Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
II<br />
A IDEIA DE PORTUGAL E DA EUROPA<br />
UMA SIMBIOSE POLÍTICA<br />
Após o processo revolucionário português e institucionalizada a <strong>de</strong>mocracia em Portugal,<br />
“poucos, muito poucos, se preocupam também com a Europa do futuro, com o aprofundamento<br />
comunitário,” 398 sendo Mário Soares a personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> excepção. Ele é não só quem se atreve a erguer<br />
a ban<strong>de</strong>ira política da integração europeia <strong>de</strong> Portugal, como projecto para o futuro do país, como<br />
também o político que, ao longo da sua carreira, vai, permanentemente, emitindo um pensamento<br />
estruturado sobre o aprofundamento político da União Europeia. Se, após 1976, a luta pela integração<br />
<strong>de</strong> Portugal na CEE é uma patente das responsabilida<strong>de</strong>s governamentais que assume, esta opção não se<br />
reduz a uma mera alternativa geoestratégica perante o fim <strong>de</strong> décadas <strong>de</strong> ditadura, em que, findo o<br />
império colonial, era necessária uma alternativa. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> integração europeia <strong>de</strong> Soares emana <strong>de</strong> um<br />
amplo e estruturado pensamento acerca <strong>de</strong> Portugal e da Europa, numa i<strong>de</strong>ia que foi ganhando corpo<br />
com a sua formação académica e política.<br />
Ele é, não só dos “poucos, muitos poucos,” que se preocupam com a Europa do futuro, como a<br />
insere na construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo político e filosófico para o futuro <strong>de</strong> Portugal e na sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
Pátria. Ao contrário da falta <strong>de</strong> entusiasmo do povo português e <strong>de</strong> muitos intelectuais lusos, como<br />
Miguel Torga, temeroso da incompatibilida<strong>de</strong> da integração europeia <strong>de</strong> Portugal com a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
atlântica, 399 Soares constrói um discurso entusiasmante, fundamentado num mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> compatibilida<strong>de</strong><br />
das vertentes continental e atlântica, que concebe como elementos <strong>de</strong> afirmação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da Pátria<br />
e da sua contribuição diferenciadora para a Europa do futuro. Na sua concepção, a Europa precisa <strong>de</strong><br />
Portugal e Portugal da Europa, uma simbiose que emana da história e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução dos<br />
problemas contemporâneos da própria Europa e do mundo. Embora esta i<strong>de</strong>ia só se tenha manifestado e<br />
<strong>de</strong>senvolvido com mais veemência e frequência durante os seus dois mandatos na Presidência da<br />
República e após o seu retiro da activida<strong>de</strong> política, ela é transversal a toda a sua carreira política.<br />
398 António Martins da Silva, “A Europa do Futuro e o Futuro […] cit., pp. 359,360.<br />
399 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 363.<br />
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