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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

sublinhavam as dificulda<strong>de</strong>s imensas <strong>de</strong> a economia portuguesa se adaptar a um mercado livre.” 382<br />

Contra esses argumentos que consi<strong>de</strong>rava válidos, Soares conduz o seu Governo na orientação da<br />

integração europeia. E, com essa intenção, ro<strong>de</strong>ia-se <strong>de</strong> quem já tinha também uma i<strong>de</strong>ia fundada sobre<br />

o assunto. É o caso <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Ferreira, Ministro dos Negócios Estrangeiros no I Governo<br />

Constitucional, que já havia apresentado a sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ao congresso do PS em Aveiro, em 1973,<br />

e já enquanto <strong>de</strong>putado na Assembleia Constituinte, tinha <strong>de</strong>senvolvido um trabalho diplomático nesse<br />

sentido. 383 A escolha <strong>de</strong> Êrnani Lopes para Ministro das Finanças do IX Governo Constitucional, que<br />

tinha sido embaixador <strong>de</strong> Portugal junto das Comunida<strong>de</strong>s Europeias, seguiu o mesmo critério. Êrnani<br />

Lopes revelou-se um negociador fundamental perante o Conselho <strong>de</strong> Ministros da CEE, no rebate aos<br />

entraves económicos colocados pela Europa. 384<br />

A inclusão da Espanha no mesmo processo <strong>de</strong> negociação complicou a vida a Portugal, que<br />

teve um empenho transversal a todos os governos constitucionais até à a<strong>de</strong>são. A questão era<br />

económica, <strong>de</strong>vido ao obstáculo que Madrid representava aos interesses agrícolas <strong>de</strong> outros países<br />

europeus e ao maior esforço financeiro que o alargamento a Sul implicaria para a garantia dos<br />

equilíbrios e da coesão. Sem <strong>de</strong>smérito dos esforços <strong>de</strong> todos os governantes para conduzir o processo<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>são a bom termo, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>scurar o contributo que a visibilida<strong>de</strong> europeia <strong>de</strong> Soares<br />

acrescenta ao sucesso das negociações. Em 1976, o socialista português é eleito vice-presi<strong>de</strong>nte da IS, o<br />

que representa um reconhecimento <strong>de</strong> sua carreira na social-<strong>de</strong>mocracia europeia. Perante as renitências<br />

da Comunida<strong>de</strong> em abarcar os dois países ibéricos, Soares contou com o apoio consi<strong>de</strong>rável dos<br />

alemães e <strong>de</strong> François Miterrand, que se manteve pela <strong>de</strong>fesa da integração portuguesa, perante a<br />

contestação dos agricultores franceses e contrariando até a própria posição pública do então Ministro da<br />

Agricultura francês. 385 Em 1984, perante o impasse nas negociações, Soares vai à Irlanda (que assumia<br />

então a Presidência da CEE) on<strong>de</strong> assina o célebre Constat d‟Accord, que estabelecia o compromisso<br />

político relativo à conclusão das negociações, simbolizando o “reconhecimento, por parte da<br />

Comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> que Portugal estava em condições <strong>de</strong> entrar.” 386 Em 31 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1985, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

várias maratonas <strong>de</strong> negociações, a Comissão Europeia manifesta-se favorável à a<strong>de</strong>são, o que seria<br />

ratificado pelo Conselho a 11 <strong>de</strong> Junho.<br />

Embora os argumentos económicos surgissem como obstáculo à integração, tanto do lado <strong>de</strong><br />

Portugal como da CEE, a questão era, sobretudo, política. Implicava a tomada <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> fundo<br />

da Europa, em que estava subjacente uma visão <strong>de</strong> longo prazo do projecto comunitário, que suplantaria<br />

as questões económicas circunstanciais. E isto valeu tanto para o lado da <strong>de</strong>cisão portuguesa no pedido<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, como europeia, em aten<strong>de</strong>r o pedido. Foi a visão política <strong>de</strong> longo prazo <strong>de</strong> Soares que se<br />

sobrepôs aos argumentos dos economistas sobre a inoportunida<strong>de</strong> económica da a<strong>de</strong>são. Razões que,<br />

reconhecidamente, Soares não conseguia rebater. Também a Comunida<strong>de</strong> Europeia se <strong>de</strong>parou com a<br />

382<br />

António José Telo, História Contemporânea em Portugal, do 25 <strong>de</strong> Abril à actualida<strong>de</strong>, vol. II […] cit., p. 205.<br />

383<br />

José Me<strong>de</strong>iros Ferreira, “A estratégia para a a<strong>de</strong>são às instituições europeias”, in Maria Manuela Tavares Ribeiro, António<br />

Barbosa <strong>de</strong> Melo, cit., pp. 165, 166.<br />

384<br />

Maria João Avillez, Soares, Democracia […] cit., p. 195.<br />

385<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 199, 200.<br />

386 I<strong>de</strong>m ibi<strong>de</strong>m, p. 196.<br />

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