Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
fatos tendo como base a vitória ou a derrota, o que no entender de <strong>Arendt</strong> eliminaria a<br />
capacidade de compreender os diversos eventos e pontos de vistas. Contudo, segundo <strong>Arendt</strong>,<br />
a imparcialidade bem como a objetividade - condições imprescindíveis para se compreender<br />
os eventos históricos na sua autenticidade - não mais possuem base na vida política real, pois<br />
a convicção de que o homem faz a história e que só se pode conhecer aquilo que é feito por<br />
ele teve como conseqüência a necessidade de estabelecer uma teleologia da ação. Essa<br />
perspectiva histórica passou a orientar vários pensadores durante os séculos XVIII e XIX<br />
como Hobbes, Locke, Hume e Hegel, por exemplo.<br />
Todavia, para Vico e Hegel a importância do conceito de História era em termos<br />
teóricos, não havendo a pretensão de utiliza-lo como princípio para a ação, segundo <strong>Arendt</strong>.<br />
Em sua avaliação, esses autores:<br />
Concebiam a verdade como sendo revelada ao vislumbre contemplativo e<br />
retrospectivo do historiador, o qual, por ser capaz de ver o processo com um<br />
todo, estaria em posição de desprezar os “desígnios estreitos” dos homens<br />
em ação, concentrando-se em vez disso nos “desígnios superiores” que se<br />
realizam por trás de suas costas (Vico) (ARENDT, 1997, p. 112).<br />
Ou seja, o historiador, ao observar posteriormente os acontecimentos, poderia<br />
compreender o sentido destes após a avaliação do processo em geral, dando ênfase aos<br />
“desígnios superiores”.<br />
Contudo, enquanto Vico e Hegel enfatizavam em suas análises os “desígnios<br />
superiores”, Marx adotou o conceito de história hegeliano e com ele a noção de processo<br />
que, segundo <strong>Arendt</strong>, passou a conceber “os ‘desígnios superiores’ como fins intencionais de<br />
ação política”. Dessa forma, afirma a pensadora alemã,<br />
O perigo de transformar os “desígnios superiores” desconhecidos e<br />
incognoscíveis em intenções planejadas e voluntárias estava em se<br />
transformarem o sentido e a plenitude de sentido em fins, o que aconteceu<br />
quando Marx tomou o significado hegeliano de toda a história, o progressivo<br />
desdobramento e realização da idéia de Liberdade, como sendo um fim da<br />
83