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Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda

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existir futuramente. Assim, Heródoto, por meio da palavra, julgava imortalizar os feitos<br />

humanos livres da sua futilidade, trazendo à luz o significado que cada feito ou evento possui<br />

em si mesmo; considerava que por meio da palavra escrita os feitos jamais seriam esquecidos<br />

(ARENDT, 1997, p. 70).<br />

Para os gregos, os grandes feitos e obras constituem o tema da narrativa histórica; os<br />

feitos ou eventos são entendidos como situações únicas que possuem luz própria, isto é, os<br />

eventos na sua particularidade carregavam em si um significado próprio sendo necessário<br />

imortaliza-los pela sua grandeza.<br />

O que para nós é difícil perceber é que os grandes feitos e obras de que são<br />

capazes os mortais, e que constituem o tema da narrativa histórica, não são<br />

vistos como parte, quer de uma totalidade ou de um processo abrangente: ao<br />

contrário, a ênfase recai sempre em situações únicas e rasgos isolados. Essas<br />

situações únicas, feitos ou eventos, interrompem o movimento circular da<br />

vida diária no mesmo sentido em que a bios retilinear dos mortais<br />

interrompe o movimento circular da vida biológica. O tema da História são<br />

essas interrupções – o extraordinário, em outras palavras (ARENDT, 1997,<br />

p. 72).<br />

Portanto, para <strong>Arendt</strong>, na concepção grega da História está contido exatamente o<br />

pressuposto segundo o qual a narrativa histórica deveria se basear nas grandes obras e nos<br />

feitos dos homens, entendidos como acontecimentos que interrompem o movimento circular<br />

da vida diária.<br />

Havia, na Antiguidade, o pressuposto segundo o qual existia uma distinção entre a<br />

mortalidade dos homens e a imortalidade da natureza, sendo que as coisas feitas pelos homens<br />

(obras, feitos e palavras), seriam perecíveis, ao passo que as coisas da natureza existem por si<br />

mesmas e por isso seriam imortais. Desse modo, era função da Historiografia relatar a<br />

grandeza das obras e feitos humanos conferindo algum tipo de permanência para impedir sua<br />

perecibilidade, assim, por meio da recordação (Mnemósine) seria possível imortalizar (que<br />

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