Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
Poder e Violência: Hannah Arendt e a Nova Esquerda
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
3.2. <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> e a separação entre econômico e político: a<br />
revitalização da teoria liberal-burguesa.<br />
Como tentamos mostrar acima, para <strong>Arendt</strong> a distinção entre a esfera pública e<br />
privada foi suplantada pela ascensão da “questão social” que teve princípio com a Revolução<br />
francesa. A partir desse fato, Estado e Governo passaram a se ocupar com a administração das<br />
necessidades sociais, o que significa afirmar que, para <strong>Arendt</strong>, a esfera pública tendeu a<br />
possuir outro significado: o de administrar os interesses e os problemas econômicos e sociais<br />
em detrimento do fortalecimento de instituições legais e políticas independentes dos<br />
interesses econômicos.<br />
O ponto essencial da teoria política arendtiana repousa na perspectiva segundo a<br />
qual Governo e assuntos econômicos não coincidem, pois que o primeiro se baseia no<br />
consentimento e na persuasão enquanto o segundo se caracteriza pelos interesses particulares.<br />
O pressuposto em que se baseia a afirmação de <strong>Arendt</strong> da autonomia das duas esferas, a<br />
política e a econômica, é o de que a separação entre elas assegura e protege a liberdade.<br />
Cumpre ressaltar que para <strong>Arendt</strong> o pleno exercício da liberdade estava atrelado ao<br />
fato de os homens estarem livres das necessidades vitais. Essa autonomia (condição primeira<br />
para adentrar o espaço público), por sua vez, se constitui através da garantia concedida pela<br />
propriedade privada. Sendo assim, somente os indivíduos proprietários é que se encontram<br />
“liberados” para usufruírem dessa tal liberdade e estariam aptos para compartilhar, em atos e<br />
palavras, das decisões na política.<br />
Na teoria política de <strong>Arendt</strong> não há espaço para a atuação política dos pobres pois,<br />
ao seu ver, estes estão submetidos ao império das necessidades vitais e, portanto, destituídos<br />
das “altas capacidades” que compõem as características e os requisitos para a participação na<br />
vida política. O argumento para manter os pobres fora da esfera política se baseia na idéia<br />
segundo a qual eles seriam incapazes de possuir ideais superiores visto que estariam ligados à<br />
103