Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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ideologias, desmascarando a política imperialista dos governos, em particular dos Estados<br />
Unidos, que se escondia atrás do mito do pluralismo e da Democracia. 1<br />
Assim, cumpre perguntar: o que havia de plural na segregação racial, na<br />
neocolonização dos países do chamado terceiro mundo pelas potencias financeiras, na<br />
ofensiva dos EUA contra o Vietnã?<br />
Com efeito, os anos 60, segundo Jacoby (2000), “constituem um período de<br />
incansáveis questionamentos. Não se discutia apenas uma revolução política, mas uma<br />
revolução na vida, na moral e na sexualidade, e às vezes se promovia esta revolução” (p. 21).<br />
Devido ao ineditismo dos movimentos de protesto e o vigor da ação radical da <strong>Nova</strong><br />
<strong>Esquerda</strong> durante a década de 60 muitos intelectuais tentaram explicar as causas e a natureza<br />
desses eventos. Entre esses intelectuais se destaca <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> (1906-1975), que se<br />
inscreveu no debate filosófico participando da polêmica acerca da questão da violência e de<br />
sua permanência na política. 2<br />
Todavia, a autora alemã se tornou conhecida no meio acadêmico, sobretudo após ter<br />
publicado, em 1951, “Origens do Totalitarismo”. Nessa obra <strong>Arendt</strong> apresentou a história do<br />
anti-semitismo, do racismo e do imperialismo como expressão do totalitarismo que, na sua<br />
opinião, aparecia sem precedente na história; pretendia examinar apenas o totalitarismo que<br />
tinha como alvo o Nazismo, e chegou mesmo a denunciar o “desenvolvimento de métodos<br />
totalitários” em Israel. Mudou de planos três anos depois, e no contexto de Guerra-Fria forjou<br />
a tese que tinha por alvo a Alemanha de Hitler e a União Soviética (LOSURDO, 2003, p.55).<br />
Conforme explica Jacoby (2007), a tese do totalitarismo, nesse contexto, era sinônimo<br />
da Ideologia e esta noção associava as idéias utópicas com a violência e com a ditadura.<br />
1 Entende-se por <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong> o movimento constituído por intelectuais, artistas, estudantes e jovens<br />
radicais que romperam com a chamada “Velha <strong>Esquerda</strong>”, num primeiro momento, em virtude do stalinismo.<br />
Embora desprezasse a perspectiva instaurada por Stálin, a <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong> compartilhava, juntamente com a<br />
<strong>Esquerda</strong> em geral, do mesmo princípio de pensar a transformação social com base na centralidade do trabalho,<br />
de modo a instaurar uma sociedade nova.<br />
2 <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> nasceu em Hannover, em 1906. Desde jovem se dedicou ao estudo da filosofia e<br />
teologia, tendo como professores Heidegger e Jaspers. Em 1934, devido à ascensão do Nazismo na Alemanha,<br />
exila-se em Paris e, em 1941, muda-se para os EUA, onde ficou até sua morte em 1975. Seus textos mais<br />
destacados são: The Origens of Totalitarism (1951) e The Human Condition (1958).<br />
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