Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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Hegel, o homem “produz-se” a si mesmo por meio do pensamento, enquanto<br />
para Marx, que virou o “idealismo” hegeliano de cabeça para baixo, era o<br />
trabalho, a forma humana do metabolismo com a natureza que preenchia esta<br />
função (ARENDT, 2000, p. 19).<br />
Assim, segundo a autora, a idéia de Hegel “colocada de cabeça para baixo por Marx”<br />
chega ao conceito de trabalho e não no de violência. <strong>Arendt</strong> considerava que os glorificadores<br />
da violência (Sartre e Fanon) estavam fazendo uma confusão teórica no que se refere a<br />
Marx. 17<br />
Com base nas afirmações de <strong>Arendt</strong>, Valle (2002) afirma:<br />
Está em pauta, não apenas a recusa do marxismo clássico por <strong>Arendt</strong>, como<br />
também a acusação de que a <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong>, e particularmente Sartre, e as<br />
organizações estudantis se afastam radicalmente da tradição marxista e de<br />
seu humanismo, que dizem retomar e que, segundo ela, encontra-se na<br />
valorização absoluta do trabalho na criação e transformação do homem e da<br />
sociedade. Afirma, inclusive, que enquanto Hegel considera a atividade do<br />
pensamento fundamental para a autocriação do Homem, Marx prioriza o<br />
trabalho (2002, p. 166).<br />
Nesse sentido, <strong>Arendt</strong> insistia em tentar demonstrar o “descompasso” dos novos<br />
militantes quanto à teoria de Marx. Para ela, a rebelião estudantil, sendo um fenômeno<br />
inesperado e de forte conotação moral, não poderia se valer de categorias e paradigmas<br />
tradicionais, isto é, de categorias do “século XIX”, que já não davam mais conta, em sua<br />
concepção, de apreender a realidade na sua autenticidade:<br />
Não preciso acrescentar que todas as nossa experiências neste século, que<br />
sempre nos confrontou com o totalmente inesperado, estão em flagrante<br />
contradição com estas noções e doutrinas, cuja própria popularidade parece<br />
consistir em que elas oferecem um refúgio confortável, especulativo ou<br />
pseudocientífico em relação à realidade. Uma rebelião estudantil quase<br />
17 Como se sabe, Marx em o Manifesto do Partido Comunista, considerou a violência como a parteira da<br />
História e ela encontra-se inscrita na própria base da organização social capitalista, não havendo a possibilidade<br />
de superação senão pelo conflito. Portanto, na perspectiva da teoria da luta de classes a violência é inerente à<br />
estrutura capitalista, e tem no Estado o representante dos interesses da classe opressora. Desse modo, nota-se que<br />
a leitura de <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> sobre Marx é enviesada, buscando, de qualquer forma, desqualificar os novos<br />
intelectuais e os novos militantes revolucionários.<br />
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