a sentinela a sentinela - Basílica Santuário Nossa Senhora da ...

A A A SENTINELA
SENTINELA
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do córrego dos Crystaes, servindo para constituir o Patrimônio da nova Igreja que seria
levantada.
A estatística da população demonstrou a existência, nesta zona de um milhar de
habitantes, inclusive duas centenas de escravos.
Escolhido e designado o lugar onde deveria ter assento a nova povoação, foi
feita logo a derrubada e queima de uma parte da matta virgem, abrindo-se uma clareira
de dois alqueires, occupados e aproveitadas com o plantio de milho, com reserva de um
espaço destinado à construcção da Igreja e das primeiras habitações.
Ao mesmo tempo que se tratava, com afinco, do levantamento da capella-mor
(pois a construcção do corpo da Igreja ficaria para mais tarde) aqui, alli, na orla da matta
circunjascente, se erguiam, a porfia, as meiaguas, os ranchos, as palhoças, que serviriam
de abrigos provisórios.
Em frente à casa que servia de acommodação aos operários da Capella (lugar
hoje occupado pela casa de D. Flora Noronha) estendia-se um vasto tendal coberto de
folhas de palmeira. Eram, os preparativos para a grande festa.
O Natal seria celebrado aqui, nos domínios da Senhora da Conceição; e o dia 24
de Dezembro ficaria assignalando o inicio da fundação da nova sede da velha freguezia
do Padre Bueno de Azevedo.
O NATAL DE 1824
A CHUVA em mangas intermittentes cahe de mansinho, encharcando as
estradas, adunando as águas dos córregos e regatos. No entanto, affrontando o rigor do
tempo, daqui e dalli, vindos dos diversos bairros, chegam em magotes, a pé, carregando
trouxas e malas, - homens rústicos, de amplo chapèos de lã batida, afunilados,
arrastando com garbo as velhas e compridas espadas durindanas — mulheres envoltas
em capotes de baetilha e barrigana. Em rumorosa cavalgatas chegam alguns graúdos
homens de botas de canos altos, de couro de mateiro - mulheres de cartolinas e amplas
saias amazonas.
Outros, mais commodistas, vém de carradas.
E logo a pequena esplanada regorgita de uma multidão confusa, alegre, que, pela
primeira vez, após tantos annos, no centro agreste desta região sertaneja, se vê reunida,
em franca e amistosa convivência, commungando a mesma aspiração e o mesmo
contentamento.
Num vai-vem continuo, grandes e pequenos, fazem visitas recíprocas, travando
conhecimentos pessoaes.
A noite cahe pesada e humida, mas não interrompe o borborinho e as
manifestações de jubilo, pois já se ouvem os rumores dos esquentados cateretês,
decantando a «tyranna, minha tyranna» e outras queixas do amor trahido,
acompanhadas de palmas e do choro rasgado das violas de Queluz. E assim vae pela
noite a fora até, que o sino, em longos repiques, chama os fieis a se reunirem sob o
tendal em frente a casinha dos operários, onde se ergue o altar para a celebração da
missa do gallo. Ao lado está o humilde presepe ornado de palmas e flores silvestres.