Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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capitalista. Ou seja, a partir do momento em que a ciência tornou-se uma força produtiva<br />
(cibernética aplicada à produção, por exemplo), uma grande parcela dos estudantes, isto é,<br />
aqueles que se preparavam para ocupar importantes funções no processo de produção, como<br />
os engenheiros, administradores que iriam gerir a vida econômica ou aqueles que realizariam<br />
pesquisa científica, começaram a viver e a refletir sobre as novas contradições do sistema<br />
capitalista, bem como dos papéis que viriam a desempenhar no seio deste sistema. Nesse<br />
sentido, o tema da alienação veio à tona, e os estudantes faziam a analogia de sua situação<br />
com a situação dos trabalhadores nas empresas e, com isso, concebiam a semelhança do<br />
professor ao patrão ou ao Estado-patrão (GARAUDY, 1985, p. 36-37).<br />
Portanto, o que <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> se negou a entender é o fato de que a politização das<br />
Universidades se constituía em expressão de um evento novo, a saber, o de existir um<br />
fundamento de classe nas lutas e na consciência dos estudantes e, portanto, essas lutas<br />
possuíam implicações objetivamente revolucionárias. Havia ainda, por parte dos estudantes, a<br />
perspectiva de evitar que a Universidade continuasse sendo um instrumento de conservação<br />
da sociedade capitalista, sendo preciso torná-la um foco de mudança (GARAUDY, 1985, p<br />
35).<br />
Contudo, a autora insiste no pressuposto de que não há luta estrutural entre capital e<br />
trabalho, mas conflitos entre grupos de interesses, conflitos esses que podem ser resolvidos<br />
através da negociação, fazendo valer as regras democráticas no âmbito da política e não na<br />
Universidade, cuja função, no seu entender, é a busca da verdade.<br />
Por outro lado, <strong>Arendt</strong> acusa o movimento Black Power de ser o responsável em<br />
inserir a violência “séria” nos campi:<br />
Estudantes negros, a maioria dos quais admitia sem qualificação acadêmica,<br />
conceberam-se e organizaram-se como um grupo de interesse, os<br />
representantes da comunidade negra. Seu interesse era o de baixar os<br />
padrões acadêmicos. Eles eram mais cautelosos que os rebeldes brancos,<br />
mas estava claro desde o início que, com eles, a violência não era apenas<br />
uma questão de teoria e retórica (2000, p. 22).<br />
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