Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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ação humana, e quando, além disso, em conformidade com a tradição, considerou esse “fim” último como o produto final de um processo de fabricação (ARENDT, 1997, p. 113). Na visão de Arendt, ao identificar a ação à fabricação, Marx, teria concebido a história como o objeto de um processo de fabricação ou elaboração, nos moldes dos processos naturais, e, dessa forma, no momento em que o “objeto” fosse, por assim dizer, acabado, seu correspondente seria o incondicional fim da história. Ou seja, para Arendt, estando submetidas aos desígnios de “leis imutáveis” do processo histórico, as ações e os eventos perdem seus sentidos próprios pois a ênfase recai sobre o processo, bem como seu caráter de imprevisibilidade. Portanto, para Arendt, na concepção de História de Marx, a noção de processo abriga a idéia de que “o fazer algo possui um início bem como um fim, cujas leis de movimento podem portanto ser determinada (por exemplo, como movimento dialético) e cujo conteúdo mais profundo pode ser descoberto (por exemplo, a luta de classes)” (ARENDT, 1997, p 114). Segundo Arendt, a noção de História cuja ênfase está no processo, é incapaz de garantir ao homem qualquer espécie de imortalidade, uma vez que os sentidos dos eventos e fatos particulares são confundidos com um padrão dado pelo processo histórico, este, por sua vez, possuidor de um sentido único o qual anula as singularidades dos eventos e fatos. Além disso, a história entendida como fabricação torna a ação subordinada às leis e aos “desígnios superiores” da história. Com efeito, para Arendt, é característica inerente da ação a imprevisibilidade, bem como sua capacidade de interromper processos históricos, isto é, de iniciar novos começos; a ação possui significado próprio que só pode ser conhecido quando ela se finda, não sendo possível prever seus resultados. Portanto, Arendt concebe a ação política como autônoma em relação a qualquer padrão ou determinação histórica, onde até mesmo o seu ator não possui nenhum controle sobre o resultado, nem mesmo pode conhecê-lo previamente. 84
Concebendo a ação como livre de qualquer tipo de finalidade Arendt deixa de pensar sua relação com os interesses constitutivos das ações humanas no mundo político. No mesmo sentido a autora passou a conceber, em sua teoria política, a separação entre as esferas econômica e política, dotando essa última de dignidade e significado superiores. Assim, discutiremos a seguir a separação dessas esferas no interior da teoria política de Arendt, cujo propósito é analisar sobre quais fundamentos se baseia a crítica arendtiana à Nova Esquerda. 85
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ação humana, e quando, além disso, em conformidade com a tradição,<br />
considerou esse “fim” último como o produto final de um processo de<br />
fabricação (ARENDT, 1997, p. 113).<br />
Na visão de <strong>Arendt</strong>, ao identificar a ação à fabricação, Marx, teria concebido a história<br />
como o objeto de um processo de fabricação ou elaboração, nos moldes dos processos<br />
naturais, e, dessa forma, no momento em que o “objeto” fosse, por assim dizer, acabado, seu<br />
correspondente seria o incondicional fim da história. Ou seja, para <strong>Arendt</strong>, estando<br />
submetidas aos desígnios de “leis imutáveis” do processo histórico, as ações e os eventos<br />
perdem seus sentidos próprios pois a ênfase recai sobre o processo, bem como seu caráter de<br />
imprevisibilidade. Portanto, para <strong>Arendt</strong>, na concepção de História de Marx, a noção de<br />
processo abriga a idéia de que “o fazer algo possui um início bem como um fim, cujas leis de<br />
movimento podem portanto ser determinada (por exemplo, como movimento dialético) e cujo<br />
conteúdo mais profundo pode ser descoberto (por exemplo, a luta de classes)” (ARENDT,<br />
1997, p 114).<br />
Segundo <strong>Arendt</strong>, a noção de História cuja ênfase está no processo, é incapaz de<br />
garantir ao homem qualquer espécie de imortalidade, uma vez que os sentidos dos eventos e<br />
fatos particulares são confundidos com um padrão dado pelo processo histórico, este, por sua<br />
vez, possuidor de um sentido único o qual anula as singularidades dos eventos e fatos. Além<br />
disso, a história entendida como fabricação torna a ação subordinada às leis e aos “desígnios<br />
superiores” da história.<br />
Com efeito, para <strong>Arendt</strong>, é característica inerente da ação a imprevisibilidade, bem<br />
como sua capacidade de interromper processos históricos, isto é, de iniciar novos começos; a<br />
ação possui significado próprio que só pode ser conhecido quando ela se finda, não sendo<br />
possível prever seus resultados. Portanto, <strong>Arendt</strong> concebe a ação política como autônoma em<br />
relação a qualquer padrão ou determinação histórica, onde até mesmo o seu ator não possui<br />
nenhum controle sobre o resultado, nem mesmo pode conhecê-lo previamente.<br />
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