Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
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pobreza, correndo sempre o risco de incorrer na corrupção política caso viessem a participar<br />
da vida pública, já que seriam traídos pelos desejos de enriquecimento.<br />
Como mostra Valle, a concepção de política de <strong>Arendt</strong>, a qual rechaça da cena<br />
política as massas e se baseia na idéia de que a ascensão destas ao espaço público só poderia<br />
redundar no terror, é herdada da teoria de Tocqueville. O parentesco de <strong>Arendt</strong> com os<br />
pressupostos deste autor diz respeito principalmente à questão social. Nesse sentido ela<br />
afirma:<br />
Para ambos os autores, o reino da necessidade deve estar totalmente<br />
desvinculado da esfera política, esfera da excelência; e quando essa<br />
separação deixa de ser respeitada, como no exemplo da entrada das massas<br />
na Revolução Francesa, momento em que é posta em xeque a natural<br />
existência da pobreza, apenas haverá como saldo a violência e a destruição<br />
(VALLE, 2005, p. 56).<br />
Ora, quando <strong>Arendt</strong> insiste em defender a separação entre o político e o econômico,<br />
ressaltando a necessidade de haver um espaço aberto para a participação nas coisas públicas, a<br />
autora deixa de mencionar, todavia, quais são os assuntos que devem ser tratados nesta esfera<br />
oriundos do consentimento e da persuasão, tão pouco indica quem seriam estes “especialistas”<br />
em condições de dirigir os assuntos da esfera econômica. E, principalmente, a autora não<br />
aponta sobre qual terreno se baseiam as disputas e preocupações próprias do político.<br />
Com efeito, ao fazer a defesa da autonomia da esfera política em relação à<br />
econômica, <strong>Arendt</strong> despreza completamente a inter-relação existente entre política e<br />
economia, bem como desconsidera o fato de que a natureza das questões econômicas é<br />
essencialmente de ordem política.<br />
A concepção que considera a economia como sendo composta de elementos<br />
próprios e invariantes, auto-reproduzível e auto-regulável, oculta as lutas travadas no interior<br />
das relações de produção e de exploração. Do mesmo modo, a concepção de que o espaço do<br />
político, isto é, o Estado, possui limites intrínsecos, traçados por uma pretensa auto-<br />
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