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Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda

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Conforme explica Wagner (2000), “a polis era, pelo contrário, o referencial que<br />

sustentava o desprezo pelas necessidades vitais e a desconfiança frente ao utilitarismo da<br />

fabricação...” O espaço público da polis, claramente distinta da esfera privada, remetia às<br />

atividades em que a liberdade poderia se manifestar de maneira integral; em que os homens<br />

estão livres da sujeição às necessidades da vida bem como livres de comandar e de ser<br />

comandados (WAGNER, 2000, p.52).<br />

O desalento de <strong>Arendt</strong>, portanto, é verificar que a tradição moderna está em desacordo<br />

com a tradição grega, que aquela tradição coloca na ordem do dia o desafio de não se poder<br />

falar em liberdade prescindindo das necessidades físicas da vida e que estas são reguladas por<br />

uma minoria de homens que controla e organiza as benesses materiais socialmente<br />

produzidas. Por isso ela afirma:<br />

Em característico desacordo com o procedimento moderno, o cuidado com a<br />

preservação da vida, tanto do indivíduo como da espécie, pertencia<br />

exclusivamente à esfera privada da família, enquanto que na polis, o homem<br />

parecia kat arithmón, como uma personalidade individual, conforme<br />

diríamos hoje em dia (p.159)<br />

Podemos afirmar que <strong>Arendt</strong> se recusa a aceitar a tradição moderna, pois, no seu<br />

entendimento, ela aboliu as fronteiras entre o espaço público e o espaço privado, e dessa<br />

forma a autora retoma a tradição grega e seus valores éticos para, em seguida, estabelecer a<br />

separação entre o econômico, entendido como a esfera da vida privada, e o domínio político,<br />

locus da liberdade e da pluralidade.<br />

<strong>Arendt</strong> enxerga a tradição grega como a tradição autêntica da manifestação da<br />

condição humana e, especificamente, é na fundação e organização da polis que a autora<br />

encontra a referência para pensar um espaço do político no qual os homens compartilhavam<br />

atos e palavras (WAGNER, 2001, p 42).<br />

Se o espaço do econômico é entendido por <strong>Arendt</strong> como a esfera em que se resumia à<br />

submissão das necessidades vitais, à violência do mando e da injustiça, o espaço político, ao<br />

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