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Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda

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agir. Regressemos pois, mais uma vez à Antiguidade, isto é, às tradições<br />

políticas e pré-filosóficas; e certamente, não por amor à erudição e nem<br />

mesmo pela continuidade de nossa tradição, mas simplesmente porque uma<br />

liberdade vivenciada apenas no processo de ação e em nada mais –<br />

embora, é claro, a humanidade nunca tenha perdido inteiramente tal<br />

experiência – nunca mais foi articulada com a mesma clareza clássica<br />

(ARENDT, 1997, p. 213 grifos meus).<br />

Na concepção da autora a polis grega e a res publica eram espaços em que a liberdade,<br />

a igualdade e a ação coincidiam e podiam ser exercidas amplamente. A liberdade e igualdade<br />

eram, pois, as condições necessárias para adentrar a polis. Todavia, a igualdade não era<br />

entendida como “igualdade de condições”, mas como um atributo da isonomia, isto é, uma<br />

característica própria do espaço político. A liberdade e a igualdade coincidiam, na medida em<br />

que os homens, liberados das “necessidades da vida”, se encontravam na companhia de seus<br />

pares, como também num espaço público comum, para encontrá-los e se expressar em atos e<br />

palavras. Nesse sentido, para <strong>Arendt</strong> a liberdade não é um fenômeno da vontade, mas a<br />

condição da ação, portanto, liberdade e política estão relacionadas (ARENDT, 1997, p. 194).<br />

Como explica Duarte (2000), “a experiência da liberdade a que <strong>Arendt</strong> se refere<br />

consuma-se na experiência da ação política conjunta, por meio da qual advém a novidade que<br />

renova e redireciona de maneira inesperada o curso dos processos desencadeados pela<br />

interação humana, garantia de uma história aberta e sem final” (DUARTE, 2000, p. 214).<br />

Na avaliação de <strong>Arendt</strong>, a ação, livre de qualquer direcionamento específico, e que<br />

possui como característica a capacidade de iniciar algo novo é capaz de interromper o<br />

“processo automático” de acontecimentos, fazendo emergir uma gama de novidades que<br />

corresponde à pluralidade das ações.<br />

A ação humana, como todos os fenômenos estritamente políticos, está<br />

estreitamente ligada à pluralidade humana, uma das condições fundamentais<br />

de vida humana, na medida em que repousa no fato da natalidade, por meio<br />

do qual o mundo humano é constantemente invadido por estrangeiros,<br />

recém-chegados cujas ações e reações não podem ser previstas por aqueles<br />

que nele já se encontram e que dentro em breve irão deixa-lo (ARENDT,<br />

1997, p. 92).<br />

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