Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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flagrante manifestação do poder, e a guerra, nesse caso, é a continuação da política por outros<br />
meios (ARENDT, 2000, p, 31-32).<br />
Nesse sentido, para <strong>Arendt</strong>, está contido nesta concepção o pressuposto de que o poder<br />
político se expressa como a organização dos meios de violência, isto é, o poder é relacionado,<br />
neste caso, a instrumento de dominação. É o que aparece em Jouvenel, por exemplo,<br />
“Comandar e obedecer, sem isto não há poder - e com isto nenhum outro atributo é necessário<br />
para que ele exista... Aquilo sem o que não há poder: esta essência é o comandar” (apud<br />
<strong>Arendt</strong>, 2000, p.32).<br />
Se o poder é identificado como comando e obediência e se a guerra/violência pertence<br />
à essência do poder, <strong>Arendt</strong> lança-nos a pergunta: “O desaparecimento da violência nas<br />
relações entre os Estados significaria o fim do poder?”. Mais adiante ela nos diz: “se a<br />
essência do poder é a efetividade do comando então não há maior poder do que aquele<br />
emergente do cano de uma arma...” (ARENDT, 2000, p.32).<br />
Para <strong>Arendt</strong>, portanto, a concepção de que a violência é a manifestação de poder<br />
deriva de uma outra, a de poder absoluto que acompanhou a ascensão do estado-nação<br />
europeu, a qual remete à concepção de domínio do homem sobre o homem:<br />
[Estas definições] não apenas derivam da velha noção do poder absoluto,<br />
que acompanhou o surgimento do Estado-nação europeu soberano, e cujos<br />
primeiros e maiores porta-vozes foram Jean Bodin... Thomas Hobbes... Mas<br />
também coincidem com os termos usados desde a antiguidade grega para<br />
definir as formas de como o domínio do homem pelo homem... (ARENDT,<br />
2000, p. 33).<br />
De fato, Thomas Hobbes expôs pela primeira vez uma concepção de poder bastante<br />
sofisticada. Para este autor o poder correspondia a um conjunto de normas e regras, delegado<br />
ao Soberano pelos súditos, com o fim de manter a ordem pública. Ou seja, o poder é a<br />
capacidade que tem o Soberano para obter obediência dos seus súditos. Esse modelo de<br />
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