Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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Em sua análise <strong>Arendt</strong> destacou como fator relevante do século XX, que se relaciona<br />
intimamente com o levante dos estudantes, o desenvolvimento tecnológico e as descobertas<br />
oriundas dos testes nucleares, que acabariam por representar o desenvolvimento de uma<br />
tecnologia voltada para as armas de destruição. A tecnologia implicava, desse modo, o<br />
aperfeiçoamento e a multiplicação de implementos da violência.<br />
Segundo <strong>Arendt</strong>, o pathos e o élan da <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong> estão intimamente relacionados<br />
com o desenvolvimento das armas de destruição modernas, o que a torna uma geração que<br />
cresceu sob a ameaça da bomba atômica.<br />
Essa geração herdou da geração dos seus pais a experiência de uma<br />
intromissão massiva da violência criminosa na política: aprendeu no colégio<br />
e na universidade sobre os campos de concentração e extermínio, sobre o<br />
genocídio e a tortura, os massacres em massa dos civis na guerra, sem os<br />
quais as modernas operações militares não são mais possíveis, mesmo se<br />
restritas às armas “convencionais” (ARENDT, 2000, p. 20).<br />
Conforme a autora alemã, os estudantes teriam tomado consciência de que o<br />
desenvolvimento tecnológico não coincidiu com o desenvolvimento humano e viam no<br />
aumento do progresso tecnológico a possibilidade da guerra nuclear. De uma vez por toda<br />
essa geração teria se convencido de que as promessas da racionalidade científica, que tem<br />
suas raízes no Iluminismo, não se efetivavam, e perceberam que as pesquisas científicas<br />
realizadas no interior da Universidade, bem como a especialização crescente, não mais davam<br />
conta de mediar os efeitos catastróficos do desenvolvimento tecnológico voltado para a<br />
guerra.<br />
Na concepção de <strong>Arendt</strong> os estudantes haviam tomado consciência de que “o<br />
progresso tecnológico está em muitos casos levando diretamente ao desastre”:<br />
E é verdade que não é de modo algum impossível que tenhamos atingido[....]<br />
um ponto decisivo, o ponto dos resultados destrutivos. Não apenas o<br />
progresso da ciência deixou de coincidir com o progresso da humanidade (o<br />
que quer que isso signifique), mas também poderia mesmo disseminar o fim<br />
da humanidade, tanto quanto o progresso ulterior da especialização bem<br />
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