Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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Contudo, o que de fato está em jogo na argumentação de <strong>Arendt</strong> é seu empenho em<br />
desqualificar a compreensão da <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong> a respeito da sociedade capitalista e da<br />
manifesta negação dos valores da cultura liberal burguesa e da democracia em termos do<br />
“pluralismo”. Em verdade, <strong>Arendt</strong> rejeita o referencial revolucionário da <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong>, que<br />
se baseia na luta de classes e coloca na ordem do dia a urgência da transformação social.<br />
No seu entender, a glorificação da violência pelo movimento estudantil baseava-se em<br />
argumentos teóricos que “não contém mais do que uma mistura de todo tipo de<br />
remanescências marxistas” (ARENDT, 2000, p.23). Com isso, a autora parece sugerir que os<br />
argumentos teóricos do movimento estudantil estariam esvaziados de conteúdo histórico,<br />
bem como distantes do processo social concreto.<br />
Nesse sentido, <strong>Arendt</strong> rebate a violência por considerá-la antipolítica e, desse modo,<br />
observa que a violência, quando se inscreve em assuntos públicos, tende a minar o poder e<br />
instaurar a barbárie. Portanto, a violência, para <strong>Arendt</strong>, não é geradora de poder. Entretanto,<br />
como vimos, em nenhum momento <strong>Arendt</strong> apresentou qualquer fato que comprovasse o uso<br />
efetivo dos meios de violência por parte dos estudantes, ou ainda, conseguiu demonstrar que a<br />
violência de fato tenha saído da retórica da <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong> para se efetivar na prática.<br />
Em decorrência desse fato, juntamente com Marcuse afirmamos que a violência<br />
emergiu entre os estudantes como reação à violência policial, como forma de enfrentar a<br />
repressão policial e, por seu turno, a defesa da violência revolucionária contida na retórica da<br />
<strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong> tem como função romper a violência inerente à manutenção do sistema<br />
capitalista que massacra e normaliza os crimes de guerra, de colonização e os crimes<br />
subliminares que são cultivados cotidianamente - já que esse processo não poderá ser<br />
interrompido pacificamente. Enfim, para Marcuse a violência revolucionária se constituía<br />
numa forma de fazer ruir toda a estrutura de dominação inerente à sociedade capitalista, que<br />
se realiza por meio do Estado através do monopólio legítimo da violência.<br />
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