Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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pode levar à destruição de tudo o que a tornara válida antes (ARENDT,<br />
2000, p.29).<br />
Assim, a filósofa alemã mostra que o temor à guerra nuclear fez com que a nova<br />
geração, frente aos conflitos internacionais, pregasse uma política pacifista, isto é, de não<br />
agressão no campo das relações externas.<br />
<strong>Arendt</strong> sugere que com o princípio da não-violência se conseguiu grandes feitos na<br />
área dos direitos civis, sendo tributário dessa prática política o movimento de resistência<br />
contra a guerra do Vietnã, obtendo grande sucesso ao mobilizar a opinião pública dos<br />
Estados Unidos (2000, p. 20). Ela observa que até o momento em que lançaram mão da ação<br />
pacifista, realizando ocupações dos prédios da universidade, sit-ins (ocupações pacíficas de<br />
protesto), os estudantes teriam iniciado uma ação genuinamente democrática, participativa e<br />
que a radicalização do movimento estudantil somente viria com a interferência da polícia em<br />
suas manifestações.<br />
Nota-se, com efeito, que a desobediência civil é vista por <strong>Arendt</strong> como um<br />
instrumento puramente político que consegue obter importantes resultados, como questionar a<br />
legitimidade da autoridade governamental. Nesse sentido, esse tipo de contestação civil, que<br />
se inscreve nos termos da legalidade, é aceita pela autora em detrimento da ação que recorre<br />
a instrumentos revolucionários. Portanto, a contestação se justifica enquanto meio não<br />
violento de resistência à opressão (VALLE, 2002, p. 157).<br />
Não obstante, para Valle (2002), a resistência, ao se restringir aos termos legais, serve<br />
em grande medida para reafirmar o status quo do capitalismo. Ou seja, a resistência, ao se<br />
circunscrever à via institucional, dentro dos marcos do “compromisso” democrático,<br />
mostrava-se incapaz de fundar novas instituições sociais, e acabava corroborando a ordem<br />
vigente. Ou ainda, a desobediência civil serve apenas para apelar à lei alguma ilegalidade;<br />
para colocar problemas legais circunscritos nos termos legais.<br />
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