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Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda

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modo de vida na esfera privada do lar se constituía, pois, na uniformidade dos sujeitos, isto é,<br />

nela os homens eram destituídos de sua individualidade tendo de viver apenas do e para o<br />

trabalho. Assim, explica <strong>Arendt</strong>:<br />

Como seres vivos, preocupados com a preservação da vida, os homens se<br />

confrontam com e são arrastados pela necessidade. A necessidade deve ser<br />

controlada antes que a “vida boa” política possa se iniciar e ela somente<br />

pode ser controlada pela dominação. Conseqüentemente, a liberdade para a<br />

“boa vida” assenta-se na dominação da necessidade (ARENDT, 1997,<br />

p.159).<br />

Desse modo, o domínio sobre as necessidades biológicas era um pré-requisito para<br />

adentrar ao espaço público e, nesse sentido, era justificável as diversas formas de violência e<br />

dominação, exercidas sobre escravos e mulheres na esfera da “vida privada”, já que essa era a<br />

condição para liberar os cidadãos para o exercício da política. É o que nos explica <strong>Arendt</strong><br />

(1997),<br />

O domínio sobre a necessidade tem então como alvo controlar a necessidade<br />

da vida, que coagem os homens e os mantêm sob seu poder. Mas tal domínio<br />

só pode ser alcançado controlando a outros e exercendo violência sobre eles,<br />

que, como escravos, aliviam o homem livre de ser ele próprio coagido pela<br />

necessidade. O homem livre, o cidadão da polis, não é coagido pelas<br />

necessidades físicas da vida nem tampouco sujeito à dominação artificial de<br />

outros. Não apenas não deve ser um escravo, como deve possuir e governar<br />

escravos. A liberdade no âmbito da política começa tão logo todas as<br />

necessidades elementares da vida tenham sido sujeitas ao governo, de modo<br />

tal que dominação e sujeição, mando e obediência, governo e ser governado,<br />

são pré-condições para o estabelecimento da esfera política precisamente por<br />

não fazerem parte de seu conteúdo (ARENDT, 1997, p. 159).<br />

A separação entre as esferas do político e do privado se afirma, então, porque em cada<br />

uma delas são desenvolvidas atividades essencialmente distintas, e sendo estas distintas,<br />

precisam ser bem demarcadas para evitar possíveis “confusões”. Portanto, há em <strong>Arendt</strong>, uma<br />

insistência em delimitar bem os espaços e conteúdos próprios concernentes às esferas política<br />

e econômica.<br />

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