Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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dos indivíduos e que a adesão às regras se faria livre de algum tipo de constrangimento.<br />
Assim ele explica:<br />
[...] mesmo que a liderança nas modernas democracias tenha que<br />
periodicamente procurar legitimidade, a história está repleta de evidências<br />
que mostram que a direção política deve ter funcionado, e funciona, de<br />
forma diferente da sugerida por <strong>Arendt</strong>. Certamente, é um ponto a favor de<br />
sua tese o fato de que as instituições e estruturas básicas que são<br />
estabilizadas por meio da direção política poderiam apenas em casos raros<br />
ser a expressão de uma ‘opinião sobre a qual muitos estavam publicamente<br />
de acordo’ – ao menos se se tem, como <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, um conceito forte de<br />
espaço público (Apud Perissinoto, 2004, p. 129).<br />
Portanto, para Habermas, “o poder é um bem disputado pelos grupos políticos e graças<br />
ao qual a liderança política administra; mas nos dois casos este poder preexiste, e não é<br />
produzido por tais grupos e lideranças. Esta é a impotência dos poderosos – eles precisam<br />
derivar seu poder dos produtores do poder” (HABERMAS, 1980, p. 115). Nesse sentido, o<br />
conceito de poder de <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> não é realista, na medida em que desconsidera o<br />
elemento segundo o qual a adesão às regras se baseia nas relações de domínio empreendido<br />
pelas instituições políticas e que se tornam legítimas entre os atores sociais por força da<br />
dominação.<br />
No mesmo sentido, Perissinoto (2004) afirma que ao recusar a identificação entre<br />
poder e violência em favor do poder entendido como consentimento, <strong>Arendt</strong> excluiu de sua<br />
análise uma série de relações sociais que compõem o mundo político, que “não são marcadas<br />
nem pela violência nem pelo consentimento, mas pela luta dinâmica e episódica em torno de<br />
interesses conflitantes”. Sendo essas relações parte essencial da vida política, uma vez que em<br />
função delas os agentes sociais se organizam e agem coletivamente causando eventos<br />
políticos diversos, torna-se difícil prescindir dessas relações para compreender o poder<br />
político constituído (PERISSINOTO, 2004, p. 126).<br />
Também Abreu (2004) reconhece que na teoria política de <strong>Arendt</strong> não há referência ao<br />
conflito entre os agentes que compõem o espaço público, e quando aparece ou “é examinado<br />
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