16.04.2013 Views

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

vamos traçar neste capítulo uma perspectiva mais breve e menos <strong>de</strong>talhada do que os capítulos<br />

anteriores e seguintes.<br />

Sendo a fase <strong>de</strong> oficialização da opção partidária do PS para a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal à<br />

Comunida<strong>de</strong> Europeia, a campanha <strong>de</strong> Soares para as legislativas <strong>de</strong> 1976 abre as hostilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa<br />

estratégia. “A Europa Connosco” é o slogan <strong>de</strong> campanha e a assumpção oficial da integração europeia<br />

pelo PS, fazendo disso a ban<strong>de</strong>ira principal <strong>de</strong> propaganda do partido, um trunfo legislativo. Esta<br />

estratégia eleitoral foi o culminar <strong>de</strong> toda a i<strong>de</strong>ia que o lí<strong>de</strong>r do PS já vinha <strong>de</strong>senvolvendo para<br />

Portugal. Se até agora a relação política com a Europa havia sido a <strong>de</strong> a usar como alavanca para<br />

encetar o combate pela <strong>de</strong>mocracia em Portugal para, posteriormente, pedir a a<strong>de</strong>são, agora, essa<br />

relação transforma-se em algo mais imediatamente empírico, numa política concreta a caminho do<br />

pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à CEE. Embora a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal à Europa sempre lá estivesse, no<br />

pensamento <strong>de</strong> Soares e no projecto <strong>de</strong> vários elementos socialistas portugueses, só agora se reúnem<br />

condições <strong>de</strong> concentrar energias directamente nesse objectivo, uma vez que a etapa da implantação da<br />

<strong>de</strong>mocracia está ultrapassada.<br />

Na cimeira do PS, em Março <strong>de</strong> 1976, no Porto, Soares está ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> comparsas europeus,<br />

revelando “uma alegria in<strong>de</strong>scritível por po<strong>de</strong>r receber no nosso país homens da categoria <strong>de</strong> Olof<br />

Palme”, <strong>de</strong> “Willy Brandt”, <strong>de</strong> “Martino”, <strong>de</strong> “Daniel Mayer, <strong>de</strong> Bruno Kreisky, <strong>de</strong> Den Uyl,” 372 entre<br />

outros. A presença dos lí<strong>de</strong>res europeus serve não só para a doutrinação do próprio partido, como para a<br />

projecção eleitoral <strong>de</strong> um PS acreditado na Europa e da sua estratégia para o futuro <strong>de</strong> Portugal. Uma<br />

das intenções do convite aos camaradas europeus foi “chamar a atenção da Europa através das<br />

televisões, dos rádios e dos jornalistas que eles trazem consigo (…) à cida<strong>de</strong> do Porto (…).” Esta<br />

sinédoque, chama, na verda<strong>de</strong>, a atenção para todo o país e para os socialistas portugueses, o que<br />

funciona também como uma <strong>de</strong>monstração pública das suas intenções. Ao assumir a sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são<br />

à CEE em termos partidários, Soares <strong>de</strong>monstra consistência i<strong>de</strong>ológica à Europa, em linha com o que<br />

vinha <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo durante o exílio. Não eram meros actos <strong>de</strong> convencimento para granjear apenas<br />

apoios políticos para a instauração da <strong>de</strong>mocracia portuguesa, mas sim, a sua i<strong>de</strong>ia estruturante para o<br />

futuro <strong>de</strong> Portugal. “É nessa direcção, com o auxílio da Europa, com o auxílio do mundo, integrando-<br />

nos nesse gran<strong>de</strong> movimento em marcha colectivo, que é a integração europeia, que nós socialistas<br />

queremos caminhar. E tê-lo-emos se o povo português nos <strong>de</strong>r uma vitória eleitoral expressiva.” 373<br />

Não é a primeira vez que Soares assume publicamente que concebe o futuro <strong>de</strong> Portugal pela<br />

via da integração europeia, mas é a primeira vez que faz disso um objectivo partidário e eleitoral. Não<br />

foi, contudo, uma posição pacífica no seio da família socialista, já que havia divergências internas. 374 O<br />

slogan <strong>de</strong> campanha – “A Europa Connosco” – encerra toda essa intenção e representa uma ousada<br />

atitu<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica e política num clima carente <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>terminadas para o futuro do país, já que,<br />

372<br />

Mário Soares, A Europa Connosco – dois discursos proferidos na cimeira socialista do Porto, Lisboa, Perspectivas e<br />

Realida<strong>de</strong>s, 1976, p. 9.<br />

373<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 18.<br />

374<br />

Revelação feita por Mário Soares, na conferência <strong>de</strong> abertura do I Encontro Nacional <strong>de</strong> Estudantes <strong>de</strong> <strong>Estudo</strong>s Europeus, no<br />

auditório da Reitoria da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,14.04.2010.<br />

88

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!