Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Político CAPÍTULO - 1 1.1 - A Guerra Fria e a Construção do “consenso” Econômico e Ao término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) os países beligerantes da Europa encontravam-se devastados. Os povos desses países sentiam-se desolados frente aos horrores oriundos dos ataques à bomba e das sucessivas ocupações realizadas pelo exército nazista; a barbárie nazista não teve comparação com nenhuma outra, visto que se caracterizava pelo programa sistemático de sujeição e de extermínio dos povos eslavos e do ódio ao comunismo em favor da “superioridade da raça ariana”. Diante de um mundo exaurido e arruinado, os Estados Unidos, a URSS e a Inglaterra sentaram-se à mesa de negociações, antes mesmo de findar a guerra, para firmarem acordos de paz, bem como para estabelecerem diretrizes da nova ordem política planetária. 3 E, em meio à dramática situação de devastação e insegurança imposta pela longa guerra, emergiram no cenário mundial as duas novas potências que iriam reger os dois blocos ideológicos durante o período que ficou conhecido como Guerra Fria. As duas superpotências eram representadas, de um lado pelos Estados Unidos, e do outro lado pela URSS. Os Estados Unidos, contudo, saíram da longa Guerra passando ao largo das conseqüências dramáticas que acometeram os países da Europa (ataques aéreos, invasões, perda das colheitas, enfim, desorganizações econômicas de toda ordem) 4 , e se 3 Em 1945 a Conferência de Yalta, na Criméria, reúne Stálin, Roosevelt e Churchill cujo objetivo era definir as responsabilidades mundiais. Nessa ocasião foi discutida a criação da ONU e definiram a partilha mundial, reconhecendo a influência privilegiada da URSS sobre a Polônia oriental e nos países bálticos. Contudo, data de 1944 o primeiro esboço de um acordo informal, concluído entre Churchill e Stálin reconhecendo à Inglaterra sua influência sobre a Grécia e à URSS sua influência sobre a Romênia e na Bulgária. Na prática, porém, a verdadeira partilha da Europa se efetivaria em 1947, com a implementação do plano Marshall e com a criação do Kominform (DROZ e ROWLEY, 1988, p. 180). 4 A situação dos países ocupados era verdadeiramente preocupante, uma vez que os combates neles travados ocasionaram significativa redução dos investimentos, desorganização na rede de transportes, destruições nas instalações portuárias, industriais e agrícolas. No final do conflito, a Polônia e a Iugoslávia 18
estabeleceram como uma nova potência hegemônica dentro do capitalismo cuja supremacia se baseava num forte complexo industrial, bem como numa economia avançada sustentada pelo modelo automobilístico e, no plano social, pelo american way of life. Um dos aspectos que aparecem nas análises para explicar a emergência da hegemonia norte-americana, é o seu favorecimento natural pelo afastamento do país das zonas de conflito, o que lhe possibilitou a preservação de todo o seu parque industrial e do seu sistema de transporte e comunicação. Além disso, os Estados Unidos foram beneficiados pela combinação de suas dimensões territoriais e dos recursos minerais. Contudo, diante de alguns dados concretos é difícil não reconhecer que os ganhos exorbitantes da produtividade na indústria voltada para abastecer os países beligerantes foram os responsáveis diretos pelo avanço industrial e pelo começo da organização da supremacia mundial norte-americana (DROZ e ROWLEY, 1988, p. 116). Entre 1939 e 1944, o PNB americano cresceu, em dólares constantes, de 89 000 para 135 000 milhões, sob a pressão das despesas de guerra, que representavam 40% da produção nacional em 1944, mas também do consumo nacional que cresceu 12% em cinco anos. Todas as indústrias, com exceção da gráfica e do vestuário se viram não só poupadas ao ciclo recuperação/recessão dos anos trinta, como também projetadas as taxas de crescimento de 15% ao ano, desconhecidas em tempo de paz. Um tal resultado não poderia ser explicado apenas pelo afastamento das zonas de conflitos; se os Estados Unidos puderem “levar ao colo” a Grã-Bretanha e a URSS, tal ficou a dever-se aos ganhos excepcionais de produtividade registrados por uma industria que realizava a sua reestruturação setorial voltada para os setores de ponta, a fim de abastecer os Aliados. Fornecendo 60% das munições e aviões, a América recuperava o seu avanço industrial e começava a organizar a sua supremacia mundial (DROZ e ROWLEY, 1988, p. 108). Dessa forma, a concentração e a centralização da capacidade produtiva dos Estados Unidos e da demanda dos países beligerantes eram enormes. Em 1938 a renda nacional norte- americana era aproximadamente três vezes superior à da URSS e, em 1948 essa renda subiu para mais de seis vezes. Enquanto os países da Europa e o Japão assistiam a inflação devorar tiveram 33% do seu stock de capital destruído, seguido da URSS com 25%, a Alemanha com 13%, a França e a Itália com 8% cada e a Grã-Bretanha com 3% (DROZ e ROWLEY, 1988, p. 136). 19
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estabeleceram como uma nova potência hegemônica dentro do capitalismo cuja supremacia se<br />
baseava num forte complexo industrial, bem como numa economia avançada sustentada pelo<br />
modelo automobilístico e, no plano social, pelo american way of life.<br />
Um dos aspectos que aparecem nas análises para explicar a emergência da hegemonia<br />
norte-americana, é o seu favorecimento natural pelo afastamento do país das zonas de<br />
conflito, o que lhe possibilitou a preservação de todo o seu parque industrial e do seu sistema<br />
de transporte e comunicação. Além disso, os Estados Unidos foram beneficiados pela<br />
combinação de suas dimensões territoriais e dos recursos minerais. Contudo, diante de alguns<br />
dados concretos é difícil não reconhecer que os ganhos exorbitantes da produtividade na<br />
indústria voltada para abastecer os países beligerantes foram os responsáveis diretos pelo<br />
avanço industrial e pelo começo da organização da supremacia mundial norte-americana<br />
(DROZ e ROWLEY, 1988, p. 116).<br />
Entre 1939 e 1944, o PNB americano cresceu, em dólares constantes, de 89<br />
000 para 135 000 milhões, sob a pressão das despesas de guerra, que<br />
representavam 40% da produção nacional em 1944, mas também do<br />
consumo nacional que cresceu 12% em cinco anos. Todas as indústrias, com<br />
exceção da gráfica e do vestuário se viram não só poupadas ao ciclo<br />
recuperação/recessão dos anos trinta, como também projetadas as taxas de<br />
crescimento de 15% ao ano, desconhecidas em tempo de paz. Um tal<br />
resultado não poderia ser explicado apenas pelo afastamento das zonas de<br />
conflitos; se os Estados Unidos puderem “levar ao colo” a Grã-Bretanha e a<br />
URSS, tal ficou a dever-se aos ganhos excepcionais de produtividade<br />
registrados por uma industria que realizava a sua reestruturação setorial<br />
voltada para os setores de ponta, a fim de abastecer os Aliados. Fornecendo<br />
60% das munições e aviões, a América recuperava o seu avanço industrial e<br />
começava a organizar a sua supremacia mundial (DROZ e ROWLEY,<br />
1988, p. 108).<br />
Dessa forma, a concentração e a centralização da capacidade produtiva dos Estados<br />
Unidos e da demanda dos países beligerantes eram enormes. Em 1938 a renda nacional norte-<br />
americana era aproximadamente três vezes superior à da URSS e, em 1948 essa renda subiu<br />
para mais de seis vezes. Enquanto os países da Europa e o Japão assistiam a inflação devorar<br />
tiveram 33% do seu stock de capital destruído, seguido da URSS com 25%, a Alemanha com 13%, a França e a<br />
Itália com 8% cada e a Grã-Bretanha com 3% (DROZ e ROWLEY, 1988, p. 136).<br />
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