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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

ver no que dava.” 344 Com este remate final, a colmatar a pressão dos aliados europeus na Conferência<br />

<strong>de</strong> Helsínquia, Washington <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> finalmente apoiar a ala mo<strong>de</strong>rada em Portugal. 345<br />

5.2.3 - A escalada para o 25 <strong>de</strong> Novembro – a Europa na retaguarda<br />

Assim como internamente crescia a estratégia <strong>de</strong> isolamento ao gonçalvismo, quer da parte do<br />

PS, quer do Grupo dos 9, também fora isso acontecia, por parte da Europa Oci<strong>de</strong>ntal e dos EUA. O alvo<br />

das pressões era o chefe <strong>de</strong> estado português, em quem os aliados <strong>de</strong>positavam ainda confiança para<br />

<strong>de</strong>stituir Vasco Gonçalves. Embora as pressões já viessem <strong>de</strong> anteriormente, foi por ocasião da<br />

Conferência <strong>de</strong> Helsínquia que, oportunamente, vários lí<strong>de</strong>res europeus mantiveram conversas bilaterais<br />

com Costa Gomes, manifestando o seu apoio a um Portugal <strong>de</strong>mocrático socialista e a sua confiança em<br />

Soares.<br />

No encontro com o português, Harold Wilson, acompanhado por James Callaghan, <strong>de</strong>monstrou<br />

a preocupação com a situação portuguesa, garantindo que “a Grã-Bretanha, bem como outros países da<br />

CEE, estaria disposta a ajudar Portugal, mas que essa ajuda estaria condicionada à garantia e provas” <strong>de</strong><br />

que o país enveredaria “por uma solução <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> socialismo pluripartidário com o absoluto<br />

respeito pelas liberda<strong>de</strong>s individuais.” 346 A conversa com Olof Palme <strong>de</strong>correu no mesmo sentido.<br />

Demonstrando estar a par das acções <strong>de</strong> Soares, Palme começou por se referir “às dificulda<strong>de</strong>s que o<br />

Partido Socialista, que não escondia apoiar, vinha encontrando, com o caso República”, uma<br />

inquietação que não era apenas sua, mas comum à “Europa inteira.” Na conclusão da conversa, Palme<br />

consi<strong>de</strong>rou que “a responsabilida<strong>de</strong> em Portugal é do MFA,” mas o movimento <strong>de</strong>via dividi-la “com os<br />

partidos políticos mais representativos.” Uma alusão ao PS, o partido mais votado nas eleições para a<br />

Assembleia Constituinte. Outro nome <strong>de</strong> peso na persuasão a Costa Gomes foi Helmut Schmidt, que lhe<br />

exteriorizou as mesmas preocupações que os homólogos, <strong>de</strong>monstrando a esperança numa solução<br />

<strong>de</strong>mocrática para Portugal, que passasse pela legítima representativida<strong>de</strong> do PS, e <strong>de</strong>positando<br />

“confiança em Soares. Mas era preciso não esquecer que existiam outros.” 347 O Primeiro-ministro<br />

holandês pediu eleições, revelando estar bem a par das contendas do PS com o PCP, como a questão da<br />

unicida<strong>de</strong> sindical e o caso República. 348<br />

344 Entrevista a Frank Carlucci, Washington, DC, 26.10.2004. Citado por Bernardino Gomes, cit., p. 280.<br />

345 “Os Estados Unidos receberam com satisfação a revolução portuguesa. Nós e os nossos aliados apoiámos os seus<br />

propósitos, diplomática e materialmente. Simpatizamos com as forças <strong>de</strong>mocráticas que procuram construir Portugal por meios<br />

<strong>de</strong>mocráticos. Iremos <strong>de</strong>nunciar e opor-nos aos esforços <strong>de</strong> uma minoria que parece estar a subverter a revolução e os seus<br />

propósitos. O povo português <strong>de</strong>ve saber que nós e todos os países <strong>de</strong>mocráticos do Oci<strong>de</strong>nte estamos muito preocupados com<br />

o seu futuro e estamos preparados para ajudar um Portugal <strong>de</strong>mocrático.” Department of Sate Bulletin, vol. LXXIII, nº 1890,<br />

September 15, 1975. Citado por Bernardino Gomes, cit., p. 288.<br />

346 In “Encontros Bilaterais <strong>de</strong> S.E. o Chefe <strong>de</strong> Estado, em 1.08.1975, em Helsínquia, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocou por ocasião da<br />

Conferência <strong>de</strong> Segurança e Cooperação Europeia”, Francisco Costa Gomes, Documento <strong>de</strong> Arquivo, 1955-1994, Centro <strong>de</strong><br />

Documentação 25 <strong>de</strong> Abril.<br />

347 In “Encontros Bilaterais <strong>de</strong> S.E. o Chefe <strong>de</strong> Estado, em 1.08.1975, em Helsínquia, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocou por ocasião da<br />

Conferência <strong>de</strong> Segurança e Cooperação Europeia”, Francisco Costa Gomes, Documento <strong>de</strong> Arquivo, 1955-1994, Centro <strong>de</strong><br />

Documentação 25 <strong>de</strong> Abril.<br />

348 “O argumento da confrontação e das lutas estéreis entre o PS e o PCP não colhe porque o acessório é ultrapassado pelo<br />

essencial a partir do momento em que os partidos se vêm no governo, com responsabilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>mocraticamente eleitos.” In<br />

“Encontros Bilaterais <strong>de</strong> S.E. o Chefe <strong>de</strong> Estado, em 1.08.1975, em Helsínquia, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocou por ocasião da Conferência <strong>de</strong><br />

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