Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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eprodução, dá lugar ao equívoco segundo o qual a essência destas instâncias é anterior à sua<br />
articulação no interior de um modo de produção, dotando-as assim de autonomia em relação<br />
às relações de produção.<br />
Para elucidar melhor esta questão recorremos à explicação de Poulantzas (1985), a<br />
respeito da pretensa autonomia da esfera política. Para este autor, “a autonomia de natureza<br />
das instâncias superestruturais (Estado, ideologia) servirá de legitimação à autonomia, à auto-<br />
suficiência e à auto-reprodução da economia”,<br />
O espaço e o lugar da economia, o espaço das relações de produção, de<br />
exploração e de extração do excesso de trabalho (espaço de reprodução e de<br />
acumulação do capital e de extração da mais-valia no modo de produção<br />
capitalista) jamais constituiu, nem nos outros modos de produção, nem no<br />
capitalismo, um nível hermético e enclausurado, auto-reproduzível e<br />
depositário de sua próprias “leis” de funcionamento interno. O político-<br />
Estado (válido igualmente para a ideologia), embora sob formas<br />
diferentes, sempre esteve constitutivamente presente nas relações de<br />
produção, e assim em sua reprodução, inclusive no estágio prémonopolista<br />
do capitalismo, contradizendo uma série de ilusões relativas<br />
ao Estado liberal, que supostamente não interfere na economia, a não ser<br />
para criar e manter “a infra-estrutura material” da produção<br />
(POULANTZAS, 1985, p 20, grifos nossos).<br />
No mesmo sentido afirmou Ellen M. Wood em Democracia Contra Capitalismo,<br />
que a separação teórica e prática da ação política e econômica corresponde às realidades<br />
próprias do capitalismo “pós-moderno”; corresponde às formas pelas quais a apropriação e a<br />
exploração capitalista realmente dividem as arenas de ação política e econômica em favor da<br />
reprodução do capital (WOOD, 2003, p. 27).<br />
Amparada na discussão empreendida por Marx acerca da economia política<br />
burguesa, Wood (2003) demonstra que a perspectiva que dissocia a economia da política,<br />
(tornando a primeira secundária e despolitizada, dando primazia a segunda e destituíndo-a de<br />
conteúdo social), reforça a prática ideológica burguesa que confirma a naturalidade e a<br />
eternidade das relações de produção capitalista (2003, p. 9).<br />
Nesse sentido Wood (2003) afirma,<br />
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