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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

presi<strong>de</strong>nte soviético. “Era Agosto <strong>de</strong> 1975. Expliquei-lhe que Portugal era o primeiro teste prático à<br />

<strong>de</strong>ténte; que os <strong>de</strong>sejos das pessoas do país <strong>de</strong>via ser respeitado; que nós não iríamos <strong>de</strong>sistir.” 318<br />

Interce<strong>de</strong>ndo pelo interesse <strong>de</strong> Portugal, a Inglaterra zelava pelo seu próprio interesse geopolítico. Esta<br />

conferência marcou o ponto alto das pressões europeias à URSS e também aos aliados americanos, que<br />

<strong>de</strong>cidiram finalmente ganhar confiança e apoiar a ala mo<strong>de</strong>rada em Portugal. Contudo, para chegar a<br />

esta posição, mais uma vez se registou o papel imprescindível dos amigos europeus <strong>de</strong> Soares.<br />

5.2.2 - A difícil tarefa <strong>de</strong> convencer Washington<br />

Os amigos europeus interce<strong>de</strong>m pela causa <strong>de</strong> Soares junto <strong>de</strong> Kissinger<br />

Até que os EUA chegassem a este ponto <strong>de</strong> apoio à estratégia europeia várias conversas se<br />

prolongaram nos bastidores políticos. O processo exigiu repetidos esforços diplomáticos <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res<br />

europeus e do embaixador norte-americano em Lisboa, que <strong>de</strong>positavam esperanças nos socialistas<br />

portugueses para uma transição <strong>de</strong>mocrática em Portugal. Inicialmente, a atitu<strong>de</strong> dos Estados Unidos foi<br />

<strong>de</strong> cepticismo quanto à força do PS. Kissinger, o Secretário <strong>de</strong> Estado norte-americano, conjecturava<br />

uma estratégia diplomática para Portugal oposta à da Europa Oci<strong>de</strong>ntal. Todavia, a influência dos<br />

lí<strong>de</strong>res europeus e <strong>de</strong> Frank Carlucci, o embaixador norte-americano em Lisboa, com quem Soares<br />

havia construído uma relação <strong>de</strong> confiança, foram elementos importantes para a dissuasão <strong>de</strong><br />

Washington da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> isolar Portugal na NATO, como pressão diplomática ao país e protecção dos<br />

interesses geopolíticos oci<strong>de</strong>ntais.<br />

Os americanos já haviam <strong>de</strong>monstrado esse cepticismo, quando o Ministro dos Negócios<br />

Estrangeiros do Governo Provisório visitou o país e se encontrou com o Secretário <strong>de</strong> Estado. Apesar<br />

das <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> Soares sobre “a solidarieda<strong>de</strong>” dos “amigos sociais-<strong>de</strong>mocratas europeus” em<br />

prol da <strong>de</strong>mocratização da Revolução portuguesa, Kissinger “nunca dissimulou o seu cepticismo (…).<br />

Não duvidava que Portugal caíra <strong>de</strong>finitivamente sob a órbita comunista.” 319 É o próprio Costa Gomes<br />

que reconhece a agressivida<strong>de</strong> do Secretário <strong>de</strong> Estado para com o socialista português, num almoço em<br />

Washington. “O Henry Kissinger, mais uma vez, quando faz o seu discurso para justificar o almoço é<br />

muito agressivo connosco, em especial com o Mário Soares, chamando-lhe o Kerensky da Europa.” 320<br />

No início <strong>de</strong> 1975, James Callaghan vai comprovar a Kissinger a sua solidarieda<strong>de</strong> ao amigo<br />

português, mas mesmo perante o apelo do aliado, os EUA preferiam manter-se na retaguarda. “O seu<br />

medo <strong>de</strong> um efeito dominó nos outros países europeus, se Portugal se tornasse comunista era sério. Mas<br />

quando Callaghan lhe disse que ainda se podia travar Cunhal e que a chave para isso estava em<br />

318 Hans Janitschek, cit., p. 80.<br />

319 Na entrevista a Maria João Avillez, Soares recorda ainda as palavras <strong>de</strong> Kissinger: “E dizia-me: „Quando Portugal tem um<br />

Presi<strong>de</strong>nte da República e um Primeiro-Ministro dominados pelo Partido Comunista, quando as forças militares estão sob<br />

domínio comunista; e quando a comunicação social se encontra igualmente dominada, a situação não é reversível.‟ Recordo que<br />

acrescentou: „Talvez não seja mau que Portugal se torne comunista, será uma vacina para toda a Europa.‟” In Maria João<br />

Avillez, Mário Soares, Ditadura […] cit., pp. 353,354.<br />

320 Projecto <strong>de</strong> História Oral. Entrevista a Francisco da Costa Gomes, realizada por Maria Manuela Cruzeiro, em 1992 e 1993.<br />

Transcrição, 2001, Centro <strong>de</strong> Documentação 25 <strong>de</strong> Abril, p. 156.<br />

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