Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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Portanto, em <strong>Arendt</strong>, conforme explica Abreu (2004), “a liberdade política nada tem a<br />
ver com o livre arbítrio ou com autonomia da vontade, mas, antes, com a ação dos indivíduos<br />
na esfera política e emerge dessa própria ação em concerto” (ABREU, 2004, p.117).<br />
Na concepção de <strong>Arendt</strong> a liberdade política não se confunde com vontade:<br />
A vontade, vista como uma faculdade humana distinta e separada, segue-se<br />
ao juízo, isto é, à cognição do objetivo certo, e comanda então sua execução.<br />
O poder de comandar, de ditar a ação, não é uma questão de liberdade, mas<br />
de força ou fraqueza (ARENDT, 1997, p.198).<br />
Dessa forma, para <strong>Arendt</strong>, a ação política é livre na medida em que é capaz de<br />
transcender motivações e finalidades, e, portanto, isenta de interesses, pois a ação brota de<br />
“princípios”, estes, que são gerais, não se ligam a nenhuma pessoa ou a nenhum grupo (1997,<br />
p.198). 26<br />
Para melhor elucidar a afirmação acima cito <strong>Arendt</strong>:<br />
Princípios não operam no interior do eu como fazem motivos, mas como que<br />
inspiram do exterior, e são demasiado gerais para prescreverem metas<br />
particulares, embora todo desígnio possa ser julgado à luz de seu princípio<br />
uma vez começado o ato. Pois ao contrário do juízo do intelecto que precede<br />
a ação e do império da vontade que a inicia, o princípio inspirador torna-se<br />
plenamente manifesto somente no próprio ato realizador...Distintamente de<br />
sua meta, o princípio de uma ação pode sempre ser repetido mais uma vez,<br />
sendo inexaurível, e, diferentemente de seu motivo, a validade de um<br />
princípio é universal, não se ligando a nenhuma pessoa ou grupo em<br />
especial (1997, p.199, grifos nossos).<br />
Portanto, na visão de <strong>Arendt</strong>, a ação só é livre desde que condicionada por princípios<br />
gerais, que compreende uma universalidade que não se liga às motivações de uma pessoa nem<br />
de um grupo em particular. Dessa forma a ação torna-se livre e desinteressada.<br />
26 Como explica Abreu a ação política na teoria arendtiana é considerada um fim em si mesmo, e não se<br />
orienta por uma finalidade exterior. Tomando de empréstimo a dimensão do juízo estético de Kant como análogo<br />
ao político, <strong>Arendt</strong> acredita que o juízo incide sempre num particular e, através do sensus communis, pretende<br />
ser geral na medida em que desperta o senso comunitário e não o sentimento privado. Este juízo por ser<br />
imparcial e levar em consideração os julgamentos externos, é também um juízo desinteressado, que não tem uma<br />
finalidade (ABREU, 2004, p. 96).<br />
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