Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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Contrariamente à perspectiva arendtiana, a qual enxergava a desobediência civil como<br />
uma forma genuinamente democrática e legítima, Herbert Marcuse não considera esta como<br />
uma alternativa eficaz, pois em sua concepção esta forma de resistência não ultrapassa os<br />
limites da legalidade, portanto, da ordem constituída. Em verdade, a desobediência civil,<br />
como resistência, se constitui num direito reconhecido legalmente; sem esse direito estar-se-ia<br />
vivendo na barbárie, concluiu o autor (MARCUSE, 1969, p. 58). 15<br />
Buscando entender as razões do aparecimento da violência nos conflitos que<br />
envolviam os estudantes, <strong>Arendt</strong> defende uma visão tradicional da Universidade, segundo a<br />
qual a politização das universidades (para <strong>Arendt</strong> levada pelos estudantes), deveria ser<br />
deplorada, pois se trata de instituições que devem se manter imparciais intelectualmente,<br />
tendo como função social e política a busca da verdade. Portanto, as instituições universitárias<br />
deveriam se manter alheias às pressões sociais, bem como às do governo. Ademais, os<br />
conflitos acadêmicos “não são uma questão de interesses conflitantes e guerra de classes”,<br />
segundo a autora (ARENDT, 2000, p. 72).<br />
Ora, ao invés de se perguntar quais são as causas e as razões que levaram à politização<br />
das Universidades, <strong>Arendt</strong> elabora uma análise que se afasta dos fatos reais e esbarra numa<br />
séria abstração do papel desta instituição, bem como da razão da politização desta levada<br />
pelos estudantes. Duas perguntas poderiam ser colocadas: qual é a razão de ser da politização<br />
nas Universidades? Por que os estudantes chamam a atenção para o papel dessas Instituições<br />
no processo do desenvolvimento das forças produtivas?<br />
Pode-se esclarecer os pontos acima levantados a partir da significação das lutas<br />
estudantis e suas relações com as lutas dos trabalhadores, já que os estudantes estavam se<br />
preparando nas universidades para serem executivos do processo de produção do sistema<br />
15 Herbert Marcuse, filósofo da Escola de Frankfurt, se tornou conhecido mundialmente no contexto da<br />
Rebelião Estudantil por apoiar incondicionalmente a oposição dos estudantes. Seus escritos sobre a natureza da<br />
sociedade ocidental são, comumente, vistos como fornecendo o fundamento intelectual para as ações Estudantis.<br />
Segundo Isabel Loureiro, todavia, Marcuse seria o único filósofo da Escola de Frankfurt a buscar, naquele<br />
momento, unir filosofia, teoria social e política radical (LOUREIRO, Isabel. e OLIVEIRA, Robespierre de.<br />
1999, p. 7).<br />
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