Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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Por outro lado, a leitura de <strong>Arendt</strong> sobre o movimento Black power é reducionista na<br />
medida em que credita a este movimento a intromissão da violência nos campi universitários.<br />
É absolutamente desconsiderado, na análise de <strong>Arendt</strong>, que a defesa da violência<br />
revolucionária pela <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong> respondia à própria conjuntura mundial que se relacionava<br />
com a possibilidade da vitória dos movimentos de libertação nacional (VALLE, 2002, p.<br />
159).<br />
Mais adiante, em seu ensaio, <strong>Arendt</strong> afirma que a “glorificação” da violência pela<br />
<strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong>, sua retórica e ação radicalizadas nos campi universitários se basearam em<br />
“teorias que pretendiam marxistas, as quais correspondem ao princípio de que a violência é a<br />
única forma de interromper o processo histórico” (p. 18). Para a autora, a retórica da <strong>Nova</strong><br />
<strong>Esquerda</strong> coincidia teoricamente com o princípio de Mao Tsé-Tung, para quem o “poder brota<br />
do cano da arma”. E a autora também acusa os trabalhos teóricos de Jean-Paul Sartre (1905-<br />
1980) – em particular referindo-se ao prefácio deste para o livro de Frantz Fanon (1925-<br />
1961), Os condenados da Terra – de serem, por assim dizer, os mentores intelectuais dos<br />
estudantes. 16<br />
De fato a obra Os Condenados da Terra (1961) exerceu forte influência sobre os<br />
movimentos anticoloniais em geral e, em particular, sobre o movimento negro dos Estados<br />
Unidos, pois sua análise sobre a dominação das potências imperialistas, baseada no racismo,<br />
se inseria no contexto do processo das independências africanas e da emergência da ideologia<br />
do terceiro-mundo.<br />
Vale lembrar que a obra de Fanon está situada num contexto histórico específico,<br />
sendo necessário entender, portanto, as circunstâncias que o levou a defender a violência<br />
como possibilidade de transformação, afim de não cometer leviandades e simplificações com<br />
16 Frantz Fanon (1925-1961), nasceu na Martinica, serviu o exercito francês na luta contra o Nazismo.<br />
Após ter servido o exercito, ele estudou medicina, formando-se em psiquiatria. Além da medicina, Fanon<br />
estudou ainda Filosofia, onde se aproximou dos estudos de Hegel, Marx, Lênin, Husserl, Heidegger e Sartre,<br />
tendo se dedicado ao estudo do conceito de alienação proposto por Hegel e Marx. Depois de concluir seus<br />
estudos, Fanon foi trabalhar na Argélia como médico, tendo se engajado na luta pela independência daquele país<br />
(LIPPOLD, 2005 p. 10).<br />
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