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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

I<br />

O POLÍTICO E A RELAÇÃO COM A EUROPA<br />

1 – O início <strong>de</strong> um pensamento político - primeiras e eternas referências<br />

As influências i<strong>de</strong>ológicas que <strong>de</strong>terminaram o pensamento político <strong>de</strong> Mário Soares iniciaram-se<br />

no lar. Apesar <strong>de</strong> uma infância marcada pela “condição <strong>de</strong> um pai permanentemente ausente” 1 – com as<br />

atribulações da oposição à monarquia e ao salazarismo, que o levam a viver, a partir do 1926, dois anos<br />

<strong>de</strong>pois do nascimento do filho, ora na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, ora na prisão, ora <strong>de</strong>portado - Mário Soares não<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> absorver os i<strong>de</strong>ais liberais e republicanos do progenitor.<br />

João Soares participou, activamente, nas conspirações que levaram aos movimentos do 28 <strong>de</strong><br />

Janeiro <strong>de</strong> 1908 e do 5 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1910. Tendo assumido responsabilida<strong>de</strong>s políticas na 1ª<br />

República, com a instauração da ditadura militar, é <strong>de</strong>mitido <strong>de</strong> funções estatais, passando a viver entre<br />

a <strong>de</strong>portação e a clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, pelo seu envolvimento no Reviralho. 2<br />

Com uma mãe omnipresente, que o educou na ausência do pai e o levava a encontrá-lo às fugidas,<br />

“quando vivia na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, em automóveis furtivos, que apareciam a horas e em locais<br />

bizarros” 3 , Mário Soares cresceu sob uma aura <strong>de</strong> sacrifício pela liberda<strong>de</strong>. Em criança, visitou o pai na<br />

prisão do Aljube (on<strong>de</strong>, em 1948, viria a encontrar-se com ele) e foi vê-lo partir <strong>de</strong> Peniche, <strong>de</strong>portado,<br />

pela segunda vez, para os Açores. 4 “São coisas que não se esquecem e que marcam uma infância.” 5<br />

Educado numa família liberal, compreen<strong>de</strong>-se a classificação “congénita e visceral” 6 da sua<br />

incompatibilida<strong>de</strong> com o regime salazarista. O pai foi uma personificação dos valores da primeira<br />

República, base i<strong>de</strong>ológica do seu discurso <strong>de</strong> oposição ao Estado Novo. Movido pela exaltação aos<br />

i<strong>de</strong>ais republicanos, fez a sua tese <strong>de</strong> licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas sobre “As I<strong>de</strong>ias<br />

Políticas e Sociais <strong>de</strong> Teófilo <strong>de</strong> Braga”, justificando a escolha por Teófilo, “ter sido o gran<strong>de</strong><br />

„teorizador‟ do movimento republicano, no qual entroncam” as suas “raízes políticas e emocionais”. 7<br />

Contudo, Soares não ce<strong>de</strong> a todas as influências paternas, particularmente às advertências quanto<br />

à sua aproximação ao partido <strong>de</strong> outra personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> referência da sua juventu<strong>de</strong>. Conheceu Álvaro<br />

Cunhal quando este leccionava no colégio do pai e <strong>de</strong>screve-o com “admiração, pela inteligência e<br />

1<br />

Mário Soares, Memória Viva, Entrevista <strong>de</strong> Dominique Pouchin, Vila Nova <strong>de</strong> Famalicão, Edições Quasi, 2003, p. 20.<br />

2<br />

O Reviralho assumia-se como um movimento que queria restaurar o regime Republicano e a Constituição e formar “um forte<br />

governo nacional composto por algumas <strong>de</strong>ntre as mais competentes e honradas figuras da nação”, entre elas nomes<br />

conhecidos da política, do ensino e da literatura, como Jaime Cortesão, Raul Proença ou Sarmento Pimentel. Ver Luís Farinha,<br />

O Reviralho – Revoltas Republicanas contra a Ditadura e o Estado Novo: 1926-1940, Lisboa, Editorial Estampa, 1998, pp. 34-38;<br />

171-185; 270-278.<br />

3<br />

Mário Soares, Portugal Amordaçado, Lisboa, Arcádia, 1974, p. 20.<br />

4<br />

Um dos <strong>de</strong>stinos mais frequentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>gredo dos que eram consi<strong>de</strong>rados mais perigosos do Reviralhismo. Ver Luís Farinha, O<br />

Reviralho – Revoltas Republicanas […] cit., pp.276-284.<br />

5<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

6<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 17.<br />

7<br />

In Maria João Avillez, Soares, Ditadura e Revolução, entrevista a Mário Soares, Lisboa, Público, 1996, p. 106.<br />

7

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