Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
De que violência está falando <strong>Arendt</strong>? Infelizmente a autora não especifica ou mesmo<br />
relata os fatos que comprovariam tal violência. Mas vale notar que a autora também se<br />
esquece, igualmente, de citar os eventos nos quais os manifestantes negros pelos direitos civis<br />
tiveram que suportar, em respeito às leis, as piores violências perpetradas por policiais e por<br />
racistas! Ao invés de denunciar os absurdos que envolvem os negros em muitos estados<br />
americanos, absurdos estes que estão baseados no sistema econômico-social, <strong>Arendt</strong>,<br />
contrariamente, se aborrece afirmando que a instituição acadêmica tende a “ceder mais às<br />
demandas dos negros, mesmo se elas são evidentemente tolas e abusivas, do que às<br />
reivindicações desinteressadas e, com freqüência, altamente morais dos rebeldes brancos”<br />
(ARENDT, 2000, p 23). A autora alemã aponta a aproximação dos estudantes brancos ao<br />
movimento Black Power, e chega a criminalizá-lo, não aprovando a associação dos estudantes<br />
brancos – rebeldes legítimos - aos negros – rebeldes criminosos.<br />
Valle (2002) ressalta que <strong>Arendt</strong> criminaliza a ação do movimento Black Power por<br />
considerar a prática da violência destrutiva, observando que por se tratarem de interesses<br />
específicos deveriam situar-se fora do campo da política (p.176).<br />
A despeito de <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> criminalizar as ações do movimento Black Power e<br />
julgar a ação e retórica dos militantes da <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong> como destrutiva, pois se tratava, no<br />
seu entender, de ação e retórica violenta, aqui entendemos que a argumentação de <strong>Arendt</strong><br />
acaba simplificando dois aspectos importantes dessa discussão. O primeiro é que <strong>Arendt</strong> se<br />
refere aos estudantes como se estes, efetivamente, possuíssem as condições básicas para<br />
empreender a violência ou, ainda, como se estes procurassem a violência, o que é falso. E, em<br />
segundo lugar, quem de fato lançou mão da violência nos termos em que coloca <strong>Hannah</strong><br />
<strong>Arendt</strong>, foram os grupos de guerrilha no contexto do processo de independência dos países do<br />
chamado Terceiro-mundo, como veremos a seguir.<br />
53