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Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda

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eram, por natureza, desiguais, e necessitavam de uma instituição artificial, a polis, a qual os<br />

tornaria iguais” (ARENDT, 1990,p.25). Nela, afirma a autora, o homem livre, o cidadão da<br />

polis não era coagido pelas necessidades físicas da vida e tão pouco estava sujeito ao mando<br />

de seu semelhante, uma vez que a essência da vida política grega não se restringia a governar<br />

e a ser governado.<br />

De acordo com a concepção de <strong>Arendt</strong> exposta acima, podemos perceber que a autora<br />

se aproxima do pressuposto aristotélico, o de que nessa “comunidade de iguais” os homens<br />

podem vislumbrar uma vida melhor, isenta da dominação do homem pelo homem e que a<br />

diferença entre governantes e governados pertence a outra esfera, a esfera econômica<br />

(LEBRUN, 1997, p. 24). 23<br />

Com base na referência da polis grega (solução grega para os dilemas que o mundo<br />

público moderno suscita), que acredita ser um fenômeno político originário, <strong>Arendt</strong> realiza<br />

uma distinção entre liberdade e libertação, pois para a autora a liberdade em seu sentido<br />

positivo, isto é, enquanto fenômeno político, teria desaparecido desde o fim da Antigüidade<br />

clássica, de modo que não foi caracterizada pela teoria política dos tempos modernos. Dessa<br />

forma, a polis grega constitui-se numa referência de politização contrariamente à tradição<br />

moderna, na medida em que segundo os padrões éticos e políticos daquela, a liberdade<br />

positiva, isto é, política, corresponde à possibilidade de ação e discurso de indivíduos livres<br />

que aparecem no espaço público, revelando suas identidades e pluralidades.<br />

Sua afirmação é a de que, na tradição política moderna, a noção de liberdade adquiriu<br />

uma dimensão de libertação a qual só pode ser negativa na medida em que ela se resume a<br />

“liberdade de movimento, a liberdade de não ser restringido a não ser pela lei”; a intenção de<br />

23 <strong>Arendt</strong> não desconhecia que a “comunidade de iguais” se mantinha às custas do despotismo do homem<br />

em relação à sua família e aos seus escravos, sendo perfeitamente aceitável a dominação na esfera privada (ver<br />

ARENDT, 2001, p. 158).<br />

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