Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Sartre, no prefácio de Os condenados da terra, de Fanon, seguiu o mesmo caminho de<br />
argumentação deste autor, descrevendo os mecanismos do colonialismo na Argélia e as<br />
diversas formas de violência intrínsecas a esse sistema, bem como descreve o processo de<br />
decadência desse colonialismo. Com base nas evidências relatadas por Fanon, Sartre conclui<br />
que o processo de descolonização é, igualmente ao colonialismo, violento, pois “nenhuma<br />
suavidade apagará as marcas da violência”, já que o “filho da violência, extrai dela a cada<br />
instante a sua humanidade”; dessa forma, “só a violência é que pode destruí-la” (1961, p. 14).<br />
Sartre faz esta afirmação levando em conta que a violência seria a primeira etapa do processo<br />
de libertação, isto é, a primeira reação psicológica do colonizado frente aos colonizadores, já<br />
que se trata da explosão imediata da raiva que se encontrava reprimida. Esse momento<br />
consistiria, por assim dizer, no “primeiro tempo da revolta”, seguido da necessária união dos<br />
países do Terceiro mundo (África, Ásia e América Latina) para colocarem em curso a<br />
revolução: ou “realizaremos todos em conjunto e por toda a parte o socialismo revolucionário<br />
ou seremos derrotados um a um por nossos antigos tiranos” (SARTRE, 1979, p.6-14).<br />
Portanto, ao nosso ver, as afirmações dos autores acima são concernentes a uma<br />
situação muito específica, suas análises correspondiam às exigências daquele contexto<br />
histórico bem como da realidade social específica, no caso, a realidade da Argélia. Dessa<br />
forma, um tipo de análise que não leva em consideração o papel da determinação histórica<br />
resultará em simplificações cujo fim será ocultar o que realmente estava em jogo, incorrendo<br />
na simples negação daquele tipo de resistência em favor do status quo colonialista.<br />
Com isso, a autora alemã identificou na retórica da <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong> a retomada da<br />
utopia revolucionária que se identificava com a violência.<br />
Em sua perspectiva, os novos militantes foram influenciados de modo a tomarem a<br />
violência como única forma possível de inverter o processo de crise levada à cabo pela<br />
instrumentalização da razão. Segundo <strong>Arendt</strong> (2000), o fator responsável pelo levante dos<br />
estudantes nas universidades teria sido:<br />
58