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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

“num primeiro tempo, no entusiasmo e no braseiro da revolução, são muito poucos os que ousam<br />

apontar um <strong>de</strong>stino claro e objectivo para Portugal.” 375 Soares <strong>de</strong>staca-se no marasmo i<strong>de</strong>ológico. “A<br />

Europa Connosco” não é apenas um slogan, mas a abertura <strong>de</strong> uma nova era política para Portugal e<br />

para Soares, regendo toda a sua governação, tanto no primeiro I e II Governos Constitucionais, com o<br />

pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à CEE, como no IX, com a assinatura da a<strong>de</strong>são.<br />

O objectivo <strong>de</strong> integração, que já havia sido <strong>de</strong>batido mesmo antes <strong>de</strong> Soares formar governo<br />

em 1976, foi inscrito no Programa do Governo submetido à Assembleia da República. 376 Embora os<br />

Governos Provisórios já houvessem manifestado intenções <strong>de</strong> aproximação ao MC, particularmente em<br />

1976, com a formalização <strong>de</strong> negociações para obter ajudas e formas <strong>de</strong> cooperação 377 , estas eram,<br />

essencialmente, o reflexo <strong>de</strong> uma necessida<strong>de</strong> económica e <strong>de</strong> uma consciência <strong>de</strong> que findo um<br />

mercado colonial, o mercado europeu oferecia-se como alternativa. É, portanto, com o I Governo<br />

Constitucional que este objectivo é tido como uma acção estruturante para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

Portugal, ao assumir-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “encarar <strong>de</strong> frente o problema da a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal às<br />

diferentes instituições europeias, quer no campo político, quer no campo económico e social.” 378<br />

Em Fevereiro <strong>de</strong> 1977, 379 Soares partia, com Me<strong>de</strong>iros Ferreira, Ministro dos Negócios<br />

Estrangeiros, e Victor Constâncio, presi<strong>de</strong>nte da Comissão Negociadora da A<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal à CEE,<br />

para um périplo para contactos com os governantes europeus, a antece<strong>de</strong>r o pedido formal <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são,<br />

entregue no dia 28 do mês seguinte. Em seis <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1978, o Conselho <strong>de</strong> Ministros da CEE aceita<br />

o pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são.<br />

Embora Soares já tivesse um longo relacionamento com os principais dirigentes dos países<br />

europeus, as “dúvidas” pairavam no momento do pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são. “Mas isso não me fez hesitar. Em<br />

nenhum caso,” 380 confessa. Nem quando, perante um grupo <strong>de</strong> economistas que tinha reunido para pedir<br />

aconselhamento económico, sobre o pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, a resposta foi unanimemente não, por ser penoso<br />

para a economia portuguesa. “Eu não tinha argumentos para eles, mas disse-lhes: - Pois é, mas quem<br />

<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> sou eu. Eu tinha o pressentimento, a convicção <strong>de</strong> que era esse o caminho.” 381 Mais. Tinha a<br />

i<strong>de</strong>ologia europeia incorporada no seu pensamento, uma vivência dos padrões <strong>de</strong> vida europeus, os<br />

contactos com a CEE, uma visão política <strong>de</strong> longo prazo para o país, que iria para além dos<br />

constrangimentos económicos conjunturais que tal a<strong>de</strong>são pressupunha. “Inúmeros economistas<br />

375 António Martins da Silva, “A Europa do Futuro e o Futuro <strong>de</strong> Portugal”, in Maria Manuela Tavares Ribeiro (coord), I<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

Europa: Que Fronteiras?, <strong>Coimbra</strong>, Quarteto, 2004, p. 358.<br />

376 Maria João Avillez, Soares: Democracia, Lisboa, Público, 1996, p. 55.<br />

377 António Martins da Silva, “Portugal no Caminho da Europa: atitu<strong>de</strong>s e posicionamento perante a opção e mo<strong>de</strong>lo institucional<br />

europeu no pós 25 <strong>de</strong> Abril, in Norberto Cunha (coord), Europa, Globalização Multiculturalismo, Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, Editora<br />

Ausência, 2005, pp. 125-151.<br />

378 “Programa do Governo Constitucional”, Diário da Assembleia da República, Suplemento ao nº 17, 3.8.1976, pp. 438-(65).<br />

Citado por António Martins da Silva, Portugal e a Europa, distanciamento […] cit., p. 413.<br />

379 Apesar <strong>de</strong> Mário Soares referir em entrevista o ano <strong>de</strong> 1976 - ver Maria João Avillez, Soares: Ditadura […] cit., p. 56 - crê-se<br />

ser 1977, pois, por essa altura, ainda não se tinham realizado as eleições legislativas, pelo que se <strong>de</strong>duz que a referência ao ano<br />

<strong>de</strong> 1976 tenha sido um lapso. Pela consulta dos Diários das Sessões da Assembleia da República, prevê-se que tal périplo<br />

tenha sido feito no ano seguinte, pois a 18 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1977, António Guterres, <strong>de</strong>putado do PS, faz uma <strong>de</strong>claração política<br />

na Assembleia, “referindo-se à presença em Roma do Sr. Primeiro-Ministro, no termo do primeiro circuito às capitais dos países<br />

membros da CEE (…).” Diário da Assembleia da República, nº 78, 18.02.1977, I Legislatura, I Sessão Legislativa.<br />

380 In Maria João Avillez, Soares, Democracia […] cit., p. 56.<br />

381 Revelação feita por Mário Soares, na conferência <strong>de</strong> abertura do I Encontro Nacional <strong>de</strong> Estudantes <strong>de</strong> <strong>Estudo</strong>s Europeus, no<br />

auditório da Reitoria da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, em 14.04.2010.<br />

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