma Izabel.<br />
– Da mesma maneira que ele lhe amava, tinha também<br />
um aconchego muito grande por mim. Depois, fomos um para<br />
cada lado, e em seguida ele morreu. Mas o destino nos colocou<br />
frente a frente novamente, quando ficamos adultos.<br />
– Lembro-me muito bem, e ele falava que gostava mui-<br />
381
to de você, como se fosse bisneto dele. E dizia que você teria de<br />
pertencer à nossa família, custasse o que custasse. Ele queria ser<br />
seu bisavô de verdade, ele queria que você tivesse o sangue dele.<br />
– E graças a Deus eu tenho o sangue dele. – Responde<br />
João, emocionado.<br />
Momentos de reflexão<br />
Um grande silêncio pairou no ambiente e fez-se sentir<br />
uma paz total, enquanto João fazia sua palestra aos atentos ouvintes,<br />
os seus familiares.<br />
– Com a certeza absoluta de que todo ser humano, um<br />
dia tem deve se desligar da matéria, devemos aceitar que esta<br />
vida é só uma passagem, uma viagem de ida e volta, e que o<br />
nosso corpo físico é uma prisão, onde temos a oportunidade de<br />
realizar nossos acertos e resgate de vidas passadas, também conhecido<br />
como carma. Onde há sol, também deve haver a sombra,<br />
se existe a luz também há trevas, e nós, seres físicos ou<br />
extrafísicos, somos às vezes luz, outras vezes trevas, porque, por<br />
mais que nos julguemos bons, também temos nossos pensamentos<br />
ruins, nossas falhas. Às vezes somos bem intencionados,<br />
mas às vezes fraquejamos diante de situações, portanto, nem<br />
sempre somos bons e nem sempre somos maus, mas temos<br />
nossos pontos fracos.<br />
Segundo a Bíblia, no Velho Testamento consta que Deus<br />
disse: ‘Faça-se do homem, à minha imagem e semelhança’. Nós<br />
somos a semelhança de Deus, mas em verdade, o mais importante<br />
é a semelhança em Espírito, porque somos uma partícula<br />
do amor e do Espírito de Deus, o Espírito em sua essência. Afirmo:<br />
somos semelhança de Deus em Espírito. A carne morre, é<br />
um invólucro. Vem da terra e volta ao pó da terra, porque o<br />
corpo físico é com toda certeza a semelhança da terra em sua<br />
composição, mas o espírito, esse sim prevalece, porque é pura<br />
382
energia, semelhante à energia cósmica. É a energia de Deus também<br />
em sua composição.<br />
Somos uma micro célula de Deus, como o filho que contém o<br />
sangue de seu pai, portanto, somos parte do Espírito de Deus.<br />
Somos sua semelhança em espírito, portanto, o corpo físico não<br />
é o principal, porque desintegra, morre. O Espírito sim, esse é<br />
eterno.<br />
De um lado sofremos pela perda do nosso querido<br />
Daniel, e do outro nos sentimos felizes por ele ser eterno, e<br />
também por ter a grande oportunidade de conviver alguns anos<br />
com um anjo aqui, em nosso lar, exatamente aqui, dentro desta<br />
casa. E devemos analisar com calma e carinho as Leis do Universo,<br />
criadas por Deus em sua infinita sabedoria e eterna bondade.<br />
Pensem bem, qualquer ser humano, por mais esclarecido que<br />
seja, por mais que tenha um bom nível de escolaridade, seja<br />
advogado, jurista, médico, intelectual etc., suas leis são falhas,<br />
suas obras imperfeitas. Mas as obras de Deus não têm falhas e<br />
nem imperfeição.<br />
Então, nosso bisavô, que é também Daniel, que é também Irmão<br />
X, reencarnou como nosso querido Daniel, veio nos ensinar<br />
em suas três vidas!”.<br />
Izabel, com as seguintes palavras, resume tudo o que<br />
fervilhava em seus pensamentos naquela pausa dada por João.<br />
– O nosso bisavô veio constituir uma família e ensinou<br />
a seus filhos com amor. Irmão X, como seu sucessor perante<br />
Deus, intercedeu por nós nos momentos dificílimos de nossas<br />
vidas, ajudando-nos a reconstituir os pedaços de nossa família.<br />
E o nosso Daniel nos ensinou o respeito que devemos ter pelo<br />
desconhecido, nos mostrou a verdade. Agora, só nos resta elevar<br />
nossos pensamentos com humildade, respeito e amor a Deus,<br />
entregar nossos corações ao Pai que está no Céu, rogando-lhe<br />
que conduza o nosso Daniel ao mais alto escalão, entrando na<br />
sintonia dele com muito amor em nossos corações.<br />
383
No Plano Espiritual<br />
– Mentor, veja aqueles irmãos que acabam de chegar da<br />
Terra. Olhe quem está com eles.<br />
– Olhe só, é o Irmão X! – Exclama Lázaro, o médium,<br />
com muita admiração. – Daniel não sabe que ele é o mesmo<br />
irmão X ou Xavier? – Pergunta Lázaro, o médium.<br />
– Não – afirma o mentor, – ele ainda não sabe. Mas<br />
com sua ajuda Irmão Lázaro, e por você ser recém-chegado do<br />
plano físico, ele irá se entrosar e entender com mais facilidade<br />
quem foi em suas vidas passadas.<br />
– Mas por que será mais fácil, se ainda estou passando<br />
por um processo primário de aprendizado, irmão Mentor?<br />
– Porque você, sendo recém-chegado em nosso plano,<br />
ainda conserva características residuais de seu corpo físico, por<br />
isso ele se identificará melhor com você. Você poderá ser muito<br />
útil neste processo, e assim que fizermos os trabalhos de regressão,<br />
plasmando as duas vidas passadas, o então irmão Daniel<br />
concluirá com muita facilidade todo seu histórico, assim como<br />
você e outros, que entenderam que é só no mundo de expiação<br />
que esquecemos as nossas vidas anteriores, para que possamos<br />
cumprir nossos desígnios sem nos martirizarmos pelos nossos<br />
erros cometidos no passado. Aqui, nós, pela misericórdia divina,<br />
temos a oportunidade das lembranças de quem somos, de<br />
quem fomos e de onde viemos.<br />
– E como funciona essa técnica de plasmar vidas passadas,<br />
irmão mentor?<br />
– Veja bem meu Irmão Lázaro, nós aqui usamos muito<br />
a telepatia, o subconsciente ou o psíquico, portanto, a nossa<br />
memória nunca se apaga. Com isso conseguimos armazenar tudo<br />
que se passou em nossas vidas passadas, mas quando<br />
reencarnamos, nossa memória fica guardada, como se fosse um<br />
arquivo. A bem da verdade é um arquivo em nosso subconsciente.<br />
384
Vamos fazer a seguinte comparação: a memória do ser encarnado<br />
é extremamente limitada, ele precisa arquivar o histórico de<br />
sua vida em maquinas, livros, cadernos, diários etc. Quando o<br />
ser humano quer lembrar-se de algo que se passou em sua vida<br />
terrena, usa fotografias ou máquinas como o computador. Nós,<br />
no Plano Espiritual, usamos o subconsciente, e com isto plasmamos<br />
nossos históricos de vidas passadas pelo conceito telepático,<br />
e o nosso subconsciente torna-se consciente. O esquecimento<br />
para quem reencarna é necessário para que o Espírito<br />
possa trabalhar e resgatar sem traumas suas dívidas, em harmonia<br />
com o perispírito.<br />
– E quanto aos gananciosos, criminosos, suicidas, bruxos<br />
e outros meu irmão mentor, como deve ser?<br />
– Alguns deles entendem seus erros, como ódio, vingança,<br />
etc. e voltam para o bem. Lógico que há casos e casos, e<br />
que esses Espíritos passarão por um processo demorado ou varias<br />
reencarnações para seu aprendizado. Por quê? Porque os que<br />
passam por um processo mais lento, têm que ter um aprendizado<br />
mais específico, por serem muito mais apegados à vida terrena<br />
ou aos seus bens materiais. Quando os mesmos assimilam bem<br />
suas aulas e renunciam ao que deixaram na Terra, aceitando aprendizado<br />
nas boas colônias espirituais, se tornam excelentes companheiros,<br />
prontos para grandes missões, pela pujança que sempre<br />
tiveram. Outros se precipitam e voltam para o mundo de<br />
expiação, reencarnando na Terra sem nenhuma preparação ou<br />
sem se regenerarem. A maioria desses Espíritos que se precipitam<br />
são gananciosos e autoritários porém, muitos deles são extremamente<br />
inteligentes e deixaram fortunas conquistadas de<br />
maneira sórdida e desonesta na Terra. Reencarnados, pensam que<br />
conseguirão reavê-las. Com este critério errôneo, escolhem alguém<br />
familiar para a reencarnação.<br />
– Mas como isso é admissível? E se aquela pessoa que<br />
ele escolheu como mãe não estiver destinada para recebê-lo na<br />
385
condição de filho?<br />
– É como eu lhe disse, há casos e casos. Essas futuras<br />
mães são aquelas que engravidam sem que no ato íntimo ou na<br />
concepção haja realmente amor. É o chamado sexo vulgar. Esses<br />
espíritos, aproveitando a vulgaridade dos tais parceiros, se apossam<br />
do corpo astral da mãe na concepção. E na época do nascimento<br />
reencarnam naquele corpinho frágil. Por conseguinte,<br />
assim que o filho daquele casal sem nenhum compromisso conjugal<br />
nasce, de alguma forma não é a mãe ou então o pai quem<br />
cria e educa. Um deles, ou ambos, abandonam seus filhos deixando-os<br />
à deriva, jogando a responsabilidade da criação aos avôs,<br />
irmãos, tios e outros. Ou deixam em alguma instituição de voluntários,<br />
doam para outros que queiram criá-los. Há até um<br />
ditado que diz: “Pai não é aquele que faz, mas aquele que cria”.<br />
Enfim, abandonam ou, em outros casos, criam sem nenhum<br />
vínculo de amor em relação àquele espírito. Há também casos<br />
em que pais e filhos se tornam até inimigos, chegando a atentar<br />
contra a vida do outro, não assumindo o devido amor e tudo o<br />
mais, isso porque em seu perispírito ou em seu subconsciente<br />
sentem que não têm nenhuma obrigação com aquele recémnascido<br />
ou vice-versa.<br />
– E isso é permitido?<br />
– Lógico que sim. Não se esqueça irmão, tanto aqui<br />
quanto no plano físico temos o livre-arbítrio, ou o direito de ir<br />
e vir. E quero acrescentar que, no caso de filhos e pais se amarem<br />
intensamente, é exatamente porque existe um elo ou um histórico<br />
de vidas passadas, onde podemos acrescentar o amor e<br />
entrosamento que foram herdados por eles em outras vidas ou<br />
que estão em seus subconscientes. Mas como eu lhe disse, há<br />
casos e casos, então, também há aqueles espíritos independentes,<br />
que escolhem sua genitora ou seus genitores para que fiquem<br />
com ele até a sua reencarnação, ou até o nascimento da<br />
criança em pauta, sabendo que será doado para outra família ou<br />
386
creche, pois seus vínculos ou compromissos chegam até ali, ou<br />
melhor, vão até o nascimento ou a conclusão da gravidez da<br />
mãe, e com isso o espírito tem a liberdade de se desvincular da<br />
família genética e pode assumir seu destino doando-se totalmente<br />
ao seu semelhante sem se preocupar com a responsabilidade<br />
familiar. Normalmente essas são pessoas são mais ligadas<br />
ao amor universal.<br />
Após Daniel passar pelo processo de regressão para lembrar-se<br />
de suas duas últimas reencarnações, o Mentor Superior<br />
se dirige a todos.<br />
– Agora Irmão X , você, Irmão Y e os Pretos-Velhos,<br />
juntamente com Irmão Z, se encontrarão e se farão presentes na<br />
Terra, exatamente na casa de João Eduardo, pois aquele irmão<br />
tão fervoroso e sua família estão em uma sintonia muito forte,<br />
se preparando para entrar em contato por intermédio das orações<br />
ao nosso Pai Maior em vossos nomes. Vocês farão uma<br />
viagem astral saudável usando um transporte extremamente eficiente<br />
e rápido para chegar até aquele local tão abençoado pelas<br />
boas e fervorosas preces. O caminho será suave como uma pluma,<br />
pois sob as asas das súplicas que fizerem, estarão, com total<br />
amor praticando um ato sublime em homenagem a vocês. Todos<br />
vocês irão volitar, serão conduzidos. Lá o nosso Irmão Xavier<br />
(X) revelará a mensagem que ele mesmo deixou como Daniel<br />
antes de sua passagem. Isso será feito pela médium de psicografia,<br />
lá conhecida como Clotilde, e será a primeira experiência como<br />
médium que a irmã terá. Portanto, a missão dela ou compromisso<br />
com a Espiritualidade começa agora.<br />
Em Terra<br />
– João e Izabel, me respondam: Por onde anda aquela<br />
moça que Oscar e Anita tanto ajudaram? – Pergunta Clotilde.<br />
– Ela esta muito bem. Casou-se há pouco mais de três<br />
387
anos e tem agora um lindo garoto, com algumas deficiências<br />
físicas, mas de uma Espiritualidade maravilhosa. Ela mora muito<br />
próximo de Anita e estão sempre juntas, pois tanto Anita<br />
quanto Oscar fazem questão de Camila estar sempre por perto<br />
para que as duas mamães possam criar e educar a pequena Talita<br />
próxima de seu recém-chegado irmãozinho.<br />
– Parece que vocês irão se reunir em oração, não é?<br />
– É verdade, logo mais à noite, e com certeza Anita<br />
virá com seu esposo e também Camila com seu marido e as<br />
crianças. Vamos chamar também uns dos nossos amigos para<br />
participarem de nossa reunião. Logo depois serviremos um<br />
delicioso jantar, portanto, recomendo que fique até a noite,<br />
você não irá se arrepender.<br />
– Eu senti uma vontade enorme de estar aqui com<br />
vocês hoje. Margarida chegou da França, virá nos visitar amanhã.<br />
– Que bom! – Responde João. – Vamos ligar para ela<br />
e falar de nossa reunião, quem sabe ela queira vir também.<br />
– Não precisa chamá-la. Eu já sabia que ela havia chegado,<br />
– diz Izabel. – Ela me ligou há pouco e já a convidei.<br />
Nesse exato momento a campainha se faz ouvir. João<br />
abre a porta.<br />
– Entre Margarida, você chegou bem na hora, estávamos<br />
falando de você. Onde está meu sobrinho Juarez?<br />
– Juarez? - Está aí fora pegando algumas coisas no<br />
carro, já ira entrar.<br />
– Estamos nos preparando para uma pequena reunião com<br />
preces para nossos irmãos do Plano Espiritual.<br />
– Que bom meu irmão, quero participar. Afinal, fui convidada<br />
por Izabel.<br />
Logo chegam Oscar e Anita, Camila com seu esposo e os<br />
filhos. Após um delicioso chá com biscoitos, sentam-se todos ao<br />
redor da mesa e João Eduardo inicia os trabalhos espirituais.<br />
388
Oscar comenta sobre como se deve praticar a verdadeira<br />
caridade ou solidariedade, e como exemplo cita os ensinamentos<br />
do grande Mestre Jesus, o maior médium de todas as épocas.<br />
Senhor José aproveita para falar um pouco sobre experiências de<br />
sua vida relacionadas à filosofia espírita, tanto nos ensinamento<br />
de Kardec quanto no ritual de Umbanda, e também da ligação<br />
que as outras religiões ou etnias têm umas com as outras, mas<br />
que passam despercebidas pela vaidade ou ganância de muitos<br />
líderes religiosos.<br />
– Vamos iniciar com a Prece de Cáritas, – afirma João.<br />
– Em seguida, a prece do Pai Nosso e também nos lembrar de<br />
nossa querida Mãe Maria Santíssima, que foi a grande protagonista<br />
na vida de Jesus.<br />
“Deus, nosso Pai, que sois todo Poder e Bondade,<br />
dai a força àquele que passa pela provação, dai a luz àquele que<br />
procura a verdade; ponde no coração do homem a compaixão e<br />
a caridade!<br />
Deus, Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação,<br />
ao doente o repouso.<br />
Pai, Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade,<br />
à criança o guia, e ao órfão o pai!<br />
Senhor, que a Vossa Bondade se estenda sobre tudo o<br />
que criastes. Piedade, Senhor, para aquele que vos não conhece,<br />
esperança para aquele que sofre. Que a Vossa Bondade permita<br />
aos espíritos consoladores derramarem por toda a parte a paz, a<br />
esperança e a fé.<br />
Deus! Um raio, uma faísca do Vosso Amor pode abrasar<br />
a Terra; deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e<br />
389
infinita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão.<br />
E um só coração, um só pensamento subirá até Vós,<br />
como um grito de reconhecimento e de amor.<br />
Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos<br />
com os braços abertos, oh! Poder, oh! Bondade, oh! Beleza, oh!<br />
Perfeição e queremos de alguma sorte merecer a Vossa Divina<br />
Misericórdia.<br />
Deus, dai-nos a força para ajudar o progresso, a fim de<br />
subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a razão;<br />
dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho onde<br />
se refletirá a Vossa Divina e Santa Imagem”.<br />
Assim Seja.<br />
Izabel lê parte do Evangelho Segundo o Espiritismo de<br />
Allan Kardec, com comentários de Anita e várias explanações.<br />
Camila aproveita o convite que João lhe fizera para que ela exponha<br />
seu pensamento. Ela agradece então à Mãe Benedita, sábio<br />
Espírito que lhe trouxe muito conforto e paz, abrindo sua<br />
mente para o verdadeiro amor ao próximo, e comentou também<br />
sobre as consequências do aborto. Oscar também comenta<br />
com muito entusiasmo os verdadeiros ensinamentos de nosso<br />
Mestre Jesus. Também fala da filosofia umbandista e o quanto<br />
ela colabora trabalhando com seus Caboclos, Pretos-Velhos e<br />
outras Entidades. Enfatiza falando sobre outros grandes colaboradores<br />
da Seara do Mestre em prol dos Espíritos encarnados e<br />
também desencarnados. Exalta também a verdadeira Umbanda,<br />
com suas Entidades que muito trabalham para o bem estar em<br />
geral.<br />
390
– Mas como disse o Mestre Jesus, “orai e vigiai”. Devemos<br />
estar sempre alertas para os falsos profetas ou falsos espíritas.<br />
E ainda para os espíritas vaidosos, que pensam saber mais do<br />
que as Entidades, ensinando da maneira errada o que eles nunca<br />
viram ou não podem provar, e quando alguém os contesta, dizem<br />
que tudo é psicografado, recebido de Espíritos luminosos<br />
do Astral.<br />
O reencontro<br />
No Plano Espiritual, nossos amigos se reúnem para dar<br />
assistência ao Irmão X e o Mentor dirige-se a ele.<br />
– Bem, as vibrações a seu favor já foram feitas, agora<br />
você está pronto para resgatar suas lembranças. Convido-lhe para<br />
irmos até a sala de projeção; lá iremos plasmar tudo que se passou<br />
em suas três vidas anteriores.<br />
Após o trabalho de regressão em favor de Daniel, ou<br />
Irmão X, ele pergunta:<br />
– Onde está meu bom irmão Y?<br />
– Ele está próximo de você, basta que olhe para trás.<br />
– Aqui está ele, Irmão X! – Responde o Mentor, feliz<br />
com a consciência do dever cumprido.<br />
– É muito gratificante revê-lo, saber que resplandece uma<br />
luz maravilhosa sobre você e que podemos continuar nossas<br />
missões juntos. – Diz irmão Y.<br />
– Vocês sabem por que estão reunidos? – Pergunta o<br />
Mentor.<br />
Sim, porque devemos ter alguma missão a cumprir, e<br />
estou sempre disposto a trabalhar com Irmão Y, meu grande<br />
parceiro.<br />
– Isso mesmo, – concorda o Mentor.<br />
– E qual é a nossa próxima missão? – Pergunta Irmão X.<br />
– Hoje nós participaremos de uma festa junto de nossos<br />
391
queridos Pretos-Velhos lá no plano terrestre! Mas desta vez iremos<br />
por um caminho diferente. Será um caminho de luz, afinal,<br />
vamos compartilhar de uma reunião de amor e total sintonia<br />
ao nosso querido Deus. Poderemos volitar tranquilos e nosso<br />
caminho será muitíssimo curto. Será uma visita de cortesia àqueles<br />
com os quais você, Irmão X, conviveu por seis anos com o<br />
nome de Daniel, espírito encarnado na Terra, na última passagem<br />
que você teve na condição de filho do casal João e Izabel.<br />
Assim você terá a oportunidade de passar uma mensagem de<br />
consolo e amor a essa família quando da sua última estada por lá<br />
no plano físico.<br />
Na Terra<br />
Assim que iniciou a prece, Irmão João pede a presença<br />
dos Mentores da casa, os Espíritos de Luz, para que seu lar e as<br />
pessoas que lá se encontram sejam protegidos. Então, surge uma<br />
brisa muitíssima agradável, com cheiro de essência de flores perfumando<br />
todo o ambiente. De imediato, Clotilde, sem nenhuma<br />
experiência em psicografia, pede um lápis e um papel, meio<br />
que em transe, sem saber que fora Daniel quem havia deixado<br />
aquela última mensagem de despedida. Repete-a com todas as<br />
letras como se fosse uma cópia das palavras, com todos os pontos<br />
e vírgulas.<br />
“Papai e Mamãe. Estivemos juntos por seis anos e foi<br />
para mim uma honra ter essa passagem pela Terra. Não me arrependo<br />
de nada, pois foi para mim uma conclusão da minha<br />
etapa e na condição de filho de ambos. Apesar da minha peregrinação<br />
no mundo de expiação agradeço pelos pais carinhosos<br />
e dedicados. Tenho certeza de que vocês vão ficar bem, pois hoje<br />
bem sabem que tenho minha missão, que é seguir em minha<br />
caminhada espiritual.<br />
392
Não se preocupem, pois estou bem. Quem me assistiu<br />
esse tempo todo, desde antes da concepção e gravidez de mamãe<br />
foi o Irmão Y e outro grande Mentor, digo grande em sua sapiência,<br />
e mais um monte de espíritos trabalhadores da Luz, desde<br />
antes do meu nascimento até minha passagem para o plano espiritual.<br />
E também gostaria que vocês soubessem que aquele<br />
jovem médico que acompanhou o nosso irmão Lázaro no hospital<br />
foi exatamente o Irmão Y. E por falar em Irmão Lázaro, ele<br />
se encontra aqui conosco, e neste momento, junto a vocês.<br />
Lembram-se papai e mamãe? Cada vez que olharem para<br />
o meu retrato vocês estarão vendo o bisavô de ambos e o Irmão<br />
X, aquele espírito que papai viu materializar-se junto com o<br />
Irmão Y antes da minha estada com vocês.<br />
Sempre que nossos superiores permitirem estarei por<br />
perto para visitá-los. Um dia, quando for determinado por Deus,<br />
estaremos juntos outra vez. Mamãe, não se perturbe. Lembra<br />
do seu bisavô Daniel? Gostaria que se lembrassem também da<br />
minha semelhança com ele. Realmente nós temos algo em comum<br />
não acham? O nosso comportamento, nossos gostos,<br />
nosso nome, tudo é muito parecido. E o nome que papai me<br />
deu foi realmente uma homenagem muito bonita, obrigado.<br />
Quando a senhora olhar para o céu e vir uma estrela se juntar a<br />
outra, lembre-se do seu bisavô e do Irmão X. E lembre-se de<br />
mim com todo o amor dos seus corações, pois, pela infinita<br />
bondade de Deus somos o mesmo Espírito.<br />
E assim foram e serão escritas no Livro do Universo as<br />
minhas três vidas: Daniel, o bisavô, Xavier, o Irmão X e Daniel, o<br />
neto. Veja bem, papai escolheu o meu nome não por acaso, apesar<br />
de que no momento da escolha ele não se lembrava do nome do<br />
bisavô de mamãe por fazer muito tempo que ele havia<br />
desencarnado. Lembrem-se: nada, mas nada mesmo é por acaso.<br />
Tudo tem uma razão de ser”.<br />
393
Em seguida, os trabalhos são encerrados e todos ali presentes<br />
se sentem felizes pelo acontecimento da noite.<br />
João pede que Ana, a médium que trabalha com Mãe<br />
Maria Conga, encerre os trabalhos com preces. Enquanto isso,<br />
Mãe Benedita não saía de perto de seu pupilo: Luiz Carlos Junior,<br />
o filho caçula de Camila e Luiz.<br />
Naquele momento de total paz, pairava sobre aquele<br />
ambiente um clima de alegria e uma brisa suave de amor e de<br />
paz celestial. Após os trabalhos realizados, os comentários sobre<br />
aquela maravilhosa noite, que foi comemorado com um<br />
delicioso jantar.<br />
Um leitor, em sua simplicidade de vida, se emocionou ao<br />
folhear as páginas anteriores e pediu, em nome de Deus, para<br />
que esse pequeno poema fizesse parte do final deste livro, e que<br />
fosse oferecido à personagem Lídia.<br />
Uma luz esmaecida, débil<br />
Sem tom<br />
Sem som<br />
Sem nada<br />
Totalmente amotinada<br />
Uma luz esmaecida<br />
De tom fraco<br />
Sem harmonia<br />
Sem extasia<br />
Sem nada<br />
394<br />
UM POEMA PARA LÍDIA
Uma luz fosca<br />
Quase apagada!<br />
Uma luz<br />
Que vai aos poucos se refazendo<br />
Como a fênix que ressurge das cinzas<br />
Num brilho intenso se envolvendo<br />
De uma sombra triste, escura<br />
Qual foi se preenchendo<br />
Com a glória de uma mulher<br />
Lídia!<br />
Aguerrida<br />
Entre o ódio e a dor<br />
Acreditava que os tinha<br />
O seu ódio era amor<br />
A sua dor... Compaixão<br />
Lídia enfrentou as ribeiras<br />
Para alcançar a luz<br />
Esmerada,<br />
A sua “luz” conquistou...<br />
395