Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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“materializações” e “manifestações” do poder que, por sua vez, é sustentado no apoio do<br />
povo; “as instituições petrificam-se e decaem tão logo o poder vivo do povo deixa de<br />
sustentá-las” (ARENDT, 2000, p. 34).<br />
Nesse sentido, além de ser uma relação de consentimento, o poder está vinculado ao<br />
‘momento fundacional’ de uma dada comunidade. “O poder é o momento que traz as leis à<br />
existência, leis que retiram dessa ocorrência primitiva o consentimento que sustentará a<br />
manutenção futura de instituições” (PERISSINOTO, 2004, p. 117).<br />
Desse modo, o poder em <strong>Arendt</strong> refere-se sempre a uma relação de consentimento e<br />
não de violência, pois o poder em si não teria como finalidade a dominação, antes, o poder se<br />
define pela possibilidade de fazer com que os homens ajam conjuntamente.<br />
Para a autora, “é insuficiente dizer que poder e violência não são o mesmo. <strong>Poder</strong> e<br />
violência são opostos; onde um domina absolutamente, o outro se ausenta”. Portanto, “o<br />
poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas para agir em concerto”<br />
(ARENDT, 2000, p. 36).<br />
Ele, o poder, não pertence a um indivíduo, pertence a um grupo e permanece em<br />
existência apenas na medida em que o grupo conserva-se unido.<br />
Com efeito, a partir desta conceitualização, vê-se que o poder, em <strong>Arendt</strong>, é o<br />
resultado direto da ação humana, e pressupõe um espaço próprio, a saber, o espaço público,<br />
que é concebido, pela autora alemã, como o espaço por excelência do poder; espaço cuja<br />
finalidade é promover a interação dos indivíduos livres, que através da palavra e do discurso,<br />
se mostram na sua pluralidade de opiniões.<br />
Ademais, contrariamente à tradição, o poder não consiste na instrumentalização da<br />
vontade alheia para os fins desejados, mas na formação de uma vontade comum baseada no<br />
consenso, isto é, do resultado de um processo dialógico operado entre os indivíduos na esfera<br />
pública.<br />
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