Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
comunismo, que esse apoio se torna mais premente da parte da Europa Oci<strong>de</strong>ntal, nomeadamente<br />
através da mobilização da IS.<br />
Não se conhece ao certo o valor dos apoios concedidos, mas Tad Szulc, 308 “com base em<br />
informações provenientes <strong>de</strong> altos funcionários do Departamento <strong>de</strong> Estado, apurou que „o PS e, numa<br />
extensão muito menor, o PPD, receberam aproximadamente 2 a 3 milhões <strong>de</strong> dólares por mês <strong>de</strong><br />
partidos socialistas e social-<strong>de</strong>mocratas da Europa Oci<strong>de</strong>ntal‟, sendo que „a maior parte do dinheiro veio<br />
da Suécia, da RFA, da Holanda e do Reino Unido‟, tendo „os fundos sido enviados‟, ou „<strong>de</strong> forma<br />
directa‟ ou „através dos sindicatos e grupos ligados à Igreja.‟” Também os EUA, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ultrapassada<br />
a vaga <strong>de</strong> cepticismo e <strong>de</strong> terem embarcado na mesma estratégia da Europa Oci<strong>de</strong>ntal, apoiaram os<br />
mo<strong>de</strong>rados, o PS e os outros partidos não comunistas, como noticiou o The New York Times, a 25 <strong>de</strong><br />
Setembro <strong>de</strong> 1975. 309<br />
5.2.1 - A cartada <strong>de</strong> Helsínquia – Soares beneficia do sistema bipolar<br />
Foi essencialmente no plano diplomático e perante as complicações políticas do Verão Quente<br />
que o apoio dos companheiros europeus se tornou importante para a afirmação da social-<strong>de</strong>mocracia em<br />
Portugal e a contenção das forças comunistas. Sendo que o <strong>de</strong>sfecho português interessava aos dois<br />
lados do bipolarismo da Guerra Fria, os contemporâneos Acordos <strong>de</strong> Helsínquia foram o trunfo jogado<br />
pelos lí<strong>de</strong>res da Europa para levar a bom porto a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Soares para Portugal, que coincidia, afinal,<br />
com a manutenção do sistema geopolítico oci<strong>de</strong>ntal. Logo no início <strong>de</strong> 1975, ainda quando era ministro<br />
dos Negócios Estrangeiros, foi Soares que começou por acautelar a não interferência política do Leste<br />
na situação portuguesa. Em Moscovo, encontrou-se com Gromyko, o titular dos Negócios Estrangeiros,<br />
para fazer saber ao governo soviético que “Portugal não iria transformar-se numa nova Cuba da<br />
Europa,” 310 frisando a importância dos acordos <strong>de</strong> Helsínquia.<br />
Depois da <strong>de</strong>finitiva cisão da esquerda em Portugal, com a discordância do PS com o PCP<br />
relativamente à proposta comunista da intersindical única e do caso República, Soares, para dificultar<br />
possíveis apoios soviéticos aos comunistas portugueses, pe<strong>de</strong> a mediação diplomática da Europa. Nesse<br />
sentido, escreve uma carta ao Presi<strong>de</strong>nte da União Soviética, refutando qualquer tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia<br />
popular, sendo que se esse fosse o objectivo do PCP, como temiam, o <strong>de</strong>nunciariam internacionalmente<br />
e com os apoios da IS. Willy Brandt é o intermediário <strong>de</strong> Soares, levando a sua carta a Brejnev,<br />
avisando-o “do quanto se po<strong>de</strong>ria tornar crítico um mau julgamento da situação da Europa do Sul” e<br />
explicando “o quanto a li<strong>de</strong>rança soviética po<strong>de</strong>ria ficar manchada nas relações Este/Oeste se pusesse<br />
um pé na costa oci<strong>de</strong>ntal da Península Ibérica.” 311 Também François Mitterrand falou com Brejnev,<br />
308<br />
“Lisbon & Washington: Behind the Portuguese Revolution”, Foreign Policy, nº 21, New York, 1975-1976, pp. 21. Citado por<br />
Bernardino Gomes, cit., p. 300.<br />
309<br />
Bernardino Gomes, cit., pp. 299, 300.<br />
310<br />
In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 379.<br />
311<br />
Willy Brandt, cit., p. 316.<br />
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