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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

apoios financeiros. Num encontro, a 16 <strong>de</strong> Setembro, em Washington, entre representantes dos<br />

Negócios Estrangeiros <strong>de</strong> França, Grã-Bretanha e RFA, é manifestada a disponibilida<strong>de</strong> para conferir<br />

ajuda militar e económica aos mo<strong>de</strong>rados, quer unilateralmente, quer através da Comunida<strong>de</strong><br />

Europeia. 352 Na ocasião, o representante alemão refere que o SPD já estava a apoiar moral e<br />

materialmente o “PS e ia continuar a fazê-lo”, estando também a ajudar o PPD. Contudo, o diplomata<br />

<strong>de</strong>staca a maior convicção e credibilida<strong>de</strong> do PS aos olhos da social-<strong>de</strong>mocracia europeia, estando,<br />

através da IS, a “apoiar activamente o PS”, sendo o PPD um “problema, pois não consegue <strong>de</strong>cidir se<br />

quer ser socialista ou liberal.” 353 Ainda assim, usava um canal separado para o apoiar.<br />

Mário Soares era o homem <strong>de</strong> confiança dos aliados oci<strong>de</strong>ntais, assegurando a ponte firme para<br />

a política da Europa, mantendo assim a sua retaguarda <strong>de</strong> apoio, o que fica bem expresso numa reunião<br />

posterior entre os EUA e os ministros dos Negócios Estrangeiros <strong>de</strong> França, Reino Unido e RFA, na<br />

qual se discute o estado das ligações com os partidos <strong>de</strong>mocráticos lusos, o que era consi<strong>de</strong>rado<br />

“importante para ancorar o regime português ao Oci<strong>de</strong>nte.” James Callaghan revelou manter “contactos<br />

semanais com Soares e através <strong>de</strong>le com (Melo) Antunes.” O socialista português é o rosto da<br />

resistência mo<strong>de</strong>rada na ligação política ao Oci<strong>de</strong>nte, tanto mais quando havia ainda incertezas políticas<br />

relativamente à “fiabilida<strong>de</strong>” 354 do PPD. Nestas reuniões foi exposta a vonta<strong>de</strong> e concertação dos<br />

aliados em prestar ajuda económica a Portugal, o que seria colmatado com o anúncio oficial da CEE, a<br />

7 <strong>de</strong> Outubro, da concessão <strong>de</strong> um empréstimo <strong>de</strong> “187 milhões <strong>de</strong> dólares, através do Banco Europeu<br />

<strong>de</strong> Investimento a uma taxa bonificada.” Três dias <strong>de</strong>pois, os EUA anunciaram um pacote <strong>de</strong> 85<br />

milhões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong> ajuda. 355<br />

O mês <strong>de</strong> Novembro incrementa as tenções e greves em Lisboa, com comissões <strong>de</strong><br />

trabalhadores e moradores que chegam a cercar S. Bento. Com a suspensão <strong>de</strong> Otelo Saraiva <strong>de</strong><br />

Carvalho do COPCON e da RML, sendo nomeado Vasco Lourenço para o substituir, inicia-se a<br />

escalada final <strong>de</strong> violência da extrema-esquerda, com os assaltos dos pára-quedistas, em 25 <strong>de</strong><br />

Novembro, ao comando <strong>de</strong> várias regiões aéreas. Por pressão do Grupo dos 9, Costa Gomes or<strong>de</strong>na o<br />

início das operações militares <strong>de</strong> resposta, que irão dissuadir o adversário <strong>de</strong> continuar, dando-se início<br />

a uma pacificação, que culminará nas eleições legislativas do ano seguinte.<br />

Perante esta escalada <strong>de</strong> tensões até ao 25 <strong>de</strong> Novembro, os EUA elaboram o seu plano <strong>de</strong><br />

contingência para uma possível guerra civil em Portugal, que previa o auxílio militar ao VI Governo<br />

Provisório ou, no caso <strong>de</strong> este ser <strong>de</strong>stituído, à resistência mo<strong>de</strong>rada, quer através do fornecimento <strong>de</strong><br />

armas, quer <strong>de</strong> dinheiro, assim como acções diplomáticas para conter a URSS <strong>de</strong> um possível apoio à<br />

extrema-esquerda. No próprio dia 25, estando ao corrente dos acontecimentos em Portugal, Kissinger<br />

envia um telegrama a Carlucci, para que transmitisse a sua disposição <strong>de</strong> “fazer <strong>de</strong> tudo o que for<br />

possível para ajudar os mo<strong>de</strong>rados a resistir à esquerda,” 356 chegando mesmo a disponibilizar apoio<br />

352 Ver Bernardino Gomes, cit., pp. 314-317.<br />

353 In Memorandum of Conversation, September 16, 1975, NA, SDR, Entry 5339. Citado por Bernardino Gomes, cit., p.320.<br />

354 In Memorandum of Conversation, September 16, 1975, NA, SDR, Entry 5339. Citado por I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.322.<br />

355 Memorandum of Conversation, September 16, 1975, NA, SDR, Entry 5339. Citado por Bernardino Gomes, cit., pp. 321.<br />

356 In “Outgoing Telegram, 278917, November 25, 1975”, FOIA. Citado por Bernardino Gomes, cit. pp. 354.<br />

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