Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda

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16.04.2013 Views

Embora exista em termos relativos uma diferenciação entre os espaços do Estado e da economia, que se constitui como característica própria da auto-reprodução do capitalismo, não é razoável crer numa objetivação do Estado e da economia, isto é, não existe uma exterioridade real entre as relações políticas e relações de produção. Antes, a “separação” das esferas “é a forma precisa que encobre, sob o capitalismo, a presença constitutiva do político nas relações de produção e, dessa maneira, em sua reprodução” (POULANTZAS, 1985, 23). Nesse sentido, a dicotomia estabelecida por Arendt a partir da sua conceitualização das distinções entre as esferas do público e do privado perde de vista a conexão orgânica existente, ou ainda, perde de vista a dimensão de relacionamento e de articulação constitutiva de um modo de produção, que a um só tempo é o conjunto de determinações econômicas, políticas e ideológicas. Nesse sentido, podemos afirmar que a teoria política de Arendt refere-se a uma ilusão objetivada, a qual opera no sentido de obscurecer o real significado da esfera econômica quando depurada do sentido político que esta possui. A “diferenciação” entre o econômico e o político, encerrando na esfera “econômica” os conflitos e os interesses que dão lugar à luta de classes, ideologicamente corresponde às exigências da exploração. Essa objetivação está enraizada nas necessidades de reestruturação próprias da teoria liberal- democrática. Em que pese o vigor reflexivo de Hannah Arendt, sua noção de política se apresenta idealista na medida em que ela não encontra correspondência nos fatos do mundo concreto. 110

Considerações Finais Neste trabalho buscou-se compreender e analisar a crítica de Hannah Arendt à Nova Esquerda - representada pelos Estudantes e Intelectuais durante a década de 60 - especialmente pelo uso do que Arendt considera como sendo violência instrumental. Para tanto, foi necessário apreender alguns aspectos da retórica e da ação dos estudantes no contexto do ano de 1968, bem como a definição inovadora de poder elaborada por Arendt, definição essa que enfeixa sua teoria política. Também destacamos a distinção entre poder e violência empreendida pela autora alemã de maneira mais sistematizada em seu famoso ensaio Sobre a Violência. Como vimos, os eventos que impulsionaram a reflexão de Arendt sobre a questão do poder e da violência estão inscritos numa década bastante efervescente: a década de 60. Nesse período, assistiu-se a crise interna dos EUA provocada pela Guerra do Vietnã, a corrida armamentista, os confrontos raciais e a segregação racial nos Estados Unidos. Atrelado a esses fatos, encontravam-se em desenvolvimento as guerrilhas latino-americanas, a Revolução Cultural de Mao-Tsé Tung e as revoluções de libertação nacional. Todos estes fatores indicavam claramente que a “ideologia” ocupava importante espaço no cenário político mundial, contradizendo dessa forma a famosa tese postulada em meados da década de 50 pelos defensores da ordem burguesa sobre o “fim da ideologia”. Ao se inscrever no debate político-filosófico participando da polêmica acerca da violência no âmbito da Nova Esquerda, Hannah Arendt encontrou espaço para esboçar seu inovador conceito de poder, concluindo que o mesmo se encontrava ligado a outros termos que expressavam significados diferentes. Dessa forma, a distinção entre poder, violência, vigor, autoridade e força, empreendida pela autora alemã, teve como justificativa o fato de que estes termos se referiam a fenômenos 111

Considerações Finais<br />

Neste trabalho buscou-se compreender e analisar a crítica de <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> à <strong>Nova</strong><br />

<strong>Esquerda</strong> - representada pelos Estudantes e Intelectuais durante a década de 60 -<br />

especialmente pelo uso do que <strong>Arendt</strong> considera como sendo violência instrumental. Para<br />

tanto, foi necessário apreender alguns aspectos da retórica e da ação dos estudantes no<br />

contexto do ano de 1968, bem como a definição inovadora de poder elaborada por <strong>Arendt</strong>,<br />

definição essa que enfeixa sua teoria política. Também destacamos a distinção entre poder e<br />

violência empreendida pela autora alemã de maneira mais sistematizada em seu famoso<br />

ensaio Sobre a <strong>Violência</strong>.<br />

Como vimos, os eventos que impulsionaram a reflexão de <strong>Arendt</strong> sobre a questão do<br />

poder e da violência estão inscritos numa década bastante efervescente: a década de 60.<br />

Nesse período, assistiu-se a crise interna dos EUA provocada pela Guerra do Vietnã, a<br />

corrida armamentista, os confrontos raciais e a segregação racial nos Estados Unidos.<br />

Atrelado a esses fatos, encontravam-se em desenvolvimento as guerrilhas latino-americanas, a<br />

Revolução Cultural de Mao-Tsé Tung e as revoluções de libertação nacional.<br />

Todos estes fatores indicavam claramente que a “ideologia” ocupava importante<br />

espaço no cenário político mundial, contradizendo dessa forma a famosa tese postulada em<br />

meados da década de 50 pelos defensores da ordem burguesa sobre o “fim da ideologia”.<br />

Ao se inscrever no debate político-filosófico participando da polêmica acerca da<br />

violência no âmbito da <strong>Nova</strong> <strong>Esquerda</strong>, <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> encontrou espaço para esboçar seu<br />

inovador conceito de poder, concluindo que o mesmo se encontrava ligado a outros termos<br />

que expressavam significados diferentes.<br />

Dessa forma, a distinção entre poder, violência, vigor, autoridade e força, empreendida<br />

pela autora alemã, teve como justificativa o fato de que estes termos se referiam a fenômenos<br />

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