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Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda

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ealizar-se. Assim, “a forma mais extrema da violência é o Um contra Todos”, enquanto a<br />

forma extrema do poder é “Todos contra Um” (ARENDT, 2000, p.35-37).<br />

Por outro lado, conforme salienta <strong>Arendt</strong>, o poder que é inerente a toda comunidade<br />

política precisa de legitimidade e não de justificativa, como requer a violência.<br />

Em sua análise, <strong>Arendt</strong>, ao contrapor o poder e a força, acaba por desconsiderar esta<br />

última como constitutiva da política, assim como a dominação e a desigualdade, por exemplo.<br />

Por sua vez, Habermas (1980), em sua crítica à <strong>Arendt</strong>, chegou a assinalar que esta<br />

autora exclui a ação estratégica (emprego da violência) do âmbito do político, por entender<br />

que a violência visa à disputa pelo poder e não à geração desse, que se baseia no consenso.<br />

Além disso, reforça o autor, essa concepção de poder, ao abdicar da manifestação<br />

instrumental do mesmo, isto é, do seu exercício, acaba se tornando uma abstração por não<br />

encontrar correspondência no real, já que a realidade do poder se expressa pela dominação.<br />

Desse modo, <strong>Arendt</strong> teria deslocado a temática do poder do seu emprego e aplicação para a de<br />

sua criação e manutenção, reduzindo o político à esfera da interação entre os indivíduos,<br />

portanto, da ação comunicativa.<br />

O poder (comunicativamente produzido) das convicções comuns origina-se<br />

do fato de que os participantes orientam-se para o entendimento recíproco e<br />

não para o seu próprio sucesso. Não utilizam a linguagem<br />

“pelocutoriamente”, isto é, visando instigar outros sujeitos para um<br />

comportamento desejado, mas “ilocutoriamente”, isto é, com vistas ao<br />

estabelecimento não-coercitivo de relações intersubjetivas. <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong><br />

desprende o conceito de poder do modelo teleológico da ação; o poder se<br />

constitui na ação comunicativa, é um efeito coletivo da fala, na qual o<br />

entendimento mútuo é um fim em si mesmo para todos os participantes<br />

(HABERMAS, 1980, p 103).<br />

Sendo um fim em si mesmo, o poder se apóia no consentimento, no apoio espontâneo<br />

dos indivíduos autônomos e livres no interior da coletividade. Todavia, para Habermas, é<br />

abstrato demais supor que o consentimento político seria o resultado da associação espontânea<br />

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