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Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda

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espaço do reino das necessidades, no qual as mulheres e os escravos eram submetidos ao<br />

domínio do senhor, cujo governo baseava-se na tirania.<br />

Transpondo este modelo para a sua teoria política é que a autora alemã pôde<br />

estabelecer a distinção entre o público e o privado, elegendo a primeira como o espaço per<br />

excellence do político, isto é, do poder isento de interesses. Portanto, é a partir do referencial<br />

da polis grega que <strong>Arendt</strong> concebe a sua teoria de poder, a qual orienta sua argumentação<br />

sobre as revoluções modernas (Francesa e Americana), donde infere que a Revolução<br />

Francesa fracassou precisamente porque seus conselhos populares teriam tentado resolver o<br />

problema da miséria do povo, isto é, teriam tratado de questões econômicas, cuja natureza é<br />

essencialmente antipolítica; seriam disfunções do sistema social e, desse modo, não poderiam<br />

ser solucionadas pelos órgãos genuinamente políticos - os conselhos -, mas por especialistas<br />

(administradores, economistas). <strong>Arendt</strong> não discute, contudo, quais questões deveriam ser<br />

tratadas por estes órgãos.<br />

Na concepção de <strong>Arendt</strong> o poder não consiste em realizar fins, mas garantir o espaço<br />

comum para a manifestação da pluralidade dos indivíduos, esta que se revela através do<br />

discurso e da ação desinteressada. Nesse sentido, não encontramos referência alguma sobre o<br />

conflito enquanto constitutivo da estrutura econômico-político do sistema social. Em verdade,<br />

podemos afirmar que <strong>Arendt</strong> se recusa a analisar as relações de produção e de dominação ao<br />

expurgar do político essas relações que lhes são constitutivas. Como já apontaram alguns<br />

críticos, <strong>Arendt</strong> tentou, com a valorização do espaço público em detrimento do espaço<br />

privado, “libertar" tal espaço das questões que diziam respeitos ao reino das necessidades, já<br />

que estas seriam pertinentes ao espaço social (VALLE, 2002, p. 191).<br />

Dessa forma, podemos indagar: como é possível a construção de uma política<br />

depurada das questões sociais? Ou ainda, como atingir a liberdade, como a quer <strong>Arendt</strong>, se<br />

abstendo ou ignorando as determinações constitutivas do espaço social que implicam<br />

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