Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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Embora exista em termos relativos uma diferenciação entre os espaços do Estado e<br />
da economia, que se constitui como característica própria da auto-reprodução do capitalismo,<br />
não é razoável crer numa objetivação do Estado e da economia, isto é, não existe uma<br />
exterioridade real entre as relações políticas e relações de produção. Antes, a “separação” das<br />
esferas “é a forma precisa que encobre, sob o capitalismo, a presença constitutiva do político<br />
nas relações de produção e, dessa maneira, em sua reprodução” (POULANTZAS, 1985, 23).<br />
Nesse sentido, a dicotomia estabelecida por <strong>Arendt</strong> a partir da sua conceitualização<br />
das distinções entre as esferas do público e do privado perde de vista a conexão orgânica<br />
existente, ou ainda, perde de vista a dimensão de relacionamento e de articulação constitutiva<br />
de um modo de produção, que a um só tempo é o conjunto de determinações econômicas,<br />
políticas e ideológicas.<br />
Nesse sentido, podemos afirmar que a teoria política de <strong>Arendt</strong> refere-se a uma<br />
ilusão objetivada, a qual opera no sentido de obscurecer o real significado da esfera<br />
econômica quando depurada do sentido político que esta possui. A “diferenciação” entre o<br />
econômico e o político, encerrando na esfera “econômica” os conflitos e os interesses que dão<br />
lugar à luta de classes, ideologicamente corresponde às exigências da exploração. Essa<br />
objetivação está enraizada nas necessidades de reestruturação próprias da teoria liberal-<br />
democrática. Em que pese o vigor reflexivo de <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, sua noção de política se<br />
apresenta idealista na medida em que ela não encontra correspondência nos fatos do mundo<br />
concreto.<br />
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