Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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versão grega, como as coisas que são por si mesmas vieram a existir<br />
(ARENDT, 1997, p. 88).<br />
Não obstante o pressuposto segundo o qual o homem só pode conhecer aquilo que ele<br />
mesmo faz, ocorreu um deslocamento do interesse nas coisas propriamente ditas para<br />
enfatizar, em seu lugar, o processo. Desse modo, ao se tornarem “subprodutos quase<br />
acidentais” do processo, as coisas perderam sua validade singular; os processos são<br />
enfatizados em detrimento das coisas singulares.<br />
Portanto, segundo a visão de <strong>Arendt</strong>, a preocupação da investigação científica, seja ela<br />
natural ou histórica, recai sobre os processos, sendo que, por meio da tecnologia moderna, são<br />
instaurados mesmo novos processos naturais cujos fins acreditam ser passíveis de serem<br />
previstos, abolindo assim a imprevisibilidade da ação humana sobre a natureza bem como<br />
sobre os assuntos humanos.<br />
Com isso, salienta <strong>Arendt</strong>, o denominador comum da natureza e da história repousa<br />
na noção de processo, ao passo que, na Antiguidade, o denominador comum a ambos se<br />
assentava no conceito de imortalidade. Todavia, o conceito de processo implica, segundo<br />
<strong>Arendt</strong>, na dissociação entre o concreto e o geral, a coisa singular e o significado universal,<br />
onde o processo adquire sozinho o privilégio exclusivo de universalidade e significação<br />
(ARENDT, 1997, p. 96).<br />
Já para a historiografia grega e romana, ao contrário da época moderna, o significado<br />
de cada evento revela-se em si e por si mesmo, onde a causalidade e o contexto eram vistos<br />
sob a luz fornecida pelo próprio evento. Assim, conclui <strong>Arendt</strong>, “tudo o que era dado ou<br />
acontecia mantinha sua cota de sentido “geral” dentro dos confins de sua forma individual e aí<br />
a revelava, não necessitando de um processo evolvente e engolfante para se tornar<br />
significativo” (ARENDT, 1997, p. 96).<br />
Com efeito, a imparcialidade, é vista por <strong>Arendt</strong> como “o mais alto tipo de<br />
objetividade”, na medida em que ela descarta a possibilidade de se estabelecer um juízo dos<br />
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