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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

que lhes pareciam óbvias,” 334 contrariando o seu cepticismo e alinhando na estratégia diplomática da<br />

Europa. Alemanha e Inglaterra foram os países mais preocupados com a transição <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong><br />

Portugal. 335 As acções diplomáticas europeias junto <strong>de</strong> Washington e a persuasão <strong>de</strong> Carlucci<br />

acarretaram, <strong>de</strong> facto, a mudança da atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Kissinger, que, embora com pouca dose <strong>de</strong> confiança,<br />

<strong>de</strong>cidiu que os EUA iriam apoiar a ala mo<strong>de</strong>rada e colocar, para já, a sua estratégia <strong>de</strong> afastamento <strong>de</strong><br />

Portugal da NATO na gaveta. 336<br />

Mas, o Verão piora a situação política em Lisboa, com a vaga <strong>de</strong> assaltos às se<strong>de</strong>s do PCP,<br />

ataques bombistas e o aparecimento <strong>de</strong> organizações secretas. O MFA divi<strong>de</strong>-se, o que será<br />

intensificado pela acção crítica <strong>de</strong> Vasco Lourenço a exigir mesmo a <strong>de</strong>missão do presi<strong>de</strong>nte do<br />

Governo Provisório, na Assembleia dos <strong>de</strong>legados do exército. Daqui emerge o conjunto <strong>de</strong> militares<br />

que dará origem ao Grupo dos 9, cujo mentor é o oficial Melo Antunes. A acção do grupo passa pela<br />

emissão <strong>de</strong> três documentos base e pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong> provocação que impulsionasse<br />

uma reacção do lado comunista, organizando, simultaneamente, unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> confiança no exército, que<br />

estariam preparadas para respon<strong>de</strong>r a uma possível agressão militar do adversário.<br />

A Conferência <strong>de</strong> Helsínquia, realizada em 1 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1975, revelou-se oportuna, pelo<br />

calendário e pelo objectivo, para a Europa usar como trunfo político nas pressões diplomáticas em favor<br />

dos mo<strong>de</strong>rados. Durante a conferência, os lí<strong>de</strong>res europeus jogaram as últimas cartas para dissipar as<br />

réstias <strong>de</strong> cepticismo norte-americano. Em encontros bilaterais, o Chanceler alemão, o Primeiro-<br />

ministro e o Ministro dos Negócios Estrangeiros britânicos, o Primeiro-ministro sueco e o italiano<br />

tentavam persuadir Kissinger da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar a apoiar os socialistas em Portugal.<br />

Estas acções concertadas iniciaram-se ainda em Bona, a 27 <strong>de</strong> Julho, com Helmut Schmidt a<br />

reconhecer que a “situação em Portugal não era clara”, mas a <strong>de</strong>positar “esperança numa evolução<br />

<strong>de</strong>mocrática para Portugal, residindo gran<strong>de</strong> parte do seu optimismo em Costa Gomes, que <strong>de</strong>screveu<br />

como „o mais mo<strong>de</strong>rado‟ e um „bravo socialista.‟” 337 Já em Helsínquia, James Callaghan e Harold<br />

Wilson exerceram a mesma pressão sobre <strong>Geral</strong>d Ford e Kissinger, <strong>de</strong>positando as suas esperanças em<br />

Soares para o futuro <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> Portugal. Embora reconhecendo que a situação portuguesa era<br />

“preocupante”, os Primeiro-ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros britânicos contavam com a<br />

colaboração dos EUA para influenciarem positivamente o processo político português. “Segundo<br />

Callaghan, a Grã-Bretanha tinha „algumas vantagens negociais em Portugal‟ e ia usá-las para apoiar as<br />

334 Helmut Schmidt, cit., p. 169.<br />

335 Em entrevista a Maria Manuela Cruzeiro, Costa Gomes revela a preocupação <strong>de</strong>stes dois lí<strong>de</strong>res. “Dos muitos chefes <strong>de</strong><br />

estado com quem contactou, um dos mais perturbados com a situação era Harold Wilson, não era? - Sim. E o Schmidt também.<br />

Porque eles diziam que um país que tinha saído <strong>de</strong> uma revolução não podia estar sem o governo durante muito tempo e que<br />

nós já estávamos há muito sem um.” Projecto <strong>de</strong> História Oral, entrevista a Francisco da Costa Gomes, realizada por Maria<br />

Manuela Cruzeiro, em 1992 e 1993. Transcrição, 2001. Centro <strong>de</strong> Documentação 25 <strong>de</strong> Abril.<br />

336 Tal evidência fica expressa na conversa com o secretário dos assuntos europeus: “Hartman: - Não sei o que ele (Carlucci)<br />

está a fazer. Está a falar com eles… Kissinger: - Mas o que está a dizer? Hartman: - Está a dizer-lhes que <strong>de</strong>vem apoiar os<br />

elementos <strong>de</strong>mocráticos. Kissinger: - Querendo isso dizer o quê? Hartman: - Querendo dizer (Mário) Soares e o PPD. E também<br />

promovendo oficiais mo<strong>de</strong>rados e expulsando Vasco Gonçalves. Kissinger: - Com quem está ele a falar? Hartman: - Ele teve<br />

uma conversa com (Melo) Antunes e falou com algumas pessoas que estão no governo (…) Kissinger: - Queremos ter,<br />

imediatamente, uma <strong>de</strong>scrição precisa <strong>de</strong> Carlucci sobre o que está a fazer. Você vai dizer-lhe que espero que ele esteja a fazer<br />

todos os possíveis para que Costa Gomes e (Melo) Antunes percebam que vamos apoiá-los nos seus esforços para impor uma<br />

direcção mais mo<strong>de</strong>rada. Queremos que eles façam isto com tanto tacto quanto possível. (…) Kissinger: - Bem, vamos lá ajudar<br />

os mo<strong>de</strong>rados.” Kissinger‟s Telecons, July 17, 1975. http//foia.State.gov/searchcolls//collsearch.asp , citado por Bernardino<br />

Gomes, cit., p. 255, 256.<br />

337 In “Memorandum of Conversation”, July 27, GFL, NSA, Box 11. Citado por Bernardino Gomes, cit., p. 265.<br />

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