Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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conforme a autora, os estudantes parecem desconhecer esse fato, não vêem que têm se<br />
deparado com experiências “inéditas” do presente, e assim “perdem seu tempo” recorrendo à<br />
“argumentos teóricos que contém uma mistura de todo tipo de remanescências marxistas”<br />
(idem, p.19).<br />
Nesse sentido, podemos perceber, acompanhando Valle, que <strong>Arendt</strong> tenta mostrar a<br />
inconsistência teórica da nova <strong>Esquerda</strong>, bem como o anacronismo das teorias e categorias do<br />
século XIX, em particular o pensamento marxista, que no seu entender não servem para<br />
apreender a realidade política do presente, já que os eventos inéditos do século XX não foram<br />
previstos pela tradição de pensamento político (2002, p. 165).<br />
Para <strong>Arendt</strong>, com a ascensão do totalitarismo no século XX deu-se uma ruptura sem<br />
precedentes, que acabou por deixar a tradição ocidental sem categorias para caracterizar tal<br />
fenômeno. Com isso abriu-se uma lacuna entre o passado e o futuro, onde tudo é possível e<br />
nada pode ser previsto desde então. Nessa medida, pois, os eventos são constantemente<br />
confrontados aos “velhos” paradigmas que, por sua vez, não lhes oferecem mais nenhuma<br />
resposta concreta. 19<br />
Com efeito, além do Totalitarismo, a Rebelião Estudantil, o desenvolvimento<br />
tecnológico, bem como o aumento dos implementos de violência, são vistos por <strong>Arendt</strong> como<br />
eventos inauditos do século XX; a autora considera que todos estes transpõem os limites das<br />
teorias clássicas.<br />
O que salta aos olhos frente a insistência de <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> em desautorizar qualquer<br />
perspectiva de crítica ao capitalismo ou ainda, a filiação dos estudantes rebeldes e dos<br />
intelectuais à teoria marxista, é a sua determinação em negar uma perspectiva que tenha como<br />
fundamento a esperança no progresso e na emancipação humana.<br />
19 Como se sabe, <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> em Origens do Totalitarismo (1951), caracterizou o totalitarismo como<br />
sendo uma forma de governo que se baseia na dominação, na organização burocrática de massas, no terror e na<br />
ideologia. Esse trabalho tornou-se polêmico uma vez que a autora define como totalitários tanto os regimes<br />
nazista alemão quanto o regime soviético liderado por Stálin, desconsiderando as diferenças que existem entre<br />
ambos.<br />
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