Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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libertar, portanto, não é idêntica ao desejo de liberdade positiva que se efetiva pela<br />
participação nos negócios públicos. 24<br />
Dessa forma, segundo <strong>Arendt</strong>, a identificação entre liberdade e libertação ocorrida no<br />
interior da tradição política moderna implicou na compreensão da liberdade política não como<br />
fenômeno político mas, ao contrário, como a gama mais variada de atividades não-políticas,<br />
como os direitos civis por exemplo.<br />
Embora <strong>Arendt</strong> entenda que a Liberdade positiva é prescindida da libertação<br />
(liberação das necessidades físicas), ela afirma que ao estado de liberdade não se segue<br />
automaticamente o ato de libertação, pois a liberdade necessita da companhia de outros<br />
homens livres e de um espaço público comum para encontrá-los (ARENDT,1997, p. 194).<br />
Trata-se, pois, de retroceder àquela tradição política segundo a qual a política e a liberdade<br />
surgiram em seu modo mais originário, a saber, à tradição greco-romana. Portanto, <strong>Arendt</strong> se<br />
volta, mais uma vez, para o modelo da antiguidade greco-romana, com a finalidade de<br />
encontrar elementos os quais fundamentem sua interpretação dos sentidos dos eventos<br />
políticos, bem como para amparar a sua pretensão de separar as esferas política e econômica.<br />
Com efeito, em seu livro Entre o passado e o Futuro (1997), ao analisar o argumento<br />
de Aristóteles sobre a polis – este teria compreendido de forma clara as distinções das duas<br />
esferas -, <strong>Arendt</strong> afirma com entusiasmo que há uma diferença essencial entre uma<br />
comunidade política e a esfera “econômica” do lar. Enquanto a primeira era designada por<br />
Aristóteles como a “vida boa”, já que ela se baseia no princípio da igualdade, contrariamente,<br />
a segunda era a forma da convivência humana cuja ocupação respondia à necessidade em<br />
manter viva a vida individual e de garantir a sobrevivência da espécie. Ou seja, o cuidado e a<br />
preservação da espécie pertencia exclusivamente à esfera do lar, isto é, a esfera privada. O<br />
24 Por considerar um equívoco da tradição do pensamento moderno entender a Liberdade como algo<br />
apolítico, <strong>Arendt</strong> afirma que a Liberdade no sentido positivo é uma realidade mundana, isto é, corresponde ao<br />
nosso relacionamento com os outros e não com nós mesmos. A Liberdade é entendida como “o estado do<br />
homem livre, que o capacitava a se mover, a se afastar de casa, a sair para o mundo e a se encontrar com outras<br />
pessoas em palavras e ações” (1997, p 194).<br />
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