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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

alertando para a inconveniência <strong>de</strong> um possível apoio do partido comunista soviético ao homólogo<br />

português e <strong>de</strong> eclosão <strong>de</strong> uma guerra civil no país, o que poria em causa a “détente acabada <strong>de</strong><br />

conseguir, com os Acordos <strong>de</strong> Helsínquia.” 312<br />

Apostava-se assim no jogo <strong>de</strong> contra-forças da Guerra Fria, no qual se evi<strong>de</strong>ncia a importância<br />

da posição geoestratégica portuguesa, o quanto o bipolarismo político acabou por ser um coadjuvante<br />

para a intenta <strong>de</strong> Soares e, ainda, o quanto a coincidência temporal dos Acordos <strong>de</strong> Helsínquia acabou<br />

por pesar significativamente nas pressões diplomáticas a favor dos mo<strong>de</strong>rados portugueses. Os preceitos<br />

dos Acordos <strong>de</strong> Helsínquia são um argumento usado por outros <strong>de</strong>stacados lí<strong>de</strong>res europeus que<br />

interce<strong>de</strong>ram na URSS por Portugal, como James Callaghan. O Ministro dos Negócios Estrangeiros<br />

britânico actuou em duas frentes, enquanto governante e enquanto membro da IS. Logo no início <strong>de</strong><br />

1975, Callaghan vai a Moscovo, para um encontro com o Primeiro-ministro Kosygin. “(…) Disse-lhe<br />

que a situação em Portugal era tão séria que Mário Soares temia ter <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar Lisboa. Disse-lhe que se<br />

Cunhal tomasse o controlo da situação, a détente e Helsínquia estariam em gran<strong>de</strong> perigo.” 313<br />

Suce<strong>de</strong>ram-se os Acordos <strong>de</strong> Helsínquia e agrava-se a situação política portuguesa. E é nas<br />

reuniões bilaterais entre os vários lí<strong>de</strong>res europeus, à margem da Conferência <strong>de</strong> Helsínquia, que a<br />

Europa Oci<strong>de</strong>ntal reforça a sua pressão diplomática a Moscovo e que, finalmente, consegue reverter a<br />

posição dos EUA que, <strong>de</strong>screntes <strong>de</strong> qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> solução <strong>de</strong>mocrática para Lisboa,<br />

queriam isolar Portugal na NATO. “Muito <strong>de</strong>vido aos esforços <strong>de</strong> Helmut Schmidt, Harold Wilson e<br />

James Callaghan, Olof Palme e Aldo Moro, ainda na capital finlan<strong>de</strong>sa, Henry Kissinger aceitou pela<br />

primeira vez transmitir um aviso público à URSS, mesmo que adoptando um tom cauteloso.” 314 Numa<br />

conferência <strong>de</strong> imprensa realizada no dia anterior à assinatura dos Acordos <strong>de</strong> Helsínquia, o Secretário<br />

<strong>de</strong> Estado norte-americano avisa que “uma activida<strong>de</strong> substancial levada a cabo por um país estrangeiro<br />

em Portugal, será consi<strong>de</strong>rada inconsistente com o espírito, e mesmo a letra, da <strong>de</strong>claração da<br />

Conferência sobre a Segurança e Cooperação Europeia.” 315<br />

A ocasião da realização <strong>de</strong>sta Conferência revela-se um momento alto <strong>de</strong> pressão oci<strong>de</strong>ntal<br />

sobre a URSS. O Primeiro-ministro britânico Harold Wilson “levantou o assunto novamente quando se<br />

encontrou com Brejnev em Helsínquia, a 1 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1975, para assinar os acordos, frisando que<br />

“Portugal era um teste à <strong>de</strong>tente na Europa”, pedindo a Brejnev para “usar a sua influência para<br />

assegurar que a incerteza política (portuguesa) fosse resolvida <strong>de</strong> modo a ir ao encontro do <strong>de</strong>sejo do<br />

povo (…)”. 316 Giscard D‟Estaing interveio também, através <strong>de</strong> um encontro com Brejnev, transmitindo-<br />

lhe a “crescente preocupação da França com os <strong>de</strong>senvolvimentos portugueses”, consi<strong>de</strong>rando que eles<br />

“não podiam ajudar, mas antes ensombrar a CSCE (Conferência da Segurança e Cooperação Europeia)<br />

e o processo da détente.” 317 Após a Conferência, Callaghan volta a Moscovo, <strong>de</strong>sta vez para falar com o<br />

312 Mário Soares, “Miterrand visto <strong>de</strong> Portugal”, texto escrito em Abril <strong>de</strong> 1995, para a revista Nouvel Observateur, in Mário<br />

Soares, Intervenções 10, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1996, pp. 205-210. Cf. Maria João Avillez, Soares, Ditadura […]<br />

cit., p. 477.<br />

313 Hans Janitschek, cit., p. 79.<br />

314 Bernardino Gomes, cit., p. 270.<br />

315 In Department of State Bulletin, vol. LXXII, nº 1874, July-September, 1975, p. 316. Citado por Bernardino Gomes, cit., p. 270.<br />

316 James Callaghan, cit., p. 363.<br />

317 In Moscow, 11221, September 8, 1975, NA, SDR, Entry 5339, box 11. Citado por Bernardino Gomes, cit., p. 272.<br />

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