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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

tomada <strong>de</strong> uma opção política pelo alargamento a Sul, que implicava a extensão da sua zona <strong>de</strong><br />

influência. A integração do Sul da Europa passava também por uma mudança <strong>de</strong> paradigma do papel da<br />

CEE, por uma <strong>de</strong>cisão política.<br />

O alargamento ibérico, com a eminência do fim da Guerra Fria, permitia alargar a zona <strong>de</strong><br />

estabilização e influência geopolítica da Europa ao Atlântico e Mediterrâneo, com todas as pontes <strong>de</strong><br />

exercício <strong>de</strong> política externa que isso lhe oferecia. “Com a a<strong>de</strong>são da Grécia, <strong>de</strong> Portugal e <strong>de</strong> Espanha,<br />

ficaram resolvidas as questões fundamentais <strong>de</strong> segurança no contexto regional europeu. E a<br />

Comunida<strong>de</strong> Europeia a 12, a partir <strong>de</strong> 1986, é encarada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, sobre esse alargamento a Sul,<br />

como traduzindo uma dimensão estabilizável da construção europeia.” 387 Em 12 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1985<br />

Portugal assina o Tratado <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são à CEE, passando a ser membro efectivo em um <strong>de</strong> Janeiro do ano<br />

seguinte.<br />

6.2 – A visão europeia <strong>de</strong> Soares e a ruptura histórica <strong>de</strong> Portugal<br />

Foi, <strong>de</strong> facto, no Governo <strong>de</strong> Soares que a iniciativa do pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são foi tomada, mas não<br />

po<strong>de</strong>mos reivindicar para Mário Soares a originalida<strong>de</strong> do tema, tão-pouco na campanha eleitoral para<br />

as eleições <strong>de</strong> 1976. Soares teve em comum com o lí<strong>de</strong>r do partido principal concorrente do PS, a<br />

assumpção <strong>de</strong> posições europeístas. Também Sá Carneiro <strong>de</strong>fendia uma a<strong>de</strong>são plena à CEE, mesmo<br />

contra os argumentos económicos, como “a melhor garantia da manutenção do regime <strong>de</strong>mocrático.”<br />

Surge até a discussão sobre quem teve a primazia <strong>de</strong> propor a a<strong>de</strong>são à CEE. Se, por um lado, Mário<br />

Soares e o PS reivindicam para si esse papel, a verda<strong>de</strong> é que Sá Carneiro, “quando visita oficialmente a<br />

CEE (Bruxelas), em Setembro <strong>de</strong> 1974, pronuncia um discurso público on<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> da<br />

a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal.” 388 Contudo, a questão da primazia da <strong>de</strong>claração após a Revolução <strong>de</strong> 1974 é<br />

apenas um pormenor <strong>de</strong> tempo, evi<strong>de</strong>nciando apenas a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> momento político oportuno para<br />

o fazer. Não há dúvidas em resgatar para Soares, e alguns dos seus pares, a primazia da manifestação à<br />

Europa da sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> Portugal na CEE.<br />

Como vimos anteriormente, pelo seu percurso político na oposição a Salazar, Soares já<br />

<strong>de</strong>clarara essa intenção aos lí<strong>de</strong>res europeus muito antes da Revolução 25 <strong>de</strong> Abril. Foi uma i<strong>de</strong>ia<br />

sustentada, que evi<strong>de</strong>ncia não apenas a sua estratégia <strong>de</strong> oposição ao Estado Novo, mas também a sua<br />

formação i<strong>de</strong>ológica e a construção <strong>de</strong> um projecto futuro para Portugal. É no sentido da persistência e<br />

longevida<strong>de</strong> com que Soares conduziu e manifestou o seu pensamento sobre a integração europeia <strong>de</strong><br />

Portugal, que po<strong>de</strong>mos conferir-lhe um certo direito paternalista à i<strong>de</strong>ia do pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à CEE.<br />

Não só pela consistência e persistência da i<strong>de</strong>ia como estruturante para Portugal, mas também pelos<br />

diversos modos como a Europa influenciou directa e indirectamente a sua acção e pensamento.<br />

387 Ernâni Rodrigues Lopes, “O Processo <strong>de</strong> Integração <strong>de</strong> Portugal nas Comunida<strong>de</strong>s”, in Norberto Cunha (coord), cit., p. 208.<br />

388 António José Telo, História Contemporâna <strong>de</strong> Portugal – do 25 <strong>de</strong> Abril à Actualida<strong>de</strong>”, Vol. II […] cit., p. 205.<br />

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