Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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Também é verdadeiro afirmar que, em relação à Revolução Americana, sua análise<br />
contempla apenas aspectos históricos condizentes com as preocupações próprias da autora,<br />
deixando de fora os fatos na sua totalidade, sendo que em alguns casos elucidá-los colocaria a<br />
análise de <strong>Arendt</strong> em contradição, como veremos a adiante.<br />
Para <strong>Arendt</strong> o conceito moderno de Revolução no sentido mais lato do termo significa<br />
mudança, o começo de algo novo, uma História inteiramente nova que se relaciona<br />
intrinsecamente ao aparecimento da liberdade. As revoluções, segundo a autora, anunciam<br />
uma era inteiramente nova na qual um novo começo e liberdade são coincidentes. Dessa<br />
forma, porque a liberdade é o critério maior das revoluções, estaria colocada a possibilidade e<br />
a necessidade da formação de um corpo político, isto é, a constituição de instituições e leis<br />
estáveis e duradouras capazes de garantir a permanência da liberdade. 22<br />
Não obstante o fato de as revoluções trazerem consigo o pathos de uma nova era, de<br />
representarem “um novo espírito”, <strong>Arendt</strong> observa que as Revoluções dos séculos XVII e<br />
XVIII, em verdade pretendiam ser apenas restaurações:<br />
[...] devemos nos voltar para as Revoluções Francesa e Americana, e<br />
devemos levar em conta que ambas foram protagonizadas, em seus estágios<br />
iniciais, por homens que estavam firmemente convencidos de que não fariam<br />
outra coisa senão restaurar uma antiga ordem de coisas que fora perturbada e<br />
violada pelo despotismo de monarcas absolutos ou por abusos do governo<br />
colonial. Eles alegavam, com toda sinceridade, que desejavam o retorno dos<br />
velhos tempos em que as coisas eram como deviam ser (ARENDT, 1990, p.<br />
35).<br />
Embora <strong>Arendt</strong> afirme que as revoluções modernas tinham como preocupação inicial<br />
restaurar a antiga ordem, a autora enfatiza, em sua análise, apenas os aspectos que<br />
caracterizaram as revoluções enquanto mudança radical. Ou seja, para <strong>Arendt</strong> não lhe<br />
interessa a história das revoluções como tal, nem suas origens, mas os aspectos da revolução<br />
22 <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> observa que Maquiavel tem um parentesco importante com os ideais revolucionários,<br />
pois, segundo a autora, ele teria sido o primeiro pensador a refletir sobre a possibilidade da criação de um corpo<br />
político estável, permanente, duradouro. Para <strong>Arendt</strong> Maquiavel foi o “pai espiritual” da revolução (ARENDT,<br />
1990, p. 29).<br />
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