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Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda

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consolidação de uma cultura pautada no individualismo, consumo em massa; na tendência<br />

capitalista em formar párias sociais até mesmo no interior das sociedades abastadas, na<br />

segregação racial, na desigualdade entre as nações e, principalmente, na perpetuação da<br />

miséria no chamado Terceiro Mundo. Assim, o radicalismo dos estudantes foi intensificado<br />

em função desses elementos que se apresentavam e, comumente, eram maquiados<br />

ideologicamente pela farsa do pluralismo cultural.<br />

A primeira reação dos estudantes norte-americanos frente aos acontecimentos acima<br />

citados foi a de adotar uma política pacifista que resultou na desobediência civil, bem como<br />

no boicote à convocação do serviço militar obrigatório: em outubro de 1965, dezenas de<br />

milhares de estudantes foram às ruas de <strong>Nova</strong> York e Berkeley protestarem contra a Guerra<br />

do Vietnã, gritando palavras de ordem como “Saiam do nosso bairro e do Vietnã”. Outras<br />

vezes os estudantes ensinavam como fraudar os exames do recrutamento militar, como<br />

também eram queimadas diante das redes de TV as carteiras de reservista (Le Monde,<br />

Outubro de 1965).<br />

Longe de desmerecer o valor que possuem as manifestações pacifistas pelos direitos<br />

civis, cumpre salientar que algumas vezes elas foram capazes de, em respeito às leis, tolerar<br />

as piores violências das forças de repressão e dos racistas, como relatou Guy Debord em<br />

1965. Nas palavras deste autor, “a não-violência tinha atingido o limite ridículo de sua<br />

coragem: se expor aos golpes do inimigo para em seguida ter a grandeza moral de poupar-lhe<br />

a necessidade de usar novamente sua força” (DEBORD, 2002, p.122).<br />

Os estudantes norte-americanos, em particular, foram capazes também de perceber que<br />

a racionalidade subjacente ao modelo norte-americano de democracia se acoplava ao modelo<br />

econômico vigente, de maneira a reproduzir a dominação então legitimada pela racionalidade<br />

técnico-científica, a qual se distanciava, efetivamente, da emancipação humana. Mais ainda,<br />

foram capazes de perceber e denunciar as contradições sócio-econômicas do sistema<br />

capitalista, que produziam em seu país a segregação racial, a decomposição de valores de<br />

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